Acessibilidade / Reportar erro

Uma antropologia queer do liberalismo: Etnografando liberdades minoritárias na favela da Rocinha

LINO E SILVA, Moisés. Liberalismo minoritário: vida travesti na favela.1ª edição. Lisboa/São Paulo: Edições 70, 2023. 316 pp.

Estranhando o liberalismo: vivenciando outras formas de liberdade 1 1 O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

“O que acontece quando levamos a sério a possibilidade de o liberalismo ser flexionado por sujeitos considerados desviantes em termos de gênero e sexualidade, subalternos em termos de classe e marginais em termos de poder?” ( Lino e Silva, 2023LINO E SILVA, Moisés. 2023. Liberalismo minoritário: vida travesti na favela. Lisboa e São Paulo, Edições 70.: 13). Essa talvez seja a questão principal levantada por Moisés Lino e Silva no seu livro traduzido recentemente para o português, Liberalismo Minoritário: vida travesti na favela ( 2023LINO E SILVA, Moisés. 2023. Liberalismo minoritário: vida travesti na favela. Lisboa e São Paulo, Edições 70.). Nessa excitante etnografia sobre a favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, o autor debruça-se sobre as liberdades vivenciadas pelos moradores do território, especialmente, pessoas cuja expressão, identidade e/ou performance de gênero e sexualidade desviam-se da cisheteronormatividade – seus amigos queer da favela.

Sua análise etnográfica não deriva do que o autor chama de “liberalismo normativo”, cuja base filosófica ocidental se refere a “um conjunto dominante de modos da liberdade baseada na prescrição do individualismo, da autonomia, da propriedade privada e, ao mesmo tempo, da dependência da proteção estatal, como sua marca registrada” ( Lino e Silva, 2023LINO E SILVA, Moisés. 2023. Liberalismo minoritário: vida travesti na favela. Lisboa e São Paulo, Edições 70.: 11). Em paralelo, Lino e Silva etnografa diferentes expressões e práticas de liberdade minoritária, em lugares que não se imaginava existir: no cotidiano de uma favela brasileira. Por isso, afirma o autor, a favela pode ser interpretada como uma heterotopia liberal.

Segundo Foucault (2014), as heterotopias são lugares reais, sociais e historicamente localizados, mas se produzem fora da “norma”. Esses espaços são caracterizados por uma relação ambígua com os territórios que os cercam e uma função específica, justapondo posicionamentos supostamente incompatíveis entre si. Tornando-se um espaço que reflete e desafia as normas e valores da “normatividade”, eles passam a oferecer alternativas de pensar e agir. Lino e Silva ( 2023LINO E SILVA, Moisés. 2023. Liberalismo minoritário: vida travesti na favela. Lisboa e São Paulo, Edições 70.) percebe as favelas como espaços heterotópicos do liberalismo onde, embora se presumisse superficialmente não haver liberdade, não param de produzir múltiplas formas de “liberdades minoritárias”.

A obra oferece um desafio à estabilidade desse liberalismo normativo, oferecendo novas formas de pensar a liberdade ou, mais precisamente, deformando essa liberdade normativa a partir das liberdades minoritárias produzidas na favela da Rocinha. Seu esforço é de tornar estranho esse conceito tão difundido, defendido e familiar que é a liberdade e seu aparato normativo. Ao desestabilizar conceitos e propor novas reflexões, Moisés Lino e Silva nos leva a repensar nossas próprias ideias sobre liberdade, e nos convida a construir novos horizontes de pensamento sobre esses temas fundamentais.

Quebrando o pacto antropológico: tornando-se amigo

Como vai se percebendo ao longo do livro, a amizade se torna uma potente relação no trabalho de campo da favela da Rocinha, e o pesquisador constantemente caracteriza seus interlocutores como “meus amigos queer”, embora também existam inimizades e relações indesejáveis. A amizade, nas tessituras de sua reflexão, implica e constitui distintas questões éticas que são trabalhadas minuciosamente ao longo da narrativa etnográfica. Seu ponto de partida é proveniente da questão que irá pairar sobre todo universo da obra: a dramática morte de sua amiga, Natasha Kellem Bündchen, uma travesti que migrou para Rio de Janeiro e definia-se como “uma piranha libertina!”. O livro, afirma Moisés Lino e Silva, é uma forma de honrar sua amizade, de maneira que não foi capaz antes.

Toda costura de sua etnografia partirá de rememorações de sua relação com Natasha e de outros amigos queer da Rocinha. Essa é uma forma interessante de produção do trabalho de campo e, sobretudo, de construir uma linha narrativa coerente com a experiência. Friso, no entanto, que em vez de se limitar à narrativa individual da biografia de Natasha, Lino e Silva propõe analisar um modo coletivo queer na favela, a partir das liberdades vivenciadas por seus amigos e suas amigas queer – um assemblage entre os modos de vida queer e suas liberdades minoritárias.

No esforço de honrar essa história, o antropólogo narra delicadamente sua aproximação com Natasha, em 2009, relação que começou quase como um flerte, um encantamento libertino, e se tornou uma importante amizade em suas vidas. Residindo na Rocinha há alguns anos, Natasha migrou do Ceará, buscando vivenciar a liberdade de ser travesti na “cidade maravilhosa”. Como parte da tradição antropológica, o etnógrafo buscou construir um trabalho de campo profundo e extenso constituído, principalmente, por diversos períodos de estadia na comunidade durante a pesquisa doutoral, entre os anos de 2009 e 2010, idas recorrentes nos anos seguintes, e contatos por meio de redes sociais e por telefone, o que implicou na construção de intimidades particulares entre ele e os moradores da Rocinha. Muito embora Lino e Silva dê ênfase às experiências de seus amigos queer, os outros moradores não são ignorados, tornando-se parte fundamental da construção etnográfica, o que demonstra uma complexa relação entre vida queer e o cotidiano na favela.

A escrita do autor é baseada em suas aproximações de campo, nas quais ele não hesita em demonstrar suas angústias, medos e dúvidas, tornando-se um dos pontos mais poderosos de sua etnografia. O autor não se furta a refletir sobre sua presença nas relações de campo, como se vê na descrição que faziam dele como “bicha-boy burguesa”, como eram chamados ele e outros homens gays cisgêneros, embora o uso do termo em inglês e sua atribuição à burguesia indique uma crítica ao privilégio do antropólogo branco, externo à favela. Por isso, a análise e suas reflexões não emergem de um momento separado do campo; a produção etnográfica de Moisés Lino e Silva se faz em campo e na escrita. Constantemente, o autor provoca uma proliferação de narrativas, concepções e opiniões, contrastando diversas vezes os limites de sua compreensão e o estranhamento de suas ideias preconcebidas. O mais belo de seu livro é certamente a possibilidade de ver a etnografia sendo construída em suas mãos, em um delicado trabalho de compreender as experiências, questionar-se e provocar novas possibilidades de se fazer no mundo.

Uma das cenas mais dramáticas narradas em sua etnografia é seu reencontro com Natasha, em 2012. Ao retornar do trabalho de campo para Europa, onde realizava o doutorado, o autor se viu distante de suas relações da favela, mas buscava restituir com idas constantes ao Rio de Janeiro. Nesse ano, numa dessas idas, rememorando melancolicamente a área onde costumavam morar, o antropólogo não deixa de pensar em Natasha, sobretudo porque ambos tinham perdido o contato e ele não conseguia a encontrar. Ainda que perguntasse aos seus vizinhos e seus amigos, ninguém sabia seu paradeiro: “As semanas seguintes foram de pura agonia. Circulei dentro e fora da favela. Subi e desci a Rua do Valão várias vezes, deixando recado aqui e ali: — Você viu a Natasha?” (: 68).

O antropólogo só descobriu o paradeiro de sua amiga quando conversou com o primo de Natasha. De acordo com ele, sua amiga brigou com todos, cortou relação com a família “de sangue” e afastou-se dos amigos. Entre os becos e as vielas da Rocinha, Lino e Silva finalmente a encontra, morando com Vavá, um de seus amigos. Natasha não estava bem. Vavá pôs uma cama no centro de sua sala. “Toda a vitalidade dela parecia desbotada quando encontrei minha amiga febril, em cima de uma cama suada” (: 269). Nesse dia, não houve as risadas tão comuns em seus encontros. Encontrá-la em tal estado provocara no autor uma angústia sensivelmente narrada no primeiro capítulo. A suspeita de Vavá e de Moisés era de que Natasha fosse HIV positiva, o que fez o antropólogo considerar levá-la ao hospital e iniciar o tratamen to. No entanto, ela recusou. Vavá, na ocasião, perguntou: “O que você vai fazer? Vai forçar a mulher a ir?” (: 81).

A situação de Natasha se agravou e, meses depois, ela faleceu. Os efeitos desse encontro delicado, no entanto, tecem os fios da etnografia. É precisamente percebendo o limite de sua compreensão sobre liberdade minoritária que o antropólogo inverte o jogo, buscando intensamente tornar essas verdades parte de um conhecimento antropológico mais amplo. Esse se torna um momento limiar para o antropólogo, cuja definição descreve como a quebra de seu pacto antropológico, quando a amizade pesou mais que o limite antropológico: “Talvez, ali mesmo, eu tenha quebrado meu pacto antropológico de compreensão mútua e respeitosa com Natasha. Era egoísta o meu desejo de mantê-la viva a todo custo. Eu não conseguia tomar a verdade de Natasha como verdade” (: 82). A amizade e a antropologia encontram-se em uma relação delicada nesse trecho, implicando em uma profunda reflexão que percorre todo corpo de sua etnografia. Como afirma o antropólogo: “Escrevo esta etnografia para tentar corrigir alguns dos meus erros iniciais” (: 82) e, certamente, seu esforço foi exitoso nessa bela etnografia sobre a liberdade na favela da Rocinha.

Os agenciamentos teóricos

Como tem se tornado uma tradição nos estudos sobre sexualidade e gênero nas Ciências Humanas das últimas décadas, o embasamento teórico da obra inspira-se na produção pós-estruturalista, particularmente, de Foucault, Guattari e Deleuze, além de uma vasta produção antropológica internacional, como reflexo de sua formação fora do país. No entanto, o diálogo de obra com a produção antropológica brasileira é, em geral, limitado aos autores mais consolidados da área, de modo que importantes discussões produzidas nos últimos anos são pouco discutidas e referenciadas. Apesar disso, sua formulação teórica-conceitual é particularmente singular, podendo contribuir densamente aos estudos realizados no Brasil.

Assemblage (ou agenciamento, na tradução brasileira), derivado de formulações conceituais de Deleuze e Guattari ( 2015DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. 2015. Kafka: por uma literatura menor. Belo Horizonte, Autêntica Editora.), é um conceito-chave para a argumentação do autor, tomando-o como uma multiplicidade que se constitui a partir de heterogeneidades, relações e ligações, em seu caso particular, entre vida queer, liberdade e território da favela. Ao observar formas de assemblage na Rocinha, Lino e Silva demonstra como essas formas minoritárias de liberdade são relacionais e estão sintonizadas com a prática e a materialidade da vida na Rocinha, relacionando distintos territórios. A pesquisa se concentra na observação da vida na favela da Rocinha, no entanto, os assemblage dessas liberdades constroem relações que ultrapassam fronteiras, abrangendo territórios múltiplos e, por vezes, transnacionais.

Parte do escopo filosófico deleuze-guattariano, o autor recorre ao conceito de “minoritariedade” como uma relação e uma produção específica em relação à “majoritariedade”. Ao contrário de uma referência quantitativa, a “minoritariedade” tem a ver com uma posição política em relação às forças dominantes. Tendo seus amigos queer como pessoas “minoritárias”, o autor está estabelecendo a construção de hierarquias e relação de poder, cuja forma é percebida constantemente em seu campo. O “minoritário” está diretamente relacionado ao “devir” e à possibilidade de construção de linhas de fuga, por isso, seu liberalismo é minoritário. 2 2 Segundo Deleuze e Guattari ( 2015), a “minoritariedade” possui três características principais: composta por “um forte coeficiente de desterritorialização” (2015: 35), um caráter político e um agenciamento coletivo. Como afirma Lino e Silva ( 2023LINO E SILVA, Moisés. 2023. Liberalismo minoritário: vida travesti na favela. Lisboa e São Paulo, Edições 70.: 39), “eu uso o conceito de ‘liberalismos minoritários’ como um termo guarda-chuva para referir-me a todas as condições alternativas, virtuais e reais, do liberalismo para além do tipo normativo”.

Caracterizando-se como um “etnógrafo queer”, Lino e Silva não se furta de utilizar criticamente a produção da teoria queer contemporânea e decolonial. Proveniente dessa produção e central na análise, é o conceito de “desidentificação” de teórico queer José Esteban Muñoz ( 1999MUÑOZ, José Esteban. 1999. Disidentifications: queers of color and the performance of politics. London, University of Minnesota Press.), fundamental na intersecção entre “liberdade” e “minoritariedade” proposta por Moisés Lino e Silva. Segundo Muñoz, a “de sidentificação” é um conjunto de estratégias criativas, produzidas por populações minoritárias e desviantes, em relação às forças dominantes, construindo verdades particulares, ou seja, produzindo linhas de fuga em relação à “majoritariedade”. É importante salientar que, apesar de Muñoz ser um dos principais teóricos para os estudos queer contemporâneos e suas intersecções, ainda é pouco referenciado nas pesquisas brasileiras, havendo uma escassez de traduções para o português. 3 3 Menciono a tradução de um dos capítulos de seu seminal livro, Cruising utopia: the then and there of queer futurity (2009), publicado na Revista Periódicus da Universidade Federal da Bahia, intitulada “Fantasmas do Sexo em Público” ( Muñoz, 2018). Nesse sentido, a etnografia de Lino e Silva poderá contribuir para difusão desse teórico para o público de língua portuguesa.

O autor toma o desejo como um agenciamento fundamental na produção dessas liberdades minoritárias. Esse desejo que se observa na etnografia não é um desejo como falta, a partir de uma epistemologia psicanalista, mas, inspirado em Deleuze e Guattari ( 2010DELEUZE, Gilles.; GUATTARI, Félix. 2010. O Anti-Édipo: Capitalismo e Esquizofrenia. São Paulo, Editora 34.), produtivo, longe de cessar em contextos de opressão, violência e marginalidade, um desejo que produz criativas formas de existência, que produz linhas de fuga diversas na favela da Rocinha. Somado às liberdades minoritárias, portanto, o desejo toma formas diversas, ambivalentes e produtivas nesse modo queer de existência, cuja expressão atinge um dos seus ápices na experimentação e produção dos corpos de seus amigos queer, vivenciando intensamente, desfrutando prazeres e buscando testar os limites de suas transformações corporais.

Uma escrita libertina

As aspirações da escrita etnográfica de Moisés Lino e Silva são marcadas por inspirações “libertinas”. Em sua tese (2018), cujo trabalho de campo e reflexões preliminares resultaram no seu novo livro, o autor propõe refletir sobre “a dança da liberdade” em um estilo denominado “carnavalesco”, cujo esforço defende “uma carnavalização radical das narrativas de liberdade” ( Lino e Silva, 2012LINO E SILVA, Moisés. 2012. Metafreedom: the carnivalesque of freedom in a Brazilian favela. St. Andrews (Escócia), Tese de doutorado, University of St Andrews.: 38), a partir do cotidiano da favela da Rocinha. Como em um carnaval, em sua proposta etnográfica, há uma abundância de pessoas, que entram e saem de cena sem aviso, em um tempo fraturado, na multiplicidade de experiências. A escrita se torna o recurso fundamental para se experimentar uma imaginação, tornando-se central na sua produção.

Semelhantemente, em um trabalho posterior (2015), o autor desafia a expressão etnográfica sobre o prazer, o desejo e a diversão a partir do “strip-tease etnográfico”. Sua preocupação é de que muitas análises da antropologia se tornam análises clínicas da sexualidade, sem captar dimensões de prazer, desejo e diversão, que são vivenciadas durante o trabalho de campo. Como um strip-tease, cuja exibição envolve o burlesco, o sexy e o misterioso, Lino e Silva propõe essa forma particular de escrita para etnografia. O antropólogo defende uma etnografia escrita a partir de “narrativas mais voltadas para a exploração de experiências vividas e o cultivo das dimensões estéticas das práticas sexuais”, que provoquem as sensações, as ideias e os sentimentos vivenciados no trabalho de campo, buscando construir novos horizontes etnográficos para o desejo, o prazer e a diversão ( Lino e Silva, 2015LINO E SILVA, Moisés. 2015. Queer sex vignettes from a Brazilian favela: An ethnographic striptease. Ethnography, vol. 16, n. 2: 223–239. DOI 10.1177/1466138114534335
https://doi.org/10.1177/1466138114534335...
: 235).

Esse esforço atinge sua síntese em Liberalismo Minoritário, encontrando, talvez, a forma adequada de criar uma rachadura, uma linha de fuga, nos escritos sobre o liberalismo na antropologia, sem deixar de lado os aspectos do prazer, da diversão e do desejo, mas também da violência, da opressão e da morte. Seu livro é dividido em sete capítulos principais que se produzem em uma experiência libertária sobre etnografia, atravessando os agenciamentos entre os modos coletivos queer e a liberdade minoritária, relacionando o prazer, a dor, as leis, a migração, a infância, a prostituição e a morte nessas intersecções da liberdade queer. O estilo libertino tem aproximação direta com sua sugestão de um estilo carnavalesco, ou seja, no qual um emaranhado de experiências se aproxima nessa produção etnográfica, misturando imagens, opiniões, questões, falas, autores, personagens. O antropólogo consegue com maestria demonstrar os “emaranhados ambíguos” que constituem as liberdades minoritárias na favela, o que considero um dos pontos mais altos do livro.

Argumento, portanto, que Moisés Lino e Silva produz uma forma particular de etnografia, uma escrita libertina, constituída por vinhetas que desenham um quadro mais amplo sobre sexualidade, gênero e liberdade, envolvendo os aspectos emocionais e estéticos vivenciados em seu campo. Libertino, em sua produção, é aquele que vive e experimenta intensamente seus prazeres, como em diversos momentos ele descreve seus amigos da favela. Igualmente, sua escrita pode ser caracterizada como libertina, por explorar com intensidade esses desejos que se irrompem e emaranharam-se, demonstrando criativamente possibilidades narrativas para experiências ambíguas e complexas. Essa libertinagem etnográfica flui em uma sofisticada e provocativa narrativa antropológica, podendo inspirar novas formas de produzir etnografia, abrindo horizontes antropológicos para o desejo.

Essa soma de potências – entre escrita, teoria e um trabalho de campo cuidadoso – resulta em uma instigante etnografia sobre a vida queer na favela da Rocinha. Ao desestabilizar conceitos estabelecidos e promover novas reflexões sobre liberdade, vida queer, escrita e prática antropológica, o antropólogo convida-nos a expandir nossos horizontes etnográficos, abrindo novas perspectivas para o campo da sexualidade e do gênero. O trabalho de Moisés Lino e Silva, portanto, torna-se fundamental para os estudos nessa área e aponta para a necessidade de se investir em pesquisas que busquem compreender as complexas dinâmicas que permeiam a vida queer, especialmente em contextos marginalizados e de vulnerabilidade social, sem negligenciar aspectos relacionados ao prazer, à diversão e ao desejo minoritário.

Referencias Bibliograficas

  • DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. 2012. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia, vol. 5. São Paulo, Editora 34.
  • DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. 2015. Kafka: por uma literatura menor. Belo Horizonte, Autêntica Editora.
  • DELEUZE, Gilles.; GUATTARI, Félix. 2010. O Anti-Édipo: Capitalismo e Esquizofrenia. São Paulo, Editora 34.
  • FOUCAULT, Michel. 2015. Ditos e escritos, vol. III – estética: literatura e pintura, música e cinema. 4 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária.
  • LINO E SILVA, Moisés. 2023. Liberalismo minoritário: vida travesti na favela. Lisboa e São Paulo, Edições 70.
  • LINO E SILVA, Moisés. 2015. Queer sex vignettes from a Brazilian favela: An ethnographic striptease. Ethnography, vol. 16, n. 2: 223–239. DOI 10.1177/1466138114534335
    » https://doi.org/10.1177/1466138114534335
  • LINO E SILVA, Moisés. 2014. The Violence of Structural Violence: Ethical Commitments and an Exceptional Day in a Brazilian “Favela”. Built Environment, vol. 40, n. 3. 314-25. DOI 10.2148/benv.40.3.314
    » https://doi.org/10.2148/benv.40.3.314
  • LINO E SILVA, Moisés. 2012. Metafreedom: the carnivalesque of freedom in a Brazilian favela. St. Andrews (Escócia), Tese de doutorado, University of St Andrews.
  • MUÑOZ, José Esteban. 2018. Fantasmas do Sexo em Público: Desejos utópicos, memórias Queer. Revista Periódicus vol. 1, n. 8: 4-19. DOI 10.9771/peri.v1i8.24603
    » https://doi.org/10.9771/peri.v1i8.24603
  • MUÑOZ, José Esteban. 1999. Disidentifications: queers of color and the performance of politics. London, University of Minnesota Press.
  • 1
    O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.
  • 2
    Segundo Deleuze e Guattari ( 2015DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. 2015. Kafka: por uma literatura menor. Belo Horizonte, Autêntica Editora.), a “minoritariedade” possui três características principais: composta por “um forte coeficiente de desterritorialização” (2015: 35), um caráter político e um agenciamento coletivo.
  • 3
    Menciono a tradução de um dos capítulos de seu seminal livro, Cruising utopia: the then and there of queer futurity (2009), publicado na Revista Periódicus da Universidade Federal da Bahia, intitulada “Fantasmas do Sexo em Público” ( Muñoz, 2018MUÑOZ, José Esteban. 2018. Fantasmas do Sexo em Público: Desejos utópicos, memórias Queer. Revista Periódicus vol. 1, n. 8: 4-19. DOI 10.9771/peri.v1i8.24603
    https://doi.org/10.9771/peri.v1i8.24603...
    ).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Out 2023
  • Data do Fascículo
    2023
Universidade de São Paulo - USP Departamento de Antropologia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo. Prédio de Filosofia e Ciências Sociais - Sala 1062. Av. Prof. Luciano Gualberto, 315, Cidade Universitária. , Cep: 05508-900, São Paulo - SP / Brasil, Tel:+ 55 (11) 3091-3718 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista.antropologia.usp@gmail.com