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Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada de Autorrelato - EDAO-AR: Evidências de Validade1 1 Apoio: CNPq (bolsa produtividade)

Escala de Auto-Relato de la Adaptación - EDAO-AR: Evidencias de Validez

Resumos

A Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada-Revisada (EDAO-R) fornece medida da eficácia adaptativa, entendida como o grau de sucesso obtido no enfrentamento das vicissitudes da vida. Sua avaliação baseia-se em material de entrevista clínica. O estudo teve por objetivo obter evidências de validade da versão de autorrelato da EDAO-R, ou EDAO-AR. Foram desenvolvidos itens para avaliar a adequação da adaptação de dois setores da personalidade: Afetivo-Relacional (A-R) e Produtividade (Pr). A amostra foi composta por 237 pacientes ambulatoriais e acompanhantes. Houve evidências de validade baseada na estrutura interna (consistência interna, análise fatorial, análise de agrupamentos) e validade baseada em variáveis externas (relação entre EDAO-AR e Escala de Avaliação de Sintomas-40/EAS-40). Os resultados apontaram boa consistência interna e três dimensões para ambos os setores: foco na situação problema, foco na relação interpessoal e foco no eu. Obteve-se, conforme esperado, correlações negativas entre a EDAO-AR e EAS-40. Foram feitas sugestões para a segunda versão da escala.

avaliação psicológica; psicodiagnóstico; psicologia clínica


La Escala de la Adaptación - Revisada (EDAO-R) ofrece medida de la eficacia de la adaptación, entendida como grado de éxito ante las vicisitudes de la vida. Su evaluación se basa en material de entrevista. La finalidad fue obtener evidencias de validez de una versión de auto-relato de la EDAO-R (EDAO-AR). Los ítems fueron desarrollados para evaluar la calidad de la adaptación de dos sectores de la personalidad: Afectivo-Relacional (A-R) y Productividad (Pr). La muestra abarcó a 237 pacientes de ambulatorios y cuidadores. Se obtuvo evidencias de validez basada en la estructura interna (consistencia interna, análisis factorial, conglomerados) y en variables externas (relación entre EDAO-AR y Escala de Evaluación de Sintomas-40/EAS-40). Resultados mostraron buena consistencia interna y tres dimensiones para ambos sectores: foco en la situación problema, foco en las relaciones interpersonales y foco en el yo. Se obtuvo, conforme esperado, correlaciones negativas entre EDAO-AR y EAS-40. Se hicieron sugerencias para una segunda versión

evaluación psicológica; psicodiagnóstico; psicología clínica


The Scale of Adaptation-Revised (EDAO-R) provides a measure of the adaptive efficacy, understood as the degree of success in coping with the vicissitudes of life. Its assessment is based on clinical interview material. The study aimed at obtaining evidence of the validity of a self-report version of EDAO-R, identified as EDAO-AR. Items were developed to assess the quality of adaptation of two sectors of the personality: Affective-Relational (A-R) and Productivity (Pr). Sample of 237 outpatients and caregivers. We obtained evidence of validity based on internal structure (internal consistency, factor analysis, cluster analysis), and validity based on external variables (relationship between EDAO-AR and the Assessment Symptoms Scale-40/EAS-40). Results showed good internal consistency and three dimensions for both sectors: focus on the problem situation, focus on interpersonal relationships and focus on self. Was obtained, as expected, negative correlations between EDAO-AR and EAS-40. Suggestions were made for the second version of the scale.

psychological assessment; psychodiagnosis; clinical psychology


Desenvolvida por Ryad Simon, a Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada Revisada - EDAO-R (Simon, 1997, 2005Simon, R. (2005). Psicoterapia breve operacionalizada: Teoria e técnica. São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.) tem se mostrado útil em diferentes situações e contextos, como um procedimento auxiliar na avaliação dos recursos adaptativos do indivíduo e na indicação de psicoterapias (Enéas & Yoshida, 2012Enéas, M. L. E., & Yoshida, E. M. P. (2012). Psicoterapia breve psicodinâmica de adultos. In M. E. N. Lipp & E. M. P. Yoshida (Orgs.), Psicoterapias breves: Nos diferentes estágios evolutivos (pp. 153-176). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.; Yoshida, Enéas, & Santeiro, 2010Yoshida, E. M. P., Enéas, M. L. E., & Santeiro, T. V. (2010). Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada (EDAO): Avaliação da qualidade da eficácia adaptativa. In A. A. A. Santos, F. F. Sisto, E. Boruchovitch, & E. Nascimento (Orgs.), Perspectivas em avaliação psicológica (pp. 211-228). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.; Yoshida & Rocha, 2007Yoshida, E. M. P., & Rocha, G. M. A. (2007). Avaliação em psicoterapia psicodinâmica. In J. C. Alchieri (Org.), Avaliação psicológica: Perspectivas e contextos (pp. 237-288). São Paulo, SP: Vetor.). Está baseada na concepção de que a adaptação é o resultado de um processo contínuo e permanente do indivíduo no enfrentamento das vicissitudes e na busca da preservação da vida. Para tanto, ele deve ser capaz de manter sua integridade física e psíquica (meio interno) por meio de respostas às condições externas que o modificam (Simon, 1989Simon, R. (1989). Psicologia clínica preventiva: Novos fundamentos. São Paulo, SP: EPU.). O grau de sucesso com que consegue este intento é considerado uma medida da eficácia de sua adaptação.

A avaliação da EDAO-R baseia-se em material proveniente de entrevista clínica, em que se consideram as respostas adaptativas do indivíduo a cada um dos seguintes setores da personalidade: Afetivo-Relacional (A-R); Produtividade (Pr); Sociocultural (S-C) e Orgânico (Or). O setor A-R corresponde ao conjunto de sentimentos, atitudes e ações do indivíduo nos âmbitos inter e intrapessoal; o da Pr, aos sentimentos, atitudes e ações relativos à principal atividade laboral, artística, filosófica ou religiosa; o S-C os concernentes ao contexto social, valores e costumes da cultura em que vive; e o Or os correspondentes ao funcionamento e cuidados com o próprio corpo, sono, sexo e indumentária (Simon, 1989Simon, R. (1989). Psicologia clínica preventiva: Novos fundamentos. São Paulo, SP: EPU.). A avaliação das respostas de cada setor permite chegar a uma classificação geral da eficácia adaptativa. Para tanto, as respostas devem ser examinadas segundo três critérios: o grau de satisfação que propiciam ao sujeito; a medida em que fornecem solução para a situação enfrentada; e o grau em que se compatibilizam, ou não, com as normas culturais e valores do indivíduo. Quando os três critérios são atendidos, a qualidade da adaptação do setor é considerada adequada; se apenas dois destes critérios são satisfeitos ela é pouco-adequada; se apenas um dos critérios é satisfeito, diz-se que é pouquíssimo adequada (Simon, 1989Simon, R. (1989). Psicologia clínica preventiva: Novos fundamentos. São Paulo, SP: EPU.). Nesse processo, atribui-se escores apenas aos setores A-R e Pr, considerados mais relevantes na determinação da configuração adaptativa do sujeito. Quanto aos demais, são avaliados apenas do ponto de vista qualitativo (Simon, 1997, 2005Simon, R. (2005). Psicoterapia breve operacionalizada: Teoria e técnica. São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.).

A necessidade de entrevista individual para a avaliação da EDAO-R em circunstâncias em que não se dispõe de tempo suficiente para sua realização constitui fator limitador para o seu uso. Pensando em superar essa limitação e oferecer mais uma alternativa a profissionais e pesquisadores, desenvolveu-se uma versão de tipo autorrelato da EDAO denominada Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada de Autorrelato (EDAO-AR).

Com base nos critérios propostos por Simon (1989Simon, R. (1989). Psicologia clínica preventiva: Novos fundamentos. São Paulo, SP: EPU.) para avaliar a eficácia adaptativa, foram criados itens que expressavam situações-problema relativas aos setores A-R e da Pr que, conforme referido, são considerados mais relevantes na determinação da configuração adaptativa e são avaliados de forma quantitativa na EDAO-R. E como alternativas de respostas aos itens, foram propostas soluções adaptativas divididas segundo os diferentes níveis de adequação: adequado, pouco-adequado e pouquíssimo adequado. O conjunto de itens de cada um dos setores foi considerado como instrumento independente, caracterizando cada qual uma escala para a avaliação de uma das dimensões do construto eficácia adaptativa. Este expediente foi utilizado com base em razões teóricas, mas também de cunho prático. Do ponto de vista teórico, é preciso lembrar que na avaliação da configuração adaptativa geral do indivíduo, as respostas adaptativas de cada setor são tratadas de forma separada, ainda que haja uma hierarquia entre eles. Isto é, apesar do setor A-R exercer um papel central na adaptação e o da Pr um papel secundário (Simon, 2005Simon, R. (2005). Psicoterapia breve operacionalizada: Teoria e técnica. São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.), avalia-se cada um em relação ao conjunto de respostas atinente àquela esfera de funcionamento. Ademais, os escores atribuídos a cada nível da adequação são ponderados segundo o valor relativo do setor para a eficácia adaptativa geral. Do ponto de vista prático, enquanto na EDAO-R é o entrevistador quem decide o que pertence a cada setor, a partir das informações fornecidas pelo sujeito ao longo de uma entrevista clínica, na EDAO-AR há claramente configurado um conjunto de itens para avaliar a adequação da adaptação de cada um deles.

A partir desse panorama, o presente estudo teve por objetivo obter evidências de validade da versão de autorrelato da EDAO-R, ou EDAO-AR.

Método

Participantes

A amostra de conveniência ficou constituída por 237 pacientes e acompanhantes de pacientes atendidos em ambulatório de hospital geral e clínica-escola de Psicologia de uma universidade confessional do Estado de São Paulo. Deste total, 76% eram mulheres, 23% homens e 0,4% não declarou o sexo, com idades entre de 18 e 84 anos (M = 44,4; DP = 14,3). Quanto ao estado civil, 58% eram solteiros, 26% casados, 11% divorciados e 4% viúvos. Quanto à escolaridade, 31% tinham Ensino Fundamental Incompleto, 11% Ensino Fundamental Completo, 13% Ensino Médio Incompleto, 31% Ensino Médio Completo, 9% Universitário Incompleto, 13,5% Universitário Completo e 3% não informaram.

Instrumentos

1) Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada de Autorrelato (EDAO-AR): Tem como objetivo medir a qualidade da eficácia adaptativa de pacientes de clínicas comunitárias e hospitais gerais. Após as análises de especialistas (acordo mínimo 80%) e análise semântica junto a pacientes e acompanhantes de clínica psicológica, a escala ficou constituída por 47 itens divididos em: 28 itens para avaliar a qualidade da eficácia adaptativa do setor A-R e 19 para o setor da Pr. As respostas aos itens foram ponderadas de acordo com os critérios propostos por Simon (1997Simon, R. (1997). Proposta de redefinição da E.D.A.O. (Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada). Boletim de Psicologia, 47(107), 85-94.). No setor A-R: 3 (adequada), 2 (pouco-adequada), 1 (pouquíssimo adequada) e no setor da Pr: 2 (adequada), 1 (pouco-adequada) e 0,5 (pouquíssimo- adequada). Para cada item pode haver mais de uma resposta correspondente a um nível de qualidade adaptativa, sendo que para cada item o respondente deve assinalar apenas uma das alternativas.

2) Escala de Avaliação de Sintomas - EAS-40 (Laloni, 2001Laloni, D. T. (2001). Escala de Avaliação de Sintomas-90-R-SCL-90-R: Adaptação, precisão e validade (Tese de doutorado não publicada). Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, SP. Recuperado de http://www.bibliotecadigital.puc-campinas.edu.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=294). Foi adaptada do Symptom Checklist - 90 - Revised - SCL-90-R (Derogatis, 1994Derogatis, L. R. (1994). Symptom Checklist-90-R (SCL-90-R) administration, scoring, and procedures manual (3rd ed.). Minneapolis, MN: National Computer Systems.) para a população clínica brasileira de hospital geral. Composta por 40 itens que mensuram sintomas psicológicos, segundo quatro dimensões: psicoticismo (F1), obsessividade-compulsividade (F2), somatização (F3) e ansiedade (F4). As respostas preveem três níveis de intensidade do sintoma: zero - nenhum sintoma; um - pouco sintoma; e dois - muito sintoma. A avaliação é feita pela média aritmética dos escores de cada dimensão e do escore total. Quanto maior o escore, maior a severidade dos sintomas representados pela dimensão. O escore 1 foi apontado como ponto de corte de cada uma das dimensões (Yoshida, 2008Yoshida, E. M. P. (2008). Significância clínica de mudança em processo de psicoterapia psicodinâmica breve. Paidéia (Ribeirão Preto), 18(40), 305-316. doi:10.1590/S0103-863X2008000200008
https://doi.org/10.1590/S0103-863X200800...
). Pesquisas demonstraram que a escala detém muito boa consistência interna, com coeficientes alfa de Cronbach (α) entre 0,73 a 0,88 para pacientes de hospital geral (Laloni, 2001Laloni, D. T. (2001). Escala de Avaliação de Sintomas-90-R-SCL-90-R: Adaptação, precisão e validade (Tese de doutorado não publicada). Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, SP. Recuperado de http://www.bibliotecadigital.puc-campinas.edu.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=294) e 0,80 a 0,93 em amostras de estudantes universitários (Yoshida & Silva, 2007Yoshida, E. M. P., & Rocha, G. M. A. (2007). Avaliação em psicoterapia psicodinâmica. In J. C. Alchieri (Org.), Avaliação psicológica: Perspectivas e contextos (pp. 237-288). São Paulo, SP: Vetor.).

Procedimento

Coleta de dados. Os participantes foram recrutados nas salas de espera da clínica-escola de Psicologia ou dos ambulatórios de hospital geral mantido pela universidade. A coleta de dados foi individual e a participação voluntária. Os participantes responderam aos instrumentos na própria sala de espera da clínica ou do ambulatório. Para tanto, o aplicador (bolsista de iniciação científica devidamente treinado para a tarefa) explicava os objetivos da pesquisa e a natureza da tarefa. Obtido o aceite e a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, convidava o participante a se sentar em um canto mais reservado da sala e passava à aplicação dos dois instrumentos de avaliação, procedendo à leitura de cada um dos itens e de cada uma das respostas. Nos casos em que o respondente mostrava interesse em falar mais sobre os itens, solicitava que se ativesse à tarefa. A ordem de aplicação dos instrumentos era alternada a cada participante e o tempo de aplicação variou entre 40 e 90 minutos, sendo o mais frequente aplicações de cerca de 60 minutos.

Análise de dados. Foram obtidas medidas de evidências baseadas na estrutura interna e também nas relações com variáveis externas (Primi, Muniz, & Nunes, 2009Primi, R., Muniz, M., & Nunes, C. H. S. S. (2009). Definições contemporâneas de validade de testes psicológicos. In C. S. Hutz (Org.), Avanços e polêmicas em avaliação psicológica (pp. 243-265). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.). Para as evidências de validade baseada na estrutura interna empregou-se: análise da consistência interna, correlação item-total, índices de MSA, análise fatorial exploratória e análise de agrupamentos. Em relação às evidências de validade baseada em variáveis externas, investigou-se o grau de correlação entre a EDAO-AR e a Escala de Avaliação de Sintomas-40 (EAS-40) (Laloni, 2001Laloni, D. T. (2001). Escala de Avaliação de Sintomas-90-R-SCL-90-R: Adaptação, precisão e validade (Tese de doutorado não publicada). Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, SP. Recuperado de http://www.bibliotecadigital.puc-campinas.edu.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=294), que mede a severidade dos sintomas psicopatológicos. A hipótese era a de que as medidas de ambos os instrumentos apresentariam associação negativa entre si. Isto é, esperava-se que maior eficácia adaptativa estivesse associada à presença de sintomas psicopatológicos menos severos e vice-versa.

Considerações éticas

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da PUC-Campinas (Protocolo 720/09).

Resultados

A escala A-R, composta de 28 itens, indicou muito boa consistência interna (α = 0,826). No geral, as correlações item-total também foram altas. Apenas os itens 6, 7 e 24 apresentaram correlações menores que 0,2 e penalizaram ligeiramente o alfa de Cronbach. Com a exclusão destes três itens, o alfa foi igual a 0,831, indicando uma melhora muito pequena na consistência interna da escala. O índice MSA (Measure Sampling Adequacy) também foi utilizado. Os resultados indicaram 11 itens com índices excelentes (> 0,8), 14 com índices bons/medianos (entre 0,7 e 0,8), dois itens com índices fracos (entre 0,6 e 0,69) e apenas um com índice ruim (entre 0,5 e 0,59). Os itens com índices fracos foram o 6 e 7, e o item com índice ruim foi o de número 24.

O número de respostas possíveis para cada item da EDAO-AR variou entre um mínimo de três e um máximo de cinco alternativas. Todas elas obtiveram acordo mínimo de 80% entre os juízes especialistas (n = 6), o que sugeria que seriam boas representantes do construto que pretendem medir (Pasquali, 1999, 2003Pasquali, L. (2003). Psicometria: Teoria dos testes na psicologia e na educação. Petrópolis, RJ: Vozes.). Cabia, no entanto, verificar se os participantes tenderiam a responder as questões conforme as atribuições de intensidade realizadas com base na teoria. Foram utilizadas análises de agrupamentos por meio da metodologia aglomerativa hierárquica (Carvalho, 2008Carvalho, H. (2008). Análise multivariada de dados qualitativos: Utilização da análise de correspondências múltiplas com o SPSS (2a ed.). Lisboa, Portugal: Edições Sílabo.). A distância de Dice e método de lincagem de Ward foram os parâmetros considerados nas análises. O método de lincagem de Ward é um dos mais utilizados, pois produz grupos mais compactos e com tamanhos bem distribuídos. Foi utilizado o critério de truncamento automático para determinar o número de grupos. A análise de agrupamentos classifica objetos de modo que cada objeto seja semelhante aos outros no agrupamento, com base em um conjunto de características escolhidas (Carvalho, 2008Carvalho, H. (2008). Análise multivariada de dados qualitativos: Utilização da análise de correspondências múltiplas com o SPSS (2a ed.). Lisboa, Portugal: Edições Sílabo.; Hair, Anderson, Tatham, & Black, 2005Hair, J. F., Jr., Anderson, R. E., Tatham, R. L., & Black, W. C. (2005). Análise multivariada de dados (A. S. Sant'Anna & A. Chaves Neto, Trads., 5a ed.). Porto Alegre, RS: Artmed.).

No presente estudo, o software estatístico usado foi o XLSTAT 2011. Os objetos classificados foram os itens e as características foram as respostas dos participantes. Os clusters (agrupamentos) gerados pela análise das respostas da escala A-R demonstraram elevada homogeneidade interna (dentro do grupo) e baixa homogeneidade externa (entre os grupos). Os resultados foram agrupados na Tabela 1, uma vez que a reprodução do dendograma (gerado pela análise do software) tornaria difícil a visualização da distribuição das variáveis. Na Tabela 1, cada item é representado pela letra Q (questão), seguida do número do item e pelo nível de adequação da reposta adaptativa. Por exemplo, Q1-3 representa a alternativa de resposta adequada do item 1. Itens que contavam com mais de uma alternativa de resposta de um determinado nível foram diferenciados entre si, acrescentando-se uma letra ao final. Por exemplo, Q12-3 e Q12-3b, indica que havia duas alternativas de respostas adequadas para o item 12.

Tabela 1
Resultados da análise de agrupamento da escala A-R (n = 101)

A Tabela 1 aponta que os itens teoricamente pontuados com o valor 3 foram agrupados quase todos em um mesmo grupo (cluster 1). A única exceção ocorreu para o item 7, agrupado no cluster 3. A maioria das respostas que compuseram o segundo grupo (cluster 2) foram as consideradas pouco adequadas (teoricamente pontuadas como 2). Para as respostas de mesma intensidade (por exemplo, Q1-2 e Q1-2b), este agrupamento é útil na escolha da mais similar às demais com mesma intensidade do instrumento. Por exemplo, a resposta Q1-2 foi mais similar do que a Q1-2b em relação às demais pontuadas teoricamente como 2.

Para o terceiro grupo (cluster 3), a maioria das respostas selecionadas foram as teoricamente pontuadas como 1. No entanto, foram observados mais níveis de respostas adaptativas de um mesmo item dentro deste grupo (sublinhados na Tabela 1). O resultado deste mesmo agrupamento para as respostas diferentes de um mesmo item indica uma maior similaridade nessas respostas. Como exemplo, pode-se citar o item 10, que teve as alternativas de respostas Q10-2, Q10-1 e Q10-1b agrupadas no cluster 3. O mesmo ocorreu para os itens 9, 12, 16, 17, 20, 24 e 28. Após a avaliação dos critérios de consistência, correlação item-total e índices de MSA, e análise de agrupamentos, decidiu-se excluir os itens 6, 7 e 24 das análises seguintes, pois apresentaram maiores violações aos critérios avaliados. Quantos aos demais itens, foram submetidos à análise fatorial antes de se tomar qualquer decisão sobre eles.

Para a realização da análise fatorial é recomendado que o tamanho da amostra seja maior que pelo menos cinco vezes o número de variáveis/itens, e o tamanho mais aceitável é de uma proporção de dez para um, recomendação totalmente atendida nesta pesquisa (n = 237, 28 itens) (Laros, 2005Laros, J. A. (2005). O uso da análise fatorial: Algumas diretrizes para pesquisadores. In L. Pasquali (Org.), Análise fatorial para pesquisadores(pp. 163-184). Brasília, DF: LabPAM.; Pasquali, 1999, 2003Pasquali, L. (2003). Psicometria: Teoria dos testes na psicologia e na educação. Petrópolis, RJ: Vozes.). Para determinar a adequação da amostra, foi ainda realizado o teste de esfericidade de Bartlett (p < 0,001) e medida de adequação de KMO (0,792) (Gouveia, Santos, & Milfont, 2009Gouveia, V. V., Santos, W. S., & Milfont, T. L. (2009). O uso da estatística na avaliação psicológica: Comentários e considerações práticas. In C. S. Hutz (Org.), Avanços e polêmicas em avaliação psicológica (pp. 127-155). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.). Ambos os resultados foram positivos para a construção do modelo.

Pelo critério da raiz latente (autovalores maiores que 1), nove fatores foram selecionados. A porcentagem de variância explicada para os nove primeiros fatores foi igual a 60,0%. O método de extração utilizado foi o da Análise de Componentes Principais e foi utilizada a rotação Varimax. A rotação Varimax (ortogonal) não permite correlação entre os fatores extraídos. A consistência interna por fator indicou uma consistência muito baixa para um dos fatores (fator 8, α = -0,061), e dois outros fatores foram compostos por apenas uma questão (fatores 5 e 9). Outro problema observado na extração de nove fatores foi o grande número de cargas cruzadas, ou seja, itens com cargas elevadas em mais de um fator. Quanto ao critério do scree plot, resulta geralmente em mais fatores comparados ao critério da raiz latente, não sendo uma solução viável nesta situação. Como solução alternativa ao problema, foi considerada a porcentagem de variância explicada e critério a priori na definição do número de fatores a serem extraídos.

Inicialmente foi avaliada a possibilidade para a extração de seis fatores, no entanto, a consistência interna para um dos fatores foi muito baixa (0,164) e as cargas cruzadas ainda foram muito elevadas. A porcentagem de explicação para a extração com seis fatores foi de 47,4%. A solução com cinco fatores apresentou consistência interna boa, ou pelo menos satisfatória, para todos os fatores (α entre 0,420 e 0,669). A porcentagem de explicação para a extração com cinco fatores foi de 42,8%. Notam-se, ainda, diversas cargas cruzadas para as questões 20, 21 05, 19, 27, 16 e 13. Uma solução teórica para tentar diminuir as cargas cruzadas seria realizar outro tipo de rotação. Como a rotação Varimax é ortogonal, foi utilizada a rotação oblíqua Promax, no entanto, as questões 13, 05, 20, 16, 19 e 27 continuavam com elevadas cargas cruzadas. A extração com quatro fatores começa a fazer maior sentido teórico, no entanto, o fator 4 ainda ficou mal representado, não parecendo se tratar realmente de uma quarta dimensão de construto. Por fim, a solução com três fatores, apesar de apresentar uma porcentagem de explicação mais baixa (32,5%), apresentou fatores muito condizentes com a teoria determinada a priori. As três dimensões que surgiram abarcam três facetas envolvidas na questão da adaptação: (1) situação a ser enfrentada; (2) relação interpessoal ou o outro e (3) necessidades afetivas e materiais do sujeito (o eu). Ainda assim, as questões 09, 17, 23 e 26 foram excluídas devido às cargas cruzadas elevadas ou por não se alinharem teoricamente com os fatores gerados. Foram finalmente retidos os itens 1, 2, 3, 4, 5, 8, 10, 11,12, 13, 14, 15, 16, 18, 19, 20, 21, 22, 25, 27 e 28, cujas cargas são apresentadas na Tabela 2. A consistência interna final dos itens do setor A-R foi igual a 0,810. No fator 1, o alfa foi igual a 0,704. No fator 2, igual a 0,689 e no 3, igual a 0,532.

Tabela 2
Cargas fatoriais rotacionadas pelo método promax (três fatores) da subescala A-R (n = 237)

A consistência interna da escala para avaliar o setor da Pr, composta de 19 itens, foi considerada muito boa (α = 0,816). No geral, as correlações item-total foram altas. A menor correlação foi observada para o item 36 (0,202), no entanto, com sua exclusão, praticamente não se alterou a consistência interna do instrumento (α = 0,817).

A recomendação de relação mínima de cinco participantes por item para a realização da análise fatorial também foi totalmente atendida nesta escala (n = 237 e 19 itens) (Laros, 2005Laros, J. A. (2005). O uso da análise fatorial: Algumas diretrizes para pesquisadores. In L. Pasquali (Org.), Análise fatorial para pesquisadores(pp. 163-184). Brasília, DF: LabPAM.; Pasquali, 1999, 2003Pasquali, L. (2003). Psicometria: Teoria dos testes na psicologia e na educação. Petrópolis, RJ: Vozes.). Os resultados do teste de esfericidade de Bartlett (p < 0,001) e medida de adequação de KMO (0,809) foram positivos para a construção do modelo. Além disso, os resultados do índice MSA indicaram 11 itens com índices excelentes (> 0,8), seis itens com índices bons/medianos (entre 0,7 e 0,8) e dois com índices fracos (entre 0,6 e 0,7). Nenhum item apresentou MSA ruim. Os dois itens com índices fracos foram os itens 36 e 38.

Como para a escala A-R, verificou-se se os participantes tenderiam a responder os itens conforme as atribuições teóricas de intensidade de respostas. De acordo com os resultados da análise de agrupamentos (Tabela 3), as respostas teoricamente pontuadas com o valor 2 (adequadas) foram agrupadas todas em um mesmo grupo (cluster 1). A maioria das alternativas de respostas que compuseram o segundo grupo (cluster 2) foram as consideradas pouco adequadas (teoricamente pontuadas como 1). Para itens com duas respostas com mesmo nível de adequação (por exemplo, Q44-1 e Q44-1b), na segunda versão da EDAO-AR devem ser retidas as alternativas que se mostraram mais similares às demais. Neste caso, a Q44-1b foi mais similar àquelas com pontuação teórica 1. Para o terceiro grupo (cluster 3), a maioria das respostas selecionadas foram as teoricamente pontuados como 0,5 e que correspondem às pouquíssimo adequadas. No entanto, como para o setor A-R, no terceiro cluster foram observadas respostas com mais níveis de adequação de um mesmo item dentro deste grupo (sublinhados na Tabela 3). Os itens 31, 32, 33, 40, 41, 42, 44 e 45 foram os que apresentaram respostas teoricamente diferentes como sendo mais similares.

Tabela 3
Resultados da análise de agrupamentos da escala Pr (n = 69)

Após a avaliação dos critérios de consistência, correlação item-total, índices de MSA e agrupamento, todos os itens foram submetidos à análise fatorial. O método de extração utilizado foi o da Análise de Componentes Principais e, acompanhando o realizado com a escala do setor A-R, foi utilizada a rotação promax. A solução de três fatores foi também a que se mostrou mais adequada por reunir os itens em fatores teoricamente interpretáveis e apresentar um mínimo de itens com cargas cruzadas, apesar da explicação baixa da variância (39,6%). O item 31 apresentou cargas fatoriais semelhantes em dois fatores, sendo excluído da configuração final. A consistência interna final dos itens da Pr indicou alfa igual a 0,804. No fator 1, o valor de alfa foi 0,695, no fator 2, 0,718 e no fator 3, 0,593. A Tabela 4 apresenta as cargas fatoriais da rotação final, segundo três fatores.

Tabela 4
Cargas fatoriais rotacionadas pelo método promax (três fatores) da escala Pr, após a exclusão do item 31 (n = 237)

Para a obtenção de validade baseada em variáveis externas, a EDAO-AR foi comparada à EAS-40 (Laloni, 2001Laloni, D. T. (2001). Escala de Avaliação de Sintomas-90-R-SCL-90-R: Adaptação, precisão e validade (Tese de doutorado não publicada). Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, SP. Recuperado de http://www.bibliotecadigital.puc-campinas.edu.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=294). As evidências de validade foram obtidas por meio da estimativa de correlações de Pearson (r) entre os escores parciais e totais da EDAO-AR e os escores parciais e totais da EAS-40. Conforme referido, a hipótese era a de que as medidas apresentariam associações negativas entre si. Esta expectativa foi plenamente confirmada pelos resultados que apontaram valores de significantes de r entre -0,351 e -0,615 (p < 0,001, unicaudal) (Zar, 1999).

Discussão

O presente estudo teve por objetivo obter evidências de validade da versão de autorrelato da EDAO-R, ou EDAO-AR. Esta primeira versão da escala foi desenvolvida para medir a eficácia adaptativa a partir da adequação de respostas em dois setores da personalidade: Afetivo-Relacional (A-R) e Produtividade (Pr).

Em relação à escala A-R, após a avaliação dos critérios de consistência interna, correlação item-total, índices de MSA e análise de agrupamentos, foram excluídos os itens 6, 7 e 24 das análises seguintes, pois apresentaram maiores violações aos critérios (Gouveia et al., 2009Gouveia, V. V., Santos, W. S., & Milfont, T. L. (2009). O uso da estatística na avaliação psicológica: Comentários e considerações práticas. In C. S. Hutz (Org.), Avanços e polêmicas em avaliação psicológica (pp. 127-155). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.). Quantos aos demais itens, foram submetidos à análise fatorial exploratória (rotação promax). Adotou-se o critério de limitar a priori o número de fatores e de considerar a porcentagem de explicação da variância. A solução de três fatores mostrou-se mais adequada. Os fatores que emergiram abarcaram três facetas envolvidas no construto da eficácia adaptativa, ainda que representassem apenas 35,4% da variância total e alguns itens apresentassem cargas cruzadas. Estas características podem ser toleradas nas primeiras versões de instrumento em fase de desenvolvimento, mas devem ser aprimoradas em futuras versões.

O primeiro fator ficou representado por oito itens, todos com cargas superiores a 0,40 (mínima 0,44 e máxima 0,77), o que aponta para a boa representatividade desses para a avaliação da dimensão que se pretende medir (Pasquali, 1999, 2003Pasquali, L. (2003). Psicometria: Teoria dos testes na psicologia e na educação. Petrópolis, RJ: Vozes.). São eles: 10, 15, 16, 18, 19, 20, 22 e 27. Destes, apenas o item 15 (autovalor 0,44) também apresentou carga em outro fator (fator 3), mas com autovalor bem inferior (0,31). Vale ainda observar que este item foi o que obteve menor carga dentre os retidos. A consistência interna do fator também foi satisfatória (0,70). A interpretação teórica desses itens sugere que eles têm como característica comum o fato de avaliarem respostas adaptativas frente às necessidades de afeto e a relevância do outro (cônjuge, familiares, amigos) para a solução da situação problema.

O segundo fator ficou representado por oito itens com cargas superiores a 0,35 (autovalores entre 0,35 e 0,69). São eles: 2, 3, 8, 11, 12, 21, 25 e 28. Os itens 2 e 8 tiveram cargas cruzadas. O item 2 apresentou cargas nos fatores 2 e 3, mas foi nitidamente superior no fator 2 (0,43) quando comparado ao fator 3 (0,38). Além disso, o item 2 encontra-se teoricamente mais afinado com os demais do fator 2. Quanto ao item 8, apresentou cargas semelhantes, mas com polaridades inversas nos fatores 2 (autovalor 0,35) e fator 3 (-0,31). Considerou-se que o item 8 também se encontrava teoricamente mais afinado com os do fator 2. A consistência interna também foi satisfatória (0,69) para uma primeira versão da escala, próxima da observada no fator 1. Na interpretação teórica, os itens retidos correspondem a respostas adaptativas frente a situações adversas e que demandam tolerância à frustração e reconhecimento dos próprios limites.

O fator 3 ficou representado por cinco itens com cargas superiores a 0,40 (autovalores entre 0,41 e 0,63). São eles: 1, 4, 5, 13 e 14. Apenas o item 14 apresentou carga cruzada, mas bastante superior no fator 3 (0,51) quando comparado ao fator 2 (0,30). E como os demais, ele teoricamente encontra-se mais afinado com a interpretação atribuída ao fator 3. Quanto à consistência interna (0,53), o coeficiente alfa ficou abaixo do mínimo considerado satisfatório para instrumentos de autorrelato (0,70), provavelmente devido ao baixo número de itens retidos. Novos itens para esta dimensão devem ser, portanto, desenvolvidos. Na interpretação teórica, os itens retidos correspondem a respostas adaptativas do sujeito no enfrentamento de situações sociais e de necessidades afetivas. Envolve o controle de seus impulsos e como o indivíduo se posiciona em relação ao outro (cônjuge, familiares, amigos).

Quanto à escala Produtividade, após a avaliação dos critérios de consistência interna, correlação item-total, índices de MSA e análise de agrupamento, decidiu-se manter todos os itens desenvolvidos para a análise fatorial exploratória (rotação promax). Também foi adotado o critério de limitar a priori o número de fatores e de considerar a porcentagem de explicação da variância para a definição do número de fatores. A solução de três fatores apresentou fatores teoricamente interpretáveis e, diferentemente da A-R, nenhum item com cargas cruzadas (Tabela 4). Quanto ao porcentual de variância explicada, os três fatores retidos representam 39,6% da variância total após a exclusão de um item. As mesmas facetas envolvidas no setor A-R mostraram-se aplicáveis para interpretar os fatores que emergiram na escala da Pr.

O Fator 1 ficou representado por sete itens, todos com cargas superiores a 0,40 (mínima 0,41 e máxima 0,74). São eles: 30, 39, 40, 41, 42, 44 e 47. A consistência interna também foi satisfatória (0,69). A interpretação teórica destes itens sugere que se referem a respostas adaptativas frente a situações adversas e que demandam tolerância à frustração. Além disso, são respostas em que está implícito que o sujeito é capaz de reconhecer que necessita do outro (colegas de trabalho ou de curso, chefe ou professor), para a solução da situação problema.

O Fator 2 também ficou representado por sete itens, com carga mínima de 0,39 (item 29) e máxima de 0,70 (item 34), garantindo boa representatividade. São eles: 29, 33, 34, 37, 43, 45 e 46. A consistência interna foi satisfatória para uma primeira versão da escala (0,72). Pela interpretação teórica, os itens retidos correspondem a situações enfrentadas pelo sujeito, tanto no ambiente de trabalho como fora dele (por exemplo, em situações de férias), que evidenciam suas necessidades e reações emocionais, e como elas definem suas escolhas e prioridades. São situações em que a resposta emocional é mediada por uma reflexão.

O Fator 3 ficou representado por apenas quatro itens, com cargas superiores a 0,50 (autovalores entre 0,52 e 0,82). São eles: 32, 35, 36 e 38. Quanto à consistência interna (α = 0,59), o coeficiente alfa ficou abaixo do considerado satisfatório para instrumentos de autorrelato (α = 0,70), provavelmente devido ao baixo número de itens retidos. Esta dimensão deverá ser objeto do desenvolvimento de novos itens em versões futuras da escala. Pela interpretação teórica, os itens retidos correspondem a respostas adaptativas do sujeito relacionadas à satisfação e confiança em suas habilidades profissionais.

Comparando-se a EDAO-AR com a EAS-40, os resultados apontaram, conforme o esperado, que elas guardam entre si associações negativas, estatisticamente significantes (α < 0,001), tanto no que se refere aos escores totais como os parciais. Assim, quanto mais adequado é o sujeito do ponto de vista da adaptação, menor é a probabilidade de que apresente sintomas psicopatológicos. E é nesse sentido que se pode dizer que a eficácia adaptativa é uma medida da saúde geral e da funcionalidade do sujeito (Enéas & Yoshida, 2012Enéas, M. L. E., & Yoshida, E. M. P. (2012). Psicoterapia breve psicodinâmica de adultos. In M. E. N. Lipp & E. M. P. Yoshida (Orgs.), Psicoterapias breves: Nos diferentes estágios evolutivos (pp. 153-176). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.; Yoshida et al., 2010Yoshida, E. M. P., Enéas, M. L. E., & Santeiro, T. V. (2010). Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada (EDAO): Avaliação da qualidade da eficácia adaptativa. In A. A. A. Santos, F. F. Sisto, E. Boruchovitch, & E. Nascimento (Orgs.), Perspectivas em avaliação psicológica (pp. 211-228). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.), e que a EDAO-AR parece ser um instrumento adequado para sua avaliação. Em situações clínicas recomenda-se, todavia, o uso combinado da EDAO-AR e da EAS-40, na medida em que a primeira fornece a indicação da eficácia adaptativa por setor da personalidade e, portanto, mais estrutural, enquanto que a EAS-40 aponta para o tipo de sintomatologia presente, contribuindo com uma vertente mais psicodinâmica da avaliação.

Considerações Finais

Tanto para a escala A-R quanto para a da Pr, a solução de três fatores foi a que melhor atendeu às expectativas teóricas, apesar dos baixos porcentuais de explicação das variâncias. Ademais, as dimensões que emergiram correspondem a facetas envolvidas no conceito de eficácia adaptativa: situação problema enfrentada, respostas do eu (afetivas e/ou cognitivas) e relação interpessoal (social, familiar e profissional).

Ambas as escalas (A-R e Pr) ficaram compostas por dois fatores bem representados (oito e sete itens), e um terceiro que demandará o desenvolvimento de novos itens, com vistas a ampliar suas respectivas consistências internas e aproximá-las das evidenciadas nos dois primeiros fatores (em torno de 0,70). Em relação aos itens retidos na escala A-R e que apresentaram cargas cruzadas, deverão ser revisados e seus termos melhor explicitados. Além disso, na próxima versão da EDAO-AR, os itens de ambas as escalas contarão com apenas três alternativas de respostas adaptativas: adequado, pouco e pouquíssimo adequado. Para tanto, serão preservadas as alternativas de respostas que se alinharam adequadamente nos respectivos clusters, de acordo com as análises de agrupamentos. Para os itens em que essa condição não foi atendida, novas alternativas de respostas deverão ser desenvolvidas.

Deve-se destacar, ainda, que apesar das evidências de validade das escalas A-R e da Pr terem sido verificadas separadamente, na prática, ambas deverão ser aplicadas sempre que o propósito for o de obter a avaliação da configuração adaptativa do sujeito. No entanto, para fins de pesquisa, nem sempre esta situação será obrigatória.

Em relação à EAS-40, a EDAO-AR guarda uma relação inversa. Isto é, quanto mais eficaz a adaptação, menor a chance de o sujeito apresentar sintomas psicopatológicos. A EDAO-AR, quando associada à EAS-40, pode, então, complementar a avaliação psicodinâmica, fornecendo uma visão mais estrutural do funcionamento geral do indivíduo.

Devido ao fato da pesquisa ter sido realizada com amostra selecionada por conveniência e proveniente de apenas uma instituição, a generalização dos resultados deve ser feita com cautela. Pesquisas envolvendo outros estratos da população, tais como estudantes (Cia & Yoshida, 2011Cia, M. , & Yoshida, E. M. P. (2011). Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada de Auto-Relato (EDAO-R-AR): Consistência interna dos itens. Trabalho apresentado nos Anais do 16º Encontro de Iniciação Científica e 1º Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, Campinas, SP.Recuperado de http://www.puc-campinas.edu.br/websist/portal/pesquisa/ic/pic2011/resumos/2011827_ 94812_65615736_resesu.pdf ; Freitas & Yoshida, 2011Freitas, A. R. , & Yoshida, E. M. P. (2011). Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada de Auto-Relato (EDAO-R-AR): Validade convergente e precisão. Trabalho apresentado nos Anais do 16º Encontro de Iniciação Científica e 1º Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, Campinas, SP.Recuperado de http://www.puc-campinas.edu.br/websist/portal/pesquisa/ic/pic2011/resumos/2011831_ 8149_708732021_resAPE.pdf ; Sigrist & Yoshida, 2011 Sigrist, R. R. , & Yoshida, E. M. P. (2011). Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada de Auto-Relato (EDAO-R-AR): Validade baseada em teste de construto relacionado. Trabalho apresentado nos Anais do 16º Encontro de Iniciação Científica e 1º Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, Campinas, SP. Recuperado de http://www.puc-campinas.edu.br/websist/portal/pesquisa/ic/pic2011/ resumos/2011827_94832_65615736_resesu.pdf), adolescentes (Khater, 2012Khater, E. (2012). Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada de Autorrelato para Adolescentes (EDAO-AR-AD): Construção e validade: Projeto de Pesquisa. Campinas, SP: Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Manuscrito não publicado.) e atletas (Peixoto, 2011Peixoto, E. M. (2011). Desenvolvimento da Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada para Atletas (EDAO-AR-A): Projeto de Pesquisa. Campinas, SP: Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Manuscrito não publicado.; Peixoto & Yoshida, 2012Peixoto, E. M., & Yoshida, E. M. P. (2012). Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada para Atletas (EDAO-AR-A): Evidências de validade. Manuscrito não publicado.) já se encontram em andamento e seus resultados poderão ser comparados com os atuais. Além disso, pesquisas envolvendo amostras clínicas deverão fornecer resultados separados para a amostra de pacientes e de pessoas que não estejam nesta condição, como é o caso dos acompanhantes.

Resumidamente, a escala Afetivo-Relacional ficou composta por 21 itens, com muito boa consistência interna (α = 0,81), e com as seguintes nomenclaturas para os fatores: Fator 1 - respostas adaptativas frente às necessidades de afeto e a relevância do outro para a solução da situação problema. O foco é a relação interpessoal ou o outro; Fator 2 - respostas adaptativas frente a situações adversas e que demandam tolerância a frustração e reconhecimento dos próprios limites. O foco é a situação a ser enfrentada; Fator 3 - respostas adaptativas do sujeito no enfrentamento de situações sociais e de necessidades afetivas. Envolve o controle de seus impulsos e como ele se posiciona em relação ao outro. O foco é o eu.

A escala da Produtividade ficou composta por 18 itens com muito boa consistência interna (α = 0,80). Resumidamente, a composição e nomenclatura dos fatores foram as seguintes: Fator 1 - refere-se a respostas adaptativas frente a situações adversas no contexto profissional e que demandam tolerância a frustração. Implica no reconhecimento do outro - colegas de trabalho ou de estudo e superiores (chefe ou professor) - para a solução da situação problema. O foco é a relação interpessoal ou o outro; Fator 2 - itens relacionados a uma avaliação cognitiva dos sentimentos e necessidades do sujeito no contexto profissional. O foco é a situação enfrentada; Fator 3 - congrega os itens relacionados à satisfação e confiança em suas habilidades profissionais. O foco é o eu.

Elisa Medici Pizão Yoshida é professora do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Abr 2013

Histórico

  • Recebido
    23 Maio 2012
  • Revisado
    12 Nov 2012
  • Aceito
    18 Fev 2013
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