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Juventudes partidárias no Brasil: motivações e perspectivas dos jovens filiados a partidos políticos

Resumo

O objetivo do artigo é analisar como se dá o recrutamento de jovens pelos partidos políticos brasileiros na atualidade. O estudo avalia as motivações dos jovens para a filiação e a autopercepção deles sobre as legendas às quais são filiados, tendo como eixo de análise as seguintes questões: (a) o que motiva um jovem a se filiar a um partido político no atual contexto brasileiro? (b) como se dá a filiação? (c) que fatores mais contribuem para a adesão dos jovens às agremiações partidárias? (d) quais são as percepções dos jovens sobre esse processo? Em termos específicos são testadas algumas hipóteses utilizando o qui-quadrado. As conclusões mostram que o capital familiar e o capital militantes são os dois fatores que mais influenciam os jovens a se filiarem aos partidos. No primeiro caso os parentes mais próximos são os que exercem maior influência (pais e irmãos). No segundo caso destaca-se a militância nos movimentos estudantis e nos movimentos sociais.

Palavras-chave:
Juventude; Partidos políticos; Juventudes partidárias; Recrutamento partidário juvenil

Abstract

Abstract: The objective of this paper is to analyze how the recruitment of young people by Brazilian political parties occurs today. The study evaluates young people’s motivations for affiliation and their self-perception about the subtitles to which they are affiliated, having as its axis of analysis the following questions: (a) what motivates a young person to join a political party in the current Brazilian context? (b) how does affiliation occur? (c) what factors contribute most to youth adherence to party organizations? (d) What are young people’s perceptions of this process? Specifically, some hypotheses are tested using chi-square. The findings show that family capital and militant capital are the two factors that most influence young people to join the parties. In the first case, the closest relatives are the most influential (parents and siblings). In the second case, militancy in the student and social movements.

Keywords:
Youth; Political parties; Youth party; Youth party recruitment

Introdução

As juventudes partidárias ainda são pouco estudadas pela ciência política, uma vez que existem dificuldades para se identificar o jovem como sujeito político5 5 Vários estudos focam a militância juvenil ou as carreiras militantes, porém com predomínio das abordagens sobre socialização política, ou seja, aprendizado e não como algo que contemple os jovens como sujeitos de fato da política partidária. As pesquisas de Ana Karina Brenner (2009; 2011; 2013; 2014a; 2014b; 2015) exemplificam bem essa tendência presente nas áreas de Educação, Antropologia e Sociologia. A ciência política tem ignorado essa agenda de pesquisa. , com suas particularidades, em função das expressivas distinções entre o comportamento político juvenil e as condutas da população adulta (HOOGHE; STOLLE, 2004HOOGHE, Marc; STOLLE, Dietlind; STOUTHUYSEN, Patrick. The Recruitment Function of Youth Organizations of Political Parties in Belgium (Flanders). Party Politics, v.10, n.2, p.193-212, 2004; FERRER, 2006; RIOS RODRÍGUEZ, 2009).6 6 A pouca atenção da ciência política aos jovens é tanta que leva Nicoletti (2013) a afirmar que os poucos estudos são vistos como integrantesdo campo de minorias políticas. Uma explicação encontrada na literatura é que “os jovens ainda são numericamente inexpressivos nas listas de candidatos partidários” (Teixeira, 2008, p.103), embora faltem estudos empíricos para explicar tal ausência. Na maioria dos estudos políticos, a juventude é vista apenas como uma etapa da vida, uma fase de transição para a adultez, quando o jovem se torna apto a assumir responsabilidades e tornar-se politicamente ativo (MÜLLER, 2009).

Essas dificuldades demonstram a fragilidade das correlações entre juventude e política partidária, cujas ênfases variam de acordo com a abordagem e com o período histórico. De modo geral, as culturas juvenis são mais fartamente associadas aos movimentos culturais, ao lazer, à contestação política e às transformações sociais dos costumes e dos modos de vida (ROBERTS; PARSELL, 1992). Essas juventudes são múltiplas - tais como os partidos que as agregam -, e apresentam repertórios variados em termos de discursos e de ação política (RODRÍGUEZ, 2009; BRENNER, 2009BRENNER, Ana Karina. Jovens de partidos: a experiência da socialização política. In: VIII Reunión de Antropologia del Mercosur. Buenos Aires, 2009. p.1-15.; 2011BRENNER, Ana Karina. Militância de jovens em partidos políticos: um estudo de caso com universitários. Tese de Doutoramento apresentada ao programa de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.; 2014aBRENNER, Ana Karina. Jovens e militância política. In: CARRANO, Paulo; FÁVERO, Osmar. (Org.). Narrativas juvenis e espaços públicos. Olhares de pesquisa em Educação, Mídia e Ciências Sociais. Niterói: Ed UFF, 2014b. p.31-54.; 2014bBRENNER, Ana Karina. Militância de jovens: entre disposições e interações. In: ANDRADE, Eliane Ribeiro; PINHEIRO, Diógenes; ESTEVES, Luiz Carlos Gil (Org.). Juventude em perspectiva: múltiplos enfoques. Rio de Janeiro: Ed UNIRIO, 2014a. p.118-122). Acerca das funções dessas juventudes militantes, a literatura registra que os jovens são relevantes politicamente para o recrutamento de novos simpatizantes e afiliados para os partidos políticos, visto que um jovem que esteja no partido tem mais facilidade de convencer outros coetâneos. Atuam também como agentes de renovação dos quadros e das elites partidárias (CRUZ, 1990CRUZ, Manuel Braga da. A Participação Política da Juventude em Portugal: as elites políticas juvenis. Análise Social, n.105-106, p.223-249, 1990.).

Sartori (1980SARTORI, Giovanni. Partidos y sistemas de partidos. Alianza, Madrid, 1980., p. 92) define juventudes partidárias como formas organizativas juvenis que “integram as estruturas dos partidos políticos, com especificidades próprias, que, segundo as regras do jogo, formais e informais, desenvolvem diversas atividades no interior e até no exterior dos partidos em busca de fins específicos”. O autor identifica três níveis de atuação das juventudes partidárias. O primeiro diz respeito aos aspectos formais, ou seja, à constituição legal desses grupos partidários, o que implica estatutos próprios para reger e disciplinar as formas de organização política dos jovens no âmbito dos partidos. O segundo refere-se às funções que os jovens exercem no interior do partido, como a constituição dos diretórios jovens, com seus próprios foros de debates e articulação de redes em diversos níveis territoriais (municipal, estadual e nacional). O terceiro compreende as atividades exercidas fora do partido, especialmente as campanhas para recrutamento de outros jovens, além das atividades de militância nas ruas ou nas redes sociais digitais.

Diante de um cenário de descrença na política e de desconfiança expressiva no sistema político representativo e em especial nos partidos políticos (AUGUSTO, 2008AUGUSTO, Nuno Miguel. A juventude e a (s) política (s): desinstitucionalização e individualização. Revista Crítica de Ciências Sociais, n.81, p.155-177, 2008.), cabe questionar: (a) o que motiva um jovem a se filiar a um partido político no atual contexto brasileiro? (c) como se dá a filiação? Que fatores mais contribuem para a adesão dos jovens às agremiações partidárias? (c) quais são as percepções dos jovens sobre esse processo? Essas são as questões que orientam a pesquisa, cujo foco é analisá-las à luz do olhar dos próprios jovens que são filiados a partidos políticos na atualidade. Para tanto foi realizado um websurvey por meio de questionário fechado com jovens filiados a partidos políticos, no período de março a maio de 2017.

É cabível esclarecer ainda o que se entende por jovem, no que se refere à faixa etária no Brasil. O Estatuto da Juventude (Lei 12.852/2013) considera jovem o indivíduo entre 15 e 29 anos. A lei estabeleceu três categorias: (a) jovem-adolescente, entre 15 e 17 anos; (b) jovem-jovem, entre 18 e 24 anos; (c) jovem-adulto, entre 25 e 29 anos. No caso da lei eleitoral (Lei nº 9.504/1997), o jovem é considerado apto a votar a partir de 16 anos. Aqui, utilizamos como base para a definição de juventude os critérios estabelecidos pelo estatuto acima mencionado.

O texto está organizado em três seções. Na primeira são discutidos conceitos centrais para a análise, como as formas de recrutamento partidário juvenil. Em seguida temos a descrição das estratégias metodológicas. Na sequência a análise e discussão dos resultados.

Recrutamento partidário juvenil

O recrutamento partidário é um tema amplamente estudado na ciência política e continua relevante na atualidade (SELIGMAN, 1961SELIGMAN, L. Recruiting political elites. New York: General Learning Press, 1971.; SCHWARTZ, 1969SCHWARTZ, David C. Toward a theory of political recruitment. Western Political Quarterly, v. 22, n.3, p.552-571, 1969.; PREWITT, 1970PREWITT, K. The recruitment of political leaders. Indianapolis: Bobbs-Merrill, 1970.; SELIGMAN, 1971SELIGMAN, L. Recruiting political elites. New York: General Learning Press, 1971.; KESSELMAN, 1973KESSELMAN, Mark. Recruitment of rival party activists in France: party cleavages and cultural differentiation. The Journal of Politics, n. 35, n.1, p.2-44, 1973.; MATTHEWS, 1985MATTHEWS, D. Legislative recruitment and legislative careers. In: LOEWENBERG, G.; PATTERSON, S.; JEWELL, M. (eds.). Handbook of legislative research. Cambridge: Harvard Univesity Press, 1985.; NORRIS, 1997NORRIS, P. Introduction: theories of recruitment. In: NORRIS, P. (Ed.). Passages to power: legislative recruitment in advanced democracies. New York: Cambridge University Press, 1997.; 2006NORRIS, P. Recruitment. In: KATZ, R.; CROTTY, W. (Eds.). Handbook on political parties. London: Sage, 2006.; POWER; MOCHEL, 2008POWER, T.; MOCHEL, M. Political recruitment in an executive-centric system: presidents, governors, and ministers in Brazil. In: SIAVELIS, P.; MORGENSTEIN, S. (Eds.). Pathways to power: political recruitment and candidate selection in Latin America. University Park: Pennsylvania State University Press, 2008.; SIAVELIS, 2012SIAVELIS, Peter M.; MORGENSTERN, Scott. Pathways to power: Political recruitment and candidate selection in Latin America. University Park: Penn State Press, 2012.; PERES; MACHADO, 2017). Apesar das especificidades das diferentes abordagens, um ponto de convergência é a visão de que o recrutamento partidário é indispensável para a sobrevivência política das organizações partidárias (CZUDNOWSKI, 1975CZUDNOWSKI, Moshe M. Political Recruitment. In: GREENSTEIN, F. I.; POLSBY, N. W. (Eds.). Micropolitical Theory: Handbook of Political Science. Reading (MA): Addison-Wesley Publishing Company, 1975. v.2.; ERICKSON, 1993ERICKSON, Lynda. Making Her Way. In: LOVENDUSKI, J.; NORRIS, P. (Eds.). Women, Parties and Candidacies in Canada: Gender and Party Politics. London, Sage, 1993.; NORRIS; LOVENDUSK 1993NORRIS, P.; LOVENDUSKI, J. Political recruitment. Cambridge: Cambridge University Press, 1995.; NORRIS; INGLEHART, 2000NORRIS, P.; INGLEHART, R. Cultural Barriers to Women’s Leadership: A Worldwide Comparison. In: International Political Science Association World Congress, Quebec, 2000. Disponível em: Disponível em: http://www.onlinewomeninpolitics.org/beijing12/ipsa2000culture.pdf Acesso em: 17/06/17.
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; HAZAN, 2002HAZAN, Reuven. Candidate Selection. In: LEDUC, L.; NIEMI, R. G.; NORRIS, P. (Eds.). Comparing Democracies 2: New Challenges in the Study of Elections and Voting. London; New Delhi: Sage; Thousand Oaks, 2002.). Por isso as legendas atribuem relevância aos variados tipos e estratégias de recrutamento político, principalmente às seguintes modalidades: recrutamento de quadros por meio da filiação e da militância; recrutamento legislativo e parlamentar; e o recrutamento para cargos executivos (PERES; MACHADO, 2017).

Aqui não entraremos nos detalhes das teorias do recrutamento, pois, além da vasta literatura disponível, optamos pela aplicação ao caso dos jovens, posto que se trata de uma pesquisa sobre jovens filiados a partidos políticos. Contudo, cabe ressaltar que se trata de um fenômeno complexo e multifacetado, com várias tipologias e estratégias, como registram Peres e Machado (2017, p.126). Os estudos de Marenco dos Santos (2002MARENCO DOS SANTOS, André. Le renouveau politique: carrières politiques et liens de parti au Brésil (1946-2002). Politique et sociétés, v.23, n.2-3, p. 109-133, 2004. ; 2005MARENCO DOS SANTOS, André. Still a traditional political class? Patterns of parliamentary Recruitment in Brazil (1946-2002). Canadian Journal of Latin American and Caribbean Studies, v.30, n.60, p.13-40, 2005.; 2006MARENCO DOS SANTOS, André. Comparing houses of representatives: parliamentary recruitment in Argentina, Brazil, Chile and Mexico. Teoria & Sociedade, v.11, n.2, p. 42-69, 2006.) também reforçam essa complexidade. No caso do recrutamento juvenil, como ressaltam os autores, o investimento das agremiações se justifica porque “os partidos devem se mostrar capazes de se regenerar, reproduzindo-se por sucessivas gerações” (p.126).

Ao analisarem especificamente o recrutamento político juvenil, Hooghe e Stolle (2005)HOOGHE, Marc; STOLLE, Dietlind. Youth organisations within political parties: political recruitment and the transformation of party systems. In: FORBIG, Joerg (Ed). Revisiting youth political participation. Strasburg: Council of Europe Publishing, 2005. p. 43-190. ressalvam que o debate atual tende a superdimensionar o alegado declínio do envolvimento cívico nas sociedades ocidentais, o que atribui diretamente às jovens gerações o rótulo de despolitizadas.7 7 Aqui os autores criticam estudos como os de Rahn e Transue 1995; e de Putnam 2000. Assim, tais estudos alegam que o processo de substituição geracional é responsável pela maior parte das dificuldades dos partidos para atrair os jovens. Logo, gerações mais engajadas e mais cívicas estariam sendo substituídas por jovens mais individualistas, voltados principalmente para suas atividades profissionais e sua vida privada. Para os referidos autores, contudo, o que muitas vezes é esquecido nesses estudos, é que não se trata apenas de uma mera questão de agência, mas também de estrutura. “Em praticamente todos os estudos, o foco é na agência e, portanto, é dado como certo que, se a participação dos jovens diminui, a principal causa é que os jovens estão menos interessados em política do que as gerações de décadas atrás”8 8 Tradução dos autores, aqui e nas citações seguintes. , argumentam Hooghe e Stolle (2005HOOGHE, Marc; STOLLE, Dietlind. Youth organisations within political parties: political recruitment and the transformation of party systems. In: FORBIG, Joerg (Ed). Revisiting youth political participation. Strasburg: Council of Europe Publishing, 2005. p. 43-190., p.43). Esse tipo de raciocínio é questionado porque “põe-se a culpa” na juventude. Se os jovens deixam de se engajar, logo, eles são os únicos responsáveis pelo afastamento deles da política partidária (STOLLE; HOOGHE, 2004STOLLE, D.; HOOGHE, M.; MICHELETTI, M. Politics in the Super-Market-Political Consumerism as a Form of Political Participation. International Political Science Review, v. 26, n. 3, p. 245-269, 2005.).

Dechezelles (2008)DECHEZELLES, Stéphanie. Des partis et des jeunes. Les droites juvéniles dans l’Italie de Berlusconi. Histoire@Politique, n. 4, p.1-13, 2008., ao estudar empiricamente os padrões de engajamento de jovens italianos, aponta a necessidade de considerar as culturas militantes como aspectos relevantes para a compreensão do recrutamento juvenil. Para o estudioso, as culturas militantes e os padrões de engajamento também passaram por transformações consideráveis, principalmente no que se refere às convergências e/ou divergências entre o ethos militante e as articulações com a biografia individual, com as configurações familiares e novos movimentos estudantis.

Norris (2004)NORRIS, P. Young people & political activism: From the Politics of Loyalties to the Politics of Choice? Cambridge: Harvard University. 2004. Disponível em: Disponível em: https://sites.hks.harvard.edu/fs/pnorris/Acrobat/COE%20Young%20People%20and%20Political%20Activism.pdf Acesso em: 04/01/18.
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, baseando-se em dados do Social Survey de 2002, comparando 15 países europeus, refuta a tese da apatia política dos jovens. Para autora, o que existe é uma expressiva mudança geracional nos padrões de participação política, com novas formas de ativismo e de repertórios de ação coletiva das juventudes. Em decorrência disso, os jovens passaram a priorizar formas menos hierarquizadas de ativismo político e repertórios que se distanciam dos partidos, mas não da política em si. Entre os modos preferidos de atuação política dos jovens, a autora destaca as manifestações públicas, protestos, boicotes e adesão a projetos de associações voluntárias e organizações não-governamentais. Trata-se do que Inglehart e Catterberg (2002)INGLEHART, R; CATTERBERG, G. Trends in political action: The developmental trend and the post-honeymoon decline. International Journal of Comparative Sociology, v. 43, n. 3-5, p. 300-316, 2002. identificaram como a primazia de formas de ação direta não-convencionais, típicas das democracias liberais a partir das décadas de 1970/1980, com a emergência da chamada terceira onda de democratização. Dalton (2009)DALTON, R. J. The good citizen: How a younger generation is reshaping American politics. Washington: CQ Press, 2009. ressalta que os atuais padrões de participação política juvenil exigem novos processos e novas instituições que reflitam os valores da juventude, considerados predominantemente pós-materialistas, com uma agenda focada em temas como meio ambiente, direitos humanos, cultura, lazer, esportes, equidade de gêneros e combate ao racismo (RIBEIRO, 2008RIBEIRO, Pedro José Floriano. Dos sindicatos ao governo: a organização nacional do PT de 1980 a 2005. Tese de Doutoramento apresentada ao programa de Ciência Política, Universidade de São Carlos, São Carlos, 2008. 306f.; 2010; PEREIRA; TORRES; BARROS, 2004).

Para Inglehart e Welzel (2009) os valores materialistas assumem relevância política a partir de certos estágios de desenvolvimento socioeconômico em que as necessidades materiais são relativamente satisfeitas, como alimentação, moradia, transporte, saúde e segurança. Por outro lado, os estudos que aplicam a teoria do desenvolvimento humano de Inglehart e Welzel (2009) em países latino-americanos mostram que as questões materiais e econômicas são mais relevantes para a população, uma vez que se trata de uma agenda de questões ainda não resolvidas. Assim, os valores pós-materialistas seriam mais expressivos nas democracias consolidadas.

A literatura relaciona as mudanças geracionais e seus impactos nos repertórios de participação juvenil como decorrência da redefinição de valores políticos das juventudes. Isso significa que os jovens tendem a se identificar mais com os valores pós-materialistas e uma postura de forte desconfiança das instituições políticas, principalmente os partidos. Segundo essa abordagem, não haveria alienação nem apatia dos jovens, mas uma redefinição de agenda, estratégias e repertórios de participação, mais voltados para o consumo consciente e a defesa de causas como meio ambiente, igualdade de gênero e liberdade de expressão (NORRIS, 2002NORRIS, P. Democratic phoenix: Reinventing political activism. Cambridge: Cambridge University Press, 2002.; STOLLE; HOOGHE; MICHELETTI, 2005STOLLE, D.; HOOGHE, M.; MICHELETTI, M. Politics in the Super-Market-Political Consumerism as a Form of Political Participation. International Political Science Review, v. 26, n. 3, p. 245-269, 2005.).

Ferreira (2012)FERREIRA, Pedro Ricardo Bernardo. As juventudes partidárias são uma escola? Dissertação de Mestrado apresentada ao programa de Ciência Política, Universidade de Aveiro. Aveiro, 2012., ao analisar as juventudes partidárias portuguesas, conclui que a experiência continuada no interior das organizações juvenis funciona como uma “escola”, no sentido de que tal experiência permite que os jovens dirigentes e líderes desenvolvam competências políticas específicas, que não seria possível sem esse aprendizado. Além disso, possibilita a formação de uma rede de contatos pessoais, que permite o acesso dos jovens às redes de recrutamento político e parlamentar.

A experiência de formação política propiciada pela imersão no cotidiano partidário também contribui para a produção de vínculos entre os futuros líderes do partido e os dirigentes populares. Ademais, o interesse por este tipo de atividade partidária é legitimado e reafirmado pelas redes sociais de pertencimento dos jovens, transformando-se em um valor simbólico interno que confere capital social a seus pares (SILVA, 2015SILVA, Natalia. Socialización Política Juvenil y Construcción del Compromiso Político en Chile: el Caso del Programa de Formación Vívelo de las Juventudes de la Unión Demócrata Independiente (UDI). In: XXX Congreso Latinoamericano de Sociologia (ALAS). Costa Rica, 2015. Disponível em: Disponível em: http://actacientifica.servicioit.cl/biblioteca/gt/GT10/GT10_SilvaN.pdf Acesso em: 22/11/16.
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).

A adesão dos jovens aos partidos políticos envolve fatores institucionais, culturais e ideológicos, além da afinidade sociocultural da organização partidária com o eleitorado. Destacam-se ainda variáveis como as origens sociais dos jovens, a educação que receberam, a forma como foram politicamente socializados, o gênero, a classe social, o local de moradia, a religião e a própria geração política (VOMMARO, 2013VOMMARO, Gabriel. Estudiar el reclutamiento partidario a través de la variable ‘generaciones políticas’: el caso del PRO en la ciudad de Buenos Aires. In: Congreso Internacional de la Latin American Studies Association. Washington (DC), 2013.). Cabe salientar a complexidade da noção de geração política, que não se limita ao critério etário e nem à relação de antiguidade no envolvimento com as atividades político-partidárias. A visão de geração política pressupõe o compartilhamento de ideias políticas comuns, valores, sonhos, experiências e, principalmente, uma forma comum de socialização política (JENNINGS, 2002JENNINGS, M. Kent. Generation Units and the Student Protest Movement in the United States: An Intra- and Intergenerational Analysis. Political Psychology, v. 23, n.2, p.303-324, 2002.). Isso significa que geração política não se confunde com a ideia de coorte etária.

As juventudes partidárias exercem várias funções em relação aos partidos, tais como potencializar e dinamizar o relacionamento dos partidos com os jovens, exercendo o papel de elo comunicativo entre os segmentos juvenis da sociedade e as legendas (COSTA, 2015COSTA, Joana Filipa Pereira. O papel das juventudes partidárias na ligação dos jovens à política. Dissertação de Mestrado apresentada ao programa de Comunicação Pública, Política e Intercultural, Universidade de Trás-Os Montes e Alto Douro. Vila Real, 2015. ). Devido à sua proximidade e uma relação continuada com as elites da legenda, ainda segundo o mesmo autor, as juventudes partidárias podem atuar como grupo de pressão intrapartidário, fazendo advocacy de determinadas causas, bandeiras ou interesses. Além disso, estas organizações fornecem mão-de-obra política voluntária para reforçar o aparato de propaganda política dos partidos.

Pesquisa realizada na Bélgica revela que na região de Flandres, 41% de todos os conselheiros municipais começaram suas carreiras políticas em uma organização juvenil, demonstrando que as juventudes partidárias servem como canais de recrutamento indispensáveis para as agremiações partidárias (HOOGHE; STOLLE; STOUTHUYSEN, 2004HOOGHE, Marc; STOLLE, Dietlind; STOUTHUYSEN, Patrick. The Recruitment Function of Youth Organizations of Political Parties in Belgium (Flanders). Party Politics, v.10, n.2, p.193-212, 2004).

Um elemento dinamizador do recrutamento partidário juvenil no Brasil foi a adoção do voto facultativo aos 16 anos, além do crescimento do eleitorado jovem nas últimas décadas. Isso estimulou os partidos políticos a criarem políticas partidárias para a organização das suas juventudes (TEIXEIRA, 2009TEIXEIRA, Jefferson Alves. Militância Virtual? Organizações de Juventudes Partidárias na Rede Mundial de Computadores. In: 33º Encontro da ANPOCS. Caxambu, 2009.). Entre as estratégias adotadas pelos partidos está a criação de diretórios jovens e secretarias ou núcleos de juventude, que se tornaram tão relevantes na estrutura partidária, a ponto de serem considerados pelo autor citado como “suborganizações” das legendas, cujo funcionamento foi expandido e consolidado com o uso da internet.

É oportuno ressaltar que o estudo tem como foco específico os jovens filiados a partidos e não os militantes em sentido amplo. Isso é importante porque no Brasil não é preciso ser filiado para ser militante. A filiação é obrigatória apenas para ser candidato. A militância, contudo, é algo muito mais amplo, sem necessariamente haver vínculo partidário. O que nos interessa aqui, contudo, é compreender a percepção dos jovens que são filiados formalmente aos partidos.

A filiação partidária constitui um vínculo formal de um indivíduo com um partido, o que implica obrigações e deveres da parte dos filiados, incluindo o pagamento de contribuição pecuniária anual à legenda e compromissos formais (SCARROW, 1996SCARROW, Susan E. Parties and their members: Organizing for victory in Britain and Germany. Oxford: Oxford University Press, 1996.; WARE, 1996WARE, Alan. Political parties and party systems. Oxford: Oxford University Press, 1996.; WHITELEY, 2011WHITELEY, Paul F. Is the party over? The decline of party activism and membership across the democratic world. Party Politics, v. 17, n.1, p. 21-44, 2011.). Os partidos também ganham com seus séquitos de filiados, pois quanto maior o número deles, maior a legitimidade política (MAIR; VAN BIEZEN, 2001MAIR, Peter; VAN BIEZEN, Ingrid. Party membership in twenty European democracies, 1980-2000. Party politics, v. 7, n.1, p.5-21, 2001.). Nesse aspecto, a filiação se distingue do ativismo e da militância, que podem ser exercidos sem as obrigações formais exigidos dos filiados. Os filiados são membros formais dos partidos, enquanto ativistas e militantes não filiados são considerados membros informais, segundo a tipologia de Heidar (2006)HEIDAR, Knut. Party membership and participation. In: KATZ, Richard S.; CROTTY, William (Eds.) Handbook of Party Politics. London: Sage, 2006..

Uma forma muito conhecida para entender as diferenças entre filiados e militantes está no modelo dos círculos concêntricos de Maurice Duverger (1970)DUVERGER, Maurice. Os Partidos Políticos. Rio de Janeiro, Zahar, 1970.. Iniciando do plano externo para o interno ao partido, temos: o eleitorado, os simpatizantes, os filiados e os militantes. Os eleitores de um partido podem ser fiéis ou voláteis. Além de fiéis, os simpatizantes estabelecem forte relação de identificação partidária. Os filiados, por sua vez, mantêm vínculos formais com a legenda, pois a filiação funciona como uma espécie de contrato político entre o indivíduo e o partido, exigindo deveres e obrigações do filiado em relação ao partido. Os militantes são os que exercem maior grau de ativismo partidário, de forma sistemática e continuada. Panebianco (2005)PANEBIANCO, Angelo. Modelos de partido: organização e poder nos partidos políticos. São Paulo: Martins Fontes, 2005. classifica os militantes em duas categorias: os crentes e os arrivistas. Os primeiros são movidos pela forte identificação com a ideologia partidária e a convicção política de que o programa do partido tem potencial efetivo para a solução de causas coletivas. Os arrivistas, por sua vez, são motivados pela conquista de posições, cargos e visibilidade política, cuja atuação é mais voltada para sua própria carreira no âmbito da estrutura e organização da legenda.

Figura 1.
O modelo de círculos concêntricos de Maurice Duverger

O estudo de Gauja (2015)GAUJA, Anika. The construction of party membership. European Journal of Political Research, v. 54, n.2, p.232-248, 2015. mostra três principais perspectivas para entender a filiação partidária na atualidade. A primeira refere-se à relação dos partidos e seus filiados com o Estado, em função da legislação e das normas eleitorais e partidárias. Além disso, há o primeiro conjunto de normas que regem a filiação partidária, expresso nos regulamentos e estatutos dos partidos políticos. Essas normas são consideradas fundamentais para garantir a organização e a legitimação das legendas. A segunda compreende as motivações e interesses do próprio indivíduo que decide filiar-se. Tais motivações variam em função do perfil do partido e do próprio filiado. Em geral a filiação sob essa ótica deve-se à expectativa do indivíduo de poder fazer algo interessante e produtivo como membro do partido. A terceira diz respeito à ótica dos partidos políticos, que são influenciados pela utilidade funcional de manter uma expressiva base de membros e a necessidade de corresponder às expectativas dos indivíduos filiados. As três são complementares e contribuem para gerar configurações heterogêneas de filiados. Essa heterogeneidade enriquece as agremiações.

Estratégias Metodológicas

Os dados foram coletados por meio de websurvey dirigido especificamente aos filiados, no período de março a maio de 2017. A estratégia utilizada para atingir os jovens filiados foi o contato direto (por telefone) com os diretórios jovens dos partidos, incluindo os diretórios nacionais, estaduais e municipais. Solicitamos aos diretórios o mailing dos jovens filiados e enviamos diretamente a eles o link da pesquisa, juntamente com uma carta explicando os objetivos do estudo.

Neste estudo a abordagem quantitativa foi utilizada para testar as relações entre variáveis categóricas da amostra (n=422) contendo as respostas ao questionário sobre filiação partidária de jovens. Essas relações foram verificadas através do teste de hipóteses utilizando o qui-quadrado de Pearson e a Razão de Verossimilhança.9 9 O qui-quadrado de Pearson é utilizado para verificar a independência entre variáveis categóricas, ou seja, medir se as variações de cada variável são independentes entre si ou não. Trata-se de uma estatística baseada na ideia simples de comparar frequências observadas em certas categorias com as frequências esperadas obtidas ao acaso nessas mesmas categorias. Os testes também utilizaram a estatística da Razão de Verossimilhança, na qual alguns dados são coletados para se criar um modelo para o qual a probabilidade de obter o conjunto de dados observados é maximizada e, então, compara-se esse modelo à probabilidade de obter aqueles dados sob a hipótese nula (FIELD, 2009).

Com base nas proporções da população de jovens filiados, indicadas nos dados do Tribunal Superior Eleitoral (Tabela 10), especialmente em relação ao gênero e espectro ideológico, foram definidos pesos na ponderação de casos (Weight Cases) para corrigir a amostra e garantir que cada categoria testada representasse a real proporção da população, conforme detalhado na Tabela 1. Essa correção foi necessária em função dos resultados que não foram totalmente compatíveis com a realidade, posto que o número de informantes do sexo feminino foi superior aos respondentes do sexo masculino. Na realidade, a situação é inversa: o número de homens é superior ao de mulheres.

Tabela 1.
Pesos na ponderação de casos (Weight Cases)

A amostragem foi desenhada com base no modelo de cálculo amostral de Kish (1995)KISH, L. Survey sampling. New York: John Wiley & Sons, 1995., com intervalo de confiança (IC) de 95% e variância máxima (p=0,5):

n = N 1 + N e 2 ( 5 )

Onde n é o tamanho da amostra, N é o tamanho da população e e especifica o erro amostral, dado por 1-precisão. Com base nesse cálculo obtivemos as metas amostrais que constam na Tabela 2, com uma amostragem de 400 respondentes:

Tabela 2.
Cálculo Amostral

Antes de prosseguir, convém uma breve alusão ao uso de websurveys. Apesar de não proverem uma amostragem aleatória probabilística no sentido estrito do termo, a comparação de dados obtidos via métodos tradicionais e websurvey mostra que há poucas diferenças entre os resultados, conforme o diagnóstico de Manfreda e Vehovar (2002)MANFREDA, Katija, Losar; VEHOVAR, Vasja. Do mail and web surveys provide the same results? In: FERLIGOJ, Anuška; MRVAR, Andrej Mrvar (Eds). Development in Social Science Methodology. Ljubljana: FDV, 2002. p. 149-69. Após o exame de uma série de surveys convencionais com uma série similar de websurveys, os autores concluíram que não há diferenças substantivas nas respostas das duas modalidades de pesquisa, exceto no caso do percentual de não-respostas, que é maior nos websurveys. Entretanto, os autores enfatizam as dificuldades registradas na literatura, que tende a considerar que os websurveys podem resultar em amostras não fidedignas da população que compõem o universo dos estudos. Isso porque a literatura ainda resiste às inovações dos websurveys e também porque os critérios metodológicos e científicos para a realização de surveys foram estabelecidos e convencionados antes da consolidação da internet como alternativa de pesquisa (MANFREDA; VEHOVAR, 2002MANFREDA, Katija, Losar; VEHOVAR, Vasja. Do mail and web surveys provide the same results? In: FERLIGOJ, Anuška; MRVAR, Andrej Mrvar (Eds). Development in Social Science Methodology. Ljubljana: FDV, 2002. p. 149-69). Uma forma de sanar eventuais problemas de falta de representividade da população é utilizar amostragens maiores do que nos estudos convencionais (VEHOVAR; MANFREDA; BATAGELJ, 2001VEHOVAR, V.; MANFREDA, L.; BATAGELJ, Z. Sensitivity of Ecommerce measurement to survey instrument. International Journal of Electronic Commerce, v. 6, n. 1, p. 31-52, 2001.). No caso em tela, o número de respondentes é 5% superior ao que foi previsto para um survey convencional.

partir do cálculo amostral acima especificado, foram estabelecidas as metas de amostragem que constam no Quadro 1, considerando o total de filiados jovens de cada partido. O principal critério utilizado para a distribuição da amostra entre os partidos foi o total de filiados por legenda, de forma proporcional.

Quadro 1.
Metas de amostragem dos filiados jovens por partido e sexo

Os resultados obtidos estão expostos na Tabela 3, um pouco superior às metas de amostragem, com 22 informantes a mais, totalizando 422.

Tabela 3.
Respostas obtidas por sexo e partido

Análise descritiva dos dados

Antes da exploração dos testes estatísticos, apresentamos um panorama dos dados descritivos, com o propósito de proporcionar uma visão geral ao leitor.

Apesar do cenário pessimista descrito acima acerca da desconfiança dos jovens nos partidos políticos e no sistema representativo de modo geral, existiam 2.661.931 de jovens filiados, o que corresponde a 16% do total de filiados, conforme mostra o Quadro 1. Observa-se um predomínio de jovens do sexo masculino nesse total, com 54,40% contra 45,60% de mulheres. Os partidos com o maior número de filiados jovens são PT (280.218), PMDB (250.713) e PSDB (216.217), enquanto as legendas com o menor número são, respectivamente: PCO (2.938), Partido Novo (8.825), Rede (17.761) e PSTU (17.408).

É importante ressalvar que os dados do TSE mencionados no Quadro 2 representam apenas os filiados formalmente aos partidos. Ademais, os dados expressam o conjunto de eleitores que estão habilitados a serem pré-candidatos pelos 35 partidos. Isso explica porque as legendas mais antigas contam com número maior de filiados.

Quadro 2.
Dados sobre os jovens filiados aos partidos

O perfil dos respondentes é relativamente equilibrado do ponto de vista do sexo, com 50,50% de femininos e 49,50% de masculinos, como mostra a Tabela 4. Entretanto, há uma expressiva discrepância em relação aos percentuais de filiados homens (62%) e de mulheres (38%), conforme dados do TSE, expostos no Quadro 1. Tais resultados devem, portanto, ser analisados com cautela, devido a essa disparidade. Além disso, o perfil dos respondentes por sexo também é discrepante dos principais estudos que consideram filiação partidária e militância política, tanto no Brasil (SPECK; BRAGA; COSTA, 2015SPECK, Bruno Wilhelm; BRAGA, Maria do Socorro Sousa; COSTA, Valeriano. Estudo exploratório sobre filiação e identificação partidária no Brasil. Revista de Sociologia e Política, v. 23, n. 56, p. 125-148, 2015.; OKADO; RIBEIRO, 2015OKADO, Lucas Toshiaki Archangelo; RIBEIRO, Ednaldo Aparecido. Condição juvenil e a participação política no Brasil. Paraná Eleitoral, v. 4, n.1, 2015.) como em outros países (VAN HAUTE; GAUJA, 2015VAN HAUTE, Emilie; GAUJA, Anika. Party members and activists. v. 6. Abingdon: Routledge, 2015.; KÖLLN; POLK, 2016KÖLLN, Ann-Kristin; POLK, Jonathan. Is Everyone Enjoying the Party? Gothenburg: Centre for European Research; University of Gothenburg, 2016.). Em todos eles, os percentuais de homens são superiores aos de mulheres. Tais paralelos, contudo, contribuem para ressaltar as ponderações acerca das limitações da pesquisa, mas não invalidam seus dados, posto que ao longo da análise as percepções dos filiados pouco se diferenciam em relação ao sexo, conforme será demonstrado posteriormente. Além disso, cabe ressaltar o uso de pesos na ponderação de casos (Weight Cases) para corrigir a amostra, conforme foi exposto na Tabela 1.

As duas faixas etárias mais expressivas entre os informantes são aquelas de maior compromisso com a vida adulta, ou seja, de 18 a 24 anos (39,10%) e de 25 a 29 anos (44,50%), como se lê no Quadro 2. Comparando-se esse perfil dos respondentes com os dados do TSE relativos ao eleitorado juvenil, observa-se que os eleitores jovens de até 16 anos representam 0,010% do total de eleitores brasileiros, enquanto os de 17 a 19 anos representam 0,054%; os de 20 a 24 anos, 2,061% e os de 25 a 29 anos 5,882%.

Os segmentos com maior renda se destacam entre os jovens filiados. O mesmo ocorre com a escolaridade. Apesar de formação universitária variada, destacam-se os informantes dos cursos de Ciências Humanas e Sociais, ao lado de Linguística, Letras e Artes. Em relação à religião, prevalecem os católicos e os evangélicos. Quanto à situação ocupacional, predominam os estudantes, seguidos dos que estão em empregos formais e os desempregados. Os setores privado e público concentram as maiorias dos jovens respondentes, respectivamente (42,10% e 35,70). Em reação a cor/raça destacam-se os brancos e pardos (37,70% e 33,40%). Os jovens informantes residem principalmente em capitais12 12 O predomínio de respondentes em capitais e regiões metropolitanas certamente se devem a dois fatores: maior densidade populacional e maior acesso à internet. , regiões metropolitanas e cidades do interior (37,70%, 31,30% e 27,30%). As regiões com maior representação são: Sudeste (37,20%), Nordeste (24,40%) e Sul (19,20%), respectivamente.

Tabela 4.
Perfil dos respondentes

Indagados sobre como se deu sua filiação, os jovens respondentes revelam o quanto os laços sociais e vínculos interpessoais da esfera familiar são relevantes no processo de recrutamento partidário da juventude. Apenas 16,10% tomaram a iniciativa e procuram o partido por conta própria. Os 83,90% restantes se filiaram em função da influência de algum tipo de suporte social de proximidade, como colegas já filiados, familiares já filiados, colegas dos movimentos estudantis e sociais e até mesmo os dirigentes dos partidos, em menor escala.

É importante ressaltar ainda que fora os familiares (que também podem ser jovens), os demais agentes sociais que influenciam a filiação também são jovens já filiados. É a força dos grupos de coetâneos na socialização política, um tema já consagrado na literatura (CRUZ, 1990CRUZ, Manuel Braga da. A Participação Política da Juventude em Portugal: as elites políticas juvenis. Análise Social, n.105-106, p.223-249, 1990.). Quanto à família, a literatura também já reconhece o capital político familiar como uma das principais formas do recrutamento partidário no Brasil, especialmente no caso de partidos de centro e de direita (MIGUEL; MARQUES; MACHADO, 2015MIGUEL, Luis Felipe; MARQUES, Danusa; MACHADO, Carlos. Capital familiar e carreira política no Brasil: gênero, partido e região nas trajetórias para a Câmara dos Deputados. Dados, v.58, n. 3, p.721-747, 2015.). O capital militante (movimentos sociais e movimentos estudantis) por sua vez, é mais expressivo no recrutamento de partidos de esquerda (MORENO; ALMEIDA, 2009MORENO, Rosangela Carrilo; ALMEIDA, Ana Maria F. Isso é política, meu! Socialização militante e institucionalização dos movimentos sociais. Pro-Posições, Campinas, v. 20, n. 2, p. 59-76, 2009.; SPOSITO, 2000SPOSITO, Marília Pontes. Algumas hipóteses sobre as relações entre movimentos sociais, juventude e educação. Revista Brasileira de Educação, n.13, p.73-94, 2000.).

Tabela 5.
Como se deu a sua filiação partidária?

Apesar de não ser predominante, o capital familiar aparece com 26,20% das respostas, como mostra a Tabela 6. Nesse segmento, são os familiares mais próximos que exercem influência na decisão dos jovens de se filiar a um partido, principalmente os pais e irmãos, como mostra a Tabela 7.

Tabela 6.
Você tem familiares que atuam na política partidária?
Tabela 7.
Familiares que atuam na política

Os movimentos estudantis (39,25%) e os movimentos sociais (23,02%) são os principais motivadores dos jovens para a militância e a filiação partidária, seguido do engajamento político de familiares, amigos e pessoas próximas (15,47%), como se lê na Tabela 8.

Tabela 8.
O que mais motivou você a participar da militância do seu partido?

Em relação ao espectro ideológico, os dados mostram maior identidade dos jovens respondentes com as agremiações de centro (53%), de esquerda (33,4%) e, em menor escala, de direita, com 13,5%, como se lê na Tabela 9.

Tabela 9.
O que teve mais peso na escolha do partido quanto ao posicionamento ideológico?

A Tabela 10 mostra a distribuição dos filiados jovens segundo o espectro ideológico partidário, com as principais orientações: esquerda, centro e direita. Predominam os filiados aos partidos de centro, com 39,82%, com maioria masculina. Comparando os dados com a Tabela 9 (autopercepção dos filiados), nota-se que parece haver uma percepção dominante de que as agremiações dos filiados são de centro, revelando uma provável dissonância entre os dados efetivos e a visão dos informantes. Tudo indica que parte dos filiados a partidos de direita se autopercebem como sendo de centro (13,5% na Tabela 9 contra 27,74% na Tabela 10). Trata-se do fenômeno denominado de “direita envergonhada”, que leva à adoção do termo “centro” em vez de “direita” pelos militantes e partidários (MADEIRA; TAROUCO, 2013MADEIRA, Rafael Machado; TAROUCO, Gabriela S. Esquerda e direita no sistema partidário brasileiro: análise de conteúdo de documentos programáticos. Debates, v.7, n.2, p.93-114, 2013.).

Tabela 10.
Jovens filiados por espectro ideológico partidário

A discussão sobre a classificação efetiva dos partidos brasileiros em determinado espectro ideológico não é categórica (Quadro 3). Ao contrário é carregada de controvérsias. A despeito disso, como argumentam Tarouco e Madeira (2013TAROUCO, Gabriela da Silva; MADEIRA, Rafael Machado. Esquerda e direita no sistema partidário brasileiro: análise de conteúdo de documentos programáticos. Revista Debates, v.7, n. 2, p. 93-114, 2013., p.109), “apesar da alardeada inconsistência ideológica dos partidos brasileiros, a sua classificação na dimensão esquerda-direita é reconhecida tanto pelos próprios políticos quanto pelos analistas”. Para os autores, “isto significa que as classificações correntes são na maioria válidas e podem continuar sendo usadas nos estudos que, ainda hoje, procuram pelos efeitos da ideologia partidária sobre outras variáveis” (TAROUCO; MADEIRA, 2013TAROUCO, Gabriela da Silva; MADEIRA, Rafael Machado. Esquerda e direita no sistema partidário brasileiro: análise de conteúdo de documentos programáticos. Revista Debates, v.7, n. 2, p. 93-114, 2013., p. 109). Para os nossos objetivos aqui, consideramos de grande utilidade a definição de (SCHEEFFER, 2014SCHEEFFER, Fernando. Esquerda e direita: velhos e novos temas. In: 38 Encontro Anual da ANPOCS. Caxambu, 2014., p. 4) de que

a esquerda representa o conjunto de forças que luta, essencialmente, por transformações que resultem na instauração de uma ordem diferente da capitalista, ou transformações que resultem em uma reformulação substancial da mesma. Mesmo que o teor e o grau das mudanças possam variar de acordo com uma esquerda mais ou menos “radical”, o que está presente em qualquer esquerda é o caráter contestatório assumido. A direita, por outro lado, se refere às forças favoráveis à manutenção da ordem social e política. A direita se preocupa, basicamente, em conservar e não alterar o sistema que está dado.

O Quadro 3 apresenta um mapa dos partidos conforme o espectro ideológico predominante, considerando as ressalvas apontadas na literatura, mencionadas acima. Os critérios para a classificação levaram em conta o teor dos programas partidários, conforme a taxionomia de Tarouco e Madeira (2013TAROUCO, Gabriela da Silva; MADEIRA, Rafael Machado. Esquerda e direita no sistema partidário brasileiro: análise de conteúdo de documentos programáticos. Revista Debates, v.7, n. 2, p. 93-114, 2013.).

Quadro 3.
Espectro ideológico partidário

Com base nesse espectro ideológico predominante de cada partido definiu-se uma variável “espectro_dummy” como sendo o resultado da média aritmética dos seguintes valores que representam as respectivas posições ideológicas (Quadro 3): 10 (Extrema Esquerda), 20 (Esquerda), 30 (Centro Esquerda), 40 (Centro), 50 (Centro Direita), 60 (Direita), 70 (Extrema Direita). Também se definiu a variável “Espectro” com base no seguinte critério: se “espectro_dummy” for menor que 40, então “Espectro” corresponde à “Esquerda”. Caso contrário, se “espectro_dummy” for maior que 40, então a variável “Espectro” corresponde à “Direita”. Essas variáveis auxiliares utilizadas nos testes de hipóteses são detalhadas no Quadro 4.

Quadro 4.
Variáveis utilizadas

Análise inferencial dos dados

Para testar a relação entre as variáveis, foram elaboradas as seguintes hipóteses, constantes no Quadro 5.

Quadro 5
Hipóteses testadas

A hipótese 1 é reforçada pela literatura sobre a relevância do capital familiar para a filiação partidária e o ingresso na carreira política. Os estudos sobre o tema ressaltam que tal capital é importante principalmente no caso dos partidos de centro e de direita, embora também seja relevante para a esquerda (VAN LIEFFERINGE; STEYVERS, 2009VAN LIEFFERINGE, Hilde; STEYVERS, Kristof. Family matters? Degrees of family politicization in political recruitment and career start of mayors in Belgium. Acta Politica, v. 44, n. 2, p.125-149, 2009.; MIGUEL; MARQUES; MACHADO, 2015MIGUEL, Luis Felipe; MARQUES, Danusa; MACHADO, Carlos. Capital familiar e carreira política no Brasil: gênero, partido e região nas trajetórias para a Câmara dos Deputados. Dados, v.58, n. 3, p.721-747, 2015.). O envolvimento de familiares com a política partidária pode influenciar o nível de interesse político de jovens, suas preferências partidárias e seu comportamento político. Além disso, jovens provenientes de famílias altamente envolvidas na política começam sua carreira política mais cedo e tendem a obter mais sucesso eleitoral, embora nem sempre sigam os caminhos políticos trilhados pelos familiares (VAN LIEFFERINGE; STEYVERS, 2009VAN LIEFFERINGE, Hilde; STEYVERS, Kristof. Family matters? Degrees of family politicization in political recruitment and career start of mayors in Belgium. Acta Politica, v. 44, n. 2, p.125-149, 2009.).

As hipóteses 2 e 3 são ancoradas nos estudos que enfatizam a força do capital militante para a atuação política juvenil, especialmente no que se refere à experiência dos jovens nos movimentos estudantis e/ou nos movimentos sociais, sobretudo no caso dos partidos de centro-esquerda e de esquerda (SNOW; ZURCHER JR; EKLAND-OLSON, 1980SNOW, David A; ZURCHER JR., Louis A; EKLAND-OLSON, Sheldon. Social networks and social movements: a microstructural approach to differential recruitment. American Sociological Review, v. 45, n. 5, p.787-801, 1980.). Os movimentos estudantis e os movimentos sociais são os principais motivadores dos jovens para a militância e a filiação partidária, seguido do engajamento político de familiares, amigos e pessoas próximas. Estudos empíricos mostram que as entidades estudantis ainda são consideradas relevantes meios de recrutamento partidário juvenil (STOLLE; HOOGHE, 2004HOOGHE, Marc; STOLLE, Dietlind; STOUTHUYSEN, Patrick. The Recruitment Function of Youth Organizations of Political Parties in Belgium (Flanders). Party Politics, v.10, n.2, p.193-212, 2004, p.44). Apesar do arrefecimento dos movimentos estudantis no Brasil após a redemocratização, ainda continuam como forças políticas associadas principalmente a partidos de esquerda (MESQUITA, 2003MESQUITA, Marcos Ribeiro. Movimento estudantil brasileiro: práticas militantes na ótica dos novos movimentos sociais. Revista Crítica de Ciências Sociais, n. 66, p.117-149, 2003.; BARBOSA, 2008BARBOSA, Andreza. O Movimento Estudantil Brasileiro: do início da década de 1990 a 2001. In: GROPPO, Luis Antonio; ZAIDAN FILHO, Michel; MACHADO, Otávio Luiz (Orgs). Movimentos Juvenis na Contemporaneidade. Recife: Ed. UFPE, 2009. p.35-53).

A relação com os partidos é adensada quando as agremiações partidárias conseguem expressar em seus discursos, programas e plataformas de ação que refletem ou se coadunam com o ideário dos movimentos estudantis, “suas estratégias, sua visão de mundo, sua proposta global de sociedade” (MESQUITA, 2003MESQUITA, Marcos Ribeiro. Movimento estudantil brasileiro: práticas militantes na ótica dos novos movimentos sociais. Revista Crítica de Ciências Sociais, n. 66, p.117-149, 2003., p.125). Por outro lado, há movimentos que evitam a proximidade com os partidos, argumentando que “a partidarização cria um estilo de intervenção que dificulta o surgimento de qualquer outra forma de manifestação ou expressão, limitando a própria forma de intervenção estudantil” (MESQUITA, 2003MESQUITA, Marcos Ribeiro. Movimento estudantil brasileiro: práticas militantes na ótica dos novos movimentos sociais. Revista Crítica de Ciências Sociais, n. 66, p.117-149, 2003., p.128).

Os movimentos estudantis são considerados campos de experimentação política para os jovens, uma espécie de laboratório de reflexão e de ação política, permitindo aos grupos juvenis testar e experimentar modelos de organização política, formas ativas de relacionamento e de construção de alternativas militantes (MELUCCI, 1997). Tais experiências lhes proporcionam formas de expressões do protagonismo juvenil e uma sociabilidade militante. Por essas razões, “continua apresentando-se, como uma das possibilidades de inserção e atuação política para uma parcela dos estudantes” (MESQUITA, 2003MESQUITA, Marcos Ribeiro. Movimento estudantil brasileiro: práticas militantes na ótica dos novos movimentos sociais. Revista Crítica de Ciências Sociais, n. 66, p.117-149, 2003., p.118).

A sociabilidade militante leva ao acúmulo de experiências e de capital militante, o que pode servir de elo ou ponte entre os movimentos estudantis e alguns movimentos sociais partidarizados ou não. No caso da relação de entidades juvenis com partidos, a aproximação decorre de afinidade de causas, ou seja, os jovens que participam de movimentos sociais são atraídos para os partidos em função da ação política orientada por causas, sejam elas materiais ou simbólicas, como a defesa de emprego para jovens ou o combate ao machismo, ao racismo, a defesa da equidade de gêneros e as questões ambientais (MORENO; ALMEIDA, 2009MORENO, Rosangela Carrilo; ALMEIDA, Ana Maria F. Isso é política, meu! Socialização militante e institucionalização dos movimentos sociais. Pro-Posições, Campinas, v. 20, n. 2, p. 59-76, 2009.). A atração dos jovens por movimentos sociais e entidades com lógicas de ação similares como ONGs e projetos de voluntariado se explica “pela possibilidade de ir além da denúncia, da crítica, privilegiando o agir, como se a mera denúncia ou a crítica não dessem conta da aspiração de ser ator na sociedade” (SPOSITO, 2000SPOSITO, Marília Pontes. Algumas hipóteses sobre as relações entre movimentos sociais, juventude e educação. Revista Brasileira de Educação, n.13, p.73-94, 2000., p.86).

Heidar (1994HEIDAR, Knut. The Polymorphic Nature of Party Membership. European Journal of Political Research, v. 25, n. 1, p.61-86, 1994.; 2006HEIDAR, Knut. Party membership and participation. In: KATZ, Richard S.; CROTTY, William (Eds.) Handbook of Party Politics. London: Sage, 2006.; 2007) analisa o recrutamento partidário como via de mão dupla, que pode trazer vantagens tanto para as legendas quanto para os próprios filiados. O autor argumenta que os filiados são atores privilegiados nas democracias representativas e garantem um monitoramento mais próximo da política, a exemplo das pesquisas encomendadas pelas legendas. Além disso, segundo o autor, os filiados apresentam maiores chances de influenciar a seleção de candidatos e a elaboração do programa político do partido, dependendo do grau de democracia intrapartidária (HEIDAR; SAGLIE, 2003HEIDAR, Knut; SAGLIE, Jo. A Decline of Linkage? Intra-party Participation in Norway 1991-2000. European Journal of Political Research, v. 42, n. 6, p. 761-786, 2003.). Do ponto de vista do membro individual, o partido constitui uma arena de informação, educação, articulação de interesse, debates e tomada de decisão. Apesar de não haver uma tipologia definida das vantagens da filiação partidária, o autor afirma que o cálculo sobre os benefícios da adesão ao partido depende do tipo de agremiação, do ambiente político e social e da própria personalidade e interesses dos filiados.

As análises de Heidar (1994HEIDAR, Knut. The Polymorphic Nature of Party Membership. European Journal of Political Research, v. 25, n. 1, p.61-86, 1994.; 2006HEIDAR, Knut. Party membership and participation. In: KATZ, Richard S.; CROTTY, William (Eds.) Handbook of Party Politics. London: Sage, 2006.; 2007) resultaram em um esquema analítico que inclui cinco elementos envolvidos no processo de recrutamento partidário: quem, por que, o que, opiniões e efeitos13 13 Em inglês: Who, Why, What, Opinions, Effects. conforme exposto na Figura 2:

Figura 2.
Elementos envolvidos no recrutamento partidário

No caso do recrutamento juvenil, a tese do autor é de que primeiro os partidos recrutam jovens para aumentar sua legitimidade interna e depois para obter legitimidade externa, ou seja, da opinião pública. Assim, o recrutamento juvenil exerceria uma dupla e estratégica função política. O autor ressalta ainda a relação entre os filiados, os ativistas/militantes não filiados e os eleitores para o sucesso eleitoral de um partido, conforme demonstrado na Figura 3.

Figura 3.
Relação entre filiados, militantes e eleitores

Testes das hipóteses

Hipótese-1: Quanto mais à direita no espectro político partidário, maior a influência de familiares na filiação partidária dos jovens.

Utilizando o teste qui-quadrado, a hipótese-1 foi confirmada, χ2 (1) = 39,518, (p<0,001), indicando que houve uma associação significativa entre o espectro político partidário e a influência de familiares na filiação partidária dos jovens. Com base no risco relativo, os jovens tiveram 2,48 mais chances de ser de direita quando têm influência de familiares na filiação partidária, conforme detalhado na Tabela 11.

Tabela 11.
Testes de qui-quadrado da hipótese 1

A análise dos dados da tabela de contingência, detalhados na Tabela 12, indica que a contagem de entrevistados associados à direita no espectro político e que tiveram influência de familiares na filiação partidária (34 jovens) foi superior à esperada pelo modelo (16,6 jovens). Essa diferença (104,91%) entre a contagem real e a esperada evidencia a confirmação da hipótese pelo teste qui-quadrado.

Tabela 12.
Tabela de contingência da hipótese 1

Hipótese-2: Quanto mais à esquerda no espectro político partidário, maior a influência de movimentos estudantis na filiação partidária dos jovens

Utilizando o teste qui-quadrado, a hipótese-2 foi confirmada, χ2 (1) = 10,086, (p<0,005), indicando que houve uma associação significativa entre o espectro político partidário e a influência de movimentos estudantis na filiação partidárias dos jovens. Com base no risco relativo, os jovens tiveram 1,51 mais chances de ser de esquerda quando têm influência de movimentos estudantis na filiação partidária, conforme detalhado na Tabela 13.

Tabela 13.
Testes de qui-quadrado da hipótese 2

A análise dos dados da tabela de contingência, detalhados na Tabela 14, indica que a contagem de entrevistados associados à esquerda no espectro político e que tiveram influência de movimentos estudantis na filiação partidária (37 jovens) foi superior à esperada pelo modelo (27 jovens). Essa diferença (37%) entre a contagem real e a esperada evidencia a confirmação da hipótese pelo teste Qui-quadrado.

Tabela 14.
Tabela de contingência da hipótese 2

Hipótese-3: Quanto mais à esquerda no espectro político partidário, maior a influência de movimentos sociais na filiação partidária dos jovens

Utilizando o teste qui-quadrado, a hipótese-3 foi confirmada, χ2 (1) = 7,165, (p<0,01), indicando que houve uma associação significativa entre o espectro político partidário e a influência de movimentos sociais na filiação partidária dos jovens. Com base no risco relativo, os jovens tiveram 1,43 mais chances de ser de esquerda quando têm influência de movimentos sociais na filiação partidária, conforme detalhado na Tabela 15.

Tabela 15.
Testes de qui-quadrado da hipótese 3

A análise dos dados da tabela de contingência, detalhados na Tabela 16, indica que a contagem de entrevistados associados à esquerda no espectro político e que tiveram influência de movimentos sociais na filiação partidária (33 jovens) foi superior à esperada pelo modelo (24,8 jovens). Essa diferença (33%) entre a contagem real e a esperada evidencia a confirmação da hipótese pelo teste qui-quadrado.

Tabela 16.
Tabela de contingência da hipótese 3

O resultado dos testes das hipóteses é resumido no Quadro 6.

Quadro 6.
Resultado do teste das hipóteses

Considerações finais

Como exposto acima, foram confirmadas empiricamente as três hipóteses que envolveram relações entre as variáveis “espectro” (espectro político partidário) e “filiação” (fatores de influência na filiação). A relação mais significativa (p<0,001) e com maior efeito (risco relativo=2,48) foi verificada na hipótese-1: “Quanto mais à direita no espectro político partidário, maior a influência de familiares na filiação partidária dos jovens”. As demais hipóteses também confirmaram a relação entre o espectro (esquerda) e a influência de movimentos estudantis ou sociais na filiação partidária.

Os dados confirmam o que já é documentado na literatura acerca da importância do capital familiar para o ingresso na carreira política, especialmente nos partidos de centro e de direita (MIGUEL; MARQUES; MACHADO, 2015MIGUEL, Luis Felipe; MARQUES, Danusa; MACHADO, Carlos. Capital familiar e carreira política no Brasil: gênero, partido e região nas trajetórias para a Câmara dos Deputados. Dados, v.58, n. 3, p.721-747, 2015.). Os parentes mais próximos são os que exercem maior influência no caso dos jovens que foram motivados pelo capital familiar, principalmente os irmãos (36,6%) e os pais (27,7%). A maior influência dos irmãos certamente se justifica pela proximidade etária, visto que o fator geracional é um aspecto relevante no recrutamento partidário, conforme foi tratado na primeira parte do texto (VOMMARO, 2013VOMMARO, Gabriel. Estudiar el reclutamiento partidario a través de la variable ‘generaciones políticas’: el caso del PRO en la ciudad de Buenos Aires. In: Congreso Internacional de la Latin American Studies Association. Washington (DC), 2013.; JENNINGS, 2002JENNINGS, M. Kent. Generation Units and the Student Protest Movement in the United States: An Intra- and Intergenerational Analysis. Political Psychology, v. 23, n.2, p.303-324, 2002.).

Convém salientar que as análises sobre o capital familiar e sua relevância para o recrutamento partidário juvenil foi uma das questões teóricas centrais expostas na primeira parte do texto, especialmente na parte que estabeleceu a correlação entre a literatura e as hipóteses. Tal como na bibliografia mencionada, os dados reforçam a expressividade do capital familiar para a filiação partidária e o ingresso na carreira política sobretudo no caso dos partidos de centro e de direita (VAN LIEFFERINGE; STEYVERS, 2009VAN LIEFFERINGE, Hilde; STEYVERS, Kristof. Family matters? Degrees of family politicization in political recruitment and career start of mayors in Belgium. Acta Politica, v. 44, n. 2, p.125-149, 2009.; MIGUEL; MARQUES; MACHADO, 2015MIGUEL, Luis Felipe; MARQUES, Danusa; MACHADO, Carlos. Capital familiar e carreira política no Brasil: gênero, partido e região nas trajetórias para a Câmara dos Deputados. Dados, v.58, n. 3, p.721-747, 2015.).

A título de exemplo da proeminência do capital familiar na política brasileira, é oportuno mencionar que, entre os parlamentares eleitos em 2014, 42% são herdeiros políticos, ou seja, filhos ou irmãos de pessoas com longa carreira na política (MEDEIROS, 2016MEDEIROS, Étore. Herdeiros de políticos ocupam metade da Câmara. Congresso em Foco, 3 fev. 2016. Disponível em: Disponível em: http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/herdeiros-de-politicos-ocupam-metade-da-camara / Acesso em: 27/08/19
http://congressoemfoco.uol.com.br/notici...
). Nas eleições de 2010, o site Congresso em Foco apurou que, dos 513 deputados eleitos, 271 deputados tinham parentes na política, correspondendo a 48% do total de eleitos em 2010. No caso do Senado, os percentuais atingiam dois terços, ou seja, 54% (SARDINHA; CARMARGO, 2011SARDINA, Edson Sardinha; CAMARGO, Renata. Dois terços dos senadores têm parentes na política. 7 abril 2011. Disponível em: Disponível em: http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/dois-tercos-dos-senadores-tem-parentes-na-politica / Acesso em: 02/03/18.
http://congressoemfoco.uol.com.br/notici...
).

Por outro lado, o capital militante permanece de grande relevância para o ingresso dos jovens na política, seja a militância nos movimentos estudantis e/ou nos movimentos sociais, especialmente no caso dos partidos de centro-esquerda e de esquerda (MORENO; ALMEIDA, 2009MORENO, Rosangela Carrilo; ALMEIDA, Ana Maria F. Isso é política, meu! Socialização militante e institucionalização dos movimentos sociais. Pro-Posições, Campinas, v. 20, n. 2, p. 59-76, 2009.; SPOSITO, 2000SPOSITO, Marília Pontes. Algumas hipóteses sobre as relações entre movimentos sociais, juventude e educação. Revista Brasileira de Educação, n.13, p.73-94, 2000.). As relações com outros jovens vinculados a movimentos estudantis que já são filiados, representam 19,9% das motivações para a decisão de filiação, conforme foi exposto anteriormente (Tabela 5). As relações com outros jovens que participam de movimentos sociais representam 16,1%. Somando essas duas formas de capital militante, temos 36%, ou seja, mais de um terço das respostas.

É oportuno ressaltar que essa discussão norteou a fundamentação teórica relativa às hipóteses 2 e 3. Como vimos, os dados estão alinhados com a literatura mencionada na primeira parte do artigo, que enfatiza a força do capital militante para a atuação política juvenil, a exemplo dos movimentos estudantis e/ou nos movimentos sociais (SNOW; ZURCHER JR; EKLAND-OLSON, 1980SNOW, David A; ZURCHER JR., Louis A; EKLAND-OLSON, Sheldon. Social networks and social movements: a microstructural approach to differential recruitment. American Sociological Review, v. 45, n. 5, p.787-801, 1980.; STOLLE; HOOGHE, 2004HOOGHE, Marc; STOLLE, Dietlind; STOUTHUYSEN, Patrick. The Recruitment Function of Youth Organizations of Political Parties in Belgium (Flanders). Party Politics, v.10, n.2, p.193-212, 2004; MESQUITA, 2003MESQUITA, Marcos Ribeiro. Movimento estudantil brasileiro: práticas militantes na ótica dos novos movimentos sociais. Revista Crítica de Ciências Sociais, n. 66, p.117-149, 2003.; BARBOSA, 2008BARBOSA, Andreza. O Movimento Estudantil Brasileiro: do início da década de 1990 a 2001. In: GROPPO, Luis Antonio; ZAIDAN FILHO, Michel; MACHADO, Otávio Luiz (Orgs). Movimentos Juvenis na Contemporaneidade. Recife: Ed. UFPE, 2009. p.35-53).

Entendemos que os dados ainda podem ser explorados sob diversas abordagens e possibilidades, mas cumprimos o nosso objetivo inicial, cujo foco era mapear o perfil dos jovens filiados a partidos no Brasil na atualidade e suas percepções sobre a agenda política e os próprios partidos. Trata-se de um tema pouco explorado no Brasil e que pode interessar a outros pesquisadores, de várias disciplinas, como Ciência Política. Sociologia, Educação e outras.

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  • 5
    Vários estudos focam a militância juvenil ou as carreiras militantes, porém com predomínio das abordagens sobre socialização política, ou seja, aprendizado e não como algo que contemple os jovens como sujeitos de fato da política partidária. As pesquisas de Ana Karina Brenner (2009BRENNER, Ana Karina. Jovens de partidos: a experiência da socialização política. In: VIII Reunión de Antropologia del Mercosur. Buenos Aires, 2009. p.1-15.; 2011BRENNER, Ana Karina. Militância de jovens em partidos políticos: um estudo de caso com universitários. Tese de Doutoramento apresentada ao programa de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.; 2013BRENNER, Ana Karina. Militância de jovens em partidos políticos. In: BEZERRA, Heloísa Dias; OLIVEIRA, Sandra Maria de (Org.). Juventude no século XXI: dilemas e perspectivas. Goiânia: Cânone Editorial, 2013. p.71-90; 2014aBRENNER, Ana Karina. Militância de jovens: entre disposições e interações. In: ANDRADE, Eliane Ribeiro; PINHEIRO, Diógenes; ESTEVES, Luiz Carlos Gil (Org.). Juventude em perspectiva: múltiplos enfoques. Rio de Janeiro: Ed UNIRIO, 2014a. p.118-122; 2014bBRENNER, Ana Karina. Militância de jovens em partidos políticos: um estudo de caso com universitários. Tese de Doutoramento apresentada ao programa de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.; 2015BRENNER, Ana Karina. Permanências e deslocamentos de jovens militantes de partidos políticos. Tomo, n. 27, p.265-289, jul/dez. 2015. ) exemplificam bem essa tendência presente nas áreas de Educação, Antropologia e Sociologia. A ciência política tem ignorado essa agenda de pesquisa.
  • 6
    A pouca atenção da ciência política aos jovens é tanta que leva Nicoletti (2013)NICOLETTI, André Selayaran. Juventude e política: um estudo sobre trajetória e participação política de jovens vereadores no sul do Brasil. In: Congresso Latinoamericano de Sociologia (ALAS), Santiago do Chile, 2013. a afirmar que os poucos estudos são vistos como integrantesdo campo de minorias políticas. Uma explicação encontrada na literatura é que “os jovens ainda são numericamente inexpressivos nas listas de candidatos partidários” (Teixeira, 2008TEIXEIRA, Jefferson Alves. Militância Virtual? Organizações de Juventudes Partidárias na Rede Mundial de Computadores. In: 33º Encontro da ANPOCS. Caxambu, 2009., p.103), embora faltem estudos empíricos para explicar tal ausência.
  • 7
    Aqui os autores criticam estudos como os de Rahn e Transue 1995RAHN, Wendy; TRANSUE, John Transue. Social Trust and Value Change: The Decline of Social Capital in American Youth 1976-1995. Political Psychology, v.19, n. 3, p. 545-565, 1995.; e de Putnam 2000PUTNAM, Robert. Bowling Alone: The Collapse and Revival of American Community. New York: Simon and Schuster, 2000..
  • 8
    Tradução dos autores, aqui e nas citações seguintes.
  • 9
    O qui-quadrado de Pearson é utilizado para verificar a independência entre variáveis categóricas, ou seja, medir se as variações de cada variável são independentes entre si ou não. Trata-se de uma estatística baseada na ideia simples de comparar frequências observadas em certas categorias com as frequências esperadas obtidas ao acaso nessas mesmas categorias. Os testes também utilizaram a estatística da Razão de Verossimilhança, na qual alguns dados são coletados para se criar um modelo para o qual a probabilidade de obter o conjunto de dados observados é maximizada e, então, compara-se esse modelo à probabilidade de obter aqueles dados sob a hipótese nula (FIELD, 2009FIELD, A. Descobrindo a estatística usando o SPSS-2. Porto Alegre: Bookman; Artmed, 2009.).
  • 10
    A classificação do espectro ideológico dos partidos teve como base o estudo de Tarouco; e Madeira (2013)TAROUCO, Gabriela da Silva; MADEIRA, Rafael Machado. Esquerda e direita no sistema partidário brasileiro: análise de conteúdo de documentos programáticos. Revista Debates, v.7, n. 2, p. 93-114, 2013.
  • 11
    Aqui trata-se do total de filiados de cada legenda, enquanto a coluna 2 apresenta o total de filiados jovens.
  • 12
    O predomínio de respondentes em capitais e regiões metropolitanas certamente se devem a dois fatores: maior densidade populacional e maior acesso à internet.
  • 13
    Em inglês: Who, Why, What, Opinions, Effects.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Fev 2020
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2019

Histórico

  • Recebido
    18 Out 2018
  • Aceito
    26 Ago 2019
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