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EDITORIAL

Maria Lúcia Boarini

O encerramento deste número de Psicologia em Estudo acontece em pleno clima de Copa do Mundo. A seleção brasileira está classificada para a semifinal e finais. À parte a angústia, a expectativa, a alegria ou tristeza que todo resultado provoca, há um outro aspecto muito pouco (ou quase nada) explorado, e é para este ponto que convido o leitor a voltar sua atenção. Estou me referindo à capacidade da sociedade em se organizar para atingir tal ou qual objetivo. Para exemplificar, vamos fazer um recorte sobre o que ocorre nos estados do Sudeste Brasileiro, nos dias em que a seleção brasileira deve se apresentar. Nessas datas e horários o comércio quase (para não ser categórica) pára, as escolas adiam suas aulas, as ruas se esvaziam, enfim são evidentes as ilustrações e é desnecessário continuar buscando-as. O silêncio na hora do jogo só é interrompido quando a bola atravessa a barreira posta pelo goleiro e faceiramente adentra o espaço que configura o gol. Quer seja a favor quer contra, este momento reúne milhares de vozes e tantas outras manifestações, cuja cor e tom dependerão do caráter do gol, se marca a vitória ou a derrota. Sem duvida, este é um fenômeno importante, à medida que demonstra a necessária e salutar capacidade de organização da sociedade. Se temos um objetivo em comum, se nele acreditamos, já temos garantida a convergência dos olhares, a disponibilidade de energia, a marcha em direção à meta comum. Interessante observar que tal organização ocorre “silenciosamente”. Com isto estamos querendo dizer que naquelas datas e horários literalmente todos olham na mesma direção. A realização da Copa do Mundo revela isto com clareza. Mas enquanto este megaevento internacional acontece com grande destaque na mídia, outra notícia nos chama a atenção. Estamos nos referindo à reunião, em Roma, na Itália, no período de 10 a 14 de junho próximo passado, de líderes e representantes de mais de 180 países, que constituem a Cúpula Mundial de Alimentação. Este Encontro foi convocado pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) tendo em vista a existência de “ao menos 800 milhões de pessoas – mais de 1 em cada 7 – (que) passam fome ou não podem se alimentar devidamente1 1 Farah, P.D. - Mundo fracassa contra a fome - Apesar da produção abundante de alimentos, 1 em cada 7 pessoas não tem o que comer". Em: Folha de S.Paulo. Caderno Mundo. 09/06/2002, p. A-23. .” A reunião encerrou-se marcada por “divergências e falta de medidas concretas para garantir direito a alimentação de qualidade2 2 Farah, P.D. - Decepção marca fim da cúpula contra a fome - ". Em: Folha de S.Paulo. Caderno Mundo. 14/06/2002, p. A-11. .” Tal assunto ocupou espaços secundários na mídia e, talvez, nenhum espaço no imaginário da população em geral. A partir daí uma grande interrogação vai-se delineando: Por que a fome mundial não mobiliza tanta atenção? O que justifica tal disparate de interesse? Sem a pretensão de fazer incursões profundas neste assunto - até porque este não é o espaço apropriado para tanto - queremos, com este comentário, destacar a capacidade da sociedade em se organizar e determinar seu comportamento quando isto é do seu interesse. A realização da Copa Mundial de Futebol nos dá sinais claros desta possibilidade. Com esta certeza, seguimos trazendo a público mais um número de Psicologia em Estudo. Continuamos com a nossa opção pela pluralidade temática, que se por um lado dificulta a especialização, por outro promove e divulga a tão necessária diversidade do conhecimento da Psicologia e áreas afins. Mantemos, também, o nosso propósito de oferecer mais uma opção de publicação à comunidade científica, que demanda, exige e valoriza um periódico desta natureza. Entendemos que esta também é uma forma de organização social que, se, obviamente, nem de longe tem o poder catalisador de uma Copa do Mundo, não deixa de ter sua importância na construção do saber. Com esta determinação, Psicologia em Estudo, através de suas publicações, tem possibilitado ao caro leitor uma rica e consistente aprendizagem. A instituição de um rigoroso processo de arbitragem legitima esta certeza. A leitura deste e dos números anteriores pode validar esta afirmação.

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    Farah, P.D. - Mundo fracassa contra a fome - Apesar da produção abundante de alimentos, 1 em cada 7 pessoas não tem o que comer". Em: Folha de S.Paulo. Caderno Mundo. 09/06/2002, p. A-23.
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    Farah, P.D. - Decepção marca fim da cúpula contra a fome - ". Em: Folha de S.Paulo. Caderno Mundo. 14/06/2002, p. A-11.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      13 Dez 2004
    • Data do Fascículo
      Jun 2002
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