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A sociedade literária São Bento (SC): uma base institucional de leitura na Serra do Planalto Norte de Santa Catarina

The Literary Society São Bento (SC): a reading space on the mountain range of Santa Catarina North Plateau

Resumos

Apresenta resultados da pesquisa que objetivou responder de que modo a comunidade de São Bento do Sul (SC), conformou uma instituição de leitura ao longo do tempo. Trata-se de um trabalho pautado na abordagem da História Cultural, atentando para autores como Roger Chartier, Sandra Jatahy, entre outros. Como fonte de estudo, analisou-se documentos institucionais, impressos (jornais) e depoimentos orais. As fontes impressas analisadas mostram pouca visibilidade da Sociedade Literária São Bento, no entanto, as fontes orais (como os recolhidos do tesoureiro e da bibliotecária de ofício) revelaram a tenacidade das diferentes diretorias e seu esforço junto à comunidade local, para manter abertas as portas para o futuro dessa instituição de leitura no Planalto Norte do Estado de Santa Catarina.

História do Livro; História da Leitura; Sociedade Literária - São Bento do Sul (SC)


The text presents the results of the research that aimed to answer in which way São Bento do Sul community, has become a reading institution. The work is based on the Cultural History approach considering authors such as Roger Chartier, Sandra Jatahy Pesavento, among others. As a source of the study institutional documents were analyzed as well as newspapers and oral statements. The analyzed printed sources show little visibility of the Society. However, the oral sources (such as those of the treasurer and librarian) revealed the tenacity of different director boards making efforts on the local community to keep the doors open for the future of this reading institution of Santa Catarina State North Plateau.

Book History; Reading History; Literary Society - São Bento do Sul (SC)


ARTIGOS

A sociedade literária São Bento (SC): uma base institucional de leitura na Serra do Planalto Norte de Santa Catarina

The Literary Society São Bento (SC): a reading space on the mountain range of Santa Catarina North Plateau

Gisela Eggert-SteindelI; Caroline Santos de CisneII

IDoutora em Educação. Professora do Departamento de Biblioteconomia e Gestão da informação, Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)

IIBibliotecária Graduada pela Universidade Estadual de Santa Catarina (UDESC).Especialista em Gestão da Informação e Inovações Tecnológicas pelo Instituto Brasileiro de Pós Graduação (IBPEX)

RESUMO

Apresenta resultados da pesquisa que objetivou responder de que modo a comunidade de São Bento do Sul (SC), conformou uma instituição de leitura ao longo do tempo. Trata-se de um trabalho pautado na abordagem da História Cultural, atentando para autores como Roger Chartier, Sandra Jatahy, entre outros. Como fonte de estudo, analisou-se documentos institucionais, impressos (jornais) e depoimentos orais. As fontes impressas analisadas mostram pouca visibilidade da Sociedade Literária São Bento, no entanto, as fontes orais (como os recolhidos do tesoureiro e da bibliotecária de ofício) revelaram a tenacidade das diferentes diretorias e seu esforço junto à comunidade local, para manter abertas as portas para o futuro dessa instituição de leitura no Planalto Norte do Estado de Santa Catarina.

Palavras-chaves: História do Livro; História da Leitura; Sociedade Literária - São Bento do Sul (SC).

ABSTRACT

The text presents the results of the research that aimed to answer in which way São Bento do Sul community, has become a reading institution. The work is based on the Cultural History approach considering authors such as Roger Chartier, Sandra Jatahy Pesavento, among others. As a source of the study institutional documents were analyzed as well as newspapers and oral statements. The analyzed printed sources show little visibility of the Society. However, the oral sources (such as those of the treasurer and librarian) revealed the tenacity of different director boards making efforts on the local community to keep the doors open for the future of this reading institution of Santa Catarina State North Plateau.

Keywords: Book History; Reading History; Literary Society - São Bento do Sul (SC).

1 Introdução

A história do livro se constitui em uma disciplina que engloba desde o estudo da instituição biblioteca até o das edições, do papel e/ou tipos que compõem um texto. Segundo Morais (2002), a história do livro no Brasil foi interesse de estudo, por longo tempo, restrita aos bibliófilos; atualmente, no entanto, constata-se que isso mudou, isto é, o estudo da história do livro, das bibliotecas e de outros espaços de leitura vem despertando o interesse de diferentes estudiosos e pesquisadores nas diversas campos do conhecimento.

No campo da Biblioteconomia, entre alguns dos estudos, podemos destacar a obra de Rubens Borba de Moraes, sob o título O problema das bibliotecas brasileiras, 1943; o da professora Sônia Catarina Gomes, publicado em 1983, Bibliotecas e sociedade na Primeira República; o trabalho de doutoramento de Zita Catarina Prates de Oliveira (1994) sob o título A biblioteca fora do tempo: políticas governamentais de bibliotecas públicas no Brasil, Universidade de São Paulo, bem como o estudo realizado por Rosemay Tofani Motta (2000) Baptista Caetano de Almeida: um mecenas do projeto civilizatório em São João dEl-Rei, no início do século XIX - a biblioteca, a imprensa e a sociedade literária (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS - UFMG, 2000).

No campo da História e, mais recentemente, na da História da Educação, têm-se diversos estudos, como os de Nelson Schapochnik (1999), com sua tese de doutoramento, sob o título Os jardins das delícias: gabinetes literários, bibliotecas e figurações da leitura na corte imperial, Universidade de São Paulo, de Christiani Cardoso Morais (2002), acerca da difusão do letramento na Vila de São João Del Rei: livros leitores; bibliotecas; e, também, o trabalho de doutoramento da autora Eggert-Steindel (2005), que investigou a constituição da biblioteca municipal de sua cidade, a Biblioteca Pública Municipal "Rui Barbosa", em Jaraguá do Sul. Outros estudos nessa direção estão disponíveis na forma de livros como de Cláudio Denipoti (1999), sob o título Páginas de prazer: a sexualidade através da leitura no início do século; de Tânia Maria Bessone (1999), Palácios de destinos cruzados: bibliotecas, homens e livros no Rio de Janeiro, 1870-1920, título editado pelo Arquivo Nacional. Nessa esteira, não se poderia deixar de mencionar o importante título A longa viagem da biblioteca dos reis: do terremoto de Lisboa à independência do Brasil, um trabalho de Lilia Moritiz Schwacz, Paulo César Azevedo e Angela Marques da Costa (2002).

Destacam-se, ainda, outros títulos acessíveis no mercado editorial brasileiro: O poder das bibliotecas: a memória dos livros no ocidente do original (Le pouvoir des bibliothèques: la mémoire des livres en Occident), sob a direção de Marc Baratin e Christian Jacob, publicado pela UFRJ, em 2002, e a obra de Matthew Battles (2003), sob o título A conturbada história das bibliotecas, entre tantos outros.

Historicamente, várias foram as instituições culturais ligadas ao livro inauguradas em diversas partes da Europa e das Américas. A criação destas instituições pode ser apreendida no contexto de dificuldades da circulação do livro e do impresso em diferentes tempos e lugares (MORAIS, 2002). É, neste contexto, que certamente se constituiu essa sociedade literária da cidade de São Bento do Sul, no estado de Santa Catarina.

Este estudo se pautou na abordagem da História Cultural para compreender o modo como a comunidade de São Bento do Sul empreendeu um espaço de leitura e sociabilidade, a Sociedade Literária de São Bento. Nas palavras de Chartier (1990, p.16-17), "a história cultural, tal como a entendemos, tem por principal objeto identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade social é construída, pensada, dada a ler." Mais adiante, completa: "é preciso pensá-la (história cultural) como a análise do trabalho de representação, isto é, das classificações e das exclusões que constituem, na sua diferença radical, as configurações sociais e conceituais próprias de um tempo ou de um espaço." (CHARTIER, 1990, p. 27). Nesse quadro, o problema norteador desta investigação intentou responder de que modo foi constituída esta sociedade literária a partir de sua criação, em 1881. Pautada nessa pergunta, outras questões surgiram, como: Que projeto orientou a instalação da sociedade? Como se estruturou inicialmente a sociedade? Quem foram seus primeiros sócios? Quais as características do fundo bibliográfico inicial?

Calcado neste norte, levantaram-se e identificaram-se documentos institucionais, como: estatutos, regimentos, fontes orais, instrumentos de registro e controle, com respeito ao universo do livro e dos leitores (livro tombo, catálogo de registro de leitores), etc., da Sociedade.

O estudo se justifica pelo esforço empenhado por esta instituição cultural existente desde o século XIX, na difusão, circulação do livro e da leitura na comunidade de São Bento do Sul. Justifica-se, também, por seu papel histórico e social local e nacional, tendo sido uma das primeiras sociedades literárias nas Américas e, ainda, hoje existente.

Para além destas razões, é importante lembrar que um estudo, a partir da abordagem da História Cultural, traz outro modo de apreender essa instituição, que se mantém ao longo do tempo como uma base institucional de leitura ainda atuante no século XXI.

2 Os primeiros tempos do lugar e da Sociedade Literária São Bento

A historicidade dessa Sociedade confunde-se com a história da imigração do século XIX e, por sua vez, com a história do município de São Bento do Sul, localizado ao norte do estado de Santa Catarina. Os primeiros imigrantes que se estabeleceram nesse município, são provenientes de povos das regiões prussianas - Polônia, Saxônia, vilarejos do Erzgebirge e Vogtland, das regiões circundantes de Chemaitz, Leipzig e Dresden, da Boêmia do Norte e do Boehmerwald, como, também, da Bavária, das regiões da República Tcheca, da República Eslovaca e do norte da Áustria (PEREYRA, 2006).

São Bento foi fundado em 1873. Constam nos documentos, a data de 23 de setembro daquele ano, o registro da entrega formal dos quatro primeiros lotes da Nova Colônia Agrícola, pertencente na época à Colônia Dona Francisca, atual município de Joinville (SC). Em 1875, dois anos depois da fundação dessa Colônia, é instalada uma primeira escola no perímetro urbano e, segundo Pereyra (2006), tratava-se de uma construção bastante rudimentar. Uma Lei Municipal nº. 301, de 1876, incrementou as atividades na colônia, assim, nesse mesmo ano, se fixou em São Bento do Sul o primeiro médico, que criou, também, a primeira farmácia. No ano seguinte, é construída a primeira igreja.

Na esteira da melhoria da infraestrutura local, em 1881, foi criada a Sociedade Literária São Bento, denominada na Língua Alemã Lese-Verein (FICKER, 1973 citado por BLASKOVSKI, 2005). É justo registrar - a Sociedade Literária São Bento - é uma das poucas ainda existentes nas Américas e única no estado de Santa Catarina e no Brasil.

O Guia de Bibliotecas Brasileiras, publicado ora pelo Instituto Nacional do Livro , ora pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na sua edição do ano de 1944, em seu verbete, assim caracterizava essa sociedade literária:

BIBLIOTECA SOCIEDADE LITERÁRIA. (Antiga Sociedade Literária). Cidade de São Bento do Sul - SC. Fundação: 15-10-1881, com 200 volumes. Acervo bibliográfico: 2.000 v. Finalidade: geral, principalmente literatura. Instalação: no prédio da sociedade. Funcionamento: diário. Movimento: em média mensal, 80 consulentes. Assuntos preferidos: literatura, viagens, economia e aventuras. Iniciativas culturais: leitura domiciliária, prazo de 20 dias. Pessoal: um bibliotecário, funcionário da associação. Manutenção: mensalidades dos sócios. Catalogação: por autor e assunto. Presidente: Henrique Muller. Reg. Em 11-10-39. (BRASIL, 1944).

Outras edições do Guia de Bibliotecas Brasileiras, como a de 1955, arrolam outras instituições de leitura deste gênero, como a Sociedade Literária Leseverein Itaiópolis, fundada em 16 de abril de 1920, mais tarde denominada Biblioteca do Clube 16 de Abril (BRASIL, 1955). Já em outro contexto, na Capital do Estado, temos a Sociedade Literária Padre Antonio Vieira, da Companhia de Jesus, no Ginásio Catarinense, mais tarde denominada a biblioteca do Ginásio Catarinense, em 1906. Os dados deste último Guia sustentam os estudos de Carlos Humberto P. Corrêa, que considera que a primeira tentativa da criação de uma instituição desta ordem no estado de Santa Catarina se deu em agosto de 1832, na cidade de Nossa Senhora do Desterro, na província do estado de Santa Catarina, com a instalação de um gabinete, sala de leitura ou biblioteca pública (CORRÊA, 1997).

Essa iniciativa cultural, segundo este historiador, tinha ligação direta com as atividades da Sociedade Patriótica Catarinense, fundada por Jerômino Francisco Coelho, pai da imprensa catarinense, na administração de Feliciano Nunes Pires, em outubro de 1831 (SOUZA, 1999; CAVALCANTE, 1995).

Este gabinete foi instalado nas dependências da Sociedade Patriótica Catarinense a partir de uma proposta de Patrício Antônio Sepúlveda Edward, engenheiro militar participante na Campanha da Cisplatina, comandante do 4o. Corpo de Artilharia de Posição, sediado, à época, em Santa Catarina.

Calcados neste panorama inicial, nos próximos itens, busca-se conhecer a constituição da Sociedade Literária de São Bento no Planalto Norte do Estado de Santa Catarina.

3 Os jornais locais e a Sociedade Literária São Bento

Como apontado inicialmente, este estudo buscou analisar e apreender o modo como a comunidade de São Bento do Sul constituiu a sua sociedade literária e, para tanto, adotou duas etapas de trabalho. A pesquisa se configurou em estudo exploratório.

Em um primeiro momento, foram examinadas fontes impressas (jornais locais), disponíveis na Biblioteca Pública de Santa Catarina. A identificação e a definição pelos jornais analisados tiveram como fonte o CATÁLOGO de jornais catarinenses 1850 - 1989, publicado pela Fundação Catarinense de Cultura (1990). O ano de criação da sociedade, 1881, foi um ponto de partida para a seleção dos jornais analisados: Correio Dona Francisca, 1862; Gazeta de Joinville, Joinville, 1891; A Legalidade, São Bento, 1891; O Catharinense, São Bento, 1911; O Aço, São Bento, 1936.

Em uma segunda etapa, foram consultadas fontes documentais no Arquivo Municipal da cidade de São Bento do Sul e se efetuou uma análise in loco na Sociedade dos catálogos de registro do acervo. A respeito do cadastro dos associados e dentro dos limites do estudo, os dados foram obtidos junto aos responsáveis diretos pela instituição, o então tesoureiro e associado e a responsável pelo controle do acervo e associada, denominada na comunidade local de bibliotecária.

O exame dos jornais possibilitou apreender alguns aspectos, não só relacionados ao objeto dessa pesquisa, mas, também, aos modos e espaços de socialização existentes no município e região, em fins do século XIX e início do século XX.

O jornal, A Legalidade, editado no século XIX foi o único título disponível do na Biblioteca Pública de Santa Catarina para exame e coleta de dados. Em seus fascículos, é possível observar certa regularidade em estampar notícias e anúncios acerca de sociedades de caráter associativo e cultural como Club Germano-brasileiro, Club Joinvillense, Gesang-Verein/Sociedade da Música (Tradução nossa). Tais sociedades tornavam públicas suas atividades, quer de teatro, quer de leitura ou de grupos de canto. Chama a atenção, por exemplo, que o Club Joinvillense promovia, dentre suas atividades, o "cultivo da língua portuguesa", certamente em virtude do grande número de imigrantes alemães residentes nessa região do estado.

(A LEGALIDADE, 1897)

No século XX, são três os títulos de jornais analisados: O Catharinense, O Aço e Correio Dona Francisca.

Na década 10 do século XX, O Catharinese estampava algumas livrarias, como a W-Kahehofe, que se destacava no anúncio de livros voltados para área de Direito, da Psicologia, da Literatura e em dicionários de língua portuguesa. Oferecia, também, material de papelaria, como se observa no enunciado que segue: "Livros em branco para diário, Razão, Caixa, Borrador etc., brochuras, índices, gomma arábica em pequenos vidros protocolados, riscados, etc."

O jornal O Aço, publica repetidas vezes, durante a década de 30 e no início dos anos 40, anúncios de serviços e produtos de um único estabelecimento voltado à comercialização de livros e outros impressos, a Livraria Santos.

Essa livraria tinha como estratégia fazer-se presente em praticamente todos os títulos de jornais analisados neste período. A livraria comercializava tanto revistas - Revista Fon-Fon, Revista vamos ler, Revista O Malho, Revista Tico-Tico, Arte de Bordar e O malho-, como dicionários bilíngües português-alemão, francês-português, livros da área de História e Geografia e um número expressivo de textos literários (romances), nacionais e estrangeiros. Dos títulos estrangeiros, anuncia principalmente aqueles em língua alemã, apontando para uma circularidade de livros entre estes imigrantes residentes na região.

Como dito anteriormente, a Livraria Santos publicava seus produtos em diferentes jornais da localidade e pode-se destacar a publicização da literatura infantil clássica neste jornal, como é possível constatar no anúncio: "NOVIDADES LITERÁRIAS - A Livraria Santos recebeu esta semana os seguintes livros: Novos Contos de Grimmm; Novos Contos de Andersen; Alice no Paiz das Maravilhas" e as obras biográficas como "Madame Curie, descobridora do radium" e "A Rainha Margot" (O Aço, 1938).

Comparando os dados relativos à divulgação de livros e outros impressos aos demais jornais, pôde-se observar que, na década de 30, O Aço arrola o maior número de títulos, mostrando, de certo modo, sua preocupação em promover a difusão e circulação da informação, saber e lazer, neste lugar e tempo.

A Livraria Santos era o estabelecimento comercial deste gênero mais presente na comunidade local, estampando, com frequência, tanto no jornal O Aço como no Correio Dona Francisca, anúncios de um grande número de títulos de livros e revistas. Ressalta-se, no entanto, que na década de 40, não seria esta a única livraria anunciada pelos jornais locais. A Livraria Boehm era outro estabelecimento que comercializava livros e impressos, embora os itens publicitários dessa livraria fossem mais raros e ofertados em menor número de produtos.

Uma análise quantitativa dos anúncios publicitários nos diferentes jornais mostrou, por gênero e tipo de obra anunciada, entre as décadas de 10 e 40 do século XX, um total, como segue:

a)literatura (romance): 71 obras;

b)história: 3 obras;

c)geografia: 3 obras;

d)biografias: 4 obras;

e)livros didáticos: 3 obras;

f)direito: 4 obras;

g)dicionários: 5 obras; e

h)revistas: 11 títulos.

Os dados quantitativos indicam que o gênero romance era predominante nos anúncios de todas as livrarias, apontando que eles geralmente representavam maior interesse por parte dos leitores da comunidade de São Bento do Sul. Tais dados são corroborados por outros estudos - como os de Schapochnik (1999) e Steindel-Eggert (2005) - quanto ao gosto por este tipo de literatura.

A divulgação de livros e outros impressos em jornais na cidade de São Bento do Sul permite inferir que o veículo jornal era um instrumento de difusão e circulação do livro e da leitura nessa época e lugar, como também o apontou o estudo de Bessone (1999, p. 86):

Os jornais anunciavam os números de freqüentadores das bibliotecas, as obras por eles consultadas, os horários de funcionamento das livrarias e serviços por elas prestados, e outras informações adicionais, com seções especializadas em cultura literária, resenhas e informes de recebimento de publicações.

Este tipo de serviço, segundo as palavras dessa pesquisadora, incrementava muito a popularidade dos serviços das bibliotecas e das livrarias na sua divulgação, atraindo, assim, os leitores da sociedade carioca.

Quanto aos jornais analisados, se pode ainda afirmar que a comunidade local se valeu desse veículo de informação e comunicação, em diferentes tempos, para tornar públicos eventos sociais promovidos em diferentes espaços, como sociedades, associações, igrejas, rádio e cinema.

Quando aponta-se, aqui, as sociedades, deve-se destacar as Sociedades de Atiradores da região, que proporcionavam lazer e diversão, criadas pelos moradores por diferentes razões e com objetivos específicos. Nesta direção, esclarece Eggert-Steindel (2005), pautada em estudos de Elias (1997), as Sociedades de Atiradores, ou Schützenvereine, conhecidas como sociedades recreativas, de esporte e lazer, têm origem nas Corporações de Atiradores criadas na Bélgica, na Holanda, no norte da França e na Alemanha, no século XIV, com vistas ao preparo para a defesa. No período entre guerras, os atiradores treinavam e disputavam entre si; o melhor recebia a alcunha de Rei dos Atiradores. Perdendo no tempo o caráter militar, passaram a se constituir em sociedades de atividade social e de lazer.

A vinda dos imigrantes alemães trouxe esta prática para os locais em que se instalaram. Este é outro espaço de socialização para além do religioso, pois as sociedades significavam sair do isolamento econômico, social e cultural. Em Santa Catarina, as primeiras sociedades foram criadas em meados do século XIX. Uma delas, na cidade de Joinville, em 1855, a Schützenverein zu Joinville - Sociedade de Atiradores de Joinville, e outra, na cidade de Blumenau, em 1859, a Schützenverein Blumenau - Sociedade de Atiradores Blumenau. No distrito de Jaraguá, foi criada a primeira Shützenverein Jaraguá - Sociedade de Atiradores Jaraguá, em 1906. A partir de então, surgiriam inúmeras sociedades recreativas e de atiradores. Estas sociedades em um cenário de práticas de sociabilidades anunciavam constantemente suas atividades para toda a comunidade e para seus sócios. Elas se diferenciavam entre si por proporcionar diferentes atividades, fazendo com que seus sócios tivessem opções de lazer, diversão e cultura.

Para além das Sociedades de Atiradores, os jornais analisados destacam ainda outras sociedades como a Sociedade de Dança, a Sociedade Beneficente, a Sociedade de Música e a Sociedade Literária São Bento.

Quanto à visibilidade da Sociedade Literária nos jornais analisados constataram-se duas notícias como essa que segue: "[...] no Salão Hoffmann, realizou-se com grande concorrência e animação a anunciada festa da escola D. Francisca, km 7. - Neste mesmo dia, também, esteve muito concorrido o baile da Sociedade "Lesevrein", realizado no Salão Knop" (O CATHARINENSE, 1914). Essa notícia sugere que, de algum modo, esta sociedade não só promovia a difusão do livro e da leitura, mas buscava oferecer entretenimento aos sócios leitores. Por outro lado, sugere pensar o inverso, isto é, as sociedades locais, além das atividades sociais de entretenimento, oportunizavam, a partir das suas programações, a troca de ideias acerca de títulos de livros e leituras realizadas entre os sócios.

A prática da leitura ocorre de diferentes modos, nas diferentes sociedades, pois existem culturas diferentes; por isso, o ambiente destinado à leitura é importante, como destaca Bello (2002, p. 58-59):

A atenção dos espaços concretos em que decorre a leitura, como a sala de aula, as bibliotecas ou os gabinetes de leitura que se multiplicaram entre os séculos XVIII e XIX, assim como o interesse pelo mobiliário e pelos acessórios utilizados pelos leitores em cada um desses locais, permite-nos aprofundar ainda a relação entre os leitores e o ambiente cultural e social envolvente.

Complementando o raciocínio acima, o referido autor destaca que, "em cada época, os leitores partilham entre si espaços, gestos e ritmos de leitura, assim como normas morais, estética e outros valores que influenciam a recepção dos textos." (BELLO, 2002, p. 60).

Em 1873, as primeiras construções da Colônia Agrícola de São Bento do Sul não passavam de pequenos albergues, conhecidos, na época, por Ranchos dos Imigrantes. Em seus estudos sobre a imigração alemã, Klug (2003) mostra que, nos primeiros anos de Brasil, a vida dos imigrantes se caracterizava por uma árdua labuta pela sobrevivência.

Neste contexto do completamente novo, estranho e desconhecido, as palavras do Sr. Alfons Weihermann, na narrativa sobre a criação da Sociedade, disponível em um documento no Arquivo Municipal de São Bento do Sul, expressam o sentido do livro e da leitura para os primeiros imigrantes e a necessidade da criação de uma sociedade voltada ao livro e à leitura em um rincão longínquo nos trópicos brasileiros. Nos primeiros parágrafos, ele ressalta que, em meio ao árduo trabalho, ler um livro nos pequenos períodos de descanso animava o espírito para a labuta diária.

Como mostram os documentos e diferentes trabalhos de investigação local, a Sociedade Literária São Bento foi criada ainda no período imperial, 1881, e elegeu seu primeiro presidente, Armando Jürgensen, em 1892 (PFEIFFER, 1997; PEREYRA, 2006).

A Sociedade Literária São Bento, criada, segundo seus estatutos, sem fins lucrativos e de duração ilimitada, tinha por finalidade: Art.1º. - "[...] expandir tudo o que relacione com literatura e artística, compondo-se de sócios em um número indeterminado." (BLASCOVSKI, 2005, p. 15).

Essa sociedade, denominada originalmente Lese-Verein, em 1940, passou a se denominar Sociedade Literária São Bento, provavelmente em virtude da Campanha da Nacionalização do Ensino. Essa suspeita tem como fundamento o estudo de Kita (2000), acerca das associações dos clubes e sociedades de tiro do Vale do Itapocu, no qual mostrou que o Decreto nº. 35, de 13 de janeiro de 1938, referente à Campanha da Nacionalização do Ensino, atingiu não apenas a instituição escolar, mas obrigou à mudança de denominação as instituições culturais com nomes estrangeiros e à alteração de seus estatutos.

Nesta direção, o relato de José Sestren, presidente da sociedade em 1973, em seus escritos na Ata sobre a instituição, destaca que:

Esta sociedade passou por períodos dificílimos, como no período da segunda guerra, quando teve quase todos os seus volumes confiscados, principalmente os de língua alemã e muitos não foram mais devolvidos, mas com abnegação e muitas vezes com sacrifícios conseguiu sobreviver, hoje conta com 128 sócios, por sinal muito ativos .

Neste mesmo documento, esclarece que no dia 13 de junho de 1941 foi comprada a atual sede, situada na Avenida Argolo, nº. 13, pertencente a Augusto Keopmei, pela importância de quinze contos de réis. (ARQUIVO MUNICIPAL SÃO BENTO DO SUL)

Segundo os documentos analisados, as famílias imigrantes trouxeram seus livros e estes volumes e criaram "[...] einer kleine Lei-Bibliotek gesckent" ou constituíram o primeiro fundo do acervo dessa sociedade, a partir de doações dos sócio-fundadores, criando uma pequena biblioteca. (SOCIEDADE LITERÁRIA..., [1971]).

A prática de aquisição de obras por meio de doações perpassa a formação e o desenvolvimento do acervo da Sociedade Literária São Bento. Isto é confirmado pelo relato verbal do tesoureiro, que arrolou como doadores tanto pessoas físicas como jurídicas, atingindo a soma cerca de 10.000 livros doados à sociedade nos últimos anos. No entanto, é preciso ressaltar que, examinando os dados contábeis, verificou-se um constante investimento de recursos na compra de novos títulos pela sociedade para composição do acervo, o qual, atualmente, conta com cerca de 30.000 exemplares.

O acervo é composto principalmente por títulos em língua alemã, mas, como lembra com ironia o tesoureiro, hoje poucos na cidade de São Bento do Sul dominam o idioma. Atende-se a figura que segue.

Os dados contábeis examinados mostram dinâmicas adotadas para constituição da sociedade no que diz respeito a levantamento de recursos financeiros para aquisição do terreno, a despesas de instalação e manutenção da sede. Em outras palavras, métodos semelhantes ao da constituição do acervo de fundo, ou seja, doação de significativos valores monetários, quer de pessoas físicas quer jurídicas, da comunidade local.

As dinâmicas adotadas ao longo do tempo pelas diferentes diretorias, somadas as iniciativas individuais e coletivas permite-nos identificar o fio condutor da longevidade dessa sociedade voltada ao livro e à leitura: o espírito comum de legar um patrimônio cultural às gerações futuras.

4 Finalizando

O levantamento dos dados aponta e ratifica a polifonia das fontes para o estudo dessa Sociedade e mostra a necessidade em pesquisas dessa natureza do exame de suas diferentes fontes sejam elas bibliográficas, impressas documentais e/ou orais.

Os jornais examinados mostraram seu importante papel na difusão do livro e, nas filigranas dos seus enunciados, estampam os diferentes espaços de sociabilidade e comunicação construídos pela comunidade de São Bento do Sul, ao final do século XIX e início do século XX. Por outro lado, a invisibilidade da Sociedade Literária São Bento, constada durante a leitura dos jornais, sugere a necessidade de um levantamento de informações junto aos mais antigos associados, para melhor conhecer o processo de formação dessa instituição.

Os dados a respeito da organização e do funcionamento da sociedade, complementados por fontes orais (como os do tesoureiro e da bibliotecária de ofício), revelaram a tenacidade das diferentes diretorias em seu esforço junto à comunidade local para manter abertas as portas para o futuro dessa instituição de leitura no Planalto Norte do Estado de Santa Catarina.

A respeito da investigação, objeto do presente estudo, é preciso admitir que esse apresente limitações inerentes às características da instituição de leitura estudada. Para futuros estudos e maior aprofundamento, será importante que, além da formação de um grupo de pesquisadores de diferentes campos de formação, entre outros requisitos, exista um domínio considerável da Língua Alemã.

Um dos êxitos de um trabalho de pesquisa consiste, após enfrentar um objeto desconhecido, torná-lo conhecido. Nesse caso, conhecer a comunidade local - São Bento do Sul (SC) e a constituição da Sociedade Literária São Bento, concorreu amplamente para entender que essa uma Sociedade construída por homens e mulheres orgulhosos de seus valores e torna conhecida a partir de seu trabalho, não apenas sua história, mas com seu insistente e persistente esforço de legar um patrimônio cultural às gerações futuras.

Agradecimentos

Neste texto, não podemos nos furtar de manifestar nossos agradecimentos ao Sr. Herbert Kardauke, ex-presidente e atual tesoureiro e à Sra. Teolinda Kobs, bibliotecária de ofício, por longos anos. Nossos agradecimentos não se voltam apenas às informações cedidas, mas, principalmente, pelo exemplo de amor e dedicação no trabalho que realizam para Sociedade Literária, acreditando no importante legado às gerações futuras.

Jornais locais consultados

Recebido em 22.06.2011 Aceito em 25.01.2012

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Abr 2012
  • Data do Fascículo
    Mar 2012

Histórico

  • Recebido
    22 Jun 2011
  • Aceito
    25 Jan 2012
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