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Envolvimento paterno da gestação ao primeiro ano de vida do bebê

Participación paterna desde el embarazo hasta el primer año de vida del bebé

Father involvement from pregnancy to the infant´s first year of life

Resumos

Este estudo longitudinal analisou o envolvimento paterno por meio de um estudo de casos coletivos com seis casais primíparos entrevistados na gestação, aos três e 12 meses do bebê. A análise qualitativa dos dados se baseou no conceito de envolvimento paterno e no enfoque psicodinâmico, revelando serem os modelos familiares de parentalidade aspectos muito influentes no envolvimento dos pais. Por outro lado, a ausência de uma matriz de apoio e as percepções das mães sobre o desempenho do marido como pai não pareceram influenciar diretamente o nível de envolvimento com o bebê. Percebeu-se que os pais continuavam seguindo modelos tradicionais de paternidade quanto à acessibilidade e à responsabilidade, centrando-se no papel de provedor financeiro. O engajamento dos pais foi maior em atividades lúdicas do que nos cuidados do filho, pois para cuidados parecia lhes faltarem modelos efetivos. São discutidas as influências intergeracionais e do discurso sobre o "novo pai" na prática da paternidade.

Envolvimento; paternidade; relações pais-criança


Este estudio longitudinal analizó la participación paterna por medio de un estudio de casos colectivos con seis parejas primíparas entrevistadas en la gestación, a los tres y a los 12 meses de vida del bebé. El análisis cualitativo de los datos se basó en el concepto de participación paterna y en el enfoque psicodinámico, revelando los modelos familiares de parentalidad como aspectos muy influyentes en la participación de los padres. Por otro lado, la ausencia de una matriz de apoyo, así como las percepciones de las madres sobre el desempeño del esposo como padre, no parecieron influir directamente en el nivel de participación con el bebé. Se observó que los padres aún estaban siguiendo los modelos tradicionales de la paternidad en cuanto a la accesibilidad y responsabilidad, centrándose en el papel de proveedor financiero. El compromiso de los padres fue mayor en las actividades lúdicas que en los cuidados al hijo, por los que parecía carecer de modelos efectivos. Se discuten las influencias intergeneracionales y del discurso sobre el "nuevo padre" en la práctica de la paternidad.

Participación; paternidad; relaciones padres-niño


This longitudinal study examined the parental involvement through a collective case study with six primiparous couples interviewed in the last trimester of pregnancy, at three and 12 months of baby's life. A qualitative analysis of the data, based on father involvement as well as in psychodynamic approach, revealed the familiar models of parenting had important influences in the father involvement. On the other hand, the absence of a support matrix, as well as the perceptions of mothers on the performance of their husbands as fathers, did not seem to directly influence the level of father involvement with the baby. It seems that the parents were still following traditional models of fatherhood in relation to accessibility and accountability, focusing on their role as financial provider. The involvement of parents was higher in recreational activities than in child care for which it seemed lacking effective models. We discuss intergenerational and discourse influences on the "new father" in the practice of fatherhood.

Involvement; fatherhood; parent-child relations


ARTIGO

Envolvimento paterno da gestação ao primeiro ano de vida do bebê1 Endereço para correspondência: Luciana Castoldi Rua Irmão José Otão, 170, ap. 906 Bairro Independência, Porto Alegre-RS CEP 90.035-060 E-mail: lucianacastoldi@uol.com.br

Father involvement from pregnancy to the infant´s first year of life

Participación paterna desde el embarazo hasta el primer año de vida del bebé

Luciana CastoldiI; Tonantzin Ribeiro GonçalvesII; Rita de Cássia Sobreira LopesIII

IDoutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, professora adjunta do curso de Psicologia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), Brasil

IIDoutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil

IIIDoutora pela University College of London, pesquisadora do CNPq e professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Luciana Castoldi Rua Irmão José Otão, 170, ap. 906 Bairro Independência, Porto Alegre-RS CEP 90.035-060 E-mail: lucianacastoldi@uol.com.br

RESUMO

Este estudo longitudinal analisou o envolvimento paterno por meio de um estudo de casos coletivos com seis casais primíparos entrevistados na gestação, aos três e 12 meses do bebê. A análise qualitativa dos dados se baseou no conceito de envolvimento paterno e no enfoque psicodinâmico, revelando serem os modelos familiares de parentalidade aspectos muito influentes no envolvimento dos pais. Por outro lado, a ausência de uma matriz de apoio e as percepções das mães sobre o desempenho do marido como pai não pareceram influenciar diretamente o nível de envolvimento com o bebê. Percebeu-se que os pais continuavam seguindo modelos tradicionais de paternidade quanto à acessibilidade e à responsabilidade, centrando-se no papel de provedor financeiro. O engajamento dos pais foi maior em atividades lúdicas do que nos cuidados do filho, pois para cuidados parecia lhes faltarem modelos efetivos. São discutidas as influências intergeracionais e do discurso sobre o "novo pai" na prática da paternidade.

Palavras-chave: Envolvimento; paternidade; relações pais-criança.

ABSTRACT

This longitudinal study examined the parental involvement through a collective case study with six primiparous couples interviewed in the last trimester of pregnancy, at three and 12 months of baby's life. A qualitative analysis of the data, based on father involvement as well as in psychodynamic approach, revealed the familiar models of parenting had important influences in the father involvement. On the other hand, the absence of a support matrix, as well as the perceptions of mothers on the performance of their husbands as fathers, did not seem to directly influence the level of father involvement with the baby. It seems that the parents were still following traditional models of fatherhood in relation to accessibility and accountability, focusing on their role as financial provider. The involvement of parents was higher in recreational activities than in child care for which it seemed lacking effective models. We discuss intergenerational and discourse influences on the "new father" in the practice of fatherhood.

Keywords: Involvement; fatherhood; parent-child relations.

RESUMEN

Este estudio longitudinal analizó la participación paterna por medio de un estudio de casos colectivos con seis parejas primíparas entrevistadas en la gestación, a los tres y a los 12 meses de vida del bebé. El análisis cualitativo de los datos se basó en el concepto de participación paterna y en el enfoque psicodinámico, revelando los modelos familiares de parentalidad como aspectos muy influyentes en la participación de los padres. Por otro lado, la ausencia de una matriz de apoyo, así como las percepciones de las madres sobre el desempeño del esposo como padre, no parecieron influir directamente en el nivel de participación con el bebé. Se observó que los padres aún estaban siguiendo los modelos tradicionales de la paternidad en cuanto a la accesibilidad y responsabilidad, centrándose en el papel de proveedor financiero. El compromiso de los padres fue mayor en las actividades lúdicas que en los cuidados al hijo, por los que parecía carecer de modelos efectivos. Se discuten las influencias intergeneracionales y del discurso sobre el "nuevo padre" en la práctica de la paternidad.

Palabras-clave: Participación; paternidad; relaciones padres-niño.

A paternidade tem recebido destaque na literatura nas últimas décadas, especialmente no que tange às mudanças na família contemporânea, nas funções e nos papéis de homens e mulheres na sociedade (Souza & Benetti, 2009). À medida que as mulheres começaram a trabalhar fora de casa também se reconheceu a importância do pai para o desenvolvimento socioemocional e cognitivo da criança. Cada vez mais, o homem tem sido chamado ao âmbito privado/doméstico, destacando-se o discurso atual sobre os "novos" pais, que são mais afetuosos e participam diretamente da criação dos filhos, não apenas como provedores financeiros (Hennigen, & Guareschi, 2002; Souza & Benetti, 2009).

Nesse contexto, um conceito que tem sido bastante utilizado para dar conta dessas mudanças é o de envolvimento paterno (Lamb, 1997; Parke, 1996; Pleck, 1996; Piccinini, Silva, Gonçalves, Lopes & Tudge, 2004). Lamb, Pleck, Charnov e Levine (1985) definem o envolvimento paterno a partir de três dimensões do comportamento paterno: acessibilidade, engajamento e responsabilidade. A acessibilidade refere-se à presença e disponibilidade do pai para a criança. O engajamento se relaciona com as interações diretas entre pai e filhos (brincadeiras, atividades de cuidado e lazer). Por fim, a responsabilidade é entendida como a garantia de cuidados específicos (ex., médico, escola) e recursos para o filho.

Além do caráter quantitativo e unidirecional que o envolvimento paterno pode assumir (ex., número de horas ou atividades realizadas com a criança), o qual aponta, sistematicamente, efeitos positivos no desenvolvimento infantil (Sarkadi, Kristiansson, Oberklaid & Bremberg, 2008), este também abarca dimensões de qualidade e conteúdo do envolvimento. Como argumenta Parke (1996), o envolvimento paterno muda em função do desenvolvimento da criança e dos próprios pais, sofrendo influência da diversidade da experiência de paternidade em relação ao contexto sociocultural e qualidade da relação conjugal. Assim, aspectos como os modelos e padrões de relacionamento intergeracionais, percepções do pai sobre seu papel e o da mãe quanto ao companheiro como pai, além da disponibilidade de uma matriz de apoio, têm sido associados ao envolvimento paterno. Devido à relevância para o estudo, esses quatro pontos serão brevemente revisados a seguir.

Alguns teóricos e clínicos de abordagens sistêmicas e psicanalíticas salientam o processo de transmissão intergeracional da cultura familiar, levando em conta padrões de relacionamento, costumes, segredos e mitos (Lebovici, 1987; Stern, 1997). Nessa perspectiva, tornar-se pai/mãe envolve um complexo trabalho subjetivo, consciente e inconsciente, de elaborar as heranças recebidas dos próprios pais e de transmitir as suas aos filhos (Lebovici, 1987). As experiências concretas com o filho, inclusive de interação com ele, estão embebidas nas histórias e nos padrões familiares, seja para nega-las, seja para confronta-las, seja ainda para confirma-las.

Sobre isso, estudos qualitativos mostram dificuldades dos pais em modificar padrões familiares de distância afetiva na vivência com os filhos (Bouchard, 2012; Cannon, Schoppe-Sullivan, Mangelsdorf, Brown & Sokolowski, 2008). Em particular, um estudo que entrevistou 26 pais norte-americanos encontrou que aqueles mais envolvidos com os filhos mais frequentemente citavam homens de seu grupo de pares como modelos de paternidade do que os próprios pais, enquanto os menos envolvidos tendiam a mencioná-los (Masciadrelli, Pleck & Stueve, 2006). Em todo caso, a dita repetição transgeracional encerra um caráter criativo, uma vez que as características de cada indivíduo, grupo familiar e contexto social podem acrescentar nuanças singulares às relações entre o pai e o bebê.

A partir da ótica do gênero, pesquisas indicam as tensões enfrentadas pelos pais diante das heranças da família tradicional e as novas vozes da masculinidade em meio à manutenção de grandes jornadas de trabalho e ao questionamento de sua competência para lidar com bebês (Coltart & Henwood, 2012; Freitas, Coelho & Silva, 2007; Miller, 2011). Apesar do discurso social sobre o novo pai e dos entraves cotidianos para a maior participação paterna no dia a dia dos filhos, evidências nacionais e internacionais sugerem mudanças positivas e um grande desejo de se envolver mais desde a gestação e na primeira infância (Lamb, 1997; Miller, 2010; Piccinini, et al., 2004; Piccinini, Silva, Gonçalves, Lopes & Tudge, 2012).

No que tange às percepções do pai sobre o bebê e sobre ele mesmo como pai, entende-se que estas têm importante papel na determinação do envolvimento do pai, uma vez que implicam na conjugação de aspectos tanto reais quanto imaginados, de si próprio e do filho (Stern, 1997). Segundo Stern, (1997), esse mundo representacional do pai, caracterizado pelas interações pai-bebê, sua fantasias, medos, experiências infantis e modelos parentais, vai sendo organizado desde a gravidez e se reflete em suas atitudes e comportamentos ao longo dos primeiros meses do filho. Ao mesmo tempo, o pai tem a importante função de dar apoio à díade mãe-bebê, o que, possivelmente, reativa uma rede específica de representações do pai sobre sua história pessoal e familiar.

As percepções da mulher sobre o papel paterno também podem ter grande peso na relação pai-bebê. Em paralelo com as mudanças nos esquemas mentais sobre si mesma enquanto mulher, esposa, mãe, profissional, amiga, com a maternidade mudam também os esquemas sobre o companheiro enquanto marido, homem e pai (Stern, 1997). Por mais que reconheça a importância da participação do pai e embora necessite da sua ajuda, nem sempre a mãe consegue permitir, facilitar ou estimular o envolvimento do pai com o bebê. Isto implica em um realinhamento do poder materno e em uma divisão mais coesa dos papéis domésticos, o que nem sempre é fácil. Algumas mães podem assumir a posição de "guardiãs do portão", mantendo uma relação privilegiada com o filho e dificultando que o pai adquira novas habilidades na interação com o bebê e participe de sua rotina (Jablonski, 1999).

Nesse sentido, um estudo qualitativo brasileiro evidenciou que quando sentiam pouco estímulo por parte das esposas ou desaprovação das suas condutas com o bebê os pais tendiam a retrair-se e manter uma relação pai-bebê mais tradicional (Krob, Silva & Piccinini, 2009). Ao contrário, quando valorizados e aprovados, os pais tendiam a se envolver mais com o bebê e superar suas inseguranças e medos quanto aos seus cuidados. Corroborando esses dados, um estudo com 110 casais portugueses com filhos de idades entre três e seis anos apontou que o melhor preditor da participação paterna na rotina familiar foi o nível de envolvimento desejado pelas mães (Monteiro et al., 2010). Ainda, estudos longitudinais têm encontrado associações recíprocas entre as percepções maternas e paternas sobre o papel do pai e o envolvimento paterno (Cannon et al., 2008). Isso significa, por exemplo, que percepções paternas de competência na interação com o bebê influenciam percepções da mãe de maior envolvimento do pai, o que eleva a sensação de autoeficácia paterna e vice-versa.

Por fim, é preciso pontuar as repercussões da rede ou matriz de apoio para o casal durante a gestação e primeiros anos da criança no envolvimento paterno, e examinar o papel do pai como figura de apoio à mãe. Stern (1997) alerta que as famílias contemporâneas contam cada vez menos com o apoio de figuras femininas (avós, por exemplo) nesse momento de transição, mesmo quanto aos cuidados do bebê, ao passo que os pais estariam tendo que assumir esse papel sem terem, eles mesmos, qualquer apoio. De fato, a literatura atual sublinha a importância do apoio do pai para a mulher e para o filho, sem dar tanta atenção às necessidades específicas dos homens (Souza & Benneti, 2009).

Neste contexto, o presente estudo objetivou investigar o envolvimento paterno ao longo do primeiro ano de vida do primeiro filho a partir do enfoque psicodinâmico das relações pais-bebê (Stern, 1997). Em particular, buscou-se abordar as inter-relações do envolvimento paterno com aspectos como os modelos intergeracionais de parentalidade, as percepções do pai sobre o seu próprio papel, as percepções da mãe sobre o companheiro enquanto pai, a influência da matriz de apoio e das impressões paternas quanto ao desenvolvimento do bebê.

MÉTODO

Participantes

Participaram do estudo seis casais adultos que moravam juntos e estavam esperando seu primeiro filho. As entrevistas foram realizadas quando as mães estavam no terceiro trimestre de gravidez e após os três e doze meses dos bebês. Os casais eram de níveis socioeconômicos variados e residiam na região metropolitana de Porto Alegre, sendo que as mães deveriam apresentar boas condições de saúde na gestação. O quadro 1 apresenta algumas características das famílias e as denominações usadas no estudo para identificá-los.


Esses casais foram selecionados dentre os participantes do Estudo Longitudinal de Porto Alegre: da Gestação à Escola. Este projeto acompanhou aproximadamente 80 famílias, nas quais as gestantes eram primíparas, representando várias configurações familiares, diferentes idades e níveis de escolaridades e socioeconômicos. O contato para participar da pesquisa era feito com as gestantes em hospitais públicos e privados, em postos de saúde e ainda por indicação. Para o presente estudo foram selecionadas as primeiras seis famílias acompanhadas pela primeira autora, as quais participaram de todas as etapas de coleta de dados até o primeiro ano do bebê. Todos os participantes foram informados a respeito dos objetivos e procedimentos do estudo e puderam decidir livremente sobre sua participação. O projeto maior, do qual essa pesquisa faz parte, teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (nº 98293 e nº 2006596) e também dos locais de recrutamento.

DELINEAMENTO E PROCEDIMENTOS

A pesquisa consiste em um estudo de caso coletivo (Stake, 1994), de caráter longitudinal e exploratório, que objetivou investigar o envolvimento paterno desde a gestação até o primeiro ano do bebê na perspectiva da transição para a paternidade. Os casais foram recrutados durante a gravidez das mães e aquelas que manifestaram interesse em participar preencheram uma ficha de contato inicial para verificar os critérios de inclusão no projeto. No último trimestre de gestação era marcado um encontro na casa do casal, quando assinavam o Termo de Consentimento Informado e respondiam à entrevista, a qual continha questões sobre dados demográficos como idade, escolaridade e ocupação. Nessa ocasião, o casal respondia à entrevista sobre a gestação e as expectativas da gestante e à entrevista sobre a gestação e as expectativas do pai. Essas entrevistas eram realizadas individualmente, mas de modo simultâneo, por uma dupla de entrevistadoras (a primeira autora e uma entrevistadora treinada).

Após o terceiro mês do bebê, o casal foi novamente contatado e respondeu, individualmente, a uma entrevista sobre a experiência da maternidade e o desenvolvimento do bebê e a uma entrevista sobre a experiência da paternidade e o desenvolvimento do bebê. Em seguida, foi realizada a entrevista com o casal sobre a experiência da parentalidade. Quando o bebê completava o primeiro ano de vida era realizado novamente o mesmo roteiro de entrevistas da etapa anterior (com a mãe, com o pai e com o casal), com pequenas adaptações relativas à etapa de desenvolvimento do bebê e do momento familiar.

Todas as entrevistas eram estruturadas e conduzidas de forma semidirigida, durando cada uma cerca de uma hora. Buscava-se investigar, de modo aprofundado, a experiência da parentalidade, as percepções sobre o filho/a e sobre o companheiro/a como pai/mãe, sentimentos e dificuldades como pais, o dia a dia, as brincadeiras e as tarefas que assumiam com o bebê. As entrevistas foram gravadas e depois transcritas.

Os relatos dos pais e mães nas entrevistas foram submetidos à análise de conteúdo qualitativa (Bardin, 1977), sendo construídas categorias temáticas a partir da leitura exaustiva do material transcrito, tanto no sentido horizontal (caso a caso) quanto no transversal (casos em cada etapa), e com base no enfoque teórico que orientou o estudo (Lamb, 1997; Parke, 1996; Stern, 1997). Primeiramente, os casos serão descritos quanto às características gerais e quanto às três dimensões do envolvimento paterno (Lamb, 1997): acessibilidade, responsabilidade e engajamento; a seguir, os casos serão apresentados e discutidos, de modo conjunto, conforme os seguintes temas: Percepções do pai sobre seu envolvimento e sobre o bebê; Percepções da mãe sobre o envolvimento do companheiro com o bebê; Matriz de apoio e o envolvimento paterno; e Modelos de paternidade do casal. Optou-se por descrever e discutir os resultados em uma narrativa conjunta dos casos, enfatizando-se os eixos temáticos que orientaram as análises e destacando-se semelhanças e particularidades entre as famílias. Vinhetas dos relatos dos pais e mães ilustram as categorias, e uma descrição pormenorizada dos casos, com mais exemplos de verbalizações, está disponível on-line (Castoldi, 2002).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização geral das famílias e dimensões do envolvimento paterno

Como se viu no quadro 1, as famílias eram compostas por adultos jovens com perfil social predominante de classe média ou classe média baixa. Apenas um dos casais possuía escolaridade menor que o Ensino Médio e nesse casal a esposa não trabalhava fora (C2). A média de convivência dos casais era de quase quatro anos, variando o tempo de união de três meses até oito anos. Todas as gestações foram planejadas.

O quadro 2 sintetiza alguns dos achados do estudo quanto aos arranjos familiares de origem, matrizes de apoio, os modelos de paternidade do casal e o engajamento paterno. Cinco casos tinham arranjo de famílias de origem nucleares, com exceção de um casal proveniente de famílias reconstituídas. É interessante notar que as posições dos pais e mães em suas famílias de origem eram bastante similares entre todos os casais, com exceção de Adair e Ana (C3), que ocupavam, respectivamente, a 1ª e a 2ª posições como filhos. Quanto à configuração da matriz de apoio, todos os casais tinham seus genitores vivos no momento da gestação, sendo que Elias (C4) perdeu o pai ao longo do primeiro ano do filho. Três famílias (C1, C2 e C4) contavam com familiares que moravam perto e eram relativamente disponíveis, e em dois casos (C5 e C6) apenas as famílias extensas maternas moravam longe, por isso prestaram ajuda apenas no primeiro mês dos bebês. O casal Adair e Ana (C3) era o único que não tinha nenhum familiar morando na mesma cidade. Por outro lado, a avó materna, que residia em outro estado, mudara-se para a casa do casal durante o primeiro ano do bebê para tratamento de um câncer. Para cada família foi criada uma metáfora que buscou ilustrar a característica central do caso quanto ao envolvimento paterno, como será detalhado a seguir.


No tocante à dimensão da acessibilidade do envolvimento paterno, a análise conjunta dos relatos paternos e maternos não revelou muitas mudanças ao longo do primeiro ano. Todos os pais mantiveram extensas jornadas de trabalho, ficando mais disponíveis para os filhos somente à noite e nos finais de semana. Com exceção de um pai (C1), cuja carga horária era menor que a da esposa, todos os demais reclamavam do pouco tempo com os filhos: "Eu fico pouco tempo com ela [filha].... Eu quero ser o melhor pai possível, no momento que eu tô perto, que é poucos momentos ou fim de semana" (Marcos-C6, três meses). Outros estudos mostraram achados semelhantes, particularmente entre pais primíparos que, por vezes, elevam a carga de trabalho em função do aumento das preocupações com o sustento família (Astone, Dariotis, Sonenstein Pleck, & Hynes, 2010; Miller, 2010; Piccinini et al., 2012).

De modo similar, quanto à responsabilidade paterna, em todos os casos, também prevaleceu uma divisão tradicional dos papéis ao longo do primeiro ano do bebê, competindo à mãe a responsabilidade pelos cuidados diários, saúde e educação do filho, organização da casa e orientação de cuidadores substitutos, quando era o caso. Nem sempre as mães estavam satisfeitas ao assumir sozinhas essas responsabilidades: "Banho, alimentação, levar no pediatra, na pediatra, que geralmente é eu que marco, eu que vou e geralmente vou sozinha. ... eu não gosto muito assim, não de assumir, mas eu gostaria que ele [marido] tivesse mais presente" (Karynne-C5, 12 meses). Já os pais assumiam maior responsabilidade pela manutenção da casa, sendo o sentimento de provedor da família verbalizado inclusive nos casos em que a mãe contribuía com a renda maior (C1 e C3): "Preocupação com a situação financeira ... sustentar, até não digo sustentar de alimento, mas em todas as necessidades que ele tiver, poder dar o melhor" (Elias-C4, Gestação).

No que se refere ao engajamento foram constatados movimentos bastante diversos de um caso para o outro e dentro do mesmo caso, ao longo do tempo. Como mostra o quadro 2, uma leitura longitudinal dos casos permitiu identificar diferentes trajetórias de engajamento dos pais com os filhos, além de revelar que nem sempre existia coesão entre as percepções dos pais e das mães acerca disso, o que já foi reportado (Prado, Piovanotti & Vieira, 2007).

Valter (C1), o Papai motorista, costumava levar e buscar a esposa nos cinco locais de trabalho, e também a filha na creche. Nesse caso, em que ambos provinham de famílias reconstituídas, houve referência a modelos inadequados de paternidade dos dois lados e não havia grandes expectativas quanto à matriz de apoio, sendo que o pai conseguiu mostrar-se acessível e engajado, desde a gravidez da esposa até o terceiro mês da filha. Como a avó materna revelou-se competente e disponível para auxiliar, parece que o pai foi se "liberando" das atividades de cuidado, só se dedicando a elas quando não houvesse ninguém mais para fazê-las. Assim, constatou-se um processo de engajamento decrescente, pois o pai tornou-se, progressivamente, menos presente e atuante na interação com a filha. O relato da mãe confirmou essa tendência, exceto pela sua expectativa muito elevada durante a gravidez.

Nos Casos 3 e 6 verificou-se um movimento contrário, em que os pais foram se tornando progressivamente mais engajados com os filhos (engajamento crescente). A metáfora Treinando o papai caracterizou Adair (C3), por expressar o sentido salientado pela mãe ao referir-se à maneira como ela estimulou o marido a assumir os cuidados da filha para que ela também pudesse retomar o trabalho. Este casal provinha de famílias nucleares, mas mostrava-se carente de modelos afetivos de paternidade. Em função disso, percebeu-se um movimento queixoso e ambivalente em relação à matriz de apoio. Mesmo assim, o casal mostrou-se coeso nos relatos sobre o engajamento paterno nos cuidados, descrito como rotineiro pela mãe aos três meses da filha e bastante participativo após seu primeiro ano.

Marcos (C6) também apresentou um processo de engajamento crescente. A metáfora Papai vai viajar ilustra a atitude nada convencional de Marcos, que nos primeiros dias após o nascimento da filha tirou férias e viajou sozinho. O casal também vinha de famílias nucleares e tinha referência do modelo de paternidade positivo na família materna; porém, embora Mariza quisesse um marido muito engajado com a filha, à semelhança do avô materno, sabia que isto não ocorreria, pois Marcos já mostrava seguir o modelo do seu próprio pai nas pobres demonstrações afetivas mostradas na gestação. O engajamento crescente do pai apareceu no discurso dos dois, partindo da ausência de qualquer acompanhamento no pré-natal, ao cuidado ocasional da filha no terceiro mês, mas que já oferecia ajuda espontânea nos cuidados no seu primeiro ano. Marcos passou a assumir atividades de alimentação, troca de fraldas e banho da filha, especialmente quando a esposa não estava em casa.

Nos outros três casos notou-se um processo de engajamento estável, uma estabilidade com conotação positiva em dois casos (C2 e C4) e acento negativo, conforme a mãe, em outro (C5). A Rodrigo (C2) atribuiu-se a metáfora Cadê papai? - em alusão à pouca acessibilidade do pai, que se traduz em um de seus relatos aos três meses da filha: "A minha filha eu vejo, ela é que não me vê". Percebeu-se que a pouca acessibilidade e engajamento do pai se mantiveram ao longo do estudo, enquanto o cansaço da mãe foi aumentando. O casal relatou modelos tradicionais de paternidade, sendo a expectativa natural que a mãe cuidasse sozinha do bebê. Assim, mesmo cansada, a esposa não pareceu totalmente desgostosa com o desempenho de Rodrigo, qualificando-o, até o primeiro ano da filha, como um "bom pai".

Kaique (C5) também evidenciou um padrão de engajamento estável. A metáfora Papai sem estresse alude ao fato de que nada parecia incomodar o pai. O casal era o que tinha o nível educacional e socioeconômico mais elevado e ambos eram provenientes de famílias nucleares. Kaique referiu o próprio pai como modelo de paternidade a ser seguido, mas havia divergências importantes nas percepções do casal sobre o engajamento. Kaique mostrou-se o tempo todo satisfeito com o seu desempenho: não participava dos cuidados do filho, mas interagia afetivamente com ele e sentia-se orgulhoso da sua família. Nunca teve a pretensão de trocar fraldas ou dar banho no bebê, postura que foi coerente com sua participação durante a gestação: preocupava-se com a saúde da esposa, mas nunca a acompanhou no pré-natal e não queria assistir ao parto, como de fato não o fez. A mãe, que tinha uma expectativa muito idealizada sobre o envolvimento do marido com o filho, revelou insatisfação com o desempenho dele após o nascimento. Da gravidez até o primeiro ano do bebê, a mãe mostrou-se muito estressada e o pai absolutamente tranquilo.

O Caso 4 apresentou uma percepção positiva e estável sobre o engajamento do pai com o bebê, considerando-se tanto os relatos do pai quanto os da mãe. A metáfora Voando juntos caracterizou Elias, que demonstrava grande parceria com a esposa na construção da família. A mãe "emprestou" o seu próprio pai como modelo de paternidade para o marido, tendo ficado tão satisfeita ao vê-lo vinculado afetivamente ao bebê que isto pareceu mais importante que sua efetiva participação nos cuidados do filho. A matriz de apoio prevista durante a gravidez permaneceu estável até perto de um ano do bebê, sendo que o pai, que já dividia igualmente as tarefas da casa na gravidez da esposa, começou a assumir os cuidados do filho até onde a esposa o permitia. O casal passou por situações difíceis, como a morte do avô paterno e a perda do emprego da esposa, mas conseguiu superar essas dificuldades apoiando-se mutuamente. O pai relatava querer "manter a felicidade constante", preocupando-se com a vida afetiva da família.

Percepções do pai sobre seu envolvimento e sobre o bebê

No geral, os relatos dos participantes sobre seu envolvimento com o bebê apontaram que estes privilegiavam a brincadeira em vez dos cuidados como forma de interação e engajamento com o bebê, a exemplo do que já foi constatado em outras pesquisas (Lamb, 1997; Piccinini et al., 2012; Pimenta, Veríssimo, Monteiro & Costa, 2010). Todos os pais manifestaram que suas atividades preferidas eram brincar e passear com os filhos, sendo as brincadeiras referidas as de caráter essencialmente motor. Por exemplo, Valter gostava de brincar de "aviãozinho" com Vanessa aos três meses de vida, a qual, segundo ele, divertia-se muito. Em particular, Marcos (C6) parecia não entender muito bem como poderia brincar com a filha mesmo que a esposa tentasse estimulá-lo: "Tu tem que sair do teu mundo e entrar no mundo dela". Já sobre os cuidados, dois pais disseram participar de todas as atividades (C4 e C3), outros dois apenas "seguravam" o filho quando solicitados (C5 e C2) e dois tinham dificuldades em se envolver nos cuidados, principalmente quando o bebê chorava (C1 e C6). Assim se percebeu que, embora os pais se vissem como mais envolvidos, no geral, sua participação nos cuidados estava aquém da exercida pelas mães.

Ao tomarmos as impressões dos participantes sobre o desenvolvimento dos filhos, os dados revelaram que o engajamento paterno sofreu influência da idade do bebê, mas não do sexo da criança, havendo pais que mostravam alto ou baixo engajamento independentemente de os filhos serem meninos ou meninas. Os pais revelaram grande contentamento em interagir e brincar com os bebês após o primeiro ano, sendo que o repertório de brincadeiras e atividades, em todos os casos, era mais variado nesse momento do que aos três meses. À medida que os bebês foram crescendo e adquirindo habilidades motoras, constatou-se um crescente prazer no engajamento, mais marcadamente para alguns pais. Kaique (C5), por exemplo, relatou que após o oitavo mês ficou mais divertido cuidar do filho, pois já podia jogar bola com ele: "O que eu mais gosto de fazer com ele é brincar. Ir lá jogar bola, brincar assim com a bola mais, que na verdade foi depois dos oito meses é que ele ficou mais ativo, né. E aí a gente consegue brincar mais". Esses relatos confirmam a literatura, a qual aponta que as aquisições do bebê tendem a facilitar a constituição do vínculo pai-bebê e a promover o envolvimento paterno (Pleck, 1996; Lamb, 1997; Piccinini et al., 2012).

Percepções da mãe sobre o envolvimento do companheiro

Nas entrevistas de gestação, algumas gestantes mostraram ter expectativas muito idealizadas em relação ao envolvimento dos maridos (C1 e C5), e quando confrontadas com o pai real de seus filhos, revelaram dificuldades em identificar qualquer manifestação de engajamento, mostrando-se queixosas e angustiadas com a situação: "Quando eu preciso dele [marido] eu tenho que chamar outra pessoa porque ele, não tá pronto prá isso. Tá lá vendo televisão, ele não vai largar o jogo de futebol dele" (Vânia-C1, 12 meses). Outras mães (C3 e C6), cujas expectativas eram menos idealizadas, conseguiram surpreender-se com o desempenho dos maridos e os valorizavam enquanto pais: "Ele é uma pessoa bastante quieta, bastante calma, achei que ele ia continuar sendo assim. Mas não, eu vi que ele tá mais, ele tá bem comunicativo, conversa bastante com a Alice.... Brinca bastante, não se nega a fazer nada por ela, assim... se precisar dar uma comida ele dá, se precisar dar um banho ele dá" (Ana-C3, 12 meses). Tomando o processo de engajamento dos pais ao longo do primeiro ano, as expectativas da mãe, por si só, não pareceram determinar o maior ou menor envolvimento do pai, mas repercutiam no nível de estresse ou de satisfação da vida familiar, que, por sua vez, é apontado como de grande influência (Parke, 2000).

Alguns dados da literatura apontaram que as apostas das mães no desempenho dos maridos como pais podem facilitar a relação pai-bebê (Krob et al., 2009; Monteiro et al., 2010). Rose (C2) desejava ajudar Rodrigo a cuidar do bebê e Ana (C3) chegou a referir um "treinamento" para preparar o marido para assumir, sozinho os cuidados da filha quando voltasse ao trabalho, pois o julgava "rotineiro". Por outro lado, outras duas mães pareceram não modificar suas concepções e atitudes para estimular a relação do marido com o filho/a, ensejando que talvez quisessem se manter no controle (Jablonski, 1999). Aos doze meses do filho, Elisângela (C4), por exemplo, preferia cuidar sozinha do bebê, pois já tinha "o jeito" e o marido teria que aprender a cuidar, conforme sua disponibilidade. Karynne (C5), embora reclamasse constantemente do pouco apoio do marido, não permitia que ele cuidasse do bebê do seu modo.

Ainda, três mães (C1, C4 e C6) queixaram-se de que os maridos sabiam cuidar bem dos bebês, mas que só o faziam quando elas não estavam em casa ou se não houvesse outra pessoa, preferencialmente uma mulher, para fazê-lo: "Eu só esperava que ... ele desse mais banho, que ele trocasse mais a fralda por ele próprio tomasse a iniciativa, que ele sabe fazer" (Mariza-C6, 3 meses). De modo geral, as queixas das mães se associavam à pouca participação dos maridos nos cuidados rotineiros dos bebês, embora todas os definissem como pais afetuosos e presentes. Relatos comuns nesse sentido foram: "Ele se esconde, não tem paciência", "Reclama muito" ou "Não aguenta choro".

Matriz de apoio e envolvimento paterno

Quanto ao sistema de apoio dos casais, poderíamos pensar que a ausência de uma rede de apoio satisfatória induziria os pais a se tornarem mais engajados, porém as análises revelaram que, independentemente do vínculo mantido com a família de origem ou do nível socioeconômico, os casais demonstraram, durante a gestação, pouca preocupação com o apoio necessário para cuidar do bebê. Nem mesmo os casais de dupla carreira projetavam possibilidades concretas de cuidados após o período de licença-maternidade. Ademais, evidenciou-se certo distanciamento em relação às famílias de origem na gravidez, com exceção dos dois casais de menor nível socioeconômico (C2 e C4), os quais residiam perto dos pais e contavam com maior colaboração das famílias. Mesmo Elias e Elisângela (C4), que moraram com os pais até se casarem e, depois em frente à casa dos avós maternos, não enfatizavam a necessidade de ajuda extra para cuidar do bebê: "Como assim? Que tipo de ajuda? ... A única pessoa que ajuda, em termos, assim ó, ah, estender uma roupa, enquanto ela tava trabalhando, colocava a roupa na máquina, é a minha sogra" (Elias-C4, Gestação).

Percebeu-se que alguns maridos, individualmente, não pareciam preocupados com cuidados especiais ou apoio durante a gravidez. Em quatro casos (C2, C4, C5 e C6) eles se mostraram surpresos quando questionados sobre alguma forma de apoio que estivessem recebendo na gravidez e alegaram não necessitar de auxílio, como mostra esse relato: "A minha família é daqui de Porto Alegre.... Então dão um apoio mais assim de conversando e tal, e nós não precisamos de um apoio mais presente" (Kaique-C5, Gestação). Por sua vez, todas as gestantes relataram ter apoio dos maridos, amigas, colegas de trabalho (C3) ou de suas mães (C4 e C5), o que sugere que as mães recorriam mais à sua rede de relações durante a transição para a maternidade (Stern, 1997).

Sobre as expectativas de apoio, três mulheres (C2, C4 e C5) mencionaram esperar o auxílio de suas mães e/ou irmãs após o nascimento do bebê. Mariza (C6) esperava contar com a ajuda da mãe só no primeiro mês após o parto, devido à distância entre as duas casas. Esse casal parece ter ficado tão confiante no apoio dos avós e tias maternos nesses momentos iniciais que o pai se permitiu viajar por dez dias após o nascimento da filha, "para aproveitar as férias". Tanto Kaique e Karynne (C5) quanto Marcos e Mariza (C6) gostariam de poder contar com uma pessoa da sua confiança, que cuidasse do bebê na casa da família, mas não tinham esta pessoa; já outro casal (C3) preferiu manter turnos alternados de trabalho até conseguirem uma vaga na creche da empresa. Valter e Vânia (C1) também esperavam contar com a creche do serviço, mas depois se surpreenderam com a disponibilidade e competência da avó materna, antes tida como incapaz devido a sua doença psiquiátrica. Neste caso, as dificuldades de relacionamento entre o pai e a sogra prevaleciam sobre os problemas psiquiátricos desta e a chegada do bebê pode ter facilitado essa relação, o que também foi percebido por Bradt (1995). Sobre isso, Vânia (C1) comentou que a filha fez o "milagre" de trazer sua mãe de volta e aproximá-la do genro.

Após o parto, todas as famílias parecem ter se organizado, providenciando uma matriz de apoio adequada nos primeiros meses, embora esta realidade tenha se modificado para alguns casais ao longo do primeiro ano. Em três casos (C2, C3 e C4) as avós e tias haviam retomado suas atividades e as mães precisaram recorrer à rede de cuidados paga (creches ou babás). Uma alternativa mais viável financeiramente, encontrada por dois casais (C5 e C6), foi a creche domiciliar, em que vizinhas cuidavam de várias crianças em suas residências.

Ao considerarmos longitudinalmente as matrizes de apoio, vimos que no último trimestre da gestação os casais ainda não tinham tomado decisões concretas sobre o cuidado dos filhos, como se o casal buscasse dar conta sozinho dessas demandas; mas passado o primeiro trimestre, as mães se depararam com a pouca disponibilidade de tempo dos maridos para ajudá-las e, em todos os casos, as avós maternas foram mobilizadas. Mesmo as avós tidas como incapazes (C1) ou distantes fisicamente (C6, C5 e C3) se mostraram disponíveis para ajudar as filhas com os cuidados dos seus bebês. Nas proximidades do primeiro ano da criança verificou-se afastamento progressivo das avós, de forma que em todos os casos em que as mães trabalhavam fora as crianças foram para creches.

Sobre a relação entre o envolvimento paterno e a matriz de apoio de cada família, percebeu-se que, em dois casos (C3 e C6), à medida que a rede de apoio se tornava mais escassa, os pais se mostravam mais engajados. Algumas mães (C1, C3 e C6) chegaram a afirmar que os maridos cuidavam bem dos bebês desde que não houvesse outra pessoa para cuidar, o que sugere que o maior engajamento não era sempre voluntário. Já em outros dois casos (C5 e C2), mesmo com a escassa rede de apoio, os pais não se envolviam, o que indica que a ausência de uma rede de apoio eficiente, por si só, não determina um maior envolvimento do pai. O relato de Karynne (C5) evidencia essa dificuldade: "Uma vez eu acho que eu fiquei muito estressada. Me senti totalmente indisposta, aí eu até pedi para o Kaique dar uma reparada mais.... Ele ajudou, né, mas a princípio ele queria ter deixado [o filho] lá na mãe dele.... Ele não sabia lidar com aquela situação.... Aí ele simplesmente disse para mim: 'Então tu trata de ficar boa, senão eu vou levar o Kauã lá para mãe'".

Estudos evidenciaram que quando as mães trabalham fora o nível de engajamento e acessibilidade dos pais tende a ser mais alto (Lamb, 1997; Meteyer & Perry-Jenkins, 2010), mas isto não ficou evidente no presente estudo. Quando nenhum membro da família ampliada está disponível, situação comum em contextos urbanos, os pais precisam usar creches ou babás para o filho. Além do custo financeiro, geralmente elevado, muitos casais sentem-se inseguros quanto ao cuidado alternativo de bebês pequenos e postergam essa decisão (Bradt, 1995). Ainda, é possível que a mulher, buscando atender à expectativa de conciliação harmoniosa dos papéis de mãe e profissional, sinta-se pressionada a se responsabilizar sozinha pelos filhos, apesar das eventuais sobrecargas e conflitos envolvidos.

Modelos de paternidade do casal

Sobre os modelos relatados pelos pais em suas famílias de origem, dois deles não referiram o próprio pai como modelo de paternidade (ver Quadro 2). Valter (C1), cujo pai era alcoolista, esperava não reproduzir esse modelo com seus filhos; já Marcos (C6), cujo pai fora muito autoritário, citou sua mãe como modelo de paternidade, como forma de construir um modelo diferenciado do oferecido pelo pai. Embora tenham referido seus próprios pais como modelos em algum sentido, dois pais (C3 e C4) afirmaram que gostariam de ser mais afetuosos e presentes com os filhos, como se vê nessa fala: "Muitas vezes ele [o pai] não acompanhou. Tipo assim... ele nunca foi num campo jogar uma bola com a gente, num lugar, num passeio que ele tenha feito questão de estar junto" (Elias-C4, Gestação).

Cinco pais provinham de famílias nucleares, com mães donas-de-casa e pais como únicos provedores financeiros do lar, indicando a presença de modelos mais tradicionais de paternidade nas famílias de origem. De certa forma, pensa-se que esses modelos estivessem associados ao maior foco de alguns pais na responsabilidade e na acessibilidade e menos no engajamento, especialmente nos cuidados. Reforçando essa ideia, as esposas dos dois pais (C2 e C5) que tinham os seus próprios pais como modelo dedicavam-se, basicamente, às atividades da casa e com o filho. Mesmo Karynne (C5), que era profissional liberal, tinha poucos horários de trabalho e o marido achava que ela devia abrir mão disso para cuidar do bebê.

Com base nesses achados, entende-se que os pais mais tradicionais encontraram modelos em suas famílias de origem, enquanto os quatro pais que os criticavam e que gostariam de ser pais mais afetivos ou presentes do que os seus próprios pareciam carecer de modelos para esta forma mais engajada de paternidade que queriam adotar. A falta de um modelo para o tipo de pai que a sociedade espera hoje foi tema de diversos estudos (Coltart & Henwood, 2012; Freitas et al., 2007; Miller, 2011; Stern, 1997). Discutem-se novos modelos subjetivos e identitários que envolvam a divisão mais igualitária de responsabilidades e tarefas entre o casal e sobre como a sociedade precisa se reorganizar de forma a permitir que os homens desenvolvam habilidades afetivas que condigam com uma paternidade mais "maternal". Coltart e Henwood (2012), a partir de dois estudos de caso sobre a transição para a paternidade, revelam que o confronto entre vivências intergeracionais da masculinidade tradicional, as forças sociais e discursivas sobre o "novo pai" e a centralidade do trabalho para o homem produzem investimentos alternados em torno do modelo de paternidade mais próximo e afetuoso. Com isso, embora o desejo dos pais endossado pelas retóricas contemporâneas seja o de se aproximar desse ideal, frequentemente a prática da paternidade tende a reproduzir papéis de gênero normativos.

Em relação aos modelos de paternidade trazidos pelas mães, três delas referiram seus pais como modelos adequados. Concordando com a opinião do marido, Rose (C2) achava que tanto seu pai quanto o sogro eram bons modelos. Elisângela (C4) considerava que seu pai era o alicerce da sua família e parecia querer "emprestá-lo" como exemplo para o marido seguir, e este, por sua vez, havia referido ter um pai desligado e ausente; já Mariza (C6) achava seu pai mais afetuoso do que o sogro, mas não acreditava que o marido conseguisse reproduzir esse modelo. As demais participantes (C1, C3 e C5) não relataram seus pais como possíveis modelos a serem seguidos pelos maridos e esperavam que eles seguissem seu próprio caminho como pais, como revela o seguinte relato: "Acho que um bom pai vai ser ele [o marido], seja como for pra mim ele vai ser um bom pai" (Ana-C3, Gestação).

Especialmente duas delas (C1 e C3) mencionaram experiências negativas com seus pais na infância, envolvendo abandono ou desatenção, assim como os maridos relataram sobre os próprios pais. De modo geral, o fato de a mãe enfatizar o modelo de paternidade de sua família de origem para ser seguido não parece ter influenciado no engajamento do pai com o bebê. Ao mesmo tempo, pode-se pensar que a valorização de um modelo positivo de pai pela esposa pode ajudar o marido a construir um modelo diferente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As evidências aqui apresentadas se juntam a críticas que desafiam a dominância de narrativas socioculturais sobre o "novo pai" (Coltart & Henwood, 2012; Milner, 2011). Fica evidente, nos relatos dos pais e mães a coexistência de identificações com modelos de paternidade modernas e tradicionais que dinamicamente se sobrepõem, conflitando ou convergindo, ao longo da transição para a paternidade, e que implicam diferentes trajetórias de envolvimento paterno. A extensa perspectiva oferecida por uma abordagem qualitativa e longitudinal indicou, em alguns casos, certa fuga de algumas das potencialidades da nova paternidade e a volta a territórios mais familiares e seguros de masculinidade, ou seja, o pai provedor, protetor e envolvido na vida pública. Entende-se então que a entrada da mulher no mundo do trabalho, o aumento da participação do pai no cuidado e mesmo o compromisso em aderir à identidade do "novo pai" não apagam as marcas do legado social e familiar em torno do pai autoritário e provedor, em especial quando se trata de pais primíparos. Essa "simples" mudança pode representar um intenso trabalho emocional envolvendo a revisão de modelos e experiências infantis, por vezes dolorosas, e a negociação de uma paternidade mais ativa, não mais eletiva como era antes, com as contínuas exigências do mundo do trabalho.

O trabalho pago, as horas gastas fora de casa e os ideais de masculinidade dominantes continuam configurando as experiências dos pais hoje, ao mesmo tempo em que novos discursos abriram espaço para uma vivência mais plena e gratificante da paternidade. Como se viu no relato dos pais, por vezes a contraposição desses diferentes modelos de paternidade é vivida de modo peculiar por cada pai quanto à constituição do vínculo com o bebê, à negociação com seus modelos intergeracionais, à sua companheira e à sua rede de apoio. Se por um lado alguns pais enfrentam dificuldades para dimensionar o maior envolvimento na sua vida diária e subjetiva, outros manifestam menos ambivalência, seja mantendo padrões de pouco engajamento com o filho, seja aderindo com mais facilidade ao padrão do "novo pai".

Diante disso, é plausível pensar que os pais atuais, representados pelos participantes do presente estudo, estão criando uma nova geração de crianças cujas práticas normativas de cuidado serão vistas, cada vez mais, como compartilhadas tanto no sentido emocional como no sentido prático. Particularmente, os primeiros meses após o parto são cruciais para a constituição do vínculo com o bebê, o ajustamento emocional do casal ao papel parental e, em especial, para a aprendizagem e prática conjunta dos cuidados, o que fomenta o envolvimento paterno em momentos posteriores do desenvolvimento da criança (Meteyer & Perry-Jenkins, 2010). No Brasil, os pais que têm emprego formal contam com apenas cinco dias consecutivos de licença-paternidade remunerada após o parto. Nesse sentido, argumenta-se a necessidade do fortalecimento de políticas de garantia de direitos sociais que facilitem e encorajem o engajamento mais prolongado de ambos os pais com os filhos (ex., licenças parentais bem remuneradas e estendidas; direito à creche) o que, em outros países, tem mostrado ótimos resultados tanto no desenvolvimento infantil quanto na redução de desigualdades sociais de modo geral (Cools, Fiva & Kirkebøen, 2011; Marmot, 2010). Também é importante atentar para as particularidades do contexto social e das vivências subjetivas de cada pai durante a transição para a paternidade, evitando prescrições e leituras universalizantes sobre como deve ser o seu envolvimento com os filhos.

Marmot, M. (2010). Fair society healthy lives, the Marmot review: Strategic review of health inequalities in England Post-2010. Recuperado em 10 de janeiro, 2013 de http://www.ucl.ac.uk/gheg/marmotreview/.

Recebido em 08/10/2013

Aceito em 03/03/2014

1Apoio e financiamento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

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  • Endereço para correspondência:
    Luciana Castoldi
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    CEP 90.035-060
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      13 Out 2014
    • Data do Fascículo
      Jun 2014

    Histórico

    • Recebido
      08 Out 2013
    • Aceito
      03 Mar 2014
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