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A UTILIZAÇÃO DA ESTATÍSTICA NA ÁREA MÉDICA

Resumo:

No presente estudo são comentados trabalhos que se ocupam com o uso da Estatística em artigos publicados em periódicos médicos nacionais e estrangeiros.

Summary:

The purpose of this article is to comment on works that have been written about the use of Statistics in articles published in Brazilian and foreign medical journals.

O Uso da Estatística em Artigos

Segundo diferentes autores, a utilização de procedimentos estatísticos em estudos da área médica não é feita de forma apropriada.

Para VIEIRA "a estatística apresentada na literatura médica é, em geral, muito ruim"101. SONIA, V. Estatística em Medicina. Ciência e Cultura, 37(3):414-16, 1985.. Segundo a autora, é necessário verificar a qualidade dos dados das hipóteses utilizadas nos testes estatísticos apresentados em trabalhos médicos.

Estudo conduzido por BRAGA revelou que o uso da Estatística em artigos publicados em periódicos médicos nacionais é inadequado, impreciso ou mesmo errôneo em grande parte dos trabalhos avaliados202. BRAGA, C. M. S. O uso da Estatística na Medicina: Uma avaliação de artigos publicados em periódicos médicos nacionais. Rio de Janeiro, s. ed., 1987, 71p. (Dissertação de Mestrado/UFRJ).. BRAGA alerta para a "possibilidade de médicos instituírem tratamentos inadequados ou mesmo nocivos a seus pacientes se não houver, por parte desses profissionais, a leitura crítica e a identificação das falhas mais comuns no uso de delineamento e de procedimentos estatísticos nos artigos publicados em periódicos médicos nacionais"202. BRAGA, C. M. S. O uso da Estatística na Medicina: Uma avaliação de artigos publicados em periódicos médicos nacionais. Rio de Janeiro, s. ed., 1987, 71p. (Dissertação de Mestrado/UFRJ)..

JOLL Y e GALE, ao fazerem a análise de artigos publicados no British Journal of Medicine, de março de 1974 a junho de 1975, verificaram o uso incorreto de procedimentos de inferência estatística303. JOLLY, B. C. & GALE, J. Statistical significance: lt's appropriate use. Medical Education, 10(5):410-11, 1976.. De acordo com esses autores, nos artigos não são indicados os valores de ( considerados críticos para a rejeição, constando nos mesmos somente os valores precisos do índice p. Segundo JOLLY e GALE, o leitor desses artigos precisa adivinhar qual foi o critério utilizado para decidir se um resultado é ou não significativo.

Conforme informação de LILIENFELD, é muito alta a incidência de erros no uso da Estatística em artigos publicados em periódicos médicos404. LILIENFELD, A. M. More statistics in medical education. The New England Journal of Medicine, 300(4):204-5, 1979.. Para o autor, inferências errôneas, feitas a partir de tais artigos, podem influenciar o tipo e a qualidade do tratamento médico. Na opinião de LILIENFELD, a origem dos erros encontrados nesses artigos reside nas exigências para admissão e no conteúdo do currículo das escolas médicas que não oferecem meios para o ensino efetivo desta disciplina.

COLDITZ e EMERSON verificaram a frequência do uso de procedimentos estatísticos em 760 artigos, publicados no New England Journal of Medicine, de janeiro de 1978 a dezembro de 1979, sem se preocuparem se o uso de tais procedimentos era adequado à situação descrita em cada artigo505. COLDITZ, G.A. & EMERSON, J. D. The statistical content of published medical research: Some implications for biomedical education. Medical Education , 19(3): 248-55, 1985.. De acordo com COLDITZ e EMERSON, a principal descoberta dessa investigação foi "...métodos estatísticos de considerável diversidade são largamente empregados em pesquisa média corrente"505. COLDITZ, G.A. & EMERSON, J. D. The statistical content of published medical research: Some implications for biomedical education. Medical Education , 19(3): 248-55, 1985..

GLANTZ avaliou a adequação do uso de Estatística em 142 artigos originais publicados, de julho a dezembro de 1977, no periódico Circulation e em 79 artigos originais de pesquisa publicados, de janeiro a junho de 1977, no periódico Circulation Research606. GLANTZ. S. A, Biostatistics: How to detect, correct and prevent errors in the medical literature. Circulation, 61(1):1-7, 1980.. Alguns resultados, relativos respectivamente a Circulation e Circulation Research, revelam que: (a) 39% e 25% dos artigos não utilizaram procedimentos estatísticos; (b) 34% e 25% dos artigos utilizaram corretamente o teste "t", a análise da variância de outros métodos; (c) 27% e 46% dos artigos utilizaram o teste "t" de forma incorreta para comparar mais de dois grupos; e (d) 44% e 61% dos artigos, que utilizaram procedimentos estatísticos, apresentavam erros. Segundo GLANTZ, duas ações deveriam ser tomadas na prevenção dos erros na literatura médica: (a) editores de periódicos devem se empenhar no sentido de que os artigos publicados apresentem métodos estatísticos utilizados de forma apropriada; (b) comitês de pesquisa com seres humanos não devem aprovar experimentos se o delineamento proposto para o estudo é fraco ou se a análise dos dados não é feita adequadamente. Quanto ao papel dos cursos de Estatística na melhoria do nível do que é publicado, o autor acredita que o efeito de cursos tradicionais é pouco ou mesmo nenhum, enquanto os estudantes e pesquisadores continuarem descrentes a respeito da utilidade da Estatística na área médica. Também, para GLANTZ, os erros detectados nos artigos são geralmente relativos a técnicas simples que os próprios pesquisadores deveriam aprender a utilizar corretamente. As­sim, a consulta a um estatístico pode ser útil, porém ninguém melhor que o pesquisador para analisar dados clínicos ou experimentais. A autora deste estudo está de acordo com GLANTZ quando este afirma que cursos tradicionais têm pouco efeito em melhorar a qualidade do que é publicado. No entanto, a consulta de pesquisadores médicos a estatísticos é uma forma de prevenir erros, uma pesquisa deve ser cuidadosamente planejada nos mínimos detalhes, a começar pelo delineamento do experimento. Essas orientações poderão ser fornecidas por um estatístico.

Referências Bibliográficas

  • 01
    SONIA, V. Estatística em Medicina. Ciência e Cultura, 37(3):414-16, 1985.
  • 02
    BRAGA, C. M. S. O uso da Estatística na Medicina: Uma avaliação de artigos publicados em periódicos médicos nacionais. Rio de Janeiro, s. ed., 1987, 71p. (Dissertação de Mestrado/UFRJ).
  • 03
    JOLLY, B. C. & GALE, J. Statistical significance: lt's appropriate use. Medical Education, 10(5):410-11, 1976.
  • 04
    LILIENFELD, A. M. More statistics in medical education. The New England Journal of Medicine, 300(4):204-5, 1979.
  • 05
    COLDITZ, G.A. & EMERSON, J. D. The statistical content of published medical research: Some implications for biomedical education. Medical Education , 19(3): 248-55, 1985.
  • 06
    GLANTZ. S. A, Biostatistics: How to detect, correct and prevent errors in the medical literature. Circulation, 61(1):1-7, 1980.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Ago 2020
  • Data do Fascículo
    May-Aug 1988
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