Acessibilidade / Reportar erro

UM ENCONTRO ENTRE PSICODRAMA E PSICOLOGIA ANALÍTICA: RITUAL E MITOPOESE

AN ENCOUNTER BETWEEN PSYCHODRAMA AND ANALYTICAL PSYCHOLOGY: RITUAL AND MYTHOPOESIS

UN ENCUENTRO ENTRE PSICODRAMA Y PSICOLOGÍA ANALÍTICA: RITUAL Y MITOPOESIS

RESUMO

O encontro entre Jung e Moreno tem sido objeto de estudo de muitos psicodramatistas contemporâneos. Este artigo efetua uma revisão narrativa de propostas na interface entre psicodrama e psicologia analítica, no objetivo de elaborar uma proposta de aproximação. Foram encontrados autores nos seguintes países: Argentina, Brasil, Suíça, Espanha, Itália, Alemanha, França e Estados Unidos. Baseando-se nesta revisão, foram elaboradas duas categorias consideradas representativas do encontro entre Jung e Moreno: ritual e mitopoese. Propõe-se o símbolo como conceito central para um encontro entre psicodrama e psicologia analítica efetuado na experiência fenomenológica.

PALAVRAS-CHAVE
Psicodrama junguiano; Ritual; Mitopoese; Símbolo

ABSTRACT

The bridge between Jung and Moreno has been an object of study to many contemporary psychodramatists. This article performs a narrative review of proposals at the interface between psychodrama and analytical psychology with the objective of developing a proposal for bringing psychodrama and analytical psychology closer together. Authors were found in the following countries: Argentina, Brazil, Switzerland, Spain, Italy, Germany, France and the United States. Based on this review, two categories which were found to be representative of the bridge between Jung and Moreno were elaborated: ritual and mythopoesis. The symbol is proposed as a central concept for an encounter between psychodrama and analytical psychology carried out in phenomenological experience.

KEYBOARDS
Jungian psychodrama; Ritual; Mythopoesis; Symbol

RESUMEN

El encuentro entre Jung y Moreno ha sido objeto de estudio por muchos psicodramatistas contemporáneos. Este artículo realiza una revisión narrativa de proposiciones en la interfaz entre psicodrama y psicología analítica, con el fin de desarrollar una propuesta de aproximación. Se encontraron autores en los siguientes países: Argentina, Brasil, Suiza, España, Italia, Alemania, Francia y Estados Unidos. A partir de esta revisión se elaboraron dos categorías representativas del encuentro entre Jung y Moreno: ritual y mitopoesis. El símbolo se propone como concepto central para un encuentro entre psicodrama y psicología analítica llevado a cabo en la experiencia fenomenológica.

PALABRAS CLAVE
Psicodrama junguiano; Ritual; Mitopoesis; Símbolo

ORIGENS DO PSICODRAMA JUNGUIANO

Não se tem um registro histórico exato do momento de introdução do psicodrama junguiano na comunidade psicodramática. Os primeiros escritos datam da década de 1970. Entretanto, essa aproximação é anterior a esses primeiros textos. Refazendo esse percurso histórico, aparecem Helmut e Ellynor Barz, casal suíço que formou uma geração de psicodramatistas na Europa e que dirigia seu próprio instituto de psicodrama em Zumikon, na Suíça (Beach, 2013Beach, C. (2013). Junguiano psychodrama. In C. E. Stephenson (Ed.), Jung and Moreno: Essays on the theatre of human nature (1a ed.). Routledge.). Não é de se surpreender que foi nesse instituto que a aproximação entre Moreno e Jung teve sua difusão; afinal, o Instituto C. G. Jung, centro de formação para os analistas, localiza-se a poucos minutos, em Küsnacht, onde havia a possibilidade de também realizar uma formação analítica. Procurando a continuidade dessa linha do tempo, descobre-se que o casal Barz entrou em contato com o psicodrama pelos psicodramatistas americanos Dean e Doreen Elefthery, que, por sua vez, fizeram o treinamento de psicodrama diretamente com Jacob e Zerka Moreno.

A formação do psicodramatista junguiano era uma dupla formação: almejavam-se o diploma de analista e a experiência do psicodramatista. Em 2013, foi criado um curso específico em Turim, na Itália, o Istituto di Psicologia Analitica e Psicodramma (IPAP). Entretanto, apesar de o instituto ter um papel de confluência dessas duas teorias, permitindo a formação do psicodramatista junguiano, a particularização entre elas persistia. Essa diferença pode ser observada na dupla afiliação do aluno formado pelo instituto: a filiação acontece simultaneamente tanto com a International Association for Group Psychotherapy and Group Processes (IAGP) quanto com a International Association for Analytical Psychology (IAAP). Entretanto, apesar da tensão entre o fazer psicodramático e o fazer analítico, a confluência com a psicologia analítica1 1 Utilizam-se as expressões “psicologia analítica” e “junguiano(a)” como intercambiáveis neste artigo (N. do A.). foi reconhecida no psicodrama. Zerka Moreno, coordenando mesa no Congresso da IAGP, propôs reunir conferencistas para diálogo entre psicodrama e psicologia analítica. Igualmente, Stephenson (2013)Stephenson, C. E. (Ed.). (2013). Jung and Moreno: Essays on the theatre of human nature (1a ed.). Routledge. https://doi.org/10.4324/9780203794838
https://doi.org/10.4324/9780203794838...
, analista junguiano que estudou psicodrama no instituto do casal Barz, reconhece a existência de tensão no diálogo entre as duas teorias, havendo tanto pontos em que elas podem ser aproximadas quanto outros em que elas são epistemologicamente diferentes. Sugere, contudo, que o diálogo entre psicodrama e psicologia analítica é criativo.

A possibilidade de aproximação entre essas duas teorias acaba sendo tema recorrente quando se discute o psicodrama junguiano. Este artigo efetua uma revisão narrativa de propostas na interface entre psicodrama e psicologia analítica, no objetivo de elaborar uma proposta de aproximação. Propõe que se delimite essa aproximação entre Moreno e Jung ao campo da experiência, ou seja, não se procuram neste momento paralelos conceituais ou convergências teóricas, mas uma leitura simbólica do próprio processo de fazer psicodrama empregando recursos da psicologia analítica. Justifica-se esta revisão pela importância de considerar como tem sido efetuado o diálogo entre psicodrama e psicologia analítica por autores que trabalham na interface do psicodrama junguiano, para elaborar uma proposta de atuação que, ao mesmo tempo em que se apropria originalmente desta interface, dialoga também com outros autores, inserindo-se em um campo maior do psicodrama contemporâneo.

METODOLOGIA

A pesquisa de literatura seguiu o modelo de revisão narrativa, partindo do tema inicial a respeito da compreensão simbólica junguiana/analítica no campo do psicodrama. A revisão narrativa, conforme Green et al. (2006)Green, B. N., Johnson, C. D., & Adams, A. (2006). Writing narrative literature reviews for peer-reviewed journals: Secrets of the trade. Journal of Chiropractic Medicine, 5(3), 101-117. https://doi.org/10.1016/S0899-3467(07)60142-6
https://doi.org/10.1016/S0899-3467(07)60...
, reporta as descobertas em um formato condensado que sumariza o conteúdo de cada artigo. Possui um viés dos autores, pois a escolha dos textos provém do repertório deles; entretanto, buscou-se a redução desse repertório ao se realizar uma apreciação crítica da literatura. Apresenta-se a literatura relevante sobre um tema amplo que, segundo Casarin et al. (2020)Casarin, S. T., Porto, A. R., Gabatz, R. I. B., Bonow, C. A., Ribeiro, J. P., & Mota, M. S. (2020). Tipos de revisão de literatura: Considerações das editoras do Journal of Nursing and Health / Types of literature review: Considerations of the editors of the Journal of Nursing and Health. Journal of Nursing and Health, 10(5). https://doi.org/10.15210/jonah.v10i5.19924
https://doi.org/10.15210/jonah.v10i5.199...
, é útil na descrição do estado da arte de um assunto específico sob o ponto de vista teórico ou contextual. Esse modo de revisão pode ser utilizado para trazer conhecimento à comunidade científica sobre o estado atual das pesquisas do tema abordado.

A presente revisão narrativa partiu do repertório pessoal dos autores, ampliando as buscas com referências indicadas nos textos pesquisados. Foi utilizada como critério inicial para apresentação dos textos a região geográfica de procedência dos autores principais e, ao final, foi feita uma leitura crítica das propostas, a fim de tecer princípios norteadores para compreensão do que se entende como psicodrama junguiano. Portanto, o levantamento não representa uma exaustão dos trabalhos referentes ao psicodrama junguiano no mundo, mas considera que a diversidade de propostas encontradas nesses diferentes autores é um expoente da efervescência criativa que surge no encontro entre psicodrama e psicologia analítica.

O PSICODRAMA JUNGUIANO NA AMÉRICA LATINA E NO MUNDO

Neste item, é realizado um mapeamento de propostas psicodramáticas que se aproximam da psicologia analítica. Foi utilizado o critério geográfico na apresentação das propostas; entretanto, outras organizações também são possíveis, sendo essa escolha realizada por permitir uma ampla apresentação das propostas e autores citados a seguir.

Argentina

Menegazzo (1994)Menegazzo, C. M. (1994). Magia, mito e psicodrama (1a ed.). Ágora. efetua uma leitura do psicodrama composta de três etapas. Descrevendo na primeira parte da obra as origens da representação dramática, explicita as seguintes metáforas culturais como etapas fundamentais da sociedade: (a) razão mágica, em que há uma corporificação por meio da dramatização de aspectos coletivos que, embora identificados em indivíduos, remetem à dinâmica social; (b) razão mítico-religiosa, em que ocorrem manifestações simbólicas desses aspectos nos mitos, pelos quais a representação dramática se expressa culturalmente; e (c) razão lógica, em que o resgate de valores individuais permite ao indivíduo não se perder numa ideologia massificada. O papel do psicodramatista, metaforicamente descrito como sendo análogo ao de um mago, é o de facilitar a passagem da razão mágica para a mítica e, na etapa de razão lógica, facilitar o encontro do indivíduo com seus valores. Chega, a partir da descrição das suas origens, à definição da representação dramática como acontecimento que possui a faculdade de interessar e comover, ou seja, de mobilizar afetos pelo seu impacto, através do desenvolvimento de uma ou várias ações. Definindo a representação dramática, apresenta também o que entende como instrumentos essenciais desta representação: (a) a mensagem, ou o conteúdo, que se desprende da ação dramática; (b) os atores, que executam essa ação dramática; e (c) o auditório, que recebe ativamente a mensagem e age como caixa de ressonância afetiva. Na segunda parte da obra, Menegazzo (1994)Menegazzo, C. M. (1994). Magia, mito e psicodrama (1a ed.). Ágora. desenvolve um paralelo entre estas três etapas de desenvolvimento da sociedade, desenvolvidas na primeira parte da obra, e o conceito de Matriz de Identidade de Moreno (1975)Moreno, J. L. (1975). Psicodrama (1a ed.). Cultrix.. Embora Menegazzo (1994)Menegazzo, C. M. (1994). Magia, mito e psicodrama (1a ed.). Ágora. não situe a sua proposta especificamente no psicodrama junguiano, Jung foi pioneiro ao introduzir uma confluência entre o pessoal e o coletivo na compreensão do desenvolvimento humano, pressupostos retomados por autores pós-junguianos — como Neumann (1990)Neumann, E. (1990). História da Origem da Consciência (5a ed.). Cultrix., que, partindo de uma leitura histórica da cultura, teceu metáforas para descrever o desenvolvimento da consciência individual —, o que situa Menegazzo (1994)Menegazzo, C. M. (1994). Magia, mito e psicodrama (1a ed.). Ágora. como um autor importante para o psicodrama junguiano.

Brasil

Algumas aproximações teóricas têm sido feitas por autores brasileiros, notadamente, Ramalho (2002)Ramalho, C. M. (2002). Aproximações entre Jung e Moreno. Ágora. e Quilici (2009)Quilici, M. A. I. (2009). Dramatização espontânea e psicologia analítica de Jung: Consideração da sombra em um grupo de psico-sociodrama [Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo]. https://doi.org/10.11606/D.47.2009.tde-11082009-080205
https://doi.org/10.11606/D.47.2009.tde-1...
. Ramalho (2002)Ramalho, C. M. (2002). Aproximações entre Jung e Moreno. Ágora. considera aproximações e distanciamentos entre Jung e Moreno em quatro aspectos: (1) existencial, (2) epistemológico, (3) metodológico e (4) clínico. No primeiro aspecto, o existencial, embora aqueles dois autores não tenham convivido presencialmente em seu tempo, considera confluências nas suas biografias: a personalidade intuitiva, a aproximação com o mundo da arte, a crença no potencial infinito da criatividade, o papel das mulheres em suas vidas, dentre outros. No segundo aspecto, epistemológico, considera as aproximações entre as cosmovisões que fundamentam as suas teorias, como a adoção de atitudes perspectivistas e relativistas no conhecimento, aproximação com a fenomenologia e a inserção em uma perspectiva pós-moderna de psicoterapia. No terceiro aspecto, o metodológico, considera pontos de contato que estão presentes nos métodos, discutindo especialmente a relação terapeuta-cliente, compreendendo o conceito moreniano de tele na relação terapêutica através da influência da psicologia analítica e desenvolvendo uma proposta de psicodrama junguiano que reconhece o psicodrama como modo eficaz de realizar uma passagem do imaginário ao simbólico. E, no quarto aspecto, o clínico, busca confluências entre as duas abordagens na prática clínica, descrevendo uma experiência em psicoterapia de grupo e processando a sessão utilizando conceitos de psicodrama, em diálogo com conceitos da psicologia analítica.

Partindo da hipótese de que uma das aproximações ou complementações acontece no campo da arte e da criatividade, Quilici (2009)Quilici, M. A. I. (2009). Dramatização espontânea e psicologia analítica de Jung: Consideração da sombra em um grupo de psico-sociodrama [Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo]. https://doi.org/10.11606/D.47.2009.tde-11082009-080205
https://doi.org/10.11606/D.47.2009.tde-1...
realizou uma investigação procurando expressões de sombra e persona — construtos junguianos — na experiência de participantes do Psicodrama Público no Centro Cultural São Paulo. Entrevistando esses participantes depois do evento psicodramático, tradicionalmente realizado durante os sábados na capital paulista, buscou nos relatos indícios de contatos pessoais dos participantes com conteúdos sombrios durante a vivência. Encontrou elementos que lhe permitiram concluir que o contato com esses conteúdos pessoais entendidos como sombra no psicodrama é experimentado por meio de projeções de aspectos de si nos outros participantes durante os jogos e dramatizações.

Ramalho (2010)Ramalho, C. M. R. (2010). Sandplay psicodramático: Um jogo na interface do psicodrama com a psicologia analítica. Revista Brasileira de Psicodrama, 18(2), 107-117. fez um aporte por meio da caixa de areia no psicodrama. Ela compreende que a caixa de areia pode ser um palco para a dramatização ao criar diálogos utilizando elementos da caixa. Conforme a autora, nesta adaptação da técnica da caixa de areia, desenvolvida originalmente por Kalff, Turner e Kalff (2004)Kalff, D. M., PhD, B. A. T., & Kalff, D. M. (2004). Sandplay: A Psychotherapeutic Approach to the Psyche. Temenos Press., são utilizadas as instruções originais da técnica clássica e, depois de criada a história, propõe-se uma dramatização, pelo cliente, dessa cena que será vivenciada simbolicamente. Colocando-o no papel de cada elemento, ela entrevista o cliente como se ele fosse cada um dos elementos, utilizando também outras técnicas do psicodrama (e.g., inversão de papel, duplo, solilóquio, confronto). Na caixa de areia integra-se a ação dramática. Outras modalidades consistem no Museu Vivo, que utiliza imagens artísticas (Ramalho, 2016Ramalho, C. M. (2016). Cores e tintas da tela psicodramática: Onde Moreno e Jung se encontram. In L. Gottlieb & S. Perazzo (Eds.), Psicodrama: Apontamentos e criação (p. 200). FiloCzar.) e, na ponte entre psicodrama e contos de fadas, na Jornada do Herói (Corumbá & Ramalho, 2008Corumbá, R., & Ramalho, C. M. (2008). Descobrindo enigmas de heróis e contos de fadas: Entre a psicologia analítica e o psicodrama. Profint.).

Maciel (2000)Maciel, C. (2000). Mitodrama. Ágora. propôs um mitodrama — com a mesma denominação de Guggenbühl (1999)Guggenbühl, A. (1999). Das Mythodrama. IKM Guggenbuehl AG Edition Raben-Reihe, Monika Menne. e Sheleen (1986)Sheleen, L. (1986). Théâtre pour devenir... Autre. EPI. — embasado em pressupostos dos estágios de desenvolvimento da consciência (Neumann, 1990Neumann, E. (1990). História da Origem da Consciência (5a ed.). Cultrix., apud Maciel, 2000Maciel, C. (2000). Mitodrama. Ágora.), com modificações (Byington, 1983, apud Maciel, 2000Maciel, C. (2000). Mitodrama. Ágora.). A experiência mitodramática como proposta de intervenção estabelece seis estágios: (1) Uroboros, (2) Grande Mãe, (3) Pai, (4) Puer versus Senex, (5) Herói e (6) Coniunctio. Utilizam-se no mitodrama os seguintes recursos: sonhos, contos de fadas, rituais e criações livres (máscaras e desenhos), empregados dentro de uma sequência de fases que contempla aquecimento, dramatização e compartilhamento. O mitodrama mescla elementos da psicologia analítica com o psicodrama e, embora conserve a estrutura básica das sessões de psicodrama, permite a utilização de recursos suplementares à dramatização clássica.

Benedito (2002)Benedito, V. L. D. I. (2002). Abordagem simbólica do conflito conjugal: O corpo em cena. Junguiana, 20, 87-94. descreve um atendimento de casal com o uso do psicodrama e da psicologia analítica. Tomando o corpo como um campo simbólico no qual estão expressos os conflitos do casal, convida-os para uma construção de duas imagens representando o sentimento de ambos em uma situação específica. Por meio da técnica psicodramática de inversão de papéis, cria uma oportunidade para que um experimente o lugar do outro e realiza uma leitura simbólica do processo de construção dessas imagens, chegando a um diagnóstico simbólico do conflito do casal. Considera as imagens como esculturas corporais no psicodrama, possibilitando uma leitura simbólica acerca do conflito conjugal e da dinâmica do casal.

Oliveira (2013)Oliveira, M. M. T. (2013). O Poder da máscara no Psicodrama: A sombra e a luz. Revista Brasileira de Psicodrama, 21(1), 183-191. https://revbraspsicodrama.org.br/rbp/article/view/326/318
https://revbraspsicodrama.org.br/rbp/art...
constrói uma proposta de uso de máscaras no psicodrama a partir dos conceitos junguianos de persona e sombra. Entende que as máscaras, simultaneamente, expressam luz (aspecto espontâneo e criativo) e sombra (aspectos ocultos da personalidade, que são inconscientes). A ponte com o psicodrama acontece mediante a máscara utilizada livremente representando um objeto simbólico. Apesar de utilizar os termos “luz” e “sombra”, a autora não faz uma ponte dessas duas primeiras noções com os conceitos junguianos, respectivamente, de persona e sombra.

Fonseca (2010)Fonseca, J. (2010). Psicoterapia da relação: Elementos de psicodrama contemporâneo (ed. rev.). Ágora. desenvolve o psicodrama interno, o qual, ainda que não se referencie pela psicologia analítica, reconhece em Jung uma de suas influências. Embora tendo sido desenvolvido como parte de uma proposta de trabalho chamada psicoterapia da relação, o psicodrama interno permite uma leitura simbólica desta experiência de fechar os olhos e dramatizar com imagens internas. A ponte com a psicologia analítica, apesar de não ter sido realizada pelo autor, pode ser enriquecedora, tanto pela compreensão simbólica dessas imagens pelo cliente, como para o desenvolvimento de estratégias inovadoras para essa modalidade de psicodrama.

Importa, ainda assim, diferenciar psicodrama interno de imaginação ativa, pois essa diferença revela um ponto fundamental de distanciamento entre as teorias psicodramática e analítica: no psicodrama interno existe uma ação dramática, ao passo que, na imaginação ativa, existe uma participação ativa da consciência mediante a observação das imagens emergentes nesta experiência, em que o observador não age dramaticamente, mas somente observa atentamente o desenrolar das imagens internas.

Suíça

Guggenbühl (1999)Guggenbühl, A. (1999). Das Mythodrama. IKM Guggenbuehl AG Edition Raben-Reihe, Monika Menne. estruturou uma intervenção que objetiva a resolução de conflitos em grupos e comunidades (especialmente escolas), utilizando estrategicamente a contação de histórias e o psicodrama para sensibilização e transformação das relações, que chamou de mitodrama — o que, apesar de ser denominado pela mesma palavra que os mitodramas de Maciel (2000)Maciel, C. (2000). Mitodrama. Ágora. e Sheleen (1986)Sheleen, L. (1986). Théâtre pour devenir... Autre. EPI., trata-se de uma proposta diferente das outras duas, embora todas as três empreguem o mito na intervenção. Korinteli e Siradze (2016) descrevem que esta intervenção é realizada em sete passos: (1) conversa com os professores, quando se escutam os problemas que estão no ambiente escolar e impressões sobre os alunos e se apresenta o mitodrama; (2) encontro com os pais, quando se busca a cooperação deles no processo e consentimento para o trabalho com seus filhos; (3) visita à escola, quando se busca ter impressões sobre a cultura e o clima escolares; (4) condução do mitodrama, feita em 12-15 sessões semanais de 2 horas a 2 horas e meia de duração, com 10-12 alunos selecionados a partir das etapas anteriores e 3 psicoterapeutas com conhecimento do mitodrama; (5) encontros periódicos com professores; (6) acompanhamento ao longo de três meses depois do fim das sessões; e, finalmente, (7) encontro com pais e professores para discussão da situação escolar e contraste com os problemas iniciais. Foram realizados estudos clínicos de efetividade desta intervenção (Al-Samarrai, 2012Al-Samarrai, L. (2012). Evaluation of Mythodrama Intervention among Middle School Students. [Doctoral dissertation] Institute for Clinical Social Work, Chicago, IL.; Guggenbühl, Hersberger, Rom & Boström, 2006Guggenbühl, A., Hersberger, K., Rom, T., & Boström, P. (2006). Helping Schools in Crisis: A Scientific Evaluation of the Mythodramatic Intervention Approach in Swiss and Swedish Schools. IKM Guggenbühl AG.; Tiabashvili, Mirtskhulava & Japaridze, 2018Tiabashvili, T., Mirtskhulava, R., & Japaridze, M. (2018). Mythodrama group psychotherapy approach for adolescents with behavior difficulties. Problems of Psychology in the 21st Century, 12, 95-102. https://doi.org/10.33225/ppc/18.12.95
https://doi.org/10.33225/ppc/18.12.95...
).

Stephenson (2013)Stephenson, C. E. (Ed.). (2013). Jung and Moreno: Essays on the theatre of human nature (1a ed.). Routledge. https://doi.org/10.4324/9780203794838
https://doi.org/10.4324/9780203794838...
, psicodramatista e analista junguiano atuante em Nova York, organizou artigos de diversos autores abordando a aproximação entre Jung e Moreno. Embora o autor seja norte-americano, foi categorizado aqui por representar o psicodrama junguiano realizado em Zurique. Essa tradição no psicodrama junguiano vem do trabalho do casal Helmut e Ellynor Barz, que coordenou um pequeno instituto de formação em psicodrama localizado nos arredores do Instituto C. G. Jung. Esse casal inspirou o desenvolvimento de toda uma geração de psicodramatistas junguianos. Compreendendo o psicodrama como experiência introspectiva, conduziam a sessão de acordo com essa perspectiva. Uma das propostas consistia em, no aquecimento, circular com o protagonista em sentido horário no centro do grupo, e depois da dramatização, circular em um sentido anti-horário, ritualisticamente. Esse elemento foi inspirado na exploração do formato circular do palco psicodramático descrita em Moreno, Rutzel e Blomkvist (2001)Moreno, Z., Rutzel, T., & Blomkvist, L. D. (2001). A realidade suplementar e a arte de curar (1a ed.). Ágora. e no uso do solilóquio (Moreno, 1975Moreno, J. L. (1975). Psicodrama (1a ed.). Cultrix.) durante o aquecimento, representando, ao usar os sentidos horário e anti-horário, a introspecção do protagonista para o trabalho dramático e, posteriormente, a volta para o contexto grupal.

Espanha

Na Espanha, Zabala (2009Zabala, I. H. (2009). El viaje del héroe a través de los doce cuentos. Anamorphosis, 7, 86-92., 2012Zabala, I. H. (2012). Lo psicodrama simbolico nel lavoro educativo in età evolutiva: Un modello di intervento che integra lo psicodramma moreniano con i principi della psicologia analitica junghiana. Psicodramma Classico, XIV(1-2)., 2019Zabala, I. H. (2019). La transformación a través del Psicodrama Simbólico. La Hoja de Psicodrama, 69, 20-29., 2020)Zabala, I. H. (2020). Educar en valores a través de los cuentos: Profundidades simbólicas. Ariel Publisher. criou o que denomina psicodrama simbólico. O psicodrama simbólico constitui-se como intervenção estruturada, que se baseia em doze contos de fadas que, para a autora, são fundamentais para a educação simbólica na infância. A escolha dos contos foi realizada com base em sua pesquisa acerca dos contos de fadas e simbolismo psíquico. Estes 12 contos são aplicados sequencialmente em escolas — constituindo-se como uma intervenção adequada para o contexto institucional no diálogo entre metodologias educacionais de desenvolvimento emocional e educação em valores. O trabalho foi desenhado e estruturado em três fases: (1) imersão, quando se separam, no conto de fadas, elementos essenciais de outros elementos que podem variar conforme diferentes versões da história; (2) transformação, quando os atores são convidados a reconstruir dramaticamente o conto, realizando mudanças de modo livre ou por consignas; e (3) criação, quando ocorre a possibilidade de criar cenas trabalhando com uma linguagem específica (dramática, por exemplo, mas também desenhos ou a contação de histórias), ou deixando aos participantes a livre escolha da sua linguagem. As expressões são consideradas simbólicas, podendo favorecer uma conexão com as vidas dos participantes. Claramente, esta proposta possui uma influência da psicologia analítica por meio da importância dos contos de fadas para a estruturação psíquica, especialmente na infância, e no modo de trabalho com os contos, fazendo um diálogo com o psicodrama que permanece como a estrutura básica das sessões.

Itália

A Itália, hoje, pode ser considerada a região onde mais se desenvolveu o psicodrama junguiano. Em Turim existe um curso de formação, aprovado pela International Association of Analytical Psychology (IAAP) e pela International Association for Group Psychotherapy and Group Processes (IAGP), realizado no Institute of Analytical Psychology and Psychodrama (IPAP).

São muitas as publicações italianas sobre o assunto, dentre as quais se destacam: Gasseau e Gasca (1991)Gasseau, M., & Gasca, G. (1991). Lo psicodramma junghiano. Bollati Boringhieri., Gasseau e Simonetto (1998)Gasseau, M., & Simonetto, A. (1998). Ricerca e formazione nel lavoro clinico con gruppi. Tirrenia Stampatori., Michelini e Gasseau (2009)Michelini, S., & Gasseau, M. (2009). Psicoterapia di gruppo nel servizio psichiatrico di diagnosi e cura. Il lavoro delle parole nello spazio transizionale del gruppo. Franco Angeli., Gasseau e Bernardini (2011)Gasseau, M., & Bernardini, R. (2011). Il sogno: Dalla psicologia analitica allo psicodramma junghiano. Franco Angeli., Gasseau e Michelini (2012)Gasseau, M., & Michelini, S. (2012). L’incontro terapeutico con il paziente psicótico: Nello spazio intersoggettivo del gruppo. Franco Angeli. e Gasca (2012)Gasca, G. (2012). Lo psicodramma gruppoanalitico. Cortina Raffaello.. Diversos artigos têm ainda sido publicados e participações em eventos, realizadas, tanto em eventos com maior ênfase na psicologia analítica (IAAP) quanto em psicoterapia de grupo (IAGP).

O psicodramatista junguiano, nesta leitura, é tanto psicodramatista quanto analista junguiano. Compreende-se essa interface por elementos singulares ao psicodrama junguiano, como a mitopoese, que pode ser definida como a potencialidade que todos têm de criar os seus próprios mitos, não ficando dependentes de mitos estabelecidos (como, por exemplo, os mitos gregos) para conseguir organizar o material emergente do seu inconsciente. Defende-se a liberdade de trabalho com o psicodrama, exercitado livremente sem afetações ou qualquer necessidade de modificar a sua estrutura básica para se aproximar da análise; entretanto, utilizando os mesmos conceitos e técnicas morenianos, reconhece-se a influência da psicologia analítica, criando uma compreensão singular sobre o psicodrama. Dado que seria muito extenso para esta breve revisão abordar cada ponto, remete-se ao texto de Gasseau e Gasca (1991)Gasseau, M., & Gasca, G. (1991). Lo psicodramma junghiano. Bollati Boringhieri. para um esclarecimento de seus pressupostos.

Alemanha

Em Berlim, Heidtke e Neumann-Schirmbeck (2014) relatam uma experiência com adolescentes na psiquiatria em que se aplica o psicodrama moreniano simultaneamente a sessões de análise individual. O psicodrama moreniano atua melhor, de acordo com os autores, no adolescente que acaba de chegar à instituição. Utilizam, assim, o psicodrama moreniano como uma estratégia grupal, fazendo, em paralelo, sessões analíticas individualmente, o que constitui uma estratégia terapêutica eficaz para o acolhimento institucional e de atendimento de adolescentes em psiquiatria.

França

Sheleen (1986)Sheleen, L. (1986). Théâtre pour devenir... Autre. EPI. tem como foco o trabalho terapêutico com máscaras. Compreende sua intervenção como uma contribuição original ao teatro, denominando-a de teatro arquetípico ou mitodrama. Integrando elementos do psicodrama e da psicologia analítica, não se identifica restritamente com nenhuma dessas duas teorias. O pressuposto das máscaras no teatro arquetípico considera que as máscaras estão presentes ao longo da história da humanidade, trazendo a possibilidade de criar e jogar com elas como um modo de aproximar os atores de uma experiência coletiva. Realiza sua intervenção em três etapas: (1) criação de máscaras e outros objetos simbólicos, quando os participantes são convidados, de olhos vendados, a trabalhar com materiais artísticos na criação de objetos que serão, depois, utilizados na dramatização; (2) criação de jogos teatrais baseados no gesto e de imagens, quando os participantes são convidados a jogar com o gesto teatral, usando as máscaras e outros objetos simbólicos; e (3) nomeação e elaboração das fases anteriores, quando os participantes são convidados a falar sobre as vivências realizadas nas etapas anteriores. Essa intervenção é bastante original e contempla aspectos do psicodrama, especialmente a espontaneidade, improvisação e o uso de objetos simbólicos na dramatização, bem como da psicologia analítica, especialmente o simbolismo arquetípico, atitude de observação ativa durante a criação de objetos simbólicos e compreensão da atitude do ator na dramatização mediante as quatro funções psicológicas.

Estados Unidos

Shaffer (2019)Shaffer, S. D. (2019). The Stage and the Stone: Psychodrama, Alchemy, and Jung [Doctoral dissertation] Pacifica Graduate Institute, Santa Barbara, CA. https://search.proquest.com/openview/6acf3a93919ec967d435fdb7a790f5bb/1.pdf?pq-origsite=gscholar&cbl=18750&diss=y
https://search.proquest.com/openview/6ac...
funde em um método de pesquisa a imaginação ativa e a inversão de papeis. Tomando o palco e a pedra como símbolos do psicodrama, simbolicamente realiza, como pesquisadora implicada com seu objeto de estudo, uma experiência em que, fechando os olhos, imagina-se no lugar desses dois elementos (palco e pedra), como uma espécie de pré-inversão. Registra por escrito seus pensamentos e sensações, observando ativamente a emergência de imagens durante essa experiência como pesquisadora. No uso da técnica de se colocar no lugar do palco e da pedra, simbolicamente, revela uma influência psicodramática; e, na observação ativa do que emerge na consciência, revela uma influência da psicologia analítica. A autora cria, assim, um método imaginal que funde elementos do psicodrama e da psicologia analítica.

Modos de aproximação entre Jung e Moreno: uma leitura crítica da produção escrita no psicodrama junguiano

Podemos localizar inicialmente, na literatura, dois grandes modos de aproximação entre Jung e Moreno: (1) aproximações teórico-práticas e (2) psicodrama analítico.

Pode-se partir da busca de similitudes entre autores, originando aproximações teórico-práticas nas quais a convergência ocorre pelo uso de recursos importantes da psicologia analítica no psicodrama, ou ainda realizar um paralelo entre conceitos dessas duas teorias. Como postula Ramalho (2002)Ramalho, C. M. (2002). Aproximações entre Jung e Moreno. Ágora., tanto o psicodrama quanto a psicologia analítica são abordagens de base fenomenológica; assim, certamente, serão encontradas aproximações teórico-práticas.

Em contrapartida, ao invés de procurar uma convergência entre as duas teorias, podem-se tomar elementos delas para realizar uma leitura acerca de experiência psicodramática, inovando no seu modo de condução. São propostas ricas e, longe de representarem um mero ecletismo, tornam-se contribuições singulares para a composição de um arsenal psicodramático.

Dentre as aproximações teórico-práticas, o principal destaque a ser aprofundado nessa discussão reside numa busca pela equivalência de termos. Encontra-se na literatura uma tentativa de aproximação dessas duas teorias considerando os termos de uma como equivalentes a termos da outra, e.g., equivalência entre os conceitos de persona e de papel. Embora possam ter semelhanças — especialmente quando se busca compreender a experiência psicodramática pelas lentes da psicologia analítica —, há um cuidado epistemológico a tomar. Desconsiderar elementos importantes da visão de homem ou da construção conceitual dessas teorias arrisca resultar em redução de uma a outra, e.g., se o conceito de papel, como compreendido por Moreno, e o conceito de persona, em Jung, são tomados como equivalentes, perde-se a construção lógica destes dois conceitos, os quais, apesar de terem aproximações bastante significativas (como no aspecto de que tanto papel quanto persona são anteriores ao sujeito), têm modos distintos para chegar a tal elaboração conceitual (e.g., o papel, em Moreno, antecede o sujeito porque se desenvolve em relação a um contrapapel de outro sujeito, ao passo que, em Jung, a persona antecede o indivíduo, pois é segmento da psique coletiva). Os conceitos das duas teorias não podem ser tidos como equivalentes, pois elas têm fundamentos epistemológicos distintos; assim, um eventual diálogo conceitual precisa ser considerado como um paralelo, com cada olho focado em uma posição epistemológica, sem ser um sistema de equivalências. Um diálogo mais efetivo entre essas duas abordagens poderá ser efetuado no campo da experiência fenomenológica.

Dentre as aproximações práticas, vale organizar os recursos da psicologia analítica que foram introduzidos na prática psicodramática, tais como sonhos, caixa de areia ou contos de fadas, pelos seguintes autores:

  1. Trabalho com mitos (Guggenbühl, 1991, 1992, 1999Guggenbühl, A. (1999). Das Mythodrama. IKM Guggenbuehl AG Edition Raben-Reihe, Monika Menne.) e seus estudos clínicos (Al-Samarrai, 2016Al-Samarrai, L. (2012). Evaluation of Mythodrama Intervention among Middle School Students. [Doctoral dissertation] Institute for Clinical Social Work, Chicago, IL.; Guggenbühl et al., 2006Guggenbühl, A., Hersberger, K., Rom, T., & Boström, P. (2006). Helping Schools in Crisis: A Scientific Evaluation of the Mythodramatic Intervention Approach in Swiss and Swedish Schools. IKM Guggenbühl AG.; Tiabashvili et al., 2018Tiabashvili, T., Mirtskhulava, R., & Japaridze, M. (2018). Mythodrama group psychotherapy approach for adolescents with behavior difficulties. Problems of Psychology in the 21st Century, 12, 95-102. https://doi.org/10.33225/ppc/18.12.95
    https://doi.org/10.33225/ppc/18.12.95...
    ) bem como em Maciel (2000)Maciel, C. (2000). Mitodrama. Ágora..

  2. Trabalho com máscaras (Sheleen, 1983Sheleen, L. (1986). Théâtre pour devenir... Autre. EPI.; Oliveira, 2013Oliveira, M. M. T. (2013). O Poder da máscara no Psicodrama: A sombra e a luz. Revista Brasileira de Psicodrama, 21(1), 183-191. https://revbraspsicodrama.org.br/rbp/article/view/326/318
    https://revbraspsicodrama.org.br/rbp/art...
    ).

  3. Trabalho com contos de fadas (Corumbá & Ramalho, 2008Corumbá, R., & Ramalho, C. M. (2008). Descobrindo enigmas de heróis e contos de fadas: Entre a psicologia analítica e o psicodrama. Profint.; Zabala, 2009Zabala, I. H. (2009). El viaje del héroe a través de los doce cuentos. Anamorphosis, 7, 86-92., 2012Zabala, I. H. (2012). Lo psicodrama simbolico nel lavoro educativo in età evolutiva: Un modello di intervento che integra lo psicodramma moreniano con i principi della psicologia analitica junghiana. Psicodramma Classico, XIV(1-2)., 2019Zabala, I. H. (2019). La transformación a través del Psicodrama Simbólico. La Hoja de Psicodrama, 69, 20-29., 2020Zabala, I. H. (2020). Educar en valores a través de los cuentos: Profundidades simbólicas. Ariel Publisher.).

  4. Trabalho com o corpo (Benedito, 2002Benedito, V. L. D. I. (2002). Abordagem simbólica do conflito conjugal: O corpo em cena. Junguiana, 20, 87-94.).

  5. Trabalho com a caixa de areia (Ramalho, 2010Ramalho, C. M. R. (2010). Sandplay psicodramático: Um jogo na interface do psicodrama com a psicologia analítica. Revista Brasileira de Psicodrama, 18(2), 107-117.).

  6. Trabalho com os sonhos (Gasseau & Bernardini, 2011Gasseau, M., & Bernardini, R. (2011). Il sogno: Dalla psicologia analitica allo psicodramma junghiano. Franco Angeli.).

  7. Trabalho concomitante com sessões em grupo de psicodrama e sessões individuais de psicologia analítica (Heidtke & Neumann-Schirmbeck, 2014).

Um ponto importante a ser discutido constitui-se na originalidade dessas contribuições. Quando se considera a contribuição de Ramalho (2010)Ramalho, C. M. R. (2010). Sandplay psicodramático: Um jogo na interface do psicodrama com a psicologia analítica. Revista Brasileira de Psicodrama, 18(2), 107-117., por exemplo, distinguem-se mais claramente quais elementos remetem à influência analítica (presente no uso da técnica caixa de areia) e quais remetem ao psicodrama (representado na ação dramática); entretanto, em outras propostas — como Sheleen (1983)Sheleen, L. (1986). Théâtre pour devenir... Autre. EPI., Gasseau e Gasca (1991)Gasseau, M., & Gasca, G. (1991). Lo psicodramma junghiano. Bollati Boringhieri., Menegazzo (1994)Menegazzo, C. M. (1994). Magia, mito e psicodrama (1a ed.). Ágora., Guggenbühl (1991, 1992, 1999)Guggenbühl, A. (1999). Das Mythodrama. IKM Guggenbuehl AG Edition Raben-Reihe, Monika Menne. e Zabala (2009Zabala, I. H. (2009). El viaje del héroe a través de los doce cuentos. Anamorphosis, 7, 86-92., 2012Zabala, I. H. (2012). Lo psicodrama simbolico nel lavoro educativo in età evolutiva: Un modello di intervento che integra lo psicodramma moreniano con i principi della psicologia analitica junghiana. Psicodramma Classico, XIV(1-2)., 2019Zabala, I. H. (2019). La transformación a través del Psicodrama Simbólico. La Hoja de Psicodrama, 69, 20-29., 2020)Zabala, I. H. (2020). Educar en valores a través de los cuentos: Profundidades simbólicas. Ariel Publisher. —, distinguem-se menos claramente esses limites. Inclusive, alguns deles introduzem novos elementos a ambas as teorias. A originalidade de tais contribuições pede o reconhecimento da sua singularidade.

Nessas propostas, a psicologia analítica não entra no psicodrama apenas como uma ferramenta de análise a posteriori ou numa mescla de técnicas de ambas as teorias — mas traz, em contraponto, uma compreensão singular do psicodrama. Dialogando pelas vias do mito e da magia (Menegazzo, 1994Menegazzo, C. M. (1994). Magia, mito e psicodrama (1a ed.). Ágora.) e da mitopoese (Gasseau & Gasca, 1991Gasseau, M., & Gasca, G. (1991). Lo psicodramma junghiano. Bollati Boringhieri.), realiza-se a seguir uma proposta que aproxima a psicologia analítica do psicodrama por essa via analítico-compreensiva.

Psicodrama e simbolização

Moreno escreveu pouco sobre simbolização. Cukier (2002) indica uma ocorrência para o termo “simbolização”, quando Moreno (1999, p. 352)Moreno, J. L. (1999). Psicoterapia de Grupo e Psicodrama. Livro Pleno., referindo-se ao trabalho com aqueles que tinham dificuldade na dramatização, descreveu que: “Nem sempre a ação é essencial ao psicodrama. Dá-se igualmente lugar de destaque à simbolização”. Cukier (2002) indica outras duas ocorrências para o termo “técnica simbólica”: (1) quando Moreno (1975)Moreno, J. L. (1975). Psicodrama (1a ed.). Cultrix. define um método que, partindo de uma produção simbólica, propõe eliminar um possível receio de envolvimento pessoal na dramatização; e (2) quando Moreno (1999)Moreno, J. L. (1999). Psicoterapia de Grupo e Psicodrama. Livro Pleno. sugere a dramatização de um conto de fadas, com o intuito de conseguir que os mais resistentes dramatizem (usa o termo “resistência” em sentido diferente da psicanálise, qual seja, como uma dificuldade relacionada ao desempenho do papel dramático). Recentemente, outras aplicações em contos foram exploradas, e.g., aquecimento (Lopes & Dellagiustina, 2017Lopes, I., & Dellagiustina, M. (2017). Psicoterapia infantil mediada por contos infantis: Estudo de caso na perspectiva do Psicodrama. Revista Brasileira de Psicodrama, 25(1), 28-37. https://doi.org/10.15329/2318-0498.20170004
https://doi.org/10.15329/2318-0498.20170...
), efetuando diálogos com personagens de livros (Psalti, 2015Psalti, I. S. M. (2015). Psicosociodrama intuitivo antes de Moreno: Conto de Natal de Dickens. Revista Brasileira de Psicodrama, 23(2), 42-54. https://doi.org/10.15329/2318-0498.20150006
https://doi.org/10.15329/2318-0498.20150...
), no psicodrama simbólico (Zabala, 2009Zabala, I. H. (2009). El viaje del héroe a través de los doce cuentos. Anamorphosis, 7, 86-92., 2019Zabala, I. H. (2019). La transformación a través del Psicodrama Simbólico. La Hoja de Psicodrama, 69, 20-29., 2020Zabala, I. H. (2020). Educar en valores a través de los cuentos: Profundidades simbólicas. Ariel Publisher.) ou com o desenvolvimento da técnica da realização simbólica (Soliani, 1998Soliani, M. L. C. (1998). Realização simbólica e realidade suplementar. In R. F. Monteiro (Ed.), Técnicas fundamentais do psicodrama. Ágora.).

Considerando que a simbolização tem papel de destaque para Moreno, o conceito foi pouco esclarecido por ele, que deixou esta noção a ser posteriormente desvendada. Como muitos de seus conceitos, a noção de simbolização permite ser lida e compreendida pelo arsenal teórico do psicodramatista, que, tendo uma experiência pessoal no psicodrama, pode compreendê-la sob diferentes lentes. Assim, mesmo que o sentido do termo “simbolização” permaneça distinto no psicodrama e na psicologia analítica, propõe-se uma aproximação com o intuito de uma composição — e não sobreposição — da simbolização nessas duas teorias.

Jung (2013Jung, C. G. (2013). Tipos psicológicos (OC Vol. 6) (7a ed.). Vozes., 1960) considera que a simbolização restabelece o fluxo de energia psíquica, restituindo a dinâmica entre consciente e inconsciente; a ausência de simbolização corresponderia ao sintoma — entendido como uma alteração no fluxo de energia psíquica. O símbolo apreende eventos, memórias, e afetos vinculados à história de vida do sujeito, assim como fantasias espontâneas, apontando sentidos conhecidos e outros ocultos. Assim, o símbolo é aberto, não fica reduzido ao determinismo de significados únicos, mas é revelado de acordo com as associações dos indivíduos. Para ser um símbolo vivo, tem como requisito principal a possibilidade de representar algo para alguém.

Fora a técnica simbólica, descrita anteriormente, na teoria moreniana não existe definição precisa de simbolização. Tomando como referência a técnica simbólica, utilizam-se meios indiretos para que o participante obtenha insights dramáticos sem que precise se confrontar em cena com eventos de sua história de vida e, posteriormente, refletindo no compartilhamento sobre a experiência de estar em cena, pode integrar essa experiência. Compreende-se que o simbólico, na teoria moreniana, refere-se mais à técnica simbólica descrita por Moreno (1975)Moreno, J. L. (1975). Psicodrama (1a ed.). Cultrix., ao passo que, na psicologia analítica, a simbolização é um processo criativo em que dinamicamente entram em diálogo aspectos conscientes e inconscientes, tendo em vista uma conexão entre esses aspectos, que é feita no símbolo. Se a noção moreniana de simbólico é ampliada pelas noções de símbolo e de simbolização presentes na psicologia analítica, compreende-se que a simbolização não se trata somente de uma técnica dramática, mas de um processo criativo, que pode ser observado na sessão de psicodrama por meio do percurso realizado pelos participantes para chegar a um insight dramático.

Considerando que, no psicodrama, a simbolização é realizada em processo na ação dramática, propõe-se a seguir uma aproximação entre psicodrama e psicologia analítica pelo caminho do ritual e da mitopoese. O emprego de simbolização se faz presente em trabalhos como o de Menegazzo (1994)Menegazzo, C. M. (1994). Magia, mito e psicodrama (1a ed.). Ágora., correspondendo ao ritual, e Gasseau e Gasca (1991)Gasseau, M., & Gasca, G. (1991). Lo psicodramma junghiano. Bollati Boringhieri., na mitopoese. A seguir são explorados esses dois trabalhos, considerados importantes na construção de um diálogo entre psicodrama e psicologia analítica.

Ritual

O aspecto ritual no psicodrama foi explorado por Menegazzo (1994)Menegazzo, C. M. (1994). Magia, mito e psicodrama (1a ed.). Ágora.. O psicodrama, nesta visão, atua na transição da consciência mágica, que localiza as problemáticas sociais nos indivíduos (reconhecidos como bodes expiatórios), para a consciência mítica, que simboliza esses conteúdos a partir do referencial dramático. O psicodramatista tem, assim, um papel fundamental na sociedade, na medida em que atua na construção de saídas simbólicas para o sofrimento.

Jung (1988) atribui aos símbolos dimensões individuais e também culturais. O reconhecimento da formação do símbolo como uma construção social é realçado por Colman (2016)Colman, W. (2016). Act and Image: The Emergence of Symbolic Imagination. Spring Journal, Inc.. O autor ressalta a importância dos rituais como eventos coletivos onde ocorre a apreensão individual de valores coletivos, em estado pré-simbólico, e a transmissão social do símbolo para outros indivíduos, e.g., em eventos esportivos, em que ocorre a transmissão de valores e regras quando cada jogador participa de uma modalidade esportiva, na qual o ritual é o próprio jogo.

De um modo análogo, e como em outras modalidades de teatro, uma exploração do símbolo acontece pelo próprio ritual psicodramático, afastando-se a necessidade de interpretação na dramatização. Essa exploração é possibilitada no psicodrama por aquilo que se entende por realidade suplementar. Moreno (1999)Moreno, J. L. (1999). Psicoterapia de Grupo e Psicodrama. Livro Pleno. descreve a realidade suplementar como experiência nova e alargada da realidade; no entanto, foi Zerka Moreno quem desenvolveu mais esse conceito (Moreno et al., 2001Moreno, Z., Rutzel, T., & Blomkvist, L. D. (2001). A realidade suplementar e a arte de curar (1a ed.). Ágora.). Na prática clínica, pode-se perceber essa realidade suplementar como um clima quase onírico que toma conta do ambiente depois da sessão de psicodrama, quando a interação entre os participantes adquiriu uma qualidade simbólica que, ao mesmo tempo em que se distancia de uma representação concreta ou literal, possibilitou entre eles um compartilhamento de sentidos que os aproxima uns dos outros, por meio da experiência dramática.

Mitopoese

Descrevendo a técnica simbólica, Moreno (1975)Moreno, J. L. (1975). Psicodrama (1a ed.). Cultrix. indica o uso de narrativas simbólicas no trabalho dramático, como os contos. Nessa técnica, o insight dramático acontece quando os atores se reconhecem enquanto estão desempenhando um papel de um conto, por exemplo, o qual, simbolicamente, remete aos seus conflitos pessoais. A referência para construção de uma noção de mitopoese parte dessa técnica simbólica.

A abrangência da mitopoese foi apresentada por Gasseau e Gasca (1991)Gasseau, M., & Gasca, G. (1991). Lo psicodramma junghiano. Bollati Boringhieri.. Compreende-se a mitopoese como a possibilidade que o psicodrama tem para criação de mitos (poese significando criação). Toda produção simbólica no psicodrama — como a dramatização ou os desenhos — tem a possibilidade de ser compreendida como um mito. Contemporaneamente, os mitos são entendidos também como narrativas (Palomo, 2017Palomo, V. (2017). Psicoterapia: Um ritual de reinvenção de si. In E. C. Souza & M. H. M. B. Abrahão (Eds.), Tempos, narrativas e ficções: A invenção de si (1a ed.). EDIPUCRS.). Quando — semelhantemente à técnica simbólica de Moreno (1975)Moreno, J. L. (1975). Psicodrama (1a ed.). Cultrix. — um ator em cena reconhece nela seu conflito pessoal, abre-se a possibilidade de releitura da situação relacionada a tal conflito. Essa releitura, compreendida por Palomo (2017)Palomo, V. (2017). Psicoterapia: Um ritual de reinvenção de si. In E. C. Souza & M. H. M. B. Abrahão (Eds.), Tempos, narrativas e ficções: A invenção de si (1a ed.). EDIPUCRS. como reinvenção de si, permite que o ator se torne outro, ou seja, que algo para ele se transforme na experiência psicodramática. Percebendo as cenas criadas na sessão como narrativas míticas, intenciona-se trazer uma possibilidade de que o ator organize esse material com base em sua visão de mundo; ou seja, aqui, o termo “mito” não remete apenas aos mitos antigos ou a versões contemporâneas, presentes em filmes ou na literatura, mas à capacidade humana de organizar o material inconsciente na forma de histórias que são contadas livremente e que desenham o mito pessoal.

A especificidade de considerar a dramatização como uma narrativa mítica consiste no fato de que ela tem estrutura. No teatro improvisado, não se coloca necessariamente uma estrutura a priori, mas reconhecem-se estruturas narrativas que poderão ser aprofundadas para compreender simbolicamente o que emergiu daquela experiência. Diversos modelos estão disponíveis para a compreensão do psicodramatista, e.g., arco dramático de Aristóteles (2015)Aristóteles. (2015). Poética (1a ed.). Editora 34. ou a Jornada do Herói de Campbell (1989Campbell, J. (1989). O Herói de Mil Faces (1a ed.). Pensamento., 2014)Campbell, J. (2014). O poder do mito (30a ed.). Palas Athena.. Dentre esses modelos, compreende-se que a estrutura narrativa dos sonhos de Jung (2012)Jung, C. G. (2012). Ab-reação, análise dos sonhos e transferência. Vol. 16/2: Psicoterapia - Parte 2: Volume 16 (9a ed.). Vozes. permite a consideração do inconsciente dentro de uma estrutura dramática com sucessivas etapas: (1) exposição, (2) desenvolvimento da ação (enredo), (3) culminação ou peripécia e (4) lise, solução ou resultado. Jung (2012)Jung, C. G. (2012). Ab-reação, análise dos sonhos e transferência. Vol. 16/2: Psicoterapia - Parte 2: Volume 16 (9a ed.). Vozes. visava, por meio do desenvolvimento dessa estrutura narrativa dos sonhos, compreender o sonho como uma expressão inconsciente, possibilitando a ampliação da consciência (via compensação e complementaridade). Considerando que, muitas vezes, na sessão psicodramática, o psicodramatista convida os atores a sonharem acordados, essa estrutura pode auxiliar a compreensão dos aspectos simbólicos expressos na narrativa mítica. A compreensão dessa narrativa mítica constitui um passo posterior à dramatização. O psicodrama, baseando-se no insight dramático, não interpreta narrativas; a compreensão da narrativa se efetua, pelo insight dramático, na própria ação dramática. Entretanto, a leitura a posteriori da dramatização sob um aspecto simbólico pode revelar atitudes em cena que igualmente estão presentes no cotidiano, sendo também possível efetuar uma conexão da narrativa pessoal com histórias contadas nas distintas sociedades através dos tempos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A produção sobre o psicodrama junguiano encontrou pouca difusão no Brasil, apesar de presente. Em outros países, como Suíça e Itália, essa produção tem sido mais intensa: atualmente, conta-se com um curso de formação na Itália, que de certo modo deu continuidade ao curso de Zurique, na Suíça. Outros cursos integrando estes dois pensamentos foram propostos, e.g., psicodrama simbólico (em Madri, Espanha), caixa de areia (em Aracaju, Brasil) e de psicoterapia de casal (em São Paulo, Brasil). Esta difusão das diferentes propostas de psicodrama junguiano no mundo acontece conforme os psicodramatistas se apropriam do pensamento analítico e dos seus recursos e podem, então, efetuar a construção de propostas originais nesta interface. A originalidade das propostas talvez caracterize o psicodrama junguiano como contemporâneo, em que as diversas influências são possíveis na medida em que formam unidades teórico-práticas que poderão ser agrupadas por afinidades. Não existe uma característica única que permita o reconhecimento do psicodrama junguiano, mas diversas propostas com características que confluem no que se pode entender por psicodramas junguianos. Considerando que Moreno (1975)Moreno, J. L. (1975). Psicodrama (1a ed.). Cultrix. estimula o uso do psicodrama de maneiras diferenciada, entende-se que essas propostas de aproximação pertençam ao campo do psicodrama.

A produção bibliográfica apresentada neste artigo, apesar de muitas vezes ser antiga, pode ser reconhecida hoje em congressos e eventos sobre o assunto. A atividade do psicodrama junguiano, especialmente na Itália, continua ativa, o que demonstra a pertinência desse pensamento diante da necessidade de produção de sentido para problemáticas e demandas contemporâneas. Acredita-se que sua influência possa aumentar na medida em que a comunidade psicodramática compreenda melhor essa proposta de aproximação e a sua relevância prática.

Pode-se dizer que a influência junguiana no psicodrama, ao tratar da confluência dessas abordagens, afeta tanto uma leitura a posteriori, sob uma perspectiva analítico-compreensiva da experiência psicodramática, como adquire uma possibilidade de instrumentalizar novas modalidades de trabalho psicodramático, com a incorporação de elementos como introspecção, recursos imagético-simbólicos e narrativas mitopoéticas. A perspectiva de psicodrama junguiano realçada no presente artigo é embasada no processo de transformação do mito pessoal, entendido como uma narrativa de si, que pode ser transformada na experiência psicodramática. Pelo insight dramático, são buscadas respostas aos conflitos em cena, abrindo possibilidades criativas de enfrentamento. O palco torna-se um locus de transformação, conforme as histórias de vida são simbolizadas e, portanto, ele também pode ser simbolizado: o palco age como um continente para o ritual dramático, favorecendo a exploração simbólica e o desenvolvimento de visões renovadas sobre a própria história de vida.

  • 1
    Utilizam-se as expressões “psicologia analítica” e “junguiano(a)” como intercambiáveis neste artigo (N. do A.).

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à psicodramatista Cybele Ramalho pela leitura cuidadosa do rascunho deste trabalho, bem como à psicodramatista Marcia Almeida Batista e à analista junguiana Maria Paula Magalhães Tavares de Oliveira, pelas contribuições valiosas no processo de elaboração da dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica na PUC-SP, que resultou na produção deste artigo.

  • DISPONIBILIDADE DE DADOS DE PESQUISA

    Não se aplica
  • FINANCIAMENTO

    Não se aplica.

REFERENCES

  • Al-Samarrai, L. (2012). Evaluation of Mythodrama Intervention among Middle School Students [Doctoral dissertation] Institute for Clinical Social Work, Chicago, IL.
  • Aristóteles. (2015). Poética (1a ed.). Editora 34.
  • Beach, C. (2013). Junguiano psychodrama. In C. E. Stephenson (Ed.), Jung and Moreno: Essays on the theatre of human nature (1a ed.). Routledge.
  • Benedito, V. L. D. I. (2002). Abordagem simbólica do conflito conjugal: O corpo em cena. Junguiana, 20, 87-94.
  • Campbell, J. (1989). O Herói de Mil Faces (1a ed.). Pensamento.
  • Campbell, J. (2014). O poder do mito (30a ed.). Palas Athena.
  • Casarin, S. T., Porto, A. R., Gabatz, R. I. B., Bonow, C. A., Ribeiro, J. P., & Mota, M. S. (2020). Tipos de revisão de literatura: Considerações das editoras do Journal of Nursing and Health / Types of literature review: Considerations of the editors of the Journal of Nursing and Health. Journal of Nursing and Health, 10(5). https://doi.org/10.15210/jonah.v10i5.19924
    » https://doi.org/10.15210/jonah.v10i5.19924
  • Colman, W. (2016). Act and Image: The Emergence of Symbolic Imagination Spring Journal, Inc.
  • Corumbá, R., & Ramalho, C. M. (2008). Descobrindo enigmas de heróis e contos de fadas: Entre a psicologia analítica e o psicodrama Profint.
  • Fonseca, J. (2008). Psicodrama da loucura: Correlações entre Buber e Moreno (7ª ed. rev.). Ágora.
  • Fonseca, J. (2010). Psicoterapia da relação: Elementos de psicodrama contemporâneo (ed. rev.). Ágora.
  • Gasca, G. (2012). Lo psicodramma gruppoanalitico Cortina Raffaello.
  • Gasseau, M., & Bernardini, R. (2011). Il sogno: Dalla psicologia analitica allo psicodramma junghiano Franco Angeli.
  • Gasseau, M., & Gasca, G. (1991). Lo psicodramma junghiano Bollati Boringhieri.
  • Gasseau, M., & Michelini, S. (2012). L’incontro terapeutico con il paziente psicótico: Nello spazio intersoggettivo del gruppo Franco Angeli.
  • Gasseau, M., & Simonetto, A. (1998). Ricerca e formazione nel lavoro clinico con gruppi Tirrenia Stampatori.
  • Green, B. N., Johnson, C. D., & Adams, A. (2006). Writing narrative literature reviews for peer-reviewed journals: Secrets of the trade. Journal of Chiropractic Medicine, 5(3), 101-117. https://doi.org/10.1016/S0899-3467(07)60142-6
    » https://doi.org/10.1016/S0899-3467(07)60142-6
  • Guerra, E. M. (2008). A técnica psicodramática da “concretização” e suas relações com o desenvolvimento humano. Ciência & Cognição, 13(1), 114-130.
  • Guggenbühl, A. (1999). Das Mythodrama IKM Guggenbuehl AG Edition Raben-Reihe, Monika Menne.
  • Guggenbühl, A., Hersberger, K., Rom, T., & Boström, P. (2006). Helping Schools in Crisis: A Scientific Evaluation of the Mythodramatic Intervention Approach in Swiss and Swedish Schools IKM Guggenbühl AG.
  • Hillman, J., Barcellos, G., Capriotti, L., Lima, A. de A., & Sandoval, E. de M. (2010). Ficções que curam: Psicoterapia e imaginação em Freud, Jung e Adler (1a ed.). Verus.
  • Jacoby, M. (2011). Encontro analítico: Transferência e relacionamento humano Vozes.
  • Jung, C. G. (2012). Ab-reação, análise dos sonhos e transferência. Vol. 16/2: Psicoterapia - Parte 2: Volume 16 (9a ed.). Vozes.
  • Jung, C. G. (2013). Tipos psicológicos (OC Vol. 6) (7a ed.). Vozes.
  • Kalff, D. M., PhD, B. A. T., & Kalff, D. M. (2004). Sandplay: A Psychotherapeutic Approach to the Psyche Temenos Press.
  • Lopes, I., & Dellagiustina, M. (2017). Psicoterapia infantil mediada por contos infantis: Estudo de caso na perspectiva do Psicodrama. Revista Brasileira de Psicodrama, 25(1), 28-37. https://doi.org/10.15329/2318-0498.20170004
    » https://doi.org/10.15329/2318-0498.20170004
  • Maciel, C. (2000). Mitodrama Ágora.
  • Menegazzo, C. M. (1994). Magia, mito e psicodrama (1a ed.). Ágora.
  • Michelini, S., & Gasseau, M. (2009). Psicoterapia di gruppo nel servizio psichiatrico di diagnosi e cura. Il lavoro delle parole nello spazio transizionale del gruppo Franco Angeli.
  • Moreno, J. L. (1975). Psicodrama (1a ed.). Cultrix.
  • Moreno, J. L. (1914). Einladung zu einer Begegnung Commissionsverlag.
  • Moreno, J. L. (1992). Quem sobreviverá? Fundamentos da Sociometria, Psicoterapia de Grupo e Sociodrama (Vols. 1, 2 e 3). Dimensão Editora.
  • Moreno, J. L. (1999). Psicoterapia de Grupo e Psicodrama Livro Pleno.
  • Moreno, Z., Rutzel, T., & Blomkvist, L. D. (2001). A realidade suplementar e a arte de curar (1a ed.). Ágora.
  • Neumann, E. (1990). História da Origem da Consciência (5a ed.). Cultrix.
  • Oliveira, M. M. T. (2013). O Poder da máscara no Psicodrama: A sombra e a luz. Revista Brasileira de Psicodrama, 21(1), 183-191. https://revbraspsicodrama.org.br/rbp/article/view/326/318
    » https://revbraspsicodrama.org.br/rbp/article/view/326/318
  • Palomo, V. (2017). Psicoterapia: Um ritual de reinvenção de si. In E. C. Souza & M. H. M. B. Abrahão (Eds.), Tempos, narrativas e ficções: A invenção de si (1a ed.). EDIPUCRS.
  • Psalti, I. S. M. (2015). Psicosociodrama intuitivo antes de Moreno: Conto de Natal de Dickens. Revista Brasileira de Psicodrama, 23(2), 42-54. https://doi.org/10.15329/2318-0498.20150006
    » https://doi.org/10.15329/2318-0498.20150006
  • Quilici, M. A. I. (2009). Dramatização espontânea e psicologia analítica de Jung: Consideração da sombra em um grupo de psico-sociodrama [Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo]. https://doi.org/10.11606/D.47.2009.tde-11082009-080205
    » https://doi.org/10.11606/D.47.2009.tde-11082009-080205
  • Ramalho, C. M. (2002). Aproximações entre Jung e Moreno Ágora.
  • Ramalho, C. M. (2016). Cores e tintas da tela psicodramática: Onde Moreno e Jung se encontram. In L. Gottlieb & S. Perazzo (Eds.), Psicodrama: Apontamentos e criação (p. 200). FiloCzar.
  • Ramalho, C. M. R. (2010). Sandplay psicodramático: Um jogo na interface do psicodrama com a psicologia analítica. Revista Brasileira de Psicodrama, 18(2), 107-117.
  • Sechehaye, M. A. (1947). La réalisation symbolique: Nouvelle méthode de psychothérapie appliquée à un cas de schizophrénie H. Huber.
  • Sechehaye, M. A. (1956). Le transfert dans la réalisation symbolique. Revue Francaise de Psychanalyse, 20(4), 479-493.
  • Shaffer, S. D. (2019). The Stage and the Stone: Psychodrama, Alchemy, and Jung [Doctoral dissertation] Pacifica Graduate Institute, Santa Barbara, CA. https://search.proquest.com/openview/6acf3a93919ec967d435fdb7a790f5bb/1.pdf?pq-origsite=gscholar&cbl=18750&diss=y
    » https://search.proquest.com/openview/6acf3a93919ec967d435fdb7a790f5bb/1.pdf?pq-origsite=gscholar&cbl=18750&diss=y
  • Sheleen, L. (1986). Théâtre pour devenir... Autre EPI.
  • Soliani, M. L. C. (1998). Realização simbólica e realidade suplementar. In R. F. Monteiro (Ed.), Técnicas fundamentais do psicodrama Ágora.
  • Stephenson, C. E. (Ed.). (2013). Jung and Moreno: Essays on the theatre of human nature (1a ed.). Routledge. https://doi.org/10.4324/9780203794838
    » https://doi.org/10.4324/9780203794838
  • Tiabashvili, T., Mirtskhulava, R., & Japaridze, M. (2018). Mythodrama group psychotherapy approach for adolescents with behavior difficulties. Problems of Psychology in the 21st Century, 12, 95-102. https://doi.org/10.33225/ppc/18.12.95
    » https://doi.org/10.33225/ppc/18.12.95
  • Vidal, G. P., & Cardoso, A. S. (2020). Dramatização on-line: Psicoterapia da relação e psicodrama interno no psicodrama contemporâneo. Revista Brasileira de Psicodrama, 28(2), 131-141. https://doi.org/10.15329/2318-0498.20383
    » https://doi.org/10.15329/2318-0498.20383
  • Zabala, I. H. (2009). El viaje del héroe a través de los doce cuentos. Anamorphosis, 7, 86-92.
  • Zabala, I. H. (2012). Lo psicodrama simbolico nel lavoro educativo in età evolutiva: Un modello di intervento che integra lo psicodramma moreniano con i principi della psicologia analitica junghiana. Psicodramma Classico, XIV(1-2).
  • Zabala, I. H. (2019). La transformación a través del Psicodrama Simbólico. La Hoja de Psicodrama, 69, 20-29.
  • Zabala, I. H. (2020). Educar en valores a través de los cuentos: Profundidades simbólicas Ariel Publisher.

Editado por

Editora de seção: Amanda Castro

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Jan 2022
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2021

Histórico

  • Recebido
    02 Mar 2021
  • Aceito
    07 Abr 2021
Federação Brasileira de Psicodrama Rua Barão de Itapetininga, 37 conj. 402 , cep: 01042-001 - São Paulo - SP / Brasil, tel: +55 (11) 3673 3674 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: rbp@febrap.org.br