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Editorial

EDITORIAL

".....TUDO SE TRANSFORMA..."

A. L. Lavoisier

A maioria das pessoas comuns vê a Química como uma ciência descritiva, baseada num amontoado assustador de símbolos, tabelas, regras, fórmulas e reações que nunca parecem não ter fim. Um mundo só para os iniciados onde a linguagem científica parece sobrepor à nossa realidade, como que bloqueando uma real percepção do seu papel no nosso cotidiano. Na realidade, as pesquisas e produtos químicos são cada vez mais responsáveis pela contínua melhoria do padrão de qualidade de vida do ser humano.

No Brasil, a Química vem se desenvolvendo desde a década de 30, atingindo atualmente um patamar de grande importância para a economia do país. Dados obtidos, recentemente, do Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq (www.cnpq.br/dgp/4/Site/index.html), cobrindo 90% das atividades de pesquisas realizadas no país, mostraram que o número de projetos de pesquisas em desenvolvimento no Brasil, no período compreendido entre 1998-2000, da Química (2183) superou pela primeira vez área de Física (1862), área tida como a mais produtiva.

Estes dados, e outros, devem ser analisados cuidadosamente, evitando-se entusiasmo exagerado e creditando-se às instituições que realmente contribuíram para evolução da Química no Brasil. Sem dúvida, este crescimento deve-se, em parte, aos programas de financiamento governamentais, através da CAPES, CNPq e FAPESP, mas também às Instituições de Ensino Superior Públicas. Ficou bem evidenciado nos dados do Diretório de Pesquisa que as Universidades Públicas são as principais responsáveis pelo desenvolvimento das pesquisas no Brasil, abrigando 80% dos grupos de pesquisas e cursos de pós-graduação (M & D), além da qualificação, contínua, de seu corpo docente.

O desenvolvimento da Química no País deve-se também a algumas organizações não governamentais e neste aspecto, devemos destacar a atuação da Sociedade Brasileira de Química, que em 24 anos de existência consolidou-se como um dos mais expressivos interlocutores dos químicos brasileiros, atuando de forma independente e crítica às ações governamentais, sempre que necessário. Propostas para ampliar com qualidade o sistema de ensino e pesquisa no país têm sido constantemente levadas às agências de financiamento. Suas revistas científicas passaram a fazer parte do cotidiano dos pesquisadores e professores brasileiros, tanto do ensino superior como do ensino médio, e atingiram padrões internacionais como Química Nova, com índice de impacto expressivo sendo, como é, um veículo de sociedade científica e o Journal of the Brazilian Chemical Society cujo índice de impacto atual é de 0,472. Reafirmando seu compromisso com a sociedade, a SBQ parte neste novo milênio na direção da edição de livros-textos, em português, escritos por pesquisadores brasileiros.

Não obstante a atuação da SBQ e de outras sociedades científicas e agências governamentais, as graves deficiências detectadas na Química e no sistema de C&T precisam ser apontadas. A mais grave refere-se ao aspecto da desigualdade regional, em que quase 60% das atividades de pesquisa se concentram na Região Sudeste, tendo o estado de SP posição de liderança com o maior número de pesquisadores (15.128). Essa concentração é ainda maior quando se consideram os grupos de maior qualidade, onde cerca de 80% estão localizados na Região Sudeste. O Brasil, país de dimensões continentais, tem que buscar mecanismos integrados para o seu desenvolvimento, incentivando através de financiamento o desenvolvimento de grupos de pesquisa qualificados no Brasil como um todo, principalmente na Região Norte onde são os menores do país.

Outro problema grave, que será um desafio para a Química neste novo século, é transformar seus processos antigos em outros mais econômicos e limpos, tornando a Química mais positiva para a opinião pública. As agressões ao meio ambiente são uma realidade e não se pode esconder. As pesquisas químicas devem ser desenvolvidas com a preocupação de se minimizarem não só os riscos dos processos e efluentes, como também a garantia de qualidade dos produtos químicos para o consumidor.

Quando se fala em futuro para a Química, fala-se automaticamente em investimento e busca de novas tecnologias para o País. Portanto, a expansão do setor deve ser acompanhada por uma ampliação e perenização dos recursos voltados à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico. Ainda é preciso, e necessário, continuar transformando a Química no nosso País de forma a garantirmos nosso desenvolvimento sustentado.

Vitor F. Ferreira (IQ-UFF)

Editor QN

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Jun 2007
  • Data do Fascículo
    Abr 2001
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