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Pesquisa de mercado aplicada a pequenos empreendimentos: centro de lazer para a terceira idade do estado do Rio de Janeiro

SEÇÕES ESPECIAIS

SMALL BUSINESS ATRAVÉS DO PANÓPTICO

Pesquisa de mercado aplicada a pequenos empreendimentos: centro de lazer para a terceira idade do estado do Rio de Janeiro

Paulo Roberto de Sant'annaI; Luiz Pérez ZotesII; Francisco Marcelo BaroneIII; Daniel MerabetIV

IMestre em sistemas de gestão pela Universidade Federal Fluminense (Latec/UFF). Coordenador do Curso de Ciências Contábeis da Universidade do Grande Rio (Unigranrio). Endereço: Rua Prof. José de Souza Herdy, 1160 - 25 de Agosto - CEP 25071-202, Duque de Caxias, RJ, Brasil. E-mail: psantanna@openlink.com.br

IIDoutor em engenharia de produção pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professor de graduação e pós-graduação em administração da Universidade Federal Fluminense (UFF). Endereço: Rua São Paulo, s/nº - Valonguinho - CEP 24020-005, Niterói, RJ, Brasil. E-mail: lpzotes@oi.com.br

IIIDoutor em políticas públicas e formação humana pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPFH/Uerj). Professor da Ebape/FGV. Endereço: Praia de Botafogo, 190, sala 540 - Botafogo - CEP 22250-900, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: francisco.barone@fgv.br

IVMestre em administração pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (Ebape/FGV). Pesquisador associado do Small Business/Ebape/FGV. Endereço: Praia de Botafogo, 190, sala 540 - Botafogo - CEP 22250-900, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: danielmerabet@hotmail.com

A partir da ideia de "observação total" de Jeremy Bentham (1748-1832), esta seção tem como proposta ser um espaço dedicado à divulgação de estudos e pesquisas relacionados ao conceito de small business e sustentabilidade, que engloba, entre outras, as seguintes temáticas: micro, pequenas e médias empresas (MPMEs); empreendedorismo; jovens empresários; acesso ao crédito; microfinanças; meios de pagamento; incubadoras; desenvolvimento local; responsabilidade socioambiental.

Coordenação: Deborah Moraes Zouain* * Coordenadores do Programa de Estudos Avançados em Pequenos Negócios, Empreendedorismo, Acesso ao Crédito e Meios de Pagamento (Small Business), da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape), da Fundação Getulio Vargas (FGV). Endereço: Praia de Botafogo, 190, sala 541 - Botafogo - CEP 22250-900, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: small@fgv.br. Francisco Marcelo Barone* * Coordenadores do Programa de Estudos Avançados em Pequenos Negócios, Empreendedorismo, Acesso ao Crédito e Meios de Pagamento (Small Business), da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape), da Fundação Getulio Vargas (FGV). Endereço: Praia de Botafogo, 190, sala 541 - Botafogo - CEP 22250-900, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: small@fgv.br.

1. Introdução

Nos últimos anos, o envelhecimento da população brasileira deixou de ser forte tendência para se tornar realidade. Isto sugere reflexões, por um lado sobre a nova unidade familiar, agora com menor número de integrantes e com a participação significativa de idosos na estruturação orçamentária da família; e, por outro, sobre melhor qualidade de vida em idade avançada, embora ainda esteja longe dos padrões esperados para a manutenção do equilíbrio social, considerando a má distribuição de renda em nosso país.

A mudança na estrutura etária brasileira provoca um impacto no surgimento de novas demandas da sociedade civil, visto que os idosos terão maior influência sobre determinados mercados. Entretanto, as variações existentes nessas demandas devido a fatores culturais, sociais e regionais devem ser analisadas. Portanto, as implicações dessas variações devem ser consideradas tanto na formulação e implementação das políticas públicas quanto no surgimento de novos modelos de negócios empresariais para que os anseios da população idosa sejam atendidos.

Este artigo investiga os principais aspectos mercadológicos para o estabelecimento de um negócio voltado a um público específico, o dos idosos. A pesquisa de mercado é uma ferramenta importante no que tange à geração de informações confiáveis, válidas e relevantes, associadas às diferentes demandas mercadológicas para subsidiar decisões empresariais, mais especificamente, abertura de uma empresa situada no município de Teresópolis, voltada para esse nicho de mercado.

O artigo está dividido da seguinte forma: após esta introdução, discorrese sobre as mudanças e tendências no perfil do consumidor idoso no Brasil; em seguida são apresentadas considerações metodológicas sobre a condução da pesquisa; as seções seguintes abordam, a partir de uma perspectiva socioeconômica e com dados do IBGE, o potencial de mercado da região Sudeste, do estado do Rio de Janeiro e dos municípios do Rio de Janeiro, Teresópolis e de Nova Friburgo; especial destaque merece a seção que fala sobre características de hotéis e pousadas situados na estrada Teresópolis-Friburgo; as considerações finais são registradas na última seção.

2. Mudanças e tendências no perfil do consumidor idoso no Brasil

Estudos sobre a população brasileira apontam que, nos próximos 20 anos, a população idosa poderá ultrapassar os 30 milhões de pessoas e deverá representar quase 13% da população total, ao final desse período. O censo realizado em 2000 mostrava que a população de 60 anos ou mais era de 14.536.029 pessoas, contra 10.722.705 em 1991 (IBGE, 2000).

O Censo 2000, considerando apenas a população idosa, verificou que 62,4% destes eram responsáveis pelos domicílios brasileiros, observando-se um aumento em relação a 1991, quando representavam 60,4%. É importante destacar que no conjunto dos domicílios brasileiros, considerando toda sua população (44.795.101), 8.964.850 tinham idosos como responsáveis e representavam 20% do contingente total. Em 1991, essa proporção ficava em torno de 18,4%. Destaca-se ainda que a idade média do responsável idoso, em 2000, estava em torno de 69,4 anos.

O gênero predominante na população com 60 anos ou mais é o feminino (55,94%), sendo que 26,81% dessas são aposentadas puras; 21,25% têm outra fonte de rendimento; 4,34% são aposentadas que trabalham; e 3,54% são apenas trabalhadoras. Em relação ao gênero masculino, a maioria pertence à categoria aposentado puro (23,93%), e cerca de 11,01% são aposentados que continuam trabalhando; 6,56% são trabalhadores puros, e apenas 2,56% possuem outra fonte de renda. Tais números reforçam a ideia de que a variável gênero pode ser um diferencial na estrutura das escolhas praticadas pelos idosos no ato de consumo, devendo ser considerada significativa (Dutt-Ross, 2006).

Ballstaedt (2006) cita pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisas de Consumo sobre o perfil da terceira idade, em que os idosos são responsáveis pela manutenção de 25% dos lares nacionais, ou seja, aproximadamente 47 milhões de domicílios. Apenas 15% deles não possuem renda alguma.

Em geral, a terceira idade está associada ao lazer. A categoria é composta por pessoas a partir de 60 anos, porém diversos fatores sociais, culturais, políticos, econômicos devem ser considerados para melhor explicar por que a velhice passou a ser representada, nos últimos tempos, como uma fase proveitosa, sustentando a ideia de aposentadoria ativa (Sena et al., 2007).

Existem diversas classificações quanto aos diferentes grupos que fazem parte da terceira idade. McPherson (2000) propõe quatro grupos de idade distintos: aqueles que se aposentam cedo (55-65), os aposentados (65-75), os idosos em risco (75-84) e os idosos mais velhos (com mais de 85 anos). Ainda segundo esse autor, como os grupos nasceram em épocas diferentes (a diferença pode chegar a 30 anos) é razoável argumentar que possuem interesses, valores e necessidades diferentes.

A consolidada tendência de envelhecimento populacional já promove modificações na sociedade brasileira, quando conjugada com o tamanho alcançado pela população idosa e considerando seu correspondente potencial de consumo, engendra um contexto amplamente favorável para o surgimento de novos negócios (Guimarães, 2006).

A infraestrutura necessária para responder à demanda social do envelhecimento no Brasil ainda é composta por programas sociais e serviços precários. Importantes questões envolvendo acessibilidade devem ser lembradas uma vez que deficientes, idosos e outros grupos de vulnerabilidade específica devem receber especial atenção do poder público e das empresas (Sena et al., 2007).

Desde a década passada (Camarano et al.,1999), o idoso vem apresentando melhores condições de vida do que a população mais jovem, pois observa-se melhorias no nível de rendimento, detém moradia própria e contribui significativamente no orçamento familiar. Nas famílias em que são chefes, encontra-se uma proporção significativa de filhos residindo na mesma habitação. Alguns autores (Camarano e Ghaouri, 2003; Peixoto, 2004) também atestam a ocorrência da inversão dos papéis sociais nas famílias brasileiras, já que os filhos adultos ainda mantêm elevado grau de dependência dos seus pais.

Pode-se perceber pela tabela 1 que de 1991 a 2000 o rendimento dos idosos em todas as regiões do país cresce. A região Sudeste tem destaque por apresentar o rendimento médio maior do idoso responsável pelo domicílio, quando comparado às demais regiões do país. Na seção 4 deste trabalho serão apresentados dados para que se possa ter uma noção mais detalhada sobre a região (IBGE, 2000).

Entretanto, segundo Barros e colaboradores (1999), os idosos tendem a apresentar maior volatilidade na renda domiciliar per capita. Isto se deve em parte pela sua estrutura de gastos que tende a ser mais volátil quando comparada à da maioria da população, uma vez que há maior probabilidade de surgimento de gastos elevados e inesperados, principalmente com a saúde. Logo, de acordo com o índice de preços ao consumidor da terceira idade (IPC-3I), a inflação varia conforme a idade do consumidor, o que torna os efeitos da inflação nas idades mais avançadas maior que o das outras idades, neutralizando parte dos ganhos relativos de renda mencionados (Dutt-Ross, 2006).

Ardeo e colaboradores (2004) argumentam que em termos da composição dos grandes grupos de consumo, as principais diferenças entre o conceito de família que possui pelo menos metade dos residentes idosos, diante do total da população são: despesas de saúde e cuidados pessoais (15% contra 10,4%); despesas de alimentação (30,2% contra 27,5%); despesas diversas (5,79% contra 4,44%); e habitação (32% contra 31,8%).

Utilizando os mesmos parâmetros de comparação (família que possui pelo menos metade dos residentes idosos/total da população), observa-se inversamente que: transportes (7,85% contra 11,72%), refletindo a menor demanda e o passe livre do idoso; vestuário (3,67% contra 5,4%), mais expressivo em relação à mulher do que ao idoso, porque as despesas com roupas femininas são proporcionalmente maiores que as com masculinas; e educação, leitura e recreação (4,43% contra 8,74%), com importantes diferenças de composição.

Sem dúvida, várias das oportunidades de negócios voltadas para os idosos são circunscritas a localidades que já possuam elementos estruturais capazes de desenvolver essas atividades e que contêm públicos alvos potenciais (concentração de pessoas idosas com renda, por exemplo) para demandar e consumir os bens e serviços (Guimarães, 2006). No caso específico da terceira idade, a renda elevada e o consumismo conduzem ao crescimento das despesas, fomentando segmento da indústria do lazer e do turismo (Sena et al., 2007).

O setor de turismo já identificou esse importante nicho de mercado e as possíveis implicações sobre modelos de negócios. Atualmente, muitas agências de turismo, hotéis e pousadas, em todo o país e no exterior, já oferecem descontos e condições especiais para receber os idosos. São inúmeros estabelecimentos, com serviços para o atendimento direcionado a esse setor específico e que cresce a cada ano. Mais recentemente têm surgido iniciativas que vinculam turismo, lazer e saúde como é o caso do condomínio "Solar da Gávea", situado na Zona Sul do Rio de Janeiro, que recebe hóspedes em regime de moradia permanente, temporária ou diária, oferecendo passeios, clínica médica, fisioterapia e recreação (Sena et al., 2007).

Hoje, as pessoas da terceira idade têm uma formação e um nível cultural melhor quando comparado às gerações anteriores. Isso leva a uma maior exigência por qualidade dos serviços com ênfase para o atendimento particularizado, receptividade, acessibilidade, segurança e conforto, demandando mão de obra qualificada e especialmente treinada para tais finalidades.1 1 Principalmente nas áreas de contato com os clientes, chamadas em empresas de serviços de front office. Dado que o turismo direcionado às idades mais avançadas estará cada vez mais atrelado ao turismo saúde, surge o potencial de ampliar a cadeia de outros tipos de estabelecimentos nas localidades turísticas, a exemplo de centros e casas de saúde, SPAs, hotéis de lazer, hotéis históricos, entre outros (Guimarães, 2006).

Além do turismo, o lazer é o segmento da terceira idade que mais cresce. É comum surgirem novas entidades que congregam pessoas idosas, como o Sesc que, em suas dependências, coordena ações para a terceira idade nas áreas de expressão artística, artesanato, literatura, biblioteca, cinema, vídeo, educação, recreação, trabalhos em grupo, desenvolvimento físico, saúde e turismo (Guimarães, 2006).

Em termos gerais pode-se afirmar que o mercado da terceira idade apresenta algumas características segundo Ardeo e colaboradores (2004):

grupo populacional que possui maior tempo livre em função da estabilidade na vida financeira e dos filhos já estarem criados;

disponibilidade para viajar na baixa temporada, o que propicia maior ocupação dos equipamentos turísticos e demanda de serviços e, consequentemente, rentabilidade em períodos de baixa ocupação, fazendo com que sejam reduzidos os impactos econômicos negativos da sazonalidade;

o período de viagem e hospedagem costuma ser mais prolongado;

geralmente viajam acompanhados, o que contribui para o aumento de gastos;

grupo mais propenso e mais fácil de se fidelizar aos serviços e produtos turísticos de qualidade.

3. Metodologia

Como existem poucos estudos sobre o potencial de consumo do mercado da terceira idade, principalmente por se tratar de um mercado incipiente, a pesquisa teve uma natureza exploratória. Segundo Vergara (2007) esse tipo de pesquisa é adequado quando há pouco conhecimento sobre determinado assunto. Ao se tratar de pesquisa de marketing, a pesquisa exploratória reúne informações para geração de informações úteis à tomada de decisões empresariais (Churchill e Peter, 2000).

Para a pesquisa foram utilizados dados primários e secundários. Os primários foram coletados de forma específica para levantar informações sobre o perfil de consumo e serviços prestados para a terceira idade, especificamente no que tange às atividades relacionadas ao lazer na região conhecida como "Tere-Fri", concentrando foco sobre pousadas e hotéis. Já os dados secundários foram utilizados para contextualização e aferição do potencial de consumo do mercado, abrangendo a região Sudeste, o estado do Rio de Janeiro e os municípios do Rio de Janeiro, Teresópolis e Nova Friburgo.

A pesquisa de dados secundários diz respeito à coleta de dados já existentes em diversas fontes, como jornais, artigos científicos, revistas, associações de classe, entre outras. Para melhor discorrer sobre características socioeconômicas das regiões contempladas, é imprescindível considerar as informações provenientes dos levantamentos censitários e pesquisas domiciliares realizadas pelas instituições públicas de estatística dos órgãos federais, como IBGE, pois representam rico, confiável e importante manancial para a identificação das características socioeconômicas dos mais distintos grupos populacionais nas mais diversas unidades territoriais (Guimarães, 2006). Esses dados ajudam a determinar tendências no comportamento, o tamanho e a composição do mercado da terceira idade.

Dados secundários podem agir como substitutos da pesquisa de campo, visto que a pesquisa que busca coletar dados primários pode ser muito despendiosa e os dados secundários podem ajudar a evitar despesas desnecessárias, já que os dados publicados podem satisfazer totalmente os objetivos de uma pesquisa. Mesmo que as principais questões não sejam respondidas, o escopo da pesquisa primária pode ser substancialmente reduzido.

A Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), realizada pelo IBGE, permite a identificação de um amplo perfil socioeconômico e das condições de vida da população idosa a exemplo da cor ou raça, sexo, nível e composição da renda (pessoal e familiar), escolaridade, posse de bens duráveis, características dos domicílios, arranjo familiar, entre outras. Tais informações são disponibilizadas para as seguintes unidades territoriais: Brasil, grandes regiões, unidades da federação e regiões metropolitanas (Guimarães, 2006).

Porém como argumenta Guimarães (2006), mesmo diante dessa riqueza de informações disponibilizadas periodicamente, a Pnad apresenta limitações ao não permitir a desagregação das informações em nível de municípios e seus respectivos subespaços. Diante disso, a utilização do censo demográfico é de suma importância já que é a fonte de informação mais abrangente e completa para unidades territoriais menores (pequenas áreas), o que é extremamente importante uma vez que a pesquisa tem como um de seus objetivos identificar o potencial de consumo dos municípios: Rio de Janeiro, Teresópolis e Nova Friburgo.

4. Perfil do consumidor idoso na região Sudeste

Dados da Pnad (2005) mostram que 11% da população residente na região Sudeste é composta por idosos. Entre os estados da região Sudeste, destacam-se Rio de Janeiro e São Paulo, por possuírem uma relação de idosos maior que a média brasileira.

Em geral, o rendimento médio mensal da população idosa aumentou em todas as regiões do país. Além da região Sudeste abrigar o maior número de pessoas idosas, também concentra os rendimentos médios mais elevados. Outro fato que merece destaque é que, em muitas regiões, a renda da população acima de 60 anos é superior à renda média brasileira (IBGE, 2000). Esses dados podem ser analisados na tabela 3.

Tabela 2

Tomando-se por base o rendimento médio mensal dos idosos do Sudeste, estimado em aproximadamente R$ 835 (a maior do país) e a população idosa na região Sudeste (de aproximadamente 8.646.720), pode-se estimar que a região Sudeste representa um mercado de aproximadamente R$ 7.220.011.200

Perfil do consumidor idoso no estado do Rio de Janeiro

Ballstaedt (2006) menciona estudos realizados pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas que apontam o estado do Rio de Janeiro como o de maior presença de pessoas na terceira idade e cuja proporção local de pessoas com idade igual ou superior a 65 anos é a mais alta do país (8,2%), representando 32% acima dos níveis nacionais. Como consequência, 70,3% dos benefícios previdenciários totais auferidos pela população fluminense são superiores a um salário mínimo, contra 45,6% do conjunto do Brasil.

Assim como no caso da proporção de funcionários públicos ativos em relação aos ocupados, o estado do Rio de Janeiro só fica abaixo de Brasília. Assim, as transferências a título de gastos sociais de origem federal para o estado do Rio de Janeiro eram 19% superiores às do conjunto de estados brasileiros. Portanto, o estado constitui abrigo de funcionários públicos aposentados, uma mistura de "Flórida" e Brasília. Em termos de benefícios pagos a aposentados e pensionistas, 12% da renda local aproximadamente advêm de pensões e aposentadorias, superando a estatística de qualquer unidade da federação brasileira (Ballstaedt, 2006).

É importante destacar também que em 2000, aproximadamente 63,1% da população idosa no estado do Rio de Janeiro era responsável por lares, conforme mostra a tabela 4. Isso pode sugerir que ela exerce influência sobre decisões de consumo e sobre a estrutura orçamentária da família.

Esta tendência ganha força quando se observa que o número de idosos responsáveis por lares aumentou consideravelmente entre os anos 1991 e 2000. Conforme mostra a tabela 5, trata-se de um crescimento de 704.678 em 1991 para 960.893 no ano 2000, ou seja, 36% aproximadamente.

Ressaltando que o gênero reflete importante variável na determinação do perfil de consumo da terceira idade, observa-se que no mesmo período a maioria das pessoas idosas responsáveis por domicílio com mais de 60 anos era composta por homens. Mas percebe-se que a diferença está cada vez mais estreita.

No entanto constata-se também que a maioria da população idosa residente no estado do Rio de Janeiro é composta por mulheres no período 1991-2000, conforme mostram em detalhes as tabelas 6 e 7.

Entre os estados brasileiros, o Distrito Federal e o Rio de Janeiro destacam-se por abrigar os maiores rendimentos médios para os idosos (R$ 1.796 e R$ 1.018, respectivamente), seguidos pelos demais estados da região Sudeste e Sul. No Rio de Janeiro, a cidade de Niterói é a primeira em rendimento (R$ 1.785). Vale ressaltar que os estados do Nordeste têm os menores rendimentos, com destaque para o Maranhão, onde os idosos recebem, em média, R$ 287 e o estado do Rio de Janeiro figura entre os quatro estados cujo rendimento é superior à média nacional (R$ 657).

Em quase uma década, o rendimento mensal médio da população idosa responsável por domicílio no estado do Rio de Janeiro apresentou aumento de R$ 640 para R$ 1.018, um expressivo aumento de 59%. Destaca-se também a concentração dos rendimentos nas áreas urbanas do estado.

Tabela 9

Para determinar o potencial de consumo dos idosos no estado do Rio de Janeiro toma-se o rendimento mensal médio do ano 2000, multiplicado pela população residente no estado do Rio de Janeiro, usando dados recentes da Pnad (2005) - tabela 7 -, e chegando-se a um valor aproximado de R$ 2.116.778.300 (2.079.350 × R$ 1.018).

Município do Rio de Janeiro

A população idosa residente no município do Rio de Janeiro está estimada em 1.619.843 de habitantes, sendo que 643.787 são homens e 976.056 mulheres (Pnad, 2005).

Entre as capitais, a cidade do Rio de Janeiro é a que se destaca com a maior proporção de idosos, representando, respectivamente, 12,8% da população total no município. Em contrapartida, as capitais do norte do país, Boa Vista e Palmas, apresentaram uma proporção de idosos de apenas 3,8% e 2,7%.

Ainda no município do Rio de Janeiro a população idosa apresentava maior concentração entre as idades 60 e 64 anos.

Considerando esta faixa etária constata-se que a maioria dos idosos nessa faixa etária é formada por mulheres (Censo, 2000).

O município do Rio de Janeiro também possui elevado percentual de idosos responsáveis por lares. Pode-se constatar o crescimento de aproximadamente 363.202 em 1991 para 462.109 em 2000, ou seja, 27%.

O município do Rio de Janeiro também se destaca pelo alto rendimento da população idosa com relação às outras capitais, estando em 5º lugar com renda média de R$ 1.418.

Para determinar o potencial de consumo dos idosos toma-se o rendimento mensal médio do ano 2000, multiplicado pela população residente no município do Rio de Janeiro usando dados recentes da Pnad (2005) - figura 3 -, chegando a um valor aproximado de R$ 2.296.937.374 (1.619.843 × R$ 1.418).


Município de Teresópolis

Segundo o censo de 2000, a população residente no município de Teresópolis está estimada em aproximadamente 138.081 habitantes (tabela 14), e destes 13.777 são idosos, onde, segundo McPherson (2000), a maioria é composta por aqueles que se aposentam cedo, com idade de 55 a 65 anos. As mulheres são maioria (7.753), contra 6.024 homens.

Existem no município 8.566 pessoas idosas responsáveis por domicílios, a maioria formada por homens, tendo maior concentração em área urbana, com idade entre 60 e 64 anos.

O rendimento mensal médio da população está estimado em R$ 1.015 (em área urbana). Considerando apenas a quantidade de idosos com rendimento superior a três salários, chega-se aproximadamente ao número de 3.306. Seu potencial de mercado, portanto, pode ser estipulado em R$ 5.540.400 (975 × R$ 1.140 + 2.331 × R$ 1.900). Se tomarmos de forma mais simplificada a população idosa e o rendimento médio mensal de todo o município (total), teremos um potencial de mercado estimado em R$ 12.853.941 (13.777 × R$ 933).

Município de Nova Friburgo

Segundo o censo de 2000, a população idosa residente no município de Nova Friburgo está estimada em aproximadamente 173.418 habitantes (tabela 22). A maioria, segundo McPherson (2000), é composta por aqueles que se aposentam cedo, com a idade entre 55 e 65 anos, e a maioria dos habitantes idosos é composta por mulheres (10.324), contra 7.977 homens.

Existem 11.275 pessoas idosas responsáveis por domicílios, a maioria formada por homens, tendo maior concentração em área urbana e entre as idades 60 e 64 anos.

O rendimento mensal médio da população está estimado em R$ 795 (em área urbana). Considerando apenas a quantidade de idosos com rendimento superior a três salários chega-se aproximadamente ao número de 4.052 habitantes. Seu potencial de mercado, portanto, pode ser estipulado em R$ 6.634.040 (1.401 × R$ 1.140 + 2.651 × R$ 1.900). Se tomarmos de forma mais simplificada a população idosa e o rendimento médio de todo o município (total), teremos um potencial de mercado estimado em R$ 14.110.071 (18.301 × R$ 771).

5. Levantamento dos hotéis e pousadas da estrada Teresópolis-Friburgo

Para complementar a fase de coleta e análise de dados secundários, foi realizado levantamento junto aos hotéis e pousadas situados na estrada Teresópolis-Friburgo, região conhecida como "Tere-Fri".

O objetivo desse levantamento é prover dados (agora primários) que possibilitem traçar os modelos de negócio e o perfil dos clientes por eles atendidos, sempre mantendo o foco sobre o público alvo, os idosos. Assim, considerações estratégicas sobre concorrência poderão ser tecidas.

A pesquisa foi conduzida por telefone e um roteiro semiestruturado foi elaborado. A seleção dos hotéis e pousadas foi baseada no mapeamento dos estabelecimentos localizados ao longo da estrada Teresópolis-Friburgo. Vale ressaltar que nem todos os hotéis e pousadas apresentaram predisposição para participar da pesquisa.

Ao final do período determinado para a realização dessa etapa da pesquisa, 15 estabelecimentos, entre hotéis e pousadas, concordaram em disponibilizar seus dados: Hotel Alpina, Hotel Fazenda Boa Vista, Hotel Fazenda Holandês, Hotel Fazenda Jecava, Hotel Fazenda São Moritz, Hotel Vila Verde, Hotel Village Le Canton, Pousada das Cerejeiras, Pousada do Riacho, Pousada Recanto do Lord, Pousada Savognin, Pousada Terra do Amor, Pousada Terra Linda, SPA e Pousada Vrindávana. Os contatos estabelecidos variaram de gerentes até coordenadores das empresas.

A tabela 30 sintetiza algumas informações, como taxa média de ocupação e local onde moram os idosos frequentadores desses hotéis/pousadas, acompanhados do valor das diárias dos respectivos estabelecimentos. A maioria dos idosos que se hospeda em alguns desses hotéis/pousadas vem do Rio de Janeiro, segundo dados coletados em oito dos estabelecimentos; de lugares próximos (público situado na própria região) e até mesmo de outros estados, como São Paulo (segundo dois estabelecimentos).

A taxa de ocupação alcançou níveis significativos em alguns estabelecimentos. Cinco dos estabelecimentos que compõem a amostra possuem taxa de ocupação de idosos superior a 50%, quatro afirmaram não saber, por não ser este o seu público-alvo.

A maioria dos hotéis e pousadas consultados não tinham atividades específicas para idosos como mostra o quadro 1, alguns sem qualquer tipo de preparo ou instalações, chegando ao ponto de não recomendar a ida de idosos aos estabelecimentos.


Alguns hotéis e pousadas afirmaram também que há grande incidência de idosos que se deslocam em excursões e em diferentes épocas do ano.

6. Indicadores consolidados e projeções

Esta seção reúne e discute de forma resumida alguns dos principais dados apresentados, mais especificamente, quanto ao potencial de mercado estimado em cada unidade de análise (região Sudeste, estado do Rio de Janeiro, municípios do Rio de Janeiro, Teresópolis e Nova Friburgo) como mostra a tabela 31.

Para minimizar distorções foram utilizados, sempre que possível, os dados estatísticos mais recentes, recorrendo-se às informações oferecidas pela Pnad (2006). No entanto, a Pnad não fornece dados sobre os municípios, a não ser das principais capitais brasileiras, direcionando o seu foco sobre o Brasil, grandes regiões e principais capitais. Isso explica por que dados do IBGE (2000) foram utilizados para estimar o potencial de mercado dos municípios de Teresópolis e de Nova Friburgo.

Com tais informações, pode-se simular cenários, estimando quanto os consumidores da terceira idade gastam com atividades de lazer. Para tanto, são admitidos os seguintes percentuais de despesas relacionadas a essas atividades: 2%, 5% e 8% (assumindo uma postura respectivamente conservadora, moderada e ousada), conforme mostra a tabela 32.

Nesta simulação, ao estimar que idosos gastam 2% do orçamento em atividades de lazer, tem-se um mercado de aproximadamente R$ 42.335.566 no estado do Rio de Janeiro. Utilizando os multiplicadores 5% e 8%, são obtidas as estimativas de mercado, de R$ 105.838.915 e R$ 183.754.989,92. Esta mesma estrutura lógica é aplicada para a região Sudeste e os municípios (Rio de Janeiro, Teresópolis e Nova Friburgo).

Considerando somente os municípios e supondo um faturamento para a futura empresa de R$ 600 mil por ano,2 2 R$ 600 mil (12 meses × R$ 50 mil/1.000 clientes × R$ 50). podemos estimar sua participação em relação ao mercado da terceira idade, disposto a consumir esses serviços, como mostra a tabela 33.

Com o faturamento de R$ 600 mil a futura empresa absorveria 1,3% do mercado de idosos dispostos a gastar 2% de seu orçamento com atividades de lazer; 0,52% e 0,32% do mercado de idosos dispostos a gastar respectivamente 5% e 8% do seu orçamento.

Portanto, considerando os três municípios, pode-se pensar que existe um grande mercado de consumidores da terceira idade dispostos a consumir serviços de lazer. Porém é razoável destacar que a maior parcela desse mercado está situada no município do Rio de Janeiro, quando comparado ao mercado dos municípios de Teresópolis e Nova Friburgo.

7. Considerações finais

Este artigo, por meio de pesquisa, coletou e analisou dados sobre o mercado da terceira idade para subsidiar decisão de abertura de empresa para atender a esse público específico. Vale ressaltar que o rastreamento do consumidor é uma tarefa que não se esgota de uma só vez, porque suas atitudes são dinâmicas, o que exige análise permanente de seu perfil. Portanto, os dados apresentados que foram coletados em fontes confiáveis como o IBGE e um levantamento realizado junto a hotéis e pousadas situados ao longo da estrada Teresópolis-Friburgo propõe, sobretudo, exercício de reflexão sobre as principais características do mercado da terceira idade.

Em geral, os idosos são, em proporção significativa, nos municípios do Rio de Janeiro, Teresópolis e Nova Friburgo, responsáveis por lares, o que reflete que ainda exercem influência sobre a composição orçamentária domiciliar. Soma-se a tal tendência o fato de terem tempo para realizar viagens ao longo do ano, inclusive em baixa temporada. No entanto, no levantamento realizado, raros são os hotéis e pousadas que têm infraestrutura para receber e atender com qualidade os idosos.

O maior mercado da terceira idade está localizado no município do Rio de Janeiro, mais especificamente na Zona Sul. No entanto, os municípios de Teresópolis e Nova Friburgo apresentam razoável potencial de mercado.

Recomenda-se a utilização da pesquisa em exercícios de reflexão como planejamento de cenários e para elaboração do plano de negócios, atendendo o requisito específico no que tange às informações mercadológicas.

  • ARDEO, V. et al. A inflação da terceira idade. Conjuntura Econômica, jul. 2004.
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    Coordenadores do Programa de Estudos Avançados em Pequenos Negócios, Empreendedorismo, Acesso ao Crédito e Meios de Pagamento (Small Business), da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape), da Fundação Getulio Vargas (FGV). Endereço: Praia de Botafogo, 190, sala 541 - Botafogo - CEP 22250-900, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail:
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    Principalmente nas áreas de contato com os clientes, chamadas em empresas de serviços de
    front office.
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    R$ 600 mil (12 meses × R$ 50 mil/1.000 clientes × R$ 50).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      21 Out 2009
    • Data do Fascículo
      Ago 2009
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