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Sentidos e fantasias sobre o “luxo” na prostituição de “alto escalão” carioca

Senses and fantasies about luxury in high end prostitution in Rio

RESUMO

O artigo pretende acessar, por meio da indicação de representações comuns a respeito da prostituição e da prostituta dita de luxo, as fantasias relacionadas a este contexto e a estas mulheres como de “exclusividade”, “distinção” e da figura imaginada da “prostituta universitária”. Busca-se então entender como estas representações, de ampla circulação (tanto no senso comum quanto na produção mediática e acadêmica) atuam como dispositivos de mercado, estratégicos para moderar a visibilidade das práticas “altamente sigilosas” relacionadas ao agenciamento, venda e consumo de sexo prostituído de alto escalão. Ao longo desta discussão, analisa-se as formas pelas quais se constrói a ideia de distinção da “prostituição de luxo”.

PALAVRAS-CHAVE:
Prostituição de luxo; representações; fantasias; casas de luxo

ABSTRACT

Based on the indication of common representations about high end prostitution and luxury prostitute, the article aims to access the fantasies related to this context and to the prostitutes. Both the context and the subjects are informed by ideas as “exclusivity”, “distinction” and the imagined figure of the “college educated prostitute”. The article seeks to understand how these widely circulated representations (in common sense, in the media and academic production) act as market devices, strategically moderating the visibility of “highly confidential” practices related to the agency, sale and consumption of high end sex with prostitutes. Throughout this discussion, it analyzes the ways in which the idea of distinguishing “high end prostitution” is constructed.

KEYWORDS:
High end prostitution; representations; fantasies; luxury houses

INTRODUÇÃO

O trabalho de campo que forneceu os dados aqui apresentados foi realizado na cidade do Rio de Janeiro, a partir de observação participante, em diversas redes de garotas de programa, clientes e agenciadores/cafetinas e com entrevistas não estruturadas entre 2012 e 2016.1 1 Este artigo é produto de minha tese de doutorado defendida em 2016, com bolsa CAPES. Ver Lopes (2016). As redes acessadas foram: 1) aquelas que se formam em torno das atividades de call girls que divulgam sua prestação de serviços sexuais em sites da web, 2) a prostituição por meio de fichas rosa2 2 Fichas-rosa são catálogos de modelos que prestam serviços como acompanhantes de luxo. Os valores variam algo em torno da faixa de R$500 a hora e R$20.000 a noite, dependendo se é uma mulher desconhecida ou uma figura mediática. Estes catálogos são organizados e agenciados pelas figuras das cafetinas. No Rio de Janeiro, são duas as cafetinas donas dos catálogos mais proeminentes. Estes anúncios não são disponibilizados na internet. Circulam apenas por e-mail entre clientes de alto poder aquisitivo. , com o agenciamento de modelos por grandes cafetinas, e 3) o trabalho das garotas de programa em bordeis tradicionais da cidade, as chamadas Casas de luxo, cuja clientela é composta, majoritariamente, por homens de classe média alta e alta.3 3 Para uma etnografia dos bordeis de luxo ver Lopes(2015).

Outras formas de prostituição de luxo ficam de fora deste recorte, como os privês nos quais se atendem apenas clientes fixos ou por indicação, as “casas de swing” ou as boates caras em que garotas de programa atuam na negociação circunstancial de programas e os aplicativos de pegação utilizados atualmente por trabalhadores e trabalhadoras sexuais deste segmento, que ainda não eram expressivos durante os anos do trabalho de campo.

A prostituição é um tema recorrente nos diversos campos de estudos das ciências humanas. Numa consulta rápida ao Portal de periódicos CAPES, por exemplo, encontramos perto de 1000 artigos com a palavra-chave “prostituição”. No entanto, a prostituição não é homogênea, existe uma separação presente no imaginário social e reproduzida, em grande medida, na pesquisa acadêmica, que ganha a forma de uma polarização entre “alto” e “baixo meretrício”. É somente entre as décadas de 1980 e 1990 que surge o “médio meretrício”4 4 Vide o trabalho de Maria Dulce Gaspar sobre garotas de programa que atuam nas boates de Copacabana. (Gaspar, 1985) como gradação, estipulando uma classificação triparte como modelo (Blanchette e Silva, 2011BLANCHETTE, Thaddeus; SILVA, Ana Paula da. 2011. “Amor um Real por Minuto: a prostituição como atividade econômica no Brasil urbano”. In: PARKER, Richard; CORREA, Sônia (Orgs.). Sexualidade e política na América Latina: histórias, intersecções e paradoxos. Rio de Janeiro, ABIA, pp.192-233.).

Quando buscamos por “prostituição de luxo” são apenas 40 os trabalhos encontrados, sendo os que tomam o tema como objeto de estudos propriamente, menos que 10. Buscamos neste artigo motivos possíveis para esta produção tão reduzida de trabalhos acadêmicos sobre a prostituição de luxo e, no caso específico das ciências sociais, muito recente no Brasil. Tal escassez contrasta com uma curiosidade recorrente a respeito do campo, a julgar pela proliferação de representações deste segmento prostitucional na mídia, na literatura e no senso comum.5 5 Vide os trabalhos autobiográficos que mostram este universo a partir de experiências pessoais: Pacheco (2006), Surfistinha (2005; 2008; 2012), Urach (2015), Benvenutti (2014; 2017), Adams (2012) e Quan (2001) são exemplos deste gênero que tiveram grande circulação no Brasil e EUA.

Como parte dos resultados desta pesquisa, alcançou-se um repertório específico de fantasias6 6 Trabalho aqui com a noção de fantasia de uma forma flexível. O termo aparece ao longo do texto, sobretudo, com o sentido de representação, ou seja, mais ou menos no sentido da psicanálise, como enredos alegóricos que veiculam o desejo. Em alguns momentos, fantasia aparece também com um sentido tomado de empréstimo da literatura (como irrealidade). E ainda, da seara do senso comum a respeito de temas relacionados à sexualidade, com um sentido aproximado ao de fetiche, aproximação essa que, do ponto de vista da teoria freudiana, careceria de elaboração, uma vez que para o autor o fetiche é a redução radical do desejo a um objeto mínimo (Freud, 1995). Para uma discussão sobre as limitações da teoria psicanalítica para a apreciação do fetichismo feminino ver McClintock (2010). que circulam dentro do segmento da prostituição de luxo e a respeito dele. Fantasias estas que funcionam tanto como justificativa do valor dos programas quanto como ferramenta de captação de consumidores, acenando como um canal de visibilidade daquilo que deveria ser invisível.

Mas estes canais que atuam no nível das representações e do imaginário não alcançam inteiramente, ou nitidamente, aquilo que se passa no campo. Este artigo procura focalizar as distorções entre representações coletadas em discursos sobre a prostituição de luxo e os dados coletados de uma experiência de campo direta. Com a observação, atingimos certos “não ditos”, ultrapassando estas representações que funcionam também dentro das redes dos agentes diretamente envolvidos na prostituição.

É preciso, no entanto, ter claro desde já que a questão sobre o que seja a prostituição de luxo permanece não resolvida enquanto apresento minhas próprias alegorias da pesquisa de campo. São, afinal de contas também representações. Todavia, quando contrastadas com as representações presentes nos discursos aqui analisados as minhas próprias alegorias servem de pretexto para a reflexão sobre a dinâmica do trabalho acadêmico numa área temática em vias de nascimento nas ciências sociais no Brasil. Nas últimas duas décadas e de maneira bastante tímida, a prostituição de luxo começou aparecer em pesquisas e textos deste campo disciplinar, debatendo-se com suposições e fantasmagorias, enquanto um olhar científico procurava uma fresta por onde melhor observá-la.

O objetivo aqui será então explorar sentidos da noção de “luxo” entre agentes diretamente envolvidos na prática da prostituição dita de luxo, nomeadamente garotas de programa, agenciadores, gerentes de bordeis, administradores de sites especializados em anúncios de call girls e clientes. Para tanto, tentamos responder à pergunta: de que formas a ideia do “luxo” como “fortuna”, como satisfação caprichosa de desejos, pode se conciliar com o estigma da prostituição, que imediatamente a associa à sujeira, à pobreza e à precariedade?

É como se “prostituição de luxo” fosse uma categoria intrinsecamente paradoxal, o que deve justificar, em parte, a curiosidade comum a respeito deste universo. Sendo assim, tentarei abordar os nexos que situam a percepção do luxo nos cenários da prostituição feminina, identificando certas questões de pertencimento moral expressas em normas e regras que regulam estes cenários do luxo e que resgatam as prostitutas que por ali circulam da abjeção e, em certa medida, as recolocam entre os “normais”.

O mercado da prostituição de luxo parece girar em torno da ideia de distinção7 7 A noção de distinção, tal como utilizamos aqui, pode ser pensada a partir da discussão de Norbert Elias sobre o processo civilizador, quando o autor aponta como elemento de transformação social as regras de etiqueta, por exemplo. As boas maneiras que simbolizam os padrões adotados pela nobreza para se diferenciar são práticas de distinção (Elias, 1993). e, como tal, procura marcar o tempo todo uma fronteira em relação a um estereótipo abrangente a respeito da prática prostitucional que vincula imediatamente a ideia de se prostituir à pobreza e à necessidade de se alimentar, morar, se vestir e criar os filhos (Bacelar, 1982BACELAR, Jeferson Afonso. 1982. A Família da Prostituta. Salvador, Fundação Cultural do Estado da Bahia (Ensaios 87).). Estes argumentos, recorrentemente mobilizados para explicar as motivações para se prostituir, acabam funcionando como um conjunto de argumentos coringa, capazes de aliviar a carga moral que pesa sobre a prática prostitucional.

A “PROSTITUIÇÃO DE LUXO” COMO OBJETO DE PESQUISA ACADÊMICA

O PARADOXO DE UMA “PROSTITUIÇÃO” QUE É “DE LUXO”

Do ponto de vista de uma concepção clássica nas ciências sociais, pode-se afirmar que “trabalho” e “luxo” sempre estiveram colocados em uma relação de antagonismo, especialmente em sociedades capitalistas, marcadas pela exploração e alienação do trabalho. Consoante a esta leitura, os produtores de riqueza estão de um lado e aqueles a quem cabe o usufruto do luxo, em outro.

Quem sabe a importância desta perspectiva, em nossas formações enquanto cientistas sociais, possa ter colaborado para criar uma cegueira localizada a respeito de um tipo de fenômeno que se realiza justamente na dobra, ou na conciliação destes campos semânticos opostos, como é o caso da prostituição de luxo. Não é à toa que existe uma expressiva produção especializada sobre a prostituição de mulheres entendida no registro do “trabalho sexual” e da “exploração”, enquanto a prostituição de luxo tem ficado de fora das muitas pesquisas sobre o tema geral da prostituição.

O pacto moral que autoriza que as mulheres se prostituam, se há um, passa pelo entendimento de que a prostituição deve ser reconhecida como um trabalho, assim como demandam diversos grupos de prostitutas organizadas em movimentos que se constituíram, historicamente, como movimentos de trabalhadoras, buscando a regulamentação da atividade da prostituição.8 8 Cf. Moraes (1996); Simões (2010); Corrêa e Olivar (2010); Piscitelli, 2012; Olivar (2013) e Helene (2017). “Um trabalho como qualquer outro” é o que se ouve de perspectivas politizadas sobre o fenômeno da prostituição.

Mas a prostituição de luxo dificilmente se enquadra neste entendimento de trabalho para as próprias garotas de programa que atuam no segmento. As mulheres que se prostituem nestes circuitos tomam, muitas vezes, a atividade como um “bico”, que complementa a renda obtida em outros trabalhos e serviços, moralmente sancionados. Ainda assim, este “bico” geralmente significa a maior parte da renda obtida no mês.

HERMETISMO DO CAMPO

O campo onde o fenômeno da prostituição de luxo acontece é marcado pelo segredo e o anonimato, o que não significa que seja inacessível para um antropólogo disposto a fazer pesquisa. A maior parte das etnografias hoje clássicas, embora tenham contado com formas de negociação distintas e específicas para que o antropólogo acessasse o campo, raramente tiveram entradas fáceis. Geertz, por exemplo, já em Bali, conta sobre como era ignorado pelos nativos até conseguir realmente se conectar às pessoas (Geertz, 2015GEERTZ, Clifford. [1926] 2015. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro, Editora LTC.) e não deve ter sido com “uma mão nas costas” que Malinowski chegou até as ilhas Trobriand (Malinowski, 1978MALINOWSKI, Bronislaw. [1922] 1978. Os Argonautas do Pacífico Ocidental. Rio de Janeiro, Abril Cultural.). A prostituição de luxo é, sem sombra de dúvidas, um campo de acesso restrito, mas nós, cientistas sociais, treinados para decifrar códigos culturais, podemos, sim, acessá-la.

É possível que o relativo hermetismo deste campo, reiterado/ agravado por nossa própria imaginação do mesmo hermetismo, também possa ser convocado para explicar o pequeno número de trabalhos sobre prostituição de luxo, bem como o interesse recorrente das pesquisas acadêmicas pelas representações a respeito da prostituição e da prostituta de luxo, preferindo utilizar estas mediações em vez de se debruçar sobre o campo onde o fenômeno acontece e suas práticas cotidianas. Esta necessidade de mediação, nos trabalhos consultados, parece que termina por impedir que eles façam uma apreciação mais ampla na busca da definição do que seja prostituição de luxo.

Some-se ainda a este problema a existência da polaridade bibliografia-campo, que se processa num determinado plano da episteme sociológica e antropológica: um paradigma que interpreta a alteridade retornando à dualidade platônica entre ciência e opinião, determinando que as definições que se podem extrair da bibliografia especializada, como saberes acadêmicos, são essencialmente diferentes do que se extrai do “campo nativo”, por assim dizer.

O fato de a apreciação acadêmica nas ciências sociais estar colada a tal perspectiva do processo cognitivo, especificamente neste momento de formação de um campo de estudos, pode atravancar o esforço de construção do levantamento dos sentidos possíveis para elaboração de uma definição do objeto. As conversas entre o campo em sentido estrito (onde se tem dificuldade de entrar) e a bibliografia (cuja produção é incipiente) são ainda enviesadas por relações de poder entre saberes, limitando as conexões possíveis entre as informações que se pode reunir.

OS ESCALÕES

Thaddeus Blanchette e Ana Paula da Silva (2011BLANCHETTE, Thaddeus; SILVA, Ana Paula da. 2011. “Amor um Real por Minuto: a prostituição como atividade econômica no Brasil urbano”. In: PARKER, Richard; CORREA, Sônia (Orgs.). Sexualidade e política na América Latina: histórias, intersecções e paradoxos. Rio de Janeiro, ABIA, pp.192-233.) criticam o tom evolucionista que percebem na divisão da prostituição em escalões, uma vez que esta estratificação acaba por reproduzir preconceitos de classe e raciais, ao alimentar um imaginário povoado por estereótipos e orientado por uma determinada noção de “civilidade”. É verdade que a prostituição de luxo, nos trabalhos acadêmicos, como veremos, costuma ser referida por oposição aos outros segmentos prostitucionais, como a prostituição de rua, por exemplo. O que acaba concorrendo para a reprodução de uma lógica distintiva, classista e que pode ser redutora.

A pesquisa bibliográfica revela que não existe um parâmetro conceitual para as apropriações que se fazem do termo “prostituição de luxo” em teses, artigos e dissertações, nas diversas áreas das ciências humanas. A categoria tende a deslizar das falas nativas das entrevistas para as análises, sem uma problematização a respeito dos seus significados. Isso indica que acaba existindo um sentido compartilhado do termo entre os meios onde a prostituição de fato acontece e as pesquisas sobre o tema.

Trata-se de um senso comum que constitui uma espécie de assoalho semântico, no qual o discurso mais superficial e imediato é o de que a existência de escalões prostitucionais replica a divisão das classes sociais: no baixo meretrício, homens pobres transam com prostitutas pobres e na prostituição de luxo os clientes ricos, de refinado gosto, saem acompanhados por cortesãs poliglotas, bem vestidas e bem comportadas, para eventos formais, espetáculos teatrais, festas ou jantares de negócios. E o imaginário a respeito deste segmento prostitucional se descola da cena de sexo, passeia por circuitos da alta cultura e da alta classe em domínios incógnitos por onde erram nossas fantasias sobre a estranha vida daqueles que podem gastar ou ganhar tanto dinheiro em uma única noite.

Mas, a rigor, em que medida se pode falar num universo prostitucional deste tipo, que se distingue da prostituição comum pela exclusividade, de tal forma estancado dos outros segmentos quase como se fosse outra atividade?

A CONSTITUIÇÃO DO OBJETO NA BIBLIOGRAFIA SOBRE PROSTITUIÇÃO DE LUXO

A bruma sobre questões fundamentais, de reconhecimento do que seja a prostituição de luxo, inclusive na produção científica, faz com que os poucos trabalhos que a tomam como objeto lancem mão das representações a respeito da prostituição de luxo como seu foco crítico. Definir prostituição de luxo é mesmo um interesse apriorístico, num campo relativamente pouco explorado. Debruçar-se sobre representações pode ser entendido como uma forma de reconhecer esta necessidade.

É neste esforço que os trabalhos procuram dar conta de como são o imaginário e as narrativas sobre prostituição de luxo entre determinados atores, ou como se produzem imagens a respeito deste segmento específico da prostituição, num determinado lugar e intervalo de tempo. Como exemplos da produção nas ciências sociais, podemos citar os trabalhos de Fábio Lopes Alves (2012ALVES, Fabio Lopes. 2012. A Construção Social do Corpo Feminino: um estudo a partir da prostituição feminina de luxo. Revista TEL - revista tempo, espaço e linguagem, v. 3, n. 2: 133-152.), Mariana Veloso Pinto (2018PINTO, Mariana Veloso. 2018. Prostituição de luxo: sentidos e representações atribuídos à prostituição de luxo em contexto universitário. Braga, dissertação de mestrado, Universidade do Minho.) e Plábio Marcos Martins Desidério e Lailson Duarte (2017DESIDÉRIO, Plábio Marcos Martis; DUARTE, Lalilson. 2017. “Trabalhadoras do Sexo na Série da HBO, O Negócio: Representações e a Prostituição de Luxo”. Revista Observatório, v. 3, n. 3: 506-531.). Em áreas afins também encontramos trabalhos com este interesse, como o de Bárbara Rebeka Gomes de Lira (2014LIRA, Bárbara Rebeka Gomes de. 2014. A Difícil Vida Fácil: o mundo da prostituição e suas representações na cidade de Manaus (1890-1925). Manaus, dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Amazonas.), na História.

Nestes trabalhos, as prostitutas de luxo são identificadas como mulheres de classe média, com níveis de escolaridade maiores que os das prostitutas dos outros segmentos, e, também, como sendo mais limpas e tendo maior poder de escolha dos seus clientes. Estas duas últimas marcas distintivas que se lhes atribuem são justificadas em função, a primeira, das normas de segurança das Casas de luxo, voltadas para atender as exigências relacionadas aos padrões de higiene dos clientes ricos. E, sobre a segunda, diz-se que, como não têm uma vida precária e não dependem da prostituição para suprir certas necessidades básicas como sustento de filhos e alimentação, estas garotas não precisam aceitar qualquer programa, nem se expor tanto a perigos e situações inconvenientes.

No Brasil, os trabalhos sobre prostituição de luxo foram, de um modo geral, produzidos a partir dos anos 2000, mais ainda a partir do final da década de 2010, principalmente nas áreas de ciências sociais, jornalismo, psicologia social e educação.9 9 E em menor escala em letras/literatura, serviço social, história, geografia, direito e saúde coletiva. Além do recorte que toma como objeto, dentro do tema da prostituição de luxo, as representações que existem a respeito dela, são comuns também as abordagens que procuram observar a interseção entre mercado e prostituição.

Nestes, o que se vê são abordagens do objeto orientadas por uma curiosidade sobre como é possível vender um produto a um preço tão alto. São preocupações que giram em torno do valor. O que se valoriza neste produto sexo? Quem compra procura o quê, ou compra por quê? E quem vende anuncia como? Quais e como são os processos e procedimentos agregadores de valor, neste caso? Como exemplos, pode-se citar o trabalho de Russo (2007RUSSO, Glaucia. 2007. “No Labirinto da Prostituição: o dinheiro e seus aspectos simbólicos”. Caderno CRH, v. 20, n. 51: 497-514. https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-49792007000300009&script=sci_abstract&tlng=pt
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S01...
), que não trata especificamente da prostituição de luxo, mas acaba tangenciando o tema dos escalões ao explorar os significados (incluindo aí o de “luxo”) que o pagamento do programa pode assumir. E também o trabalho de Braga e Santos, na área do jornalismo, que analisa a relação entre marketing, luxo e prostituição na série O Negócio, também estudada por Desidério e Duarte (Desidério e Duarte, 2017DESIDÉRIO, Plábio Marcos Martis; DUARTE, Lalilson. 2017. “Trabalhadoras do Sexo na Série da HBO, O Negócio: Representações e a Prostituição de Luxo”. Revista Observatório, v. 3, n. 3: 506-531.).

Procurei aqui esboçar uma perspectiva particular também a respeito de representações e de valores no universo da prostituição de luxo.

O LUXO COMO SEGMENTO DE MERCADO - PACTOS MORAIS EM TORNO DA IDEIA DE DISTINÇÃO

Segundo Braga e Santos:

Para atingir consumidores dispostos a gastar, as marcas e serviços necessitam de um posicionamento que vai além das funcionalidades de cada produto, ou seja, o que deve ser anunciado é o estilo de vida, os prazeres e os valores subjetivos que o consumidor vai obter ao adquirir o item. Possuir um bem de luxo representa um destaque social, privilégio de uma classe seleta, a auto realização. Por isso, os produtos apresentados para o segmento são de alta qualidade e diferenciados dos demais. (...) É essa constatação que faz do setor do luxo um segmento com crescimento exponencial na economia brasileira. O Brasil representa hoje 1,4% do faturamento global no segmento de luxo, e é considerado um mercado em plena expansão. Não por acaso, várias áreas querem se associar ao luxo, como a prostituição, que enxerga nesse mercado a oportunidade de melhorar o seu posicionamento (Braga e Santos, 2015: 5).

Nos cenários da prostituição, o luxo aparece como fantasia que envolve e veicula a prática prostitucional em certos meios, direcionando-a para um certo público consumidor. O luxo é um “selo” do produto sexo, neste caso. E pensar em como se constrói este selo oferece um caminho para alcançar um feixe de significados para este luxo.

Primeiro, consideremos que o valor dos programas é o que imediatamente diferencia este segmento prostitucional dos demais. Fala-se em programas que custam até R$ 20.000, nas “fichas rosa” das grandes cafetinas do Rio de Janeiro e São Paulo. O valor do programa (chamado “cachê” das prostitutas) é um dos elementos que por si só tem um papel importante no direcionamento do serviço sexual “de luxo” a um público consumidor determinado.

Mas não é apenas o preço que qualifica o produto de luxo. É possível pensar em como as Casas que utilizam este “selo” do luxo o mantém. Ali, essa construção passa por um pacto moral com uma “civilidade burguesa”, marcada pelo “bom gosto” e, principalmente, pelo fetiche do “produto diferenciado”.

Assim é que nos bordeis de luxo onde fiz trabalho de campo, havia regras que proibiam, por exemplo, que as garotas de programa mascassem chicletes no bordel, o que podia causar uma apresentação pessoal ruim, segundo uma gerente. Também eram proibidas de consumir bebidas alcoólicas do bar do salão onde encontravam os clientes, porque, segundo o dono da Casa em questão, eles não queriam “Marias Tequila” ali. E em todos os bordeis onde estive as garotas de programa eram orientadas a não exibirem qualquer parte do corpo coberta pelo uniforme (que às vezes era apenas uma lingerie) nos espaços comuns, ficando a nudez reservada ao quarto e situações de programa. Também não eram permitidos toques e beijos entre garotas e clientes, nestes espaços comuns, fora dos quartos, que fossem entendidos como excessivos. Porque a satisfação dos clientes tinha um preço, a ser pago como cachê às garotas. Não se podia correr o risco de que os homens se dessem por saciados antes do tempo, o que era associado à “vulgaridade”.

Este esforço, que pode parecer curioso, de manter o decoro dentro do bordel, também pode ser observado em anúncios de call girls, nos quais a construção estética aparece em consonância com a faixa de valores dos cachês das prostitutas. Em sites de anúncios de programas mais baratos, as mulheres têm os corpos mais expostos, com nudez total e fotos que exibem partes mais internas do corpo, com o foco na vagina e no ânus, em poses nas quais as modelos ficam com as pernas abertas. Nos sites cujos valores de cachês das anunciantes são mais elevados, os ensaios fotográficos privilegiam exibir corpos seminus, com transparências, ênfase nos contornos corporais, as genitálias estão menos expostas e são exibidas em ângulos menos frontais. Já nos ensaios fotográficos das fichas rosa, considerados de padrão ainda mais alto, as prostitutas muitas das vezes usam roupas curtas e biquínis em fotos que procuram representar uma sensualidade mais contida.10 10 As “fichas rosa” são, a bem da verdade, catálogos mais heterogêneos do que os apresentados em sites de anúncio de serviços de call girls. Há ali algumas mulheres da mídia como musas do funk, dançarinas e assistentes de palco de programas de auditório em poses consideradas mais vulgares, embora as prostitutas desconhecidas, via de regra, posem para este catálogo de biquínis e roupas de alto verão.

Se o valor do cachê, nos anúncios da prostituição de luxo, é inversamente proporcional à exposição do corpo da prostituta nas fotos, tem-se aqui outra pista da moralidade que costura este segmento. Prostitutas de alto luxo devem poder ser “boas garotas”, aquelas que devem “saber se comportar” em eventos sociais, quase como se não fossem prostitutas.

Além disso, para atender a um mercado que busca um produto distinto e exclusivo, é compreensível que exista uma gramática da limpeza e rituais de higiene a serem cumpridos como parte de um rigoroso protocolo. Margareth Rago (2008RAGO, Margareth. 2008. Os Prazeres da Noite: prostituição e códigos da sexualidade feminina em São Paulo (1890-1930). São Paulo, Paz e Terra.) identifica que o discurso médico-higienista, desde o século XIX, tem sido responsável por produzir narrativas que dão sentido à prostituição, alimentando o senso comum a respeito da construção de um estereótipo de sujeira e doença associado a esta prática. A prostituição de luxo procura romper também com esta imagem. Por isso é muito marcado entre as prostitutas de luxo um discurso de que não abrem mão jamais do uso de preservativos em programas, ainda que os clientes ofereçam valores maiores para fazer sexo sem usa-los.

Assim como pude observar nas Casas onde pesquisei, existe uma limpeza quase obsessiva dos corpos nos vestiários femininos, além de inúmeros outros procedimentos regulamentados pelo próprio estabelecimento como testes ginecológicos semanais obrigatórios para as garotas de programa e exames de sangue mensais para detecção de HIV e outras infecções.

Os protocolos de higiene e limpeza, enquanto elementos purificadores do trabalho sexual, podem, no contexto do “luxo”, ser articulados com o marcador de raça, em sua intersecção com classe e gênero. Conforme Anne McClintock (2010)MCCLINTOCK, Anne. 2010. Couro Imperial: raça, gênero e sexualidade no embate colonial. Campinas, Editora da Unicamp. propõe ao investigar a propaganda imperial do sabonete, existe uma correlação importante do pensamento colonial entre limpeza e branquitude. Pode-se então aventar a possibilidade de leitura segundo a qual a “distinção” da prostituição de luxo estaria também relacionada ao branqueamento da profissional do sexo.

Faz sentido, de todo modo, concluir que existe um repertório de imagens e de fantasias a respeito da prostituição de luxo e que talvez atenda e se comunique bem com os desejos dos clientes destes serviços, que tem a ver com a manutenção de um pudor, de certas regras para controle de corpos e comportamentos.

Assim como Nestor Perlongher aponta a respeito dos clientes dos michês, que não estavam interessados em garotos homossexuais (efeminados), mas em garotos heterossexuais (viris) dispostos a uma experiência homossexual em troca de pagamento (Perlongher, 2008PERLONGHER, Nestor. 2008. O Negócio do Michê - a prostituição viril em São Paulo. São Paulo, Editora Fundação Perseu Abramo.). Também os clientes da prostituição de luxo parecem ter como horizonte de desejos garotas dispostas a uma experiência como prostitutas, mas que não “sejam” prostitutas11 11 Sobre as personagens que as mulheres que prestam serviços sexuais são chamadas a assumir, ver o artigo de Lorena Caminhas sobre webcamming (2021). Segundo a autora, as camgirls lidam com a fantasia de que a personagem que interpretam durante os atendimentos diante das câmeras são elas mesmas, em suas vidas cotidianas, enquanto a maioria das entrevistas, ao contrário, procura elaborar uma personagem separada daquilo que entendem como seu verdadeiro self. De certa forma, esta parece ser também a expectativa dos clientes de prostituição de luxo de que trata o presente artigo. É como se a figura da prostituta, assim a personagem criada pela camgirl para os atendimentos, soasse a artifício, afastando a experiência de uma relação sexual, na direção de uma simples troca comercial. , essas para as quais existe todo um repertório prontamente acessado relacionado à sujeira em todos os sentidos, desde a sujeira física até a moral.

OS SENTIDOS DO LUXO. O LUXO COMO “AGENCIAMENTO DE SI” E TRAVESTISMO DE CLASSE

Segundo Pierre Bourdieu, as mulheres são bens que circulam num mercado de trocas protagonizado pelos homens (Bourdieu, 2005BOURDIEU, Pierre. 2005. A Dominação Masculina. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil.). Análises como essa identificam a estrutura patriarcal do mercado de bens e trocas que organiza as relações de gênero, mas não reconhecem, ou não valorizam, a agência das mulheres nestas dinâmicas. Argumento, no entanto, que a produção do valor no mercado sexual de luxo passa necessariamente pelos agenciamentos de si que fazem as prostitutas.

Como parte da formação para se colocar no mercado, as garotas agenciam o próprio histórico de programas; aprendem truques, desenvolvem técnicas e as compartilham umas com as outras, indicam e convidam amigas para fazer programas com os seus clientes habituais, colecionam referências dos lugares onde trabalharam, dos clientes ricos e famosos que tiveram. Pode-se dizer que, do ponto de vista delas, os clientes ricos circulam como itens agregadores de valor ao seu serviço e perfil profissional.

Neste jogo que se estabelece entre prostituta de luxo e cliente rico, ambos performam um ritual de cortejo e flerte nos quais as garotas buscam romper com os estereótipos comuns que rondam a figura da prostituta, frequentemente o estereótipo de sujeira, doença/ contaminação, indelicadeza, desordem, vulgaridade, imoralidade e impolidez. E este rompimento se dá orientado por este modelo da prostituta educada, polida, bem representado por uma imagem específica de “universitária”.12 12 Sobre performance de gênero associada à produção de individualidades (diferenciação) e despertar de desejos, e como uma prática deste tipo pode estar inserida na economia global, ver o artigo de Rochedo, publicado em 2021 na Revista de Antropologia.

Mas imaginar as prostitutas de luxo como garotas de classe média que se dispõem a se prostituir por aventura é uma fantasia desencarnada. Nem os próprios clientes têm esta expectativa a respeito do pertencimento de classe e motivações destas mulheres para vender sexo neste mercado, muito embora esta fantasia faça parte de um repertório de imagens que compõe os desejos dos consumidores de prostituição destes meios.

Opera aí um fetichismo de classe ambíguo, que materializa fantasias a respeito do que cada “tipo de mulher” faz ou é capaz de fazer, no sexo. Terence Sellers (2001: XV) na introdução do Psychopathia Sexualis13 13 O Psychopathia Sexualis é uma das mais importantes obras sexológicas do século XIX. Traz inúmeros casos concretos do que então se consideravam perversões sexuais, muitas das quais, inclusiva, são ainda hoje consideradas como tal. Citado por Freud nos seus Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade (2016), o livro de Krafft-Ebing informou tanto a psicanálise quanto a medicina psiquiátrica, ao buscar fundamentação neurológica para os “transtornos sexuais”. , de Richard von Krafft-Ebing (2001), comenta o papel terapêutico historicamente atribuído à prostituta, tipificada como doente sexual no documento: de válvula de escape para escoar tensões sexuais mal contidas no casamento, passando por mulheres diante das quais se podia admitir desejos ocultos, impossíveis de serem compartilhados com as mulheres da mesma classe social, até uma concepção do sexo com a prostituta como campo de provas para os desejos masculinos, capaz de averiguar a normalidade dos quereres e performances dos homens. De que formas as inclinações morais sexuais destas, assim chamadas por Krafft-Ebing, “mulheres de caráter baixo”, se relacionam, no imaginário e nas fantasias sobre as prostitutas de luxo, com os seus lugares e perfis de classe? Voltarei a esta questão mais adiante.

Anne McClintock (2010)MCCLINTOCK, Anne. 2010. Couro Imperial: raça, gênero e sexualidade no embate colonial. Campinas, Editora da Unicamp. aborda os jogos eróticos entre Hannah Cullwick e Arthur Mumby, registrados em seus diários, que envolviam travestismos de classe e também de raça e de gênero, discutindo como estes fetiches têm o poder de negociar contradições e tensões nas relações e nos desejos. Esta obra nos dá ferramentas para refletir sobre o imaginário da cortesã poliglota e de alta classe, ou, numa versão mais jovem e moderna, a prostituta universitária que, dentro de uma constelação de desejos específica, age mediando os encontros sexuais entre clientes e prostitutas de luxo.

Os relatos das prostitutas que atuam nos circuitos de luxo e a observação de campo mostram que as fronteiras que demarcam este segmento prostitucional não são fixas quando se trata das experiências das garotas de programa. Na prática, elas acabam circulando por diferentes meios, nos quais são cobrados distintos cachês. Não raro possuem uma atuação flexível em termos de local de trabalho (situados em zonas nobres ou periféricas da cidade) e acabam atendendo clientes com perfis socioeconômicos relativamente variados. Seu empreendimento como prostitutas de luxo constitui-se basicamente numa tentativa de saber ou de entender os códigos daquilo que pensam ser o universo do luxo, no qual sua entrada é orientada pela perspectiva particular da sua posição de prostitutas.

A origem de classe dessas mulheres é situada, na maior parte das vezes, nas classes baixas e médias-baixas. São garotas pertencentes a famílias de regiões periféricas da cidade como subúrbios e favelas e são muito poucas as que possuem nível superior de escolaridade, dado que a universidade acena como um projeto viável e mesmo desejável, mas que muitas vezes não encontra lugar na rotina que estabelecem. Não obstante esta origem, são mulheres que descrevem trajetórias de mobilidade socioeconômica nas quais acumulam, além do capital econômico oriundo do exercício da profissão, um capital cultural característico do perfil de luxo que elas buscam construir para si por meio da relação com clientes, bem como da circulação em certos lugares “típicos da elite”.

Alcoforado (2016ALCOFORADO, Michel Fontenelle. 2016. Coisas de Rico: tempo, valores e posição social. Rio de janeiro, tese de Doutorado, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.) mobiliza autores como Peirano (2006PEIRANO, Mariza. 2006. A Teoria Vivida: E Outros Ensaios. Rio de Janeiro, Zahar.) e Velho (2001VELHO, Gilberto. 2001. “Biografia, Trajetória e Mediação”. In: KUSCHNIR, Cristina; VELHO, Gilberto. Mediação Cultura e Política. Rio de Janeiro, Aeroplano, pp. 15-28.) para defender a ideia de que os empregados dos ricos são especialistas no “mundo do luxo”, figuras mediadoras de classe que definem o que, a final de contas, é este luxo. E que utilizam estas elaborações para acessar este universo.

São esses indivíduos que, por conta da sua vivência de trabalho, se transformaram em experts e criaram teorias explicativas (Peirano, 2006PEIRANO, Mariza. 2006. A Teoria Vivida: E Outros Ensaios. Rio de Janeiro, Zahar.) sobre os ricos (...) e com maior ou menor poder para decidir os limites e as regras que permeiam o comportamento dos endinheirados. Enfim, quando falam não só descrevem, mas prescrevem o que é ser rico por aqui (Alcoforado, 2016ALCOFORADO, Michel Fontenelle. 2016. Coisas de Rico: tempo, valores e posição social. Rio de janeiro, tese de Doutorado, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.: 88).

As prostitutas de luxo ocupam uma posição parecida. Elas colecionam referências: com quem estiveram, em que motel ou restaurante, em que bairro, o que beberam, sobre o que conversaram, que histórias ouviram. Não raro certos gostos e práticas são aprendidos com os próprios clientes com quem convivem, como a apreciação de cinema autoral, o estudo de fotografia e o conhecimento de bons vinhos, champanhes, pratos da alta gastronomia e restaurantes famosos. Este capital se converte, então, no valor monetário que precifica o programa, assim como o valor cobrado como cachê para fazer o programa as coloca entre as prostitutas de luxo procuradas por esta clientela consumidora de produtos caros, autênticos e distintos.

Ao lado deste refinamento via gosto, práticas e performances, há também a busca pela conquista e manutenção de um corpo esteticamente perfeito, o que implica no consumo desenfreado de produtos da indústria estética para a manutenção de um projeto de corpo. Projeto esse que incorpora a noção de autocuidado como forma de se contrapor às imagens estigmatizadas de prostitutas associadas à “sujeira” e “pobreza”, imaginadas como sendo características de um baixo escalão.

As prostitutas de luxo, empregadas dos bordeis de elite, tem sempre as unhas feitas, os cabelos bem cuidados, os corpos moldados pela prática de exercícios físicos em academias de ginástica, cirurgias plásticas de implantes e preenchimentos de rugas, seios, nádegas... há também uma administração da gordura que precisa estar em certas partes do corpo e não em outras.14 14 Para intervenções estéticas em marcadores corporais de gênero no caso de mulheres em suas “carreiras sensuais” ver Naidin (2016). O cultivo deste corpo e deste refinamento tem também um alto custo e é vital para que as mulheres se mantenham neste mercado. Então elas gastam grandes somas de dinheiro com cosméticos, correções de imperfeições corporais, intervenções médicas e estéticas, roupas, sapatos e bolsas de grife, viagens, festas, jantares, aparelhos eletrônicos como celulares, televisores e computadores.

Assim é que, ao mesmo tempo em que a experiência e a vivência do luxo aparecem com exuberância nas falas das garotas de programa, como se estivessem, elas mesmas, o tempo todo entusiasmadas em circular e participar deste universo, o tal luxo, paradoxalmente, precisa ser reafirmado. Isso é feito por meio das próprias narrativas que tecem sobre estas suas experiências, dando ênfase ao seu trânsito por ambientes VIP e seu consumo/ utilização de bens exclusivos. Também pelo imperativo do autocuidado corporal baseado numa estética ligada ao erotismo, e, principalmente, nas longas jornadas de trabalho até a exaustão física e na tolerância para encontros sexuais indesejáveis.

Como “trabalhadoras”, elas fazem consideráveis investimentos para manter sua vida de “luxo”, justamente porque não são ricas, de fato. Percebemos então, por meio das informações trazidas do campo, a complexidade do pertencimento a este “mundo do luxo” para as mulheres prostitutas. Elas encenam um travestismo de classe semelhante ao descrito por Anne McClintock (2010)MCCLINTOCK, Anne. 2010. Couro Imperial: raça, gênero e sexualidade no embate colonial. Campinas, Editora da Unicamp..

FANTASIAS COMO CANAIS DE VISIBILIDADE

Se o argumento da “necessidade” dá imediatamente o lastro moral para a prostituição nos circuitos das classes mais baixas, a figura da prostituta universitária15 15 A “prostituta universitária”, para que fique claro, é tratada aqui como uma das fantasias a respeito da figura da “prostituta de luxo”. Não são sinônimos, mas tampouco o artigo objetiva fazer um inventário de “tipos”, como formas assumidas pelas fantasias que atravessam e mobilizam o mercado do sexo no âmbito da prostituição de luxo. A intenção é, antes, mostrar alguns elementos recorrentes e característicos na constituição destas fantasias, bem como de um mercado específico que procura forjar o selo do “luxo” a partir de certos recursos. , instruída, ou refinada oferece uma via de resgate do lodo da abjeção para mulheres que atuam como prostitutas nos circuitos do luxo. Porque são “de luxo”, estas mulheres seriam limpas e não sujas, saudáveis e não doentes, discretas e não escandalosas, educadas e não grosseiras. Magras, inteligentes, bonitas etc.

Assim é que “prostituição de luxo” pode funcionar como categoria moralizante dentro da prostituição. Ela é evocada para a liberação dos estereótipos relacionados à desordem, porque afirma este compromisso com a ordem moral da “civilidade” própria das elites; no domínio de certas etiquetas que tem a ver com classe social e poder de consumo, no saber sobre os artigos exclusivos, os produtos caros e raros.

Isso não significa que a retórica da necessidade esteja ausente do repertório das garotas de programa de luxo. Elas frequentemente acionam este argumento para se esquivarem de dar explicações sobre sua prática prostitucional (pensada como “ingresso” ou “conversão”) ou para estimular a generosidade de clientes ricos a fim de conseguir gorjetas e presentes.

A aura de oculto que circunda e atravessa a prostituição de luxo, embasando as relações e trocas nos lugares onde ela acontece é também uma fantasia que costura imagens, desejos e interações ali. No entanto, este hermetismo do campo precisa ter, digamos, “janelas” que permitam a comunicação destes espaços com o fora. Sobretudo porque se trata de um mercado e é preciso vender. A prática prostitucional, secreta 1) para homens casados consumidores dos serviços, 2) para garotas de programa que não querem comprometer outras esferas da sua vida pessoal assumindo publicamente que atuam como prostitutas, assim como 3) para estes estabelecimentos ilícitos que são os bordeis de luxo, que se sustentam por meio de diversas negociações oficiosas com o poder público em bairros de elite, precisa utilizar canais de visibilidade. Estes são justamente construídos fazendo uso dos lugares comuns, dos estereótipos, das fantasias.

É uma ideia sobre “o que seja” esta “prostituta de luxo”, que circula no senso comum como significados acessíveis, que pode revelar os caminhos para acessar espaços e serviços deste tipo. A Casa mais famosa da cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, possui uma página simples na internet, com informações sucintas e ambíguas sobre os serviços que presta: “Você encontrará aqui: piscina, pista de dança, bar com drinks e bebidas importadas, atendimento exclusivo, discrição e elegância”.

O anúncio nos dá dimensão dos valores que ancoram a propaganda da prostituição de luxo. Valores estes que funcionam como uma trilha que leva até estes bordeis e que permitem presumir qual é o serviço ali prestado. A “discrição” e a “elegância”, a “exclusividade” das “bebidas importadas”, e de garotas de programa que têm um certo perfil, podem ser pensados aqui de acordo com o conceito marxista de “fetiche da mercadoria”, que postula que aquele valor que parece inerente ao que é vendido, obscurece um processo de atribuição de valor, como se o valor emanasse da própria coisa (Marx, 1867MARX, Karl. [1867]. “O Fetichismo da Mercadoria e o Seu Segredo”. In: O Capital - Vol. I. Brasília: Domínio Público. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ma000086.pdf
http://www.dominiopublico.gov.br/downloa...
). Sendo assim, as garotas de programa são, por definição, elegantes, refinadas, educadas e distintas.

Para McClintock, o domínio doméstico é também estruturado pelo fetichismo da mercadoria (2010MCCLINTOCK, Anne. 2010. Couro Imperial: raça, gênero e sexualidade no embate colonial. Campinas, Editora da Unicamp.: 255). Diz a autora:

O trabalho doméstico é uma semiótica da manutenção de fronteiras. Limpar não é inerentemente significativo; cria um significado pela demarcação de fronteiras. O trabalho doméstico cria valor social, separando a sujeira da higiene, a ordem da desordem, o sentido da confusão. A classe média estava preocupada com a clara demarcação do limite, e a ansiedade em relação à confusão dos limites -em particular, entre o privado e o público - deu lugar a um intenso fetiche da limpeza e a uma preocupação fetichista com aquilo que o antropólogo Victor Turner chama de objetos liminares, ou de fronteira. As empregadas gastavam boa parte do seu tempo limpando objetos de fronteira - maçanetas, peitoris, degraus, calçadas, cortinas e corrimão - não porque esses objetos fossem especialmente sujos, mas porque esfregá-los e poli-los ritualmente mantinha a fronteira entre o privado e o público, e dava a esses objetos um valor de exibição enquanto marcadores de classe. Maçanetas resplandecentes, cortinas recém lavadas, peitoris impecáveis e calçadas bem esfregadas - os objetos incertos no limiar entre o privado e o público, entre os de cima e os de baixo - exprimiam vividamente a fronteira entre o lar de classe média e o mercado público (McClintock, 2010MCCLINTOCK, Anne. 2010. Couro Imperial: raça, gênero e sexualidade no embate colonial. Campinas, Editora da Unicamp.: 255).

Esta conversão das relações entre as pessoas em um valor das coisas aproxima, neste sentido, o domínio doméstico e o bordel (também chamado “a Casa”). Pois assim como discute Margareth Rago (2008RAGO, Margareth. 2008. Os Prazeres da Noite: prostituição e códigos da sexualidade feminina em São Paulo (1890-1930). São Paulo, Paz e Terra.) a respeito das “casas de tolerância” este espaço do bordel é o lugar liberado para as perversões e ali repetem-se e reinventam-se as relações entre classes e entre o público e o privado. Estas passagens sendo feitas por incontáveis rituais de limpeza e purificação, que são próprios destas zonas de encontro. Nas Casas de luxo, a “mulher pública” que é a prostituta, encena, através da ideia de “exclusividade” e de “limpeza”, a mulher privada do lar, aquela que em tudo se distingue do imaginário a respeito da prostituição comum, ao mesmo tempo em que constitui um outro modelo de “mulher pública”. Estas fantasias ligadas ao luxo e à prostituição de luxo oferecem, portanto, a matéria prima básica para a construção de sentidos a respeito da prática prostitucional aí. E mesmo que nas “situações de quarto”, entre quatro paredes, e nas relações pessoais entre garotas de programa e clientes estas representações e sentidos comuns ganhem nuances ou mesmo se desfaçam.

O ESTIGMA DO LUXO

Mas o luxo também possui, em certos contextos ou situações, um sentido de escândalo, motivo pelo qual é, ele mesmo, objeto de um estigma específico. Se o luxo é a ultrapassagem de necessidades fundamentais, num tempo em que grande parte do mundo está mal nutrida por uma desigualdade universal na distribuição e acesso aos recursos, o supérfluo ofende e escandaliza (Castaréde, 2005CASTARÈDE, Jean. 2005. O Luxo: os segredos dos produtos mais desejados do mundo. São Paulo, Editora Barcarolla.).

Se o luxo define, para o cliente, um lugar de exclusividade, o que o leva ao encontro deste estigma, ele define, para as prostitutas, um lugar ambíguo, suspenso entre o resgate moral que o luxo opera por meio da ideia de limpeza e sofisticação e, ao mesmo tempo, uma imoralidade assombrosa que surge da lacuna sobre as “causas” que as teriam levado a se prostituir.

As prostitutas são constantemente chamadas a darem explicações, como se a prática prostitucional carecesse de um fundamento. O estigma do luxo, para elas, então, funciona por esta ausência suposta da “necessidade” que impele à prostituição, uma vez que teriam uma origem de classe elevada. Segundo Maria Dulce Gaspar (1985GASPAR, Maria Dulce. 1985. Garotas de Programa - prostituição em Copacabana e identidade social. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor.), ganha força nestes casos a acusação de doença (ninfomania). E voltam a se agravar os estigmas que vão no sentido da imoralidade, da trivialidade ou futilidade.

Mesmo o projeto de corpo vigente para a maioria destas mulheres prostitutas esbarra numa politização feminista de certo tipo, de acordo com a qual seus investimentos constituem uma reafirmação acrítica do privilégio masculino de desejar. Como se as mulheres tivessem apenas duas opções, muito bem definidas e contrárias uma à outra: cumprir ou romper com os padrões que objetificam seus corpos e que as prendem nas armadilhas de um ideal de felicidade e satisfação, que é um engodo do masculinismo.

McClintock faz uma crítica à psicanálise que, na sua abordagem do fetichismo, obscurece, segundo ela, as encenações fetichistas no caso das mulheres, como se o fetichismo fosse “neutro em relação ao gênero”.

A negação do fetichismo feminino (o próprio gesto fetichista) é menos uma descrição acurada que uma necessidade teórica que serve para rejeitar a existência de uma atuação sexual feminina, exceto nos termos prescritos pelos homens. Mulheres como Hannah Cullwick não podem ser admitidas na cena do fetichismo freudiano e lacaniano (a despeito da riqueza de evidências em contrário), pois reconhecer o fetichismo feminino desafiaria radicalmente a centralidade magistral do falo e da cena da castração (McClintock, 2010MCCLINTOCK, Anne. 2010. Couro Imperial: raça, gênero e sexualidade no embate colonial. Campinas, Editora da Unicamp.: 274).

É seguindo esta crítica que abandonamos a tentação de enxergar apenas as operações masculinas de simbolização sobre o sexo, entendendo a prostituta de luxo como objeto de fantasias dos clientes ou como produto de um mercado, para nos perguntarmos sobre como acontecem estas simbolizações fetichistas para as mulheres que atuam como prostitutas de luxo.

O silêncio a respeito do fetichismo da prostituição para as mulheres que atuam como prostitutas, em grande parte da bibliografia especializada, tem quase um peso ético: como se o argumento da prostituição por necessidade forçasse a passagem e, ainda que não dito, retornasse como justificativa resoluta de motivações para atuar na prostituição, encerrando as discussões sobre desejos femininos no desempenho deste papel.

E de que formas as prostitutas de luxo simbolizam o sexo prostituído a partir do seu lugar? Que respostas elas podem dar a si mesmas para as ponderações a respeito de transar com um homem com quem não transariam se não fosse em uma situação de programa?

CONCLUSÃO

O “luxo”, encravado no campo semântico da prostituição, também (re)organiza as relações de poder estabelecidas por uma ordem moral sexual. A complicada equação entre sexo e dinheiro, consumo e status, desejo e interdição vai se desdobrando desde a condenação moral da atividade prostitucional até uma desconfiança sobre estes mesmos julgamentos que sobre ela pesam. O raciocínio que está por trás desta desconfiança parece se fundamentar no desejo comum de uma vida próspera, marcada pelo poder de consumo, bem como na moralidade que a reveste, que concebe a riqueza como algo da ordem do bom, do bem, do certo e do belo, consoante à ética protestante, expressa pela teologia da prosperidade, que entende que o sucesso material e financeiro é sinal de bênção divina e promessa de salvação (Weber, 2005WEBER, Max. 2005. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo, Editora Martin Claret.).

O “luxo”, como qualificativo da prostituição, mobiliza ainda um repertório simbólico que opera nas expectativas de agenciadores, garotas de programa, clientes e demais profissionais e mediadores envolvidos na prática prostitucional. Funciona como um selo que precisa ser construído e reafirmado na direção da noção de exclusividade, distinção e refinamento. As fantasias relacionadas ao luxo pautam as relações, mas possuem sentidos diferentes para garotas e clientes.

Se o luxo é aquilo que ultrapassa o plano das necessidades, as prostitutas de luxo são idealizadas como aquelas que podem “se dar ao luxo” de se prostituir, rompendo com a motivação comum da prostituição para satisfação de necessidades relacionadas ao sustento. E essa fantasia da exclusividade das garotas de programa que se prostituem (essas, sim) por vontade própria, ou por um presumido desejo “autêntico” de se prostituir, reafirma a distinção daquele seleto grupo de homens que podem ter, na condição de prostitutas, mulheres que “não são prostitutas”. Pelo menos, não aquelas prostitutas de que fala o senso comum, habitantes do mundo da sujeira e da precariedade. É como se houvesse um desejo dos clientes que se realiza precisamente no vácuo do que a prostituição é, ou do que a pessoa que se prostitui faz. O luxo, para as garotas de programa de luxo, está nos seus corpos, nas roupas, nas histórias que contam dos lugares que frequentam. Este luxo que as rotula se materializa na circulação por saguões dos hotéis, na capacidade de distinguir e apreciar marcas das bebidas caras e no serviço que prestaram a clientes de determinado nível socioeconômico (seus modelos de carro, suas profissões de destaque, sua presença na mídia, seus cargos políticos, na celebridade de seus nomes). Quem empresta o qualificativo “luxo” a estes meios e às próprias garotas são, portanto, os homens. É o pertencimento socioeconômico deles que define o luxo na prostituição de luxo. Para as garotas e outros agentes envolvidos neste mercado, este luxo não é vivido como segurança para o futuro, privilégios relacionados ao nome ou a família, conforto cotidiano ou far niente contemplativo.

Ainda assim são estas diversas fantasias relacionadas às prostitutas de luxo, que as identificam com a sofisticação intelectual, física, dos modos que circulam e mediam as transações de sexo e dinheiro constituindo valores: elas reafirmam valores morais relacionados à autenticidade das elites e elaboram também os valores de troca dos programas também. Estas fantasias são então agenciadas pelas garotas em negociações cotidianas, não apenas no estabelecimento de preços, mas na formação de uma bagagem de experiências específica que as qualifica e aumenta a própria margem de negociação. Esta imagem da prostituta glamorosa concorre com a imagem mais comum da prostituta pobre, formando um campo de tensão dentro do qual as prostitutas de luxo se movem.

Estas fantasias e estereótipos a respeito das prostitutas e da prostituição de luxo deslizam, em parte, para a produção científica que tenta entender este universo desde longe, seguindo as pistas das representações tecidas a seu respeito em nichos específicos, nem sempre compostos de agentes partícipes das transações prostitucionais. E muitas vezes, tomando estas representações parciais como generalizações capazes de descrever o mundo da prostituição de luxo e suas práticas.

A pista que fica em aberto, carecendo de exploração, diz respeito às relações possíveis, reinventadas em cada contexto, entre os conjuntos de princípios que afirmam ou põem em dúvida os pertencimentos de mulheres prostitutas a tal ou qual lugar. Quem é, a final de contas, a cortesã bem educada? O que ela representa, para além dos desejos masculinos? O que ela desorganiza na figura tradicional da prostituta e porque esta desorganização é objeto de uma fantasia recorrente, na orientação deste mercado de luxo? Esta moralidade modulada, que ofusca a produção acadêmica na busca “da imagem da prostituta de luxo”, camufla que pactos com a ordem e a desordem?

É interessante notar como estas negociações do estigma, que fazem a modulação típica do que é moralmente aceitável neste contexto, do que é execrado e do que é desejado em cada circunstância, são tão particulares à prostituição dita de luxo a ponto de se poder dizer que configuram sua singularidade. É o jogo de arranjo e rearranjo destas imagens recorrentes a respeito da “prostituta de luxo” que as garotas destas redes fazem. Da ideia de exclusividade e distinção (veiculada pela imagem da garota de programa universitária) à imagem da prostituta pobre e necessitada, diversos rótulos são vestidos e despidos por estas mulheres.

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  • RUSSO, Glaucia. 2007. “No Labirinto da Prostituição: o dinheiro e seus aspectos simbólicos”. Caderno CRH, v. 20, n. 51: 497-514. https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-49792007000300009&script=sci_abstract&tlng=pt
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  • SURFISTINHA, Bruna. 2008. Na cama com Bruna Surfistinha. São Paulo, Panda Books .
  • SURFISTINHA, Bruna. 2012. 100 dicas de sedução de Bruna Surfistinha. São Paulo, Panda Books .
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  • 1
    Este artigo é produto de minha tese de doutorado defendida em 2016, com bolsa CAPES. Ver Lopes (2016)LOPES, Natânia. 2016. Experimento em Etnografia ou Sobre o que Nos Diz Giovana - um estudo sobre prostituição “de luxo” no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, tese de doutorado, Universidade do Estado do Rio de Janeiro..
  • 2
    Fichas-rosa são catálogos de modelos que prestam serviços como acompanhantes de luxo. Os valores variam algo em torno da faixa de R$500 a hora e R$20.000 a noite, dependendo se é uma mulher desconhecida ou uma figura mediática. Estes catálogos são organizados e agenciados pelas figuras das cafetinas. No Rio de Janeiro, são duas as cafetinas donas dos catálogos mais proeminentes. Estes anúncios não são disponibilizados na internet. Circulam apenas por e-mail entre clientes de alto poder aquisitivo.
  • 3
    Para uma etnografia dos bordeis de luxo ver Lopes(2015)LOPES, Natânia. 2015. “Controle Sobre os Corpos e Administração do Tempo em Bordeis Cariocas”. Revista Ponto Urbe, n. 17. DOI: https://doi.org/10.4000/pontourbe.2799
    https://doi.org/https://doi.org/10.4000/...
    .
  • 4
    Vide o trabalho de Maria Dulce Gaspar sobre garotas de programa que atuam nas boates de Copacabana. (Gaspar, 1985GASPAR, Maria Dulce. 1985. Garotas de Programa - prostituição em Copacabana e identidade social. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor.)
  • 5
    Vide os trabalhos autobiográficos que mostram este universo a partir de experiências pessoais: Pacheco (2006)PACHECO, Raquel. 2006. O Que Aprendi Com Bruna Surfistinha: lições de uma vida nada fácil. São Paulo, Panda Editora., Surfistinha (2005SURFISTINHA, Bruna. 2005. O Doce Veneno do Escorpião: o diário de uma garota de programa. São Paulo, Panda Books.; 2008SURFISTINHA, Bruna. 2008. Na cama com Bruna Surfistinha. São Paulo, Panda Books .; 2012SURFISTINHA, Bruna. 2012. 100 dicas de sedução de Bruna Surfistinha. São Paulo, Panda Books .), Urach (2015)URACH, Andressa. 2015. Morri Para Viver: meu submundo da fama, droga e prostituição. São Paulo, Planeta do Brasil., Benvenutti (2014BENVENUTTI, Lola. 2014. O Prazer é Todo Nosso. Santa Catarina, Mosarte.; 2017BENVENUTTI, Lola. 2017. Porque os Homens me Procuram - aprenda com uma profissional a apimentar sua relação. Rio de Janeiro, Editora Planeta.), Adams (2012)ADAMS, Becky. 2012. Madam - Prostitutes, Punters and Puppets: Memoirs of a very British brothel. New Jersey, BookBaby. e Quan (2001)QUAN, Tracy. 2001. Diary of a Manhattan Call Girl. Nova Iorque, Crown. são exemplos deste gênero que tiveram grande circulação no Brasil e EUA.
  • 6
    Trabalho aqui com a noção de fantasia de uma forma flexível. O termo aparece ao longo do texto, sobretudo, com o sentido de representação, ou seja, mais ou menos no sentido da psicanálise, como enredos alegóricos que veiculam o desejo. Em alguns momentos, fantasia aparece também com um sentido tomado de empréstimo da literatura (como irrealidade). E ainda, da seara do senso comum a respeito de temas relacionados à sexualidade, com um sentido aproximado ao de fetiche, aproximação essa que, do ponto de vista da teoria freudiana, careceria de elaboração, uma vez que para o autor o fetiche é a redução radical do desejo a um objeto mínimo (Freud, 1995FREUD, Sigmund. [1927] 1995. “Le Fétichisme”. In: La Vie Sexuelle. Paris, PUF, pp. 133-138.). Para uma discussão sobre as limitações da teoria psicanalítica para a apreciação do fetichismo feminino ver McClintock (2010)MCCLINTOCK, Anne. 2010. Couro Imperial: raça, gênero e sexualidade no embate colonial. Campinas, Editora da Unicamp..
  • 7
    A noção de distinção, tal como utilizamos aqui, pode ser pensada a partir da discussão de Norbert Elias sobre o processo civilizador, quando o autor aponta como elemento de transformação social as regras de etiqueta, por exemplo. As boas maneiras que simbolizam os padrões adotados pela nobreza para se diferenciar são práticas de distinção (Elias, 1993ELIAS, Norbert. [1939] 1993. O processo civilizador - Vol I: Uma história dos costumes. Rio de Janeiro, Jorge Zahar.).
  • 8
    Cf. Moraes (1996)MORAES, Aparecida. 1996. Mulheres da vila: prostituição, identidade social e movimento associativo. Petrópolis, Vozes.; Simões (2010)SIMÕES, Soraya. 2010. Identidade e Política: a prostituição e o reconhecimento de métier no Brasil. Revista R@u, v. 2, n. 1: 24-46.; Corrêa e Olivar (2010)CORRÊA, Sonia; OLIVAR, José Miguel Nieto. 2010. The Politics of Prostitution in Brazil: Between “state neutrality” and “feminist troubles”. Mimeo. https://www.academia.edu/20109482/The_Politics_of_Prostitution_in_Brazil_Between_state_neutrality_and_feminist_troubles_
    https://www.academia.edu/20109482/The_Po...
    ; Piscitelli, 2012PISCITELLI, Adriana. 2012. “Exploração sexual, trabalho sexual: noções e limites”. Seminário Corpos, sexualidade e feminilidade. Rio de Janeiro.; Olivar (2013)OLIVAR, José Miguel Nieto. 2013. Devir Puta: políticas da prostituição de rua na experiência de quatro mulheres militantes. Rio de Janeiro, EdUERJ. e Helene (2017)HELENE, Diana. 2017. “O Movimento Social das Prostitutas e o Direito à cidade para as Mulheres”. Seminário Internacional Fazendo Gênero - 11& 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis..
  • 9
    E em menor escala em letras/literatura, serviço social, história, geografia, direito e saúde coletiva.
  • 10
    As “fichas rosa” são, a bem da verdade, catálogos mais heterogêneos do que os apresentados em sites de anúncio de serviços de call girls. Há ali algumas mulheres da mídia como musas do funk, dançarinas e assistentes de palco de programas de auditório em poses consideradas mais vulgares, embora as prostitutas desconhecidas, via de regra, posem para este catálogo de biquínis e roupas de alto verão.
  • 11
    Sobre as personagens que as mulheres que prestam serviços sexuais são chamadas a assumir, ver o artigo de Lorena Caminhas sobre webcamming (2021CAMINHAS, Lorena Rúbia Pereira. 2021. “Webcamming erótico comercial: nova face dos mercados do sexo nacionais”. Revista de Antropologia, v. 64, n. 1: DOI https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2021.184482
    https://doi.org/https://doi.org/10.11606...
    ). Segundo a autora, as camgirls lidam com a fantasia de que a personagem que interpretam durante os atendimentos diante das câmeras são elas mesmas, em suas vidas cotidianas, enquanto a maioria das entrevistas, ao contrário, procura elaborar uma personagem separada daquilo que entendem como seu verdadeiro self. De certa forma, esta parece ser também a expectativa dos clientes de prostituição de luxo de que trata o presente artigo. É como se a figura da prostituta, assim a personagem criada pela camgirl para os atendimentos, soasse a artifício, afastando a experiência de uma relação sexual, na direção de uma simples troca comercial.
  • 12
    Sobre performance de gênero associada à produção de individualidades (diferenciação) e despertar de desejos, e como uma prática deste tipo pode estar inserida na economia global, ver o artigo de Rochedo, publicado em 2021ROCHEDO, Aline Lopes. 2021. “Individualidade e produção do feminino através da moda urbana Lolita.” Revista de Antropologia , v. 64, n. 1. DOI 10.11606/1678-9857.ra.2021.184475
    https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.20...
    na Revista de Antropologia.
  • 13
    O Psychopathia Sexualis é uma das mais importantes obras sexológicas do século XIX. Traz inúmeros casos concretos do que então se consideravam perversões sexuais, muitas das quais, inclusiva, são ainda hoje consideradas como tal. Citado por Freud nos seus Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade (2016FREUD, Sigmund. [1905] 2016. Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade - Análise Fragmentária de Uma Histeria (“O Caso Dora”) e Outros Textos. [1901-1905]. Rio de Janeiro, Cia das Letras.), o livro de Krafft-Ebing informou tanto a psicanálise quanto a medicina psiquiátrica, ao buscar fundamentação neurológica para os “transtornos sexuais”.
  • 14
    Para intervenções estéticas em marcadores corporais de gênero no caso de mulheres em suas “carreiras sensuais” ver Naidin (2016)NAIDIN, Silvia. 2016. (Bio)tecnologias do corpo e do gênero: uma análise da construção de corporalidades femininas. Rio de Janeiro, tese de doutorado, Universidade do Estado do Rio de Janeiro..
  • 15
    A “prostituta universitária”, para que fique claro, é tratada aqui como uma das fantasias a respeito da figura da “prostituta de luxo”. Não são sinônimos, mas tampouco o artigo objetiva fazer um inventário de “tipos”, como formas assumidas pelas fantasias que atravessam e mobilizam o mercado do sexo no âmbito da prostituição de luxo. A intenção é, antes, mostrar alguns elementos recorrentes e característicos na constituição destas fantasias, bem como de um mercado específico que procura forjar o selo do “luxo” a partir de certos recursos.
  • FINANCIAMENTO:

    O artigo é fruto de pesquisa de doutorado, que contou com financiamento CAPES de 2012 a 2015.
  • 19
    1 | Agradeço a Omar Thomaz, Brackette Williams, Cristiana Bastos, Luis Nicolau Parés, Rodrigo Bulamah, Moisés Lino e Silva, Guillermo Vega Sanabria e Maria Elvira Diaz-Benitez por seus valiosos comentários, pela interlocução e por seu estímulo. Pareceristas anônimos, a quem também agradeço, ajudaram sobremaneira a qualificar este trabalho.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Dez 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    15 Maio 2020
  • Aceito
    25 Nov 2020
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