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Abertura de ampolas de vidro – Um método mais simples e seguro

Caro Editor,

De modo geral, os agentes anestésicos estão disponíveis em ampolas de vidro que, para ser abertas, precisam ser “quebradas"na região marcada por faixas coloridas ou pontos ao redor do gargalo. Existem várias maneiras para a abertura dessas ampolas, como a ruptura com o polegar e o dedo indicador (com ou sem o uso de compressas de gaze), lixar o gargalo da ampola com lixa ou base de outro frasco,1. Cohen Y, Glantz L, Ezri T. Breaking glass vials. Anaesthesiology. 1997;86:1215. tesoura2. Koga K, Hirose M. Scissors as a propofol ampoule‘snapper’? Anaesthesia. 1999;54:919–20. ou faca. Quando feito corretamente, o gargalo da ampola é quebrado de forma limpa, sem produzir partículas ou cacos de vidro. Contudo, muitas vezes os dedos podem sofrer cortes graves, que resultam em lacerações que requerem sutura, deixam o profissional suscetível à infecção, perda de dias de trabalho, reabilitação e dor residual.3. Bajwa SJ, Kaur J. Risk and safety concerns in anesthesiology practice: the present perspective. Anesth Essays Res. 2012;6: 14–20. A abertura de ampolas é classificada como um evento de alto risco,4. Smith DR, Leggat PA. Needlestick and sharps injuries among nursing students. J Adv Nurs. 2005;51:449–55. com ampolas quebradas responsáveis por 54% dos relatos de incidentes em membros das equipes de anestesia.5. Pulnitiporn A, Chau-in W, Klanarong S, et al. The Thai Anesthesia. Incidents Study (THAI Study) of anesthesia personnel hazard. J Med Assoc Thai. 2005;88: S141–4. Sabe-se que os cortes causados por ampolas ocorrem em 6% das rotinas anestésicas.6. Parker MR. The use of protective gloves, the incidence of ampoule injury and the prevalence of hand laceration amongst anaesthetic personnel. Anaesthesia. 1995;50: 726–9. Embora existam dispositivos especializados para a abertura de ampolas, nem sempre podem estar disponíveis, o que pode ser perigoso em casos de emergência. Descrevemos um método simples, barato e seguro de abrir ampolas com o uso do corpo de uma seringa. Esse método está sendo usado de forma rotineira em nossa instituição e evita, assim, possíveis lesões cortantes.

A mão dominante segura o corpo de uma seringa (com o êmbolo removido) e o inverte e, com a mão não dominante, a ponta cônica da ampola é inserida no espaço cilíndrico do corpo (sem o êmbolo) (fig. 1). A profundidade de inserção da ampola no interior do corpo é ajustada de modo que o gargalo da ampola, marcado por faixa colorida, fique bem próximo da borda circunferente do corpo. Segurando com firmeza a base da ampola com a mão não dominante, uma tração constante é aplicada em direção ao profissional, enquanto o corpo é empurrado com a mão dominante (com a ponta cônica da ampola em seu interior), com o uso de uma pressão constante e uniforme e a manutenção da borda do corpo em contato com o gargalo. Uma leve pressão aplicada corretamente abrirá a ampola e a quebrará de forma limpa em torno da faixa colorida. A ponta cônica quebrada e afiada da ampola e as partículas de vidro ficarão no interior do corpo e podem ser acondicionadas e descartadas de forma segura, sem entrar em contato com os dedos (fig. 2).

Figure 1
Inserindo a ponta cônica da ampola no interior do espaço cilíndrico e oco do corpo da seringa.
Figure 2
A ponta cônica quebrada e afiada da ampola e seus cacos de vidro restantes são mostrados no interior do corpo da seringa, depois de uma abertura segura, e podem ser descartados sem entrar em contato com os dedos.

As vantagens dessa técnica incluem o baixo custo, a pronta disponibilidade de seringas em hospitais, o uso de uma única seringa para várias ampolas, além de manter os dedos afastados de partículas e lascas de vidro. Porém, a limitação desse método é que apenas as ampolas com volumes inferiores a 5 mL e marcadas com faixas coloridas em torno do gargalo podem ser abertas com facilidade. Não é possível abrir ampolas grandes (volumes superiores a 5 mL) com esse método. Para ampolas maiores, seringas maiores (10 mL) possivelmente podem ser usadas. Uma pressão ligeiramente maior pode ser necessária para abrir a ampola com esse método, comparado à quebra manual do gargalo com o uso dos dedos, o que é muito compensador, se levarmos em consideração a vantagem de evitar ferimentos cortantes.

References

  • 1
    Cohen Y, Glantz L, Ezri T. Breaking glass vials. Anaesthesiology. 1997;86:1215.
  • 2
    Koga K, Hirose M. Scissors as a propofol ampoule‘snapper’? Anaesthesia. 1999;54:919–20.
  • 3
    Bajwa SJ, Kaur J. Risk and safety concerns in anesthesiology practice: the present perspective. Anesth Essays Res. 2012;6: 14–20.
  • 4
    Smith DR, Leggat PA. Needlestick and sharps injuries among nursing students. J Adv Nurs. 2005;51:449–55.
  • 5
    Pulnitiporn A, Chau-in W, Klanarong S, et al. The Thai Anesthesia. Incidents Study (THAI Study) of anesthesia personnel hazard. J Med Assoc Thai. 2005;88: S141–4.
  • 6
    Parker MR. The use of protective gloves, the incidence of ampoule injury and the prevalence of hand laceration amongst anaesthetic personnel. Anaesthesia. 1995;50: 726–9.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Nov-Dec 2014
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