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A revolução gerenciada: educação no Brasil, 1995-2002

RESENHAS BIBLIOGRÁFICAS

Eliane Maria Pires Giavina Bianchi

(FEA/USP)

A REVOLUÇÃO GERENCIADA: EDUCAÇÃO NO BRASIL, 1995-2002. Paulo Renato Souza. São Paulo: Prentice Hall, 2005. 264 p. ISBN 8376050285.

A educação é sempre tema muito atual, uma vez que qualquer análise ou discussão sobre desenvolvimento de uma nação, ou mesmo sobre o desenvolvimento mundial, passa por um resgate histórico do foco e relevância do modelo educacional desenvolvido.

Em A revolução gerenciada, o ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza relata seu trabalho na gestão do ministério da educação entre 1995 e 2002. Provavelmente, a escolha do título do livro se deva ao fato de que sua gestão viabilizou uma revolução no ensino do país e este processo se deu de forma arquitetada e planejada.

A revolução está basicamente ligada à melhora do ensino fundamental e à reforma do ensino médio - focos da sua gestão. No período de 1995 a 2002, ela promoveu a universalização do ensino fundamental (aumento de 88 para 97% de presença de crianças na escola entre oito e catorze anos de idade).

A aprovação do Fundef (Fundo de desenvolvimento do ensino fundamental e valorização do magistério) foi fundamental para o processo de expansão do ensino. Seu objetivo era o de regular: os recursos direcionados à educação, gasto médio por aluno, subsídio do governo e aumento do salário dos professores, entre outros. A qualidade do ensino foi garantida com medidas como: atenção diferenciada ao censo escolar, a bolsa escola federal e programas de garantia da qualidade da educação básica com ações de capacitação de professores, avaliação de livros didáticos, TV escola, aceleração escolar (hoje analisada de forma controversa) e acesso aos fundos de recursos que ajudaram o investimento do governo em sua estrutura descentralizada.

O Provão (nome dado pelo povo) parece ter sido a medida mais polêmica de sua gestão. Com resistência por parte do governo, da população em geral, de estudantes, e do próprio magistério, o exame do ENEM contribuiu para acreditação de entidades de ensino e vários cursos de ensino superior foram extintos.

Com relação ao processo gerenciado de mudança, o relato do ex-ministro enfatiza questões como a realização de planejamento estratégico em equipe (pré e póseleição), a contínua realização de diagnósticos e propostas de ação, e a atuação interativa e participativa do ministério junto ao Congresso, a população em geral e as entidades distribuídas nos governos de Estados e Municípios.

Três pontos merecem especial atenção no livro: o resgate histórico do processo de educação no país, o trabalho realizado com o uso do tripé informação, avaliação e comunicação e as situações de bastidores que envolveram várias das medidas desenvolvidas. De forma relativamente sucinta, o ex-ministro descreve o caráter elitista da evolução da educação no Brasil, que gerou pouco acesso à escola e desigualdade social e regional. Também reforça o papel do governo militar que ampliou muito o acesso à educação, apoiando o desenvolvimento do Brasil até a década de 80 e, analisa a equação não equilibrada: muito gasto do governo com a educação para pouca eficiência no resultado.

O tripé - informação, avaliação e comunicação - parece ter sido o ponto forte de seu trabalho. O acesso à informação foi revolucionado e garantido com a implantação de sistemas de informação. A avaliação das mudanças foi realizada por entidades independentes, garantindo a imparcialidade de coleta de dados e análise. São, também, reportadas campanhas extensas e bem arquitetadas de comunicação para sensibilizar a população sobre as mudanças e ganhos alcançados.

Os bastidores de trabalho são detalhadamente reportados, mencionando vários de seus atores. Paulo Renato reconhece desempenhos importantes na sua equipe e, quando cita votações, costuras realizadas e posturas de nomes da oposição no governo, o faz com muito respeito e imparcialidade.

Vale a pena, também, ressaltar a visão e o perfil do ex-ministro Paulo Renato. Sua visão de educação tem como pano de fundo a sociedade do conhecimento e a globalização do cidadão. O sistema educacional deve contribuir para o desenvolvimento da capacidade de aprendizado do indivíduo de forma generalista, democrática e humanista. Além disso, deve ser permanente, com idas e vindas entre o mercado de trabalho e a academia. Deve, também, privilegiar o uso da tecnologia. Essa visão sofre influência da sua experiência de trabalho. O exministro trabalhou nas Nações Unidas, foi gerente de operações no BID, reitor da Unicamp e secretário de educação do governo do Estado de São Paulo, antes de sua atuação como ministro da educação no referido período.

O livro, que conta com prefácio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, é indicado para profissionais da área da educação, gestores e todos aqueles que acreditam na educação como instrumento de mudança e base para o desenvolvimento de uma nação. Apesar do material denso, e bastante descritivo, o livro traz várias informações estatísticas sobre a evolução dos índices de educação no Brasil, e incentiva o pensamento crítico do leitor sobre as bases de desenvolvimento e direcionamento do país.

No início de um novo governo com seus novos planos, incluindo os de crescimento do país, não há nada mais oportuno do que entender como são tomadas as decisões na esfera política, qual é o impacto da amplitude geográfica e da diversidade regional do país e como a educação pode ser uma condição determinante para o nosso desenvolvimento econômico.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Set 2008
  • Data do Fascículo
    Set 2008
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