Acessibilidade / Reportar erro

O contexto formativo em uma instituição federal de ensino superior (IFES) em consolidação: visão dos alunos de fisioterapia

Physiotherapy students' view of the educational context in a federal higher education institution (IFES) in consolidation

Resumos

Este estudo proporciona uma apreciação do perfil dos alunos de Fisioterapia da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, apurando possíveis causas de evasão, e analisa as opiniões destes em relação a sua formação e a esta nova Instituição Federal de Ensino Superior (Ifes) em expansão. Trata-se de um estudo observacional descritivo. Participaram 175 alunos. Os dados foram coletados por meio de um questionário com questões abertas, fechadas e do tipo Likert, que abordaram as áreas: pessoal, interpessoal, curso, carreira e institucional. Os alunos da cidade ou região representam 20% dos graduandos, e a renda familiar destes é variada. A maioria dos alunos escolheu estudar nesta Ifes por buscar um ensino superior de qualidade e gratuito. Após a conclusão do curso, 76% dos alunos pretendem fazer pós-graduação. Para a maioria, a estrutura física e o corpo docente são adequados ao aprendizado, mas a prestação de serviços não. Conhecendo as necessidades e expectativas dos alunos, podem-se propor soluções para melhoria e progresso de todos: alunos, curso, instituição e comunidade.

Fisioterapia; Ensino Superior; Alunos; Evasão Escolar; Educação Médica


This study sought to provide an assessment of the profile of physiotherapy students at the Federal University of the Valleys of Jequitinhonha and Mucuri, investigating possible causes of student dropouts and analyzing student opinion on the course and a new Federal Higher Education Institution (Ifes) in expansion. It took the form of a descriptive observational study on 175 students. Data was collected via a questionnaire with open, closed and Likert questions, which addressed a range of personal, interpersonal, course, career and institutional topics. Students from the Ifes city or region accounted for 20% of the total and family income was varied. Most students chose to study in the university as they sought high-quality and free higher education, and after completing the course, 76% wished to study post-graduate courses. For most, the physical structure and the faculty foster learning, but the service provision does not. In light of the students' needs and expectations, solutions for improvement and ways to ensure progress for students, the course, the institution and the community may be offered.

Physiotherapy; Higher Education; Students; Student Dropouts; Medical Education


O contexto formativo em uma instituição federal de ensino superior (IFES) em consolidação: visão dos alunos de fisioterapia

Physiotherapy students' view of the educational context in a federal higher education institution (IFES) in consolidation

Karen Nubya FariaI; Ricardo NogueiraI; Maquele Lago RamosII; Dâmares Ribeiro NevesI; Camila Lima RibeiroI; Ana Paula SantosI

IUniversidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina, MG, Brasil

IICentro Universitário de Volta Redonda, Volta Redonda, RJ, Brasil

Endereço para correspondência ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Ana Paula Santos Clínica Escola de Fisioterapia — Campus JK — UFVJM — 5000 Rodovia MGT 367 — KM 583 — Diamantina CEP 39100-000 — MG E-mail: anapaula.santos@ufvjm.edu.br

RESUMO

Este estudo proporciona uma apreciação do perfil dos alunos de Fisioterapia da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, apurando possíveis causas de evasão, e analisa as opiniões destes em relação a sua formação e a esta nova Instituição Federal de Ensino Superior (Ifes) em expansão. Trata-se de um estudo observacional descritivo. Participaram 175 alunos. Os dados foram coletados por meio de um questionário com questões abertas, fechadas e do tipo Likert, que abordaram as áreas: pessoal, interpessoal, curso, carreira e institucional. Os alunos da cidade ou região representam 20% dos graduandos, e a renda familiar destes é variada. A maioria dos alunos escolheu estudar nesta Ifes por buscar um ensino superior de qualidade e gratuito. Após a conclusão do curso, 76% dos alunos pretendem fazer pós-graduação. Para a maioria, a estrutura física e o corpo docente são adequados ao aprendizado, mas a prestação de serviços não. Conhecendo as necessidades e expectativas dos alunos, podem-se propor soluções para melhoria e progresso de todos: alunos, curso, instituição e comunidade.

Palavras-chave: Fisioterapia; Ensino Superior; Alunos; Evasão Escolar; Educação Médica.

ABSTRACT

This study sought to provide an assessment of the profile of physiotherapy students at the Federal University of the Valleys of Jequitinhonha and Mucuri, investigating possible causes of student dropouts and analyzing student opinion on the course and a new Federal Higher Education Institution (Ifes) in expansion. It took the form of a descriptive observational study on 175 students. Data was collected via a questionnaire with open, closed and Likert questions, which addressed a range of personal, interpersonal, course, career and institutional topics. Students from the Ifes city or region accounted for 20% of the total and family income was varied. Most students chose to study in the university as they sought high-quality and free higher education, and after completing the course, 76% wished to study post-graduate courses. For most, the physical structure and the faculty foster learning, but the service provision does not. In light of the students' needs and expectations, solutions for improvement and ways to ensure progress for students, the course, the institution and the community may be offered.

Keywords: Physiotherapy; Higher Education; Students; Student Dropouts; Medical Education.

INTRODUÇÃO

A educação superior tem por finalidade — de acordo com a Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional — estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; formar diplomados aptos à inserção em setores profissionais e à participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, colaborando na sua formação contínua; estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais; prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade, dentre outras1. As instituições de ensino superior têm que buscar meios de garantir o cumprimento de suas funções. O Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), iniciado em 2003, tem priorizado a expansão — dos campi das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) já consolidados e estruturados — e a criação de novas Ifes no interior dos estados, levando em conta as necessidades e vocações econômicas de cada região do País2. Para estas, o desafio é maior, pois é preciso garantir a excelência na formação em meio a licitações, obras, aquisição de equipamentos e contratações de profissionais qualificados. Diante deste quadro, uma boa ferramenta para análise da situação geral da instituição é conhecer a opinião dos estudantes. Por meio desta, é possível fornecer parâmetros e delinear ações para promover melhorias na educação.

A Faculdade Federal de Odontologia de Diamantina, fundada em 1953 por Juscelino Kubitschek de Oliveira e federalizada em 1960, transformou-se em 2002 nas Faculdades Federais Integradas de Diamantina, que foram elevadas à condição de Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), conforme a Lei n° 11.173 de 6 de setembro de 2005. O curso de Fisioterapia foi criado em 2002, juntamente com os cursos de Farmácia-Bioquímica e Nutrição, expandindo a área da saúde, até então formada apenas pelos cursos de Odontologia e Enfermagem3. A partir desse ano, a área passou a contar ainda com o curso de Medicina4. O oferecimento de um curso de Fisioterapia numa área geograficamente extensa e carente representa um importante marco, tendo em vista o número reduzido de profissionais da saúde, atendendo, assim, a uma necessidade social3.

A atuação do fisioterapeuta não se restringe ao campo da reabilitação. As ações de prevenção e educação em saúde são fundamentais para propiciar a melhora da qualidade de vida da população5. Desde sua legitimação, em 13 de outubro de 1969 com o Decreto-Lei 938, a Fisioterapia vem evoluindo a prática clínica com a pesquisa científica6. Entretanto, estudos sobre estudantes e o curso de Fisioterapia são escassos e encontrados principalmente em cursos de licenciatura7-10, nos quais a diminuição da procura e a evasão são muito frequentes. Atualmente, com o maior número de faculdades e universidades e, por consequência, dos cursos oferecidos, os cursos da área de saúde, antes muito disputados e desejados, hoje são alvos de estudos sobre evasão, empregabilidade dos egressos e fatores que afetam o processo de aprendizagem11-14. A integração do estudante à vida universitária, seu desempenho acadêmico e sua situação de permanência ou evasão são motivos de preocupação cada vez mais evidente para agências formadoras e governamentais e para pesquisadores da área de educação15.

O objetivo do presente estudo foi proporcionar uma apreciação do perfil dos alunos do curso de Fisioterapia da UFVJM, apurando possíveis causas de evasão, e analisar as opiniões destes em relação a sua formação e às condições acadêmicas e de infraestrutura desta nova Ifes.

METODOLOGIA

Foi realizado um estudo observacional descritivo. Alunos do primeiro ao décimo período do curso de Fisioterapia da UFVJM foram convidados a participar. Os dados foram coletados por meio de um questionário elaborado para esta pesquisa contendo questões abertas, fechadas e do tipo Likert de cinco pontos. Os itens do questionário foram distribuídos em cinco áreas de integração: pessoal, interpessoal, curso, carreira e institucional. Foi realizado um pré-teste com o objetivo de identificar e eliminar problemas potenciais, além de mensurar o tempo médio gasto no preenchimento para reportar aos discentes. O pré-teste foi aplicado em 20 alunos do curso de Fisioterapia que aceitaram de forma espontânea colaborar com o estudo. O tempo médio gasto para responder ao questionário foi de 15 minutos, e as correções necessárias foram efetuadas. A aplicação do questionário foi realizada em novembro de 2010. Após explicação dos objetivos da pesquisa e garantia do anonimato, todos os alunos que aceitaram participar do estudo (175) responderam ao questionário, que foi entregue em envelope igual e sem identificação nas salas de aula, durante os intervalos das disciplinas. Foi utilizado o programa estatístico Minitab 15 para análise descritiva dos dados, apresentada em média ±, desvio padrão e porcentagem.

RESULTADOS

A faixa etária dos alunos analisados variou de 18 a 35 anos, com média de 21 ± 3,3 anos, a maioria (80%) do gênero feminino. A Figura 1 evidencia a origem dos alunos, e a Figura 2, o tipo de escola frequentada por eles no ensino médio.



Os locais de moradia da maioria dos alunos foram as repúblicas (57%), 26% moravam com os familiares, 8% sozinhos e 6% em pensão. A renda familiar destes alunos variou de R$ 450,00 a R$ 15.000,00 com média de R$ 3.263,00 ± R$ 2.220,00. A escolaridade da maior parte dos pais (42%) e das mães (33%) foi o ensino médio, sendo que 8% dos pais tinham pós-graduação, contra 18% das mães. Apenas 29% dos alunos já haviam trabalhado e 2% já eram pais. A maioria dos alunos tinha computador próprio (86%) e acesso à internet (62%) em casa. Os hábitos de leitura (dois livros ou mais/ano) e uso da biblioteca (dois dias ou mais/semana) estavam presentes em 67% dos estudantes. O conceito dos alunos sobre moradia, alimentação, transporte, lazer e satisfação com a vida antes a após a entrada na UFVJM está discriminado na Tabela 1. Noventa e quatro por cento dos alunos relataram boa relação com os estudantes e funcionários da UFVJM, 90% boas relações de amizade na cidade, entretanto 30% se apresentaram como desorientados ou confusos.

Quanto ao curso de Fisioterapia da UFVJM, 45% dos alunos o conheceram pela internet. A maioria (58%) optou por estudar na instituição para buscar um ensino superior de qualidade e gratuito. A entrada no curso logo após o término do ensino médio aconteceu para 28% dos alunos, 42% levaram de seis a 12 meses e 3,6% levaram três anos, tempo máximo para entrar no curso; 67% fizeram curso pré-vestibular e 75% tentaram outros vestibulares. A forma de ingresso no curso foi o vestibular para 94% e transferência para 6%; a opinião quanto ao sistema de cotas (se concordam ou não) foi dividida. Cinquenta e cinco por cento dos alunos escolheram o curso de Fisioterapia porque gostavam e 34% porque era o que melhor atendia ao seu perfil; 70% dos alunos não pretendem fazer outro curso superior. A maioria dos que têm esta pretensão descreveu o curso de Medicina como opção, seguido pelos cursos de Educação Física e Odontologia. Oitenta e sete por cento dos alunos acham que o curso de Fisioterapia da UFVJM forma bons profissionais e é de alto nível, 83% consideram que os professores são altamente qualificados nas disciplinas que ministram e 95% julgam extremamente importante o estágio supervisionado obrigatório. Vinte e seis por cento dos alunos não sabem dizer se a pesquisa e a extensão do curso de Fisioterapia são satisfatórias. A maioria não estava fazendo iniciação científica (88%), monitoria (79%) ou extensão (67%), e 82% assinalaram que não o faziam por falta de informação.

As opiniões quanto à avaliação (dificuldades nas provas e trabalhos) e ao conteúdo prático (satisfatório ou não) no curso foram divididas. As sugestões que mais apareceram para o curso foram: aumentar a carga horária dos estágios e das aulas práticas, além de iniciá-los mais cedo; aumentar o número de projetos de extensão e pesquisa e fazer maior divulgação destes; diminuir o número de disciplinas nos primeiros períodos; melhorar a integração entre os períodos e implementar a pós-graduação. A pretensão dos alunos em relação a pós-graduação e a trabalho e as áreas fisioterapêuticas de preferência estão evidenciadas nas Figuras 3 e 4, respectivamente. Ao serem questionados sobre como deveria ser o perfil de um fisioterapeuta, a maioria citou qualidades como: responsável, educado, competente, atualizado, ético, criativo, atencioso, carismático, paciente, prestativo, alegre e caridoso. A maioria conhece as atividades que podem ser desenvolvidas pelo profissional fisioterapeuta e pretende realizar trabalhos voluntários.



A maioria dos alunos considera a UFVJM a melhor instituição pública de ensino superior da região (65%), apenas 10% pretendem pedir transferência, 90% dos alunos gostam e sentem orgulho em estudar na UFVJM. Os motivos que levariam os alunos a pedir transferência da UFVJM, em ordem de frequência, foram: ficar mais próximo da família; ausência de bolsas de auxílio renda familiar; ir para uma universidade com melhor estrutura física, de pesquisa e prática clínica e hospitalar; passar em outro curso; e a infraestrutura da cidade de Diamantina. A grande maioria dos alunos não recebia auxílios do tipo alimentação, fotocópias, moradia, transporte ou saúde. Para a maioria, as salas de aula, biblioteca, clínica escola e laboratórios de ensino são adequados ao aprendizado; entretanto, para mesma maioria, a prestação de serviços — agências bancárias ou terminais de autoatendimento, fotocopiadoras, alimentação — não é adequada. A melhoria no transporte para o acesso ao campus foi a sugestão mais citada, seguida pela construção de um restaurante universitário e de moradia estudantil; maior assistência médica e bolsas; melhorias na biblioteca, com maior número de computadores e acesso à internet.

DISCUSSÃO

Ao ingressarem na universidade, os jovens se confrontam com uma série de desafios pessoais, interpessoais, familiares e institucionais9, o que exige da instituição uma análise atenta para que proporcione serviços satisfatórios à comunidade estudantil, amparando-a durante a sua formação. Houve, através deste estudo, a intenção de identificar fragilidades quanto ao curso e à instituição e possíveis formas de auxiliar diretamente os alunos do curso de Fisioterapia e indiretamente todos os demais alunos de uma nova Ifes. Características pessoais, opiniões, anseios, desejos e reivindicações foram obtidos por meio do instrumento utilizado. Apesar de citadas e esperadas, as infraestruturas da universidade e da cidade não foram as principais causas de uma possível desistência do curso, mas, sim, possíveis dificuldades financeiras e a principal: o distanciamento da família — fatos que independem da instituição de ensino superior e que corroboram Almeida et al.9, segundo os quais, para muitos estudantes, a saída de casa e da cidade de origem e a separação da família e dos amigos são desafios bastante significativos na entrada para a universidade.

A ampliação do conhecimento da universidade sobre seus estudantes é necessária para sinalizar aos gestores institucionais as ações a adotar a fim de garantir o cumprimento adequado de suas funções científicas e sociais15. Os alunos de Fisioterapia da UFVJM são da região ou do estado da Ifes, com poucas exceções. A nova Ifes cumpre um de seus objetivos oferecendo educação superior a indivíduos com acesso mais difícil à graduação. Dependendo do crescimento e do conhecimento do curso e da instituição, talvez este panorama se altere. Considerando a trajetória escolar, que está associada ao curso e ao tipo de instituição16, a porcentagem de alunos do curso de Fisioterapia desta Ifes que frequentaram o ensino médio somente em escolas públicas foi o dobro dos que frequentaram somente em escolas privadas. Este estudo possibilitou constatar a heterogeneidade do grupo analisado quanto à percepção dos fatores básicos, como moradia, alimentação, lazer e satisfação com a vida quanto à renda familiar declarada. Esta foi extremamente variável, sendo que cerca da metade dos alunos declarou renda entre R$ 2 mil e R$ 4 mil, ficando o curso de Fisioterapia, quanto ao grau de elitização do ensino superior, entre cursos como Medicina, Odontologia, Direito e os de licenciatura16.

A UFVJM foi muito bem avaliada pela maioria dos alunos. Moradia estudantil, restaurante universitário e transporte — este o responsável pelo maior número de reclamações — gratuitos ou mais acessíveis foram as solicitações mais frequentes. Espera-se que as queixas relacionadas à universidade diminuam, pois a mesma se encontra em expansão e pleno trabalho para finalizar as obras para melhor atender aos alunos e funcionários. Relatos de vários alunos sobre o crescimento da universidade; importância desta para as pessoas da região; acesso mais fácil para os estudantes da região ao ensino superior; e impressão de que esta será uma instituição de grande renome estão em consonância com os objetivos desta nova Ifes.

O curso de Fisioterapia, do mesmo modo, obteve avaliação positiva da maioria dos alunos. Todas as críticas referentes ao curso foram discutidas no colegiado do curso. A solução para algumas já constava no novo Projeto Político Pedagógico do curso17, como a mudança nos estágios, com início nos primeiros períodos do curso e aumento da carga horária total. O estágio supervisionado é um procedimento didático-pedagógico que propicia ao estudante a participação em situações reais de vida e trabalho do seu meio social18. É por meio dele que o aluno se sente responsável por suas ações, pelas consequências do que faz19 e mais seguro pelo exercício de procedimentos e técnicas comuns da atuação do fisioterapeuta20.

Outras mudanças estão sendo discutidas, como o aumento da carga horária das aulas práticas, maior integração dos alunos e adequação das disciplinas básicas dos primeiros períodos, que apresentam o maior volume de evasão estudantil7-8,21. A evasão estudantil no ensino superior é um problema que afeta o resultado dos sistemas educacionais. As perdas de estudantes que iniciam e não terminam seus cursos são desperdícios sociais, acadêmicos e econômicos. No setor público, são recursos públicos investidos sem o devido retorno. No setor privado, é uma importante perda de receitas. Em ambos os casos, a evasão é uma fonte de ociosidade de professores, funcionários, equipamentos e espaço físico22. O número de projetos de extensão e pesquisa torna-se cada vez mais expressivo, fato possível principalmente com a entrada de um número maior de docentes e o oferecimento de pós-graduação. O curso de Fisioterapia da UFVJM integra ensino, pesquisa e extensão, voltando-se para as necessidades locais, em consonância com Marães et al.23 e com um dos objetivos das novas Ifes, que é melhorar a qualidade de vida das pessoas que vivem na região onde está instalada a instituição.

Em conformidade com experiências empíricas, com dados do Censo Nacional de Educação Superior24 e com Badaró e Guilhem25, a presença maciça de mulheres se mantém, apontando uma ampla procura do público feminino pela profissão. Da mesma forma, a especialização, tendência mundial em todos os ramos de atividade12, continua abrangendo áreas tradicionais da Fisioterapia, como a traumato-ortopédica, pneumofuncional e neurofuncional, mesmo com o advento de novas áreas e possibilidades, corroborando dados obtidos, exatamente nesta ordem, no ano de 2002 por Gaiad e Sant'Ana26. Interessante foi a indicação expressiva da intenção de fazer pós-graduação, revelando a preocupação dos novos alunos com o aprimoramento profissional e a inclusão no mercado de trabalho. A preocupação é pertinente devido ao aumento significativo de instituições de ensino superior privadas, elevando o número de profissionais graduados27-29 e levando a uma discussão subsequente: não basta resolver os problemas do acesso à educação superior no Brasil; resta uma tarefa mais árdua: garantir que haja trabalho para os que se formam16. Neste trajeto, do acesso à conclusão do curso, cabe às instituições de ensino superior o esforço para garantir uma educação de qualidade e ética ao aluno que as procura.

CONCLUSÃO

Os alunos do curso de Fisioterapia da UFVJM são jovens, com renda extremamente variada e são da região ou do estado da Ifes, com poucas exceções. Grande parte deles ingressou no ensino superior após estudar em escolas públicas, fez a opção pela UFVJM procurando uma instituição de ensino superior de qualidade e gratuita, e pretende fazer pós-graduação.

A nova Ifes foi bem avaliada pela maioria dos alunos, assim como o curso de Fisioterapia. A insatisfação é relacionada ao acesso (transporte) ao campus universitário e à falta de moradia estudantil e de restaurante universitário. O principal motivo para a evasão é o distanciamento da família, fato que independe da instituição de ensino superior.

Conhecer o aluno e os motivos que podem levá-lo à evasão é fundamental para que os profissionais envolvidos no processo de educação, em especial os de Ifes em consolidação e formação, possam delinear ações que promovam melhorias e inovações no curso e na instituição, favorecendo a permanência dos alunos regulares e buscando a excelência dos egressos.

REFERÊNCIAS

1. Ministério da Educação e Cultura. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. [capturado 22 set. 2012]. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/tvescola/leis/lein9394.pdf

2. Secretária da Educação Superior. Projeto OEI/BRA/10/002 — Atualização dos Processos de Gestão e Avaliação de Políticas e Programas de Educação Superior no Brasil. [capturado 27 set. 2011]. Disponível em: http://www.oei.org.br/pdf/selecoes/2011/TOR_28_2011.pdf

3. Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. História: Uma universidade em construção com 50 anos de tradição [capturado 3 jun. 2013]. Disponível em: http://www.ufvjm.edu.br/universidade/historia

4. Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. O curso de medicina já é realidade na UFVJM [capturado 23 jun. 2013]. Disponível em: http://www.ufvjm.edu.br/es/resolucoes/doc_view/2283-jornal-38.html

5. Maciel RV, Silva PTG, Sampaio RF, Drummond AF. Teoria, prática e realidade social: uma perspectiva integrada para o ensino de fisioterapia. Fisioter Mov 2005;18(1):11-7.

6. Calvalcante CCL, Rodrigues ARS, Dadalto TV, da Silva EB. Evolução científica da fisioterapia em 40 anos de profissão. Fisioter Mov 2011;24(3):513-22.

7. Braga MM, Pinto COB, Cardeal ZL. Perfil sócio-econômico dos alunos, repetência e evasão do curso de química da UFMG. Quím nova 1997;20(4):438-44.

8. Cunha AM, Tunes E, Silva RR. Evasão do curso de química da universidade de Brasília: A interpretação do aluno evadido. Quím nova 2001;24(1):262-80.

9. Almeida LS, Soares APC, Ferreira JM. Questionário de vivências acadêmicas (QVA-r): Avaliação do ajustamento dos estudantes universitários. Aval Psicol 2002;1(2):81-93.

10. Mazzetto SE, Carneiro CCBS. Licenciatura em química da UFC: Perfil sócio econômico, evasão e desempenho dos alunos. Quím nova 2002;25(6B):1204-10.

11. Câmara AMCS, Santos LLCP. Um estudo com egressos do curso de fisioterapia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) — 1982-2005. Rev bras educ med 2012;36(1):5-17

12. Ferreira RA, Peret Filho LA, Goulart EMA, Valadão MMA. O estudante de medicina da Universidade Federal de Minas Gerais: perfil e tendências. Rev Ass Med Bras 2000;46(3):224-31.

13. Furegato ARF, Silva EC, Campos MC, Cassiano RPT. Depressão e auto-estima entre acadêmicos de enfermagem. Rev psiquiatr clín 2006;33(5):239-44.

14. Santos CE, Leite MMJ. O perfil do aluno ingressante em uma universidade particular da cidade de São Paulo. Rev Bras Enferm 2006;59(2):154-6.

15. Vendramini CMM, Santos AAA, Polydoro SAJ, Sbardelini ETB, Serpa MNF, Natário EG. Construção e validação de uma escala sobre avaliação da vida acadêmica (EAVA). Estud psicol (Natal) 2004;9(2):259-68.

16. Pinto JMR. O acesso à educação superior no Brasil. Educ Soc. 2004;25(88):727-56.

17. Bastone CB et al. Projeto pedagógico do curso de graduação em fisioterapia [capturado 3 jun. 2013]. Disponível em: http://prograd.ufvjm.edu.br/projetos-pedagogicos.html

18. Rodrigues EN. Primeiro estágio curricular: relato de experiência. Rev Bras Enferm 1995;48(4):436-43.

19. Rodrigues MSP, Leitão GCM. Estágio curricular supervisionado com ênfase no desenvolvimento da autonomia e da responsabilidade. Texto Contexto Enferm 2000;9(3):216-29.

20. VianaRT, MoreiraGM, Melo LTM, SousaNP, Brasil ACO, Abdon APV. O estágio extracurricular na formação profissional: a opinião dos estudantes de fisioterapia. Fisioter Pesqui 2012;19(4):339-44.

21. Ribeiro MA. Projeto Profissional familiar como determinante da evasão universitária — Um estudo preliminar. Rev bras orientac prof 2005;6(2):55-70.

22. Silva Filho RLL, Motejunas PR, Hipolito O, Lobo MB. A evasão no ensino superior brasileiro. Cad Pesqui 2007;37(132):641-59.

23. Marães VRFS, Martins EF, Cipriano Junior G, Acevedo, AC, Pinho DLM. Projeto pedagógico do curso de Fisioterapia da Universidade de Brasília. Fisioter Mov 2010;23(2):311-21.

24. Brasil. Ministério da Saúde. A trajetória dos cursos de graduação na área da saúde. [capturado 6 mai. 2012]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes//trajetoriacursos areasaude.pdf

25. Badaró AFV, Guilhem D. Perfil sociodemográfico e profissional de fisioterapeutas e origem das suas concepções sobre ética. Fisioter Mov 2011;24(3):445-54.

26. Gaiad TP, Sant'Ana DMG. Análise da eficácia do estágio supervisionado em fisioterapia na formação profissional: uma visão do egresso. Arq ciências saúde UNIPAR 2005;9(2):65-70.

27. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Sinopses estatísticas da educação superior — graduação [capturado 24 out. 2012]. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/superior-censosuperior-sinopse

28. Amaral NC. Autonomia e financiamento das IFES: desafios e ações. Avaliação 2008;13(3):647-80.

29. Sguissardi V. Reforma universitária no Brasil — 1995-2006: precária trajetória e incerto futuro. Educ Soc 2006;27(96):1021-56.

Recebido em: 27/08/2013

Aprovado em: 14/10/2013

CONFLITO DE INTERESSES: Não há qualquer tipo de conflito de interesses por parte dos autores

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES

Karen Nubya Faria: Concepção e desenho de estudo (revisão bibliográfica, estruturação do questionário); interpretação dos dados e redação do artigo.

Ricardo Nogueira: Concepção e desenho de estudo (revisão bibliográfica, estruturação do questionário) e redação do artigo.

Maquele Lago Ramos: Concepção e desenho de estudo (revisão bibliográfica, estruturação do questionário) e aplicação dos questionários.

Dâmares Ribeiro Neves: Concepção e desenho de estudo (revisão bibliográfica, estruturação do questionário) e aplicação dos questionários.

Camila Lima Ribeiro: Concepção e desenho de estudo (revisão bibliográfica, estruturação do questionário) e aplicação dos questionários.

Ana Paula Santos: Concepção e desenho de estudo (revisão bibliográfica, estruturação do questionário); interpretação dos dados e redação do artigo.

  • 1. Ministério da Educação e Cultura. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. [capturado 22 set. 2012]. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/tvescola/leis/lein9394.pdf
  • 3
    Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. História: Uma universidade em construção com 50 anos de tradição [capturado 3 jun. 2013]. Disponível em: http://www.ufvjm.edu.br/universidade/historia
  • 4. Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. O curso de medicina já é realidade na UFVJM [capturado 23 jun. 2013]. Disponível em: http://www.ufvjm.edu.br/es/resolucoes/doc_view/2283-jornal-38.html
  • 5. Maciel RV, Silva PTG, Sampaio RF, Drummond AF. Teoria, prática e realidade social: uma perspectiva integrada para o ensino de fisioterapia. Fisioter Mov 2005;18(1):11-7.
  • 6. Calvalcante CCL, Rodrigues ARS, Dadalto TV, da Silva EB. Evolução científica da fisioterapia em 40 anos de profissão. Fisioter Mov 2011;24(3):513-22.
  • 7. Braga MM, Pinto COB, Cardeal ZL. Perfil sócio-econômico dos alunos, repetência e evasão do curso de química da UFMG. Quím nova 1997;20(4):438-44.
  • 8. Cunha AM, Tunes E, Silva RR. Evasão do curso de química da universidade de Brasília: A interpretação do aluno evadido. Quím nova 2001;24(1):262-80.
  • 9. Almeida LS, Soares APC, Ferreira JM. Questionário de vivências acadêmicas (QVA-r): Avaliação do ajustamento dos estudantes universitários. Aval Psicol 2002;1(2):81-93.
  • 10. Mazzetto SE, Carneiro CCBS. Licenciatura em química da UFC: Perfil sócio econômico, evasão e desempenho dos alunos. Quím nova 2002;25(6B):1204-10.
  • 12. Ferreira RA, Peret Filho LA, Goulart EMA, Valadão MMA. O estudante de medicina da Universidade Federal de Minas Gerais: perfil e tendências. Rev Ass Med Bras 2000;46(3):224-31.
  • 13. Furegato ARF, Silva EC, Campos MC, Cassiano RPT. Depressão e auto-estima entre acadêmicos de enfermagem. Rev psiquiatr clín 2006;33(5):239-44.
  • 14. Santos CE, Leite MMJ. O perfil do aluno ingressante em uma universidade particular da cidade de São Paulo. Rev Bras Enferm 2006;59(2):154-6.
  • 15. Vendramini CMM, Santos AAA, Polydoro SAJ, Sbardelini ETB, Serpa MNF, Natário EG. Construção e validação de uma escala sobre avaliação da vida acadêmica (EAVA). Estud psicol (Natal) 2004;9(2):259-68.
  • 16. Pinto JMR. O acesso à educação superior no Brasil. Educ Soc. 2004;25(88):727-56.
  • 17. Bastone CB et al Projeto pedagógico do curso de graduação em fisioterapia [capturado 3 jun. 2013]. Disponível em: http://prograd.ufvjm.edu.br/projetos-pedagogicos.html
  • 18. Rodrigues EN. Primeiro estágio curricular: relato de experiência. Rev Bras Enferm 1995;48(4):436-43.
  • 19. Rodrigues MSP, Leitão GCM. Estágio curricular supervisionado com ênfase no desenvolvimento da autonomia e da responsabilidade. Texto Contexto Enferm 2000;9(3):216-29.
  • 20. Viana RT, Moreira GM, Melo LTM, Sousa NP, Brasil ACO, Abdon APV. O estágio extracurricular na formação profissional: a opinião dos estudantes de fisioterapia. Fisioter Pesqui 2012;19(4):339-44.
  • 22. Silva Filho RLL, Motejunas PR, Hipolito O, Lobo MB. A evasão no ensino superior brasileiro. Cad Pesqui 2007;37(132):641-59.
  • 23. Marães VRFS, Martins EF, Cipriano Junior G, Acevedo, AC, Pinho DLM. Projeto pedagógico do curso de Fisioterapia da Universidade de Brasília. Fisioter Mov 2010;23(2):311-21.
  • 24
    Brasil. Ministério da Saúde. A trajetória dos cursos de graduação na área da saúde. [capturado 6 mai. 2012]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes//trajetoriacursos areasaude.pdf
  • 25. Badaró AFV, Guilhem D. Perfil sociodemográfico e profissional de fisioterapeutas e origem das suas concepções sobre ética. Fisioter Mov 2011;24(3):445-54.
  • 26. Gaiad TP, Sant'Ana DMG. Análise da eficácia do estágio supervisionado em fisioterapia na formação profissional: uma visão do egresso. Arq ciências saúde UNIPAR 2005;9(2):65-70.
  • 28. Amaral NC. Autonomia e financiamento das IFES: desafios e ações. Avaliação 2008;13(3):647-80.
  • ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA
    Ana Paula Santos
    Clínica Escola de Fisioterapia — Campus JK — UFVJM — 5000
    Rodovia MGT 367 — KM 583 — Diamantina
    CEP 39100-000 — MG
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      04 Ago 2014
    • Data do Fascículo
      Mar 2014
    Associação Brasileira de Educação Médica SCN - QD 02 - BL D - Torre A - Salas 1021 e 1023 | Asa Norte, Brasília | DF | CEP: 70712-903, Tel: (61) 3024-9978 / 3024-8013, Fax: +55 21 2260-6662 - Brasília - DF - Brazil
    E-mail: rbem.abem@gmail.com