Acessibilidade / Reportar erro

Pneumotórax catamenial

Sr. Editor,

Mulher, 29 anos, previamente hígida, procurou o serviço de emergência com queixa de dispneia súbita. No exame físico o murmúrio vesicular estava abolido em todo o hemitórax direito. Na radiografia do tórax observou-se pneumotórax à direita (Figura 1) e a tomografia computadorizada (TC) de tórax não mostrou nenhuma outra alteração, além do pneumotórax identificado na radiografia. Realizada toracotomia com drenagem fechada. Como o pneumotórax coincidiu com o período menstrual, foi feita ultrassonografia pélvica que mostrou imagem compatível com endometrioma no ovário esquerdo. Em três meses, a paciente evoluiu com novo pneumotórax espontâneo à direita, sendo colocado um dreno tipo pig tail. Posteriormente foi realizada videotoracoscopia, com identificação e ressecção de focos endometrióticos (Figura 2), e colocação de tela de Marlex na parede torácica. Após três meses, a paciente permanece assintomática.

Figura 1
Radiografia do tórax em posteroanterior demonstrando pneumotórax à direita.
Figura 2
Videotoracoscopia demonstrando focos endometrióticos (setas) na superfície pleural.

A avaliação do tórax por métodos de imagem tem sido motivo de uma série de publicações recentes na literatura radiológica nacional(1Zanetti G, Nobre LF, Mançano AD, et al. Paracoccidioidomicose pulmonar. Radiol Bras. 2014;47(1):xi-xiii.

Fernandes MC, Zanetti G, Hochhegger B, et al. Pneumonia por Rhodococcus equi em paciente com SIDA. Radiol Bras. 2014;47(3):xi-xiii.

Amorim VB, Rodrigues RS, Barreto MM, et al. Achados na tomografia computadorizada em pacientes com infecção pulmonar pelo vírus influenza A (H1N1). Radiol Bras. 2013;46:299-306.

Eifer DA, Arsego FV, Torres FS. Atresia unilateral das veias pulmonares: avaliação por tomografia computadorizada. Radiol Bras. 2013;46:376-8.

Souza VF, Chaves RT, Balieiro VS, et al. Avaliação qualitativa e quantitativa da densidade pulmonar em paciente com polimiosite e fibrose pulmonar. Radiol Bras. 2013;46(3):ix-x.

Marcos L, Bichinho GL, Panizzi EA, et al. Classificação da doença pulmonar obstrutiva crônica pela radiografia do tórax. Radiol Bras. 2013;46:327-32.

Amoedo MK, Souza LVS, Souza AS, et al. Enfisema intersticial pulmonar: relato de caso e revisão da literatura. Radiol Bras. 2013;46:317-9.

Zanetti G, Nobre LF, Mançano AD, et al. Sinal do halo invertido com paredes nodulares causado por tuberculose pulmonar, confirmada por cultura do escarro. Radiol Bras. 2013;46(6):ix-x.

Koenigkam-Santos M, Paula WD, Gompelmann D, et al. Endobronchial valves in severe emphysematous patients: CT evaluation of lung fissures completeness, treatment radiological response and quantitative emphysema analysis. Radiol Bras. 2013;46:15-22.
-1010 Silva JLP. O trinômio vírus-droga-hospedeiro na caracterização tomográfica da infecção pulmonar por influenza A (H1N1) - uma visão clínico-radiológico-patológica. Radiol Bras. 2013;46(5):vii-ix.). Endometriose torácica consiste na existência de tecido endometrial no parênquima pulmonar ou na cavidade pleural e manifesta-se clinicamente por hemoptise, pneumotórax ou hemotórax, com relação temporal com a menstruação(1111 Alifano M, Vénissac N, Mouroux J. Recurrent pneumothorax associated with thoracic endometriosis. Surg Endosc. 2000;14:680.

12 Attaran S, Bille A, Karenovics W, et al. Videothoracoscopic repair of diaphragm and pleurectomy/abrasion in patients with catamenial pneumothorax: a 9-year experience. Chest. 2013;143:1066-9.
-1313 Bagan P, Berna P, Assouad J, et al. Value of cancer antigen 125 for diagnosis of pleural endometriosis in females with recurrent pneumothorax. Eur Respir J. 2008;31:140-2.). Frequentemente acomete mulheres em idade fértil, com pico de incidência entre a terceira e a quarta décadas de vida(1414 Costa F, Matos F. Endometriose torácica. Rev Port Pneumol. 2008;XIV:427-35.). Os implantes torácicos geralmente ocorrem na cavidade pleural e, me-nos comumente, no parênquima pulmonar(1414 Costa F, Matos F. Endometriose torácica. Rev Port Pneumol. 2008;XIV:427-35.).

A endometriose pleural é uma entidade de comportamento geralmente benigno, mais frequente à direita, possivelmente por defeitos congênitos na hemicúpula diafragmática direita e pelo fluxo contínuo de fluido da pelve para o quadrante superior direito do abdome(1515 Cassina PC, Hauser M, Kacl G, et al. Catamenial hemoptysis. Diagnosis with MRI. Chest. 1997;111:1447-50.). Tipicamente, os implantes endometrióticos no tórax cursam com sintomas periódicos (de um dia antes até os dois primeiros dias da menstruação)(1616 Yu Z, Fleischman JK, Rahman HM, et al. Catamenial hemoptysis and pulmonary endometriosis: a case report. Mount Sinai J Med. 2002;69:261-3.). A apresentação clínica depende do local acometido: nos casos de implantes na pleura, pode ocorrer pneumotórax ou hemotórax catamenial; no parênquima pulmonar, pode ocorrer hemoptise catamenial ou nódulos pulmonares assintomáticos. Histologicamente, é identificada a presença de tecido endometrial no pulmão e/ou pleura. A citologia revela células endometriais no líquido pleural, no aspirado de massas/nódulos pulmonares ou no lavado brônquico. Os exames de imagem compreendem, principalmente, a radiografia e a TC de tórax, que podem demonstrar pneumotórax, hidropneumotórax ou lesões nodulares pleurais. A ressonância magnética vem ganhando cada vez mais importância, pois além de diferenciar lesões parenquimatosas das pleurais, promove melhor resolução espacial e, se realizada no período menstrual, é capaz de identificar tecido glandular no local acometido (focos hiperintensos na ponderação T2)(1717 Marchiori E, Zanetti G, Rafful P, et al. Pleural endometriosis and recurrent pneumothorax: the role of magnetic resonance imaging. Ann Thorac Surg. 2012;93:696-7.

18 Coutinho A Jr, Bittencourt LK, Pires CE, et al. MR imaging in deep pelvic endometriosis: a pictorial essay. Radiographics. 2011;31:549-67.
-1919 Marchiori E, Zanetti G, Rodrigues RS, et al. Pleural endometriosis: findings on magnetic resonance imaging. J Bras Pneumol. 2012;38:797-802.).

O tratamento possui dois pilares principais: o tratamento conservador, que é baseado na reposição de hormônios para prevenção de recorrência de pneumotórax e hemotórax, e o tratamento cirúrgico, que está indicado nos casos de falência do tratamento hormonal, de efeitos colaterais graves do tratamento, de recorrência após suspensão da terapêutica ou se a paciente desejar engravidar(2020 Alifano M, Roth T, Broët SC, et al. Catamenial pneumothorax: a prospective study. Chest. 2003;124:1004-8.). Conclui-se, portanto, que o pneumotórax catamenial exige suspeição com base nas manifestações clínicas, coincidentes com o período menstrual, e que os exames de imagem podem confirmar o diagnóstico. O tratamento pode ser medicamentoso ou cirúrgico, devendo ser corretamente indicado para evitar recorrência das manifestações da doença.

REFERENCES

  • 1
    Zanetti G, Nobre LF, Mançano AD, et al. Paracoccidioidomicose pulmonar. Radiol Bras. 2014;47(1):xi-xiii.
  • 2
    Fernandes MC, Zanetti G, Hochhegger B, et al. Pneumonia por Rhodococcus equi em paciente com SIDA. Radiol Bras. 2014;47(3):xi-xiii.
  • 3
    Amorim VB, Rodrigues RS, Barreto MM, et al. Achados na tomografia computadorizada em pacientes com infecção pulmonar pelo vírus influenza A (H1N1). Radiol Bras. 2013;46:299-306.
  • 4
    Eifer DA, Arsego FV, Torres FS. Atresia unilateral das veias pulmonares: avaliação por tomografia computadorizada. Radiol Bras. 2013;46:376-8.
  • 5
    Souza VF, Chaves RT, Balieiro VS, et al. Avaliação qualitativa e quantitativa da densidade pulmonar em paciente com polimiosite e fibrose pulmonar. Radiol Bras. 2013;46(3):ix-x.
  • 6
    Marcos L, Bichinho GL, Panizzi EA, et al. Classificação da doença pulmonar obstrutiva crônica pela radiografia do tórax. Radiol Bras. 2013;46:327-32.
  • 7
    Amoedo MK, Souza LVS, Souza AS, et al. Enfisema intersticial pulmonar: relato de caso e revisão da literatura. Radiol Bras. 2013;46:317-9.
  • 8
    Zanetti G, Nobre LF, Mançano AD, et al. Sinal do halo invertido com paredes nodulares causado por tuberculose pulmonar, confirmada por cultura do escarro. Radiol Bras. 2013;46(6):ix-x.
  • 9
    Koenigkam-Santos M, Paula WD, Gompelmann D, et al. Endobronchial valves in severe emphysematous patients: CT evaluation of lung fissures completeness, treatment radiological response and quantitative emphysema analysis. Radiol Bras. 2013;46:15-22.
  • 10
    Silva JLP. O trinômio vírus-droga-hospedeiro na caracterização tomográfica da infecção pulmonar por influenza A (H1N1) - uma visão clínico-radiológico-patológica. Radiol Bras. 2013;46(5):vii-ix.
  • 11
    Alifano M, Vénissac N, Mouroux J. Recurrent pneumothorax associated with thoracic endometriosis. Surg Endosc. 2000;14:680.
  • 12
    Attaran S, Bille A, Karenovics W, et al. Videothoracoscopic repair of diaphragm and pleurectomy/abrasion in patients with catamenial pneumothorax: a 9-year experience. Chest. 2013;143:1066-9.
  • 13
    Bagan P, Berna P, Assouad J, et al. Value of cancer antigen 125 for diagnosis of pleural endometriosis in females with recurrent pneumothorax. Eur Respir J. 2008;31:140-2.
  • 14
    Costa F, Matos F. Endometriose torácica. Rev Port Pneumol. 2008;XIV:427-35.
  • 15
    Cassina PC, Hauser M, Kacl G, et al. Catamenial hemoptysis. Diagnosis with MRI. Chest. 1997;111:1447-50.
  • 16
    Yu Z, Fleischman JK, Rahman HM, et al. Catamenial hemoptysis and pulmonary endometriosis: a case report. Mount Sinai J Med. 2002;69:261-3.
  • 17
    Marchiori E, Zanetti G, Rafful P, et al. Pleural endometriosis and recurrent pneumothorax: the role of magnetic resonance imaging. Ann Thorac Surg. 2012;93:696-7.
  • 18
    Coutinho A Jr, Bittencourt LK, Pires CE, et al. MR imaging in deep pelvic endometriosis: a pictorial essay. Radiographics. 2011;31:549-67.
  • 19
    Marchiori E, Zanetti G, Rodrigues RS, et al. Pleural endometriosis: findings on magnetic resonance imaging. J Bras Pneumol. 2012;38:797-802.
  • 20
    Alifano M, Roth T, Broët SC, et al. Catamenial pneumothorax: a prospective study. Chest. 2003;124:1004-8.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Mar-Apr 2015
Publicação do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem Av. Paulista, 37 - 7º andar - conjunto 71, 01311-902 - São Paulo - SP, Tel.: +55 11 3372-4541, Fax: 3285-1690, Fax: +55 11 3285-1690 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: radiologiabrasileira@cbr.org.br