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Os bureaux de processamento de dados e seu mercado no Brasil

ARTIGOS

Os bureaux de processamento de dados e seu mercado no Brasil

José Rappaport

Professor contratado do Departamento de Métodos Quantitativos da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas

O presente trabalho baseia-se em uma recente pesquisa e análise do mercado atual e potencial para serviços de processamento de dados, na área São Paulo-Rio realizada pelo autor, em equipe, para o First National City Bank. Alguns dados foram, ainda, obtidos como resultado de um trabalho de consultoria externa contratada a uma firma especializada. A maioria dos números e valores citados é estimativa e válida para o último trimestre de 1970.

a) Distribuição da indústria de processamento de dados - O que se convencionou chamar de indústria de processamento de dados compreende basicamente fornecedores dessa indústria:

1. Fabricantes de computadores;

2. Bureaux de serviços de processamento de dados.

b) Fabricantes de computadores - Os fabricantes de computadores têm como principal atividade no mercado de computação, vender ou alugar computadores de sua fabricação. O caso mais freqüente é o aluguel, pois sendo um equipamento de rápida obsolescência e custo altíssimo o risco da compra se torna muito grande.

As maiores empresas que alugam ou vendem computadores no Brasil são:

Quanto à distribuição no mercado, pode-se dizer que 62,5% dos computadores instalados no Brasil -são IBM, e os restantes segundo a ordem apresentada.

Quanto ao valor, em aluguel mensal, desses computadores (rendimento do fabricante) a distribuição estimada é a seguinte:

Existem 512 computadores instalados no Brasil. Embora exista um grande número de computadores de segunda geração, os de terceira estão dominando ràpidamente o mercado, o que coloca o Brasil numa situação bastante adiantada em matéria de últimas inovações. A distribuição aproximada, estimada por nós, baseados em fontes diversas, por tipo de computador é a seguinte:

IBM-1460 (2.ª geração) 1 computador IBM-1401 (2.ª geração) 78 computadores IBM-1620 (2.ª geração) 5 computadores IBM-1360-Mod.20 (3.ª geração) 87 computadores IBM-136 -Mod.30 (3.ª geração) 53 computadores IBM-1360-Mod.25 (3.ª geração) 25 computadores IBM-1360-Mod.40 (3.ª geração) 20 computadores IBM-1360-Mod.44 (3.ª geração) 2 computadores IBM-1360-Mod.50 (3.ª geração) 2 computadores IBM-1360-Mod.65 (3.ª geração) 3 computadores IBM-1130 (3.ª geração) 43 computadores Burroughs B-200 (2.ª geração) 6 computadores B-300 (2.ª geração) 11 computadores B-500 (2.ª geração) 40 computadores B-3500 (3.ª geração) 32 computadores B-6500 (3.ª geração) 1 computador B-2500 (3.ª geração) 3 computadores

Vemos pelos dois maiores grupos de computadores, que é alta a porcentagem de computadores de terceira geração. Se analisarmos apenas os computadores que chegaram ao Brasil em 1970, poderemos ver que pràticamente todos são de terceira geração.

Uma análise das firmas que utilizam computadores no Brasil, mostrou-nos que existe uma razão média de 1,35 computadores por firma usuária, isto é, os 512 computadores estão instalados em 380 firmas.

A distribuição aproximada de firmas com Centros de Processamento de Dados próprios e computadores instalados por área de atividade é apresentada, no quadro 2, abaixo.


Com êsse número e qualidade de computadores, o Brasil se coloca como primeiro país em volume de computação na América do Sul, terceira nas Américas (depois dos Estados Unidos e México).

c) Papel dos bureaux de processamento de dados - Como os custos de manutenção de um centro de processamento de dados são muito altos, em determinados tipos de emprêsa, apenas certas aplicações justificam o uso de computadores, e o volume total de computação não justifica a instalação de um computador e manutenção de um centro de processamento de dados. Assim, o suprimento ao mercado de processamento de dados é completado por emprêsas que têm a finalidade de prestar serviços nessa área, mantendo um centro de processamento de dados do qual se utilizarão diversas firmas, que se beneficiarão com economias de escala provenientes da utilização mais intensa do computador e do centro (apoio, preparação, pessoal, experiência, etc), uma vez que um mesmo centro estará servindo a várias emprêsas e cada emprêsa pagará apenas pela parte utilizada, eliminando assim a ociosidade que haveria se o computador fôsse instalado nas dependências da firma apenas para seu uso.

Êsse foi o papel inicial a ser desempenhado pelos bureaux de processamento de dados. Entretanto, com a especialização, os bureaux passaram a desempenhar outras funções no mercado de processamento:

Block-time - aluguel de horas de computador do bureau a clientes que têm equipe de programação e seus próprios programas. Geralmente são os casos em que os clientes têm o seu computador lotado (épocas de pico), ou parado para manutenção, ou contratado e em pleno desenvolvimento de seus programas, ou, ainda, no caso de uma aplicação específica em que o cliente precisa de um tipo diferente do computador instalado.

Sistemas-padrão - Certas rotinas administrativas são mais ou menos iguais para um grande número de firmas (fôlha de pagamento, contabilidade, contrôle de estoques, contas correntes bancárias, etc.).

Ao invés, então, de desenvolver um sistema para cada firma (programação cara), os bureaux desenvolveram sistemas flexíveis que servem a vários clientes, que rateiam entre si os custos de desenvolvimento do produto e pagam, pràticamente, só o processamento, sem pagar programação. Nesse caso, o cliente deverá adaptar-se ao sistema-padrão do bureau.

Sistemas não-padrão com software contratado - Aqui, o cliente pede uma aplicação tôda especial e pagará todo o desenvolvimento (programação e anál ise) tornando-se proprietário do sistema. Normalmente, o processamento é feito posteriormente, pelo próprio bureau; às vêzes, entretanto, o cliente tem computador e usa êsse tipo de serviços para não aumentar muito sua equipe de programação em serviços ds urgência.

Consultoria - Normalmente ao prestar serviços aos clientes, os bureaux deveriam receber do cliente a definição de suas necessidades. Entretanto, na maioria dos casos, os clientes não estão preparados para essa definição (raramente têm setor de sistemas e métodos), criando a necessidade de um trabalho prévio de análise a ser efetuado pelos analistas do bureau. Essa consultoria prévia tem a inconveniência dos analistas poderem voltar-se mais para as futuras facilidades, que o bureau terá no processamento dos serviços, do que pràpriamente para as necessidades do cliente.

Educação - Dado o fato dos bureaux congregarem um número grande de pessoal técnico e dada, ainda, a grande falta de mão-de-obra especializada na área, alguns bureaux têm mantido cursos principalmente de programação, tanto para treinamento de pessoal de seus clientes quanto para terceiros em geral (empreendimento lucrativo).

Gerência de centros de dados - Esta atividade está apenas se iniciando no Brasil. Dada a falta de recursos humanos de gerência em processamento de dados (escassez de pessoal que reúna experiência técnica e administrativa), certos clientes instalam um centro de processamento de dados em suas dependências, e contratam serviços para gerenciar seu centro e programar e controlar tôdas as suas atividades. Aqui no Brasil, os bureaux estão ainda enfrentando seus próprios problemas na área gerencial, mas, acreditamos que dentro de dois anos, com o aumento do número de centros instalados, essa atividade poderá ser bastante explorada pelos bureaux.

Aluguel de software - Esta atividade pràticamente ainda não foi iniciada no Brasil, mas, também, dentro de dois a três anos deverá constituir-se em importante atividade para os bureaux. O bureau desenvolve sistemas bastante flexíveis e, mediante contrato, permite aos clientes o uso dêsse software por um pagamento mensal. Eventualmente, poderá vender o sistema ao cliente com cláusulas contratuais que não lhe permitirão nova revenda. Nos Estados Unidos existem casas especializadas nesses serviços; revistas e catálogos que indicam ao mercado onde comprar cada tipo de produto e por que preço. Isso, muitas vêzes, tem reduzido nos centros de dados a equipe de programação a 1/4 do tamanho que teria com desenvolvimento próprio. É quase possível nos Estados Unidos instalar um centro de dados com equipe de programação apenas para manutenção de programas.

Hoje os bureaux têm um papel preponderante no desenvolvimento da indústria de processamento de dados, pois permitem o acesso a essa indústria de firmas que não podem comportar um centro próprio.

No futuro êsse papel deverá mudar um pouco, constituindo-se em estabelecimentos altamente especializados, que deverão suprir o mercado em serviços sofisticado, como auxílio na implantação de sistemas de teleprocessamento, contrôle do desempenho de centros de dados, administração de equipamentos de grande porte dividido entre vários usuários (time-sharing), etc. De prestadores de serviços que vêm sendo até agora, passarão a atividades de consultoria em processamento de dados ao lado da prestação de serviços.

2. A ESTRUTURA DOS BUREAUX ATUAIS

Os bureaux atuais se constituem bàsicamente, de um ou mais computadores de médio a grande porte, apoiados por equipamentos convencionais e de preparação de dados (perfuradoras, conferidoras, classificadoras), uma equipe de programação geralmente única (para os serviços do próprio bureau ou externos), uma equipe de análise para serviços do próprio bureau e uma equipe de consultoria para análise externa.

Além disso, possuem setores administrativos de apoio e setores de comercialização de seus serviços. A estrutura acima é bastante genérica, sendo bastante subdividido cada setor (exemplo: operação = operação do computador + operação de convencional + preparação de dados + análise de inconsistência + contrôle de qualidade, etc.). Os setores básicos descritos permitem a prestação dos serviços diversos, apontados no primeiro item.

Quanto a sua origem, temos bureaux de fabricantes de computadores que, além das finalidades já descritas, servem ainda como apoio para a venda de contratos de equipamento (nas fases de implantação dos serviços); bureaux de grupos de firmas criados para atender às necessidades do grupo, podendo ou não oferecer serviços a terceiros fora do grupo; bureaux de emprêsa do govêrno, servindo atualmente a grandes projetos do govêrno federal ou dos governos estaduais; bureaux independentes criados já com a finalidade de se tornarem emprêsas prestadoras de serviços, a um mercado variável. A maioria dos dados, que serão apresentados neste artigo, referem-se principalmente a êste último tipo de bureau e aos bureaux de fabricantes, que se assemelham bastante a êstes, isto é, os dados valem para a prestação de serviços a terceiros.

2.1 Relacionamento cliente-bureau

Como os serviços atualmente prestados pelos bureaux são serviços da área administrativa e financeira de volume alto, mas não de alta sofisticação e complexidade, apenas no período de implantação dêsses serviços há um estreito relacionamento bureau-cliente. Após êsse período, o bureau se transforma em um elemento externo que recebe dados manuais preparados pela firma e devolve a ela dados elaborados Outputs preparados pelo computador. Desta forma, com a falta de um relacionamento mais estreito e a longo prazo e também de setores de sistemas dentro da emprêsa, o bureau não acompanha, muitas vêzes, a dinâmica do cliente, e os serviços, que na época da implantação eram compatíveis, podem tornar-se obsoletos (parcial ou totalmente), gerando-se com isso o turnover de clientes entre os burealix. (Muitas vêzes o cliente sente que o serviço não mais está atendendo as exigências, e atribui à ineficiência do bureau êsse não atendimento e procura nôvo bureau para reestudá-Io. Como o nôvo bureau estuda uma situação atual, êle consegue impressionar o cliente causando a mudança de bureau).

Atualmente, os bureaux vêm desenvolvendo mais seus setores de consultoria a fim de evitar êsse problema, e atuar mais como firmas de consultoria em sistemas, do que como prestadores de serviços externos.

2.2 Profundidade e sofisticação dos serviços

Atualmente, os bureaux estão ainda numa primeira fase, onde aplicações rotineiras da área administrativa e financeira constituem a maior parte de suas atividades.

Mesmo nesse tipo de serviços, pode-se notar que serviços simples vêm sendo oferecidos, ainda, como aplicações especiais para cada cliente, onerando bastante os custos do serviço (programação para cada cliente). Talvez pelo alto custo de fundos no Brasil, os bureaux não partiram ainda, de maneira decisiva, para investimentos em serviços padronizados, que rateados por um grande número de clientes poderiam diminuir bastante os custos gerais de programação e os preços gerais dos serviços. Nota-se que cada bureau tem apenas três ou quatro serviços que realmente podem ser considerados padrão, desenvolvendo todos os outros como aplicações especiais.

Devido aos altos custos de programação, causados por essa despadronização e para não onerar os clientes, acima cio que êstes esperam pagar por processamento de dados, as aplicações têm sido as mais simples, procurando em geral cobrir os serviços de alto volume de dados, mas não penetrando em áreas mais sofisticadas e que possibilitariam às emprêsas decisões mais rápidas e análises mais profundas. Aqui, cabe notar que a influência do fato de que o levantamento das necessidades do cliente é feito por analistas do bureau, que procuram às vêzes definir os sistemas, mais voltados para as facilidades que o bureau vai ter para sua operação, do que propriamente às necessidades reais do cliente.

Pode-se notar a ausência quase que completa de sistemas integrados sendo processados pelos bureaux. Vê-se, muitas vêzes, sistemas física e logicamente inter-relacionados, sendo processados totalmente de forma independente, com duplicação de Inputs e Outputs e sem resumos comparativos para análise. (Do ponto de vista do bureau, o serviço integrado teria muito mais tempo de estudos preliminares e implantação, aumentando muito o tempo entre a venda dos serviços e o faturamento dos mesmos, e os bureaux até agora não se dispuseram a financiar êsse tempo). Nas seções 3 e 4 dêste artigo, podemos concluir que o faturamento mensal médio por cliente de bureau no Brasil é da ordem de Cr$ 7 mil por mês, e analisando-se os preços dos diversos tipos de serviços prestados, conclui-se que para a grande maioria dos clientes os bureaux prestam, atualmente, serviços em uma só aplicação, o que confirma o não-acompanhamento pelo bureau da dinâmica e das necessidades de seus cl ientes e a falta de sistemas integrados.

3. CLASSIFICAÇÃO DOS PRINCIPAIS BUREAUX

3.1 Principais bureaux de serviços atuantes em São Paulo e Guanabara

Os bureaux de processamento de dados dividem-se, como já vimos, nas seções anteriores de acôrdo com seus objetivos em:

a) Bureaux de fabricantes. São quatro os fabricantes que mantêm bureaux de serviços no Brasil: IBM (São Paulo, Rio e outras cidades), Burroughs (São Paulo, Rio e outras cidades), Honeywell-Bull (São Paulo e Rio) e Siemens-RCA-ESC (São Paulo).

b) Bureaux independentes. Firmas cuja finalidade única é prestar serviços a terceiros. Existem cêrca de 16 bureaux independentes, na área São Paulo-Rio, dos quais os principais são: Datamec - Rio e São Paulo, ITI Data Services - Rio e São Paulo, Systems - São Paulo, Proconsult - São Paulo, Fluxo - São Paulo, Servimec - São Paulo, Squema - São Paulo, Orgastec - São Paulo, Meta - São Paulo Procede - São Paulo.

Afora a Datamec, que está no mercado há mais tempo, os outros pràticamente iniciaram suas atividades nos últimos quatro anos.

c) Bureaux de grupo de firmas. São emprêsas criadas para atender a um grupo de firmas, mas que, também prestam serviços a terceiros, considerando, porém, esta, uma atividade secundária. Existem cêrca de 26 bureaux de grupos, na área São Paulo-Rio, dos quais os principais são:

Sòmente em São Paulo: Servel, Eletroradiobraz, Auditec, Orgatex, Ajax, Negepar, Santa Paula, Eletrocloro.

Sòmente no Rio de Janeiro: Globex, Sulamec, Norbramec, Delfos, Walmap, Crefidata (também em Pôrto Alegre), Rio Data Center, Montreal.

São Paulo e Rio de Janeiro: Serma, Unicentro, Real.

d) Bureaux de emprêsas do Govêrno: SERPRO (federal) e PRODESP(govêrno do estado de São Paulo).

Ao todo há cêrca de 54 bureaux de serviços de processamento de dados na área São Paulo-Rio.

3.2 Classificação por faturamento anual estimado

O faturamento anual de 1970 para todo o mercado de bureaux de serviços de processamento de dados, na área São Paulo-Rio, foi da ordem de Cr$ 85 milhões (excluídos os bureaux de companhias do Govêrno e só incluindo, para bureaux de grupo, os serviços faturados a terceiros fora do grupo).

São Paulo é responsável por 59% dêsse valor e Rio 41%. Analisando os faturamentos de balanços publicados por alguns bureaux (S.A.) e estimando-se os outros comparativamente, chegamos à seguinte distribuição do mercado, em têrmos de faturamento anual de 1970:

IBM 25% Datamec 21% Burroughs 8% ITI Data Services 9% Systems 6% Proconsult 5,5% Honeywell-Bull 3% Servimec 3% Fluxo 3% Outros 17%

3.3 Perspectivas futuras do mercado

Como a grande maioria dessas emprêsas está no mercado há menos de quatro anos, e êsse período é o necessário para a estabilização das emprêsas e aquisição de experiência no ramo, acredita-se que haverá grande expansão dêsse mercado nos próximos cinco anos (estima-se uma média de 27% ao ano de crescimento nos próximos cinco anos para o faturamento global) devendo-se chegar, naquele ano, a cêrca de Cr$ 270 milhões (na área São Paulo-Rio).

Um dos fatôres principais dêsse crescimento será a intensificação da prestação de serviços de base pessoal (software contratado, consultoria em sistemas, gerência de centros de dados), alargando-se o mercado dos bureaux, também, para cliente que têm Centros de Processamento de Dados. Outro fator importante será o melhor preparo que terão as firmas para aceitar serviços de processamento de dados. Devemos, também, observar que nos próximos anos iniciar-se-ão trabalhos de teleprocessamento, o que também contribuirá para o crescimento do mercado.

4. DISTRIBUIÇÃO DO MERCADO PARA OS BUREAUX

Os dados apresentados nesta seção para o mercado potencial foram obtidos do anuário estatístico do IBGE em 1970 e poderão estar ligeiramente subestimados (10%), conforme outros dados obtidos do Departamento Nacional de Mão-de-Obra (mais completos).

Vamos definir cada setor do mercado que será dimensionado.

a) Emprêsas do Govêrno. Incluiremos, aqui, tôdas as emprêsas de contrôle oficial, exceto emprêsas de utilidade pública, que embora sob contrôle acionário oficial (federal ou estadual) tenham administração independente e instituições financeiras oficiais.

b) Utilidade pública. Emprêsas de energia elétrica, transportes, comunicações, etc., do Govêrno ou não.

c) Instituições financeiras. Bancos comerciais, bancos de investimento, corretoras, financeiras, distribuidoras, etc.

d) Indústria. Transformação, mineração e construção.

e) Comércio e serviços. Varejo, atacado e serviços diversos não financeiros, inclusive os próprios bureaux.

Chamaremos mercado potencial, o conjunto total de firmas candidatas a serviços de processamento de dados, e mercado atendido àquelas firmas que, ou tem CPD próprio ou são clientes de bureaux.

4.1 Mercado potencial e mercado atendido

Nossa pesquisa de mercado mostrou que as firmas que constituem o mercado potencial para serviços de processamento de dados na área comercial e industrial, são firmas com mais de 250 empregados ou mais do que Cr$ 5 a 6 milhões de faturamento anual. (Existem exceções, porém, em geral, firmas de dimensões menores que dificilmente se interessam por serviços de processamento de dados.) Para instituições financeiras, pelo tipo de rotinas administrativas que seguem (volume grande de dados e padronização de procedimentos), pode-se dizer que tôdas as instituições financeiras são candidatas a serviços de processamento.

Com essa definição, é o seguinte o mercado potencial em cada área (de acôrdo com o Anuário Estatístico, IBGE):

Já vimos, no primeiro capítulo, o número de firmas de Cada área de atividade que possuem centro de processamento próprios no Brasil. Admitiremos que 75% estão na área São Paulo-Rio.

Vamos admitir que, devido ao tipo de serviços que os bureaux vêm hoje oferecendo, as firmas que têm equipamento próprio não são candidatas a clientes de bureau (consideramos ser êsse um mercado já atendido).

Nosso estudo revelou ainda a seguinte distribuição de clientes atuais dos bureaux de serviços:

Emprêsas do Govêrno 150 Utilidades públicas 70 Instituições financeiras 140 Indústrias 390 Comércio e serviços 250 Total 1.000

Resumindo apenas as três últimas áreas de atividade, vemos no quadro seguinte o grau de atendimento de serviços de processamento de dados na área São Paulo-Rio:

Analisando o quadro 4, vemos que 60% das firmas, que têm potencial para serviços processados em computadores, não têm nenhum aplicação sendo processada.


Conquanto o fato de 40% do mercado residual ser atendido possa parecer um número alto, deve-se observar que, na maioria dos casos, uma só aplicação estará sendo processada pela firma, havendo necessidades não atendidas mesmo naquele grupo.

4.2 Principais necessidades do mercado

Nossa pesquisa realizada por investigação direta do mercado de São Paulo e Rio de Janeiro, mostrou as seguintes distribuições de prioridades de aplicações, por área de atividade, na opinião dos entrevistados (as prioridades aqui são consideradas tanto para o mercado não atendido quanto para o atendido):

Comércio e serviços

a) Contrôle de estoques;

b) Contabilidade;

c) Fôlha de pagamento;

d) Faturamento e contrôle de vendas;

e) Contrôle de custos;

f) Contas a receber;

g) Contrôle de crediário;

h) Contas a pagar.

Utilidades públicas

a) Faturamento;

b) Cobrança.

Instituições financeiras

a) Contas correntes bancárias;

b) Cobrança e desconto bancário;

c) Crédito direto e contrôle de letras de câmbio;

d) Fundos de investimento;

e) Seguro de vida.

Indústrias

a) Fôlha de pagamento;

b) Faturamento e vendas;

c) Contabilidade;

d) Contrôle de estoques

e) Contas a receber;

f) Contrôle de custos;

g) Contas a pagar;

h) Contrôle do ativo;

i) Fluxo de caixa e bancos.

Emprêsas do Govêrno

a) Fôlha de pagamento;

b) Contrôle de orçamentos e acompanhamento de projetos.

Analisando-se o resultado acima obtido, através de entrevistas diretas, nota-se que as firmas consideram suas maiores necessidades em têrmos de processamento, sistemas administrativos e financeiros simples, e as firmas não pensam (provàvelmente por desconhecimento) em sistemas integrados e sistemas analíticos que possam trazer, como resultado, uma administração melhor, pelos setores de decisão da emprêsa. Elas pensam, apenas a curto prazo, na diminuição de custo manual que traz a mecanização e menos nos proveitos futuros que se poderia tirar de sistemas mais complexos. O que acontece hoje, pràticamente, é a passagem do sistema que vinha sendo utilizado manualmente, para o computador, sem tirar proveito das oportunidades que êle oferece para a melhoria dos sistemas.

4.3 Perspectivas da evolução do mercado para processamento de dados

Vários fatôres nos fazem acreditar na extraordinária possibilidade de expansão do mercado para serviços de processamento:

a) as perspectivas de crescimento de tôdas as áreas de atividade conforme planos divulgados pelo Govêrno;

b) maior conhecimento, por parte das firmas, das possibilidades do computador, solicitando serviços mais sofisticados e deixando de lado a idéia do computador como contador muito rápido;

c) surgimento, no Brasil, de uma nova indústria, a da informação. Começam a surgir os primeiros bancos de dados no Rio e em Belo Horizonte, assim como em São Paulo uma emprêsa que pretende especializar-se em informações. Hoje em dia cada firma é obrigada a manter seus cadastros e não existem históricos individuais disponíveis. O único serviço nesse sentido é o da Sociedade de Proteção ao Crédito, que só fornece um tipo de informação para um serviço específico (fornecimento de crédito). Mesmo assim, baseia-se nos pecados anteriores cometidos pelo emprestador e não nas possibilidades que terá êsse emprestador de saldar a dívida a ser contraída. Faltam cadastros acessíveis para uma comunicação direta com indivíduos (mala direta selecionada) por parte de fornecedores (de revistas, de produtos especializados de financiamentos, de oportunidades de investimentos, etc.). O desenvolvimento dessa área significará um grande mercado para aplicação de computadores, principalmente para os bureaux de serviços;

d) novas aplicações derivadas de serviços que hoje estão em extraordinário desenvolvimento no Brasil (contrôle de títulos da Bôlsa - transferências, custódia de títulos e valôres, administração de carteiras, PIS, etc.):

e) atitude favorável das entidades do Govêrno, colaborando com diversas sugestões da SUCESU, no sentido da padronização de diversos documentos fiscais (cheque, duplicata, relações a serem apresentadas ao fisco) e padronização da contabilidade bancária como primeiro passo para a padronização das contabilidades ern geral, o que trará como conseqüência a unificação de quase todos os sistemas administrativos da emprêsa, que dessa forma poderá usar, também, planos-padrão de processamento de dados, diminuindo consideràvelmente os custos de desenvolvimento de software;

f) aparecimento de novas necessidades no mercado de serviços de base pessoal como programação contratada, gerência de centros de processamento, consultoria em processamento de dados e aluguel de software.

5. PRODUTOS HOJE OFERECIDOS PELOS BUREAUX, APLICAÇÕES UTILIZADAS E SUA IMPORTÂNCIA NO FATURAMENTO DOS BUREAUX

Já vimos que atualmente os bureaux prestam, principalmente, serviços em aplicações simples de rotinas administrativa e financeira e ainda alugam horas de computador a clientes que não podem, por qualquer motivo, usar seu próprio centro de dados ou, ainda que têm um contrato mas não instalaram ainda seu computador.

5.1 Distribuição dos serviços hoje prestados pelos bureaux por importância no faturamento

Apresentamos no quadro 5 a distribuição estimada dos rendimentos dos bureaux de processamento de dados em 1970, segundo o tipo de serviço prestado. Êsses diversos tipos de serviços podem ainda ser agrupados em:

a) Serviços de base pessoal 24% Consultoria e educação 8% Programação Contratada 13% Gerência de Centros 3% b) Serviços de base máquina 76% Aluguel de horas de máquina 21% Processamento de serviços 55%

A porcentagem de serviços de base máquina deverá diminuir nos próximos anos em favor de serviços de base pessoal, pois:

a) pessoal ficando mais experiente estará mais apto a oferecer consultoria, programação de sistemas sofisticados e gerência de centros.

b) aumentando o número de firmas que têm computador instalado, essa faixa de mercado dos bureaux solicitará predominantemente programação contratada, programação alugada e gerência de seus centros.

c) à medida em que os próprios bureaux forem crescendo, êles terão mais condições para investimentos na área de software, desenvolvendo sisternas complexos para posterior venda ou aluguel.

5.2 Distribuição dos rendimentos dos bureaux pelas aplicações específicas mais importantes

Em relação às aplicações específicas, é a seguinte a distribuição dos rendimentos dos bureaux provenientes de processamento dessas aplicações (serviços-padrão e não-padrão).

5.3 Número de produtos padrão em oferta no mercado por tipo de aplicação

Os produtos abaixo podem ser encontrados nos diversos bureaux, em sua forma-padrão ou adaptável a diversas emprêsas:

Uma série de outros produtos padronizados ou adaptáveis podem ser encontrados além dêstes, porém com, pràticamente, um só fornecedor: Contrôle de consórcios; Cartão de crédito; Ativo fixo; Emissão e contrôle de ações; Entradas e saídas de mercadorias (lCM); Contrôle de seguro de vida; Tabulação e pesquisa de mercado; Faturamento para emprêsas de utilidade pública; Contrôle de ações para corretoras; etc.

5.4 Evolução dos Serviços Prestados

a) Consultoria

Atualmente a consultoria representa para os bureaux uma maneira de definir nos clientes, suas necessidades em processamento de dados. É, portanto, uma atividade preparatória para a implantação de um serviço de processamento de dados. Alguns bureaux oferecem, ainda, consultoria geral em sistemas como um elemento de fixação da imagem do bureau, dando caráter de alto nível técnico.

Analisando-se as taxas cobradas por hora de pessoal, e os salários dêsse mesmo pessoal, vê-se que os bureaux não consideram que a atividade de consultoria deva ser lucrativa, mas, apenas cobrir os custos e criar boa imagem para a firma.

Em futuro próximo, quando os bureaux passarem a dar consultoria em processamento de dados (orientação de implantação de centros), essa atividade expandir-se-á e, provàvelmente, também sua conceituação para um setor de lucros do bureau. O aumento esperado de número de computadores instalados no Brasil oferece boa perspectiva a êsse serviço.

b) Educação

Hoje o mercado é suprido por pequenas firmas fundadas por ex-programadores ou analistas, que dão cursos rápidos de elementos básicos e programação, sem exigir dos alunos qualquer pré-requisito, o que limita bastante o nível dêsses cursos.

Alguns bureaux desenvolvem essa atividade paralelamente, e têm conseguido com essa atividade, se não altos lucros, a propagação e popularização do nome da emprêsa. Quando os cursos são dados, em convênio com certas emprêsas ou sindicatos, para chefes de seção (exigindo certos pré-requisitos), fixam a imagem da emprêsa como sendo de alto gabarito.

Essa atividade não sofrerá muitas modificações nos próximos anos, pois a educação em um nível mais alto e sofisticado deverá ser suprida por escolas superiores.

c) Programação contratada

Não existem hoje, no Brasil, casas especializadas em programação. Hoje, em dia, os bureaux suprem essa área como parte de suas atividades e, normalmente, o processamento também será feito pelo próprio bureau. Devido à pequena margem de lucro das atividades de base pessoal (alto salário e baixa produtividade) os bureaux não se interessam por programação contratada que não seja, no futuro, processada pelo próprio bureau.

Entretanto, com a especialização do pessoal de programação (melhor produtividade) e aumento do número de computadores instalados (maior mercado) essa poderá ser, em um futuro próximo, uma atividade lucrativa levando-se ainda em conta o pequeno investimento necessário.

d) Gerência de centros de dados

Tem as mesmas perspectivas de consultoria e programação, para o futuro, baseada no aumento de computadores instalados. Atualmente, só é realmente exercida por um dos bureaux, e não existe ainda experiência suficiente para que êles ataquem essa área. Progressivamente, entretanto, os dois fatôres conjugados (aumento de experiência e do mercado) deverão expandir muito essa atividade.

e) Aluguel de equipamento

Hoje, o aluguel do equipamento e periféricos se faz bàsicamente por cessão, por tempo determinado. Em um futuro próximo, com aperfeiçoamento dos sistemas de telecomunicações, poderemos ter grandes computadores ligados por terminais a diversos clientes, que o usarão em time-sharing ou real time. Para isso, será necessário ainda a evolução técnica dos bureaux, pois além do hardware deverão estar capacitados, também, a oferecer software ao usuário. Poderemos ter, dentro dos próximos cinco anos, as utilities, firmas que alugam hardware e software e, às vêzes, também os terminais. É uma atividade altamente lucrativa, pelas economias de escala que consegue, porém, necessita enormes investimentos quer no computador como nos sistemas de transmissão e no software.

f) Prestação de serviços padronizados e não padronizados.

Será sempre um dos grandes geradores de rendimentos para os bureaux. A grande transformação que deverá haver, será principalmente a passagem de sistemas simples e isolados como o é hoje, para sistemas mais sofisticados e integrados, onde vários setores da emprêsa são automatizados num fluxo único de informações. Os sistemas sofisticados e integrados pelo impacto que provocarão nas emprêsas, poderão fugir as faixas atuais de preços, e embora haja necessidade de um investimento bem maior para que se desenvolva uma aplicação integrada em relação às individuais, os lucros decorrentes deverão ser bem maiores, além do atendimento bem melhor às necessidades dos clientes, diminuindo seu turnover.

6. EQUIPAMENTOS E PESSOAL HOJE EM USO NOS BUREAUX

6.1 Equipamentos usados nos principais bureaux

Analisando os diversos equipamentos, que vêm sendo usados pelos diversos bureaux, nossa pesquisa mostrou que o número total de computadores em bureaux é da ordem de 81 (na área São Paulo-Rio, sem contar os bureaux dos governos).

Dêsses 81 computadores, 37 estão instalados no Rio de Janeiro e 44 em São Paulo.

Observa-se que os bureaux de processamento de dados conquanto sejam apenas 54, detêm em tôrno de 20% de todos os computadores instalados no Brasil.

Quanto à atualização, 38 são computadores de segunda geração, enquanto 43 são de terceira geração.

Em relação ao tipo de bureaux, nossa pesquisa revelou ainda que 49 computadores estão instalados em bureaux independentes, enquanto 32 em bureaux de grupos.

A seguir, damos uma lista dos principais bureaux e equipamentos utilizados em São Paulo e Rio.

São Paulo Rio de Janeiro IBM Dois /360-Mod. 40 Três /360-Mod. 40 Um /360-Mod. 30

Dois /360-Mod. 20

Um 1130 DATAMEC Um /360-Mod. 25 Um /360-Mod. 30 Um B-3500 Dois IBM-1401 Um B-500 Um B-3500 Um B-200 ITT Data Services Um /360:Mod. 50 Um /360:Mod. 50 Um /360:Mod. 30 Um /360:Mod. 20 SYSTEMS Um /360-Mod. 30 BURROUGHS Dois B-3500 Dois B-3500 Dois B-500 Quatro B-500 Dois B-300 Um B-300 FLUXO Um 360-Mod. 40 PROCONSULT Um BM-1410 Um B-3500 SERVIMEC Um B-500 HONEYWELL-BULL UM GE.55 UM GE.55 Um GAMMA 10 Dois GAMMA 10 Um GE-120 Um GE-400

Em relação ao número de horas utilizadas, estima-se que o número total de horas é da ordem de 20 mil/mês distribuídas em 9200 (46%) no Rio e 10800 (54%) em São Paulo. Dessas 20 mil horas mensais, 16 mil são usadas por bureaux independentes e de fabricantes, e apenas 4 mil por bureaux de grupos (em serviços para terceiros fora do grupo).

Embora nada se possa dizer quanto ao aproveitamento real dessas 20 mil horas, sabe-se que os bureaux faturaram, em 1970, cêrca de Cr$ 85 milhões, a média mensal foi de cêrca de Cr$ 7 milhões, ou seja, uma média de Cr$ 350,00por hora de computador utilizada, revelando um aproveitamento global médio baixo, se levarmos em conta que o aluguel da hora de máquina somente vai de Cr$ 250,00para equipamentos de menor porte (1401, /360 modo30, B-500) até cr$ 1 mil para equipamentos de grande porte.

6.2 Pessoal técnico dos bureaux

Na área São Paulo-Rio de Janeiro, o pessoal de análise e programação e operação de computadores que trabalha nos bureaux, é cêrca de 900.

A distribuição estimada é a seguinte: 295 gerentes, analistas de sistemas e analistas de programação (nível de analistas) 605 programadores e operadores

Em têrmos salariais, o primeiro grupo (nível de análise) tem média salarial de Cr$ 3900,00 por mês, sendo os valôres distribuídos desde programadores-analistas até analistas-consultores e gerentes de análise com salários superiores a Cr$ 8 mil. Quanto a programadores, as médias salariais situam-se em tôrno de Cr$ 2500,00 para programadores Cobol e Cr$ 3 mil a Cr$ 3 500,00para programadores em Assembler. Operadores de computadores têm média salarial de Cr$ 1 500,00,com uma variabilidade bastante grande em tôrno dêste valor.

7. CONCLUSÕES

Esperamos ter dado, neste artigo, uma visão quantitativa e qualitativa do que é hoje, e como evoluirá, esta atividade, nova entre nós, mas fadada a uma expansão e sucesso muito grandes, como se pode depreender dos resultados alcançados em países mais adiantados. Na maioria dos casos, os dados apresentados são estimativos, mas acreditamos que a relação entre os diversos mercados, produtos e fornecedores sejam muito próximos da realidade. É um setor em extraordinária expansão, que poderá estar bastante modificado já em fins de 1971. É um setor que hoje serve um pequeno número de firmas, mas que está ràpidamente se popularizando e deverá até 1975,atingir pràticamente todo o seu mercado potencial.

  • 1 A ser tomado pelo SERPRO em 1971.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      28 Maio 2015
    • Data do Fascículo
      Set 1971
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