ENVOLVIMENTO PARENTAL NA ESCOLA: PERSPETIVAS DE PAIS E FILHOS

Envolvimiento parental en la escuela: perspectivas de padres e hijos

RESUMO

O envolvimento parental na escola é um construto que engloba diferentes comportamentos e atitudes, de carácter multidimensional, envolvendo todas as práticas parentais desenvolvidas pela família, desde os bons hábitos de estudo e a comunicação com a escola, até iniciativas que visam o sucesso escolar dos filhos. Os objetivos do presente estudo foram analisar as perceções, tanto de pais como dos filhos, sobre o envolvimento dos pais no contexto escolar dos filhos e comparar a perceção de pais e filhos sobre esse aspeto. Participaram neste estudo 526 famílias e utilizou-se o Questionário de Envolvimento Parental para recolha de dados. Pais e alunos descreveram um elevado envolvimento parental no contexto escolar. Todavia, verificou-se a existência de diferenças significativas entre as duas perspetivas. Estes resultados possibilitam uma reflexão sobre as tendências, desafios e implicações deste conceito, sendo discutidas as suas implicações para a prática e para a investigação.

Palavras-chave:
envolvimento parental na escola; escola primária; educação

RESUMEN

El envolvimiento parental en la escuela es un constructo que engloba distintos comportamientos y actitudes, de carácter multidimensional, abarcando todas las prácticas parentales desarrolladas por la familia, desde los buenos hábitos de estudio y la comunicación con la escuela, hasta iniciativas que tengan el objetivo el éxito escolar de los hijos. Los objetivos del presente estudio fueron analizar las percepciones, de padres y de los hijos, sobre el envolvimiento de los padres en el contexto escolar de los hijos y comparar la percepción de padres e hijos sobre ese aspecto. Participaron en este estudio 526 familias y se utilizó el Cuestionario de Envolvimiento Parental para la recolecta de datos. Padres y alumnos describieron un elevado envolvimiento parental en el contexto escolar. Sin embargo, se percibió la existencia de diferencias significativas entre las dos perspectivas. Estos resultados posibilitan una reflexión sobre las tendencias, desafíos e implicaciones de este concepto, siendo discutidas sus implicaciones para la práctica y para la investigación.

Palabras clave:
envolvimiento parental en la escuela; escuela elementar; educación

ABSTRACT

Parental involvement at school is a construct that encompasses different behaviours and attitudes. Being multidimensional, it involves all the parental practices developed by the family, from study habits and communication with the school to initiatives aimed at the child's success at school. This study aims to analyse not only parents' perceptions of their own involvement with their children's school, but also their children's perceptions of their involvement with their school. It also explores the comparison between parents' and children's perceptions of perceived parental involvement. A total of 526 families took part in this study and the data was collected using the Parental Involvement Questionnaire. Both parents and children perceived a high level of parental involvement with the school, but there were significant differences between their perceptions. These results make it possible to reflect on the trends, challenges and implications of this concept, presenting the implications for practice and research.

Keywords:
school parental involvement; primary school; education

A família desempenha um papel fundamental nas relações sociais e nas aprendizagens sistematicamente mais complexas e desafiantes que ocorrem na vida das crianças, sendo consensual que as crianças necessitam de uma família que lhes dê suporte emocional, cognitivo e material, potenciando o seu desenvolvimento e permitindo-lhes crescer de forma saudável (Berger, 2000). Assim, as relações estabelecidas entre pais e filhos são essenciais, uma vez que os pais são os primeiros agentes de socialização, a nível comportamental, emocional e cognitivo das crianças (Piccinini, Frizzo, Alvarenga, Lopes, & Tudge, 2007), sendo decisivos para o seu sucesso. A família, nomeadamente os pais, estão envolvidos nas diferentes fases do desenvolvimento dos seus filhos, tanto em momentos e atividades informais, como no seu processo de escolarização (Eccles & Harold, 1996). O envolvimento dos pais com a escola, tem merecido a atenção da investigação como uma das variáveis do contexto familiar relacionadas com a educação escolar das crianças (Costa, 2015; Epstein, 1987; Hill & Taylor, 2004; Hill & Tyson, 2009; Wilder, 2013) e com o seu sucesso académico (Epstein, 1987; Goodall, 2013; Gubbins & Otero, 2020b; Hill & Tyson, 2009; Wilder, 2013).

Esta dimensão tem sido definida de diferentes formas por vários autores, englobando diferentes comportamentos e atitudes dos pais, com vista ao apoio e à colaboração no processo educativo dos filhos (Costa, 2015; El Nokali, Bachman, & Votruba-Drzal, 2010 ; Goodall & Montgomery, 2013). Assim, parece claro que tem uma natureza multidisciplinar, uma vez que envolve todas as práticas parentais desenvolvidas pela família, desde bons hábitos de estudo e comunicação com a escola, até iniciativas que visam o sucesso académico da criança (Kohl, Lengua, & MacMahon, 2000; Goodall, 2018; Gubbins & Otero, 2020a; Prego & Mata, 2012). De acordo com Fan e Chen (2001) integra também comportamentos e práticas educativas parentais, como a valorização da escola, a participação em atividades e eventos escolares, a relação com os professores ou mesmo regras impostas no contexto familiar que promovem a aprendizagem escolar (Fan & Chen, 2001). Também para Grolnick e Slowiaczek (1994) este constructo integra as atitudes, perceções e expectativas dos pais sobre a escola e o seu papel na promoção da motivação para aprender aos seus filhos. Marques (1997) acrescenta que o envolvimento dos pais na escola consiste na integração responsável, dinâmica e constante das famílias, quer no processo educativo dos alunos, quer nos projetos da escola, constituindo-se como uma variável fundamental na qualidade do processo de aprendizagem das crianças. Esta heterogeneidade de comportamentos confere a este conceito um carácter multifacetado e multidimensional. Assim, o envolvimento dos pais na escola pode assumir um caráter reativo, nomeadamente a participação dos pais em iniciativas da escola; ou proactivo, em que as atividades advêm da própria iniciativa dos pais (Marques, 1997).

Podem ainda distinguir-se dois aspectos estruturais no envolvimento parental com a escola. Um que se refere às estratégias parentais centradas e orientadas para a escola, e o outro às estratégias desenvolvidas no seio da família, mas também orientadas para a educação escolar (Epstein, 1987). A primeira dimensão inclui a comunicação entre pais e professores, a participação dos pais em eventos escolares ou na associação de pais ou noutros grupos formais e informais da escola (Driessen, Smit, & Sleegers, 2005). Por sua vez, as estratégias desenvolvidas na família relacionam-se com a supervisão e apoio parental, o reforço das aprendizagens em casa, o apoio na realização dos trabalhos escolares e de casa, a criação de espaços de estudo adequados e a organização de planos de estudo (Wong, 2008).

McBride, Dyer, Liu e Brown (2009) também apontam uma distinção entre estes dois tipos de envolvimento parental. De acordo com estes autores, o envolvimento dos pais em estratégias desenvolvidas no seio da família consiste na realização de atividades de aprendizagem desenvolvidas fora do contexto escolar, mas orientadas para a educação escolar, tais como a visita a bibliotecas, livrarias, a participação em eventos que promovam a aprendizagem das crianças, mas também a orientação e acompanhamento do seu trabalho. O envolvimento dos pais em estratégias centradas na escola é entendido como a sua participação em atividades e eventos realizados pela escola, como por exemplo, a sua participação em reuniões e eventos promovidos pela escola.

Grolnick e Slowiaczek (1994), recorrendo a uma análise fatorial de um conjunto de comportamentos parentais relacionados com o envolvimento escolar, defendem a existência de três facetas desse mesmo envolvimento: comportamental, cognitivo-intelectual e pessoal. A primeira, centrada tanto no ambiente familiar como no escolar, inclui a comunicação ativa pais-escola, a participação em eventos escolares e o apoio nos trabalhos de casa. Por sua vez, o envolvimento cognitivo-intelectual refere-se aos esforços dos pais para proporcionar às crianças atividades e experiências educativas intelectualmente estimulantes. Por último, o envolvimento pessoal engloba as atitudes e expectativas dos pais em relação à escola, com destaque para a valorização atribuída pela família à educação escolar.

Mais recentemente, Lorenz e Wild (2007) defendem uma outra abordagem teórica relativamente ao envolvimento parental, operacionalizando-o em quatro dimensões estruturantes. A primeira, referente às práticas parentais de apoio à autonomia, considera o encorajamento dos pais para envolverem os filhos em atividades que potenciem a sua iniciativa e a sua autorregulação comportamental. A segunda dimensão refere-se ao controlo e à pressão dos pais, englobando o esforço parental para pressionar os filhos a alcançar o sucesso escolar, as recompensas pelos bons resultados e as instruções diretas para orientar o estudo. Esta dimensão tende, por vezes, a fragilizar a motivação intrínseca das crianças, bem como a sua autonomia. A terceira dimensão, designada por estrutura, refere-se à organização do ambiente familiar para propor regras e normas claras e coerentes, bem como expectativas em relação à aprendizagem e às tarefas escolares. Um elevado grau de estrutura pode promover o sucesso se a criança ou o adolescente for capaz de distinguir esta dimensão da de controlo. Caso contrário, esta dimensão funde-se com a de controlo, com um impacto negativo na autonomia e no desempenho escolar. Por último, a dimensão da reatividade emocional que está relacionada com a disponibilidade dos pais para satisfazer as necessidades e os sentimentos dos filhos, apoiando-os em caso de insucesso.

Epstein (2001), salienta que em relação a este constructo é importante refletir sobre a forma como a comunidade académica lida com o envolvimento parental no que diz respeito à sua participação na escola. Este autor desenvolve, por isso, um modelo que inclui uma tipologia que facilita a compreensão e o estudo das relações entre a escola e a família, analisando os dois ambientes como sistemas que se podem afastar ou aproximar, dependendo das suas práticas e forças interpessoais. Este modelo inclui também a oportunidade de desenvolver um programa de orientação e supervisão para os pais, de modo que estes possam melhorar as suas competências enquanto cuidadores capazes de ajudar os seus filhos em questões que envolvam interação social e aprendizagem, bem como melhorar o seu desempenho pessoal, familiar e escolar. Todos os seis tipos de envolvimento parental considerados na tipologia proposta por este autor têm como objetivo criar escolas abertas às famílias e às comunidades e ajudar os alunos a obter melhores resultados (Epstein, 2001). É de salientar que cada tipo de envolvimento parental apresenta desafios particulares, associados a diferentes resultados, quer sejam direcionados para os alunos, para os pais, para os métodos de ensino ou para o contexto escolar (Lopes & Paiva, 2008).

Este modelo desenvolvido por Epstein (1992) integra e desenvolve o modelo bioecológico de Bronfenbrenner, que considera a influência dos diferentes contextos em que os sujeitos estão inseridos, analisando não só o impacto individual que cada um tem no sujeito, mas também o impacto dos vários sistemas e das suas inter-relações no desenvolvimento humano. Para que cada contexto influencie o desenvolvimento humano, é necessário que haja comunicação e participação entre os diferentes sistemas da vida do sujeito (Bronfenbrenner, 1988), como é o caso, por exemplo, da ligação entre a família e a escola. No desenvolvimento humano, os sistemas em que o sujeito está inserido têm um papel importante na forma como o sujeito perceciona o que o rodeia e na forma como se desenvolve de acordo com a sua exposição e interação com esse sistema (Morgan, 2017).

Atualmente, este conceito é considerado tão importante quanto outros elementos do processo educativo, uma vez que pode ser associado a vários aspetos relacionados com a escolaridade, que consideram as escolas como espaços físicos e também como espaços de interações fundamentais para o desenvolvimento das crianças e dos profissionais (Bhering, 2003).

O envolvimento parental na educação aponta para a compreensão das complexas interações entre a motivação dos pais, a interação familiar existente, a aprendizagem dos alunos, os métodos adotados pelos professores na escola, o clima escolar e as estratégias de intervenção (Morgan, 2017). Torna-se, pois, importante promover ligações entre a família, a escola e a comunidade, pois para além de poderem melhorar todo o contexto escolar, podem também ajudar as famílias a comunicar entre si e com os outros contextos que as rodeiam (Costa, 2015; Goodall, 2018; Jeynes, 2018; Ramírez, Nuñez, & Guzmán, 2018). No entanto, a principal razão para promover a parceria entre a família, a escola e a comunidade é ajudar as crianças e os jovens a alcançar o sucesso pessoal e escolar, onde pais e professores se devem considerar parceiros na educação e conjuntamente promotores do sucesso (Epstein, 2001; Goodall, 2018; Gubbins & Otero, 2020a, 2020b; Prego & Mata, 2012).

A forma como a família se relaciona com os professores e com a escola em geral é influenciada por múltiplos fatores, não só socioculturais, económicos, étnicos, mas também relacionados com as estruturas familiares, idade, sexo e escolaridade dos pais, bem como com o desempenho dos alunos (Pereira, Canavarro, Cardoso, & Mendonça, 2003; Epstein, 1992; Grolnick & Slowiaczek, 1994; Kohl et al., 2000).

Em termos gerais, os estudos enfatizam a associação positiva entre o envolvimento parental com a escola e o sucesso académico (Gubbins & Otero, 2020b; Hill & Craft, 2003; Hoover-Dempsey & Sander, 1995), a motivação académica (Ibanez, Kuperminc, Jurkovic, & Perilla, 2004), os sentimentos de pertença e o próprio envolvimento dos filhos com a escola (Kuperminc, Darnell, & Alvarez-Jimenez, 2008). Assim, os alunos mais supervisionados pelos pais sentem-se mais encorajados e motivados face aos desafios e exigências escolares (Prata, Barbosa-Ducharne, Gonçalves, & Cruz, 2013). Considerando este contexto teórico, o presente estudo pretende explorar não só a perceção dos pais em relação ao seu próprio envolvimento no contexto escolar dos filhos, mas também perceber qual é a percepção dos próprios filhos em relação ao envolvimento dos seus pais, comparando-as.

MÉTODO

Participantes

Participaram neste estudo 526 pais de alunos do 3º ano do ensino básico: 445 mães (84,7%) e 67 pais (12,7%). As mães tinham, em média, 38,44 anos (DP = 5,92, Mín = 20, Máx = 56) e os pais, em média, 40,98 anos (DP = 6,39, Mín = 26, Máx = 65). Estes participantes eram encarregados de educação de 526 alunos do 3.º ano do ensino básico, 250 do sexo feminino (47,5%) e 276 do sexo masculino (52,5%), com idades compreendidas entre os 8 e os 11 anos (M = 8,27, DP = 0,50) e tinham, em média, 1,32 irmãos (DP = 1,27, Min = 0, Max = 7). Estas crianças viviam maioritariamente com a família nuclear (85,5%, n = 401), mas 159 (12,6%) viviam também com alguns membros da família alargada e 7 (1,5%) viviam apenas com membros da família alargada. Apenas 0,4% (n = 2) dos estudantes participantes viviam noutros contextos para além da família. A maioria dos alunos participantes vive em famílias tradicionais (95,2%, n = 438), sendo que apenas 4,8% (n = 22) vivem em famílias reconstruídas. A maioria dos alunos participantes também vivia em famílias biparentais (76,7%, n = 336).

O progenitor ou tutor responsável pela educação da criança era maioritariamente a mãe (84,6%, n = 445). Apenas 12,7% (n = 67) conta com o pai como encarregado de educação e em 14 casos (2,7%) este papel foi atribuído a outro membro da família ou a alguém de fora da família.

Instrumentos

Os dados sociodemográficos relativos tanto aos pais como às crianças foram recolhidos através do preenchimento de uma ficha de identificação individual construída no âmbito da presente investigação. O envolvimento parental no contexto escolar foi avaliado o Parental Involvement Questionnaire (Pereira et al., 2003). Este é um questionário de auto-relato que inclui uma versão para as crianças e outra para os pais, sendo que na presente investigação são utilizadas as duas versões. Ambas as versões são respondidas numa escala de Likert de 5 pontos (de Discordo Totalmente a Concordo Totalmente) e são compostas por 4 factores ou subescalas. O primeiro fator é constituído por itens pertencentes à dimensão envolvimento da família em atividades na escola, sendo esta designada por envolvimento parental em atividades escolares e voluntariado. O segundo fator é constituído por todos os itens da dimensão relativa ao envolvimento parental nas atividades de aprendizagem em casa. O terceiro fator refere-se à comunicação escola-família, especialmente à comunicação que decorre por iniciativa dos pais. O quarto fator diz respeito ao envolvimento dos pais nas atividades escolares e à participação nas reuniões de pais e professores e dá ênfase às formas mais tradicionais de envolvimento dos pais na escola. A versão para crianças inclui ainda um quinto fator relativo aos reforços e castigos que os pais atribuem aos filhos por causa dos trabalhos escolares. Ambas as versões incluem ainda uma pontuação global, que é obtida a partir da soma dos itens do questionário e diz respeito ao envolvimento parental global. Na versão dos pais, o questionário é composto por 24 itens, variando a pontuação global entre 24 e 120, enquanto na versão dos filhos o questionário é composto por 28 itens, variando a pontuação global entre 28 e 140.

A Tabela 1 apresenta o alfa de cronbach obtido no presente estudo, para ambas as versões (pais e alunos).

Tabela 1
Cronbach’s Alpha do Parental Involvement Questionnaire (Pereira et al., 2003), para as duas versões (pais e alunos).

	Versão para Pais	Versão para Alunos
	α de Cronbach	α de Cronbach
Envolvimento dos pais em atividades escolares e de voluntariado	0.84	0.82
Envolvimento dos pais em atividades de aprendizagem em casa	0.81	0.80
Comunicação entre a escola e a família	0.76	0.72
Envolvimento dos pais em atividades escolares e participação em reuniões de pais e professores	0.69	0.71
Reforços e castigos	NA	0.81
Envolvimento global dos pais	0.87	0.85

• Nota: NA: não aplicável.

Procedimentos

Esta investigação obteve parecer favorável da Comissão de Ética das Universidades a que os autores se filiam e da Direção-Geral da Educação Portuguesa para a realização de investigação em contexto escolar.

Foi selecionada uma amostra representativa de alunos do 3º ano do ensino básico para participar no estudo. Depois de explicados os objetivos do estudo e obtida uma resposta positiva, as direções das escolas foram contactadas pelos investigadores para uma explicação mais detalhada dos objetivos do estudo, envio do consentimento informado e agendamento das recolhas de dados.

Tendo em conta a idade dos alunos participantes, foi solicitado a todos os pais ou encarregados de educação que preenchessem um consentimento informado, autorizando a participação dos alunos no estudo. Todas as direções das escolas, bem como todos os pais participantes, preencheram igualmente um consentimento informado.

Os dados foram recolhidos em contexto escolar, em formato digital através da aplicação GSP4Sucess (Barroso, Dias, & Soares, 2019) construída no âmbito da presente investigação. Em cada recolha de dados estiveram sempre presentes pelo menos um investigador e o professor da turma.

Os dados foram analisados com recurso ao IBM SPSS, versão 25.0 para Windows (IBM, 2017). Foi verificada a normalidade da distribuição das variáveis, bem como a homogeneidade das variâncias. Quando os pressupostos para a utilização dos testes paramétricos não se encontravam assegurados, o tratamento estatístico dos dados foi realizado com recurso aos respetivos testes não paramétricos. No entanto, uma vez que os resultados foram concordantes, optou-se por apresentar os resultados dos testes paramétricos, seguindo uma recomendação de Fife-Schaw (2006).

RESULTADOS

O envolvimento parental escolar na perspetiva dos encarregados de educação ou pais

A Tabela 2 apresenta as medidas descritivas do envolvimento parental escolar, bem como as correlações entre essas variáveis.

Tabela 2
Intercorrelações e Medidas Descritivas do Envolvimento dos Pais com a Escola, na Perspetiva dos Pais ou Encarregados de Educação e das Crianças.

	1	2	3	4	5	6	7	8	9	10	11
1. Perspetiva dos pais ou encarregados de educação sobre o envolvimento dos pais em atividades escolares e de voluntariado	1
2. Perspetiva dos pais ou encarregados de educação sobre o envolvimento dos pais em atividades de aprendizagem em casa	.40**	1
3. Perspetiva dos pais ou encarregados de educação sobre a comunicação entre a escola e a família	.43**	,74***	1
4. Perspetiva dos pais ou encarregados de educação sobre o envolvimento dos pais em actividades escolares e a participação em reuniões de pais e professores	.58***	.45*	.52*	1
5. Perspetiva dos pais ou encarregados de educação sobre o envolvimento global dos pais	.72***	.72***	.74***	.69***	1
6. Perspetiva dos alunos sobre o envolvimento dos pais nas atividades escolares e o voluntariado	.20*	.11	.21*	.24*	.25*	1
7. Perspetiva dos alunos sobre o envolvimento dos pais em actividades de aprendizagem em casa	.07	.15*	.17*	.26*	.18*	.61***	1
8. Comunicação entre a escola e a família na perspetiva dos alunos	.05	.07	.16*	.19*	.17*	.66***	.74***	1
9. Envolvimento dos pais nas actividades escolares e participação nas reuniões de pais e professores perspetiva dos alunos	.07	.15*	.17*	.20*	.18*	.64***	.78***	.70***	1
10. Reforços e castigos na perspetiva dos alunos	.08	.05	.08	.09	.12	.53**	.56**	.56**	.54**	1
11. Envolvimento global dos pais na perspetiva dos alunos	.10	.10	.18*	.22*	.21*	.76***	.84***	.79***	.86***	.73***	1
M (DP)	2.31 (0.72)	3.54 (0.40)	3.45 (0.47)	3.22 (0.59)	75.26 (10.73)	3.87 (0.87)	4.13 (0.74)	3.98 (0.78)	4.06 (0.82)	3.86 (0.84)	111.19 (20.35)

• Nota: * p < .05; ** p < .01; *** p < .001.

As médias obtidas nos vários factores do questionário variaram entre 2,31 (envolvimento parental em actividades escolares e voluntariado) e 3,54 (envolvimento parental em actividades de aprendizagem em casa), verificando-se a existência de diferenças significativas entre os resultados obtidos nestes dois factores, t(526) = -41,66, p <. 001, d = 0,72, IC 95% [-1,28, -1,17]; e a média do resultado global do envolvimento parental foi de 75,26.

Verificou-se também que os vários factores se correlacionavam significativamente entre si de forma moderada ou forte. A existência destas correlações parece mostrar que os pais que tendem a estar mais empenhados na vida académica dos seus filhos parecem fazê-lo em todas as suas dimensões, investindo significativamente nas várias tarefas que o envolvimento parental com a escola implica.

Com o objetivo de analisar as relações entre o envolvimento parental escolar e as variáveis sociodemográficas, foram realizadas diferenças de médias e correlações entre os factores avaliados e as diferentes variáveis sociodemográficas.

Verificou-se uma correlação significativa entre a idade dos encarregados de educação do sexo masculino e o fator envolvimento parental nas atividades escolares e participação em reuniões de pais e encarregados de educação (r = 0,15, p < .005). A mesma correlação foi observada entre a idade dos encarregados de educação do sexo feminino e o mesmo fator (envolvimento parental em atividades escolares e participação em reuniões de pais e professores (r = 0,18, p <. 001)). Estes resultados são ainda reforçados por uma correlação entre a idade das encarregadas de educação e o envolvimento global com a escola (r = .22, p < .01), ou seja, as encarregadas de educação mais velhas tendem a envolver-se mais com a escola.

Também foi evidenciada a existência de algumas relações entre o número de filhos e o envolvimento parental. Quanto mais filhos os participantes tinham, menor era o envolvimento nas atividades de aprendizagem em casa (r = -.15, p <.05) e menor era a comunicação escola-família (r = -.17, p <.05).

Envolvimento parental da escola na perspetiva dos alunos

As medidas descritivas do envolvimento parental, segundo a perspetiva dos alunos, bem como as intercorrelações entre as várias subescalas analisadas são também apresentadas na Tabela 2.

As médias obtidas nas várias subescalas do questionário variaram entre 3,86 (reforços e castigos) e 4,13 (envolvimento parental nas atividades de aprendizagem em casa), sendo a pontuação no envolvimento parental global de 111,19. Verificou-se também que os vários factores se correlacionavam de forma significativa, moderada ou forte.

Com o objetivo de analisar as relações entre o envolvimento parental escolar e as variáveis sociodemográficas, foram também realizadas diferenças de médias e correlações entre os factores avaliados e as diferentes variáveis sociodemográficas.

Não se verificaram diferenças significativas associadas ao género dos participantes e às perceções do envolvimento parental no contexto escolar. Foram encontradas correlações negativas fracas entre a idade dos participantes e todas as subescalas, com exceção do envolvimento parental em atividades escolares e voluntariado e dos reforços e castigos. Assim, quanto mais velhos eram os alunos, menor era a comunicação escola-família (r = -.18, p < .05), menor era o envolvimento dos pais nas atividades escolares e a participação em reuniões de pais e professores (r = -.19, p < .05) e menor era o envolvimento dos pais em atividades de aprendizagem em casa (r = -.22, p < .05) e o envolvimento global dos pais (r = -.17, p < .05).

De igual modo, verificaram-se correlações negativas igualmente fracas entre o número de irmãos e todas as subescalas de perceção dos participantes relativamente ao envolvimento parental no contexto escolar. Assim, quanto mais irmãos os participantes tinham, menor era a perceção do envolvimento parental em atividades escolares e de voluntariado (r = -.19, p < .05), do envolvimento parental em atividades de aprendizagem em casa (r = -.22, p < .05), da comunicação escola-família (r = -. 18, p < .05), envolvimento parental em atividades escolares e participação em reuniões de pais e professores (r = -.21, p < .05), reforços e castigos (r = -.17, p < .05) e envolvimento parental global (r = -.22, p < .05).

Envolvimento parental na escola: perspetiva dos pais e dos alunos

Finalmente, para comparar a perspetiva de pais e filhos sobre o envolvimento parental escolar, foram realizados testes t-student emparelhados, utilizando as 4 subescalas que são partilhadas entre a versão do questionário para pais e para filhos. A Tabela 3 apresenta as diferenças médias, bem como as correlações obtidas.

Tabela 3
Diferenças médias entre a perceção dos alunos e dos pais sobre o envolvimento dos pais na escola.

	Pais	Alunos	r	df	t	d	95% CI
	M (SD)	M (SD)
Envolvimento dos pais em atividades escolares e de voluntariado	2.32 (0.73)	3.87 (0.87)	.07	503	-32,47***	1.93	[-1.64, -1.46]
Envolvimento dos pais em atividades de aprendizagem em casa	3.55 (0.39)	4.13 (0.74)	.02	503	-16.31***	0.98	[-0.65, -0.52]
Comunicação entre a escola e a família	3.44 (0.47)	3.98 (0.78)	.01	503	-14.09***	0.84	[-0.61, -0.46]
Envolvimento dos pais em atividades escolares e participação em reuniões de pais e professores	3.23 (0.59)	4.06 (0.82)	.01	500	-19.17***	1.16	[-0.91, -0.74]
Envolvimento global dos pais	75.34 (10.77)	111.19 (20.35)	.01	503	-37.17***	2.20	[-37.74, -33.95]

• Nota: *** p < .001.

Ao comparar as perspetivas de pais e filhos sobre o envolvimento parental na escola, é possível verificar a existência de diferenças significativas entre a perceção de pais e filhos, em todas as subescalas analisadas. Em todas as subescalas, os alunos percepcionam um envolvimento parental superior ao percecionado pelos seus próprios pais.

DISCUSSÃO

O presente estudo teve como objectivos a caraterização do envolvimento parental dos pais ou encarregados de educação responsáveis pelos alunos do 3º ano do 1º ciclo do ensino básico, a caraterização da perceção dos seus filhos sobre o envolvimento parental no contexto escolar dos seus pais ou encarregados de educação e a análise comparativa entre estas duas percepções.

Os resultados do estudo mostraram que os pais ou encarregados de educação percepcionam, de um modo geral, o seu envolvimento no contexto escolar dos seus filhos como médio, uma vez que se obteve uma média de 75,26 no envolvimento parental global, num valor máximo de 120. Este resultado parece evidenciar que os pais ou encarregados de educação se atribuem alguma importância enquanto agentes no processo educativo dos seus educandos. No entanto, verificaram-se diferenças significativas entre o fator em que os pais referiram estar mais envolvidos (envolvimento parental em atividades de aprendizagem em casa) e aquele em que referiram estar menos envolvidos (envolvimento parental em atividades escolares e voluntariado), o que parece evidenciar que os pais consideram que o seu papel na escola está mais relacionado com o seu contributo em casa, promovendo e estimulando as aprendizagens dos filhos, do que com o seu contributo nas atividades que podem ser realizadas na escola. Estes resultados parecem deixar antever que os pais ou encarregados de educação participantes utilizaram com maior frequência as estratégias desenvolvidas no seio da família orientadas para a educação escolar definidas por Epstein (1987) ou por Mc Bride et al. (2009), nomeadamente a supervisão e apoio parental, o reforço da aprendizagem em casa, o apoio na realização dos trabalhos escolares e de casa, quando comparadas com as estratégias focalizadas e orientadas para a escola. Apesar dos presentes resultados, chama-se a atenção para a importância das estratégias parentais focadas e orientadas para a escola, particularmente no 1º ciclo do ensino básico, uma vez que Hill e Tyson (2009) verificaram que nos primeiros anos de escolaridade, as estratégias parentais focadas na escola tendem a estar positivamente associadas ao desempenho escolar. Segundo estes autores, comportamentos parentais como visitas frequentes à escola e interações mais próximas com os professores aumentam o conhecimento dos pais sobre os conteúdos curriculares lecionados, alargam o capital social da família aos contactos da rede escolar e, assim, potenciam o sucesso escolar dos alunos.

No presente estudo, na perspetiva dos pais ou encarregados de educação, também se verificou que os vários factores se correlacionaram significativamente entre si de forma moderada ou forte. A existência destas correlações parece mostrar que os pais que tendem a estar mais empenhados na vida académica dos seus filhos parecem fazê-lo em todas as suas dimensões, investindo significativamente nas várias tarefas que o envolvimento parental com a escola implica.

Verificou-se também a existência de correlações entre a idade da mãe e do pai e o número de filhos com o seu envolvimento parental. Os resultados parecem demonstrar que quanto mais velhos são os pais, mais participam nas atividades escolares. Estes resultados podem dever-se a várias razões: por um lado, os pais mais velhos podem estar mais disponíveis e, por isso, têm mais facilidade em participar nas atividades; por outro lado, podem valorizar mais estas atividades presenciais e mais tradicionais do envolvimento parental. Ao mesmo tempo, quanto mais filhos os pais participantes tinham, menor era o envolvimento em atividades de aprendizagem em casa e menor era a comunicação escola-família. Estes resultados podem dever-se à necessidade de estes participantes partilharem a sua atenção com mais crianças, que também podem frequentar o sistema educativo e que também requerem a atenção dos pais para estas questões.

Quando nos centramos na perspetiva dos alunos sobre o envolvimento escolar dos seus pais ou encarregados de educação, verificamos que os alunos percecionam um elevado envolvimento parental no contexto escolar, uma vez que os valores médios obtidos nas várias subescalas se aproximaram de 4 (o valor máximo possível era 5). À semelhança dos resultados obtidos com os pais, também os alunos percecionam um maior envolvimento parental nas atividades de aprendizagem em casa e um menor envolvimento parental nas atividades escolares e de voluntariado. Estes dados reforçam a necessidade de sensibilizar os pais e encarregados de educação para a importância do seu envolvimento em estratégias centradas na escola, para o desenvolvimento dos seus filhos e para o seu sucesso académico. No entanto, apesar de este ser o fator com resultados mais baixos, reforça-se que os resultados obtidos, segundo a perspetiva dos alunos, denotam um elevado envolvimento parental no contexto escolar, o que parece evidenciar uma elevada perceção dos alunos relativamente à participação dos pais na sua vida académica e escolar, o que é um resultado favorável, pois são claros os benefícios da participação dos pais na vida académica para o desempenho escolar dos filhos e para a sua satisfação com a vida académica. De igual modo, na perspetiva dos estudantes, também se verificou que os vários factores se correlacionaram significativamente de forma moderada ou forte. A existência destas correlações parece mostrar que, de acordo com a perceção dos estudantes, os pais que tendem a envolver-se mais na vida académica dos filhos parecem fazê-lo em todas as suas dimensões, investindo significativamente nas várias tarefas que o envolvimento parental com a escola implica.

Foram encontradas correlações negativas fracas entre a idade dos alunos participantes e todas as subescalas, com exceção do envolvimento parental em actividades escolares e voluntariado e dos reforços e castigos. Estes resultados podem estar relacionados com as expectativas dos pais relativamente ao desempenho escolar dos seus filhos. Os alunos mais velhos são aqueles que geralmente apresentam dificuldades e têm maior probabilidade de terem sido retidos em anos anteriores, o que pode levar os seus encarregados de educação a terem expectativas mais baixas em relação ao seu desempenho académico e, portanto, a estarem menos envolvidos na vida escolar destas crianças. No entanto, seria extremamente importante que estes pais aumentassem o seu envolvimento no contexto escolar para motivar e incentivar os seus filhos a aprender.

De igual modo, verificaram-se correlações negativas ainda que fracas entre o número de irmãos e todas as subescalas de perceção dos alunos participantes relativamente ao envolvimento parental no contexto escolar. Estes resultados podem ser justificados pela necessidade dos pais que têm mais do que um filho terem de dividir a sua atenção pelas atividades de dois ou mais filhos, que podem também frequentar o sistema de ensino e que requerem igualmente a atenção dos pais para estas questões, o que pode levar a uma menor perceção dos participantes sobre o envolvimento parental nas suas atividades académicas.

Por fim, este estudo teve como objetivo comparar as perspetivas dos pais ou encarregados de educação e dos alunos sobre o envolvimento parental no contexto escolar. Verificaram-se diferenças significativas entre as duas perspetivas em todas as subescalas analisadas. Os alunos percecionaram um maior envolvimento parental do que o percecionado pelos seus pais. Por um lado, estes resultados podem dever-se a uma sobrevalorização dos alunos do envolvimento parental no contexto escolar. Os alunos podem percecionar um maior envolvimento parental do que aquele que realmente existe. O preconceito social dos alunos participantes também pode ajudar a explicar estes resultados. Os alunos participantes podem ter sentido a necessidade de agradar aos investigadores e/ou de proteger os pais. Os alunos são sucessivamente sensibilizados pelos professores para a importância do envolvimento dos pais em contexto educativo e, tendo-lhes sido entregue um questionário sobre esta temática, podem ter sentido a necessidade de proteger os pais, remetendo para um maior envolvimento parental do que aquele que se verifica na realidade. Por outro lado, os pais ou encarregados de educação poderão ter sido demasiado exigentes e críticos consigo próprios ao responderem ao questionário. Considerando a importância que atribuem a si próprios enquanto agentes educativos, poderão ter considerado que gostariam de estar mais envolvidos no contexto escolar.

Este estudo tem algumas limitações metodológicas, pelo que os resultados devem ser interpretados com cautela. A primeira deve-se ao facto de terem sido utilizados como informantes alunos e pais ou encarregados de educação. Para além da sua perceção do envolvimento parental no contexto escolar, estes podem estar enviesados por uma certa idealização pessoal. Esta conceção é também influenciada pela perceção que a escola tem do envolvimento parental dos participantes. Assim, seria relevante ter os professores como fontes de informação adicional, de modo a perceber como o próprio contexto escolar percepciona o envolvimento dos pais dos seus alunos nas actividades escolares. Uma segunda limitação prende-se com o facto de a amostra de famílias ser voluntária. Apenas as famílias que quiseram participar fizeram parte deste estudo, o que pode causar alguns enviesamentos, como, por exemplo, a possibilidade de as famílias participantes serem maioritariamente as famílias com maior envolvimento parental. Consequentemente, a amostra não é representativa da população, pelo que estes resultados podem levantar algumas questões em termos da sua generalização.

Apesar das limitações apontadas, esta investigação apresenta um importante contributo para o estudo do envolvimento parental em contexto escolar, apontando, no entanto, para a necessidade de mais investigação, nomeadamente estudos que incluam mais informantes, que possam ser representativos da população e que acompanhem as famílias participantes ao longo de vários ciclos de aprendizagem dos seus filhos, proporcionando uma visão mais abrangente deste fenómeno.

Por último, importa referir que os resultados apresentados e discutidos anteriormente têm implicações para a intervenção. Os resultados apontam para a necessidade de as escolas continuarem a sensibilizar as famílias, nomeadamente os pais ou encarregados de educação, para a sua importância enquanto agentes educativos no bem-estar académico das crianças e no seu sucesso escolar. Os resultados chamam a atenção para o menor envolvimento das famílias em estratégias centradas na escola. Consequentemente, é necessário que as escolas implementem estratégias educativas abertas às famílias, para que estas se sintam confortáveis e acolhidas durante a sua participação, promovendo um maior envolvimento nas estratégias centradas na escola.

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• Este trabalho foi financiado pelo EDULOG - Belmiro de Azevedo.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  10 Nov 2023
• Data do Fascículo
  2023

Histórico

• Recebido
  11 Ago 2020
• Aceito
  11 Jan 2021