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Editorial

EDITORIAL

Após mais de dez anos, a professora Ana Maria Loffredo deixou, em maio último, a função de editora de Psicologia USP. Sua passagem pelo periódico foi marcada por inúmeras conquistas, das quais uma breve menção já permite aquilatar o tamanho dos desafios que enfrentou: aumento da periodicidade de semestral para trimestral; reincorporação à coleção SciELO; aumento significativo das fontes de indexação; publicação simultânea em português (ou espanhol) e inglês dos artigos cujos autores assim o desejem; mudança de classificação junto ao Qualis Periódico, passando de B2 para B1.

Mas talvez as suas conquistas mais importantes tenham que ser consideradas sob outra perspectiva. O primeiro número de Psicologia USP (1990) indicava que o leitor deveria induzir o perfil editorial do periódico a partir do rol de artigos publicados: "Examinando-o, os interessados poderão facilmente avaliar o que a publicação pretende". E o que é que se pode observar nesses 22 anos de existência de Psicologia USP? Suas páginas abrigaram uma enorme pluralidade temática, conceitual e teórica. A missão do periódico, segundo a qual ele pretende "estimular a interlocução da Psicologia com as demais áreas do conhecimento, bem como o diálogo entre as propostas teórico-metodológicas pertinentes à diversidade de objetos de seu próprio campo", jamais deixou de ser cumprida. Em grande parte, este foi um dos méritos do trabalho de Ana Maria Loffredo e de toda a equipe de Psicologia USP: continuar dando guarida à diversidade das abordagens e das formas de criação e manifestação do conhecimento científico em Psicologia, mantendo a ênfase no conhecimento produzido por e para a América Latina.

Trata-se, de fato, de uma tarefa árdua. A competição pelo acesso aos recursos para pesquisa tem atualmente na publicação em periódicos indexados um de seus critérios fundamentais. Além disso, a comunicação científica foi afetada pelas transformações que as tecnologias da informação e da comunicação sofreram ao longo dos anos 1990 e 2000. Os processos editoriais nos periódicos abandonaram o material impresso e passaram a ser feitos à distância, com o uso extensivo de tecnologias da informação. A possibilidade de controle sobre índices representativos da qualidade do periódico aumentou, permitindo o desenvolvimento de ferramentas como os fatores de impacto e elevando a exigência sobre os periódicos por parte dos órgãos de fomento. Outrossim, a concentração da propriedade sobre os periódicos no mercado internacional levou ao aumento explosivo de preços no final dos anos 1980 - a chamada "crise dos periódicos" - e estimulou os projetos de acesso aberto ao conteúdo científico em muitos países, com destaque para o Brasil. A comunidade à qual os periódicos se dirigiam aumentou rapidamente, tornando-se, potencialmente, o mundo. As ferramentas criadas para permitir comparações entre periódicos, entre artigos neles publicados e entre programas de pós-graduação levaram, em parte, à homogeneização da produção científica internacional e a mudanças polêmicas na relação entre ciência e sociedade, relacionadas ao privilégio dado às publicações em língua inglesa e à ênfase, na concessão de recursos pelos órgãos de fomento, ao currículo do pesquisador em detrimento do valor do projeto de pesquisa (Rodrigues, 2011).

Neste quadro, manter o mesmo espírito pluralista e crítico que sempre animou o periódico foi um trabalho significativo, cuja grandeza nem sempre é bem captada por instrumentos de medição. Envolve a definição de um projeto de política científica que privilegie o debate crítico, a abertura à descoberta e o foco no valor e no uso socialmente compartilhados do conhecimento científico. Tais valores estiveram presentes de forma explícita ao longo da existência da revista e foram anunciados por Ana Maria Loffredo assim que assumiu a função de editora. Em seu primeiro editorial, publicado em 2003, já estava declarado este projeto e a sua relação com a história do periódico. Ele segue reproduzido abaixo, como um testemunho de seu compromisso com o caráter público e plural do conhecimento psicológico, compromisso que também nós assumimos nesta nova fase: "Homenagear e agradecer à Comissão Executiva que nos antecedeu é sustentar a vitalidade que anima o patrimônio por ela construído, expressa no perfil que marca Psicologia USP: sua vocação para o debate de idéias e para o exercício da perspectiva crítica." (Loffredo, 2003).

É importante destacar também a contribuição de dois colaboradores que se despediram em maio da comissão executiva: trata-se dos professores Paulo de Salles Oliveira e Maria Helena Leite Hunziker. São companheiros cujo apoio sempre se fez presente nos momentos de maior dificuldade. Também foram entusiastas da missão de Psicologia USP. Um exemplo do significado destes valores encontra-se nos artigos que compõem este número. São trabalhos que se situam em pontos os mais variados dentro do amplo espectro que compõe a Psicologia contemporânea. Em comum, apresentam contribuições teóricas ou conceituais relevantes para os campos ou temas de investigação que abraçaram. São uma prova de que o espírito que guiou Psicologia USP por toda a sua história continua vivo.

Gustavo Martineli Massola

  • Editorial. (1990). Psicologia USP, 1(1), 1. Recuperado em 15 de junho de 2012, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-5177199000 0100001&lng=pt&nrm=iso
  • Loffredo, A. (2003). Editorial. Psicologia USP, 14(1), 9-10. Recuperado em 13 de junho de 2012, de http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65642 003000100001&lng=pt&tlng=pthttp://dx.doi.org/10.1590/S0103-65642 003000100001
  • Rodrigues, L. O. C. (2011). Publicar mais, ou melhor? O tamanduá olímpico. Psicologia USP, 22(2), 457-472. Recuperado em 15 de junho de 2012, de http://www.scielo.br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-656420110002000 11&lng=en&tlng=pt http://dx.doi.org/10.1590/S0103-65642011005 000014

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Ago 2012
  • Data do Fascículo
    Jun 2012
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