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Bataille com Lacan

Bataille with Lacan

Resumos

O texto pesquisa a relação de Bataille com Lacan, sustentando que esses dois autores influenciaram-se mutuamente em suas obras. Trata da repercussão da obra de Freud sobre os surrealistas franceses e rastreia ressonâncias da obra de Bataille na obra de Lacan, demonstrando como essas ressonâncias são perceptíveis na sutileza de uma análise de significantes.

Bataille, Georges; Lacan, Jacques


The text researches the connection between Bataille and Lacan, sustaining the idea that both authors had influence on each other’s work. It considers the repercussions of Freud’s works over French Surrealists and traces resonance of Bataille’s works on Lacan’s, demonstrating how these resonance are perceptive in a significant analysis subtlety

Bataille, Georges; Lacan, Jacques


BATAILLE COM LACAN1 1 Trabalho apresentado no Colóquio da instituição francesa GREC: L'Écrit du Corps, em 8 de dezembro de 1991 e publicado na revista La Part de L'Oeil, Bruxelles, Número 10, novembre 1994. ,2 1 Trabalho apresentado no Colóquio da instituição francesa GREC: L'Écrit du Corps, em 8 de dezembro de 1991 e publicado na revista La Part de L'Oeil, Bruxelles, Número 10, novembre 1994.

Roland Lethier3 1 Trabalho apresentado no Colóquio da instituição francesa GREC: L'Écrit du Corps, em 8 de dezembro de 1991 e publicado na revista La Part de L'Oeil, Bruxelles, Número 10, novembre 1994.

École Lacaniènme de Psychanalyse

O texto pesquisa a relação de Bataille com Lacan, sustentando que esses dois autores influenciaram-se mutuamente em suas obras. Trata da repercussão da obra de Freud sobre os surrealistas franceses e rastreia ressonâncias da obra de Bataille na obra de Lacan, demonstrando como essas ressonâncias são perceptíveis na sutileza de uma análise de significantes.

Descritores: Bataille, Georges. Lacan, Jacques.

Em 1920, para concluir Além do princípio do prazer, Freud (1972) havia indicado uma forma de prosseguir mesmo quando falta um pé. Freud citara então um fragmento de um poema de Rückert:

Was man nicht erfliegen kann, muss man erhinken.

Die Schrift sagt, es ist keine Sünde zu hinken.4 4 Ao que não podemos chegar voando, temos de chegar manquejando. A escritura diz que não é nenhum pecado claudicar.

Este título: "Bataille com Lacan" tem duas fontes que serão explicitadas, e o campo da proposição será limitado, bordejado.5 4 Ao que não podemos chegar voando, temos de chegar manquejando. A escritura diz que não é nenhum pecado claudicar. As bordas que limitam este campo são em número de três.

A primeira borda foi tomada de empréstimo de "Corbu," o arquiteto revolucionário que há pouco mais de um século depois de Claude-Nicolas Ledoux veio restituir à autonomia das formas em arquitetura sua força inovadora. A propósito desta jóia formal que é a vila Savoye em Poissy, Le Corbusier propunha o seguinte modo de aproximação: "É andando, se deslocando que se pode ver se desenvolverem as ordenações da arquitetura. É um princípio contrário à arquitetura barroca que é concebida sobre o papel em torno de um ponto fixo teórico" (Kaufman, 1981).

- A primeira borda propõe portanto um percurso sem ponto teórico fixo de início.

- A segunda borda é a proposição número 7 do Tractatus logico-philosophicus de Witgenstein (1988) que se enuncia assim: "sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar" (p. 107).

Esta borda indica que este desenvolvimento será marcado pela prática da "honesta dissimulação," prática que é a primeira qualidade do secretário escrupuloso (Acetto, 1990).

- A terceira borda pode ser ilustrada pela seguinte historieta:

"Um aluno chega em uma classe e se dá conta que todos os lugares estão ocupados, ele se encontra sem lugar e fora da classe."

Post – intro

A Escritura do desastre (Blanchot, 1980) é a expressão que convém melhor para qualificar a escritura que os historiadores da literatura e os críticos consideram como inclassificável (não é em todo o caso a única).

Era ele filósofo, poeta, economista, escritor, antropólogo, historiador de arte ou mais banalmente bibliotecário?

Georges Bataille se qualificava, ele mesmo, de filósofo, de santo ou talvez de louco, aquele "que pensa da maneira como uma menina tira a roupa. Na extremidade de seu movimento, o pensamento é o impudor, a própria obscenidade."

Este estatuto de inclassificável traz já em si uma ponta de subversão e, deste fato, faz apelo a um outro inclassificável para acolher sua verdade.

Este outro inclassificável é, socialmente, o nome do psicanalista devido seu justo afastamento da ordem social.

É por não fazer parte de uma ordem que o psicanalista pode acompanhar o desenvolvimento da "ordem de posições subjetivas do ser."6 4 Ao que não podemos chegar voando, temos de chegar manquejando. A escritura diz que não é nenhum pecado claudicar.

A primeira fonte deste título "Bataille com Lacan" se liga portanto a esta qualidade comum "de inclassificável" de Bataille e de Lacan.

A segunda fonte deste título se liga à História da psicanálise na França; é o título de dois volumes que trazem como subtítulo: A batalha de cem anos.7 4 Ao que não podemos chegar voando, temos de chegar manquejando. A escritura diz que não é nenhum pecado claudicar. Este subtítulo é brevemente explicitado na advertência do volume 1:

O tempo da batalha não é aquele da guerra, mas de um momento privilegiado da guerra, onde a história de uma doutrina se confunde com aquela de suas crises, onde as crises testemunham da implantação de uma doutrina, de derrotas ou de suas vitórias. (Roudinesco, 1982, p. 13)

Esta demonstração confunde por sua certeza retórica, mas a questão que este subtítulo coloca, com a conotação franco-inglesa e da idade média sobre a qual ele insiste, é de imediato a questão da duração, a questão desses "cem anos."

Não existe de fato nenhuma razão para que esta batalha tenha durado apenas cem anos e tenha terminado em 1985, salvo talvez a supor que a historiadora pressentindo um fim próximo já tenha enterrado a psicanálise.

A segunda questão que traz esse subtítulo, já marcado de suspeição, concerne a introdução desse nome: batalha.8 8 O autor se refere à homofonia em francês do nome Bataille e da palavra batalha.

Utilizando esse nome em aposição, em contraponto de A história da psicanálise na França, a historiadora tomou o risco de ocultar a presença desse nome nesta história e mais particularmente na freqüentação9 8 O autor se refere à homofonia em francês do nome Bataille e da palavra batalha. de Lacan.

A presença do substantivo comum reduz a presença do nome próprio à anedota.

Desta forma este texto se apresenta como um antídoto a esta redução à anedota.

Após a intro: o impro ...

No campo francês, os textos de Freud foram acolhidos de forma fecunda e de forma dogmática, esta última forma não será tratada aqui.

A forma fecunda se liga ao fato de que os textos de Freud não foram tomados como certos, os mais versados para a escritura, como aulas mas como o fermento, a levedura que lhes permite dar ar (respiração) à sua escritura. Eles traziam igualmente essa novidade estilística que pode ser qualificada de improvisação rigorosa (Roudinesco, 1986).10 8 O autor se refere à homofonia em francês do nome Bataille e da palavra batalha.

Os surrealistas, logo entenderam aí um suporte e uma sustentação para aquilo que eles tinham a dizer (Léthier, 1993).

Georges Bataille, que não era bretão11 8 O autor se refere à homofonia em francês do nome Bataille e da palavra batalha. mas simplesmente do campo ou, mais precisamente ainda, das velhas montanhas centrais, não passou ao largo dos textos de Freud que ele leu desde 1923 (ele tinha 26 anos). Ele não se precipitou em ir a Viena como Breton o fez em 1921 (Breton, 1988, p. 255), pelo contrário esta leitura precedida pela leitura de Nietzsche o treinou em uma escritura de um singular extremismo.

Falar para não dizer nada será a aposta a sustentar para aproximar a particular proximidade de Lacan com Bataille. É igualmente uma posição estrutural falar para não dizer nada, trata-se, então, de seguir um percurso, de seguir isso que foi dito e como foi dito.

A partir de Encore12 8 O autor se refere à homofonia em francês do nome Bataille e da palavra batalha.

Em sua importante biografia de Georges Bataille, Surya (1987, p. 536) dá na bibliografia final a lista das obras consagradas a Georges Bataille. Ele nota a presença de Georges Bataille em: Lacan (1975a). É o único texto de Lacan que foi citado.

Por seu lado, Roudinesco (1986) em sua Batalha de cem anos cita igualmente este seminário:

Este seminário é estupendo. Ele faz sintoma do último retorno, na cena francesa, do grande Lacan barroco da maturidade romana e da visita ao Papa que não deu certo. Mas ele é também uma homenagem ao Bataille de Madame Edwarda, à figura absoluta do ódio e do amor a Deus. (p. 528)

Ora, é notável que no seminário Encore, de 1972-1973, nem Bataille nem Madame Edwarda (Bataille, 1971) estão citados. Pelo contrário esses dois nomes são citados em um escrito de Lacan mas isso não é notado nem por Surya nem por Roudinesco.

Bataille é encontrado lá onde ele não está e não é notado lá onde ele está.

Ao longo deste seminário Encore Lacan trata e retrata de um certo número de questões que se ligam a Deus, ao amor, à ética, às matemáticas, ao gozo, à letra, a Roma, ao corpo, ao nome, à desordem, à elegância ... não é o caso de resumir este seminário (não mais que um outro), assim como não é o caso de ficar no limiar de sua transcrição crítica.

No decorrer deste seminário Encore, no dia 20 de fevereiro de 1973, Lacan (1973) evoca um eco a fazer:

Seria, parece-me, arrogante não atravessar ou fazer eco disso que, no curso das idades, e de um pensamento se denominou – eu devo dizer impropriamente filosófico - disso que ao longo da eras, elaborou-se sobre o amor. Eu não vou fazer aqui uma revisão geral, mas penso que, tendo em vista o gênero de cabeças que eu vejo aqui reunidas, vocês devem ao menos ter ouvido falar que, do lado da filosofia, o amor de Deus neste assunto ocupou um certo lugar e que há aí um fato maciço de que ao menos lateralmente o discurso analítico não pode deixar de levar em conta.

Diante de um público que não é uma multidão convencional, Lacan não faz uma "revisão geral."

Nesta revisão geral, que ele não faz, "disso que ao longo das eras, se elaborou sobre o amor", Lacan deixa supor um certo número de textos e entre eles, porque não: Madame Edwarda (Bataille, 1971, pp. 9-31).

Este pequeno texto assinado por Pierre Angélique foi escrito em setembro – outubro de 1941 (Bataille vivia com Denise Rollin no 3, rue de Lille em Paris) e foi publicado em dezembro de 1941 pelas edições Solitaire com uma falsa data de edição: 1937. A partir de 1956, o texto foi publicado pelas edições Pauvert com um prefácio de Georges Bataille introduzido por uma citação de Hegel:13 8 O autor se refere à homofonia em francês do nome Bataille e da palavra batalha.

"A morte é o que existe de mais terrível e manter a obra da morte é o que pede a maior força."

Neste texto existem duas ocorrências do advérbio "ainda:"14 14 Encore, palavra francesa que significa ainda.

- quando o homem subiu ao quarto de Madame Edwarda, é notado:

- "O delírio de estar nua a possuía: esta vez ainda,15 14 Encore, palavra francesa que significa ainda. ela separou as pernas e se abriu: a áspera nudez de nossos dois corpos nos jogava no mesmo esgotamento do coração" (p. 22).

- No momento de partir com o táxi, Madame Edwarda diz: "... ainda16 14 Encore, palavra francesa que significa ainda. não ... que ele espera ... (Bataille, 1971, p. 28).

No seminário Encore nem o autor, nem o título deste texto são portanto explicitamente citados.

Bataille que era empregado pela administração francesa tinha, para evitar qualquer aborrecimento, assinado esta pequena narrativa com o nome de Pierre Angélique.

Por ocasião da primeira sessão de Encore, no dia 21 de novembro de 1971, Lacan introduz uma decomposição do adjetivo "étrange:"17 14 Encore, palavra francesa que significa ainda.

Somente, eis aí o que se diz para aquilo que é do gozo, quando ele é sexual. O gozo é marcado de um lado por esse buraco que não lhe assegura outra via senão a do gozo fálico, será que do outro lado, algo não pode ser atingido, algo que nos diria como aquilo que até então era somente falha, abertura no gozo, seria realizado?

É isso que, coisa singular, não pode ser sugerido senão pelas coisas percebidas como muito estranhas. Estranho18 14 Encore, palavra francesa que significa ainda. é uma palavra que pode se decompor: "o ser anjo,"19 14 Encore, palavra francesa que significa ainda. é bem uma coisa contra a qual nos põe em guarda a alternativa de ser tão bobo quanto o periquito de agora pouco (o periquito de Picasso). Contudo, olhemos de perto isso que nos inspira a idéia que, no gozo dos corpos, o gozo sexual tem o privilégio de poder ser interrogado como sendo especificado, ao menos, por um impasse. (Lacan, 1975a)

As referências textuais que permitem ligar Madame Edwarda e o seminário Encore estão então nesta discreta referência ao anjo de Pierre Angélique, e nas duas ocorrências: " ...: esta vez ainda (encore) ..." e a indicação ao chofer de taxi, "... ainda não ... que ele espera ..."

De forma provocante, nós podemos também assinalar que quando da última sessão de Encore de 26 de junho de 1973, Lacan fala do rato: "A gente não se pergunta absolutamente sobre aquilo que pode sustentar o ser de um rato ...," esta história de rato não é completamente estranha a Bataille (Bataille, 1947). Em Encore há anjo na partida e rato no final.

Esta forma de decompor "étrange" em "être ange," em novembro de 1972, vem um mês depois da conferência de Louvain durante a qual um moço revoltado, que implicava com a gravata de Lacan, foi nomeado por este: "É um anjo" (Lacan, 1972).

Pode-se notar igualmente que em 1944, Bataille havia publicado nas edições Messages, o Archangélique, cuja primeira parte tinha sido publicada em 1943 sob o título La douleur (Duras, 1985).

Atendo-se estritamente às referências textuais é então difícil de sustentar que o seminário Encore é "também uma homenagem ao Bataille de Madame Edwarda," tanto mais que a dama em questão não se apresenta como "a figura absoluta do ódio e do amor a Deus," mas pior que isso, no primeiro diálogo com o homem ela diz: "Tu vês, diz ela, eu sou Deus ..." (Bataille, 1971, p. 21).

Lacan (1965) escreveu uma homenagem (pp. 7-15), ele a faz a Marguerite Duras, aquela que quarenta e dois anos depois de Bataille escreveu igualmente La douleur (Duras, 1985).

Como então situar e nomear esta presença de Bataille no Encore?

As referências textuais que pudemos salientar levariam a falar de piscada de olho, deste gênero de pequeno signo, de pequena marca que utilizam aqueles que estão em uma certa cumplicidade.

Isto não é verdadeiramente a presença de um código estabelecido nas mensagens, é discretamente pequenas coisas intimamente partilhadas que se manifestam por pequenas pinceladas, por certos tiques de linguagem que deixam aqueles que não estão na jogada um pouco perplexos.

Os outros sentem bem que se passa alguma coisa que lhes escapa, sem poder nomear.

Estas pequenas astúcias linguageiras, sublinhando a cumplicidade, portam em si esta mensagem justa, um pouco irritante para o meio, e que Lapointe (1970) formulou pertinentemente:

Eu digo que o amor,

Mesmo sem amor,

É assim mesmo o amor

Compreende quem pode ou compreende quem quer!

A partir de Encore, já que é a pista que nos propuseram Surya e Roudinesco, pudemos salientar uma relação textual discreta (diz - secreto, diz – se - cria)20 14 Encore, palavra francesa que significa ainda. entre Madame Edwarda de Bataille e o que Lacan enuncia no Encore, em particular com a piscadela ao anjo de Pierre Angélique.

Existe, portanto um caminho a fazer para abordar essa proximidade de Bataille com Lacan.

Para fazer isso iremos salientar as ocorrências, as referências, os cruzamentos localizáveis e tentar (como o diabo) fazê-los falar ou mais simplesmente situar sua razão.

De 1916 a 1962 Georges Bataille não cessou de escrever e seria redutor dizer que seus trabalhos, constituídos de narrativas, de artigos, e de estudos teóricos foram uma seqüência de variações a partir dessa tríade: o erotismo, o sagrado, a morte.

Para escrever seu último texto, As lágrimas de Eros (Bataille, 1961), Bataille, vítima de uma doença incurável, jogou suas últimas forças. Este pequeno livro é de uma extrema clareza, e apresenta em um estilo conciso, sem ênfase, a presença do erotismo na história da humanidade. Os argumentos são sustentados e reforçados por reproduções fotográficas de afrescos rupestres, de esculturas, de desenhos, de quadros.

Esse texto ilustrado chega depois de numerosos estudos e narrativas, no curso das quais essa temática foi desenvolvida e depois depurada. Neste trabalho, Bataille foi sustentado e acompanhado pela psicanálise e por psicanalistas (temos que precisar que a psicanálise e os psicanalistas são palavras que podem se referir a entidades diferentes).

Pouco depois do aparecimento do Erotismo, em 1957, nas edições Minuit, Bataille escreveu a Roger Callois para submeter a ele um projeto de revista que se intitularia Genèse (esta revista não viu jamais o dia!).

A revista Genèse deveria tratar de sexologia, de psicanálise, e de filosofia da sexualidade, ela devia fazer seqüência às atividades do Collège de Sociologie. "Nós desejaríamos que GENÈSE contribuísse para trazer luz sobre os aspectos do homem mais secretos e mais difíceis de conhecer."

Para esta revista Bataille tinha se assegurado da colaboração de Mauss, Caillois, Sartre, Merleau-Ponti, Michaux, Blanchot, Beckett ...

Em sua carta a Caillois, Bataille (1987) desenvolveria o estado de suas elaborações:

Os trabalhos de Freud permitiram saber que os impulsos sexuais se traduzem também em nossas aspirações elevadas: elas se exprimem em particular na religião, e finalmente, na arte e na literatura. Nós somos assim, pela psicanálise, nas antípodas da maneira de ver antiga, para a qual a sexualidade é a tara congênita de uma criatura aspirando a perfeição.

Se os resultados da psicanálise estão na base do conhecimento moderno da sexualidade, deve-se hoje, sem negligenciá-los, ir além. Nós podemos reencontrar a significação do erotismo no plano onde se colocava outrora a religião. Talvez estejamos, desta forma, diante de uma das descobertas as mais certas de nosso tempo. É neste sentido ao menos que nós podemos aceder às últimas conseqüências de nossa revolução sexual.

Eis o que hoje podemos avançar:

NA VERDADE FUNDAMENTAL, O EROTISMO É SACRO, O EROTISMO É DIVINO.

Reciprocamente, o sagrado, o divino, se eles podem se afastar do erotismo, na base sem a sua violência e a sua intensidade, participam da mesma impulsão.

A humanidade profunda se revela a nós somente se reconhecemos a unidade do sentimento divino – do estremecimento sagrado- e do erotismo desligado da imagem grosseira imposta pelo exagerado pudor tradicional. (p. 632)

É, portanto, no quadro de uma temática ampla, no sentido de uma vasta retrospectiva, que a obra de Bataille vem se inscrever nisto que Lacan preconiza não menosprezar.

A ligação entre Madame Edwarda e Encore pode, portanto, em primeira aproximação, se escrever como textualmente discretas e dentro do quadro da ampla temática "daquilo que ao longo das eras, elaborou-se sobre o amor."

Os textos do autor de Histoire de l’oeil (Bataille, 1973b, pp. 9-78) não foram comentados por Lacan durante muitos meses como foi o caso para O Banquete e Hamlet. Ele deu para eles apenas uma piscadela, dez anos (dizendo)21 21 Dix ans (disant) - trocadilho do autor sobre a homofonia destas palavras (N. T.). depois da morte de seu autor. Esta simpatia, post mortem, atesta. Ela dá testemunho daquilo que certos humanos puderam sustentar desta posição ética que se formula assim: "amigo você é e você permanece."

Amizade

Este laço de amizade entre Bataille e alguns outros se reencontra em colaborações a produções e em histórias de apartamentos em Paris.

- André Masson ilustrou Histoire de l’oeil (Bataille, 1973b), L’anus solaire (Bataille, 1973a), Sacrifices (Bataille, 1936), Giacometti e o fiel Leiris colaboram na revista Documents criada por Bataille em 1929.

- Em 1933 Masson e Bataille criam a revista Minotaure (1933), revista na qual serão publicados: O problema do estilo e a concepção psiquiátrica das formas da experiência, e Motivos do crime paranóico – O crime das irmãs Papin do doutor Jacques Lacan.

- Em 1937 com Callois, Leiris, Klossowski, Waldberg, Bataille organiza a sociedade secreta "Acéphale"22 21 Dix ans (disant) - trocadilho do autor sobre a homofonia destas palavras (N. T.). e a revista do mesmo nome.

Eles fundaram também o Collège de Sociologie e a Société de Psychologie Collective cujo objetivo é estudar "O papel, nos fatos sociais, dos fatores psicológicos, particularmente de ordem inconsciente, ..."

- Em 1941, Bataille, que morava na casa Denise Rollin no 3, rue de Lille, avisa a Lacan que um apartamento acaba de desocupar no 5, rue de Lille, e quando em 1943, Denise Rollin deixa o apartamento do 3, depois de separar-se de Bataille, Lacan o retomou para nele alojar Sylvia Bataille, Laurence e Judith (Roudinesco, 1933, p. 221).

A relação de amizade intervém eminentemente a propósito do endereço, do lugar de moradia, um amigo não é deixado sem lugar. A relação de amizade sabe os efeitos devastadores do "não lugar" (Althusser, 1992).

No dia 17 de março de 1961 foi organizado no hotel Drouot um bazar para permitir a Bataille trabalhar "em paz."

Arp, Bazaine, Ernst, Fautrier, Giacometti, Masson, Matta, Michaux, Miro, Picasso, Viera da Silva, Tanguy ... deram uma pintura, um desenho, uma aquarela, cuja venda permitiu a Bataille comprar um apartamento:

... no bairro mesmo onde eu quase sempre morei, rua Saint-Sulpice, que será, isso que era impensável para mim, tão agradável quanto aquele que eu tinha na rue de Lille no momento em que eu precisei de certa forma me exilar.23 21 Dix ans (disant) - trocadilho do autor sobre a homofonia destas palavras (N. T.).

Enquanto as histórias de amor se prestam facilmente a provocar muita repercução no público, e junto com as catástrofes e os assuntos criminais, elas convêm bem para alimentar "o peso das palavras e o choque das fotos," as ligações de amizade são o objeto de um respeito e de uma transmissão discreta.

Enquanto as histórias de amor, em sua passagem ao público, se avizinham dos acontecimentos catastróficos já passados, as ligações de amizade são consideradas como pertencendo a um tempo de fomentação, um tempo ao qual o público não tem acesso e que ele respeita como tal. A discrição da informação concernente às ligações de amizade testemunha a presença neste tipo de ligação de uma criação, de uma formação, isso que as põe em proximidade com a cura analítica.

Os testemunhos das relações de amizade com Bataille e em torno dele não são nem escondidos, nem exibidos, eles se encontram como as veias de minério no solo, a seguir o traço, sem pressa.

L’Amitié, é o título de um pequeno livro de Blanchot (1971), ele começa, em exergo, com uma citação de Bataille:

Minha amizade cúmplice: lá está

tudo o que meu humor leva

aos outros homens

... amigos até este estado de amizade

profunda em que um homem abandonado,

abandonado por todos seus amigos,

encontra na vida aquele que

o acompanhará para além da vida,

ele mesmo sem vida, capaz da amizade livre,

desligada de todos os laços.

O primeiro capítulo de L’Amitié se intitula: Nascimento da arte, ele faz explicitamente referência ao estudo de Bataille (1979, 1986): Lascaux ou o nascimento da arte.

O último capítulo intitulado: L’amitié é também dedicado a Bataille, ele contém isso que poderíamos chamar a teoria da amizade, que, justamente não tem nada de teórico:

Nós devemos renunciar a conhecer aqueles a quem nos liga qualquer coisa de essencial; eu quero dizer, nós devemos acolhê-los na relação com o desconhecido onde eles nos acolhem, nós também, em nosso afastamento.

A amizade, essa relação sem dependência, sem episódio e onde entra entretanto toda a simplicidade da vida, passa pelo reconhecimento da estranheza comum que não nos permite falar de nossos amigos, mas somente de lhes falar, não de fazer deles um tema de conversação, mas o movimento da escuta onde, nos falando, eles reservam, mesmo na maior familiaridade, a distância infinita, esta separação fundamental a partir da qual isso que separa se torna relação. (Blanchot, 1971, p. 328)

O livro de Blanchot começa e se conclui com Bataille, ele está emoldurado pela referência a Bataille. Ele vem confirmar que esta relação, esta relação de amizade é aquela na qual esses que estão "fora da classe" podem sustentar e transmitir sua estranheza.

Os amigos e a escritura

Em um bilhar as operações que consistem em fazer com que três bolas se encontrem são belas e complexas, elas utilizam os ricocheteios e as bandas laterais. O encadeamento dos golpes faz esquecer imediatamente a forma como os golpes precedentes foram concebidos, a operação não vai se referir senão à nova configuração e a forma como as posições respectivas das bolas poderão permitir o maior número de encadeamentos possíveis, antes de ceder o lugar a um outro jogador.

Esta metáfora do jogo de bilhar pode servir para ilustrar o modo de circulação dos encadeamentos em um grupo de amigos.

Há uma certa elasticidade no grupo de amigos, seu limite é menos claro que aquele de outras formações, aquele do meio surrealista por exemplo. A relação estabelecida entre os amigos "na maior familiaridade" e que reserva esta "distância infinita, esta separação fundamental" é uma relação às bordas movediças, seu litoral pode acolher as marés e as tempestades, ele pode se estreitar e se estender sem se preocupar demais com sua existência e seu futuro, não é uma formação política.

O modo de presença no grupo de amigos é definido por Blanchot como aquele, não mais de um "Eu," mas aquele de um "Quem?," de um "ser desconhecido e deslizante de um "Quem?" indefinido.

Este desvio pelo tecido da amizade dá a possibilidade de retomar o paradoxo trazido pelo biógrafo-historiador e historiadora-biógrafa em sua apresentação das ligações entre Bataille e Lacan:

Bataille é encontrado lá onde não está e não é localizado lá onde efetivamente está.24 24 Elisabeth Roudinesco joga uma luz sobre a ausência de Bataille no índice de nomes próprios dos Écrits: "No mês de outubro de 1966, no momento em que sua grande obra havia partido para a impressão, Lacan telefonou em plena noite para Wahl: "É preciso absolutamente fazer um índice! Exclamou ele. Esgotado pelos meses de trabalho, Wahl recusou-se a se colocar a trabalho e foi a Miller que Lacan confiou esta tarefa, algumas semanas antes do casamento deste com Judith. Compondo o índice, o jovem homem cometeu um formidável ato falho: esqueceu de fazer figurar aí o nome de Georges Bataille, entretanto citado no texto" (Roudinesco, 1933, p. 427).

Havíamos empregado a expressão piscadela para qualificar a eventual relação entre Encore e Madame Edwarda.

De seu lado as edições Skira talvez tenham sublinhado, sem o saber, esta dimensão intitulando o livro-tese publicado em 1955: BATAILLE-LASCAUX, a proximidade homofônica vindo discretamente lembrar a proximidade de amigo.

É notável que neste mesmo ano de 1955, Bataille, que acabara de publicar esta tese ilustrada sobre o nascimento da arte e o nascimento da humanidade, aconselhe Lacan a comprar o quadro de Courbet L’origine du monde.

Este quadro é considerado com o nu mais escandaloso que jamais foi pintado e, igualmente, como um dos três ou quatro maiores quadros da história da pintura.25 24 Elisabeth Roudinesco joga uma luz sobre a ausência de Bataille no índice de nomes próprios dos Écrits: "No mês de outubro de 1966, no momento em que sua grande obra havia partido para a impressão, Lacan telefonou em plena noite para Wahl: "É preciso absolutamente fazer um índice! Exclamou ele. Esgotado pelos meses de trabalho, Wahl recusou-se a se colocar a trabalho e foi a Miller que Lacan confiou esta tarefa, algumas semanas antes do casamento deste com Judith. Compondo o índice, o jovem homem cometeu um formidável ato falho: esqueceu de fazer figurar aí o nome de Georges Bataille, entretanto citado no texto" (Roudinesco, 1933, p. 427).

Para mascarar esta "fenda escandalosa" aquela que Brassens chamou de ferimento congênito. Lacan de seu lado, muito inspirado por Madame Edwarda, falava do sexo da mulher, "como um lugar de horror, um buraco aberto, uma ‘coisa’ dotada de uma oralidade extrema, de uma essência incognoscível: um real, uma heterologia" e ao mesmo tempo descobrí-la, Masson, a pedido de Lacan, pintou uma paisagem sobre um engenhoso sistema de moldura de fundo duplo e deslizante. A paisagem pintada por Masson retoma escrupulosamente as linhas do corpo do quadro de Courbet, ele segue o envelope formal.

Neste mesmo ano de 1955, Lacan começa seu seminário sobre as estruturas freudianas nas psicoses, uma parte deste seminário será retomada por escrito em um artigo (publicado primeiramente em La Psychanalyse, v. 4, 1958, depois nos Écrits (Lacan, 1966a, pp. 531-583) intitulado De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose. Este artigo contém: "Isso que nós demos ao nosso seminário durante os dois primeiros trimestres do ano de ensino 1955-56, portanto, o terceiro ficando excetuado" (Lacan, 1966a, p. 531).

A propósito da psicose, Lacan dá este estatuto particular ao terceiro: "..., portanto o terceiro ficando excetuado."

Na seqüência dos trimestres de ensino: 1, 2, 3, no momento de passagem ao escrito, o terceiro fica excetuado: 1, 2/3, a seqüência está quebrada, o terceiro se torna o termo que falta na seqüência.

Este artigo que foi escrito num espaço de dois meses (dezembro de 1957 - janeiro de 1958) termina em uma nota que explicita a expressão empregada por Schreber:

"Deus é uma p..."

É assim que a última palavra onde "a experiência interior" de nosso século. Nos tenha entregado seu cômputo, se acha articulado com cinqüenta anos de antecedência pela teodicéia26 26 O termo empregado por Lacan é Théodicée, neologismo que junta théo - deus + odissée - odicéia. Optei por manter a tradução o mais próxima possível do termo empregado em francês (N. T. ). à qual Schreber expõe: "Deus é uma p ... 1" (Lacan, 1966a, p. 583)

A nota (1) da página 583 (acrescentada em 1966) é a seguinte:

Sob a forma: Die Sonne ist eine Hure (S. 384-APP.). O sol é para Schreber o aspecto central de Deus. A experiência interior , de que se trata aqui, é o título do trabalho central da obra de Georges Bataille. Em Madame Edwarda, ele descreve desta experiência a extremidade singular. (Lacan, 1966a, p. 583)

É a única referência a Georges Bataille feita por Lacan em um escrito.

Em Madame Edwarda, na extremidade do texto, Bataille (1971) escreve:

Minha vida não tem sentido senão na condição de que ela faça falta; que eu seja louco: compreenda quem pode, compreenda quem morre ...; assim o ser esta lá, nem sabendo porque, de frio permanece tremulo ...; a imensidão, a noite o envolveu e propositadamente, ele está lá para ..." não saber." Mais DEUS? Que dizer dele senhores. Eloqüente, senhores Crente, - Deus, ao menos, saberia ele? DEUS, se ele "soubesse," seria um porco. Senhor, eu rogo em minha aflição, a "meu coração," livre-me, cegai-os! A narração, continua-la-ei?

Eu disse: "Deus, se ele "soubesse" seria um porco. Aquele que (eu suponho que ele estaria, no momento, mal lavado, "despenteado") sustentaria a idéia até o fim, mas que teria ele de humano? Para além, e de tudo ... mais longe, e mais longe ... ELE MESMO, em êxtase acima de um vazio ... e agora? Eu TREMO. (p. 31)

O caminho que nós tomamos, a partir de Encore, conduz a reencontrar uma seqüência ao propósito que conclui Madame Edwarda.

Lá onde Bataille concluiu em 1941: ... assim o ser está lá ... para ... "não saber."

Lacan retoma no dia 21 de novembro de 1972:

Com o tempo, eu tomei o hábito de me aperceber que afinal de contas eu podia dizer aí um pouco mais. E depois eu percebi que o que constituía meu encaminhamento era qualquer coisa da ordem do "eu não quero saber de nada disso." (Lacan, 1972)

No ponto onde Bataille suspende seu propósito à beira da loucura, Lacan prossegue retomando a questão do "não saber" e subjetivando-a ao máximo: "eu não quero saber de nada disso," ele recoloca em corpo aquele que rogaria pelo "meu coração."

Continuação

Essa forma de tomar a seqüência, de restabelecer a seqüência ao ponto, "Wo es war ...," onde o outro chegara a um "fim de partida" é uma prática que Bataille já havia experimentado, justamente a propósito da loucura. O paralelo com a forma pela qual Freud descartou um trabalho sobre a loucura de Nietzsche dá mais relevo ao caso.

Em 1934, Arnold Zweig, escritor e fiel amigo de Freud, tinha desde um certo tempo a intenção de empreender o romance da alienação de Nietzsche estabelecendo uma relação com Freud, ele escreveu a Freud em 28/04/1934: "Ora eu me aproximo dele há anos, neste sentido que eu reconheci em vós, pai Freud, o homem que fez tudo aquilo que este bom Fritz Nietzsche se contentou em pintar" (Freud, Zweig, & Bataille, 1979, p. 111).

Em 11 de maio de 1934, Zweig pede de novo a Freud ajuda para empreender seu trabalho. Freud, desaconselhando completamente Zweig de se lançar neste trabalho, comunica este pedido a Lou Andreas Salomé, que ele considera como a mais adequada para ser a conselheira para este propósito (Freud et al., 1979, pp. 113-115).

No dia 20 de maio de 1934, Madame Lou (Andreas-Salomé, 1985) faz a seguinte resposta a Freud, que a transmite a Zweig:

Esta participação é absolutamente impensável naquilo que me concerne e mesmo sendo muito pequena, impossível. Para mim, é para não ser tocado; eu resisto a esta idéia com pavor. Eu vos peço, diga isso a quem de direito e com a maior energia e para sempre. Como, aliás, você tem razão de aconselhá-lo com insistência de abandonar este projeto Nietzche. (p. 251)

Zweig insiste ainda junto a Freud que novamente vai contra ele a propósito da constituição sexual de Nietzsche dizendo que Nietzsche tinha uma doença grave (carta de 15 de julho de 1934).

No dia 12 de agosto de 1934, Zweig escreve novamente a Freud fazendo-o parte de seu projeto de estudar a fuga na psicose de Nietzsche e ele pede a Freud: "Que devo ler para compreender vossa doutrina da psicose, além do Presidente Schreber, que eu conheço?"

Freud não responde e anuncia seu projeto de trabalho sobre "o homem Moisés, um romance histórico (com mais razão que vosso romance sobre Nietzsche)" para tentar compreender "... porque o judeu se tornou aquilo que ele é e porque ele atraiu para si este ódio eterno."

Esta troca entre Freud e Arnold Zweig é exemplar de uma política de substituição.

Logo de saída pode-se sublinhar que Freud denomina Arnold Zweig: "Caro mestre Arnold" mas que na prática é ele, Freud, quem orienta, ou em todo caso quem não autoriza certas vias.

Esta via da relação ao semelhante e à loucura é barrada por Freud, e Zweig, como amigo fiel, seguirá Freud no caminho de pesquisas sobre Moisés.

Em sua troca, entre os dois, o terceiro não será Nietzsche, mas Moisés.

Freud et al. (1979) recusará igualmente em maio de 1936 a possibilidade de Zweig tornar-se seu biógrafo:

Não, eu o amo muito para permitir uma tal coisa. Quem se torna biógrafo se obriga a mentir, a dissimular, a embelezar e mesmo a esconder sua própria falta de compreensão, pois não se pode possuir a verdade biográfica e aquele que a possuísse não poderia se servir dela (carta de 31 de maio de 1936). (p. 167)

Este pequeno episódio de trocas epistolares entre Zweig e Freud ilustra justamente esta forma onde uma seqüência pode ser interrompida.

Esta seqüência tomava efetivamente um rumo explosivo uma vez que ela colocava, nem mais nem menos, as descobertas de Freud na seqüência da loucura de Nietzche e que Arnold Zweig sublinhou igualmente a insuficiência da doutrina de Freud no que concerne à psicose.

Não sem seqüência

O paralelo que será introduzido, entre Lacan tomando a seqüência do enunciado de Bataille sobre a questão do "não saber" e Freud recusando a Zweig de aproximar-se a loucura de Nietzche, pode se afigurar da seguinte forma:

Os pontos:

Formam dois triângulos.

O primeiro triângulo ficará fixo enquanto que para o segundo haverá uma colocação em circulação, os três pontos determinando então um círculo. Esta colocação em circulação foi teorizada por Lacan sob a forma da colocação em continuidade das três consistências do nó borromeano (Lacan, 1975).

É, então, por contraste, como na pintura, que os três artigos de Battaille consagrados à Nietzche tomam um relevo particular (Ambrosino et al., 1937; Bataille, 1937, 1939). Ali onde a via estava barrada por Lou e Freud, Bataille sem o saber se engaja.

Lacan, à sua maneira, toma a seqüência.

No curso do verão de 1948 ele fez uma viagem à Suíça com Sylvia. Eles se dirigiram a Sils Maria, ao túmulo de Nietzche. De lá eles enviaram um cartão postal ao Senhor e Senhora Georges Bataille em Vézelay. Este cartão representava a pedra comemorativa sobre a qual está gravada a inscrição:

Oh Mensch! Gib acht!

Was spricht die tiefe Mitternacht?

Ich schlief, Ich schlief, MDCCCC.27 26 O termo empregado por Lacan é Théodicée, neologismo que junta théo - deus + odissée - odicéia. Optei por manter a tradução o mais próxima possível do termo empregado em francês (N. T. ).

No verso do cartão havia uma pequena palavra manuscrita de Sylvia e de Lacan:

Eu mesma fiz a tradução Sylvia Mais uma nota filológica Sobre o poema considerado Como iguaria.28 26 O termo empregado por Lacan é Théodicée, neologismo que junta théo - deus + odissée - odicéia. Optei por manter a tradução o mais próxima possível do termo empregado em francês (N. T. ). J. Lacan29 26 O termo empregado por Lacan é Théodicée, neologismo que junta théo - deus + odissée - odicéia. Optei por manter a tradução o mais próxima possível do termo empregado em francês (N. T. ).

Essas linhas dão testemunho de uma piscadela cúmplice.30 30 Lacan e Bataille tinham uma relação muito concreta com os lugares e com os nomes de lugar. No tempo da sociedade secreta "Acéphale," o lugar de peregrinação privilegiado de Bataille e Laure era "La Malmaison," lugar onde Sade queria ser enterrado. Instalando-se em Vézelay, o autor de La somme Athéologique levava à incandescência sua relação à mitologia cristã ao mesmo tempo que sua subversão. Lacan fez sua conferência La chose freudienne em Viena e, em seu retorno à Freud, ele não Roma, nem Milão.

Seu nome é ninguém

Lacan tratou de duas formas a questão do não saber.

Introduzindo Encore ele se situou como um analisante com seu "eu não quero saber de nada disso." Em conseqüência ele situava o público de seu seminário como ligado a esse ponto: "É exatamente porque vocês me supõem partir de outro lugar neste "eu não quero saber de nada disso ‘que esta suposição os liga a mim’ " (Lacan, 1972b).

Esta formulação retoma na transferência e de uma forma original os desenvolvimentos precedentes sobre o sujeito suposto saber.

Um ano mais tarde, por ocasião da primeira conferência que ele refazia em Ste. Anne sobre "O saber do psicanalista," Lacan havia evocado este "achado" que é o não saber. Ele o fez em um tom um pouco irônico:

Eu devo dizer que Georges Bataille fez um dia uma conferência sobre o não saber, e está jogado em dois ou três cantos de seus escritos. Enfim, Deus sabe que ele não se gabava disso e que muito especialmente no dia de sua conferência, lá, na sala de geografia, em St. Germain des Prés, que vocês conhecem bem porque é um lugar de cultura, ele não disse uma palavra, o que não era uma maneira ruim de fazer a ostentação do não saber. Nós rimos com ironia e erramos, porque é chique o não saber. (Lacan, 1971)

Em um primeiro tempo, servindo-se de Bataille, Lacan articula o não saber com "ele não disse uma palavra," o ano seguinte ele diz mais, uma vez que subjetivando o caso ele reintroduz "não saber" como isso que faz ligação na transferência.

Esta conferência nos permite igualmente descobrir que Bataille e Lacan estavam no seminário de Koyré sobre Nicolas de Cues em 1932. Outras vias nos permitiram saber que eles assistiam às apresentações de doentes em Ste. Anne em 1930.

Há um certo jogo de esconde - esconde nisso que se tornou público de sua relação e do que disso eles dizem.

Além disso, há um episódio particular que não deixa de ser picante.

Nós sabemos que Lacan utilizou muitas vezes o termo "ninguém." Em seu comentário do sonho da injeção de Irma, depois de ter falado do "caráter fundamentalmente acéfalo do sujeito," ele prossegue: "No ponto em que a hidra perdeu suas cabeças, uma voz que não é mais que a voz de ninguém 31 30 Lacan e Bataille tinham uma relação muito concreta com os lugares e com os nomes de lugar. No tempo da sociedade secreta "Acéphale," o lugar de peregrinação privilegiado de Bataille e Laure era "La Malmaison," lugar onde Sade queria ser enterrado. Instalando-se em Vézelay, o autor de La somme Athéologique levava à incandescência sua relação à mitologia cristã ao mesmo tempo que sua subversão. Lacan fez sua conferência La chose freudienne em Viena e, em seu retorno à Freud, ele não Roma, nem Milão. faz surgir a fórmula da trimetylamina, como a última palavra daquilo de que se trata, a palavra de tudo" (Lacan 1978, p. 202).

Em 15 de maio de 1973, ele começa seu seminário contando um sonho: "Eu havia sonhado aquela noite que, quando eu vinha aqui, não havia ninguém" (Lacan, 1972).

O episódio que nos importa aqui se situa na transferência (Lacan, 1961).

No retorno de suas férias de Páscoa na Itália, Lacan conta uma descoberta que ele fez perto do elevador da Galerie Borghese em Roma.

Minha experiência sempre me ensinou a olhar aquilo que está perto do elevador, que é significativo e que nós não olhamos jamais. A experiência transferida ao museu da Galerie Borghèse (o que é completamente aplicável a um museu) me fez virar a cabeça no momento em que se sai do elevador graças a que eu vi alguma coisa – diante da qual nós não paramos jamais, eu não havia jamais ouvido falar por ninguém– um quadro de Zucchi.

E Lacan vai comentar este quadro que se chama Psyché surprend Amore. (Porge, s.d. & Porge, 1985).

É a notação "eu não havia jamais ouvido falar por ninguém" que é pelo menos surpreendente.

Lacan fala assim em abril de 1962. Ora, o manuscrito das Lágrimas de Eros foi entregue por Bataille em abril de 1961, e foi publicado por J. J. Pauvert em junho de 1961. Nas Lágrimas de Eros, há a reprodução do quadro Psyché surpreende o Amor (Bataille, 1981, p. 118) de Zucchi e Bataille comenta a pintura maneirista do século XVI, isso que Lacan retomará um ano mais tarde.

Lacan tinha seguido de perto os trabalhos de Bataille sobre a história do erotismo, ele chegou a emprestar a Bataille a estátua de uma cortesã sacra da época romana (Bataille, 1987, p. 30). Nós conjeturamos, então, que Lacan não podia não conhecer este quadro de Zucchi. A pequena notação: "eu não havia ouvido falar dele jamais por ninguém" toma então o estatuto de nomeação de Bataille.

Esta intervenção de Lacan difere daquela de Adrien Borel que foi o analista de Bataille. Em 1925 Borel havia comunicado a Bataille alguns clichês do Supplice de cent morceaux. Esses clichês tomados por Carpeaux em Pequim, em 1905, e publicados nos Traité de psychologie de Duma em 1923, representam o suplício inflingido a Fou-Tchou-Li que foi condenado a ser cortado em pedaços após o assassinato do príncipe Ao-Han-Ouan.

Esses clichês acompanharam Bataille por toda sua vida: não se desfez deles nunca. Ele publicou um deles nas Lágrimas de Eros (1981, p. 234).

Enquanto Borel nutriu Bataille de imagens monstruosas, as intervenções de Lacan são da ordem do rapto. Lacan (1966b) retira de Bataille sua tese sobre Sade, ele lhe toma suas referências a Nietzche e Hegel, ele lhe toma a história do olho para elaborar a pulsão escópica e a conexão dos objetos "a." A crueldade amigável de Lacan eleva Bataille. O efeito deste rapto é legível na forma como As lágrimas de Eros efetuam a distinção entre real, simbólico e imaginário. Este último texto não envolve mais o leitor nas sugestões visuais violentamente eróticas, nele o demonstrativo e o figurativo tomaram lugar. A distância é sensível aqui entre a intervenção de Borel, nutrindo o imaginário mórbido de Bataille, e aquela de Lacan levando-o a desviar-se delas (retirá-las como vestido).32 30 Lacan e Bataille tinham uma relação muito concreta com os lugares e com os nomes de lugar. No tempo da sociedade secreta "Acéphale," o lugar de peregrinação privilegiado de Bataille e Laure era "La Malmaison," lugar onde Sade queria ser enterrado. Instalando-se em Vézelay, o autor de La somme Athéologique levava à incandescência sua relação à mitologia cristã ao mesmo tempo que sua subversão. Lacan fez sua conferência La chose freudienne em Viena e, em seu retorno à Freud, ele não Roma, nem Milão.

Conclusão sacrificial

Um pequeno erro de contagem de Lacan nos remete ao caminho de um caso textual, no sentido então de uma ausência de texto.

No dia 3 de agosto de 1936, em Mariembad, no XIV congresso internacional de psicanálise, Lacan fez uma intervenção intitulada: O estádio do espelho. Teoria de um momento estruturante e genético da constituição da realidade, concebido em relação com a experiência e a doutrina psicanalítica.

Lacan foi interrompido por Jones (depois de 10 minutos) e sua intervenção não foi publicada nas Atas do congresso. Elisabeth Roudinesco sustenta que esta não publicação se deve a um esquecimento do autor que não entregou seu texto!

No dia 17 de julho de 1949, em Zurique (portanto sempre no campo da língua alemã), no XVI congresso internacional, Lacan fez uma comunicação intitulada: O estádio do espelho como formador da função do eu, tal como ela nos é revelada na experiência psicanalítica. O texto desta comunicação foi publicado nos Écrits em 1966.

A primeira frase deste escrito é a seguinte: "A concepção do estádio do espelho que eu introduzi no nosso último congresso, há 13 anos, para ser depois mais ou menos passada ao uso do grupo francês, não me pareceu indigna de ser relembrada à vossa atenção ..." (Lacan, 1966a, p. 93).

Ora, entre o XIV congresso internacional em Mariembad e o XVI congresso de 1949 em Zurique, houve o XV congresso internacional em 1938 em Paris.

Em sua conta, Lacan salta alegremente o congresso de Paris, uma vez que o "último congresso" foi exatamente aquele de Paris, a menos que Lacan não conte senão aqueles congressos aos quais ele intervém!

Por outro lado, em outubro de 1936, Georges Bataille publicou, nas edições G. L. M., um pequeno texto intitulado, Sacrifícios.

Este pequeno texto é uma teoria do "eu" e ele começa assim:

Eu, eu existo, - suspenso em um vazio realizado – suspenso à minha própria angústia – diferente de todo ser e tal que os diferentes acontecimentos que podem atingir qualquer outro que não eu rejeitam cruelmente este eu fora de uma existência total (Bataille, 1936, grifos do autor).

Este texto, quase linha por linha, tem o mesmo tamanho que o texto dos Écrits.

O descaso de Lacan, nós o tomamos então como uma flecha, um schifter, que nos convida a ler, em lugar do texto não publicado do estádio do espelho, Sacrifices de Georges Bataille (1936).

Tradução: Jussara Falek Brauer

Revisão: Giliane M. J. Ingratta

Lethier, R. (2000). Bataille With Lacan. Psicologia USP, 11 (1), 253-282.

Abstract: The text researches the connection between Bataille and Lacan, sustaining the idea that both authors had influence on each other’s work. It considers the repercussions of Freud’s works over French Surrealists and traces resonance of Bataille’s works on Lacan’s, demonstrating how these resonance are perceptive in a significant analysis subtlety

Index terms: Bataille, Georges. Lacan, Jacques.

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2 A palavra francesa bataille significa batalha. O autor irá brincar com a homofonia no texto. Optamos por preservar o nome próprio no título do texto (N. T.).

3 Endereço para correspondência: 44, rue René Boulanger - 75010 - Paris, France - E-mail: roland.lethier@wanadoo.fr

5 Borne - pedra que marcava antigamente um limite na estrada, em referência ao marco zero (N. T.).

6 "A ordem das posições subjetivas do ser" título que Lacan tinha guardado em segredo e que ele queria dar ao seminário: Problemas cruciais para a psicanálise.

"A ordem das posições subjetivas do ser, que era o verdadeiro assunto, o título secreto do segundo ano de ensinamento que eu fiz aqui sob o nome de Problemas cruciais ..."

Sessão de 15 de novembro de 1967, estenografia mecânica.

7 Elisabeth Roudinesco, Histoire de la psychanalyse en France I et II: La bataille de cent ans. Paris: Ramsay, 1982 e Paris: Seuil, 1986.

9 Frayage- abrir uma estrada, freqüentar, estabelecer uma relação de amizade, ato da reprodução quando se trata de peixes (N. T.).

10 Roudinesco, E. Le surréalisme ao service de la psychanalyse. In Histoire de la psychanalyse en France II: La bataille de cent ans. (pp. 19-49). Paris: Seuil.

11 O autor brinca aqui com a homofonia do nome próprio Breton, com o adjetivo gentílico bretão.

12 Encore, vigésimo seminário de Lacan (1972b).

13 Em alemão, o anjo se diz: Der Engel, nós revelamos a proximidade homofônica com Hegel.

15 Encore em francês (nota da tradutora).

16 idem

17 estranho em português.

18 étrange em francês.

19 être ange (ser anjo) decomposição da palavra francesa étrange.

20 Em francês: discret (dit secret, dit se crée) (N. T. ).

22 Jacques Lacan participou de inúmeras reuniões dos participantes da sociedade secreta "Acéphale," cf: Surya (1992, p. 306).

Lacan retoma o termo "acéphale" em seu comentário do sonho de injeção de Irma, no dia 16 de março de 1955, "Existe neste sonho o reconhecimento do caráter fundamentalmente acéfalo do sujeito, passado um certo limite."

23 Na igreja de Saint-Sulpice em Paris, na primeira capela à direita de quem entra, há um afresco de Delacriox intitulado: A luta com o anjo.

25Art Press (1991, novembre). (No 163). Paris: Catherine Millet. (Em seguida à exposição excepcional deste quadro no museu Courbet, em Ornans, em julho e agosto de 1991).

27 Pessoa! Preste atenção!

O que diz a profunda madrugada?

Eu dormi, eu dormi, MDCCCC.

28 Em francês gâteau à la crème (N. T.).

29 Esta informação me foi amavelmente comunicada por Mr. Norbert Haas que assegurou a tradução dos Écrits para o alemão, ela foi publicada depois na Révue du Littoral, 38. Paris: EPEL, 1933.

31 Personne.

32 O autor brinca com a homofonia das palavras robe - vestido e dérober - desviar (N. T. ).

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  • Witgenstein, L. (1988). Tractatus logico-philosophicus (Collection Tel.). Paris: Gallimard.
  • 1
    Trabalho apresentado no Colóquio da instituição francesa GREC:
    L'Écrit du Corps, em 8 de dezembro de 1991 e publicado na revista
    La Part de L'Oeil, Bruxelles, Número 10, novembre 1994.
  • 4
    Ao que não podemos chegar voando, temos de chegar manquejando. A escritura diz que não é nenhum pecado claudicar.
  • 8
    O autor se refere à homofonia em francês do nome Bataille e da palavra batalha.
  • 14
    Encore, palavra francesa que significa ainda.
  • 21
    Dix ans (disant) - trocadilho do autor sobre a homofonia destas palavras (N. T.).
  • 24
    Elisabeth Roudinesco joga uma luz sobre a ausência de Bataille no índice de nomes próprios dos
    Écrits: "No mês de outubro de 1966, no momento em que sua grande obra havia partido para a impressão, Lacan telefonou em plena noite para Wahl: "É preciso absolutamente fazer um índice! Exclamou ele. Esgotado pelos meses de trabalho, Wahl recusou-se a se colocar a trabalho e foi a Miller que Lacan confiou esta tarefa, algumas semanas antes do casamento deste com Judith. Compondo o índice, o jovem homem cometeu um formidável ato falho: esqueceu de fazer figurar aí o nome de Georges Bataille, entretanto citado no texto" (Roudinesco, 1933, p. 427).
  • 26
    O termo empregado por Lacan é
    Théodicée, neologismo que junta théo - deus + odissée - odicéia. Optei por manter a tradução o mais próxima possível do termo empregado em francês (N. T. ).
  • 30
    Lacan e Bataille tinham uma relação muito concreta com os lugares e com os nomes de lugar. No tempo da sociedade secreta "Acéphale," o lugar de peregrinação privilegiado de Bataille e Laure era "La Malmaison," lugar onde Sade queria ser enterrado. Instalando-se em Vézelay, o autor de
    La somme Athéologique levava à incandescência sua relação à mitologia cristã ao mesmo tempo que sua subversão.
    Lacan fez sua conferência
    La chose freudienne em Viena e, em seu retorno à Freud, ele não Roma, nem Milão.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      15 Set 2000
    • Data do Fascículo
      2000
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