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O Imaginário de Adolescentes Sobre o Vestibular: Um Estudo Psicanalítico1 1 Gostaríamos de agradecer aos psicólogos Bruna Risquioto Batoni e Karam Valdo pela dedicação e competência demonstradas durante a coleta de dados sob a supervisão da primeira autora. Apoio: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, Processo No. 311773/2013-3, pesquisador nível I-D).

El Imaginario de Adolescentes Acerca del Examen de Ingreso a la Universidad: Un Estudio Psicoanalítico

Resumo:

Um grupo significativo de adolescentes brasileiros, em sua maioria de classe média, realiza o processo de vestibular visando a ingressar no ensino superior. Tal processo pode provocar ansiedade e insegurança clinicamente relevantes. O presente estudo tem como objetivo investigar psicanaliticamente o imaginário de adolescentes em relação ao vestibular. Foi realizada entrevista coletiva com nove estudantes do último ano do ensino médio, mediada pelo uso do Procedimento de Desenhos-Estórias com Tema. As manifestações dos participantes sustentam a interpretação de dois campos de sentido afetivo-emocional ou inconscientes relativos: “responsabilidade individual” e “chave para o sucesso”. O quadro geral revela que a aprovação é concebida como fruto direto da competência e talento do jovem, que lhe garantiriam uma vida de sucesso profissional, segundo uma visão simplificadora, que desconsidera a importância do contexto social.

Palavras-chave:
adolescentes; vestibular; imaginário coletivo; pesquisa qualitativa; psicanálise

Resumen:

Un grupo significativo de adolescentes brasileños, pertenecientes en su mayoría a la clase media, completan el examen de ingreso a la educación superior. Este proceso puede causar ansiedad e inseguridad clínicamente relevantes. Este estudio tiene el objetivo de investigar psicoanalíticamente el imaginario de adolescentes acerca del examen de ingreso a la universidad. Se llevó a cabo entrevista grupal con nueve estudiantes de la enseñanza secundaria, mediada por el uso del Procedimiento Dibujos-Cuentos con Tema. Las manifestaciones de los participantes apoyan la interpretación de dos campos de sentido afectivo-emocional o inconsciente relativo: “responsabilidad individual” y “clave del éxito”. El panorama general muestra que la aprobación se concibe como un resultado directo de la experiencia y el talento de los jóvenes, que garantizarían una vida profesional exitosa, según una visión simplificada que no tiene en cuenta la importancia del contexto social.

Palabras clave:
adolescentes; vestibular; imaginario colectivo; investigación cualitativa; psicoanálisis

Abstract:

Each year, thousands of Brazilian adolescents sit the vestibular (university entrance exam). This process often results in clinically significant levels of anxiety and insecurity. This study consists of a psychoanalytic investigation of the imaginary of middle class adolescents in relation to the vestibular. A group interview was conducted with nine students in the last year of high school using the Thematic Story-Drawing Procedure. An examination of the participants’ manifestations resulted in the interpretive production of two affective-emotional sense fields or relative unconscious: “individual responsibility” and “the key to success”. The findings show that there is a general belief that the ability to pass the vestibular, and thus guarantee a successful professional life, is directly related to the candidate’s academic skills and capacity. This oversimplified view ignores the importance of the social context.

Keywords:
adolescents; university entrance examination; collective imaginary; qualitative research; psychoanalysis

Um grupo significativo de adolescentes, em sua maioria de classe média, realiza o processo de ingresso ao ensino superior, o vestibular, que pode provocar ansiedade e insegurança clinicamente relevantes. Em um contexto marcado por fortes desigualdades sociais, os filhos das classes mais abastadas cursam escolas particulares que os habilitam a concorrer às vagas nas universidades, enquanto aqueles que estudam em escolas públicas, são submetidos a um ensino, nos níveis fundamental e médio, que não cumpre sua função de forma aceitável, tendendo a se perpetuar, portanto, a ordem socioeconômica atual. A grande maioria da população, que depende de escola pública, tanto não se capacita a obter vaga na universidade, como deve ingressar mais cedo no mercado de trabalho, via de regra em ocupações menos qualificadas, que recebem sempre pior remuneração. Desde 2001 foram implantados programas para favorecer o ingresso dessa população que, historicamente, encontra mais dificuldade para ingressar nas universidades públicas, como o sistema de cotas sociais e raciais. Porém estudos ainda debatem sobre seu papel na resolução da desigualdade entre estudantes de baixa renda e os mais abonados, e entre estudantes brancos e negros, bem como a contraposição de sistema de cotas e meritocracia no acesso à universidade (J. C. F. Araújo & Leite, 2014Araújo, J. C. F., & Leite, L. S. (2014). Avaliação da política de apoio ao estudante desenvolvida pela UNIRIO: O projeto de bolsa permanência. Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação, 22(84), 777-806. doi: 10.1590/S0104-40362014000300009
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; Griner, Sampaio, & Sampaio, 2015Griner, A., Sampaio, L. M. B., & Sampaio, R. M. B. (2015). A política afirmativa Argumento de Inclusão como forma de acesso à universidade pública: O caso da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Revista de Administração Pública, 49(5), 1291-1317. doi: 10.1590/0034-7612123593
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; Guarnieri & Melo-Silva, 2010Guarnieri, F. V., & Melo-Silva, L. L. (2010). Perspectivas de estudantes em situação de vestibular sobre as cotas universitárias. Psicologia & Sociedade, 22(3), 486-498. doi: 10.1590/S0102-71822010000300009
https://doi.org/10.1590/S0102-7182201000...
; Lima, Neves, & Silva, 2014Lima, M. E. O., Neves, P. S. C., & Silva, P. B. (2014). A implantação de cotas na universidade: Paternalismo e ameaça à posição dos grupos dominantes. Revista Brasileira de Educação, 19(56), 141-163. doi: 10.1590/S1413-24782014000100008
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; Passos, 2015Passos, J. C. (2015). Relações raciais, cultura acadêmica e tensionamentos após ações afirmativas. Educação em Revista, 31(2), 155-182. doi: 10.1590/0102-4698134242
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; Piotto & Nogueira, 2016Piotto, D. C., & Nogueira, M. A. (2016). Incluindo quem? Um exame de indicadores socioeconômicos do Programa de Inclusão Social da USP. Educação e Pesquisa, 42(3), 625-649. doi: 10.1590/S1517-9702201609134896
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; Santos & Scopinho, 2016Santos, E. F., & Scopinho, R. A. (2016). Desigualdades raciais, mérito e excelência acadêmica: Representações sociais em disputa. Psicologia: Ciência e Profissão, 36(2), 267-279. doi: 10.1590/1982-3703000532014
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; Silva & Silva, 2012Silva, P. B., & Silva, P. (2012). Representações sociais de estudantes universitários sobre cotas na universidade. Fractal: Revista de Psicologia, 24(3), 525-542. doi:10.1590/S1984-02922012000300007
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).

Outro aspecto da questão reside no fato do estudo superior significar remuneração e prestigio sensivelmente maiores (Barros, 2014Barros, A. S. X. (2014). Vestibular e Enem: Um debate contemporâneo. Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação, 22(85), 1057-1090. doi: 10.1590/S0104-40362014000400009
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). Há, assim, uma valorização da formação superior, em detrimento do reconhecimento da importância de profissões de nível médio. Ora, tal situação pode ser compreendida como perversa, uma vez que desatende às necessidades da sociedade e do país na medida em que se considera que o cidadão que não alcança nível superior de instrução executa tarefas de menor importância e responsabilidade, que correspondem a ganhos muitíssimo inferiores.

Em variados setores de atividades, a necessidade de trabalhadores que desempenham tarefas que não exigem nível superior de instrução é muito maior do que a de profissionais graduados. Tomamos como normal a ideia de que os últimos devam ser melhor remunerados, e que a diferença entre os salários possa ser exorbitante (Franco & Novaes, 2001Franco, M. L. P. B., & Novaes, G. T. F. (2001). Os jovens do ensino médio e suas representações sociais. Cadernos de Pesquisa, (112), 167-183. doi: 10.1590/S0100-15742001000100009
https://doi.org/10.1590/S0100-1574200100...
; Moura, 2013Moura, D. H. (2013). Ensino médio integrado: Subsunção aos interesses do capital ou travessia para a formação humana integral? Educação e Pesquisa, 39(3), 705-720. doi: 10.1590/S1517-97022013000300010
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). Contudo, se a questão for examinada com cautela, logo perceberemos que o sistema atualmente vigente tende a se tornar cada vez mais problemático. Tal quadro aponta, a nosso ver, para a necessidade de aperfeiçoamento do ensino em níveis fundamental e médio, que deveria incluir tanto capacitação técnica como formação de cultura geral, que favoreça o exercício da autonomia pessoal e da cidadania (Ciavatta & Ramos, 2011Ciavatta, M., & Ramos, M. (2011). Ensino médio e educação profissional no Brasil: Dualidade e fragmentação. Retratos da Escola, 5(8), 27-41. doi: 10.22420/rde.v5i8.45
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; Franco & Novaes, 2001Franco, M. L. P. B., & Novaes, G. T. F. (2001). Os jovens do ensino médio e suas representações sociais. Cadernos de Pesquisa, (112), 167-183. doi: 10.1590/S0100-15742001000100009
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; Moura, 2013Moura, D. H. (2013). Ensino médio integrado: Subsunção aos interesses do capital ou travessia para a formação humana integral? Educação e Pesquisa, 39(3), 705-720. doi: 10.1590/S1517-97022013000300010
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). Por outro lado, exige uma revisão da ideia a respeito das atuais diferenças salariais, entre universitários e não universitários, num sentido de superação de desproporções que atingem a própria dignidade dos trabalhadores.

Entretanto, com as diretrizes em vigor, prometendo, de modo populista, facilitar o acesso de jovens de classes desfavorecidas ao ensino superior, ao invés de trabalhar com políticas públicas de aperfeiçoamento e valorização do ensino médio, estas se conjugam perversamente com a proliferação de faculdades particulares. Com algumas poucas exceções, são empresas pouco comprometidas com educação de qualidade. Deste modo, enquanto são muitas as faculdades de qualidade discutível, na verdade é relativamente escassa a oferta de vagas em boas universidades (Chaves & Amaral, 2016Chaves, V. L. J., & Amaral, N. C. (2016). Política de expansão da educação superior no Brasil - o PROUNI e o FIES como financiadores do setor privado. Educação em Revista, 32(4), 49-72. doi: 10.1590/0102-4698162030
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; Ribeiro & Guzzo, 2017Ribeiro, F. M., & Guzzo, R. S. L. (2017). Consciência de estudantes prounistas sobre sua inserção no ensino superior. Psicologia: Ciência e Profissão, 37(2), 418-431. doi: 10.1590/1982-3703001472016
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; Sguissardi, 2015Sguissardi, V. (2015). Educação superior no Brasil. Democratização ou massificação mercantil? Educação & Sociedade, 36(133), 867-889. doi: 10.1590/ES0101-73302015155688
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). Assim, os adolescentes de classe média, que finalizam um bom ensino médio, numa escola particular de qualidade, provavelmente estarão em situação psicologicamente desconfortável, a partir da qual podem emergir queixas de insegurança e ansiedade, que motivam eventualmente demandas à clínica psicológica. É comum que muitos adolescentes, após concluírem o ensino médio, frequentem durante um, dois ou ainda mais anos um curso preparatório para se submeter a essa prova vestibular, até conseguirem ingressar na universidade desejada (Terra, Vieira, Costa, Terra, & Freire, 2013Terra, D. H. P., Vieira, G. A., Costa, A. M. D. D., Terra, F. S., & Freire, G. E. R. (2013). Ansiedade e depressão em vestibulandos. Odontologia Clínico-Científica (Online), 12(4), 273-276. Recuperado de http://revodonto.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-38882013000400007&lng=pt
http://revodonto.bvsalud.org/scielo.php?...
).

A adolescência é uma fase marcada por experiências importantes, que assumem diferentes feições conforme a condição socioeconômica do indivíduo. Assim, enquanto alguns vivenciam esta passagem por meio dos primeiros namoros, da finalização do ensino médio, do exame vestibular e dos primeiros anos de faculdade, outros deixam de estudar, entram no mercado de trabalho, estabelecem relacionamentos conjugais e podem chegar rapidamente à maternidade e paternidade (Melsert & Bock, 2015Melsert, A. L. M., & Bock, A. M. B. (2015). Dimensão subjetiva da desigualdade social: Estudo de projetos de futuro de jovens ricos e pobres. Educação e Pesquisa, 41(3), 773-790. doi: 10.1590/S1517-9702201507135302
https://doi.org/10.1590/S1517-9702201507...
; Patias, Fiorin, Lima, & Dias, 2014Patias, N. D., Fiorin, P. C., Lima, L. S., & Dias, A. C. G. (2014). O fenômeno da parentalidade durante a adolescência: Reflexões sobre relações de gênero. Revista da SPAGESP, 15(2), 45-62. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-29702014000200005&lng=pt
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
). Verificamos, assim, que o modo como a adolescência é vivida está profundamente associada aos contextos sociais, econômicos, culturais, históricos e geopolíticos em que ocorre (Montezi, Barcellos, Ambrósio, & Aiello-Vaisberg, 2013Montezi, A. V., Barcellos, T. F., Ambrósio, F. F., & Aiello-Vaisberg, T. M. J. (2013). Linha de passe: Adolescência e imaginário em um filme brasileiro. Psicologia em Revista, 19(1), 74-88. doi: 10.5752/P.1678-9563.2013v19n1p74
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; Tachibana, Montezi, Barcelos, Sirota, & Aiello-Vaisberg, 2015Tachibana, M., Montezi, A. V., Barcelos, T. F., Sirota, A., & Aiello-Vaisberg, T. M. J. (2015). Who are the teenagers of today? Collective imaginary of Brazilian teachers. International Journal of Information and Education Technology, 5(1), 47-49. doi: 10.7763/IJIET.2015.V5.474
https://doi.org/10.7763/IJIET.2015.V5.47...
).

Considerando as especificidades do processo vestibular no Brasil, privilegiou-se, neste trabalho, o estudo da literatura científica nacional, tal como se organiza, de modo bastante satisfatório, nas bases Scientific Eletronic Library Online (SciELO), Periódicos Eletrônicos de Psicologia (PePSIC) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Quando buscamos estudos brasileiros, indicando, como palavras-chave, os termos “vestibular e estudantes” e “vestibulandos” e refinamos a busca com o ano de publicação a partir de 2012, encontramos três trabalhos na base SciELO. Cervi (2013Cervi, E. U. (2013). Ações afirmativas no vestibular da UFPR entre 2005 a 2012: Da política afirmativa racial à política afirmativa de gênero. Revista Brasileira de Ciência Política, (11), 63-88. doi: 10.1590/S0103-33522013000200003
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) discute os processos de admissão aos cursos universitários a partir da adoção do programa de cotas raciais e sociais, enquanto Barros (2014Barros, A. S. X. (2014). Vestibular e Enem: Um debate contemporâneo. Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação, 22(85), 1057-1090. doi: 10.1590/S0104-40362014000400009
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) discute a eficácia e legitimidade dos processos seletivos para as universidades e Beraldi, Gagliardi Filho, Nunes e Gannam (2015Beraldi, G. H., Gagliardi Filho, J. C., Nunes, M. P. T., & Gannam, S. (2015). Gender might be factor for student admission in two Brazilian medical schools. Revista Brasileira de Educação Médica, 39(2), 268-275. doi: 10.1590/1981-52712015v39n2e00162014
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) investigam se o gênero é um fator determinante na admissão do vestibular de Medicina. No portal PePSIC foi localizado o artigo de Baccaro e Shinyashiki (2014Baccaro, T. A., & Shinyashiki, G. T. (2014). Relação entre desempenho no vestibular e rendimento acadêmico no ensino. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 15(2), 165-176. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902014000200007&lng=pt&tlng=pt
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
), que investiga a relação entre o desempenho no vestibular e o rendimento acadêmico dos alunos. Pesquisa na base de dados LILACS possibilitou acesso a três estudos: M. C. Araújo et al. (2012Araújo, M. C., França, N. M., Madeira, F. B., Sousa Júnior, I., Silva, G. C. B., Silva, E. F. R., & Prestes, J. (2012). Efeitos do exercício físico sobre os níveis de estresse em vestibulandos de Teresina-PI. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, 20(3), 14-26. Recuperado de https://portalrevistas.ucb.br/index.php/RBCM/article/view/3094
https://portalrevistas.ucb.br/index.php/...
) e Terra et al. (2013Terra, D. H. P., Vieira, G. A., Costa, A. M. D. D., Terra, F. S., & Freire, G. E. R. (2013). Ansiedade e depressão em vestibulandos. Odontologia Clínico-Científica (Online), 12(4), 273-276. Recuperado de http://revodonto.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-38882013000400007&lng=pt
http://revodonto.bvsalud.org/scielo.php?...
) avaliam ansiedade, depressão e estresse em vestibulandos; Valore e Cavallet (2012Valore, L. A., & Cavallet, L. H. R. (2012). Escolha e orientação profissional de estudantes de curso pré-vestibular popular. Psicologia & Sociedade, 24(2), 354-363. doi: 10.1590/S0102-71822012000200013
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) investigam fatores determinantes na escolha profissional de jovens das camadas desfavorecidas.

Chama a atenção o fato de que apenas dois artigos abordam aspectos emocionais dos adolescentes que estão se preparando ou prestando o exame vestibular. Por outro lado, constatamos que grande parte dos pesquisadores têm se dedicado ao estudo da implantação do sistema de cotas para ingresso no ensino superior. Quando utilizamos a palavra-chave “cotas” o número de produções aumenta significativamente nas três bases de dados, indicando que o interesse atual se volta para o problema das diferentes oportunidades de acesso às instituições de ensino superior de qualidade.

De nossa parte, consideramos que a experiência emocional dos adolescentes, diante do exame vestibular, configurar-se-á a partir de sua história de vida, dos vínculos que mantém com os pais e a família, mas também a partir de crenças, ideias e fantasias que circulam no ambiente social. O presente estudo tem como objetivo investigar psicanaliticamente o imaginário de adolescentes de classe média em relação ao vestibular, considerando que este é o grupo que usualmente se dirige ao ensino superior em instituições públicas e privadas.

Método

Esta pesquisa se organiza, metodologicamente, como estudo qualitativo, na medida em que investiga significações de experiências e atos humanos, compreendidos como fenômenos que se dão de modo inevitavelmente contextualizado. Como sabemos, este tipo de pesquisa demanda a adoção de uma perspectiva teórico-metodológica que deve ser claramente enunciada pelos pesquisadores (Gale & Bermudez, 2008Gale, J. E., & Bermudez, J. M. (2008). Clinical research. In L. M. Given (Ed.), The SAGE encyclopedia of qualitative research methods (pp. 79-83). Thousand Oaks, CA: Sage. ).

No que tange à nossa proposta, devemos esclarecer que temos trabalhado de acordo com o referencial psicanalítico. Esta, contudo, é uma informação insuficiente, pois considera-se que, atualmente, o termo psicanálise cobre uma diversidade muito grande de perspectivas teórico-metodológicas. Cumpre, portanto, declarar que adotamos como perspectiva a psicanálise dramática e intersubjetiva, proposta por Bleger (1963/1984Bleger, J. (1984). Psicologia da conduta (E. O. Diehl, Trad.). Porto Alegre, RS: Artes Médicas. (Trabalho original publicado em 1963)), que mediante o uso do método psicanalítico de investigação, elabora modelos compreensivos, que incluem a dimensão inconsciente, sobre fenômenos humanos. Sintonizadas com esta perspectiva teórico-metodológica, temos utilizado uma forma precisa de operacionalização do método psicanalítico, que permite seu uso fora do setting de atendimento, em entrevistas, individuais e coletivas, bem como o estudo de produções culturais (Bleger, 1980Bleger, J. (1980). Temas em psicologia: Entrevistas e grupos (R. M. M. Moraes, Trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes.; Gallo-Belluzzo, Corbett, & Aiello-Vaisberg, 2013Gallo-Belluzzo, S. R., Corbett, E., & Aiello-Vaisberg, T. M. J. (2013). The first experience of clinical practice on psychology students’ imaginary. Paidéia (Ribeirão Preto), 23(56), 389-396. doi: 10.1590/1982-43272356201313
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; Schulte, Gallo-Belluzzo, & Aiello-Vaisberg, 2016Schulte, A. A., Gallo-Belluzzo, S. R., & Aiello-Vaisberg, T. (2016). Postagens em blogs pessoais: Aproximação do acontecer humano em pesquisas. Psicologia Revista, 25(2), 227-241. Recuperado de https://revistas.pucsp.br/index.php/psicorevista/article/view/30138/21350
https://revistas.pucsp.br/index.php/psic...
; Simões, Ferreira-Teixeira, & Aiello-Vaisberg, 2014Simões, C. H. D., Ferreira-Teixeira, M. C., & Aiello-Vaisberg, T. M. J. (2014). Imaginário coletivo de profissionais de saúde mental sobre o envelhecimento. Boletim de Psicologia, 64(140), 65-77. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0006-59432014000100006&lng=pt&tlng=pt
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
).

O conceito de imaginário coletivo tem-se espraiado pelo campo das ciências humanas e da filosofia há algumas décadas, de modo que é hoje copiosa a literatura que dele faz uso. Assim, o preciso sentido com que esta noção é utilizada depende do contexto teórico em que é empregada. No presente caso, o termo deve ser definido como conduta, no sentido blegeriano, vale dizer, como manifestação humana dotada de sentido, mesmo quando eventualmente não consciente, de caráter inerentemente vincular. Abrange desde a atividade propriamente imaginativa, que se dá como fenômeno psíquico, até atos concretos, que expressam modos como situações inter-humanas são vivenciadas (Bleger, 1963/1984Bleger, J. (1984). Psicologia da conduta (E. O. Diehl, Trad.). Porto Alegre, RS: Artes Médicas. (Trabalho original publicado em 1963); Gallo-Belluzzo et al., 2013Gallo-Belluzzo, S. R., Corbett, E., & Aiello-Vaisberg, T. M. J. (2013). The first experience of clinical practice on psychology students’ imaginary. Paidéia (Ribeirão Preto), 23(56), 389-396. doi: 10.1590/1982-43272356201313
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).

Como todas as condutas humanas, os imaginários coletivos emergem a partir de campos intersubjetivos, que denominamos “campos de sentido afetivo-emocional” (Aiello-Vaisberg, 2003Aiello-Vaisberg, T. M. J. (2003). Ser e fazer: Interpretação e intervenção na clínica winnicottiana. Psicologia USP, 14(1), 95-128. doi:10.1590/S0103-65642003000100007
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). Segundo Bleger (1963/1984Bleger, J. (1984). Psicologia da conduta (E. O. Diehl, Trad.). Porto Alegre, RS: Artes Médicas. (Trabalho original publicado em 1963)): todas as manifestações humanas, além de estarem sempre dotadas de sentido, correspondem a eventos intersubjetivos, inter-humanos. A ideia de campo de sentido afetivo-emocional deriva diretamente das formulações deste autor, que distingue três tipos de campos: o geográfico ou ambiente, que corresponde ao que percebe um observador relativamente externo a dado acontecer, o campo psicológico, que tem caráter eminentemente vivencial, e o campo da consciência, que é a porção do campo vivencial conscientemente apreendida. Todas as condutas emergem a partir de campos psicológico-vivenciais, vale dizer, de campos de sentido afetivo-emocional (Corbett, Ambrosio, Gallo-Belluzzo, & Aiello-Vaisberg, 2014Corbett, E., Ambrosio, F. F., Gallo-Belluzzo, S. R., & Aiello-Vaisberg, T. M. J. (2014). Produções imaginativas sobre dificuldades sexuais: Um estudo. Psicologia & Sociedade, 26(3), 756-765. doi: 10.1590/S0102-71822014000300024
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; Tachibana, Ambrosio, Beaune, & Aiello-Vaisberg, 2014Tachibana, M., Ambrosio, F. F., Beaune, D., & Aiello-Vaisberg, T. M. J. (2014). O imaginário coletivo da equipe de enfermagem sobre a interrupção da gestação. Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica, 17(2), 285-297. doi: 10.1590/S1516-14982014000200009
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).

Defendemos, na pesquisa qualitativa com método psicanalítico, que os conceitos de conduta e campo são solidários (Aiello-Vaisberg & Machado, 2008Aiello-Vaisberg, T. M. J., & Machado, M. C. L. (2008). Pesquisa psicanalítica de imaginários coletivos à luz da teoria dos campos. In J. Monzani & L. R. Monzani (Orgs.), Olhar: Fabio Herrmann - Uma viagem psicanalítica (pp. 311-324). São Paulo, SP: Pedro e João Eds.), na medida em que subscrevemos um modo de pensar, que se propagou como uma tradição argentina de pensamento, desenvolvida nos anos sessenta do século passado, a partir de bases fenomenológicas merleau-pontyanas (Bernardi, 2009Bernardi, B. L. (2009). Introducción al trabajo de Madeleine y Willy Baranger: La situación analítica como campo dinâmico. Revista Uruguaya de Psicoanálisis, (108), 198-222. Recuperado de http://www.apuruguay.org/apurevista/2000/16887247200910810.pdf
http://www.apuruguay.org/apurevista/2000...
; Civitarese, 2014Civitarese, G. (2014). Between Other and Other: Merleau-Ponty as a precursor of the analytic field. Fort Da, 20(1), 9-29. Recuperado de http://pep.gvpi.net/document.php?id=fd.020a.0009a&type=hitlist&num=54&query=zone1%2Cparagraphs%7Czone2%2Cparagraphs%7Cjournal%2Cfd%7Cpagenum%2C2#hit1
http://pep.gvpi.net/document.php?id=fd.0...
; Churcher, 2008Churcher, J. (2008). Some notes on the English translation of the analytic situation as a dynamic field by Willy and Madeleine Baranger. International Journal of Psychoanalysis, 89(4), 785-793. doi: 10.1111/j.1745-8315.2008.00073.x
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). Nesta tradição de pensamento, o campo foi proposto, de modo praticamente simultâneo, segundo dois pontos de vista: (1) como algo que se configuraria no setting analítico (Baranger & Baranger, 1962Baranger, M., & Baranger, W. (1962). La situación analítica como campo. Revista Uruguaya de Psicoanalisis, 4(1), 3-54. Recuperado de http://www.apuruguay.org/apurevista/1960/1688724719611962040101.pdf
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) e (2) como fenômeno subjacente a toda e qualquer conduta humana (Bleger, 1963/1984Bleger, J. (1984). Psicologia da conduta (E. O. Diehl, Trad.). Porto Alegre, RS: Artes Médicas. (Trabalho original publicado em 1963)).

Participantes

Convidamos uma classe de terceiro ano de ensino médio, de um colégio particular do interior do estado de São Paulo, formada por catorze alunos com idades entre dezesseis e dezenove anos, a participarem de uma entrevista coletiva de pesquisa. Esclarecemos que se tratava de uma atividade optativa e que recusas eventuais seriam respeitadas e não resultariam em prejuízo de tipo algum. Do total dos convidados, nove aceitaram colaborar, com o consentimento de seus pais ou responsáveis. Este conjunto de participantes foi se mostrando, ao longo da pesquisa e no contexto na qual se inseriu, significativo e suficiente (O’Reilly & Parker, 2012O’Reilly, M., & Parker, N. (2012). Unsatisfactory saturation: A critical exploration of the notion of saturated sample sizes in qualitative research. Qualitative Research, 13(2), 190-197. doi: 10.1177/1468794112446106
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) para o exercício das associações e interpretações, tal como demanda o método psicanalítico em pesquisas qualitativas.

Instrumentos

Realizamos uma entrevista coletiva (Duchesne & Haegel, 2008Duchesne, S., & Haegel, F. (2008). L’entretien collectif: L’enquête et ses méthods. Paris, France: Armand Colin.), organizada ao redor do uso do Procedimento de Desenho-Estória com Tema, desenvolvido por Aiello-Vaisberg (1999Aiello-Vaisberg, T. M. J. (1999). Encontro com a loucura: Transicionalidade e ensino de psicopatologia (Tese de Livre-Docência). Recuperado de http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/livredocencia/47/tde-24022006-090139/pt-br.php
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), a partir do instrumento diagnóstico idealizado por Trinca (1976Trinca, W. (1976). Investigação clínica da personalidade: O desenho livre como estímulo da apercepção temática. Belo Horizonte, MG: Interlivros.). Seguimos, portanto, um delineamento que se inscreve no cuidado de evitar abordagens exclusivamente verbais, que bem se prestam a comunicações racionais e politicamente corretas, mas podem não revelar importantes aspectos relacionados a registros afetivo-emocionais (Ávila, Tachibana, & Aiello-Vaisberg, 2008Ávila, C. F.,Tachibana, M., & Aiello-Vaisberg, T. M. J. (2008). Qual é o lugar do aluno com deficiência? O imaginário coletivo de professores sobre a inclusão escolar. Paidéia (Ribeirão Preto), 18(39), 155-164. doi:10.1590/S0103-863X2008000100014
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; Gallo-Belluzzo et al., 2013Gallo-Belluzzo, S. R., Corbett, E., & Aiello-Vaisberg, T. M. J. (2013). The first experience of clinical practice on psychology students’ imaginary. Paidéia (Ribeirão Preto), 23(56), 389-396. doi: 10.1590/1982-43272356201313
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). Posteriormente ao encontro com os participantes foi elaborada, de memória, uma narrativa transferencial. Trata-se de modalidade de registro que, partindo da ideia de que aquilo que é mais significativo gera impactos contratransferenciais importantes, dispensa a tomada de notas durante a realização da entrevista e demanda uma escrita em estado de atenção flutuante (Gallo-Belluzzo et al., 2013Gallo-Belluzzo, S. R., Corbett, E., & Aiello-Vaisberg, T. M. J. (2013). The first experience of clinical practice on psychology students’ imaginary. Paidéia (Ribeirão Preto), 23(56), 389-396. doi: 10.1590/1982-43272356201313
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).

Procedimento

Coleta de Dados. Operacionalizamos o método psicanalítico em termos da diferenciação de três procedimentos investigativos, a saber: de configuração, registro e interpretação da entrevista. A démarche investigativa se completa com um procedimento metodológico suplementar, não mais psicanalítico, na medida em que dispensa atenção flutuante e associação livre de ideias, mas propriamente dialógico e reflexivo, durante o qual revisitamos as interpretações à luz de contribuições de outros autores, psicanalíticos ou não. A coleta de dados consistiu nos dois primeiros procedimentos: de configuração e registro. O procedimento investigativo de configuração da entrevista realizou-se por meio da entrevista coletiva, organizada ao redor do uso do Procedimento de Desenho-Estória com Tema. O procedimento utilizado consistiu na solicitação aos participantes de que desenhassem, individualmente, em uma folha sulfite, “um adolescente que vai prestar o vestibular”. A seguir, foram convidados a inventar e escrever, no verso da folha, uma história sobre a figura desenhada. O procedimento investigativo de registro da entrevista, no presente caso, consistiu na elaboração da narrativa transferencial. Por outro lado, os próprios desenhos e histórias se constituíram como registros importantes, por meio dos quais os participantes souberam objetivar o que imaginaram diante do tema proposto.

Análise dos Dados. Consistiu nos procedimentos de interpretação e interlocuções reflexivas. O procedimento investigativo de interpretação demandou que narrativa, desenhos e histórias fossem revistos pelos pesquisadores em estado de atenção flutuante e de associação livre. Destacamos que as produções dos participantes individuais foram tomadas como expressão de uma pessoalidade coletiva grupal, neste caso o adolescente, segundo a visão do sujeito transindividual, proposta por Goldmann (1971Goldmann, L. (1971). Pensée dialetique et sujet transindividuel. In La création culturelle dans la société moderne (pp. 121-154). Paris, France: Denoël.), que converge com a noção de que o fenômeno da conduta pode ser abordado em âmbitos individuais e coletivos (Bleger, 1963/1984Bleger, J. (1984). Psicologia da conduta (E. O. Diehl, Trad.). Porto Alegre, RS: Artes Médicas. (Trabalho original publicado em 1963)). A produção interpretativa de campos de sentido afetivo-emocional, ou inconscientes relativos, pode ser alcançada por meio da observância das recomendações de Herrmann (1979Herrmann, F. A. (1979). Andaimes do real: Uma revisão crítica do método da psicanálise. São Paulo, SP: E.P.U.), “deixar que surja”, “tomar em consideração” e “completar a configuração de sentido”. Finalmente, o procedimento investigativo de interlocuções reflexivas consiste em uma etapa investigativa, na qual ocorre uma suspensão da atenção flutuante e da associação livre de ideias, para que tenha lugar uma retomada do pensamento conceitual e teorizante, tendo em vista considerar ideias, teorias e pensamentos que possam auxiliar na compreensão das interpretações que formulamos. Este procedimento investigativo corresponde à discussão dos resultados.

Considerações Éticas

O projeto de pesquisa foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Faculdade de Jaguariúna (CAAE: 31095814.0.0000.5409).

Resultados

A consideração do material, constituído pelos desenhos-estórias e a narrativa transferencial da entrevista coletiva, permitiu a produção interpretativa de dois campos de sentido afetivo-emocional, que denominamos: “Responsabilidade individual” e “Chave para o sucesso”.

O campo denominado “Responsabilidade individual” organiza-se em torno da crença de que a escolha da profissão e a conquista da vaga na universidade dependem única e exclusivamente do jovem. Como exemplo de produção que se encontra nesse campo, temos o desenho que apresenta, à esquerda, um edifício, com uma grande porta aberta no térreo, dentro do qual estão algumas pessoas. Sobre a porta há uma faixa, onde a palavra vestibular está escrita com tipos grandes. Nas janelas dos três andares do edifício veem-se pessoas sentadas, em ambiente aparentemente escolar, enquanto uma jovem se mantém do lado de fora. Todos os personagens apresentam pontos de interrogação sobre suas cabeças, sendo que a moça que está no exterior do imóvel tem um balão ligado à sua figura. Nele encontramos duas mãos segurando uma folha, na qual a palavra “aprovada” está escrita em letras maiúsculas. A história que acompanha este desenho é a seguinte:

No desenho mostra uma menina insegura, esforçada, que acredita que irá conseguir passar no vestibular. Durante anos de estudo, de cada vez se esforçando mais, ela acredita que realizará seu grande sonho, passar na faculdade de seus sonhos. Em qualquer situação, temos que acreditar em nós, e pensamos sempre que somos capazes de conseguir aquilo que queremos muito. E isso resume o desenho, com ansiedade, ela está confiante que irá conseguir, e poder mudar sua vida.

Em outro desenho, emergente desse mesmo campo, vemos uma menina com dois balões de pensamentos. No da esquerda, figura uma tela de computador, no qual aparece a palavra “Facebook” e uma televisão com controle remoto. No balão à direita, podemos ler o seguinte: “estudo + estudo = vestibular aprovada”. A história correspondente é a seguinte:

A Escola sempre foi difícil, mas mesmo assim sempre dava jeito de tirar nota, já o vestibular todo mundo fala que é super difícil, e que quem não estuda pelo menos 2 horas por dia não vai conseguir passar. O vestibular pode até ser possível, porém com a pressão que todos ficam fazendo em nós parece que ele será impossível. Mesmo com toda a tensão com o vestibular, temos que pensar que sim o vestibular é possível, as distrações iram cada vez aparecer mais, mas temos que resistir e fazer de tudo para estudar cada vez mais e tentar passar na Universidade dos seus sonhos.

O campo de sentido afetivo-emocional denominado “Chave para o sucesso” se organiza ao redor da crença de que o diploma de nível superior garante sucesso profissional e ascensão social. Como exemplo de produção emergente deste campo, lembramos o desenho de um rapaz diante de uma estrada, que se divide em 3 direções: a primeira termina numa porta onde há a inscrição “Universidade dos superdotados”, a segunda termina em outra porta com a inscrição “Universidade dos gênios” e a terceira termina num cifrão (“$”). A história que acompanha este desenho é a seguinte:

Um jovem de 17 anos que está prestes a prestar o vestibular, que para ele irá mudar a sua vida, pois é um jovem de família pobre que não pode pagar uma faculdade particular, e sua única saída é entrar em uma faculdade do governo, mas ele sabe que será muito difícil, e que se ele passar provavelmente ganhará um bom salário e poderá sustentar a sua família.

Transcrevemos, agora, mais uma história que emerge do mesmo campo “Chave para o sucesso”:

Se me perguntarem por que quero fazer uma faculdade, humm . . . É um dos meus maiores sonhos! Talvez até mesmo o primeiro. Na verdade é o primeiro. Preciso dele para realizar meus demais sonhos. Também quero ser alguém na vida. Quero ter sucesso. Ser realizado no meu emprego. E tantas outras coisas boas que uma faculdade nos trás ao longo da vida.

Discussão

Os campos de sentido afetivo-emocional, que pudemos produzir interpretativamente a partir do conjunto dos desenhos-estórias e da narrativa transferencial, possibilitam a visão de um imaginário de adolescentes sobre o vestibular que expressa sentimentos de dúvida quanto às suas capacidades pessoais, gerando ansiedade e sofrimento, como podemos verificar, ao analisar cada campo.

Existe aqui um aspecto, expresso no primeiro campo “Responsabilidade individual”, relativo à escolha da profissão, que merece atenção: sendo um adolescente de classe média, o vestibulando é lançado numa situação paradoxal, na medida em que é constrangido a ser livre. Esta liberdade corresponde, na verdade, à exigência de articular, de modo saudável, seus próprios gostos com a aquisição da capacidade de seu próprio sustento, bem como dos filhos que poderá vir a ter no futuro. Compreende-se, portanto, o aparecimento de temor de não se encontrar apto a tomada de decisão. Na verdade, a situação, como um todo que inclui definição da profissão e capacidade de obter vaga, aprender e conseguir um bom emprego, acaba gerando ansiedade e se expressando nas produções imaginativas como crença de que conta apenas consigo próprio, com seus recursos intelectuais e disciplinares, para conduzir a própria vida. Barros (2014Barros, A. S. X. (2014). Vestibular e Enem: Um debate contemporâneo. Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação, 22(85), 1057-1090. doi: 10.1590/S0104-40362014000400009
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) argumenta que o nível de escolaridade da população brasileira é baixo e desigual, que favorece a eliminação precoce dos estudantes oriundos de instituições de ensino básico que não oferecem ensino de qualidade. A legitimidade do mérito exerce uma dupla função, segundo Barros: o resultado é considerado justo para aqueles que foram selecionados, e recebem o reconhecimento por parte das pessoas. O mau resultado é considerado merecido para aqueles que não obtiveram sucesso, pois circula a crença de que todos os candidatos tiveram oportunidades iguais, “mas somente os melhores souberam aproveitá-las, se prepararam adequadamente e se esforçaram” (p. 1084). Concordamos que estas condições incertas e desiguais do ensino básico geram insegurança e ansiedade nos estudantes.

O segundo campo, “Chave para o sucesso”, traduz a crença de que a formação superior determina uma vida profissional exitosa que, por seu turno, abriria portas para felicidade em outros setores da vida. Sendo assim, aprovação no vestibular e sucesso vinculam-se fortemente, trazendo, por outro lado, o avesso atemorizante segundo o qual a reprovação selaria um destino totalmente infeliz. A importância da formação universitária como condição de empregabilidade e de inserção na vida social é destacada por Santos e Scopinho (2016Santos, E. F., & Scopinho, R. A. (2016). Desigualdades raciais, mérito e excelência acadêmica: Representações sociais em disputa. Psicologia: Ciência e Profissão, 36(2), 267-279. doi: 10.1590/1982-3703000532014
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) em seu estudo sobre as ações afirmativas de cunho social e racial no ensino superior, discutindo sobre a crença do mérito individual como medida de desempenho nos processos avaliativos, com a afirmação de que o merecimento baseado em desempenho individual só pode ser considerado como medida de avaliação quando se toma como referência sujeitos com históricos semelhantes de preparação para o exame vestibular. Essas diferenças não são encontradas apenas entre alunos que cursaram escola particular e aqueles que cursaram escola pública, mas a diferença de qualidade de ensino existe também entre as escolas particulares.

Na verdade, um correto dimensionamento do que significa habitar tais campos pode ser melhor obtido se nos lembrarmos de que tais crenças se encontram enraizadas em níveis psíquicos inconscientes, lembrando que definimos psique não como aparelho interno individual e sim como processo de produção de sentido (Herrmann, 1979Herrmann, F. A. (1979). Andaimes do real: Uma revisão crítica do método da psicanálise. São Paulo, SP: E.P.U.). Por este motivo, os psicanalistas muitas vezes falam em fantasias, cujo caráter tende a ser dramaticamente radical, transformando o “não” em “nunca”, o “difícil” em “impossível”.

Por outro lado, pensamos ser importantíssimo lembrar que as fantasias não se constituem como reino apartado da realidade compartilhada. Assim, cabe admitir que os jovens brasileiros lidam, de fato, com uma incerteza relativa ao desempenho na prova. Defendem-se, muitas vezes, por meio de condutas que lembram atletas de alto rendimento, antes de campeonatos e políticos, em campanha eleitoral, que sempre se declaram, em entrevistas para a mídia, como inteiramente confiantes na obtenção de bons resultados. Assim, frases como “temos que acreditar em nós”, “pensamos sempre que somos capazes de conseguir aquilo que queremos muito” ou “temos que pensar que é possível passar no vestibular”, parecem defesas por meio das quais o bom êxito pode ser conjurado e o azar afastado. Este quadro nos autoriza afirmar que o campo “Chave para o sucesso” organiza-se enquanto defesa hipomaníaca contra ansiedades persecutórias. O adolescente imagina-se num futuro de sucesso, como forma de evitar a ansiedade que predomina no tempo presente.

A análise do material colhido e identificado como pertencente a este campo mostra que o adolescente praticamente ignora uma fase importante de sua formação e desenvolvimento profissional, que é a vivência em uma faculdade. Assim, saltam imaginativamente do vestibular para a vida de adulto graduado, que terá dinheiro e condições materiais para cuidar da família. O processo de aprendizagem, os anos de estudo e a formação universitária, enfim, não são lembrados pelos nossos participantes. Estamos, portanto, diante de um imaginário em que dois tempos fortes se manifestam: um “quase agora” que, por ser vivido como aparentemente decisivo, causa muita ansiedade e temor, e um “futuro largo”, que parece homogeneamente definido em cores róseas ou sombrias. O tempo objetivo, dos próximos quatro ou cinco anos praticamente se desvanece como um “não-acontecer”.

Podemos, assim, concluir que nos defrontamos com um imaginário coletivo que mais expressa sofrimento e desconforto pessoal do que entusiasmo com a aproximação de uma nova fase de vida. Camps, Barcelos e Aiello-Vaisberg (2014Camps, C. I. C. M., Barcelos, T. F., & Aiello-Vaisberg, T. M. J. (2014). Atendimento ser e fazer e escolha profissional: Estudo sobre eficácia clínica. Boletim de Psicologia, 64(140), 21-32. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0006-59432014000100003&lng =pt&nrm=iso
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) que, utilizando o mesmo desenho metodológico que aqui adotamos, chegaram a achados convergentes com o quadro que encontramos, que indicam que a vigência de condições de profundas desigualdades sociais atinge duramente os jovens das classes subalternas, mas não poupa os adolescentes das classes médias. Nas pesquisas de Camps et al. (2014Camps, C. I. C. M., Barcelos, T. F., & Aiello-Vaisberg, T. M. J. (2014). Atendimento ser e fazer e escolha profissional: Estudo sobre eficácia clínica. Boletim de Psicologia, 64(140), 21-32. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0006-59432014000100003&lng =pt&nrm=iso
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), os jovens demonstram angústia diante da dúvida do que é necessário ter e/ou ser para crescer, casar-se, tornar-se um adulto, e dentre as questões apresentadas por eles, foi reconhecida a centralidade da preocupação financeira, com a crença de que escapar da miséria e ficar rico é condição essencial para uma vida respeitável.

Franco e Novaes (2001Franco, M. L. P. B., & Novaes, G. T. F. (2001). Os jovens do ensino médio e suas representações sociais. Cadernos de Pesquisa, (112), 167-183. doi: 10.1590/S0100-15742001000100009
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), ao investigarem as representações sociais de jovens do ensino médio de diferentes classes sociais, também chegaram a um cenário compatível com nossos achados, revelando angústias quanto ao futuro. Os jovens entrevistados por estes autores declararam que acreditam que a escola possibilitará melhores oportunidades de “ser alguém na vida”, “ter um futuro melhor”, “conquistar um status social privilegiado”. Tanto os jovens de classes mais favorecidas, quanto os mais carentes consideram que escola está diretamente relacionada à possibilidade de prestígio e ascensão social, condições para um viver digno.

Assim, como nos estudos de Camps et al. (2014Camps, C. I. C. M., Barcelos, T. F., & Aiello-Vaisberg, T. M. J. (2014). Atendimento ser e fazer e escolha profissional: Estudo sobre eficácia clínica. Boletim de Psicologia, 64(140), 21-32. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0006-59432014000100003&lng =pt&nrm=iso
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) e Franco e Novaes (2001Franco, M. L. P. B., & Novaes, G. T. F. (2001). Os jovens do ensino médio e suas representações sociais. Cadernos de Pesquisa, (112), 167-183. doi: 10.1590/S0100-15742001000100009
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), os campos de sentido afetivo-emocional que criamos/encontramos revelam que os adolescentes se sentem desamparados, à medida que se não forem bem-sucedidos não contarão com a possibilidade de serem apoiados por um sistema social que de fato atenda bem suas necessidades de cidadão. Desta forma, duas possibilidades surgem quanto ao seu futuro: ou conseguem ingressar numa boa universidade, e se tornam profissionais de sucesso, respeitados e valorizados ou se sentem fracassados e na impossibilidade de atendimento a necessidades básicas de sobrevivência. Esse destino dependeria, em sua crença, única e exclusivamente do esforço individual. No imaginário dos jovens jaz a perspectiva de pobreza, de desamparo ou humilhação, que remete diretamente à questão dos sofrimentos sociais. Próximos aos pensamentos de Kleinman, Das e Lock (1997Kleinman, A., Das, V., & Lock, M. M. (1997). Social suffering underlining/highlighting. Los Angeles, CA: University of California Press.) e Renault (2010Renault, E. (2010). A critical theory of social suffering. Critical Horizons, 11(2), 221-241. doi: 10.1558/crit.v11i2.221
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), temos entendido sofrimentos sociais como aqueles que decorrem de situações de opressão, discriminação e exclusão, que causam sentimentos de desamparo, humilhação e injustiça (Schulte, 2016Schulte, A. A. (2016). Maternidade contemporânea como sofrimento social em blogs brasileiros (Dissertação de Mestrado). Recuperado de http://tede.bibliotecadigital.puc-campinas.edu.br:8080/jspui/bitstream/tede/892/2/Andreia%20de%20Almeida%20Schulte.pdf/
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). Trata-se de um sofrimento que atinge a todos os jovens, atravessando as diversas classes sociais, ainda que com algumas diferenças (Franco & Novaes, 2001Franco, M. L. P. B., & Novaes, G. T. F. (2001). Os jovens do ensino médio e suas representações sociais. Cadernos de Pesquisa, (112), 167-183. doi: 10.1590/S0100-15742001000100009
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). É evidente que os jovens de classes favorecidas têm mais facilidade de acesso a boas escolas, podem se dedicar exclusivamente aos estudos, sem necessidade de trabalhar para auxiliar no sustento familiar, mas mesmos esses jovens se apresentam receosos por se sentirem despreparados, em dúvida quanto às suas capacidades pessoais, que implica em não terem recursos financeiros para realizarem seus sonhos ou seus projetos de vida. Aparentemente, o contexto social contemporâneo de nosso país, marcado por intensas desigualdades e carência de instituições seguras, contribui para intensificar dúvidas e angústias quanto ao futuro desses jovens.

Uma análise sobre o imaginário dos adolescentes sobre o vestibular, e seu impacto em suas condutas não pode se esgotar no espaço de um artigo, mas refletem importantes questões que sugerem outros estudos, como investigar o imaginário de alunos de escolas públicas sobre o vestibular, assim como estudos comparando adolescentes de diversas classes sociais.

Apesar das limitações deste estudo qualitativo, de caráter exploratório, com uma amostra específica de estudantes do final do Ensino Médio, alocados em apenas uma sala de aula de uma escola particular, é possível afirmar que o sofrimento decorrente da incerteza quanto ao futuro, do medo da pobreza, do desamparo e da exclusão social atinge não apenas os jovens oriundos das classes menos favorecidas, mas também aqueles que atualmente pertencem à classe média, pois seu destino depende apenas de seu esforço individual, de seu mérito. Espera-se que outros pesquisadores possam se valer das indicações aqui apresentadas, ampliando o debate sobre o tema, aprofundando pontos merecedores de novos estudos e questionamentos.

Referências

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    » http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/livredocencia/47/tde-24022006-090139/pt-br.php
  • Aiello-Vaisberg, T. M. J. (2003). Ser e fazer: Interpretação e intervenção na clínica winnicottiana. Psicologia USP, 14(1), 95-128. doi:10.1590/S0103-65642003000100007
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  • 1
    Gostaríamos de agradecer aos psicólogos Bruna Risquioto Batoni e Karam Valdo pela dedicação e competência demonstradas durante a coleta de dados sob a supervisão da primeira autora. Apoio: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, Processo No. 311773/2013-3, pesquisador nível I-D).
  • 5
    Como citar este artigo: Gallo-Belluzzo, S. R., Ferreira-Teixeira, M. C., & Aiello-Vaisberg, T. M. J. (2017). The imaginary of Brazilian adolescents in relation to university entrance exams: A psychoanalytic study. Paidéia (Ribeirão Preto), 27(Suppl. 1). 404-412. doi:10.1590/1982-432727s1201705

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2017

Histórico

  • Recebido
    14 Mar 2017
  • Revisado
    15 Set 2017
  • Aceito
    18 Out 2017
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