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Germinação, formação de porta-enxertos e enxertia de cajueiro anão precoce, sob estresse salino

Germination, formation of rootstocks and grafting of precocious dwarf cashew under salinity stress

Resumos

Com o propósito de se avaliar os efeitos da salinidade da água de irrigação na germinação e no crescimento de dois porta-enxertos e no pegamento de enxertia de cajueiro Anão Precoce, conduziu-se um experimento no viveiro do Campo Experimental de Pacajus, pertencente à Embrapa Agroindústria Tropical, no Estado do Ceará. Os tratamentos, em blocos casualizados, consistiram de seis valores de condutividade elétrica da água (CEa: 0,5; 1,5; 2,5; 3,5; 4,5 e 5,5 dS m-1) e de dois clones (CCP06 e CCP1001), com quatro repetições, 54 plantas por parcela. As águas de irrigação foram preparadas mantendo-se a proporção de 7:2:1 entre os íons Na:Ca:Mg, respectivamente. Foram avaliados, aos 25 e 40 dias após semeadura, os efeitos sobre as variáveis percentagem e número de dias para germinação, número de folhas, altura de plantas, diâmetro de caule e fitomassa total; o índice de pegamento do enxerto foi avaliado aos 30 dias após a enxertia. Com exceção de percentagem de germinação, as demais variáveis foram afetadas negativamente pela salinidade da água de irrigação; entre os clones, o crescimento de CCP1001 foi mais prejudicado.

Anacardium occidentale L.; condutividade elétrica; crescimento


With the purpose of evaluating effects of salinity of the irrigation water in different genotypes of precocious dwarf cashew, an experiment was conducted in greenhouse at the Experimental Station of Pacajus, belonging to Embrapa Tropical Agroindústria in the State of Ceará. The treatments in randomized block design consisted of six levels of electrical conductivity of water (ECw: 0.5; 1.5; 2.5; 3.5; 4.5 and 5.5 dS m-1) and two types of seedlings (CCP06 and CCP1001) with four replications, totaling 48 units each consisting of 54 plants. The irrigation waters were prepared maintaining a proportion of 7:2:1 for the ions Na:Ca:Mg. The effects of the salinity were evaluated on germination, germination period, number of leaves, plant height, stem diameter and total dry weight 25 and 40 days after planting; the plantlings were evaluated 30 days after grafting. With the exception of germination percentage, other variables were found to be affected negatively by salinity of the irrigation water and between clones the growth of CCP1001 was affected more adversely.

Anacardium occidentale L.; electrical conductivity; growth


MANEJO DE ÁGUA E SOLO

Germinação, formação de porta-enxertos e enxertia de cajueiro anão precoce, sob estresse salino1 1 Parte da Dissertação de Mestrado do primeiro autor apresentada à UFPB - Campina Grande, PB

Germination, formation of rootstocks and grafting of precocious dwarf cashew under salinity stress

Idelfonso L. BezerraI; Hans R. GheyiII; Pedro D. FernandesII; Francisco José de S. SantosIII; Marcelo T. GurgelI; Reginaldo G. NobreI

IMestrando, DEAg/CCT/UFCG. CEP 58109-970, Campina Grande, PB. E-mail: idelfonsolb@bol.com.br

IIDEAg/CCT/UFCG. Fone (83) 310-1285, Fax (83) 310-1307

IIIEMBRAPA/Agroindústria Tropical, Rua Dra. Sara Mesquita 2270, Pici, CP 3761, CEP 60511-110, Fortaleza, CE

RESUMO

Com o propósito de se avaliar os efeitos da salinidade da água de irrigação na germinação e no crescimento de dois porta-enxertos e no pegamento de enxertia de cajueiro Anão Precoce, conduziu-se um experimento no viveiro do Campo Experimental de Pacajus, pertencente à Embrapa Agroindústria Tropical, no Estado do Ceará. Os tratamentos, em blocos casualizados, consistiram de seis valores de condutividade elétrica da água (CEa: 0,5; 1,5; 2,5; 3,5; 4,5 e 5,5 dS m-1) e de dois clones (CCP06 e CCP1001), com quatro repetições, 54 plantas por parcela. As águas de irrigação foram preparadas mantendo-se a proporção de 7:2:1 entre os íons Na:Ca:Mg, respectivamente. Foram avaliados, aos 25 e 40 dias após semeadura, os efeitos sobre as variáveis percentagem e número de dias para germinação, número de folhas, altura de plantas, diâmetro de caule e fitomassa total; o índice de pegamento do enxerto foi avaliado aos 30 dias após a enxertia. Com exceção de percentagem de germinação, as demais variáveis foram afetadas negativamente pela salinidade da água de irrigação; entre os clones, o crescimento de CCP1001 foi mais prejudicado.

Palavras-chave: Anacardium occidentale L., condutividade elétrica, crescimento

ABSTRACT

With the purpose of evaluating effects of salinity of the irrigation water in different genotypes of precocious dwarf cashew, an experiment was conducted in greenhouse at the Experimental Station of Pacajus, belonging to Embrapa Tropical Agroindústria in the State of Ceará. The treatments in randomized block design consisted of six levels of electrical conductivity of water (ECw: 0.5; 1.5; 2.5; 3.5; 4.5 and 5.5 dS m-1) and two types of seedlings (CCP06 and CCP1001) with four replications, totaling 48 units each consisting of 54 plants. The irrigation waters were prepared maintaining a proportion of 7:2:1 for the ions Na:Ca:Mg. The effects of the salinity were evaluated on germination, germination period, number of leaves, plant height, stem diameter and total dry weight 25 and 40 days after planting; the plantlings were evaluated 30 days after grafting. With the exception of germination percentage, other variables were found to be affected negatively by salinity of the irrigation water and between clones the growth of CCP1001 was affected more adversely.

Key words: Anacardium occidentale L., electrical conductivity, growth

INTRODUÇÃO

O cajueiro é uma cultura com grandes perspectivas econômicas no mercado internacional e participa de forma expressiva como atividade econômica e social para o Nordeste. No Brasil, os Estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí produzem aproximadamente 126 mil toneladas de castanhas de caju, em uma área de 630 mil hectares. Desse total, são exportadas 28 mil toneladas de castanha, garantindo renda para mais de 300 mil pessoas e gerando divisas superiores a 135 milhões de dólares anuais (FNP, 1998).

Dentre os resultados de pesquisa com essa espécie, na região, destaca-se a criação de novas variedades mais produtivas, como o cajueiro Anão Precoce, com índices de produtividade bem superiores aos dos genótipos tradicionais. Esse novo material tem características de produção precoce, inicia o ciclo produtivo a partir do segundo ou terceiro ano após plantio e atinge estabilidade produtiva aos cinco anos, podendo ser cultivado tanto em áreas irrigadas quanto sob condições de sequeiro. Tem ocorrido, também, aperfeiçoamento das técnicas de propagação, envolvendo preparação de substratos e acondicionamento de mudas, permitindo a obtenção de plantas mais vigorosas, por melhorar a eficiência da nutrição e baixar os custos de produção, por economia de espaço, água e de substrato (Silva & Silva, 1999).

A salinidade dos solos tem se constituído num dos mais sérios problemas para a agricultura irrigada em diversas partes do mundo (Coelho, 1983). Para Postel (1989), em nível global, um quarto de toda a área irrigada encontra-se seriamente afetado por sais, especialmente nos locais onde a irrigação é praticada sem manejo racional de água e de solo. No Nordeste do Brasil, são aproximadamente nove milhões de hectares, envolvendo sete Estados. Na Bahia encontra-se a maior área de solos afetados por sais, cerca de 44% da área salinizada, seguida pelo Ceará, com aproximadamente 25,5% (Fageria & Gheyi, 1997).

Existe grande variabilidade de comportamento entre as culturas com relação aos limites de tolerância à salinidade. Genótipos de uma mesma espécie podem responder de modo diferente aos efeitos salinos, nas várias fases de seu desenvolvimento (Maas & Hoffmann, 1977; Maas, 1986). Todavia, a maioria das espécies cultivadas de importância econômica é relativamente sensível à salinidade na germinação e quase todas as culturas não toleram condições permanentes de salinidade no solo (Kramer, 1984). Em relação a cajueiro, os estudos existentes de salinidade abrangem apenas a fase de formação de porta-enxertos sem haver, entretanto, trabalhos em tubetes e abrangendo enxertia.

Este trabalho teve como objetivo avaliar os efeitos da salinidade da água de irrigação na germinação de sementes e crescimento de dois porta-enxertos e no índice de pegamento de enxertia do cajueiro Anão Precoce.

MATERIAL E MÉTODOS

O ensaio foi conduzido em um viveiro do Campo Experimental de Pacajus, Estado do Ceará, no período de janeiro a maio de 2001.

Os tratamentos consistiram de seis níveis de salinidade da água de irrigação expressos pela condutividade elétrica (CEa): 0,5, 1,5, 2,5, 3,5, 4,5 e 5,5 dS m-1, denominados de S1 a S6, utilizados na irrigação de mudas de dois clones de cajueiro (Anacardium occidentale L.) Anão Precoce, denominados de C1 (CCP06) e C2 (CCP1001), em disposição fatorial 6x2. O delineamento experimental foi em blocos casualizados, com quatro repetições, constituindo-se a parcela de 54 plantas.

O substrato foi composto de uma mistura de casca de arroz carbonizada, palha de carnaúba triturada e material da camada superficial de um Neossolo, na proporção 2:1:1, sendo submetido a análises para fins de salinidade (Richards, 1954) e de fertilidade (Embrapa, 1997), cujos dados estão apresentados na Tabela 1. Em seguida, a mistura foi acondicionada em tubetes plásticos de 19 cm de altura e 6,3 cm de diâmetro, com capacidade de 288 cm3, abertos na parte inferior para facilitar a drenagem e conseqüente lixiviação dos sais.

No preparo das águas de irrigação empregou-se a relação entre CEa e concentração de sais (mmolc L-1 = CEa x 10), como sugerem Rhoades et al. (1992), válida para a amplitude entre 0,1 e 5,0 dS m-1. As águas foram preparadas a partir de soluções 1 N de NaCl, CaCl2.2H2O e MgCl2.6H2O, utilizando-se da água de um poço artesiano existente no Campo Experimental para diluição.

A quantidade de cada componente utilizado no preparo das águas de irrigação foi determinada de forma a se obter a CEa do respectivo tratamento, mantendo-se a proporção 7:2:1 entre Na:Ca:Mg, respectivamente, e considerando-se as quantidades desses íons presentes na água de poço; essa proporção, segundo Medeiros (1992), é representativa para a maioria das fontes de água do Nordeste.

Após o enchimento dos tubetes, o substrato foi submetido a 12 lavagens com aplicações de 2,0 L de água dos respectivos tratamentos, para lixiviação do excesso de sais. Realizou-se a semeadura em 16 de fevereiro de 2001, usando-se uma castanha por tubete, na profundidade de aproximadamente 3 cm (Embrapa, 1993). As irrigações aconteceram ao final de cada dia, através de regadores manuais, fornecendo-se 5 L de água do respectivo tratamento.

A enxertia foi realizada aos 40 dias após a semeadura, através do método de fenda lateral, sendo utilizado como enxerto o clone CCP76.

Aos 30 dias após a emergência das plântulas fez-se uma adubação com 12,5 mL por planta da solução recomendada por Murashige & Skoog2 2 Composição (mg L -1) - macronutrientes: NH 4NO 3 (1650); KNO 3 (1900); CaCl 2.2H 2O (440); MgSO 4.7H 2O (370) e KH 2PO 4 (170); micronutrientes: H 3BO 3 (6,2); MnSO 4. 4H 2O (22,3); ZnSO 4. 7H 2O (8,6); KI (0,83); CuSO 45H 2O (0,025); CoCl 2. 6H 2O (0,025); Na 2MoO 42H 2O (0,25) Na 2EDTA (37,3) e FeSO 4. 7H 2O (27,8)] (1962). Os tratos fitossanitários foram feitos conforme a necessidade (Cabarjal et al. 1995).

Procedeu-se a avaliação diária da contagem do número de sementes germinadas, tendo-se como critério a emergência do epicótilo na superfície do tubete. A percentagem final foi determinada aos 25 dias após a semeadura (DAS), conforme limite recomendado por Cabarjal et al. (1995). O número de dias para a germinação das sementes (NDG) foi obtido a partir da expressão: NDG = ånii/åni, sendo ni = número de sementes germinadas no dia i (i = 1, 2, ... n), adaptada de Vieira & Carvalho (1994).

Houve amostragens de 16 plantas por tratamento (4 por repetição) aos 25 e aos 40 DAS para avaliação do número de folhas (NF), altura de plantas (AP), diâmetro do caule (DC) e fitomassa seca total (FST); aos 30 dias após a enxertia, obtiveram-se os dados de percentagem de pegamento de enxerto.

Todos os dados foram submetidos à análise de variância pelo teste "F" e de regressão polinomial, seguindo-se orientações contidas em Ferreira (2000).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Germinação

A salinidade da água de irrigação não afetou, significativamente, o percentual de germinação (PG), na contagem realizada 25 dias após a semeadura (DAS), mas influenciou na duração do período germinativo (p < 0,01), avaliado através do número de dias para germinação (NDG), segundo os dados expostos na Tabela 2.

O efeito da salinidade sobre NDG foi linear e crescente (Fig. 1), com taxa de incremento relativo de 2,95%, por aumento unitário de CEa em relação a S1 (0,5 dS m-1).


Variou entre os clones o percentual de germinação de sementes, sem, contudo, depender da ação da salinidade, pela não significância da interação S x C (Tabela 2). As sementes do clone C1 (CCP06) germinaram em maior percentual (98,38%) do que as do clone C2 (CCP1001), que atingiram 94,44%, diferindo estatisticamente entre si (p < 0,05).

O efeito significativo da salinidade da água, aumentando o número de dias para germinação, pode estar relacionado à redução do potencial osmótico da solução do solo (y0), causada pelo incremento de sais solúveis no substrato, resultando em diminuição da disponibilidade hídrica do solo e dificultando o processo de absorção de água pelas sementes (Menguel & Kirkby, 1987; Rhoades & Loveday, 1990).

Formação de porta-enxertos

O número de folhas, aos 25 e 40 DAS, diminuiu linearmente com o aumento da salinidade da água de irrigação (Fig. 2A), com decréscimo relativo por incremento unitário de CEa (comparado a S1) de 5,91 e 2,41% aos 25 e 40 DAS, respectivamente. Em nenhuma das épocas analisadas foi constatada diferença significativa no número de folhas entre clones e, pelo fato de não ser significativa a interação S x C, foi similar o efeito da salinidade nos porta-enxertos.




Meireles (1999) observou, também, efeito semelhante da salinidade da água de irrigação sobre germinação dos clones CCP06 e CCP1001 de cajueiro, aos 30 e 60 DAS; aquele autor registrou diminuição significativa no número de folhas das plantas quando irrigadas com água de CE superior a 2,04 dS m-1.

O crescimento das plantas em altura (Fig. 2B) foi inibido de forma significativa pela salinidade da água de irrigação, em ambos os períodos de avaliação. Aos 25 DAS o efeito foi semelhante nos dois genótipos de cajueiros, obtendo-se a equação linear y = -2,0634x + 19,757 (R2 = 0,98), relacionando a altura de plântulas (y) e o nível de CEa (x), com decréscimo unitário de 11,02%, em comparação com S1. Entretanto, aos 40 DAS o efeito da irrigação com água salina variou entre clones, representado graficamente na Figura 2B; a altura das plantas do clone CCP 1001 foi mais prejudicada pela salinidade, com redução de 8,59% por incremento unitário de CEa, sendo de 7,71 em CCP06. Meireles (1999), estudando o crescimento desses dois porta-enxertos, encontrou, da mesma forma, efeito significativo da interação (salinidade x clone) sobre a altura de planta, aos 60 dias após semeadura, sendo o clone CCP1001 mais afetado que o CCP06, quando irrigados com água de CEa a partir de 2,04 dS m-1.

O diâmetro do caule (DC) de ambos os clones sofreu interferência significativa da salinidade da água de irrigação, aos 25 e 40 DAS (Fig. 2C). Na primeira data o efeito variou entre os clones, sendo, entretanto, de magnitude estatisticamente semelhante na segunda avaliação (40 DAS). Aos 25 DAS, os valores de diâmetro do caule das plântulas CCP06 decresceram linearmente e os de CCP1001 diminuíram de forma quadrática (Fig. 2C). No clone CCP06 o decréscimo em DC por incremento unitário de CEa, comparado a S1, foi de 3,53%, enquanto em CCP1001 o diâmetro do caule diminuiu 0,63, 3,26, 11,68, 24,64 e 42,12%, quando as plântulas foram irrigadas com águas de condutividade elétrica de 1,5, 2,5, 3,5, 4,5 e 5,5 dS m-1, respectivamente. Observa-se, ainda, na Figura 2C que em condições de salinidade de até 3,8 dS m-1 o DC do clone CCP1001 foi maior que o de CCP06, invertendo o comportamento nos valores superiores a esse nível de salinidade. Portanto, nos níveis mais altos de CEa o genótipo CCP06 foi mais tolerante à salinidade, até aos 25 DAS.

Quinze dias após essa primeira avaliação (40 DAS), ambos os clones foram afetados de modo igual pela salinidade, sendo linear o efeito (y = - 0,0127x + 0,4227, R2 = 0,89), com decréscimo de 3,05% por incremento unitário de CEa. Comportamento semelhante foi obtido por Soares (1998), trabalhando com clones de cajueiro Anão Precoce, aos 45 e 65 dias após a germinação, em função de diferentes níveis de salinidade do substrato, afetando igualmente o diâmetro do caule de todos os genótipos.

Fitomassa seca total

A fitomassa seca total (FST) foi afetada pela salinidade da água de irrigação (p < 0,01), com efeito linear depressivo nas duas épocas de avaliação, aos 25 e 40 dias após a semeadura. Conforme o modelo matemático obtido (Fig. 3), foram de 5,91 e 6,96% os decréscimos por incremento unitário de CEa (comparados a S1), respectivamente aos 25 e 40 DAS.


A salinidade inibiu menos o crescimento das raízes que o da parte aérea. Segundo Fageria (1989), essa é uma forma de adaptação da planta, aumentando a sua capacidade de absorção de água em detrimento da taxa de transpiração. Por isso, a fitomassa seca da planta constitui uma importante variável para análise de crescimento, em resposta aos efeitos da salinidade. Reduções na produção de fitomassa seca de plantas cultivadas em condições de estresse salino foram, também, observadas por Carneiro (2001) e Meireles (1999), em cajueiro Anão Precoce. Tais reduções são explicadas por taxas menores de fotossíntese e de metabolismo da planta (Cramer et al., 1989).

Percentagem de pegamento do enxerto

Na Figura 4 têm-se os dados de percentagem de pegamento do enxerto (PPE), obtidos aos 30 dias após a enxertia (DAE); observou-se efeito estatístico (p < 0,01) para o fator salinidade (S), sem entretanto, haver diferença significativa entre clones (C), nem para a interação S x C. Portanto, os clones tiveram comportamento semelhante nos vários níveis de condutividade elétrica da água de irrigação.


A salinidade reduziu de forma acentuada e quadrática (Fig. 4) o pegamento do enxerto, sendo a diminuição, por aumento unitário de CEa (comparados a 0,5 dS m-1), de 21,03, 39,13, 54,28, 66,50 e 75,77%, respectivamente para tratamentos S2 a S6. O conteúdo salino das águas, acima de 1,5 dS m-1, diminuiu consideravelmente o percentual de pegamento dos enxertos, aos 30 DAE. Esse fato pode ser atribuído ao aumento da salinidade no substrato, com o passar do tempo, resultando, conseqüentemente, em menor sucesso no pegamento do enxerto, por diminuir o potencial osmótico da solução do solo, provocando estresse hídrico e, também, problemas de toxicidade e desequilíbrio nutricional das plantas (Fageria, 1989). Meireles (1999), utilizando-se de enxertia por borbulhia, observou efeito semelhante da salinidade da água de irrigação sobre o pegamento do clone de cajueiro Anão Precoce CCP76; quando a condutividade elétrica da água de irrigação aumentou de 0,26 para 2,63 dS m-1, o índice de pegamento caiu de 79,33 para 1,02%.

CONCLUSÕES

1. A salinidade da água de irrigação não afeta a percentagem de germinação, entretanto, prolonga o período germinativo das sementes.

2. A irrigação com água de salinidade superior a 0,5 dS m-1 afeta negativamente a emissão de folhas, o crescimento em altura e o diâmetro do caule das plantas, sendo maior a redução no porta-enxerto CCP1001.

3. Com incremento da CEa, além de 0,5 dS m-1, ocorre decréscimo na produção de fitomassa seca total.

4. A percentagem de pegamento do enxerto CCP76 diminui drasticamente com o aumento da salinidade da água de irrigação, em ambos os porta-enxertos, com morte das plantas em níveis de salinidade superiores a 3,5 dS m-1.

LITERATURA CITADA

Protocolo 20 - 22/2/2002

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  • 1
    Parte da Dissertação de Mestrado do primeiro autor apresentada à UFPB - Campina Grande, PB
  • 2
    Composição (mg L
    -1) - macronutrientes: NH
    4NO
    3 (1650); KNO
    3 (1900); CaCl
    2.2H
    2O (440); MgSO
    4.7H
    2O (370) e KH
    2PO
    4 (170); micronutrientes: H
    3BO
    3 (6,2); MnSO
    4. 4H
    2O (22,3); ZnSO
    4. 7H
    2O (8,6); KI (0,83); CuSO
    45H
    2O (0,025); CoCl
    2. 6H
    2O (0,025); Na
    2MoO
    42H
    2O (0,25) Na
    2EDTA (37,3) e FeSO
    4. 7H
    2O (27,8)]
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      30 Jun 2005
    • Data do Fascículo
      Dez 2002
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