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Referenciais para avaliação

References for evaluation

EDITORIAL

Referenciais para avaliação

References for evaluation

João José Neves Marins

Diretor Executivo da Associação Brasileira de Educação Médica, Rio de Janeiro, Brasil

Temos acompanhado vários movimentos voltados a mudanças nos cursos de Medicina. Embora os discursos, aparentemente, pareçam guardar os mesmos princípios, em muitos casos os métodos e objetos não guardam a mesma coerência ou estão fundamentados em um único eixo. Neste caso, tecnologia e instrumentos didáticos são apresentados como capazes de resolver, por si, os problemas detectados.

Dependendo da direcionalidade, a tecnologia e os instrumentos podem servir a caminhos diversos. Lamentamos observar que, em algumas situações, os altos custos, tanto financeiros quanto sociais, pelas lutas empreendidas apresentam resultados pouco expressivos.

Sem dúvida, é incontestável a necessidade de adequações dos cursos de formação profissional em saúde, em face das alterações dos perfis demográfico e epidemiológico da população e de outras questões apontadas a seguir.

Nossa expectativa de vida hoje é maior, e grande parcela de idosos requer ações específicas a serem trabalhadas. Como exemplo, podemos citar a grande frequência da interferência das causas externas em nosso meio, as doenças emergentes e, em especial, os problemas relativos à saúde mental com fortes vínculos em nossas características culturais. A evolução do saber científico e do desenvolvimento tecnológico induz à aprendizagem de novas práticas médicas. Nosso sistema de saúde teve alterações profundas em sua legislação com a universalidade do atendimento e com a equidade. A direcionalidade da atenção é para integralidade, imagem, objeto para procedimentos que busquem atender ao indivíduo por inteiro, em seus problemas biológicos, psíquicos, sociais e espirituais. Ou seja, uma política afirmativa de busca da saúde e qualidade de vida.

Esta lógica exige adequações na organização de serviços e no processo de trabalho. As questões apontadas acima necessitam de profissionais formados em função de uma capacitação mais abrangente para a execução dos procedimentos requeridos. Além da educação permanente, torna-se de fundamental importância a formação na graduação de maneira que o futuro profissional seja preparado em cenários que busquem, de forma concomitante, o desenvolvimento do ensino e do serviço de forma a incorporarem novos objetos, com uma visão mais abrangente sobre o sujeito do processo.

Temos contado também com algumas experiências de métodos ativos de aprendizagem que podem auxiliar na transformação dos cursos da forma requerida. Convém ressaltar, todavia, que esses instrumentos recomendados não sejam vistos como os únicos no processo de transformação. Há que se respeitar, em muito, as práticas nos cenários de serviços que incorporem a atenção ampliada.

Outro ponto a sublinhar é o contraste que observamos quando docentes de larga experiência na formação e na prática profissional são desconsiderados por não dominarem alguns métodos educacionais. Em alguns casos, esses docentes são até substituídos por outros que contam com pouca experiência, mas detêm algum domínio de técnicas.

O ideal é promover o somatório das experiências profissionais com a incorporação das técnicas educacionais sem radicalismo, adaptando-se o fundamento metodológico à realidade de nosso meio.

Temos tido pouca oportunidade de contar com a realização de pesquisas que apontem, com segurança, medidas radicais como as únicas melhoradoras da educação médica a ponto de justificar os custos financeiros e político-sociais envolvidos.

Portanto, quando buscamos avaliar o estágio atual e o progresso de evolução dos cursos, é de fundamental importância estabelecer alguns parâmetros em função dos nossos objetivos.

O perfil profissional desejado encontra-se formalmente delineado pelas Diretrizes Curriculares do Curso Médico, e a estruturação dos serviços e as ações estão delineadas na Constituição do Brasil e na Lei Orgânica da Saúde, definindo legalmente o Sistema Único de Saúde do Brasil (SUS), para o qual nossa formação deve estar direcionada.

De forma sintética, podemos entender que o nosso profissional formado deve estar capacitado a atuar frente aos principais problemas de saúde de nossa população, nos diversos níveis de hierarquia dos serviços, na lógica da integralidade, nos diversos níveis de prevenção da saúde de forma individual e coletiva. Deve ser capaz de entender a organização dos serviços públicos e privados, incluindo-se a do sistema de saúde suplementar, o contexto dos modelos tecnoassistenciais, o processo, a utilização e a avaliação de tecnologias e os métodos empregados para o desenvolvimento da produção do saber.

Para alcançar o perfil profissional desejado, devemos contar com diversos eixos de ação a serem trabalhados nos cursos de graduação, o que, consequentemente, nos aponta os principais enfoques a avaliar. Esses enfoques devem ser trabalhados com metodologias que incluam a visão interna e externa às instituições e os diversos segmentos envolvidos: docentes, discentes, gestores e profissionais de serviços de saúde.

Sugerimos também como referencial para a avaliação dos cursos alguns eixos a serem trabalhados: enfoque teórico/prático do curso, cenários de aprendizagem, abordagem pedagógica, avaliação do processo de ensino-aprendizagem, perfil e capacitação docente, gestão do processo educacional, linhas e aplicação de pesquisa institucional em desenvolvimento, articulação interinstitucional e espaço físico e equipamentos.

Considerando as características das diversas regiões do País, entendemos que as estratégias e ações a serem executadas devem obedecer às respectivas áreas e interesses locais. Embora obedecendo a princípios comuns, a receita não deve ser única. Devemos valorizar e incentivar as diversas iniciativas em desenvolvimento no Brasil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Jun 2009
  • Data do Fascículo
    2009
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