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Aprendizagem baseada em projetos na educação profissional e tecnológica como proposta ao ensino remoto forçado

EL APRENDIZAJE POR PROYECTOS EN LA EDUCACIÓN PROFESIONAL Y TECNOLÓGICA COMO PROPUESTA AL APRENDIZAJE REMOTO FORZADO

RESUMO

A pandemia iniciada em 2020 foi desafiadora em muitas áreas, entre elas a educação, com a migração obrigatória para o ensino remoto. Este trabalho apresenta a migração de disciplinas da metodologia presencial tradicional para a aprendizagem baseada em projetos no ensino remoto forçado. Os conteúdos foram transformados em projetos, desenvolvidos em grupos orientados, com feedbacks detalhados, liberdade de organização, apresentação e avaliações em grupo e individual. A percepção geral foi de dificuldades iniciais, de adaptação, mas de desenvolvimento de competências como trabalho em grupo, apresentação de ideias, tomada de decisão, planejamento, organização e socialização, com desenvolvimento do pensamento crítico e criativo e comprometimento com o próprio aprendizado desde a seleção do nível e da quantidade de informações a explorar. O desenvolvimento de habilidades e maturidade para lidar com projetos e problemas mostra um caminho a avançar no uso de metodologias ativas.

PALAVRAS-CHAVE
ABP; educação profissional e tecnológica; ensino médio; metodologias ativas; pandemia

RESUMEN

La pandemia de 2020 fue un desafío en muchas áreas, incluida la educación, con la migración obligatoria al aprendizaje remoto. Este trabajo presenta la migración de disciplinas de la metodología tradicional presencial al aprendizaje basado en proyectos en el aprendizaje remoto forzado. Los contenidos se transformaron en proyectos, desarrollados en grupos orientados, con retroalimentación detallada, libertad de organización y presentación, y evaluaciones grupal e individual. La percepción general fue de dificultades iniciales, de adaptación, pero de desarrollo de habilidades como el trabajo en grupo, presentación de ideas, toma de decisiones, planificación, organización y socialización, con el desarrollo del pensamiento crítico y creativo y el compromiso con el aprendizaje desde la selección del nivel y de la cantidad de información para explorar. El desarrollo de habilidades y madurez para afrontar proyectos y problemas muestra un camino a seguir en el uso de metodologías activas.

PALABRAS CLAVE
ABP; educación profesional y tecnológica; bachillerato; metodologías activas; pandemia

ABSTRACT

The pandemic that started in 2020 was challenging in many areas, including education, with a mandatory migration to remote learning. This work presents the migration of disciplines from the traditional face-to-face methodology to project-based learning in forced remote learning. The contents were transformed into projects, developed in oriented groups, with detailed feedback, freedom of organization and presentation, and group and individual assessment. The general perception was of initial difficulties, of adaptation, but of skills development such as groupwork, presentation of ideas, decision making, planning, organization, and socialization, with the development of critical and creative thinking and commitment to learning itself since the selection of the level and of the amount of information to explore. The development of skills and maturity to deal with projects and problems shows a way forward in the use of active methodologies.

KEYWORDS
PBL; professional and technological education; high school; active methodologies; pandemic

INTRODUÇÃO

O ano de 2020 foi certamente desafiador em muitas áreas, entre elas a da educação. A pandemia causada pelo surgimento e pela disseminação massiva e rápida do novo vírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave-Coronavírus 2 (SARS-CoV-2) em todo o mundo impôs uma necessidade de mudanças dramáticas nas práticas educacionais; escolas, institutos e universidades passaram a oferecer seus cursos e programas educacionais em modos totalmente eletrônicos pela primeira vez em sua história (Daniel, 2020DANIEL, S. J. Education and the COVID-19 pandemic. Prospects, v. 49, p. 91-96, 2020. https://doi.org/10.1007/s11125-020-09464-3
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; Shawaqfeh et al., 2020SHAWAQFEH, M. S.; AL BEKAIRY, A. M.; AL-AZAYZIH, A.; ALKATHERI, A. A.; QANDIL, A. M.; OBAIDAT, A. A.; AL HARBI, S.; MUGLIH, S. M. Pharmacy Students Perceptions of Their Distance Online Learning Experience During the COVID-19 Pandemic: A Cross-Sectional Survey Study. Journal of Medical Education and Curricular Development, v. 7, Jan.-Dec. 2020. https://doi.org/10.1177/2382120520963039
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). Em abril de 2020, mais de 80% das instituições educacionais em todo o mundo estavam fechadas — em 161 países, o fechamento era total; em meados do início do ano escolar de 2021 — fevereiro de 2021 —, ainda são mais de 200 milhões estudantes afetados, 12,7% dos estudantes matriculados no mundo e 28 países totalmente fechados, entre eles o Brasil (UNESCO, 2021UNITED NATIONS EDUCATIONAL, SCIENTIFIC AND CULTURAL ORGANIZATION (UNESCO). Suspensão das aulas e resposta à COVID-19. 2021. Disponível em: https://pt.unesco.org/covid19/educationresponse. Acesso em: 12 fev. 2021.
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).

A educação a distância (EaD) possui suas limitações, mesmo com planejamento e professores e alunos com perfil para tal; quando forçada e com um planejamento corrido, suas limitações podem ser ainda maiores. Os desafios para alunos, servidores e suas famílias durante a pandemia vão desde os impactos na saúde mental e econômico nas famílias, a falta de motivação, a dificuldade de adaptação aos métodos de EaD, os problemas técnicos e de largura de banda até a criação de conteúdo de materiais de ensino dessa modalidade, afetando principalmente cursos práticos e laboratoriais (Shawaqfeh et al., 2020SHAWAQFEH, M. S.; AL BEKAIRY, A. M.; AL-AZAYZIH, A.; ALKATHERI, A. A.; QANDIL, A. M.; OBAIDAT, A. A.; AL HARBI, S.; MUGLIH, S. M. Pharmacy Students Perceptions of Their Distance Online Learning Experience During the COVID-19 Pandemic: A Cross-Sectional Survey Study. Journal of Medical Education and Curricular Development, v. 7, Jan.-Dec. 2020. https://doi.org/10.1177/2382120520963039
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). Além disso, a necessidade de treinamento para alunos e professores, infraestrutura e suporte de TI e conhecimentos de informática são barreiras que precisam ser avaliadas no planejamento. Com uma atitude, ainda assim, positiva dos alunos em relação à situação (ibidem), há de se pensar na motivação para a EaD nessas condições. Metodologias ativas, nas quais o aluno é um coautor do processo de ensino-aprendizagem, não mero expectador (Akili, 2011AKILI, W. On implementation of problem-based learning in engineering education: Thoughts, strategies and working models. In: Frontiers in Education Conference, 2011, Rapid City, SD. Proceedings [...]. Rapid City, SD: IEEE, 2011. p. S3B-1- S3B-6.), podem criar um ambiente desafiador que desperte maior interesse dos alunos.

Muitos esforços já têm sido canalizados para motivar, atrair e envolver os alunos em seus processos de aprendizagem, mesmo em situações normais; na Europa, a Declaração de Bolonha e a implementação do Espaço Europeu do Ensino Superior promovem a utilização de metodologias ativas de aprendizagem (Pérez-Martínez et al., 2010PÉREZ-MARTÍNEZ, J. E.; GARCIA, J.; MUÑOZ, I.; SIERRA-ALONSO, A. Active learning and generic competences in an operating systems course. International Journal of Engineering Education, v. 26, n. 6, p. 1484-1492, 2010.) desde o início dos anos 2010. No Brasil, as diretrizes para os cursos de engenharia do Conselho Nacional de Educação (CNE) também preveem um estímulo à utilização das metodologias ativas, centradas no aluno, pautadas em práticas interdisciplinares (Brasil, 2019BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Resolução no 2, de 24 de abril de 2019. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Engenharia. Brasília: Ministério da Educação, 2019. Disponível em: https://normativasconselhos.mec.gov.br/normativa/view/CNE_RES_CNECESN22019.pdf. Acesso em: 12 maio 2021.
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).

A aquisição de conhecimento como resultado de uma interação entre indivíduos e seu ambiente circundante, no qual atuam em resposta a estímulos externos, construindo e organizando seu próprio conhecimento, pode ser estimulada por diferentes métodos ativos de aprendizagem (Novais, Silva e Muniz Junior, 2017NOVAIS, A. S.; SILVA, M. B.; MUNIZ JR., J. Strengths, limitations and challenges in the implementation of active learning in an undergraduate course of logistics technology. International Journal of Engineering Education, v. 33, n. 3, p. 1060-1069, 2017.), alguns deles são: a aprendizagem baseada em problemas ou projetos (ABP ou problem ou project-based learning — PBL); aprendizados cooperativo (cooperative learning — CL) e colaborativo (collaborative learning — CLA) (Pérez-Martínez et al., 2010PÉREZ-MARTÍNEZ, J. E.; GARCIA, J.; MUÑOZ, I.; SIERRA-ALONSO, A. Active learning and generic competences in an operating systems course. International Journal of Engineering Education, v. 26, n. 6, p. 1484-1492, 2010.; Hassan et al., 2012HASSAN, S. A. H. S.; YUSOF, K. M.; MOHAMMAD, S.; ABU, M. S.; TASIR, Z. Methods to Study Enhancement of Problem Solving Skills in Engineering Students Through Cooperative Problem-Based Learning. Procedia: Social and Behavioral Sciences, v. 56, p. 737-746, 2012.; Novais, Silva e Muniz Junior, 2017NOVAIS, A. S.; SILVA, M. B.; MUNIZ JR., J. Strengths, limitations and challenges in the implementation of active learning in an undergraduate course of logistics technology. International Journal of Engineering Education, v. 33, n. 3, p. 1060-1069, 2017.; Kalaian, Kasim e Nims, 2018KALAIAN, S. A.; KASIM, R. M.; NIMS, J. K. Effectiveness of Small-Group Learning Pedagogies in Engineering and Technology Education: A Meta-Analysis. Journal of Technology Education, v. 29, n. 2, p. 20-35, 2018.), sala de aula invertida (flipped learning) (Seery, 2015SEERY, M. K. Flipped learning in higher education chemistry: Emerging trends and potential directions. Chemistry Education Research and Practice, v. 16, p. 758-768, 2015.; Novais, Silva e Muniz Junior, 2017NOVAIS, A. S.; SILVA, M. B.; MUNIZ JR., J. Strengths, limitations and challenges in the implementation of active learning in an undergraduate course of logistics technology. International Journal of Engineering Education, v. 33, n. 3, p. 1060-1069, 2017.); instrução por pares (peer assessment e peer instruction) (Lehtovuori et al., 2013LEHTOVUORI, A.; HONKALA, M.; KETTUNEN, H.; LEPPÄRVITA, J. Interactive engagement methods in teaching electrical engineering basic courses. In: IEEE Global Engineering Education Conference, 2013, Berlin. Anais [...]. Berlin: IEEE, 2013. Disponível em: https://ieeexplore.ieee.org/document/6530089. Acesso em: 28 jan. 2021.
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; Kalaian, Kasim e Nims, 2018KALAIAN, S. A.; KASIM, R. M.; NIMS, J. K. Effectiveness of Small-Group Learning Pedagogies in Engineering and Technology Education: A Meta-Analysis. Journal of Technology Education, v. 29, n. 2, p. 20-35, 2018.); ou ainda estratégias como o uso de quizzes, screencasts ou podcasts (Ferreira de Oliveira et al., 2017MUNIZ JUNIOR, J.; RODRIGUES, J. S.; ASSIS, A.; OLIVEIRA, F. C. P.; FRANCO, B. C.; MACIEL, F. G. Increasing students’ skills in operations management classes: Cumbuca Method as teaching-learning strategy. Gestão & Produção, São Carlos, v. 24, n. 4, p. 680-689, out.-dez. 2017. https://doi.org/10.1590/0104-530X1172-15
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), a leitura e discussão, como no método da cumbuca (Muniz Junior et al., 2017MUNIZ JUNIOR, J.; RODRIGUES, J. S.; ASSIS, A.; OLIVEIRA, F. C. P.; FRANCO, B. C.; MACIEL, F. G. Increasing students’ skills in operations management classes: Cumbuca Method as teaching-learning strategy. Gestão & Produção, São Carlos, v. 24, n. 4, p. 680-689, out.-dez. 2017. https://doi.org/10.1590/0104-530X1172-15
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), entre diversos outros. A presença do professor como um facilitador em problemas reais, desenvolvidos com trabalho em grupo, pode aumentar a dedicação dos alunos a um tema específico; cria oportunidades de aprendizado em seu próprio ritmo (Seery, 2015SEERY, M. K. Flipped learning in higher education chemistry: Emerging trends and potential directions. Chemistry Education Research and Practice, v. 16, p. 758-768, 2015.); estimula habilidades como trabalho em equipe, comunicação, organização na formulação de ideias e gestão de tempo (Muniz Junior et al., 2017MUNIZ JUNIOR, J.; RODRIGUES, J. S.; ASSIS, A.; OLIVEIRA, F. C. P.; FRANCO, B. C.; MACIEL, F. G. Increasing students’ skills in operations management classes: Cumbuca Method as teaching-learning strategy. Gestão & Produção, São Carlos, v. 24, n. 4, p. 680-689, out.-dez. 2017. https://doi.org/10.1590/0104-530X1172-15
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); ajuda a desenvolver as soft skills (habilidades sociais), características de resolução de conflitos (Deep, Mohd e Hussain, 2019DEEP, S.; MOHD, B.; HUSSAIN, O. Improving the soft skills of engineering undergraduates in Malaysia through problem-based approaches and e-learning applications. Higher Education, Skills and Work-based Learning, v. 9, n. 4, p. 662-676, Apr. 2019. https://doi.org/10.1108/HESWBL-07-2018-0072
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), liderança (Barreto et al., 2017BARRETO, M. A. M.; WATANABE, K. N.; GRILLO, C. C.; PEREIRA, M. A. C. Liderança: percepção de alunos ingressantes de um curso de Engenharia de Produção em um ambiente de aprendizagem baseada em projetos. Revista Principia, v. 1, n. 34, p. 77-83, jun. 2017. https://doi.org/10.18265/1517-03062015v1n34p77-83
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) e autonomia (Seery, 2015SEERY, M. K. Flipped learning in higher education chemistry: Emerging trends and potential directions. Chemistry Education Research and Practice, v. 16, p. 758-768, 2015.) que não são desenvolvidas no ensino tradicional e são parte essencial da vida dos alunos (Hsieh e Knight, 2008HSIEH, C.; KNIGHT, L. Problem-Based Learning for Engineering Students: An Evidence-Based Comparative Study. Journal of Academic Librarianship, v. 34, n. 1, p. 25-30, Jan. 2008. https://doi.org/10.1016/j.acalib.2007.11.007
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). Por outro lado, a adaptação dos alunos a qualquer dessas metodologias é um desafio inicial. O professor pode levar o triplo do tempo para preparar seu curso (Seery, 2015SEERY, M. K. Flipped learning in higher education chemistry: Emerging trends and potential directions. Chemistry Education Research and Practice, v. 16, p. 758-768, 2015.) e os alunos podem se sobrecarregar também. Entretanto, com o advento da pandemia e do ensino remoto forçado, alunos e professores foram obrigados a se adaptarem obrigatoriamente a uma metodologia nova (Shawaqfeh et al., 2020SHAWAQFEH, M. S.; AL BEKAIRY, A. M.; AL-AZAYZIH, A.; ALKATHERI, A. A.; QANDIL, A. M.; OBAIDAT, A. A.; AL HARBI, S.; MUGLIH, S. M. Pharmacy Students Perceptions of Their Distance Online Learning Experience During the COVID-19 Pandemic: A Cross-Sectional Survey Study. Journal of Medical Education and Curricular Development, v. 7, Jan.-Dec. 2020. https://doi.org/10.1177/2382120520963039
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), mitigando essa dificuldade e potencializando a migração para as metodologias ativas.

A ABP surgiu no fim da década de 1960 na Faculdade de Medicina da Universidade McMaster, na cidade de Hamilton, no Canadá. Inicialmente, ela foi mais comum em cursos da área da saúde, mas vem sendo cada vez mais utilizado em cursos de engenharia (Casale, Kuri e Silva, 2011CASALE, A.; KURI, N. P.; SILVA, A. N. R. Mapas cognitivos na avaliação da Aprendizagem Baseada em Problemas. Revista Portuguesa de Educação, v. 24, n. 2, p. 243-263, 2011. https://doi.org/10.21814/rpe.3036
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; Wang et al., 2012WANG, Y.; YU, Y.; WIEDMANN, H.; XIE, N.; XIE, C.; JIANG, W.; FENG X. Project based learning in mechatronics education in close collaboration with industrial: Methodologies, examples and experiences. Mechatronics, v. 22, n. 6, p. 862-869, Sep. 2012. https://doi.org/10.1016/j.mechatronics.2012.05.005
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; Barreto et al., 2017BARRETO, M. A. M.; WATANABE, K. N.; GRILLO, C. C.; PEREIRA, M. A. C. Liderança: percepção de alunos ingressantes de um curso de Engenharia de Produção em um ambiente de aprendizagem baseada em projetos. Revista Principia, v. 1, n. 34, p. 77-83, jun. 2017. https://doi.org/10.18265/1517-03062015v1n34p77-83
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; Cecílio e Tedesco, 2019), ensino de ciências da natureza (Martins et al., 2016MARTINS, V. J.; OZAKI, S. K.; RINALDI, C.; PRADO, E. W. A aprendizagem baseada em projetos (ABPr) na construção de conceitos químicos na potabilidade da água. Revista Prática Docente, v. 1, n. 1, p. 79-90, jul.-dez. 2016. https://doi.org/10.23926/rpd.v1i1.13
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; Pasqualetto, Veit e Araujo, 2017PASQUALETTO, T. I.; VEIT, E. A.; ARAUJO, I. S. Aprendizagem Baseada em Projetos no Ensino de Física: uma Revisão da Literatura. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v. 17, n. 2, p. 551-577, maio-ago. 2017.), ciências humanas e administração (Sugahara, Jannuzzi e Sousa, 2012SUGAHARA, C. R.; JANNUZZI, C. A. S. C.; SOUSA, J. E. O ensino-aprendizagem baseado em problema e estudo de caso num curso presencial de Administração - Brasil. Revista Iberoamericana de Educación, v. 60, n. 1, 2012. https://doi.org/10.35362/rie6011344
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; Almeida, Camargo e Camargo, 2016ALMEIDA, C. R. S.; CAMARGO, M. N.; CAMARGO, L. B. Educação popular e aprendizagem baseada em problemas na EaD: uma aplicação no curso de ciências sociais EaD/UNIMONTES. Revista Multitexto, v. 4, n. 2, p. 20-26, 2016.; Santos, 2020SANTOS, A. C. M. Z. Contribuições da Aprendizagem baseada em Projetos: análise da utilização do método em disciplina do Curso de Administração. Revista Thema, v. 17, n. 1, p. 124-134, 2020. https://doi.org/10.15536/thema.V17.2020.124-134.1493
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), formação de professores (Erdogan e Senemoglu, 2014ERDOGAN, T.; SENEMOGLU, N. Problem-based Learning in Teacher Education: Its Promises and Challenges. Procedia: Social and Behavioral Sciences, v. 116, p. 459-463, 21 Feb. 2014. https://doi.org/10.1016/j.sbspro.2014.01.240
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; Pasquarelli e Oliveira, 2017PASQUARELLI, B. V. L.; OLIVEIRA, T. Aprendizagem baseada em projetos e formação de professores: uma possibilidade de articulação entre as dimensões estratégica, humana e sócio-política da didática. Góndola, enseñanza y aprendizaje de las ciencias, v. 12, n. 2, p. 186, jul.-dic. 2017. https://doi.org/10.14483/23464712.10903
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), no ensino de jovens e adultos (EJA) (Anastacio e Pereira, 2014ANASTACIO, A. S.; PEREIRA, S. Aprendizagem Baseada em Problemas e Educação nutricional: uma nova proposta metodológica de ensino para a Educação de Jovens e Adultos. Educação: Teoria e Prática, v. 24, n. 46, p. 191=207, 11 ago. 2014. https://doi.org/10.18675/1981-8106.vol24.n46.p191-207
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), no ensino fundamental (Borochovicius e Tassoni, 2021BOROCHOVICIUS, E.; TASSONI, E. C. M. Aprendizagem baseada em problemas: uma experiência no ensino fundamental. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 37, p. 20706, 2021. https://doi.org/10.1590/0102-469820706
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), na educação profissional e tecnológica (EPT) (Barbosa e Moura, 2013BARBOSA, E. F.; MOURA, D. G. Metodologias ativas de aprendizagem na Educação Profissional e Tecnológica. Boletim Técnico do Senac, v. 39, n. 2, p. 48-67, maio-ago. 2013. https://doi.org/10.26849/bts.v39i2.349
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; Kalaian, Kasim e Nims, 2018KALAIAN, S. A.; KASIM, R. M.; NIMS, J. K. Effectiveness of Small-Group Learning Pedagogies in Engineering and Technology Education: A Meta-Analysis. Journal of Technology Education, v. 29, n. 2, p. 20-35, 2018.), também sendo utilizada na EaD (Almeida, Camargo e Camargo, 2016ALMEIDA, C. R. S.; CAMARGO, M. N.; CAMARGO, L. B. Educação popular e aprendizagem baseada em problemas na EaD: uma aplicação no curso de ciências sociais EaD/UNIMONTES. Revista Multitexto, v. 4, n. 2, p. 20-26, 2016.) e em cursos no formato massive open online courses (MOOC) (Dong et al., 2020DONG, L.; YANG, L.; LI, Z.; WANG, X. Application of PBL Mode in a Resident-Focused Perioperative Transesophageal Echocardiography Training Program: A Perspective of MOOC Environment. Advances in Medical Education and Practice, v. 11, p. 1023-1028, 2020. https://doi.org/10.2147/AMEP.S282320
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). A metodologia baseada em problemas ou projetos consiste em utilizar situações reais, relativas ao contexto e à vida. Os estudantes são confrontados com um problema aberto, mal estruturado e do mundo real, identificando as necessidades de aprendizagem para desenvolver uma solução viável, com professores atuando no papel fundamental de facilitadores em vez de fontes primárias de informações (Akili, 2011AKILI, W. On implementation of problem-based learning in engineering education: Thoughts, strategies and working models. In: Frontiers in Education Conference, 2011, Rapid City, SD. Proceedings [...]. Rapid City, SD: IEEE, 2011. p. S3B-1- S3B-6.; Justo e Delgado, 2015JUSTO, E.; DELGADO, A. Change to Competence-Based Education in Structural Engineering. Journal of Professional Issues in Engineering Education and Practice, v. 141, n. 3, p. 05014005, Jul. 2015.).

Na ABP, os alunos devem ser incentivados a compreender os conceitos básicos e as relações de uma teoria particular e aprender a usá-los na resolução do problema ou elaboração do projeto (Lehtovuori et al., 2013LEHTOVUORI, A.; HONKALA, M.; KETTUNEN, H.; LEPPÄRVITA, J. Interactive engagement methods in teaching electrical engineering basic courses. In: IEEE Global Engineering Education Conference, 2013, Berlin. Anais [...]. Berlin: IEEE, 2013. Disponível em: https://ieeexplore.ieee.org/document/6530089. Acesso em: 28 jan. 2021.
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), relacionando a teoria com a prática mais de perto (Seery, 2015SEERY, M. K. Flipped learning in higher education chemistry: Emerging trends and potential directions. Chemistry Education Research and Practice, v. 16, p. 758-768, 2015.), podendo ainda ser usado para integrar ensino e pesquisa (Ríos et al., 2010). A chave para o sucesso está em problemas ou projetos relevantes, juntamente com professores entusiasmados (Kingsbury e Lymn, 2008KINGSBURY, M. P.; LYMN, J. S. Problem-based learning and larger student groups: mutually exclusive or compatible concepts - a pilot study. BMC Medical Education, v. 8, p. 35, 2008. https://doi.org/10.1186/1472-6920-8-35
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). Além disso, a aceitação pelos alunos depende da compreensão de seus objetivos práticos (Ross et al., 2007ROSS, L. A.; CRABTREE, B. L.; THEILMAN, G. D.; ROSS, B. S.; CLEARY, J. D.; BYRD, H. J. Implementation and refinement of a problem-based learning model: A ten-year experience. American Journal of Pharmaceutical Education, v. 71, n. 1, 15. Feb. 2007.), portanto, a comunicação deve ser muito bem elaborada desde o início. Feedbacks detalhados no decorrer do processo são essenciais para manter a motivação dos alunos (Strohfeldt e Khutoryanskaya, 2015STROHFELDT, K.; KHUTORYANSKAYA, O. Using problem-based learning in a chemistry practical class for pharmacy students and engaging them with feedback. American Journal of Pharmaceutical Education, v. 79, n. 9, 2015. https://doi.org/10.5688/ajpe799141
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). Além disso, a forma de trabalho deve ser bem estruturada, frisando a cooperação — o engajamento depende de aspectos como uma interdependência positiva e interação entre si, responsabilidade compartilhada (avaliação do grupo, mas também do desempenho do aluno), compartilhamento de habilidades conhecidas, colaboração e monitoramento constante do progresso (Akili, 2011AKILI, W. On implementation of problem-based learning in engineering education: Thoughts, strategies and working models. In: Frontiers in Education Conference, 2011, Rapid City, SD. Proceedings [...]. Rapid City, SD: IEEE, 2011. p. S3B-1- S3B-6.). Benefícios como alunos que vão melhor nos exames (Galvao et al., 2014GALVAO, T. F.; SILVA, M. T.; NEIVA, C. S.; RIBEIRO, L. M.; PEREIRA, M. G. Problem-based learning in pharmaceutical education: A systematic review and meta-analysis. Scientific World Journal, v. 2014, 19 Feb. 2014. https://doi.org/10.1155/2014/578382
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; Strohfeldt e Khutoryanskaya, 2015STROHFELDT, K.; KHUTORYANSKAYA, O. Using problem-based learning in a chemistry practical class for pharmacy students and engaging them with feedback. American Journal of Pharmaceutical Education, v. 79, n. 9, 2015. https://doi.org/10.5688/ajpe799141
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; Nguyen et al., 2020NGUYEN, H.; WU, L.; FISCHER, C.; WASHINGTON, G.; WARSCHAUER, M. Increasing success in college: Examining the impact of a project-based introductory engineering course. Journal of Engineering Education, v. 109, n. 3, p. 384-401, 2020. https://doi.org/10.1002/jee.20319
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) e resultados mostrando mulheres com desempenhos melhores em engenharia (Nguyen et al., 2020NGUYEN, H.; WU, L.; FISCHER, C.; WASHINGTON, G.; WARSCHAUER, M. Increasing success in college: Examining the impact of a project-based introductory engineering course. Journal of Engineering Education, v. 109, n. 3, p. 384-401, 2020. https://doi.org/10.1002/jee.20319
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) do que homens são também encorajadores para ampliar os caminhos da ABP.

A EPT, no Brasil, possui um longo histórico, que se inicia com as escolas de aprendizes e artífices em 1909 e se consolida com a criação da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica no ano de 2008 (Brasil, 2008BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assunsto Jurídicos. Lei no 11.892, de 29 de dezembro de 2008. Institui a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 2008. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11892.htm. Acesso em: 12 maio 2021.
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). Nesse modelo, os Institutos Federais de Eduação, Ciência e Tecnologia possuem como característica a educação básica integrada à educação profissional com uma verticalização que possibilita a oferta desde a educação básica até a educação superior pela mesma instituição. Tais institutos visam à formação integral dos alunos, prezando pela indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão (Gonçalves, 2016; Marques e Vieira, 2020MARQUES, M. B.; VIEIRA, J. A. Indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão na prática profissional do ensino médio integrado à educação profissional. ScientiaTec, v. 7, n. 1, p. 187-202, 2020. https://doi.org/10.35819/scientiatec.v7i1.4131
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). Segundo dados da plataforma federal Nilo Peçanha (Ministério da Educação, s.d.), a essa rede federal é composta de 656 unidades, totalizando mais de 1.500.000 matrículas no ano de 2022. Com um orçamento gerido diretamente pela Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação, a rede, em 2022, apresenta o índice de matrículas presenciais por professor de 21,76 e um gasto médio anual por matrícula de R$ 15.958,13.

Na EPT, principalmente no ensino técnico, tem-se um cenário comum de alunos sobrecarregados, muitas vezes, devido à carga de ensino médio tradicional e preocupação com vestibular caminhando em conjunto com a EPT. Essa expectativa crescente de mudanças pode gerar um cenário de ansiedade indefinida (Barbosa e Moura, 2013BARBOSA, E. F.; MOURA, D. G. Metodologias ativas de aprendizagem na Educação Profissional e Tecnológica. Boletim Técnico do Senac, v. 39, n. 2, p. 48-67, maio-ago. 2013. https://doi.org/10.26849/bts.v39i2.349
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). Com o ensino remoto forçado, a preocupação com a saúde mental é ainda maior, o sentimento de incerteza aumenta e, portanto, serviços adequados de aconselhamento devem estar disponíveis para apoiar a saúde mental e o bem-estar dos alunos — o volume de trabalho para os alunos pode aumentar também. Os membros do corpo docente devem abraçar a tecnologia e prestar muita atenção às experiências dos alunos para tornar o aprendizado rico e eficaz (Sahu, 2020SAHU, P. Closure of Universities Due to Coronavirus Disease 2019 (COVID-19): Impact on Education and Mental Health of Students and Academic Staff. Cureus, v. 12, n. 4, 4 abr. 2020. https://doi.org/10.7759/cureus.7541
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), com saúde e segurança em primeiro lugar. A ABP pode ser relevante para o aluno visando aumentar a motivação e o interesse e reduzir o volume de trabalho solicitado (Bender, 2014BENDER, W. N. Aprendizagem baseada em projetos: educação diferenciada para o século XXI. Porto Alegre: Penso, 2014.). Ainda que se trabalhando no ensino remoto, a ABP colabora para o desenvolvimento de competências relacionadas aos desenvolvimentos humano e social do indivíduo como as conhecidas habilidades do século XXI, sendo elas o pensamento crítico, a comunicação efetiva, a colaboração e a criatividade (Medeiros et al., 2018MEDEIROS, F. P.; MENEGUSSI, L.; MACHADO, M. B.; SANTOS JUNIOR, P. S. A Project-Based Learning Approach to Develop Collaborative Project Skills. In: CURCHER, M. (ed.). Samba and Sauna: The Implementation of Innovative Participatory Pedagogies by Brazilian Educators. 1. ed. Tampere: Writers and Tampere University of Applied Sciences, 2018. p. 160-172.).

Nesse contexto, o presente estudo apresenta a transformação de três cursos regulares da EPT de nível médio em ABP no ensino remoto forçado; a novidade se dá tanto na situação única de pandemia quanto na aplicação dessa metodologia de ensino em cursos técnicos de nível médio.

METODOLOGIA

Um estudo de aplicação da ABP no ensino remoto forçado de 95 alunos do EPT de nível médio foi executado e é apresentado e discutido. O estudo de caso foi realizado em disciplinas da base profissionalizante de três turmas diferentes dos cursos técnico em Química (3° ano) e técnico em Açúcar e Álcool (2° e 3° anos) integrados ao ensino médio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, campus Matão. Nesse modelo de curso, os alunos possuem uma formação integral que contempla uma base comum de ensino médio integrada aos conteúdos profissionalizantes da respectiva área técnica.

As aulas foram suspensas com aproximadamente um mês de aula presencial do ano letivo de 2020 — que começou em regime presencial e tradicional. Após um período de cerca de 4 meses, as aulas retornaram de forma remota, e a ABP foi aplicada com três projetos para cada uma das turmas. Cada um dos projetos foi desenvolvido do início ao fim de um bimestre, com apenas uma exceção — em uma das turmas, um projeto durou os dois últimos bimestres. Na primeira aula remota, realizada de forma síncrona, os alunos foram apresentados à metodologia, de forma dialogada, podendo opinar na forma de construção dos grupos, na forma de apresentação do projeto (tipo de artefato) e em alguns aspectos de cronograma e projeto em si, que passaram a valer a partir dali. A semente ou proposta de projeto foi apresentada aos alunos pelo docente, de forma dialogada, com alguma participação dos alunos, mas não tendo sido criada por eles, como é característica da ABP (Bender, 2014BENDER, W. N. Aprendizagem baseada em projetos: educação diferenciada para o século XXI. Porto Alegre: Penso, 2014.), nesse momento de transição.

A implementação da metodologia se deu em um nível micro (Akili, 2011AKILI, W. On implementation of problem-based learning in engineering education: Thoughts, strategies and working models. In: Frontiers in Education Conference, 2011, Rapid City, SD. Proceedings [...]. Rapid City, SD: IEEE, 2011. p. S3B-1- S3B-6.), ou seja, com as disciplinas individuais e em períodos específicos. Os projetos foram sempre pensados para abordar os conteúdos de cada bimestre, mas sendo amplos ao ponto de permitirem soluções bastante distintas dependendo das escolhas dos grupos e contando, inclusive, com falta proposital de algumas informações essenciais ao seu desenvolvimento — sempre com o cuidado de ter certeza da disponibilidade das informações nos locais pesquisados pelos alunos. Desse modo, todo o conteúdo teórico da disciplina pode ser incorporado a uma etapa de projeto específico, de forma menos ou mais aprofundada, mas sempre com aplicação prática do tema teórico. O Quadro 1 apresenta alguns tópicos importantes dos projetos executados.

Quadro 1
Pontos-chave dos projetos.

CONSTRUçãO DOS GRUPOS

Um primeiro desafio para o desenvolvimento dos projetos foi a construção dos grupos, em princípio para o primeiro projeto, mas que poderiam seguir nos seguintes ou não, por escolha dos alunos. Um formulário foi atribuído aos alunos para a realização de uma autoavaliação de perfil com algumas características — ou habilidades — específicas definidas por eles como primárias, secundárias ou terciárias. As características atribuídas foram: gosto por fotos, vídeos e edição; leitura e pesquisa; informática; escrita; mão na massa; criatividade. Os alunos decidiram por se dividirem em grupos eles mesmos (em opção a um sorteio direcionado pelas características) e foram orientados de que cada grupo deveria possuir todos os atributos nos níveis primário e secundário de seus membros, podendo ser modificados caso não houvesse tal distribuição. O número de membros nos grupos foi entre seis e nove alunos (seis a oito ou sete a nove, dependendo da turma). Os alunos optaram por escolher o líder de cada um dos grupos, o que é bom em termos de sua valorização (Barreto et al., 2017BARRETO, M. A. M.; WATANABE, K. N.; GRILLO, C. C.; PEREIRA, M. A. C. Liderança: percepção de alunos ingressantes de um curso de Engenharia de Produção em um ambiente de aprendizagem baseada em projetos. Revista Principia, v. 1, n. 34, p. 77-83, jun. 2017. https://doi.org/10.18265/1517-03062015v1n34p77-83
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) em comparação com um líder voluntário ou escolhido pelo professor.

PLANEJAMENTO DO BIMESTRE

O planejamento de cada um dos projetos, em geral, seguiu a estrutura apresentada pela Figura 1, sofrendo alguns ajustes pontuais por questões de calendário, feira de ciências, etc. Em alguns casos, com o calendário apertado com menos dias letivos do que o usual, as semanas 1 e 2 foram condensadas em uma ou a semana 9 de um projeto coincidiu com a semana 1 do seguinte.

Figura 1
Planejamento do bimestre.

No início de cada projeto, os alunos recebiam um documento com a sua âncora, uma questão motriz e uma lista de tarefas que deveriam ser cumpridas para que ele fosse executado, chegando à resolução da questão motriz. Além desse documento, eles tinham acesso, na plataforma de EaD, o Moodle, ao cronograma do bimestre contendo as datas e os temas das WebQuests e a data da entrega final, além das bibliografias que poderiam ser úteis juntamente com as pesquisas na internet. A partir desse material, a primeira entrega era sempre um planejamento que deveria conter o nome do líder, do secretário (responsável pela comunicação com o professor e registros do grupo) e de outras funções definidas por eles mesmos, além de uma lista das tarefas que deveriam ser executadas ao longo do projeto. A lista deveria conter a data aproximada e o responsável por cada uma das tarefas. As funções não eram necessariamente individuais, poderiam ser formadas por subgrupos. Permitir que os alunos organizem sua forma de trabalhar, os papéis a desempenhar na resolução dos próprios problemas e os recursos para atingir seus objetivos é uma das características da ABP (Loyens, Magda e Rikers, 2008LOYENS, S. M. M.; MAGDA, J.; RIKERS, R. M. J. P. Self-Directed Learning in Problem-Based Learning and its Relationships with Self-Regulated Learning. Educational Psychology Review, v. 20, p. 411-427, 2008. https://doi.org/10.1007/s10648-008-9082-7
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).

O primeiro feedback que o grupo recebia era em cima desse planejamento, visando a que os alunos compreendessem a complexidade do problema que teriam pela frente, quais conteúdos teriam de estudar e pesquisar, organizando-se e permitindo que o professor pudesse avaliar, além do trabalho em grupo, o desenvolvimento individual de cada aluno, importante para o engajamento no trabalho cooperativo (Akili, 2011AKILI, W. On implementation of problem-based learning in engineering education: Thoughts, strategies and working models. In: Frontiers in Education Conference, 2011, Rapid City, SD. Proceedings [...]. Rapid City, SD: IEEE, 2011. p. S3B-1- S3B-6.). Sempre que os alunos recebiam um feedback, tinham o tempo da aula seguinte para se reunir com o professor da disciplina e tirar dúvidas sobre o feedback e também sobre as atividades futuras. É importante que os feedbacks sejam sempre muito detalhados (Strohfeldt e Khutoryanskaya, 2015STROHFELDT, K.; KHUTORYANSKAYA, O. Using problem-based learning in a chemistry practical class for pharmacy students and engaging them with feedback. American Journal of Pharmaceutical Education, v. 79, n. 9, 2015. https://doi.org/10.5688/ajpe799141
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). Dúvidas pequenas podiam sempre ser tiradas em atendimentos assíncronos. A mesma dinâmica acontecia nas semanas de feedback das WebQuests. As WebQuests eram, em geral, duas (possivelmente três) por projeto e eram apresentadas aos alunos na forma de um texto com uma introdução ao item específico do conteúdo programático, uma contextualização desse conteúdo com o projeto em si e uma atividade de pesquisa que deveria ser entregue de forma completa, abordando todos os principais tópicos do conteúdo. Dada a possível dificuldade dos alunos de encontrar materiais sobre assuntos técnicos, sempre foram disponibilizadas sugestões de bibliografias, vídeos e sites, mas sempre com incentivo a novas fontes de informação. O nível de detalhamento e a quantidade de informações a serem exploradas nas WebQuests foram de responsabilidade dos grupos, visando ao desenvolvimento dos pensamentos crítico e criativo e incentivando uma possível preocupação com o próprio aprendizado (Casale, Kuri e Silva, 2011CASALE, A.; KURI, N. P.; SILVA, A. N. R. Mapas cognitivos na avaliação da Aprendizagem Baseada em Problemas. Revista Portuguesa de Educação, v. 24, n. 2, p. 243-263, 2011. https://doi.org/10.21814/rpe.3036
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).

A etapa final do projeto era um artefato que os alunos escolheram desenvolver na forma de apresentação em vídeo. Como os projetos eram de cunho industrial, as apresentações eram sempre voltadas aos donos, gerentes ou alguém da indústria a que o projeto se aplicava (que, em geral, não tinha conhecimento técnico e precisaria dele para entender a proposta), dando um tom de formalidade e uma necessidade de detalhamento técnico ao artefato.

A avaliação dos projetos foi realizada através de uma rubrica de avaliação preparada no início do projeto, seguindo o modelo de avaliação proposto por Bender (2014BENDER, W. N. Aprendizagem baseada em projetos: educação diferenciada para o século XXI. Porto Alegre: Penso, 2014.). As notas do grupo variavam de 1 a 10, sendo atribuídas a 4 objetivos declarados, valendo 2,5 pontos cada um e com 4 níveis de cumprimento do objetivo. A nota do grupo correspondia a 60% da média e a nota individual, baseada no cumprimento das atividades planejadas por cada membro (ou subgrupo) e na percepção do desenvolvimento do trabalho individual, quando possível, 40%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados de transformação das três disciplinas de ensino tradicional presencial para ABP no ensino remoto forçado pela pandemia serão apresentados e discutidos segundo a percepção dos alunos antes, durante e depois de concluídas as disciplinas. A análise é apresentada de forma qualitativa, não sendo objetivo deste estudo apresentar discussões quantitativas. As opiniões de alunos apresentadas foram selecionadas como relevantes em um grande grupo para representar os principais aspectos levantados e as opiniões expressivas. Para todo o conjunto de resposta dos alunos, é apresentada uma síntese dos principais aspectos levantados.

PERCEPçãO DOS ALUNOS ANTES DA ALTERAçãO DE METODOLOGIA

O Quadro 2 apresenta algumas respostas dos alunos a respeito da sua percepção sobre desafios, limitações e potencialidades que os alunos viam no ensino remoto no início das atividades.

Quadro 2
Percepção dos alunos* * As respostas estão reproduzidas integralmente como enviadas pelos alunos. sobre o ensino remoto futuro.

As limitações que eles viam no ensino remoto giravam bastante em torno de aspectos de organização e motivação, do ambiente para estudar, da conexão com a internet, da falta de contato com os colegas e com os professores e da falta de aptidão tanto de professores quanto de alunos para trabalhar com o ensino remoto ou EaD. Quase a totalidade da percepção sobre o ensino remoto se traduz em limitações. No entanto, os alunos, de forma positiva, encontraram potencialidades, como a própria organização, a independência e a flexibilidade, o aprendizado no uso de computadores e o senso de responsabilidade deles mesmos com esse novo desafio. No geral, a comunicação foi o maior desafio e a maior limitação encontrada pelos alunos. O Quadro 3 apresenta a percepção dos alunos quanto à ABP após a apresentação inicial do método.

Quadro 3
Percepção dos alunos* * As respostas estão reproduzidas integralmente como enviadas pelos alunos. ABP: aprendizagem baseada em problemas ou projetos. quanto ao ensino futuro a partir de projetos.

Os alunos viam a ABP como um desafio grande, com perspectivas de ser algo difícil, na palavra deles, mas com potencial de estimular características como trabalho em grupo, criatividade, comunicação, envolvimento e interesse pelo conteúdo, que eram vistos também como maiores fontes de dificuldades. Pouco ou quase nada de rejeição, que pode ocorrer se não se tomarem os cuidados iniciais de apresentação da metodologia (Ross et al., 2007ROSS, L. A.; CRABTREE, B. L.; THEILMAN, G. D.; ROSS, B. S.; CLEARY, J. D.; BYRD, H. J. Implementation and refinement of a problem-based learning model: A ten-year experience. American Journal of Pharmaceutical Education, v. 71, n. 1, 15. Feb. 2007.), foi notado. De forma geral, notamos um receio do que é desconhecido, mas visto de forma positiva pelos alunos — como em outros casos (Shawaqfeh et al., 2020SHAWAQFEH, M. S.; AL BEKAIRY, A. M.; AL-AZAYZIH, A.; ALKATHERI, A. A.; QANDIL, A. M.; OBAIDAT, A. A.; AL HARBI, S.; MUGLIH, S. M. Pharmacy Students Perceptions of Their Distance Online Learning Experience During the COVID-19 Pandemic: A Cross-Sectional Survey Study. Journal of Medical Education and Curricular Development, v. 7, Jan.-Dec. 2020. https://doi.org/10.1177/2382120520963039
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) — e com potencial de desenvolvimento de soft skills, além do conteúdo das disciplinas. A percepção dos alunos se mostrou alinhada com os objetivos da ABP, fato importante no início da implementação (Ross et al., 2007ROSS, L. A.; CRABTREE, B. L.; THEILMAN, G. D.; ROSS, B. S.; CLEARY, J. D.; BYRD, H. J. Implementation and refinement of a problem-based learning model: A ten-year experience. American Journal of Pharmaceutical Education, v. 71, n. 1, 15. Feb. 2007.).

No mesmo questionário inicial sobre a percepção dos alunos, foi realizada uma autoavaliação de perfil com algumas características ou habilidades escolhidas. Os alunos foram incitados a escolher, dentre as características, quais viam como primária, secundária e terciária neles mesmos. O perfil das turmas é apresentado na Figura 2.

Figura 2
Perfil dos alunos segundo características autoatribuídas como primária (a), secundária (b) e terciária (c).

Mesmo trabalhando com uma geração que nasceu com a internet e viu surgir, ainda na infância, os smartphones, o conhecimento em informática é a habilidade com menos respostas e, mesmo na era das redes sociais, o conhecimento em edição de fotos e vídeos também é uma caraterística com poucas respostas. As turmas são formadas por alunos que se consideram organizados e com uma boa divisão entre escrita, pesquisa e leitura, mão na massa e criatividade, as outras características selecionadas. Essa boa distribuição facilitou a formação dos grupos, não tendo havido nenhuma necessidade de alteração nas formações elaboradas pelos próprios alunos. As distribuições gerais apresentadas pela Figura 2 refletem os padrões individuais de cada turma, que demonstraram distribuições parecidas. Um ponto curioso foi que a escolha do líder não mostrou nenhuma relação com características como a organização, por exemplo — foram escolhidos líderes dos mais variados perfis.

PERCEPçãO DOS ALUNOS NO FIM DOS BIMESTRES INTERMEDIáRIOS

No fim de cada bimestre, um novo formulário era atribuído aos alunos, com perguntas abertas sobre a percepção do ensino remoto e da ABP e um espaço para sugestões e reclamações para a sequência do trabalho — que foi pouco usado. Os Quadros 4 e 5 apresentam respostas dos alunos e alguns tópicos relevantes sobre cada tema. As respostas desses formulários mostraram dificuldades de adaptação que se arrastaram no decorrer do ano e dificuldade com o foco. Por outro lado, não mostraram dificuldades com as plataformas utilizadas e ressaltaram uma autoavaliação de características como a organização deles mesmos. No fim do segundo bimestre, ficam mais claras características desse desenvolvimento, incluindo respostas sobre melhoria de autonomia e independência, trabalho em grupo e outros pontos positivos em meio a mais algumas reclamações — em número bem menor.

Quadro 4
Percepção dos alunos* sobre o ensino remoto e a aprendizagem baseada em problemas ou projetos no fim do primeiro bimestre.
Quadro 5
Percepção dos alunos* sobre o ensino remoto e a aprendizagem baseada em problemas ou projetos no fim do segundo bimestre.

Sobre a ABP, no fim do primeiro projeto, alunos relataram dificuldades como trabalho online em grupo, dificuldade do método em si, mas em meio a muitos pontos positivos, como ser divertido, ter contato com o mundo do trabalho, a liberdade de pesquisas mais aprofundadas e a curiosidade em trabalhar com o método em um curso presencial. No fim do segundo projeto, ainda com comentários acerca da dificuldade, alunos mostraram a maturidade na organização, o trabalho em equipe e a pesquisa mais aprofundada e por um tempo mais longo como fatores positivos da utilização do método. No espaço aberto para sugestões e críticas, os poucos comentários realizados foram, em geral, por problemas com os grupos grandes. Algumas reclamações desse tipo resultaram em desmembramento de um dos grupos em grupos menores, um aluno que saiu de um grupo e passou para outro, alunos que deixaram de participar das atividades entregando ou não atividades de recuperação no lugar e a necessidade de uma reorganização de alguns grupos no início do próximo projeto para que este funcionasse melhor. A necessidade de avaliação individual na motivação dos alunos ficou clara nos grupos que tiveram esse tipo de problema e, portanto, devem sempre ser levadas em consideração (Tadjer, Lafifi e Seridi-Bouchelaghem, 2019TADJER, H.; LAFIFI, Y.; SERIDI-BOUCHELAGHEM, H. A New Approach for Assessing Learners in an Online Problem Based Learning Environment. In: I. Management Association (ed.). Learning and Performance Assessment: Concepts, Methodologies, Tools, and Applications. IGI Global, 2019. p. 307-324. https://doi.org/10.4018/978-1-7998-0420-8.ch016
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). Os alunos que deixaram os grupos foram sempre os que vinham apresentando problemas de não entrega de atividades em outras disciplinas, não mostrando uma relação da desistência com a metodologia especificamente em nenhum caso.

Quando se pensa na deep learning aprendizagem profunda —, alguns dos seus principais aspectos (Muniz Junior et al., 2017MUNIZ JUNIOR, J.; RODRIGUES, J. S.; ASSIS, A.; OLIVEIRA, F. C. P.; FRANCO, B. C.; MACIEL, F. G. Increasing students’ skills in operations management classes: Cumbuca Method as teaching-learning strategy. Gestão & Produção, São Carlos, v. 24, n. 4, p. 680-689, out.-dez. 2017. https://doi.org/10.1590/0104-530X1172-15
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) podem ser notados nos comentários dos alunos, como um contexto motivacional apropriado, com atividades de aprendizagem e interação entre aluno e professor adequadas — considerando as limitações do contexto de aplicação. A base do conhecimento bem estruturada é o item faltante, mas que se mostra implicitamente nos comentários. Alunos sobrecarregados tendem a cair na superficial learning — aprendizagem superficial —, o seu oposto, que produz um aluno focado em reproduzir o conhecimento (ibidem), característica não perceptível na percepção dos alunos.

PERCEPçãO DOS ALUNOS NA CONCLUSãO DOS CURSOS

O Quadro 6 apresenta as respostas dos alunos a um questionário fechado no fim de suas disciplinas.

Quadro 6
Percepção dos alunos sobre a aprendizagem baseada em problemas ou projetos no fim do curso.

Os resultados do Quadro 6 mostram alguns dos aspectos que foram levantados nas questões abertas aplicadas no decorrer dos cursos juntamente com a percepção dos alunos em aspectos típicos de metodologias ativas de aprendizagem. A maioria dos alunos acha que a metodologia deveria ser complementada por aulas teóricas (Q1) e tem curiosidade para experimentar a metodologia presencialmente (Q18), mesmo parte da turma tendo encontrado dificuldade com os projetos (Q2). Nesse cenário, os feedbacks bem detalhados se mostraram importantes para a superação de tais dificuldades (Q10 e Q11). As atividades relativas a planejamento, pesquisa, interpretação do feedback, discussão e apresentação (Q4) foram vistas como importantes no desenvolvimento de soft skills, criando, parcialmente, uma confiança na aplicação desses conteúdos na vida futura (Q3). Um dos maiores problemas é a falta de tempo gerada pelo ensino remoto e pela pandemia em si (Q13), juntamente com os problemas relativos ao distanciamento (Q14); a plataforma utilizada não foi vista como um problema (Q15). O planejamento foi visto de forma positiva (Q6) e o fato de, em algum momento, ter tido a experiência de explicar o conteúdo a um colega também (Q12). Os alunos, em geral, concordam parcialmente que os projetos, mesmo realizados de forma online, não englobando mais do que uma disciplina e com entrega de um artefato em vídeo, trazem uma visão do trabalho em uma empresa (Q7), tornam a aprendizagem mais significativa pelo trabalho em grupo, pela cooperação (Q8) e pela aplicação dos conteúdos teóricos (Q5); além disso, acreditam que retiveram os conceitos estudados e aplicados (Q9); assim, o método é visto como uma boa solução ao ensino remoto forçado (Q17). A comparação com o método tradicional online (Q16) trouxe alguma confusão que destoa das respostas no restante dos questionários. Esse tipo de confusão pode ser percebida quando alunos encontram dificuldades em organizar o tempo com as atividades cotidianas (Seery, 2015SEERY, M. K. Flipped learning in higher education chemistry: Emerging trends and potential directions. Chemistry Education Research and Practice, v. 16, p. 758-768, 2015.), dificuldade que poderia ser suplantada no ensino presencial utilizando ABP.

O Quadro 7 apresenta a opinião dos alunos a respeito do ensino remoto depois de ter passado por ele em uma experiência de quase um ano letivo, enquanto o Quadro 8 apresenta a expectativa versus realidade da ABP. Em comparação com a visão inicial, bastante negativa, alguns pontos positivos, como o desenvolvimento de melhores habilidades de organização e responsabilidade, foram levantados pelos alunos. Por outro lado, foram levantados sentimentos de ansiedade, insegurança e descompromisso com os estudos, que podem ser relacionados à evasão maior que de costume nesse ano atípico — dos 95 alunos que iniciaram nas três disciplinas, nove abandonaram totalmente as aulas. A flexibilidade, vista como uma vantagem do ensino remoto de início, acabou sendo levantada como uma dificuldade no fim.

Quadro 7
Opinião dos alunos* * As respostas estão reproduzidas integralmente como enviadas pelos alunos. ABP: aprendizagem baseada em problemas ou projetos. sobre o ensino remoto.
Quadro 8
Expectativa dos alunos* * As respostas estão reproduzidas integralmente como enviadas pelos alunos. ABP: aprendizagem baseada em problemas ou projetos. com projetos mudou da primeira impressão?

As respostas apresentadas no Quadro 7 podem ser confrontadas com a análise geral das apresentadas no Quadro 6, em uma tentativa de separar duas questões básicas: a ABP e o ensino remoto. Apesar de os temas terem sidos apresentados ao mesmo tempo para os alunos, o que se percebe é uma visão do ensino remoto que gera uma dificuldade maior de aprendizagem, principalmente no que diz respeito à organização e ao comprometimento com a rotina, em conjunto com a repentina falta de interação social da escola — com alunos e professores —, gerando ansiedade e insegurança. Como resultado, aparecem diversas respostas no sentido de uma visão mais descompromissada do ensino e da escola em si. Por outro lado, a visão geral das respostas do Quadro 6 sobre a ABP apresentadas anteriormente mostra o desenvolvimento de habilidades de planejamento e organização e a interação dentro dos grupos de trabalho e com o tutor (neste caso, o professor), as quais podem colaborar para atenuar os problemas gerados pelo ensino remoto forçado.

O Quadro 9 apresenta uma síntese das dificuldades, dos desafios e das limitações encontrados pelos alunos na ABP. As maiores dificuldades encontradas pelos alunos são referentes ao trabalho em grupos distanciados. O empenho de todos do grupo, a organização e o debate de ideias são vistos como grandes desafios. Por outro lado, os alunos citaram a aprendizagem em grupo, a ajuda de uns aos outros, a discussão e o planejamento como dificuldades superadas de forma positiva. As respostas sobre os desafios dos alunos também foram bastante voltadas aos do ensino remoto em si e requerem uma interpretação mais ampla, já que demonstram falhas de organização do ambiente de estudo, das interações aluno-aluno e aluno-professor, aspectos da formação integral do aluno que vão além do conhecimento adquirido, a formação humana através da solidariedade, dos valores e das atitudes que vêm da interação social. O desafio de ter um projeto para realizar foi visto como fonte de melhor comprometimento dos membros do grupo, mesmo com todas as dificuldades. Os alunos citaram que os feedbacks bem detalhados e em várias etapas do projeto os ajudaram a manter o comprometimento quando as coisas não iam tão bem, o que mostra a importância do contato próximo do professor com os grupos (Strohfeldt e Khutoryanskaya, 2015STROHFELDT, K.; KHUTORYANSKAYA, O. Using problem-based learning in a chemistry practical class for pharmacy students and engaging them with feedback. American Journal of Pharmaceutical Education, v. 79, n. 9, 2015. https://doi.org/10.5688/ajpe799141
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). Quanto às limitações, o maior tempo de dedicação, os problemas com o computador ou a conexão de internet e de comunicação foram pontos levantados pelos alunos, na grande maioria das respostas se referindo ao ensino remoto como um todo, e não à ABP, especificamente. Entretanto, a resposta mais apresentada foi “não há limitação”.

Quadro 9
Dificuldades, desafios e limitações da aprendizagem baseada em problemas ou projetos segundo os alunos* * As respostas estão reproduzidas integralmente como enviadas pelos alunos. Ead: educação a distância. .

O Quadro 10 apresenta a opinião dos alunos sobre o planejamento, algo bastante citado por eles no decorrer do curso, e as lições aprendidas com o uso da metodologia ABP. Em uma das turmas, o planejamento do projeto final não foi obrigatório, diferente de todos os outros projetos. Nessa turma, os próprios alunos encontraram dificuldades em se planejar, organizar as tarefas de projeto e dividi-las entre os membros dos grupos. Esse fato evidenciou a necessidade de incentivá-los de maneira bastante incisiva a realizar o planejamento detalhado das tarefas e atribuições dos membros — projetar o ambiente para a resolução de seus próprios problemas com seus próprios recursos é uma característica importante da ABP (Loyens, Magda e Rikers, 2008LOYENS, S. M. M.; MAGDA, J.; RIKERS, R. M. J. P. Self-Directed Learning in Problem-Based Learning and its Relationships with Self-Regulated Learning. Educational Psychology Review, v. 20, p. 411-427, 2008. https://doi.org/10.1007/s10648-008-9082-7
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). O planejamento ajudou os alunos na percepção das suas habilidades, a se ajudarem quando alguém não ia bem, o que era notado mais facilmente devido às atribuições bem definidas; fornecer explicações ativamente durante uma discussão afeta positivamente a memória de longo prazo (Bender, 2014BENDER, W. N. Aprendizagem baseada em projetos: educação diferenciada para o século XXI. Porto Alegre: Penso, 2014.). Em alguns casos, o planejamento resultou em divisão de subgrupos, o que funcionou bem para os que optaram por se dividirem e é uma possibilidade a ser incentivada no trabalho com grandes grupos (Dolmans, 2019DOLMANS, D. H. J. M. How theory and design-based research can mature PBL practice and research. Advances in Health Sciences Education, v. 24, p. 879-891, 2019. https://doi.org/10.1007/s10459-019-09940-2
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). O planejamento torna perceptível identificar o aluno que não está cumprindo sua tarefa, fato evidente em reclamações durante os projetos e em diversas respostas dos alunos. As lições aprendidas pelos alunos caminham em paralelo às dificuldades levantadas por eles, o que é muito positivo na avaliação do método, já que mostra obstáculos que foram superados. As principais lições foram em relação a trabalho em grupo, habilidade de pesquisa, independência, visão mais ampla dos conteúdos escolares e aplicação prática de conteúdos teóricos.

Quadro 10
Planejamento e lições aprendidas pelos alunos* * As respostas estão reproduzidas integralmente como enviadas pelos alunos. .

Por fim, o Quadro 11 apresenta a visão geral dos alunos. Os alunos encontraram alguma dificuldade no início do trabalho, na adaptação, principalmente por ter sido realizada uma transição para uma metodologia desconhecida em formato não presencial, também desconhecido por eles. Entretanto, a transição foi vista como desafiadora, um método de ensino que trouxe aprendizado em discussão de ideias, em trabalho em grupo, na definição de habilidades deles mesmos, em planejar, em interpretar, em discutir ideias e em trabalhar com responsabilidades compartilhadas.

Quadro 11
Visão geral da metodologia pelos alunos* * As respostas estão reproduzidas integralmente como enviadas pelos alunos. ABP: aprendizagem baseada em problemas ou projetos. .

Frases como “Acho mais interessante que o tradicional para a matéria de Processos Industriais” foram encontradas em diversos questionários ao longo da avaliação de percepção dos alunos, o que mostra o sucesso de uma aplicação desafiadora de ABP no ensino técnico de nível médio, algo não encontrado na literatura até então. A EPT de nível médio, principalmente em cursos integrados, possui como uma das suas maiores dificuldades a carga horária dos alunos (Barbosa e Moura, 2013BARBOSA, E. F.; MOURA, D. G. Metodologias ativas de aprendizagem na Educação Profissional e Tecnológica. Boletim Técnico do Senac, v. 39, n. 2, p. 48-67, maio-ago. 2013. https://doi.org/10.26849/bts.v39i2.349
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). Ainda assim, os conteúdos das disciplinas utilizadas neste estudo foram cumpridos em sua totalidade, mesmo que em maior ou menor nível de profundidade. A ABP, na percepção dos alunos, ocupou bastante seu tempo, o que é uma possível limitação ao método, principalmente se levarmos em conta o tempo de preparo dos docentes (Seery, 2015SEERY, M. K. Flipped learning in higher education chemistry: Emerging trends and potential directions. Chemistry Education Research and Practice, v. 16, p. 758-768, 2015.). Quando se pensa em um acompanhamento mais próximo e feedbacks detalhados e numerosos, esse tempo tende a aumentar, mas a possibilidade de sucesso da aprendizagem também (Strohfeldt e Khutoryanskaya, 2015STROHFELDT, K.; KHUTORYANSKAYA, O. Using problem-based learning in a chemistry practical class for pharmacy students and engaging them with feedback. American Journal of Pharmaceutical Education, v. 79, n. 9, 2015. https://doi.org/10.5688/ajpe799141
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), formando alunos com prazer na busca pelo conhecimento, sabendo onde e como buscá-lo quando for necessário e, mais importante, tendo sua metodologia própria para aprendê-lo. Alunos que passaram por uma experiência de aprendizagem profunda possuem essas características, tornando-se profissionais prontos para enfrentar novos problemas e conduzir projetos inovadores em sua jornada profissional futura.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo apresentou a migração de disciplinas isoladas de cursos técnicos integrados de uma unidade da EPT com o ensino médio do método presencial tradicional para a ABP — totalmente nova aos alunos. As disciplinas envolveram 95 alunos de três turmas de dois cursos diferentes. Foram realizadas análises dessa migração a partir da própria percepção dos alunos sobre a mudança tanto para o ensino remoto forçado quanto para a ABP no início, em períodos intermediários e no fim dos cursos.

A implementação da ABP se mostrou uma tarefa que não foi simples, sem aceitação unânime inicialmente; uma apresentação inicial detalhada se mostrou de suma importância para uma melhor aceitação, que passa, afinal, por uma mudança cultural de alunos e professores envolvidos. O volume de trabalho para o professor já era esperado como sendo maior, entretanto, a percepção dos alunos foi de um tempo grande de dedicação aos projetos também. O planejamento prévio, com determinação de funções dos membros, divisão das tarefas do projeto e responsabilidades se mostrou importante para o comprometimento dos membros do grupo com o trabalho. Além disso, essa divisão prévia permite uma visão individualizada pelo docente e possibilita uma avaliação individual em conjunto com a avaliação do grupo. Os feedbacks em diversas etapas e bastante detalhados também se mostraram importantes para os alunos conseguirem dar sequência às tarefas do projeto e corrigir percursos problemáticos. Reuniões dos grupos com tutores ou com o docente também foram tidas pelos alunos como importantes para a sequência dos seus trabalhos.

Passadas as dificuldades iniciais, as respostas dos alunos mostraram desenvolvimento de competências de trabalho em grupo, como discussão e apresentação de ideias, tomada de decisão em grupo, planejamento, organização e socialização. Habilidades para pesquisar assuntos técnicos não tão disponíveis na internet, decidindo até onde buscar e o que estudar para aplicar esse conhecimento na resolução de um problema real foram percebidas. Os alunos puderam ter um contato com situações reais de indústrias para as quais eles estão sendo formados, aprendendo a relacionar a teoria com a prática. Com a construção conjunta do conhecimento, os alunos se dedicaram por um tempo a temas particulares podendo aprender juntos, decidir juntos, com oportunidades para usar sua criatividade em um ambiente visto como mais atrativo. As dificuldades de organização e planejamento e a falta de interação social foram citados como os maiores desafios do ensino remoto, gerando ansiedade, insegurança e descompromisso com a educação. Os mesmos tópicos foram citados como vantagens do método ABP, mesmo no modo EaD, demonstrando uma possibilidade de atenuação nos problemas gerados pelo ensino remoto forçado.

O estudo foi realizado no nível micro, ou seja, em disciplinas isoladas e em tópicos específicos de cada vez. Para uma experiência cada vez mais intensa com a ABP, os níveis macro — dois ou três módulos em conjunto — ou mega — um ano inteiro de um curso — podem ser estruturados. Nesse caso, uma reestruturação dos currículos é necessária, além da criação de um grupo de trabalho para a adaptação e coordenação, o treinamento de profissionais e a preparação de material didático, ou seja, um esforço institucional é necessário para que possa ocorrer. Isso tudo pode esbarrar na limitação de carga horária de professores e na resistência à mudança, mas são dificuldades que, se superadas, podem render frutos imensuráveis, como a literatura mostra. Vale ressaltar que a metodologia foi aplicada em uma unidade da rede EPT que apresenta características diferenciadas quanto ao recurso por aluno e ao número de alunos por professor em relação a outras redes de ensino básico públicas no país.

  • Financiamento: O estudo não recebeu financiamento.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Jun 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    20 Out 2021
  • Aceito
    14 Jul 2022
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