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EDITORIAL

O presente número traz o relato de pesquisas em psicologia que evidenciam as preocupações atuais dos investigadores com a inserção social, familiar e cultural das pessoas e grupos sociais.

A construção social e histórica dos significados pode ser considerada um fio condutor que atravessa grande parte dos estudos de psicólogos brasileiros e espanhóis. A força do contexto e a ênfase na compreensão dos princípios da promoção da saúde são enfatizados frente à tendência de investigações que privilegiaram os prejuízos e, no passado, buscaram compreender os processos de adoecimento.

A busca de compreensão dos eventos que contempla a inserção familiar e social dos indivíduos e grupos pode colaborar para a elaboração de práticas que visam propiciar a promoção do bem-estar e da saúde. É uma tendência atual e que se reflete nos estudos relatados neste número. Incluem-se nesta perspectiva preocupações com a desconstrução de preconceitos e/ou a consideração destes pré-conceitos na interferência sobre o bem-estar de pessoas e populações.

Acreditamos que isso denota uma tendência a deixarmos de “... manter invisíveis alguns princípios de organização que fazem parte de nossas vidas, incluindo, cultura, classe, raça, gênero e orientação sexual” (McGoldrick, 2003), e, como acrescenta a autora, estamos começando a “incorporar estas dimensões ocultas” em nossos estudos. Para isso, a história dos significados está também contemplada nas análises dos eventos e da co-construção das identidades-em-contexto.

Essa tendência, que pode ser verificada nos mais diferentes estudos do campo deve, a nosso ver, render méritos a Foucault, que - direta ou indiretamente - faz-nos refletir sobre as conseqüências sociais e culturais de nossos estudos e pesquisas, alertando-nos para o caráter necessariamente político-cultural de nossas atividades científicas. Isso porque, após tais conhecimentos, não podemos deixar de refletir sobre a responsabilidade de nossos estudos e possíveis implicações sociais e políticas dos achados, uma vez que desvela a natureza necessariamente significativa e não-ingênua e, muitas vezes, descontextualizada de nossas interpretações.

Considerando tais aspectos, a revista Psicologia em Estudo considera continuamente a importância da divulgação de estudos de interesse para a área e cuida para diversificar a participação mais ampla possível, tanto de pesquisadores quanto de consultores especialistas em suas respectivas áreas de atuação, que represente, da melhor maneira possível, os pensamentos e saberes contemporâneos.

É com grande satisfação que constatamos a presteza e interesse de cientistas reconhecidos que sempre fornecem suas colaborações, com dedicação, critério e reflexão, visando aprimorar os relatos de trabalhos relevantes para a área e incentivar a divulgação de novas pesquisas, que poderão contribuir com estudos futuros.

Lembramos as palavras de Waldegrave (2003) ao defender a necessidade de uma “terapia justa”:

Atualmente, a colonização não é realizada por meio do cano de um revólver, mas por meio das palavras confortadoras daqueles que mudam corações, as mentes e os espíritos das pessoas. Os terapeutas e os professores têm responsabilidade nisso. Os psicólogos, especialmente aqueles da prática clínica, precisam estar conscientes da importância da sua influência.

Nós das ciências sociais deveríamos saber isso. Somos ensinados que o sentimento de inclusão e a identidade são a essência da saúde e do potencial humano. Tem sido conveniente para nós negarmos isso, mas os resultados desta negação têm sido trágicos. (p. 471-472).

Ou

Na verdade, psicólogos e outros profissionais de ajuda têm atualmente uma oportunidade única de reconhecer outras maneiras de descrever os eventos – uma maneira que conduzirá a práticas criativas que permitirão que os recursos de saúde e do bem estar chegam até aqueles que mais necessitam deles, em seus próprios termos. Isso também permitirá que os profissionais de outras culturas desenvolvam novos paradigmas e novas viradas no nosso campo. Isso não conduzirá ao abandono da ciência social, mas permitirá que o corpo do conhecimento se assente adequadamente ao longo de outros reinos do conhecimento, como conhecimento de gênero e o conhecimento cultural, sem dominação (p. 472).

Seguindo a tradição editorial da revista, acreditamos que a equipe atual prima pelo empenho em colaborar para dar visibilidade aos estudos de diferentes regiões do país e do exterior, adotando uma linha editorial que se preocupa com a qualidade e com sua responsabilidade na co-construção dos sentidos e significados, buscando uma constante reflexão crítica sobre os efeitos destes na área e suas implicações sociais.

REFERÊNCIAS

Waldegrave, C. (2003). Os desafios da cultura à Psicologia e o pensamento pós-moderno. Em M. McGoldrick (Org.), Novas Abordagens da Teoria Familiar; raça, cultura e gênero na prática clínica (pp. 471-472). (Magda Lopes, Trad.). São Paulo: Roca.

McGoldrick, M. (2003). Novas Abordagens da Teoria Familiar; raça, cultura e gênero na prática clínica. (Magda Lopes, Trad.). São Paulo: Roca.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Jul 2007
  • Data do Fascículo
    Abr 2007
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