DEPOIMENTO: CAROLINA M. BORI
Francisco Mauro Salzano
Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Comecei a ouvir o nome de Carolina M. Bori há mais de três décadas. Na época (1964), o fundador de nosso grupo de trabalho, Antônio R. Cordeiro, havia se deslocado para Brasília, para lá organizar, na universidade recém-fundada, o Departamento de Genética. Mencionava-a ele, então, como um dos elementos mais importantes do novo núcleo de estudos. Infelizmente, o sonho de Darcy Ribeiro de tornar a Universidade de Brasília algo único fracassou. Mas nem Carolina nem Antônio esmoreceram, voltando respectivamente para São Paulo e para o Rio Grande do Sul, onde continuaram uma carreira das mais brilhantes na pesquisa e no ensino universitário.
Posteriormente, meus contatos com ela aumentaram quando, no biênio 1977-79, fui eleito para a Vice-Presidência da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), enquanto ela ocupava o cargo de Secretária Geral. Foi um período turbulento, com a tentativa de proibição, em 1977, da Reunião Anual da SBPC pela ditadura militar, e a pronta resposta de cientistas e intelectuais em geral contra tal arbitrariedade. Na ocasião Carolina soube manter a firmeza e a tranqüilidade de espírito que lhe são peculiares.
Nos anos subseqüentes Carolina foi reeleita Secretária Geral (1979-81), eleita por dois mandatos Vice-Presidente (1981-83; 1983-85), e por outros dois Presidente (1985-87; 1987-89) da SBPC. Na direção de nossa maior sociedade científica ela continuou a demonstrar a sua capacidade de administradora hábil, posicionando-se firmemente com relação a uma série de questões relacionadas com a ciência brasileira.
Quando de meu novo mandato de Vice-Presidente da SBPC (1993-95) tive a oportunidade, em 1994, de conversar demoradamente com Carolina em Vitória, ES, por ocasião da 46a. Reunião Anual daquela sociedade. Seus princípios e conceitos sobre o que era e não era importante para a nossa ciência foram então reiterados, para o meu maior benefício.
Num país em que a investigação científica é considerada por muitos como um luxo, e os cientistas loucos ou bobos, é um prazer participar desta homenagem. O exemplo de toda uma vida dedicada à pesquisa e ao ensino superior talvez contribua para uma mudança de atitude e uma maior compreensão do papel da ciência como propulsora do progresso social.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
25 Nov 1998 -
Data do Fascículo
1998