Acessibilidade / Reportar erro

Uso profilático de pregabalina para prevenção de mialgia e fasciculação induzidas por succinilcolina: estudo randômico, duplo-cego e controlado por placebo

RESUMO

JUSTIFICATIVA:

A succinilcolina é comumente usada para atingir um bloqueio neuromuscular profundo, de início rápido e de curta duração.

OBJETIVO:

Comparar a eficácia de pregabalina na prevenção de mialgia e fasciculação induzidas por succinilcolina.

DESENHO:

Estudo prospectivo, randômico, duplo-cego e controlado por placebo.

MATERIAIS E MÉTODOS:

Pacientes de ambos os sexos submetidos a cirurgia eletiva de coluna foram aleatoriamente divididos em dois grupos. Os pacientes do Grupo P (pregabalina) receberam 150 mg de pregabalina oral uma hora antes da indução da anestesia e os pacientes do Grupo C (controle) receberam placebo. A anestesia foi induzida com fentanil (1,5 mcg/kg) e propofol (1,5-2,0 mg/kg), seguidos de succinilcolina 1,5 mg/kg. A intensidade da fasciculação foi avaliada por um observador, cego para a alocação dos grupos, com uma escala de 4 pontos. Um observador cego registrou o grau pós-operatório de mialgia após 24 horas de cirurgia. Para o alívio da dor no pós-operatório, fentanil foi usado em sistema de analgesia controlada pelo paciente.

RESULTADOS:

Os dados demográficos de ambos os grupos eram comparáveis (p > 0,05). A incidência de fasciculação muscular não foi significativa entre os dois grupos (p = 0,707), enquanto mais pacientes do Grupo C apresentaram fasciculação de moderada a grave em relação ao Grupo P (p = 0,028). A incidência e a gravidade da mialgia foram significativamente menores no grupo P (p < 0,05).

CONCLUSÃO:

Pregabalina (150 mg) previne mialgia e fasciculação induzidas por succinilcolina, além de diminur o consumo de fentanil em cirurgia eletiva de coluna.

Palavras-chave:
Pregabalina; Succinilcolina; Fasciculação; Mialgia

ABSTRACT

BACKGROUND:

Succinylcholine is commonly used to achieve profound neuromuscular blockade of rapid onset and short duration.

OBJECTIVE:

The present study compared the efficacy of pregabalin for prevention of succinylcholine-induced fasciculation and myalgia.

DESIGN:

Prospective, randomized, placebo controlled, double blinded study.

MATERIALS AND METHODS:

Patients of both genders undergoing elective spine surgery were randomly assigned to two groups. Patients in Group P (pregabalin group) received 150 mg of pregabalin orally 1 h prior to induction of anesthesia with sips of water and patients in Group C (control group) received placebo. Anesthesia was induced with fentanyl 1.5 mcg/kg, propofol 1.5-2.0 mg/kg followed by succinylcholine 1.5 mg/kg. The intensity of fasciculations was assessed by an observer blinded to the group allotment of the patient on a 4-point scale. A blinded observer recorded postoperative myalgia grade after 24 h of surgery. Patients were provided patient-controlled analgesia with fentanyl for postoperative pain relief.

RESULTS:

Demographic data of both groups were comparable (p > 0.05). The incidence of muscle fasciculation's was not significant between two groups (p = 0.707), while more patients in group C had moderate to severe fasciculation's compared to group P (p = 0.028). The incidence and severity of myalgia were significantly lower in group P (p < 0.05).

CONCLUSION:

Pregabalin 150 mg prevents succinylcholine-induced fasciculations and myalgia and also decreases the fentanyl consumption in elective sine surgery.

Keywords:
Pregabalin; Succinylcholine; Fasciculation; Myalgia

Introdução

Succinilcolina é um relaxante muscular despolarizante com ação de início rápido e de curta duração. Seu uso está associado a uma série de efeitos colaterais, como fasciculação, mialgia pós-operatória, aumento dos níveis séricos de creatina quinase e potássio, hipertermia maligna, mioglobinúria, aumento da pressão intraocular e pressão intracraniana que impedem o seu uso rotineiro.11 Perry JJ, Lee JS, Sillberg VA, et al. Rocuronium versus succinylcholine for rapid sequence induction intubation. Cochrane Database Syst Rev. 2008;16:CD002788.and22 Farhat K, Pasha AK, Jaffery N. Biochemical changes following succinylcholine administration after pretreatment with rocuronium at different intervals. J Pak Med Assoc. 2014;64:146-50. As fasciculações são efeitos colaterais relativamente benignos de seu uso; a maioria dos anestesiologistas prefere preveni-los devido a uma possível associação entre fasciculação e mialgia pós-operatória.

Diferentes modalidades de pré-tratamento foram experimentadas para reduzir a incidência e gravidade da fasciculação e mialgia, incluindo a pré-curarização com uma dose pequena de relaxante muscular não despolarizante,33 True CA, Carter PJ. A comparison of tubocurarine, rocuronium, and cisatracurium in the prevention and reduction of succinylcholine-induced muscle fasciculations. AANA J. 2003;71:23-8. uso de lidocaína pré- succinilcolina,44 Hassani M, Sahraian MA. Lidocaine or diazepam can decrease fasciculation induced by succinylcholine during induction of anesthesia. Middle East J Anesthesiol. 2006;18:929-31. gluconato de cálcio,55 Shrivastava OP, Chatterji S, Kachhawa S, et al. Calcium gluconate pretreatment for prevention of succinylcholine-induced myalgia. Anesth Analg. 1983;62:59-62. sulfato de magnésio,66 Kumar M, Talwar N, Goyal R, et al. Effect of magnesium sulfate with propofol induction of anesthesia on succinylcholineinduced fasciculations and myalgia. J Anaesthesiol Clin Pharmacol. 2012;28:81-5. medicamentos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs),77 Rahimi M, Makarem J, Goharrizi AG. Succinylcholine-induced myalgia in obstetric patients scheduled for caesarean section - diclofenac vs placebo patches. Middle East J Anesthesiol. 2009;20:417-22. dexmedetomidina,88 Celebi N, Canbay O, Cil H, et al. Effects of dexmedetomidine on succinylcholine-induced myalgia in the early postoperative period. Saudi Med J. 2013;34:369-73. benzodiazepínicos,44 Hassani M, Sahraian MA. Lidocaine or diazepam can decrease fasciculation induced by succinylcholine during induction of anesthesia. Middle East J Anesthesiol. 2006;18:929-31. remifentanil,99 Yun MJ, Kim YH, Go YK, et al. Remifentanil attenuates muscle fasciculations by succinylcholine. Yonsei Med J. 2010;51:585-9. fenitoína1010 Hatta V, Saxena A, Kaul HL. Phenytoin reduces suxamethoniuminduced myalgia. Anaesthesia. 1992;47:664-7. ou cetorolaco.1111 LeesonPayne CG, Nicoll JM, Hobbs GJ. Use of ketorolac in the prevention of suxamethonium myalgia. Br J Anaesth. 1994;73:788-90. A eficácia de cada um é variável.

Pregabalina e seu antecessor, gabapentina, são análogos do ácido neurotransmissor inibitório gama-aminobutírico (GABA). Relatou-se que gabapentina1212 Pandey CK, Tripathi M, Joshi G, et al. Prophylactic use of gabapentin for prevention of succinylcholine-induced fasciculation and myalgia: a randomized, double-blinded, placebo-controlled study. J Postgrad Med. 2012;58:19-22. preveniu a fasciculação e mialgia induzidas por succinilcolina; logo, pregabalina pode ser uma opção a essa com melhores resultados.

Com esse objetivo, este estudo randomizado, controlado por placebo e duplo-cego foi conduzido para investigar se a administração de pregabalina no pré-operatório tem qualquer efeito sobre a fasciculação e mialgia induzidos pela succinilcolina em indivíduos submetidos à microdiscectomia sob anestesia geral.

Material e métodos

Este estudo prospectivo randomizado e controlado por placebo foi feito após aprovação do Comitê de Ética Institucional e obtenção de consentimento informado assinado pelos pacientes submetidos à cirurgia de coluna eletiva sob anestesia geral. O estudo foi registrado no Clinical Trials.gov (Ref.: CTRI/2013/08/003925).

Foram incluídos neste estudo 64 pacientes, entre 20-60 anos, de ambos os sexos, estado físico ASA I ou II, programados para cirurgia de coluna eletiva. Os critérios de exclusão foram pacientes com história de distúrbios convulsivos; ingestão pré-operatória de pregabalina ou gabapentina, hipercalemia, doença sistêmica como hipertensão, diabete, insuficiência renal ou hepática, aumento da pressão intracraniana e intraocular, pacientes grávidas ou amamentando e pacientes com sensibilidade conhecida à pregabalina. Os pacientes foram randomicamente distribuídos em dois grupos iguais com a ajuda de uma tabela de números aleatórios gerada por computador para receber os seguintes medicamentos.

Grupo P (pregabalina)

Os pacientes receberam comprimidos de 150 mg de pregabalina por via oral com goles de água uma hora (h) antes da indução da anestesia.

Grupo C (controle)

Os pacientes receberam comprimidos semelhantes de placebo por via oral com goles de água uma h antes da indução da anestesia.

Todos os pacientes foram pré-medicados por via oral com 2 mg de lorazepam e 150 mg de ranitidina na noite anterior e duas h antes da cirurgia. Os medicamentos do estudo foram entregues ao enfermeiro de plantão em envelopes idênticos marcados com P e C. O enfermeiro de plantão que administrou os medicamentos conforme as instruções desconhecia a natureza dos medicamentos.

Na sala de operação, após estabelecer monitoração básica, a anestesia foi induzida pela injeção de fentanil (1,5 mcg.kg-1), propofol (1,5-2,0 mg.kg-1) e succinilcolina (1,5 mg.kg-1). A intensidade da fasciculação foi avaliada por um observador que desconhecia a alocação dos grupos com uma escala de 4 pontos: 0 = ausente; 1 = leve (fasciculação de olhos, pescoço, rosto ou dedos sem movimentos dos membros; 2 = moderado (fasciculação bilateral ou movimento óbvio dos membros; 3 = grave (fasciculação generalizada, prolongada).

Os pacientes foram intubados com tubo endotraqueal com balonete de tamanho apropriado após se avaliar o completo relaxamento muscular pelo monitoramento de contração neuromuscular única. A anestesia foi mantida com oxigênio/óxido nitroso (O2/N2O; 33/66) e sevoflurano. Brometo de vecurônio (0,1 mg.kg-1) foi administrado após a intubação. Doses intermitentes de fentanil e brometo de vecurônio foram administradas durante a cirurgia como indicado. No fim da cirurgia, o bloqueio neuromuscular foi revertido e os pacientes foram transferidos para a sala de recuperação pós-anestesia (SRPA).

Na SRPA, os pacientes receberam analgesia pós-operatória com fentanil (5 mcg.mL-1) por meio de analgesia controlada pelo paciente (ACP) (Smith Medical ASD, Inc., EUA). A necessidade total de fentanil nas primeiras 24 h foi registrada. As complicações no pós-operatório, como náusea, vômito, tontura, sonolência, vertigem, confusão, visão turva e boca seca, também foram registradas e tratadas de acordo.

A incidência e gravidade de mialgia foram avaliadas por um observador, cegado para a alocação dos grupos, 24 h após a intervenção cirúrgica, com uma escala de classificação de 4 pontos: 0 = ausência de dor muscular; 1 = rigidez muscular limitada a uma única área; 2 = dor muscular ou rigidez notada espontaneamente pelo paciente, que pode precisar de terapia analgésica; 3 = desconforto generalizado, grave ou incapacitante.

O nível de sedação no pós-operatório foi avaliado pelo escore de Ramsay, que consiste em seis graus: 1: ansioso; 2: cooperativo e tranquilo; 3: atende apenas aos comandos; 4: responde rapidamente ao estímulo glabelar; 5: responde lentamente ao estímulo glabelar; 6: nenhuma resposta a leve estímulo glabelar.

Cálculo do tamanho da amostra foi baseado em estudo piloto, no qual a incidência de fasciculação foi de 96%. Nosso objetivo era diminuir a incidência em 50% com pregabalina como pré-tratamento. Com um poder de 80% e erro tipo I de 5%, calculamos que 30 indivíduos por grupo eram necessários. Para suprir eventuais desistências, 32 pacientes foram inseridos em cada grupo.

A análise estatística foi feita com o programa estatístico Graphpad Prism 6.0. Os dados demográficos foram analisados com o teste tde Student. Os dados para homens e mulheres foram analisados com o teste do qui-quadrado. O consumo de fentanil e sedação dos grupos foram analisados com o teste t Student. A incidência e gravidade da fasciculação e mialgia foram analisadas com o teste exato de Fisher. Um valor-p < 0,05 foi considerado estatisticamente significativo.

Resultados

Foram avaliados para elegibilidade 72 pacientes entre setembro de 2013 e fevereiro de 2014. Foram incluídos 64 após a randomização e 61 (95,3%) completaram o estudo (fig. 1). Oito pacientes não foram incluídos no estudo devido à recusa (dois) e história pré-operatória de consumo de analgésicos (seis). Três pacientes foram excluídos após a randomização inicial devido à necessidade de suporte ventilatório no pós-operatório (dois) e falha na bomba de PCA (um) - seus dados foram incluídos na comparação do perfil demográfico, mas eles não foram submetidos à análise estatística adicional (fig. 1).

Figura 1
Desenho do estudo.

Não houve diferença significativa entre os dois grupos em relação a idade, sexo, peso, tipo e duração da cirurgia (p > 0,05) (tabela 1).

Tabela 1
Dados demográficos

A incidência global de fasciculação muscular foi de 83,9% no Grupo P e de 90% no Grupo C (p = 0,707) (tabela 2). Os graus de fasciculação muscular observados foram leve (57,7%), moderado (34,6%) e grave (7,7%) no Grupo P, enquanto no Grupo C esses graus foram de 22,2%, 59,2% e 18,5%, respectivamente. Mais pacientes do Grupo C apresentaram fasciculação de moderada a grave em comparação com o Grupo P (p = 0,028).

Tabela 2
Incidência e gravidade das fasciculações

Seis pacientes (19,3%) do Grupo P e 14 (46,7%) do grupo C apresentaram mialgia pós-operatória após 24 h (p = 0,03) (tabela 3). A gravidade da mialgia foi menor no Grupo P em comparação com o Grupo C (5 e 1 vs. 10 e 4 de mialgia de grau 1 e 2, respectivamente,). Nenhum dos pacientes se queixou de mialgia de grau 3 em ambos os grupos. Não houve associação entre a incidência/grau de fasciculação e mialgia.

Tabela 3
Incidência e gravidade da mialgia

O consumo de fentanil nas primeiras 24 h foi significativamente menor no Grupo P em comparação com o Grupo C (674,03 ± 137,84 mcg vs. 1.002,67 ± 214,43 mcg) (p < 0,001). O escore de sedação também foi significativamente maior no Grupo P (p = 0,004) (tabela 4).

Tabela 4
Escore de sedação no pós-operatório (escore de sedação de Ramsay) e consumo de fentanil em 24 h após a cirurgia

Discussão

A succinilcolina é o melhor medicamento para fornecer rapidamente as condições ideais para procedimentos de curta duração que requerem intubação endotraqueal. Infelizmente, seu uso está associado à fasciculação muscular e mialgia pós-operatória.

A fasciculação induzida por succinilcolina tem sido atribuída a uma ação despolarizante pré-juncional da succinilcolina que resulta em disparos repetitivos dos terminais do nervo motor e descargas antidrômicas que se manifestam como contrações musculares descoordenadas.1313 Hartman GS, Fiamengo SA, Riker WF Jr. Mechanism of fasciculations and their prevention by d-tubocurarine or diphenylhydantoin. Anesthesiology. 1986;65:405-13. Descobriu-se que vários medicamentos influenciam a fasciculação e os mecanismos propostos variam desde a liberação de acetilcolina prejudicada pela morfina e nalorfina,99 Yun MJ, Kim YH, Go YK, et al. Remifentanil attenuates muscle fasciculations by succinylcholine. Yonsei Med J. 2010;51:585-9. transmissão neuro-humoral prejudicada pela morfina nos receptores muscarínicos periféricos,99 Yun MJ, Kim YH, Go YK, et al. Remifentanil attenuates muscle fasciculations by succinylcholine. Yonsei Med J. 2010;51:585-9. bloqueio dos receptores pré-juncionais por relaxantes musculares não despolarizantes,33 True CA, Carter PJ. A comparison of tubocurarine, rocuronium, and cisatracurium in the prevention and reduction of succinylcholine-induced muscle fasciculations. AANA J. 2003;71:23-8. estabilização da membrana do nervo motor por redução de íons de cálcio pela difenil-hidantoína,1010 Hatta V, Saxena A, Kaul HL. Phenytoin reduces suxamethoniuminduced myalgia. Anaesthesia. 1992;47:664-7. inibição da liberação de cálcio que leva a uma diminuição na liberação de acetilcolina pelo magnésio.66 Kumar M, Talwar N, Goyal R, et al. Effect of magnesium sulfate with propofol induction of anesthesia on succinylcholineinduced fasciculations and myalgia. J Anaesthesiol Clin Pharmacol. 2012;28:81-5.

O mecanismo da ação inibidora de pregabalina sobre a fasciculação muscular induzida por succinilcolina ainda não está claro. Como o acúmulo intracelular de cálcio é importante para aumentar a velocidade e a força da fasciculação e a contração das fibras musculares intrafusais, o efeito de pregabalina sobre os canais de cálcio dependentes de voltagem pode ser um possível mecanismo da diminuição das contrações musculares e levar à fasciculação.1414 Fink K, Dooley DJ, Meder WP, et al. Inhibition of neuronal Ca(2+) influx by gabapentin and pregabalin in the human neocortex. Neuropharmacology. 2002;42:229-36.

A mialgia pós-operatória após o uso de succinilcolina é um problema clínico comum. A mialgia pós-operatória induzida por succinilcolina é mais frequente no primeiro dia de pós-operatório. A fisiopatologia exata da mialgia induzida por succinilcolina não foi esclarecida. Os vários mecanismos propostos incluem o aumento das concentrações de cálcio mioplasmático, a degradação de fosfolipídios da membrana, a liberação de ácidos graxos livres e radicais livres responsáveis pelo dano muscular que levam à mialgia pós-operatória.1515 Schreiber JU, Lysakowski C, Fuchs-Buder T, et al. Prevention of succinylcholine-induced fasciculation and myalgia: a metaanalysis of randomized trials. Anesthesiology. 2005;103:877-84.,1616 McLoughlin C, Elliott P, McCarthy G, et al. Muscle pains and biochemical changes following suxamethonium administration after six pretreatment regimens. Anaesthesia. 1992;47:202-6.,1717 Wong SF, Chung F. Succinylcholine-associated postoperative myalgia. Anaesthesia. 2000;55:144-52.and1818 Allen DG. Skeletal muscle function: role of ionic changes in fatigue, damage and disease. Clin Exp Pharmacol Physiol. 2004;31:485-93. Vários medicamentos foram usados para bloquear esses alvos específicos e diminuir a mialgia.

A pregabalina inibe as correntes de Ca2+ através de canais ativados por alta tensão que contêm a subunidade a2d,1919 Bauer CS, Rahman W, Tran-van-Minh A, et al. The anti-allodynic alpha(2)delta ligand pregabalin inhibits the trafficking of the calcium channel alpha(2)delta-1 subunit to presynaptic terminals in vivo. Biochem Soc Trans. 2010;38:525-8. reduz a libertação de neurotransmissores (por exemplo.: glutamato, substância-P, calcitonina, noradrenalina, peptídeo relacionado ao gene), atenua a excitabilidade pós-sináptica1414 Fink K, Dooley DJ, Meder WP, et al. Inhibition of neuronal Ca(2+) influx by gabapentin and pregabalin in the human neocortex. Neuropharmacology. 2002;42:229-36. e fornece a base para a sua eficácia antinociceptiva na dor pós-operatória.2020 Kavoussi R. Pregabalin: from molecule to medicine. Eur Neuropsychopharmacol. 2006;16:S128-33.and2121 Clarke H, Bonin RP, Orser BA, et al. The prevention of chronic postsurgical pain using gabapentin and pregabalin: a combined systematic review and meta-analysis. Anesth Analg. 2012;115:428-42. Os fatos acima também podem ser uma explicação plausível para sua eficácia na redução da mialgia induzida por succinilcolina.

Preferimos o uso de pregabalina sobre o de gabapentina para avaliar seu efeito sobre fasciculação e mialgia porque pregabalina tem maior biodisponibilidade (90% vs. 33-66%), rápida absorção (com níveis plasmáticos máximos em uma h vs. 3-4 h) e um aumento linear da concentração plasmática à medida que sua dose é aumentada. Doses de pregabalina mais baixas do que as de gabapentina (doses 2-4 vezes mais baixas) tÊm efeito analgésico semelhante na dor neuropática, o que torna a pregabalina mais vantajosa em relação aos efeitos colaterais da dosagem.2222 Dauri M, Faria S, Gatti A, et al. Gabapentin and pregabalin for the acute post-operative pain management. A systematic-narrative review of the recent clinical evidences. Curr Drug Targets. 2009;10:716-33.

Relatou-se que o uso de agentes de indução como tiopental ou propofol não tem qualquer influência sobre a fasciculação induzida por succinilcolina, embora menos mialgia tenha sido observada com o uso de tiopental em comparação com propofol.1515 Schreiber JU, Lysakowski C, Fuchs-Buder T, et al. Prevention of succinylcholine-induced fasciculation and myalgia: a metaanalysis of randomized trials. Anesthesiology. 2005;103:877-84. Maddineni et al.2323 Maddineni VR, Mirakhur RK, Cooper AR. Myalgia and biochemical changes following suxamethonium after induction of anaesthesia with thiopentone or propofol. Anaesthesia. 1993;48: 626-8. observaram que não houve diferença em mialgia pós-operatória quando propofol foi substituído por tiopental, mas, de acordo com McClymont,2424 McClymont C. A comparison of the effect of propofol or thiopentone on the incidence and severity of suxamethonium-induced myalgia. Anaesth Intensive Care. 1994;22:147-9. propofol é melhor do que tiopental para controlar a mialgia.

Nosso estudo está de acordo com vários estudos de redução da dor no pós-operatório e da necessidade de opiáceos com o uso de pregabalina no pré-operatório. Reuben et al.2525 Reuben SS, Buvanendran A, Kroin JS, et al. The analgesic efficacy of celecoxib, pregabalin, and their combination for spinal fusion surgery. Anesth Analg. 2006;103:1271-7. observaram que o uso de pregabalina no pré-operatório em pacientes submetidos à laminectomia lombar foi tão eficaz como o de celecoxibe na redução da dor e do consumo de morfina controlado pelo paciente no pós-operatório. Agarwal et al. relataram a eficácia de pregabalina em dose oral única de 150 mg administrada no pré-operatório para reduzir a dor e o consumo de fentanil no pós-operatório de colecistectomia laparoscópica.2626 Agarwal A, Gautam S, Gupta D, et al. Evaluation of a single preoperative dose of pregabalin for attenuation of postoperative pain after laparoscopic cholecystectomy. Br J Anaesth. 2008;101:700-4.

Há algumas limitações neste estudo: (a) o desenho foi observacional e avaliamos uma variável subjetiva (fasciculação) em vez de variáveis objetivas (aumento de potássio, mioglobina e CPK); e (b), este é um estudo institucional único e nossos resultados não podem ser generalizados. Estudos adicionais com diferentes cenários e grupos de pacientes podem fornecer um melhor entendimento sobre o uso de pregabalina.

Conclusão

Nosso estudo demonstrou que a administração de 150 mg de pregabalina no período pré-operatório diminuiu significativamente a gravidade da fasciculação muscular, sem um efeito em sua incidência, e diminuiu também a incidência e gravidade de mialgia induzida por succinilcolina, bem como o consumo de fentanil no pós-operatório.

References

  • 1
    Perry JJ, Lee JS, Sillberg VA, et al. Rocuronium versus succinylcholine for rapid sequence induction intubation. Cochrane Database Syst Rev. 2008;16:CD002788.
  • 2
    Farhat K, Pasha AK, Jaffery N. Biochemical changes following succinylcholine administration after pretreatment with rocuronium at different intervals. J Pak Med Assoc. 2014;64:146-50.
  • 3
    True CA, Carter PJ. A comparison of tubocurarine, rocuronium, and cisatracurium in the prevention and reduction of succinylcholine-induced muscle fasciculations. AANA J. 2003;71:23-8.
  • 4
    Hassani M, Sahraian MA. Lidocaine or diazepam can decrease fasciculation induced by succinylcholine during induction of anesthesia. Middle East J Anesthesiol. 2006;18:929-31.
  • 5
    Shrivastava OP, Chatterji S, Kachhawa S, et al. Calcium gluconate pretreatment for prevention of succinylcholine-induced myalgia. Anesth Analg. 1983;62:59-62.
  • 6
    Kumar M, Talwar N, Goyal R, et al. Effect of magnesium sulfate with propofol induction of anesthesia on succinylcholineinduced fasciculations and myalgia. J Anaesthesiol Clin Pharmacol. 2012;28:81-5.
  • 7
    Rahimi M, Makarem J, Goharrizi AG. Succinylcholine-induced myalgia in obstetric patients scheduled for caesarean section - diclofenac vs placebo patches. Middle East J Anesthesiol. 2009;20:417-22.
  • 8
    Celebi N, Canbay O, Cil H, et al. Effects of dexmedetomidine on succinylcholine-induced myalgia in the early postoperative period. Saudi Med J. 2013;34:369-73.
  • 9
    Yun MJ, Kim YH, Go YK, et al. Remifentanil attenuates muscle fasciculations by succinylcholine. Yonsei Med J. 2010;51:585-9.
  • 10
    Hatta V, Saxena A, Kaul HL. Phenytoin reduces suxamethoniuminduced myalgia. Anaesthesia. 1992;47:664-7.
  • 11
    LeesonPayne CG, Nicoll JM, Hobbs GJ. Use of ketorolac in the prevention of suxamethonium myalgia. Br J Anaesth. 1994;73:788-90.
  • 12
    Pandey CK, Tripathi M, Joshi G, et al. Prophylactic use of gabapentin for prevention of succinylcholine-induced fasciculation and myalgia: a randomized, double-blinded, placebo-controlled study. J Postgrad Med. 2012;58:19-22.
  • 13
    Hartman GS, Fiamengo SA, Riker WF Jr. Mechanism of fasciculations and their prevention by d-tubocurarine or diphenylhydantoin. Anesthesiology. 1986;65:405-13.
  • 14
    Fink K, Dooley DJ, Meder WP, et al. Inhibition of neuronal Ca(2+) influx by gabapentin and pregabalin in the human neocortex. Neuropharmacology. 2002;42:229-36.
  • 15
    Schreiber JU, Lysakowski C, Fuchs-Buder T, et al. Prevention of succinylcholine-induced fasciculation and myalgia: a metaanalysis of randomized trials. Anesthesiology. 2005;103:877-84.
  • 16
    McLoughlin C, Elliott P, McCarthy G, et al. Muscle pains and biochemical changes following suxamethonium administration after six pretreatment regimens. Anaesthesia. 1992;47:202-6.
  • 17
    Wong SF, Chung F. Succinylcholine-associated postoperative myalgia. Anaesthesia. 2000;55:144-52.
  • 18
    Allen DG. Skeletal muscle function: role of ionic changes in fatigue, damage and disease. Clin Exp Pharmacol Physiol. 2004;31:485-93.
  • 19
    Bauer CS, Rahman W, Tran-van-Minh A, et al. The anti-allodynic alpha(2)delta ligand pregabalin inhibits the trafficking of the calcium channel alpha(2)delta-1 subunit to presynaptic terminals in vivo. Biochem Soc Trans. 2010;38:525-8.
  • 20
    Kavoussi R. Pregabalin: from molecule to medicine. Eur Neuropsychopharmacol. 2006;16:S128-33.
  • 21
    Clarke H, Bonin RP, Orser BA, et al. The prevention of chronic postsurgical pain using gabapentin and pregabalin: a combined systematic review and meta-analysis. Anesth Analg. 2012;115:428-42.
  • 22
    Dauri M, Faria S, Gatti A, et al. Gabapentin and pregabalin for the acute post-operative pain management. A systematic-narrative review of the recent clinical evidences. Curr Drug Targets. 2009;10:716-33.
  • 23
    Maddineni VR, Mirakhur RK, Cooper AR. Myalgia and biochemical changes following suxamethonium after induction of anaesthesia with thiopentone or propofol. Anaesthesia. 1993;48: 626-8.
  • 24
    McClymont C. A comparison of the effect of propofol or thiopentone on the incidence and severity of suxamethonium-induced myalgia. Anaesth Intensive Care. 1994;22:147-9.
  • 25
    Reuben SS, Buvanendran A, Kroin JS, et al. The analgesic efficacy of celecoxib, pregabalin, and their combination for spinal fusion surgery. Anesth Analg. 2006;103:1271-7.
  • 26
    Agarwal A, Gautam S, Gupta D, et al. Evaluation of a single preoperative dose of pregabalin for attenuation of postoperative pain after laparoscopic cholecystectomy. Br J Anaesth. 2008;101:700-4.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Mar-Apr 2016

Histórico

  • Recebido
    19 Maio 2014
  • Aceito
    07 Ago 2014
Sociedade Brasileira de Anestesiologia R. Professor Alfredo Gomes, 36, 22251-080 Botafogo RJ Brasil, Tel: +55 21 2537-8100, Fax: +55 21 2537-8188 - Campinas - SP - Brazil
E-mail: bjan@sbahq.org