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O DESAFIO DA EDUCACÃO MÉDICA NA PASSAGEM DO MILÊNIO

As mudanças propostas por Flexner em seu célebre relatório sobre o ensino médico norte-americano, no início deste século, levaram várias décadas para serem completamente implementadas naquele país. Em nosso meio, muitas escolas ainda hoje não chegaram a colocá-las em prática e isto agora se torna inútil. A situação atual é completamente diversa e os problemas são ainda maiores, principalmente se os educadores médicos insistirem em manter os pés plantados apenas no presente e os olhos voltados para o passado, em busca de legitimidade para ideias e propostas anacrônicas.

A educação em geral e a médica em particular requerem hoje coragem para romper com os velhos paradigmas e equilíbrios, se almejarem ser contemporâneas do futuro.

Os principais desafios que se colocam para a Escola Médica neste momento são:

  1. A busca da interdisciplinaridade.

  2. A velocidade espantosa com que se dá a obsolescência do conhecimento na área médica.

  3. A necessidade de formar um médico que responda ao desejo de toda a população de qualquer país,

isto é, um Humanista e Técnico competente, possuindo: a) conhecimentos; b) habilidades psicomotoras; c) atitudes e comportamentos éticos; d) compromisso social.

O primeiro desafio, isto é, a busca da interdisciplinaridade, nos coloca a questão da organização administrativa do conhecimento. As escolas organizadas em ciclos (Básico-Profissional), estruturados em Departamentos e esses, por sua vez, em Disciplinas, produzem um conhecimento estanque, compartimentado. O ensino é dado aos pedaços, sem a visão do todo, preocupando-se os professores mais com sua parte específica. O aluno, ainda imaturo, é obrigado a fazer a integração do conhecimento, o que frequentemente não consegue. A estrutura atual favorece o coorporativismo, o acobertamento de ineficiências e impedindo, muitas vezes, o avanço do conhecimento.

Romper com esse legado da Reforma Universitária de 1968, que quis transformar a Universidade em uma linha Taylorista de montagem, é o grande desafio de seus Docentes/Alunos. Sem isto, a Universidade corre o risco de deixar de merecer este nome e poderia ser transformada em um grande e anacrônico Colégio de terceiro grau.

O segundo desafio, isto é, a velocidade com que o conhecimento se torna obsoleto, nos coloca a questão do método de ensino: transmitir conhecimento através de aulas teóricas x buscar o conhecimento em sua fonte. Esta simples mudança pressupõe repensar a pedagogia e fazer investimentos em um sistema de informação científica que seja ágil e ligado eletronicamente aos melhores centros internacionais.

A questão dos atributos que o médico deve ter e desenvolver, também nos faz refletir sobre a questão do método de ensino. Tendo presente os atributos antes mencionados, pode uma Escola Médica continuar mantendo uma carga horária de mais de 30% ou até 70% de ensino teórico? Podemos ensinar relação Médico/Paciente, Diagnóstico Clínico, Tratamento Cirúrgico, Atitudes e Comportamentos Éticos, Compromisso Social em aulas teóricas? Podemos continuar a usar o Hospital Universitário, de nível terciário ou quaternário, como o principal campo de ensino?

Se quisermos ser consequentes, éticos e merecer o respeito de nossa sociedade, deveremos, como educadores médicos e como Escolas Médicas, repensar a nossa capacidade de formação e o método de ensino.

Devemos ter a coragem de encarar de frente os desafios apontados e em função deles readequar o nú­mero de vagas de cada Escola.

VAGAS x CAPACIDADE PEDAGÓGICA deve ser a nossa estratégia.

O ensino médico merece respeito e a população tem o direito de ter profissionais competentes.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Jul 2020
  • Data do Fascículo
    Jan-Dec 1989
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