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Para o artigo citado como:

Wiles, Jamille Mateus e Ferrari, Andrea GabrielaDO CUIDADO COM O BEBÊ AO CUIDADO COM O EDUCADOR. Psicologia Escolar e Educacional [online]. 2020, v. 24 [Acessado 6 Julho 2021] , e213976. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/2175-35392020213976>. Epub 30 Mar 2020. ISSN 2175-3539. https://doi.org/10.1590/2175-35392020213976.

Na versão em português, entre o último parágrafo do texto e a lista de referências bibliográficas ficam inseridos os seguintes parágrafos, cuja tradução está corretamente inserida na versão em inglês:

O acompanhamento da educadora Margarida, para além de apontar para o cuidado da experiência, contribuiu com a reflexão a respeito do cuidado de si. Nessa direção, Guimarães (2008), ao pensar sobre a dimensão do cuidado no contexto da educação infantil, retomou o trabalho de Foucault (2004) a respeito do cuidado de si como um movimento de interrogação e um trabalho sobre si mesmo, desde uma perspectiva ética. Nesse sentido, os últimos estudos de Foucault buscaram refletir a respeito das relações sujeito-verdade, sublinhando as práticas de cuidado de si do mundo antigo, trabalho de reflexão permanente sobre si mesmo e sobre as amarras do poder. Foucault (2004), em entrevista realizada pela Revista Internacional de Filosofia, aludiu à interferência das relações de poder entre as relações humanas, como as familiares, pedagógicas e políticas. As relações de poder, quando flexíveis e móveis, abrem caminho às práticas de liberdade. Quando fixas, irreversíveis e imóveis, tratam-se de estados de dominação, onde não se possibilitam práticas de liberdade. Assim, Foucault explicou que o cuidado de si se construiu, no mundo greco-romano, como a maneira através da qual a liberdade individual poderia ser pensada como ética.

Foucault (2004) ainda referiu não ser possível cuidar do outro sem antes cuidar de si; assim como não seja possível cuidar de si sem se conhecer. O apontamento de Foucault a respeito da posição particular do filósofo como aquele que cuida do cuidado dos outros nos remete, aqui, a uma das possibilidades para o trabalho do psicanalista no cuidado ofertado a educadores. Ou seja, nesse cuidado, há a possibilidade de, a partir da escuta e da circulação da palavra, permitir que o educador realize um trabalho sobre si mesmo, isto é, cuide de si. Do mesmo modo, para que o educador possa cuidar do bebê e até mesmo possa transmitir a ele a capacidade do cuidado de si, é importante que também possa realizar um trabalho sobre si mesmo. Também para Figueiredo (2012), a mutualidade nos cuidados, compreendida como o enlace entre o cuidar de si e o deixar-se cuidar pelos outros, é um dos mais importantes princípios éticos do cuidado a ser experienciado e transmitido.

Dessa maneira, Guimarães (2008), a partir de uma ideia ampliada de educação, sugeriu que o cuidado sobre si permitiria ao educador uma reflexão sobre si mesmo, possibilitando, também, uma ampliação de seu olhar sobre seu trabalho com a criança. Nesse sentido, inspirada nas ideias foucaultianas, a autora propôs um trabalho de educação e cuidado com educadores: “Educação como tensão entre quietude, tranquilidade dos saberes erigidos e movimento, questionamento permanente dos lugares seguros. Cuidado como oportunidade de conhecimento de si, transformação constante de si a partir de um deslocamento permanente dos lugares sociais pré-fixados” (p. 10).

Na mesma direção, Marin (2015) destacou como posicionamento ético daquele que cuida uma abertura ao desconhecido: “Ou seja,... o encontro com a parte estrangeira de si próprio, o infantil, o desamparo, a hostilidade, as paixões recalcadas” (p.10). Rubin e Besset (2007) colocaram como possibilidade de dar um tratamento possível ao real que se impõe de forma peculiar na atualidade no campo da educação, a oferta de espaços de fala, as quais possibilitem aos educadores estabelecerem trocas com outros profissionais. Com a oferta de um espaço de circulação da palavra, há a possibilidade de construção de um significado para suas experiências, inquietações e desejos.

Para Almeida (2009), em uma proposta de formação orientada por uma atitude clínica, o profissional psicanalista se implica em fazer falar o outro e se propõe a escutar com delicadeza essa fala, com o intuito de gerar uma reflexão sobre as dimensões subjetivas, psicossociais, institucionais e relacionais implicadas nas práticas educativas: “O enquadre clínico... propicia a (re)construção, em contexto, da identidade profissional do professor e a ressignificação de suas práticas… uma nova relação com o saber e com a alteridade e a criação de um estilo próprio, singular...” (s.p.).

Importante destacar que o acompanhamento de educadores e bebês com a Metodologia IRDI, a partir da inserção direta em seu cotidiano, ou seja, a partir do estar junto a esses sujeitos, constituiu-se como uma importante possibilidade de cuidado e de reflexão, contribuindo de modo elementar nas especificidades de intervenção e cuidado para o contexto do berçário. Nesse sentido, tendo em vista que o educador faça uma função subjetivante para o bebê - o que, diferentemente de outros contextos educativos, implica na construção de um laço singular e de uma relação corporal mais próxima - adquire grande importância a presença de um terceiro, na proposta desse trabalho, o psicanalista. Na posição de “terceiro testemunha” (Benavides & Boukobza, 1997, p. 101), o psicanalista poderá ofertar palavras que ajudem a dar conta da experiência carnal do educador com o bebê, retirando-os de uma relação estritamente ‘corpo a corpo’ e favorecendo ainda que o educador permita-se buscar uma aproximação afetiva e próxima com o corpo do bebê, acolhendo as buscas da criança ao seu corpo. Dessa maneira, abre-se também espaço para que educador coloque em palavras seus sentimentos, impasses e desejos em relação ao bebê de quem cuida e em relação ao seu trabalho. Com a ajuda de alguém que está junto e que oferece, para além de sua companhia, o seu olhar, as suas palavras e a sua escuta, é possível construir novas formas de olhar para o bebê/trabalho e sua singularidade.

Esses modos de compreender a posição do cuidador contribuem para a reflexão a respeito da função dos profissionais que se ocupam do cuidado, como os educadores de bebês. Mas, além disso, tais reflexões permitiram pensar ainda na posição do psicanalista como pesquisador e profissional diante de sua pesquisa, de sua intervenção e de sua escrita. Nesse sentido, o psicanalista pode cuidar de sua formação a partir de sua análise, supervisão e estudo teórico (Freud, 1919/1996) de modo a sustentar assim o cuidado que irá prestar ao paciente ou demais sujeitos com quem intervirá, mesmo para além do âmbito clínico. Sendo assim, levantamos o questionamento a respeito da importância da reflexão sobre onde está e onde se podem criar, nas instituições, intervenções e políticas de educação, a retaguarda de cuidado para o profissional que cuida de pequenas crianças, assim como dos educadores em geral. Importante também destacar que, ainda que a experiência desse escrito tenha refletido a respeito de uma possibilidade de cuidado dirigido ao educador a partir do estar junto ao profissional, em seu ambiente de trabalho, por outro lado, também aposta no sublinhar a importância da reflexão a respeito do cuidado no campo da educação e com profissionais da educação, não somente no contexto de berçário ou da educação infantil. Sendo assim, é fundamental que possam ser criados espaços de cuidado para o educador, seja através do acompanhamento ‘em serviço’, como o aqui apresentado, seja desde outras possibilidades de intervenção, como rodas de conversa, formações com uma concepção ampliada - que contemple os saberes dos profissionais -, reflexões sobre os impasses do trabalho a partir da arte (como a literatura ou a escrita), assim como outras possibilidades a serem construídas. Assim, do mesmo modo como consideramos a constituição de uma criança dando-se em um processo inacabado onde o cuidado do outro é fundamental (Bernardino, 2004), apostamos no sujeito educador também em um tempo inacabado. Ou seja, o educador se constitui como educador no processo, no percurso, tendo a possibilidade de se implicar em uma constante construção como profissional e ainda abrir-se a mudanças em seu olhar, fazer e dizer, os quais poderão advir e serem sustentados a partir de dispositivos de cuidado.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Jul 2021
  • Data do Fascículo
    2021
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