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Editorial

Apresentamos a nova edição da Revista de Administração Contemporânea (RAC), composta por seis artigos. Os trabalhos dessa edição mostram a diversidade de temas e de abordagens metodológicas em estudos na área de administração.

No primeiro artigo, Orientação Empreendedora: Um Estudo das Dimensões e sua Relação com Desempenho em Empresas Graduadas, Fábio Lazzarotti, Alissane Lia Tasca da Silveira, Carlos Eduardo Carvalho, Carlos Ricardo Rossetto e Jonatha Correia Sychoski estudam a “orientação empreendedora (OE) em suas dimensões – comportamento inovador, assunção de riscos, proatividade, autonomia, agressividade competitiva e redes de relações – e sua associação com o desempenho das empresas graduadas das incubadoras brasileiras”.

O segundo artigo, Teoria do Equilíbrio Pontuado nas Políticas Públicas Brasileiras: O Caso do Ceará, de Hugo Consciência Silvestre e Joaquim Filipe Ferraz Esteves de Araújo, busca “depreender quais as receitas de cada um dos municípios … que melhor descrevem e auxiliam a opção política de investimento local”, concluindo-se que “nos governos locais do Ceará o investimento público apresenta períodos de estabilidade seguido por períodos de grande alteração dos orçamentos”.

Já o terceiro artigo, Orgulho de Ser Brasileiro Impacta o Nível de Felicidade?, de Luciana Massaro Onusic e Wesley Mendes-da-Silva, “verifica a existência de associações entre o sentimento de orgulho nacional e o nível de bem-estar dos indivíduos” utilizando-se “dados pertencentes a um survey realizado anualmente pelo Latinobarómetro, relativos aos anos 2000 e 2009”.

No quarto artigo, Pague e Peque: Uma Arqueologia do Discurso do Adultério Mercadorizado, Thiago Ianatoni Camargo e André Luiz Maranhão de Souza Leão investigam “como o discurso da mercadorização do adultério se alicerça nas práticas discursivas dos ofertantes de serviços de encontros extraconjugais”, analisando o “alinhamento à ética do consumo contemporâneo”.

O quinto artigo, Análise da Competitividade da Cadeia Produtiva do Leite em Pó Integral, de João Batista de Freitas, Jean Philippe Palma Revillion e Luiz Clovis Belarmino, analisa “a competitividade de três cadeias produtivas do leite em pó integral no Rio Grande do Sul (Brasil), com três diferentes níveis tecnológicos (baixo, médio e alto) no elo de produção de matéria-prima”, utilizando “o instrumentoPolicy Analysis Matrix (PAM), desenvolvido por Monke e Pearson (1989)”.

Finalmente, no sexto artigo, Estilo de Liderança, Controle Gerencial e Inovação: Papel das Alavancas de Controle, de Ana Paula Capuano da Cruz, Fábio Frezatti e Diógenes de Souza Bido, os autores exploram “o estilo de liderança como um antecedente da definição de uso do sistema de controle gerencial (SCG) e o papel de seus diferentes tipos de uso na inovação tecnológica”.

Considerando as orientações do manual de Boas Práticas da Produção Científica para o caso de “publicação de artigo de autoria de dirigentes das instituições mantenedoras do periódico ou de quaisquer dos integrantes do Comitê de Política Editorial ou do Corpo Editorial Científico”, evidenciamos que a avaliação do artigo de autoria de Fábio Frezatti e Diógenes de Souza Bido (membros do Conselho Editorial da RAC) seguiu o padrão de avaliação do periódico, assegurando-se isenção e independência.

Nessa edição, vamos aproveitar e discutir rapidamente alguns elementos associados ao uso de bibliometria na avaliação de desempenho de pesquisa, tema sempre polêmico. A proximidade das avaliações da CAPES dos programas de pós-graduação exacerba a discussão.

De acordo com Waltman, Eck e Wouters (2013)Waltman, L., Eck, N. J. van, & Wouters, P. (2013). Counting publications and citations: is more always better? Journal of Informetrics, 7(3), 635-641. doi: 10.1016/j.joi.2013.04.001
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, a presunção geral, quando se trata do uso de técnicas bibliométricas para fins de análise de pesquisas, é de que quanto mais, melhor. Por exemplo, quanto maiores a quantidade de publicações e o número de citações, melhor o desempenho (Waltman, Eck, & Wouters, 2013Waltman, L., Eck, N. J. van, & Wouters, P. (2013). Counting publications and citations: is more always better? Journal of Informetrics, 7(3), 635-641. doi: 10.1016/j.joi.2013.04.001
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). No entanto, o impacto científico, tanto qualitativo quanto quantitativo, não necessariamente se reflete em indicadores numéricos simplistas que levam em consideração valores absolutos.

Deve-se observar que, no caso brasileiro, um dos aspectos de avaliação de programas de pós-graduação envolve uma combinação de valores quantitativos por produção docente em periódicos categorizados em diferentes estratos. Quantidade de trabalhos publicados e classificação do periódico são, portanto, os principais elementos da avaliação de desempenho. Aspectos mais específicos do pesquisador ou do impacto da pesquisa, como número de citações recebidas, não são considerados na avaliação.

Métricas mais elaboradas como o índice h (Hirsch, 2005Hirsch, J. E. (2005). An index to quantify an individual's scientific research output. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 102(46), 16569-16572. doi: 10.1073/pnas.0507655102
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, 2007Hirsch, J. E. (2007). Does the h index have predictive power?Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 104(49), 19193-19198. doi: 10.1073_pnas.0707962104
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) e o índicehigh cited publications index (HCP), analisados em Waltman e Eck (2012)Waltman, L., & Eck, N. J. van (2012). The inconsistency of the h-index. Journal of the American Society for Information Science and Technology, 63(2), 406-415. doi: 10.1002/asi.21678
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, Waltman et al. (2013)Waltman, L., Eck, N. J. van, & Wouters, P. (2013). Counting publications and citations: is more always better? Journal of Informetrics, 7(3), 635-641. doi: 10.1016/j.joi.2013.04.001
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e Bornmann (2013)Bornmann, L. (2013). A better alternative to the h index.Journal of Informetrics, 7(1), 100. doi: 10.1016/j.joi.2012.09.004
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, levam em consideração número de artigos e número de citações, possibilitando ainda diminuir distorções implícitas nas métricas de quantidade absoluta, sendo robustos a situações extremas de trabalhos que apresentam número relativamente baixo ou alto de citações (Waltman et al., 2013Waltman, L., Eck, N. J. van, & Wouters, P. (2013). Counting publications and citations: is more always better? Journal of Informetrics, 7(3), 635-641. doi: 10.1016/j.joi.2013.04.001
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).

Mais especificamente para o estabelecimento de rankings de autores,Marchant (2009aMarchant, T. (2009a). Score-based bibliometric rankings of authors.Journal of the American Society for Information Science and Technology, 60(6), 1132-1137. doi: 10.1002/asi.21059
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, 2009bMarchant, T. (2009b). An axiomatic characterization of the ranking based on the h index and some other bibliometric rankings of authors.Scientometrics, 80(2), 325-342. doi: 10.1007/s11192-008-2075-y
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) apresenta alguns elementos axiomáticos que possibilitam orientações matemáticas formais. Embora rankings possam ser questionados e que um ordenamento totalmente correto não seja possível (Marchant, 2009bMarchant, T. (2009b). An axiomatic characterization of the ranking based on the h index and some other bibliometric rankings of authors.Scientometrics, 80(2), 325-342. doi: 10.1007/s11192-008-2075-y
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), a classificação a partir de modelagem matemática previne inconsistências lógicas. Assim, Marchant (2009a)Marchant, T. (2009a). Score-based bibliometric rankings of authors.Journal of the American Society for Information Science and Technology, 60(6), 1132-1137. doi: 10.1002/asi.21059
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analisa axiomas relevantes para a definição derankings, tornando a avaliação de desempenho comparativa menos dependente da definição de um índice específico.

Se por um lado uma formulação mais rigorosa implica menor susceptibilidade a inconsistências, por outro, envolve uma maior complexidade e uma menor compreensão dos próprios pesquisadores cuja produção será avaliada e classificada. A avaliação de desempenho da produção científica é bastante complexa e, portanto, uma ampla discussão sobre mecanismos e métricas de produção científica é pertinente, uma vez que tanto critérios subjetivos quanto fundamentações com rigor matemático podem ser levados em consideração.

Embora modelos de classificação possam ser sempre questionados, estudos para definição de notas, específicos para as áreas de ciências sociais aplicadas e que são fundamentados, por exemplo, por pesquisas bibliométricas, podem tornar o processo de avaliação mais transparente e possibilitar uma maior consistência de critérios. A consistência dos mecanismos de avaliação, por sua vez, permite movimentações estratégicas mais efetivas para aumento do desempenho e influência das nossas pesquisas.

Desejamos a todos uma boa leitura.

Referências

  • Bornmann, L. (2013). A better alternative to the h index.Journal of Informetrics, 7(1), 100. doi: 10.1016/j.joi.2012.09.004
    » https://doi.org/10.1016/j.joi.2012.09.004
  • Hirsch, J. E. (2005). An index to quantify an individual's scientific research output. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 102(46), 16569-16572. doi: 10.1073/pnas.0507655102
    » https://doi.org/10.1073/pnas.0507655102
  • Hirsch, J. E. (2007). Does the h index have predictive power?Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 104(49), 19193-19198. doi: 10.1073_pnas.0707962104
  • Marchant, T. (2009b). An axiomatic characterization of the ranking based on the h index and some other bibliometric rankings of authors.Scientometrics, 80(2), 325-342. doi: 10.1007/s11192-008-2075-y
    » https://doi.org/10.1007/s11192-008-2075-y
  • Marchant, T. (2009a). Score-based bibliometric rankings of authors.Journal of the American Society for Information Science and Technology, 60(6), 1132-1137. doi: 10.1002/asi.21059
    » https://doi.org/10.1002/asi.21059
  • Waltman, L., & Eck, N. J. van (2012). The inconsistency of the h-index. Journal of the American Society for Information Science and Technology, 63(2), 406-415. doi: 10.1002/asi.21678
    » https://doi.org/10.1002/asi.21678
  • Waltman, L., Eck, N. J. van, & Wouters, P. (2013). Counting publications and citations: is more always better? Journal of Informetrics, 7(3), 635-641. doi: 10.1016/j.joi.2013.04.001
    » https://doi.org/10.1016/j.joi.2013.04.001

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Nov-Dec 2015
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