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O menor dos males? Identidade partidária e ambivalência no eleitorado brasileiro1 1 Primeira versão apresentada no 6º Workshop de Comportamento Político, 2021.

Party identity and ambivalence among Brazilian voters: The lesser of evils?

¿El menor de los males? Identidad partidaria y ambivalencia en el electorado brasileño

Le moindre des maux ? Identité partisane et ambivalence de l’électorat brésilien

Estudos sobre eleitores partidários no Brasil mostram o declínio do partidarismo e dos sentimentos em relação aos partidos. Como a identidade partidária se mantém nesse cenário político? Argumentamos que, mesmo quando não avaliam bem o próprio partido, a identificação partidária se sustenta por meio dos sentimentos interpartidários, que se deterioram ao longo dos anos no país. A partir de dados do Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB) entre 2002 e 2018, os dados sugerem que os partidários estão menos entusiasmados com os partidos brasileiros e a relação entre sentimentos partidários se acentuou no contexto eleitoral mais recente. Os resultados da relação entre sentimentos partidários, utilizando um termo quadrático, indicam que as principais alternativas ao petismo justificam uma identidade partidária essencialmente na estratégia do menor dos males: a maior deterioração da imagem dos oponentes políticos como um mecanismo de justificativa da ambivalência em relação ao próprio partidarismo.

sentimentos partidários; petismo; ambivalência; motivações cognitivas; partidarismo


Abstract

Research on partisan voters in Brazil have demonstrated a decline in both partisanship and feelings toward political parties. How is party identity maintained in this situation? We affirm that even when voters do not evaluate their own party positively, their party identification persists through their inter-party feelings, which have deteriorated in recent years. Data from the Brazilian Election Studies (ESEB) for the period from 2002 to 2018 suggest that partisan voters are less enthusiastic about Brazilian political parties, and the relationship between partisan feelings has strengthened in the most recent electoral context. The results about the relationship between party sentiments, to use a quadratic term, indicate that the main alternatives to support for the Worker’s Party (PT) justified a party identity based on the ‘lesser of two evils’ strategy. This indicates the use of a greater deterioration of the image of a political opponent as a mechanism to justify ambivalence in relation to their own partisan position.

party feelings; “petismo”; ambivalence; cognitive motivations; partisanship

Resumen

Las investigaciones sobre los votantes brasileños han demostrado una disminución tanto del partidismo como de los sentimientos hacia los partidos políticos. En este escenario, ¿cómo persiste la identidad partidista? Evaluamos cómo los votantes coordinan su identificación a través de sentimientos intra e interpartidistas, argumentando que incluso cuando los votantes evalúan a su propio partido de manera menos positiva, su identificación persiste a través de sus sentimientos interpartidistas, que se han vuelto aún más negativos en los últimos años. Utilizando datos de los Estudios Electorales Brasileños (ESEB) entre 2002 y 2018, los resultados sugieren que, en los contextos electorales más recientes, los votantes partidistas están menos entusiasmados con los partidos políticos brasileños y la relación entre los sentimientos partidistas se ha fortalecido. Estos hallazgos indican que las alternativas partidistas al petismo mantienen una identidad partidista basada en la estrategia del “menor de dos males”.

sentimientos partidistas; petismo; ambivalencia; motivaciones partidistas; partidismo

Résumé

Les études sur les électeurs brésiliens ont démontré un déclin de la politique partisane et du rôle de l’évaluation affective envers les partis politiques. Dans ce contexte, comment l'identité partisane perdure-t-elle? Dans cet article, nous évaluons comment les électeurs coordonnent leur identification partisane à travers les évaluations intra- et interparti. Nous soutenons la thèse que l’identification partisane des électeurs se maintient non seulement via l’évaluation positive de leur propre parti, mais aussi au travers des sentiments interpartisans devenus davantage négatifs ces dernières années. En utilisant les données des Études électorales brésiliennes (ESEB) entre 2002 et 2018, les résultats suggèrent que, dans le contexte le plus récent, les électeurs partisans sont moins enthousiastes à l'égard des partis politiques, de manière générale, mais que les évaluations affectives des partis se renforcent avec le temps. Ces résultats indiquent que les principales alternatives au pétisme (c’est-à-dire à l’identité partisane associée au Parti de Travailleurs, PT) justifient une identité partisane basée sur la stratégie du « moindre mal ».

Affect de parti; petisme; ambivalence; motivations cognitives; partisanerie

Introdução

A animosidade política assola o sistema partidário brasileiro. Estudos sobre eleitores partidários no Brasil mostram o declínio do partidarismo (Ribeiro; Carreirão; Borba, 2011; Paiva; Krause; Lameirão, 2016), junto ao declínio geral dos sentimentos em prol dos partidos políticos (Borba; Ribeiro; Gimenes, 2018; Fuks; Ribeiro; Borba, 2021). Nesse cenário céptico, questionamos: o que acontece com os eleitores partidários quando não se sentem mais tão favoráveis ao seu próprio partido, mas resistem em mudar sua identificação partidária? Para responder a essa pergunta, avaliamos como os partidários brasileiros coordenam a sua identificação por meio dos sentimentos sobre si próprios (i.e., sentimentos intrapartidários) e sobre os demais partidos do sistema político (i.e., sentimentos interpartidários)4 4 O termo “sentimentos” foi utilizado como uma avaliação afetiva a partir de respostas a termômetros de sentimentos (Bankert et al., 2017). Portanto, tanto as avaliações como os sentimentos foram utilizados de forma intercambiável. . Em geral, assume-se uma correlação negativa entre sentimentos partidários: quanto mais positivos são os sentimentos intrapartidários, mais negativos são os sentimentos interpartidários. Entretanto, a partir de um modelo teórico de motivações partidárias, argumentamos que, mesmo quando os indivíduos não mais avaliam o próprio partido tão bem, a identificação partidária se sustenta a partir dos sentimentos interpartidários, os quais se deterioram e se tornam mais negativos ao longo dos anos no Brasil.

Entendemos o partidarismo como resultante do conflito entre motivações direcionais e responsivas (Groenendyk, 2013Groenendyk, E. Competing motives in the partisan mind: How loyalty and responsiveness shape party identification and democracy. New York: Oxford University Press, 2013., 2018Groenendyk, E. “Competing motives in a polarized electorate: political responsiveness, identity defensiveness, and the rise of partisan antipathy”. Political Psychology, vol. 39, p. 159-171, 2018.; Groenendyk; Sances; Zhirkov, 2020). Enquanto as motivações direcionais referem-se à identidade social de grupo, as responsivas baseiam-se no accountability aos partidos políticos. Esse modelo prevê que os indivíduos tendem a racionalizar os sentimentos intrapartidários inconsistentes a partir da amplificação da aversão e rejeição aos demais partidos políticos nos sentimentos interpartidários. A partir da estratégia do “menor dos males”, os partidários reconhecem as falhas do próprio partido (i.e., declínio dos sentimentos intrapartidários) enquanto reforçam os erros e defeitos de seus oponentes (i.e., deterioração dos sentimentos interpartidários). No sistema multipartidário brasileiro, a hipótese do menor dos males atua principalmente como alternativa partidária ao petismo no âmbito federal, o que contribui para demonstrar como os eleitores partidários justificam a sua identificação partidária, mesmo quando se sentem menos entusiasmados e satisfeitos em relação à política.

A partir dos dados do Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB) de 2002 a 2018, os resultados corroboram a literatura brasileira ao apontar a coordenação entre sentimentos partidários (Borges; Vidigal, 2018Borges, A.; Vidigal, R. “Do lulismo ao antipetismo? Polarização, partidarismo e voto nas eleições presidenciais brasileiras”. Opinião Pública, vol. 24, nº 1, p. 53-89, 2018.; Samuels; Zucco, 2018Samuels, D. J.; Zucco, C. Partisans, antipartisans, and nonpartisans: voting behavior in Brazil. New York: Cambridge University Press, 2018.). Encontramos os seguintes resultados: (i) a diminuição substancial da coesão dos sentimentos intrapartidários entre os partidos tradicionais (i.e., PT, PMDB e PSDB); (ii) o aumento da ambivalência nas avaliações dos candidatos das legendas; e (iii) a acentuação da relação entre sentimentos partidários, principalmente no contexto eleitoral mais recente. O modelo aplicado sugere que o acirramento eleitoral não gera mais afeto a cada polo da disputa política, porém resulta em maior desconfiança sobre os atalhos partidários (i.e., candidatos) e no crescimento das taxas de rejeição às alternativas partidárias. Os resultados ainda indicam que as principais alternativas ao petismo não justificam uma identidade partidária em avaliações positivas e, em contrapartida, baseiam sua identificação na ideia do menor dos males.

O presente artigo contribui para o debate sobre sentimentos partidários com base em modelos cognitivos e medidas afetivas do partidarismo brasileiro, descrevendo o desenvolvimento do partidarismo para além somente do petismo e da rejeição partidária, ambos amplamente estudados na ciência política nacional. Na seção “Partidarismo: identificação e sentimentos partidários no Brasil”, abordamos a descrição da identificação partidária, dos sentimentos intrapartidários e, em seguida, sobre os sentimentos interpartidários. Esses dois tipos de sentimentos descrevem a estabilidade da identificação e mecanismos cognitivos de racionalização na opinião pública. Descrevemos modelos psicológicos sobre o partidarismo, na seção “As duas forças na cabeça do eleitor partidário”, que incluem a dinâmica entre identidade partidária com as avaliações afetivas sobre os partidos e seus líderes (Groenendyk, 2012Groenendyk, E. “Justifying party identification: A case of identifying with the ‘lesser of two evils’”. Political Behavior, vol. 34, nº 3, p. 453-475, 2012.). Esses modelos distinguem ambos os conceitos que, na combinação entre identidade e sentimentos, produzem diferentes dinâmicas de partidarismo no eleitorado brasileiro. Por fim, descrevemos os dados, as hipóteses e os resultados das análises, e concluímos com uma discussão à luz da teoria sobre partidarismo no Brasil.

Partidarismo: identificação e sentimentos partidários no Brasil

Mesmo que o fenômeno tenha ganhado força nos estudos da ciência política no Brasil, o partidarismo não é um fenômeno majoritário no país (Carreirão; Rennó, 2018Carreirão, Y. S.; Rennó, L. R. Presidential voting: partisanship, economy, ideology. Routledge Handbook of Brazilian Politics, p. 216-235, 2018.)5 5 Pouco mais de um terço dos eleitores se identificam com algum partido em um sistema político altamente fragmentado como o brasileiro (Zucco; Power, 2020). Em 2018, o percentual de indivíduos que declararam ter algum partido que os representasse somou 27% (ver Apêndice A, Tabela 1A). . Entretanto, esse fato não evitou a formação de identificações partidárias, definidas como a aproximação psicológica entre indivíduos e partido e, principalmente, a identificação em torno do Partido dos Trabalhadores (PT), o partido que mais acumulou partidários desde 1999 (Carreirão; Kinzo, 2004Carreirão, Y. S.; Kinzo, M. G. “Partidos políticos, preferência partidária e decisão eleitoral no Brasil (1989/2002)”. Dados, vol. 47, nº 1, p. 131-167, 2004.; Veiga, 2007Veiga, L. F. “Os partidos brasileiros na perspectiva dos eleitores: mudanças e continuidades na identificação partidária e na avaliação das principais legendas após 2002”. Opinião Pública, vol. 13, nº 2, p. 340-365, 2007.). O PT compartilhou símbolos e disseminou o petismo – a identificação com o PT – por meio de redes na sociedade civil6 6 O PT transformou em partidarismo organizações sociais de base presentes na sociedade civil, como sindicatos e movimentos sociais (Samuels; Zucco, 2018, p. 19-20). . O petismo é um partidarismo com fronteiras bem definidas, ou seja, preferências consistentes e estáveis via interações com o contexto político. (Samuels; Zucco, 2018Samuels, D. J.; Zucco, C. Partisans, antipartisans, and nonpartisans: voting behavior in Brazil. New York: Cambridge University Press, 2018.). O conceito de fronteiras partidárias deriva da permissão de variação nas preferências sem comprometer a identificação em si. Samuels e Zucco (2018)Samuels, D. J.; Zucco, C. Partisans, antipartisans, and nonpartisans: voting behavior in Brazil. New York: Cambridge University Press, 2018. demonstram que os petistas reagem de acordo com os atalhos partidários, mudando de opinião para se manterem consistentes com a informação partidária. Mais ainda, Baker et al. (2016)Baker, A., et al. “The dynamics of partisan identification when party brands change: the case of the Workers Party in Brazil”. The Journal of Politics, vol. 78, nº 1, p. 197-213, 2016. afirmam que, mesmo com a diluição da marca partidária, os petistas ainda se mantiveram leais à marca partidária ao longo do tempo. Essas evidências corroboram a afirmação de que o petismo é a identidade partidária mais forte e circunscrita no eleitorado brasileiro.

Em contrapartida, os partidários não-petistas sugerem outra fronteira no seu partidarismo. Os não-petistas apresentam menor consistência no que concerne ao pertencimento e à consciência de sua identidade partidária (Baker et al., 2016Baker, A., et al. “The dynamics of partisan identification when party brands change: the case of the Workers Party in Brazil”. The Journal of Politics, vol. 78, nº 1, p. 197-213, 2016.). Segundo Samuels e Zucco (2015)Samuels, D. J.; Zucco, C. “Crafting mass partisanship at the grass roots”. British Journal of Political Science, vol. 45, nº 4, p. 755-775, 2015., esses partidários provêm de partidos com pouco investimento em redes locais para o recrutamento de novos membros, diferenciando-se dos petistas em atitudes com relação à política e aos processos participativos da democracia. Em específico, eles reagem menos à atalhos partidários, logo, demonstram menor lealdade partidária ao longo do tempo. Se, por um lado, o não-petismo ainda é um grupo de identificações positivas e alternativas ao petismo7 7 Os não-petistas não necessariamente são antipetistas. O antipetismo é caracterizado pela rejeição ao PT (i.e., afetivo), explicado fundamentalmente por sentimentos anticorrupção (Ribeiro et al., 2016), avaliações da economia durante administração petista (Paiva et al., 2016) e filiação a denominações religiosas (Araújo, 2022). Os não-petistas, ao contrário, têm alguma aproximação cognitiva e positiva com um partido brasileiro, exceto o PT, explicada por outras razões como estratégia de recrutamento partidário (Samuels; Zucco, 2015). Apesar de cada vez mais alinhados na atualidade, a rejeição ao PT não é condição necessária, e nem suficiente, para a definição dos partidários não-petistas. , por outro, esses partidários engajados com a política são vulneráveis a candidatos outliers e à rejeição aos partidos políticos em geral, já que a fronteira desse partidarismo é menos consistente e estável.

Em termos de atalhos cognitivos e heurísticas partidárias, os sentimentos partidários descrevem a intensidade da aproximação entre partido e partidário. Esses sentimentos são heurísticas afetivas que estruturam as preferências políticas dos eleitores (Carreirão, 2008Carreirão, Y. S. “Opiniões políticas e sentimentos partidários dos eleitores brasileiros”. Opinião Pública, vol. 14, nº 2, p. 319-351, 2008.; Braga; Pimentel Jr., 2011). Tanto os petistas quanto os não-petistas se comportam, em certa medida, de acordo com os sentimentos intrapartidários – as avaliações sobre o próprio partido. Na perspectiva da identidade social do partidarismo (e.g., Green; Palmquist; Schickler, 2002; Mason 2018Mason, L. Uncivil agreement: How politics became our identity. Chicago: University of Chicago Press, 2018.), portanto, o petismo é a fonte de sentimentos intrapartidários e de construção afetiva junto ao PT. A conexão psicológica ao partido, por exemplo, faz com que os partidários evitem e desconsiderem informações negativas ou racionalizem a interpretação do contexto político para serem consistentes com a sua identidade (i.e., Bartels, 2002Bartels, L. M. “Beyond the running tally: Partisan bias in political perceptions”. Political Behavior, vol. 24, nº 2, p. 117-150, 2002.; Gaines et al., 2007Gaines, B., et al. “Same facts, different interpretations: Partisan motivation and opinion on Iraq”. The Journal of Politics, vol. 69, nº 4, p. 957-974, 2007.). Logo, os sentimentos intrapartidários, quando identificados em altas taxas, informam em que medida os partidos servem de atalhos cognitivos e heurísticas afetivas para a preferência de seu eleitorado.

A manutenção da identificação partidária não se restringe, entretanto, somente aos sentimentos intrapartidários. Os sentimentos em relação aos demais partidos que competem dentro de um sistema político explicam essa persistência na identificação (Lupu, 2016Lupu, N. Party brands in crisis: Partisanship, brand dilution, and the breakdown of political parties in Latin America. New York: Cambridge University Press, 2016.). Chamamos essas heurísticas afetivas sobre os outros partidos concorrentes de sentimentos interpartidários. Espera-se, assim, de ambos os grupos partidários brasileiros resultados semelhantes em relação ao distanciamento sistemático entre sentimentos partidários. Isto é, ambos demonstrariam a deterioração dos sentimentos interpartidários acompanhada da progressiva melhora das avaliações intrapartidárias. A perspectiva da identidade social sugere que, a partir da diferenciação das identidades sociais, as avaliações intrapartidárias serão sempre mais consistentes e positivas. A maior diferenciação ideológica das elites geraria o declínio dos sentimentos interpartidários em detrimento do aumento, cada vez maior, do sentimento intrapartidário, justificando, assim, a manutenção da identificação no eleitor.

O recente contexto político-histórico brasileiro passou por dois grandes escândalos de corrupção que não só impactaram a identificação partidária entre os eleitores brasileiros (i.e., Rennó, 2007Rennó, L. R. “Escândalos e voto: as eleições presidenciais brasileiras de 2006”. Opinião Pública, vol. 13, nº 2, p. 260-282, 2007.; Winters; Weitz-Shapiro, 2015Winters, M. S.; Weitz-Shapiro, R. “Political corruption and partisan engagement: evidence from Brazil”. Journal of Politics in Latin America, vol. 7, nº 1, p. 45-81, 2015.; Pavão, 2018Pavão, N. “Corruption as the only option: The limits to electoral accountability”. The Journal of Politics, vol. 80, n° 3, p. 996-1010, 2018.), como também promoveram sentimentos partidários mais negativos (Fuks; Ribeiro; Borba, 2021). Os sentimentos interpartidários, porém, podem ser baixos sem necessariamente depender das altas taxas de sentimentos intrapartidários (Caruana; McGregor; Stephenson, 2015). No Brasil, segundo Samuels e Zucco (2018)Samuels, D. J.; Zucco, C. Partisans, antipartisans, and nonpartisans: voting behavior in Brazil. New York: Cambridge University Press, 2018., à medida que sucessivas vitórias eleitorais disseminaram a marca petista, os sentimentos em relação ao PT deterioraram-se entre outros grupos partidários. Apesar de os não-petistas nutrirem simpatia por algum partido político tradicional, por exemplo, pelo PMDB ou PSDB por algum período (Paiva; Krause; Lameirão, 2016), estes não consolidaram uma identidade partidária duradoura no eleitorado. Os partidários não-petistas sugerem uma identificação sustentada não em altos índices de sentimentos intrapartidários positivos, mas principalmente em sentimentos interpartidários mais negativos.

As duas forças na cabeça do eleitor partidário

Modelos psicológicos sobre o partidarismo apresentam uma visão dinâmica entre as identidades partidárias e as preferências na cabeça do eleitor partidário. Isto é, a identidade partidária apenas ancora a variação das avaliações sobre os partidos (Bassili, 1995Bassili, J. N. “On the psychological reality of party identification: Evidence from the accessibility of voting intentions and of partisan feelings”. Political Behavior, vol. 17, nº 4, p. 339-358, 1995.). Logo, e não raramente, indivíduos partidários podem discordar e avaliar negativamente o comportamento do seu próprio partido. A ambivalência partidária surge quando há uma sensação cognitiva de disjunção entre a identidade e as avaliações individuais, isto é, quando partidários discordam sistematicamente das posições de seu próprio partido (Lavine; Johnston; Steenbergen, 2012). Assim, os partidos políticos se tornam vulneráveis à crítica e à deserção de seus partidários, os quais passariam a utilizar outras fontes de heurísticas que não os atalhos partidários para formar suas preferências e tomar decisões políticas.

Estudiosos da psicologia cognitiva, há muito tempo, investigam as motivações psicológicas (i.e., forças cognitivas) subjacentes à consistência no processamento de informação (e.g., Festinger, 1957Festinger, L. A theory of cognitive dissonance. Stanford: Stanford University Press, 1957.). Ziva Kunda (1990)Kunda, Z. “The case for motivated reasoning”. Psychological Bulletin, vol. 108, nº 3, p. 480, 1990. propõe uma teoria dual sobre as motivações do pensamento humano, sendo essas motivações cognitivas categorizadas em dois tipos: (1) forças de acurácia, que são o desejo de chegar a conclusões utilizando-se de estratégias mais apropriadas à circunstância (Fiske; Taylor, 1991Fiske, S. T.; Taylor, S. E. Social cognition. New York: Mcgraw-Hill Book Company, 1991.; Baumeister; Newman, 1994Baumeister, R. F.; Newman, L. S. “Self-regulation of cognitive inference and decision processes”. Personality and Social Psychology Bulletin, vol. 20, nº 1, p. 3-19, 1994.); e (2) forças direcionais (ou partidárias), que são o desejo de uma conclusão ou resultado específico para manter a consistência cognitiva (Druckman; Bolsen, 2011Druckman, J. N.; Bolsen, T. “Framing, motivated reasoning, and opinions about emergent technologies”. Journal of Communication, vol. 61, nº 4, p. 659-688, 2011.; Lodge; Taber, 2013Lodge, M.; Taber, C. S. The rationalizing voter. New York: Cambridge University Press, 2013.). Essas duas forças interagem entre si em face de informações contraditórias presentes no ambiente informacional. Essa diferenciação entre as motivações cognitivas do pensamento humano, quando aplicada ao partidarismo, permite-nos entender por que e como os partidários justificam e racionalizam informações negativas ou desagradáveis sobre o seu próprio partido, sem deixarem de ser partidários (Groenendyk, 2013Groenendyk, E. Competing motives in the partisan mind: How loyalty and responsiveness shape party identification and democracy. New York: Oxford University Press, 2013.; Bisgaard, 2015Bisgaard, M. “Bias will find a way: Economic perceptions, attributions of blame, and partisan-motivated reasoning during crisis”. The Journal of Politics, vol. 77, nº 3, p. 849-860, 2015.). Quando motivados por forças direcionais, os indivíduos são ofuscados pelos próprios vieses cognitivos, pelas recompensas simbólicas e pela lealdade ao grupo partidário (Akerlof; Kranton 2000Akerlof, G. A.; Kranton, R. E. “Economics and identity”. The Quarterly Journal of Economics, vol. 115, nº 3, p. 715-753, 2000.), assumindo preferências univalentes que não consideram outras informações presentes no contexto político (Lavine; Johnston; Steenbergen, 2012). Portanto, enquanto a identidade individual for defensável, o comprometimento com o próprio partido é incondicional.

Quando motivados majoritariamente por forças de acurácia, os eleitores têm como objetivo transparecer responsabilidade e dever cívico. Por exemplo, Cindy Kam (2007)Kam, C. D. “When duty calls, do citizens answer?”. The Journal of Politics, vol. 69, nº 1, p. 17-29, 2007. encontra experimentalmente que, ao serem lembrados da ideia de dever cívico, eleitores tendem a buscar informações sobre as posições políticas dos candidatos de maneira mais balanceada e imparcial. Logo, o partidário responsivo procura demonstrar comprometimento com o procedimento democrático (i.e., accountability) acima de qualquer viés partidário e pôr as elites de seu partido em xeque (Groenendyk, 2012Groenendyk, E. “Justifying party identification: A case of identifying with the ‘lesser of two evils’”. Political Behavior, vol. 34, nº 3, p. 453-475, 2012.; 2013). De forma que partidários responsivos tendem a ter maior ambivalência política e, consequentemente, observam e acessam outros atalhos informacionais e contextuais no momento de avaliação de suas preferências políticas e da tomada de decisão.

Todavia, as forças cognitivas entre os indivíduos partidários não são perfeitamente equilibradas. Em geral, os eleitores partidários tendem a ser mais motivados por forças direcionais e dificilmente formam preferências políticas de forma imparcial, o que resulta na proeminência das forças direcionais sobre às forças de acurácia (Taber; Lodge, 2012Taber, C. S.; Lodge, M. “Motivated skepticism in the evaluation of political beliefs (2006)”. Critical Review, vol. 24, nº 2, p. 157-184, 2012.; Lodge; Taber, 2013Lodge, M.; Taber, C. S. The rationalizing voter. New York: Cambridge University Press, 2013.). Na maioria das vezes, o pensamento político entre esses partidários é visto tipicamente como tendencioso e motivado pela necessidade de justificar suas posições políticas (Arceneaux; Vander Wielen, 2017Arceneaux, K.; Vander Wielen, R. J. Taming intuition: How reflection minimizes partisan reasoning and promotes democratic accountability. Cambridge University Press, 2017.). Em contextos políticos desfavoráveis e contextos eleitorais acirrados, as forças direcionais tendem a guiar o processamento de informação política, e os resultados são vieses nas preferências individuais e tomadas de decisão que justifiquem as crenças pré-existentes do eleitor partidário (Bartels, 2002Bartels, L. M. “Beyond the running tally: Partisan bias in political perceptions”. Political Behavior, vol. 24, nº 2, p. 117-150, 2002.; Redlawsk, 2002Redlawsk, D. P. “Hot cognition or cool consideration? Testing the effects of motivated reasoning on political decision making”. The Journal of Politics, vol. 64, nº 4, p. 1021-1044, 2002.; Parker-Stephen, 2013Parker-Stephen, E. “Tides of disagreement: How reality facilitates (and inhibits) partisan public opinion”. The Journal of Politics, vol. 75, nº 4, p. 1077-1088, 2013.; Stanley et al., 2020Stanley, M. L., et al. “Resistance to position change, motivated reasoning, and polarization”. Political Behavior, vol. 42, nº 3, p. 891-913, 2020.).

A probabilidade de mudança ou manutenção da identificação partidária depende de qual força partidária domina o raciocínio político individual. Apesar da proeminência de forças direcionais, a maioria dos indivíduos gosta e prefere ser vista como imparcial e responsiva aos acontecimentos da política (Klar; Krupnikov, 2016Klar, S.; Krupnikov, Y. Independent politics. Cambridge: Cambridge University Press, 2016.). Logo, a estratégia cognitiva mais eficiente envolve reconhecer as falhas do próprio partido, enquanto se enfatizam as maiores falhas, problemas e erros dos partidos adversários (Groenendyk, 2018Groenendyk, E. “Competing motives in a polarized electorate: political responsiveness, identity defensiveness, and the rise of partisan antipathy”. Political Psychology, vol. 39, p. 159-171, 2018.), estratégia conhecida como “o menor dos males”. Essa estratégia é altamente efetiva no contexto político por diversas razões: (i) alivia a necessidade de entender com profundidade todas as posições do próprio partido em temas políticos; (ii) reconhece a importância do accountability e do dever cívico democrático; (iii) provê ao indivíduo a justificativa de que seu partido seja o menor dos males, tornando, assim, seu partidarismo defensável.

Dados e Hipóteses

O presente artigo recorre às ondas do Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB)8 8 O Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB) é um survey nacional pós-eleitoral de cunho acadêmico, realizado pelo CESOP/UNICAMP desde 2002. A pesquisa ESEB 2002 foi realizada no período de 31 de outubro a 28 de dezembro de 2002, com um total de 2.513 entrevistas. A pesquisa ESEB 2006 foi feita com uma amostra representativa nacional, de 17 a 27 de dezembro 2006, com 1.000 respondentes. A pesquisa ESEB 2010 foi aplicada em amostra nacional de 2.000 entrevistas pessoais domiciliares de 4 a 20 de novembro de 2010. A pesquisa ESEB 2014 foi realizada com eleitores com 16 anos ou mais, a partir de uma amostra nacional representativa. Foram realizadas 3.136 entrevistas no total, de 01 a 19 de novembro de 2014. A pesquisa ESEB 2018 foi aplicada em amostra nacional de 2.506 entrevistas face a face e domiciliares de 10 a 24 de novembro de 2018. entre 2002 e 2018, pois consideramos que as perguntas de identificação e os termômetros de sentimentos presentes nessas ondas são constructos teóricos distintos, já que a identificação partidária reflete a conexão cognitiva entre o respondente e o partido (Veiga, 2007Veiga, L. F. “Os partidos brasileiros na perspectiva dos eleitores: mudanças e continuidades na identificação partidária e na avaliação das principais legendas após 2002”. Opinião Pública, vol. 13, nº 2, p. 340-365, 2007.). Assim, os respondentes que declararam ter algum partido que se aproxima ou que representa a sua maneira de pensar foram classificados como partidários de um determinado partido9 9 A questão no ESEB incluía a seguinte pergunta: “Qual o partido que melhor representa a maneira como o(a) sr(a) pensa?”. Na onda de 2014, porém, não há essa mesma pergunta. Ao contrário, os participantes respondiam à pergunta com o termo “gostar”. A mudança de termo, porém, pode implicar estímulos distintos (ver Bankert, Huddy; Rosema, 2017; Baker; Rennó, 2019). Para amenizar esse problema, primeiro utilizamos a pergunta sobre a existência de algum partido que se aproxime da maneira de pensar. Em caso de negativa, o respondente foi classificado como não partidário. Em contrapartida, no caso de existir algum partido, classificamos a partido do partido de que o participante mais gosta. De toda a maneira, os resultados de 2014 devem ser analisados com cautela. ; aqueles que se identificaram com o PT foram classificados como petistas, enquanto demais identificados positivamente com qualquer outro partido foram incluídos no grupo não-petista (ver Baker et al. 2016Baker, A., et al. “The dynamics of partisan identification when party brands change: the case of the Workers Party in Brazil”. The Journal of Politics, vol. 78, nº 1, p. 197-213, 2016.). Dentre as conexões cognitivas, o sentimento partidário compreende a heurística afetiva de um determinado partido que estrutura as preferências políticas do partidário (Braga; Pimentel Jr., 2011); já os termômetros afetivos indicam em que medida o respondente utiliza o atalho partidário como uma heurística afetiva para guiar atitudes e voto (Carreirão, 2008Carreirão, Y. S. “Opiniões políticas e sentimentos partidários dos eleitores brasileiros”. Opinião Pública, vol. 14, nº 2, p. 319-351, 2008.). Esses termômetros variam entre 0 (não gosta nada) e 10 (gosta muito), e é dentro dessa mensuração que respondentes devem avaliar um partido de cada vez10 10 O artigo utiliza termômetros em sua forma contínua. Em outros trabalhos, autores utilizam classificações e tipologias para classificar respostas ao longo da escala (i.e., Borges; Vidigal, 2018). A escala contínua apresenta três vantagens: (i) a análise não requer a definição de pontos que levam a perda de informação de parte da variação (Winter; Berinsky, 1999); (ii) a comparação entre termômetros evita problemas como dificuldade dos respondentes em interpretar os pontos das escalas individualmente (ver Iyengar et al., 2012); e (iii) a comparação desses resultados com os demais estudos pode ajudar na validação do uso discreto dos termômetros afetivos. .

O artigo utiliza-se da medida de identificação para classificar os sentimentos em intrapartidários e interpartidários. De acordo com o pertencimento a um grupo partidário, o termômetro informa a avaliação afetiva do próprio partido ou de outro. De modo que o sentimento intrapartidário corresponde ao termômetro avaliado pelo partidário sobre o seu próprio partido. Portanto, o sentimento de um petista pelo PT corresponde ao sentimento intrapartidário e varia entre 0 e 10; o sentimento interpartidário, por sua vez, corresponde ao termômetro dos demais partidos. Assim, o sentimento do petista por qualquer outro partido corresponde aos sentimentos interpartidários, que também variam de 0 a 10.

Na primeira seção de resultados, nossa estratégia empírica investiga as avaliações intrapartidárias e a avaliação dos atalhos partidários. Com o acirramento da polarização eleitoral, estudos mostram a ocorrência de um declínio geral nos sentimentos do eleitorado (Ribeiro; Carreirão; Borba, 2016; Fuks; Ribeiro; Borba, 2021), com as médias dos sentimentos intrapartidários em declínio ao longo do tempo, apesar de sempre positivas (ver Tabela 3A, com as médias dos sentimentos intrapartidários, no Apêndice A Apêndice A: Distribuição dos partidários e médias intrapartidárias no Brasil Tabela 1A : Frequência de partidários por eleição (%) Ano Partidários 2002 37.95 2006 27.30 2010 39.20 2014 25.41 2018 27.61 Fonte: Elaboração dos autores com dados do Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB) de 2002 a 2018. Tabela 2A : Frequência de partidários nos partidos tradicionais por eleição (%) Ano PT/PSDB/PMDB 2002 78.2 2010 83.7 2014 72.6 2018 43.8 Fonte: Elaboração dos autores com dados do Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB) de 2002 a 2018. Tabela 3A : Médias dos sentimentos intrapartidários Ano Médias 2002 8.490752 2006 7.871595 2010 8.562314 2014 8.110924 2018 8.517172 Fonte: Elaboração dos autores com dados do Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB) de 2002 a 2018. ). Caso fossem negativas, a identificação partidária cessaria: os eleitores se mantêm vinculados com algum partido político na medida em que conseguem justificar e ancorar sua identidade partidária com avaliações positivas.

Com o propósito de investigar o entusiasmo dos partidários brasileiros nas duas últimas décadas para além da análise de médias, avaliamos tanto a coesão desses sentimentos intrapartidários quanto a ambivalência nas avaliações dos candidatos de cada partido ao longo do tempo. A coesão e a ambivalência são sinais reveladores das diferentes respostas dos indivíduos partidários em relação aos partidos políticos. A importância dessas avaliações vem, portanto, do fato de que uma menor satisfação em relação ao comportamento do próprio partido não implica necessariamente um declínio das avaliações afetivas de todos os que possuem uma identificação (Lavine, 2001Lavine, H. “The electoral consequences of ambivalence toward presidential candidates”. American Journal of Political Science, vol. 45, nº 4, p. 915-929, 2001.)11 11 O coeficiente de variação das avaliações afetivas pode ser uma evidência de que, antes mesmo da falência da marca partidária, a falta de coesão entre os membros partidários nas avaliações indique discordância e inconsistências entre os partidários e o comportamento das elites. . Alguns partidários ajustam suas preferências e crenças políticas para se manter de acordo com o seu partido, concordando com o comportamento das elites partidárias e expressando sua afiliação partidária (Bullock et al., 2015Bullock, J. G.; Gerber, A. S.; Hill, S.J.; Hurber, G. “Partisan bias in factual beliefs about politics”. Quartely Journal of Political Science, vol. 10, nº 4, p.519-578, 2015.). Todavia, outros partidários penalizam o comportamento do seu próprio partido sem deixarem de se identificar com o partido. Em nossa primeira hipótese, esperamos que os coeficientes de variação entre os sentimentos intrapartidários sejam maiores ao longo do tempo para a maioria dos partidos. Segue sua formulação:

H1: O coeficiente de variação dos sentimentos intrapartidários aumentará ao longo do tempo.

Ainda sobre a satisfação dos partidários com o seu próprio partido, o cultivo de uma identidade forte e sólida exige dos partidos políticos uma consistência nas posições políticas de tomada de decisão (Lupu, 2016Lupu, N. Party brands in crisis: Partisanship, brand dilution, and the breakdown of political parties in Latin America. New York: Cambridge University Press, 2016.). Os diferentes contextos políticos e eleitorais, por sua vez, forçam os partidos a mudarem de estratégias ao longo do tempo e, a partir dessas movimentações, os eleitores descobrem que o seu partido político não os representa ou os representa menos do que imaginavam anteriormente (Rennó; Ames, 2014Rennó, L. R.; Ames, B. “PT no purgatório: ambivalência eleitoral no primeiro turno das eleições presidenciais de 2010”. Opinião Pública, vol. 20, nº 1, p. 01-25, 2014.). Apesar de acessíveis, os atalhos partidários deixam de ser pertinentes e confiáveis na medida em que o entusiasmo e a satisfação dos eleitores partidários em relação ao partido diminuem12 12 Albertson e Gadarian (2015), por exemplo, afirmam que o ambiente político e informacional pode estimular o aumento de emoções de ansiedade, o que, por sua vez, tende a reduzir os vieses motivacionais partidários (ver Redlawsk et al., 2010). . O resultado dessa perda de confiabilidade e entusiasmo com os atalhos partidários e, consequentemente, com o partido político produz a ambivalência partidária (Lavine; Johnston; Steenbergen, 2012).

Os principais atalhos partidários no contexto brasileiro são as candidaturas presidenciais (Samuels, 2002Samuels, D. J. “Pork barreling is not credit claiming or advertising: Campaign finance and the sources of the personal vote in Brazil”. The Journal of Politics, vol. 64, nº 3, p. 845-863, 2002.), devido ao sistema político altamente personalista, no qual candidatos são empreendedores individuais em busca de marcas que aumentem sua chance de eleição de acordo com o posicionamento na lista eleitoral (Zucco; Power, 2020). Aqui, o candidato da coligação provê um atalho, mesmo que não seja filiado especificamente ao partido do eleitor partidário. Por exemplo, o partidário do PMDB avaliou os candidatos do PT de 2010 a 2014. Nossa expectativa é que a ambivalência nas avaliações dessas candidaturas tenha aumentado ao longo dos últimos anos. Para levantarmos tais dados, calculamos a ambivalência como a distância quadrada entre a avaliação individual e a média das avaliações dos copartidários (ver Robison, 2021Robison, J. “What's the Value of Partisan Loyalty? Partisan Ambivalence, Motivated Reasoning, and Correct Voting in US Presidential Elections”. Political Psychology, vol. 42, nº 6, p. 977-993, 2021.). Essa medida varia entre 0 e 100, na qual 0 significa nenhuma ambivalência e 100 significa ambivalência partidária máxima. Assim, nossa segunda hipótese é que:

H2: A ambivalência sobre os candidatos presidenciais será maior do que as médias das ambivalências dos anos anteriores.

O panorama do coeficiente de variação e da ambivalência partidária, no caso brasileiro, levanta questionamentos acerca de como os partidários sustentam sua identificação com os partidos políticos. A hipótese do menor dos males prevê que, concomitante ao declínio do entusiasmo, os indivíduos buscam justificar o partidarismo positivo a partir da maior deterioração dos sentimentos interpartidários (Groenendyk, 2012Groenendyk, E. “Justifying party identification: A case of identifying with the ‘lesser of two evils’”. Political Behavior, vol. 34, nº 3, p. 453-475, 2012.). Evita-se, assim, o acúmulo de avaliações positivas em relação ao partido opositor mesmo com avaliações menos coesas e de maior ambivalência em relação ao próprio partido. Em cenários de polarização eleitoral, esse mecanismo de depreciação dos sentimentos partidários tende a se intensificar.

A Figura 1 a seguir representa a dinâmica teorizada entre os dois tipos de sentimentos partidários. Os sentimentos intrapartidários estão no eixo x (abscissa) e os sentimentos interpartidários, no eixo y (ordenada). A linha tracejada marca a correlação linear e direta entre os dois sentimentos. Entretanto, caso a linha contínua ultrapassasse a linha tracejada, os sentimentos positivos em relação ao adversário se acumulariam, o que mostraria indícios de que a identificação partidária cessou. Para evitar esse cenário, a identidade partidária transforma a relação entre os sentimentos intrapartidários e os interpartidários em uma correlação inversa de segundo grau: os sentimentos interpartidários começam a declinar ao longo dos valores dos sentimentos intrapartidários.

Figura 1
Dinâmica entre os Sentimentos Partidários

Nossa expectativa é que as inclinações das curvas geradas pela dinâmica entre os sentimentos partidários sejam acentuadas nos anos eleitorais mais recentes, em especial, quando as disputas presidenciais entre PT e os demais partidos ficaram mais acirradas. Isso porque os valores das avaliações interpartidárias declinam, com pouco acúmulo de avaliações positivas ao partido concorrente, e esse declínio será mais acentuado. Em outras palavras, esperamos uma parábola convexa, ou seja, com concavidade voltada para baixo.

A equação a seguir, na qual o termo subscrito i indica cada indivíduo partidário, descreve a relação entre sentimentos partidários, e mostra que, portanto, ela não é linear, mas quadrática. Os sentimentos intrapartidários e interpartidários são extraídos dos termômetros de avaliação que variam de 0 a 10.

Interpartidário i = β 1 Intrapartidário i + β 2 Intrapartidário i 2 + ε

O termo quadrático (β2 * intrapartidário2) ajusta a expectativa de que as avaliações interpartidárias tenham retornos decrescentes após certo valor da avaliação intrapartidária. Esperamos que o ponto máximo das curvas apresente valores menores e os termos quadráticos sejam significativos nos anos mais recentes, com o crescimento do acirramento eleitoral. Além disso, o cenário brasileiro representa uma dinâmica particular: o partidarismo orbita em torno do petismo (Samuels; Zucco, 2018Samuels, D. J.; Zucco, C. Partisans, antipartisans, and nonpartisans: voting behavior in Brazil. New York: Cambridge University Press, 2018.). Esperamos, por conta dessa característica definidora do contexto brasileiro, que as curvas dos sentimentos entre os não-petistas tenham curvaturas maiores. Entre os petistas, devido à identidade partidária forte e bem delineada, as curvas não terão essa mesma acentuação e esperamos uma menor curvatura. Portanto, esperamos que esses eleitores não justifiquem os seus sentimentos partidários a partir da degradação dos partidos adversários ao longo do tempo. Seguem as formulações da terceira hipótese e da sub-hipótese a ela associada:

H3: O efeito das inclinações dos sentimentos intrapartidários sobre os sentimentos interpartidários será crescente ao longo do tempo.

H3a: As inclinações dos sentimentos entre os não-petistas serão significativas ao longo do tempo.

Resultados

Avaliações intrapartidárias e ambivalência (H1 e H2)

A coesão dos sentimentos partidários sinaliza um aspecto do entusiasmo dos eleitores partidários em torno dos partidos políticos. Quando concentrada, a coesão informa o consenso em relação à performance do partido. Para tanto, calculamos a coesão por meio dos coeficientes de variação: divisão entre o desvio-padrão dos sentimentos intrapartidários pela sua média em cada ano (i.e., Groenendyk, 2018Groenendyk, E. “Competing motives in a polarized electorate: political responsiveness, identity defensiveness, and the rise of partisan antipathy”. Political Psychology, vol. 39, p. 159-171, 2018.)13 13 Os coeficientes de variação permitem a comparação de diferentes ondas sem efeito da unidade de medida. Para o teste estatístico entre os coeficientes de cada onda, utilizamos o Modified Signed-likelihood ratio test (SLRT), teste que compara a igualdade dos valores dos coeficientes de variação em diferentes amostras (Krishnamoorthy; Lee, 2014). Essa versão modificada do teste, que é baseada bootstrapping, é vantajosa para a comparação de coeficientes de variação até em amostras pequenas e diminui a chance de falso negativo (erro Tipo I). . Esse coeficiente se mostrou estatisticamente significante ao longo da série temporal (p<.05); tal resultado suporta a primeira hipótese (H1). Em geral, o coeficiente de variação dos sentimentos intrapartidários aumentou em média de 0.25 (em 2002) a 0.27 (em 2018), o que aponta o declínio da coesão entre os partidários no Brasil.

A Figura 2 a seguir apresenta os coeficientes de variação por partido. Os três partidos tradicionais – PT, PSDB e PMDB – aumentaram os coeficientes de variação após 201014 14 PT, PMDB e PSDB ganharam destaque na política partidária brasileira nas eleições presidenciais pós-redemocratização. Até 2018, PT e PSDB protagonizaram as disputas para a presidência, com o PMDB de principal coadjuvante. Segundo Veiga (2007), essas experiências de destaques no âmbito federal impactam na consolidação de uma identificação partidária. Esses partidos juntos acumulam entre 72% e 88% do eleitorado partidário até 2014. A Tabela 2A (Apêndice A) apresenta o percentual de partidários, em cada ano, dos três partidos tradicionais (ver Baker et al., 2016). . Os petistas continuam reportando maior coesão do que os demais partidos tradicionais (coeficiente de variação igual a 0.26 em 2018). Porém, o coeficiente cresceu significativamente de 2014 a 2018 (p<.05). O PSDB teve aumento significativo de 2010 e 2014 (p<.05), enquanto o PMDB sofreu a maior perda de partidários entre todos os partidos, com o aumento expressivo do coeficiente em 2014 (p<.05)15 15 Em 2017, o partido mudou de nome para MDB, nome histórico do partido, em busca de minimizar o desgaste político após escândalos em 2014 (Duque; Smith, 2019). . Os resultados sugerem que, entre aqueles eleitores que mantiveram alguma identificação partidária nos partidos tradicionais (N=303 partidários em 2018), alguns continuaram apoiando os partidos com sentimentos positivos enquanto outros aumentaram sua desaprovação com sentimentos mais moderados e contidos.

Figura 2
Evolução do coeficiente de variabilidade por partido

A categoria dos demais partidos apresenta forte variação ao longo da série temporal, mas é a única que resulta em menores coeficientes de variação (i.e., crescimento da coesão) dos sentimentos intrapartidários em 201816 16 Os demais partidos são um grupo construído pelo PDT, PFL/DEM e PTB. Esses partidos apresentam termômetros de avaliação desde 2002. Após 2006, adicionamos o PSOL à categoria devido à crescente influência da legenda no campo da esquerda brasileira. Em 2018, incluímos o PSL, partido que dobrou o número de partidários em relação ao último ano da série histórica (N = 173). . Os coeficientes apresentaram significância estatística em 2018 (p<.05). Esse resultado deve-se ao PSL (com coeficiente de variação igual a 0.25 em 2018) e a sua candidatura presidencial, a qual contribuiu com o destaque da legenda em nível nacional. Dada a evolução dos coeficientes de variação, podemos dizer que não há consenso entre os sentimentos partidários em relação à maior parte dos partidos políticos brasileiros, principalmente entre os partidários dos partidos tradicionais.

Um diagnóstico mais preciso sobre o entusiasmo dos partidários brasileiros exige a investigação da ambivalência partidária. Precisamos avaliar, além dos sentimentos intrapartidários, se há ambivalência na avaliação dos candidatos presidenciais e se também seguem a mesma tendência dos coeficientes de variação nos sentimentos intrapartidários. Nossa expectativa é a de que as médias das ambivalências aumentem ao longo dos anos (H2), principalmente, no período mais recente, após 2014.

De fato, a ambivalência partidária cresceu, em concordância à H2, como pode ser visto na Figura 3, a seguir, que apresenta a evolução das médias de ambivalência partidária para cada partido. Nessa Figura, é possível perceber que a maioria dos candidatos das legendas tradicionais viu crescer a ambivalência partidária nos anos mais recentes. Por exemplo, as médias cresceram de 9.15, em 2002, para 22.03, no ano de 2018; um crescimento de 140% no período. A partir de 2014, as médias passam a ser estatisticamente significativas (p<.05). Concomitantemente com o resultado dos coeficientes de variação nos sentimentos intrapartidários (H1), esse resultado corrobora o cenário de declínio do entusiasmo entre os partidários pelo próprio partido político.

Figura 3
Evolução das médias de ambivalência por partido

O PT e o PMDB tiveram aumento após 2010, mas somente os petistas tiveram aumentos significativos (p<.05). O PSDB apresentou queda nas ambivalências após 2014, entretanto, nenhuma foi significativa. O bloco dos demais partidos também indicou queda nas médias de ambivalência em 2018 (p<.05), puxada novamente pelo PSL (ambivalência média igual a 15.7), após alta, em 2014 (p<.05). Os resultados sugerem que, dentre aqueles que mantiveram identificação partidária, o principal atalho partidário (i.e., candidatos) não demonstra a mesma confiabilidade e força que uma vez já tivera. Essa dúvida gerada pela distância crescente das avaliações dos atalhos estimula um estilo mais deliberativo de pensamento e raciocínio no qual partidários buscam informações e tornam-se mais abertos a outros atalhos de decisão, como o interesse pessoal (Lavine; Borgida; Sullivan, 2000).

Esses resultados complementam o cenário de queda das avaliações e do entusiasmo entre os partidários brasileiros que, na mesma série temporal, aumentaram o questionamento da qualidade do candidato do próprio partido (Rennó; Ames, 2014Rennó, L. R.; Ames, B. “PT no purgatório: ambivalência eleitoral no primeiro turno das eleições presidenciais de 2010”. Opinião Pública, vol. 20, nº 1, p. 01-25, 2014.). A ambivalência nos permite investigar quais atalhos são mais acessíveis e confiáveis e quais são mais efetivos para os partidários em cada grupo de partidarismo, já que atalhos se mostram eficazes em mover a opinião pública brasileira (Samuels; Zucco, 2018Samuels, D. J.; Zucco, C. Partisans, antipartisans, and nonpartisans: voting behavior in Brazil. New York: Cambridge University Press, 2018.). Existem partidários que são altamente polarizados, mas o partidário modal que observamos é mais ambivalente em relação aos atalhos partidários e ao próprio partido político.

Em suma, o acirramento da polarização eleitoral não aumentou a coesão interna dos partidários, nem aumentou a confiança em relação aos atalhos partidários durante eleições. Pelo contrário, vimos o aumento da variabilidade de avaliações em relação ao próprio partido (H1) e a diminuição da confiança nos candidatos oferecidos pelos partidos (H2). Os partidos tradicionais – PMDB e PSDB – apresentaram os piores resultados em relação ao entusiasmo de seus partidários. Já os demais partidos tiveram um resultado oposto no ano de 2018. Entretanto, não podemos afirmar que isso representa a formação de uma identificação partidária, pois, até 2014, os demais partidos sempre apresentaram grande variação nos indicadores.

Coordenação entre sentimentos partidários (H3 e H3a)

Após atestarmos o declínio na coesão dos sentimentos e na confiança dos atalhos entre os partidários brasileiros, investigamos a coordenação entre esses sentimentos intrapartidários e os interpartidários nos dois principais grupos existentes no Brasil: os petistas e os não petistas. Para a presente hipótese, medimos os sentimentos interpartidários como as avaliações nos termômetros sobre o principal concorrente em cada ano da disputa eleitoral. Entre os petistas, os sentimentos interpartidários são as avaliações em relação ao PSDB até 2014, pois, em 2018, o principal concorrente passou a ser o PSL. Já entre os não-petistas, os sentimentos interpartidários descrevem as avaliações sobre o PT. Nossas expectativas são que a dinâmica entre os sentimentos partidários se acentue ao longo da série temporal, dado o grau de acirramento eleitoral nos pleitos mais recentes (H3), e que, especificamente, os partidários não-petistas apresentem curvas mais acentuadas (maiores curvaturas) do que os petistas, por conta da dinâmica particular do partidarismo entre esses indivíduos (H3a).

A Figura 4, apresentada a seguir, apresenta a dinâmica entre os sentimentos intrapartidários e os interpartidários entre os petistas e entre os não-petistas. Conforme observamos, as curvas são geradas pela relação quadrática entre os sentimentos e têm concavidade voltada para baixo, como esperado, e sua posição vertical (i.e., elevação do ponto de inflexão) em relação ao eixo y apoia a hipótese do menor dos males (H3). Já as alturas relativas dos pontos de inflexão das curvas diminuíram nos anos mais recentes – 2010, 2014 e 2018 –, o que indica sentimentos interpartidários mais negativos. Entre os petistas, as avaliações interpartidárias estimadas caíram de 5.02 a 3.17, entre 2010 e 2018, enquanto entre os não-petistas, as avaliações interpartidárias caíram de 7.93 para 3.86 no mesmo período. No eixo das avaliações intrapartidárias (eixo x), por sua vez, os anos mais recentes tiveram os pontos de inflexão se movendo para a esquerda, visto que os pontos se moveram para valores menores na escala das avaliações intrapartidárias. Entre os petistas, em 2010, o ponto de inflexão se deslocou de 6.77 para 4.44, em 2018, enquanto o movimento entre os não-petistas também foi para valores menores no mesmo período, de 6.49 para 5.25.

Figura 4
Coordenação entre os sentimentos partidários

A distinção nas curvas entre os petistas e os não-petistas sugere apoio à H3a. Nos modelos estatísticos bivariados (Apêndice B Apêndice B: Testes Bivariados por grupos partidários Tabela 1B : Modelo de regressão bivariado para apenas eleitores petistas Sentimento Interpartidário 2002 2006 2010 2014 2018 Constante 3.810*** (0.814) -0.403 (2.534) 1.843 (1.237) 2.051* (1.151) 3.372*** (1.190) Intrapartidário 0.001 (0.251) 0.806 (0.715) 0.532 (0.343) 0.403 (0.345) -0.039 (0.393) Intrapartidário2 -0.005 (0.019) -0.047 (0.049) -0.041* (0.024) -0.030 (0.026) -0.004 (0.031) Observações 498 159 455 301 170 R2 0.002 0.013 0.007 0.005 0.006 R2 Ajustado -0.002 0.00004 0.003 -0.002 -0.006 Erro-Padrão Residual 2.679 (df = 495) 2.702 (df = 156) 2.731 (df = 452) 2.953 (df = 298) 2.891 (df = 167) Estatística F 0.546 (df = 2; 495) 1.003 (df = 2; 156) 1.701 (df = 2; 452) 0.690 (df = 2; 298) 0.463 (df = 2; 167) Nota:*p<0.1; **p<0.05; ***p<0.01 Fonte: Elaboração dos autores com dados do ESEB (2002-2018) e modelos polinomiais. Tabela 2B : Modelo de regressão bivariado para apenas eleitores não-petistas Variável dependente: Sentimento Interpartidário 2002 2006 2010 2014 2018 Constante 2.675 (1.905) -2.714 (4.739) -0.111 (2.493) 1.213 (0.999) 0.017 (1.034) Intrapartidário 0.417 (0.588) 1.655 (1.349) 1.341* (0.698) 0.644* (0.336) 0.807** (0.326) Intrapartidário2 -0.027 (0.043) -0.113 (0.093) -0.103** (0.048) -0.051* (0.027) -0.077*** (0.024) Observações 174 69 163 204 183 R2 0.004 0.022 0.032 0.018 0.102 R2 Ajustado -0.008 -0.007 0.020 0.008 0.092 Erro-padrão Residual 3.706 (df = 171) 2.971 (df = 66) 3.189 (df = 160) 3.207 (df = 201) 2.074 (df = 180) Estatística F 0.312 (df = 2; 171) 0.753 (df = 2; 66) 2.648* (df = 2; 160) 1.836 (df = 2; 201) 10.234*** (df = 2; 180) Nota:*p<0.1; **p<0.05; ***p<0.01 Fonte: Elaboração dos autores com dados do ESEB (2002-2018) e modelos polinomiais. , Tabelas 1B e 2B), os termos quadráticos se mostram significantes em 2010 (p<.05) e em 2018 (p<.05) para os não-petistas, sendo o declínio das avaliações interpartidárias expressivo para esse grupo nos anos eleitorais mais recentes. A recíproca, porém, não é verdadeira: os petistas não apresentam nenhum termo quadrático significante. A descrição na literatura sobre a diferença entre os partidários brasileiros prevê, entre os não-petistas, uma identidade menos delineada e clara, com suas avaliações ancoradas em fatores contextuais, em vez de exclusivamente na identificação partidária individual (Baker et al., 2016)Baker, A., et al. “The dynamics of partisan identification when party brands change: the case of the Workers Party in Brazil”. The Journal of Politics, vol. 78, nº 1, p. 197-213, 2016.. Os resultados sugerem que, após esses indivíduos escolherem apoiar um partido específico, ao longo dos anos, a mobilização dessa identificação se manterá enquanto o partido fizer frente ao PT.

Por fim, a Tabela 1 apresenta os resultados de regressão entre os sentimentos partidários com uma série de variáveis de controle (autolocalização ideológica, faixa etária e grau de instrução)17 17 A Tabela 1 apresenta somente os valores dos sentimentos e a identidade partidária. Os resultados completos estão no Apêndice C, Tabela 1C. . Primeiramente, ideologia é essencial dentro das teorias espaciais de preferências partidárias (Downs, 1957Downs, A. An Economic Theory of Democracy. New York: Harper, 1957.), ou seja, a congruência ideológica do partido aumenta a chance de avaliações positivas sobre o próprio partido e diminui as avaliações positivas para os partidos mais distantes ideologicamente. Em seguida, a idade aumenta a estabilidade da identificação, coordenando tanto a consistência e as justificativas dos sentimentos partidários (Groenendyk, 2013Groenendyk, E. Competing motives in the partisan mind: How loyalty and responsiveness shape party identification and democracy. New York: Oxford University Press, 2013.). Finalmente, incluímos o nível educacional como uma proxy para os recursos cognitivos e conhecimento político, uma vez que quanto maior o conhecimento e informação política disponíveis, maior será a capacidade de coordenação e sustentação do partidarismo a partir das forças direcionais, ao mesmo tempo em que as forças responsivas têm menos força (Arceneaux; Vander Wielen, 2017Arceneaux, K.; Vander Wielen, R. J. Taming intuition: How reflection minimizes partisan reasoning and promotes democratic accountability. Cambridge University Press, 2017.). Esses fatores não são determinantes da avaliação interpartidária, mas servem como fatores considerados relevantes pela teoria das motivações cognitivas para se isolar os efeitos entre os sentimentos partidários.

Tabela 1
Modelo de Regressão Linear com Sentimentos Partidários

Os resultados da Tabela 1 reforçam o argumento de que os indivíduos partidários aderem à estratégia do menor dos males (H3) nos anos mais acirrados da disputa eleitoral. Em 2018, por exemplo, auge do acirramento eleitoral, o termo quadrático se torna significativo (p<.05). Os sinais entre os termos simples e os quadráticos apresentam direções opostas, o que confirma a expectativa do formato de uma parábola com concavidade para baixo e mais acentuada nos anos de maior acirramento eleitoral. Além disso, partidários não-petistas surgem como adeptos da estratégia de justificar sua identificação em avaliações interpartidárias mais negativas. A diferença estimada na avaliação interpartidária em 2018 é de aproximadamente 1.7 e significativa (p<.01).

A teoria das motivações partidárias explica que os efeitos marginais decrescentes se devem às avaliações cada vez mais negativas em relação ao partido adversário, que são acompanhadas de sentimentos interpartidários menos coesos (H1) e ambivalência partidária (H2). Após 2014, encontramos sinais de declínio da favorabilidade e satisfação com os partidos políticos brasileiros na maioria dos casos, exceto para o PT. Em 2018, por volta de 4.2 na escala de 0 a 10 nos termômetros de sentimentos intrapartidários, o efeito passa a declinar significativamente. Isso pode ser observado pelo fato de que, antes mesmo da metade da escala, os partidários brasileiros passam a avaliar negativamente o partido concorrente. A noção de pertencimento, identidade e consciência individual do partidarismo no Brasil, na maioria dos casos, articula-se e justifica-se a partir de avaliações interpartidárias mais negativas.

Em suma, observamos que os não-petistas identificados com algum partido político brasileiro não correspondem, em sua maioria, aos mais leais e acríticos às legendas partidárias. Portanto, esses partidários mantêm sua identificação partidária por meio de avaliações interpartidárias mais negativas. Isto é, esses partidários desenvolveram sentimentos mais negativos em relação ao principal partido no contexto brasileiro – o PT – e não uma maior mobilização ou sentimentos mais positivos em torno do seu próprio partido. Essa evidência conecta dois diagnósticos recentes na política brasileira: a crescente hostilidade entre os petistas e os não-petistas e a queda geral dos sentimentos intrapartidários. Discutimos as possíveis implicações para a política brasileira, oportunidades de pesquisa e limitações desses resultados a seguir.

Discussão e Conclusão

O artigo investiga a natureza do partidarismo no contexto brasileiro por meio da dinâmica entre os sentimentos intrapartidários e interpartidários. A hipótese do menor dos males prevê que, concomitantemente ao declínio do entusiasmo com o próprio partido, os indivíduos justificam a sua identificação a partir da maior deterioração dos sentimentos interpartidários. Essa estratégia é altamente efetiva no contexto da política, pois alivia a necessidade de acúmulo de informação sobre temas políticos e provê aos partidários a justificativa necessária para continuar apoiando seu partido, tornando assim sua identificação defensável.

Segundo a teoria das motivações partidárias, o partidarismo é a articulação entre a identidade social e as preferências políticas (Lavine; Johnston; Steenbergen 2012; Groenendyk, 2013Groenendyk, E. Competing motives in the partisan mind: How loyalty and responsiveness shape party identification and democracy. New York: Oxford University Press, 2013.). Ao mesmo tempo em que têm um dever cívico de manter as elites partidárias responsivas, os indivíduos partidários também são motivados pela lealdade ao seu próprio partido (Groenendyk, 2018Groenendyk, E. “Competing motives in a polarized electorate: political responsiveness, identity defensiveness, and the rise of partisan antipathy”. Political Psychology, vol. 39, p. 159-171, 2018.). Eventualmente, esses partidários discordam das posições políticas do partido, porém, enquanto são capazes de justificar a identificação, o conflito entre motivações responsivas e direcionais tende a resultar na preponderância da lealdade partidária. A partir da estratégia do menor dos males, o partidário pode reconhecer as falhas do próprio partido (i.e., declínio dos sentimentos intrapartidários) com o reforço dos erros e defeitos de seus concorrentes (i.e., deterioração dos sentimentos interpartidários).

Essa estratégia não é, entretanto, simétrica entre os grupos partidários brasileiros. Em um contexto nacional extremamente fragmentado, na média, as identificações entre os não-petistas se justificam na contraposição ao petismo (Borges; Vidigal, 2018Borges, A.; Vidigal, R. “Do lulismo ao antipetismo? Polarização, partidarismo e voto nas eleições presidenciais brasileiras”. Opinião Pública, vol. 24, nº 1, p. 53-89, 2018.; Samuels; Zucco, 2018Samuels, D. J.; Zucco, C. Partisans, antipartisans, and nonpartisans: voting behavior in Brazil. New York: Cambridge University Press, 2018.). A dinâmica partidária entre os não-petistas fica mais evidente a partir da coordenação não-linear entre os sentimentos partidários. Os resultados não sugerem motivações partidárias coesas entre os indivíduos e o partido, como esperado, o que reflete em suas avaliações interpartidárias sobre o sistema partidário em geral. Recentemente, a justificativa de manutenção da identidade partidária para esse grupo com fronteiras pouco delineadas é a contínua avaliação negativa em relação ao partido concorrente e a possibilidade de vitória em ciclos eleitorais. Portanto, a hipótese do menor dos males indica que a deterioração dos sentimentos interpartidários é uma estratégia possível, mas não suficiente, para manter essa identificação positiva nos eleitores partidários menos entusiasmados com a própria legenda partidária.

A animosidade em relação ao PT aumentou drasticamente ao longo dos anos, mas a afinidade com os demais partidos não ficou mais forte proporcionalmente. A crescente deterioração do sentimento partidário implica o apoio aos candidatos que utilizem a estratégia eleitoral da animosidade interpartidária em vez do fortalecimento de marcas partidárias e ideológicas. Quando o apoio decorre da forte antipatia e rejeição do candidato adversário, tais candidatos estão menos sujeitos à lógica do accountability (Iyengar; Krupenkin, 2018Iyengar, S.; Krupenkin, M. “The strengthening of partisan affect”. Political Psychology, vol. 39, p. 201-218, 2018.), pois a identificação partidária passa a se ancorar somente em avaliações negativas atribuídas ao principal adversário e sujeita às mudanças da política. A teoria apresentada aqui sugere que tais indivíduos compensam a falta de delimitação e coesão partidária com avaliações interpartidárias mais negativas e mais extremas. Logo, a identificação partidária entre não-petistas se sustenta na forte avaliação negativa de seus adversários com o declínio do entusiasmo – a diminuição da coesão e o aumento da ambivalência – sobre o próprio partido.

Os resultados levantados na pesquisa sugerem o acirramento das disputas entre PT e o principal concorrente desde 2010 e, não surpreendentemente, em 2018, ocorreu o auge dessa aversão ao petismo e a animosidade aos partidos políticos em geral. Ambos os grupos de partidários justificam o apoio intrapartidário a partir de avaliações interpartidárias mais negativas. Os dados dos partidários não-petistas mostram uma degradação mais acentuada das avaliações sobre o PT, o que configura esse partidarismo positivo como altamente baseado na estratégia do menor dos males. Ocorre a deterioração da imagem dos oponentes como um mecanismo de justificativa e correção da ambivalência. O artigo alcança somente a dicotomia entre petistas e não-petistas, sugerindo que a hipótese do menor dos males descreve a articulação dos sentimentos partidários entre eleitores que permanecem identificados com algum partido político.

O comportamento das elites partidárias tanto aumentou a ambivalência em relação aos candidatos quanto diminuiu, na média, o número de identificados no eleitorado. A medida de ambivalência entre os partidários proporciona um indicador de crises das lideranças partidárias, que precedem a falência da marca do partido (Lupu, 2016Lupu, N. Party brands in crisis: Partisanship, brand dilution, and the breakdown of political parties in Latin America. New York: Cambridge University Press, 2016.). Em 2018, até mesmo entre os petistas, a média da ambivalência aumentou. Todavia, surgiram marcas partidárias entre os não-petistas que se diluíram em coligações eleitorais sem gerar uma identidade sólida e consistente enquanto o declínio de marcas partidárias tradicionais acompanha a inconsistência de marcas menos tradicionais no campo dos não-petistas. Futuros estudos sobre partidarismo podem explorar diferenças entre os partidos para além do petismo; identificações partidárias que possuem, na média, menos fronteiras e coordenam sentimentos de forma distinta ao petismo. Normativamente, uma marca partidária correspondente ao PT, entre esses grupos, estabilizaria os sentimentos partidários dos eleitores não-petistas, hoje, vulneráveis a candidatos extremistas, outliers e discursos de animosidade.

O estudo sobre as diferentes motivações psicológicas contribui para o entendimento das diversas identificações partidárias e permite que mais mecanismos cognitivos possam ser explorados em futuras pesquisas. A ambivalência, por exemplo, permite-nos investigar quais atalhos são mais acessíveis e confiáveis (Lavine; Johnston; Steenbergen 2012) e indica quais os atalhos são efetivos para partidários de cada grupo, já que os atalhos informacionais se mostram eficazes em mover a opinião pública brasileira (Rennó; Ames, 2014Rennó, L. R.; Ames, B. “PT no purgatório: ambivalência eleitoral no primeiro turno das eleições presidenciais de 2010”. Opinião Pública, vol. 20, nº 1, p. 01-25, 2014.; Samuels; Zucco, 2018Samuels, D. J.; Zucco, C. Partisans, antipartisans, and nonpartisans: voting behavior in Brazil. New York: Cambridge University Press, 2018.). O estudo dos vieses psicológicos entre os partidários serve de alerta do declínio do accountability, também como oportunidade de pesquisa sobre mecanismos de racionalização e o comportamento da opinião pública brasileira.

O presente artigo, porém, apresenta limitações importantes. Primeiramente, o tamanho amostral relativamente pequeno de eleitores partidários prejudica alguns testes estatísticos. Com uma amostra coletada com foco nesse grupo específico, esperamos que os efeitos encontrados sejam maiores ou até outros efeitos sejam identificados, não captados pelo presente estudo. Além disso, não conseguimos derivar de estudos observacionais inferências e direções causais sobre identidades e atitudes. Para tanto, métodos experimentais são mais adequados, pois oferecem oportunidade para se avaliar possíveis mecanismos causais tanto para os petistas quanto os não-petistas, na articulação entre identidades e preferências (i.e., Winter; Weitz-Shapiro, 2015; Baker et al., 2016Baker, A., et al. “The dynamics of partisan identification when party brands change: the case of the Workers Party in Brazil”. The Journal of Politics, vol. 78, nº 1, p. 197-213, 2016.; Samuels; Zucco, 2018Samuels, D. J.; Zucco, C. Partisans, antipartisans, and nonpartisans: voting behavior in Brazil. New York: Cambridge University Press, 2018.). Por fim, a estratégia de menor dos males aplica-se à identificação partidária positiva. Não se pode inferir que indivíduos que se identificam em torno apenas de rejeição a um partido coordenem sentimentos partidários para justificar tal partidarismo negativo (ver Bankert, 2021). Os resultados teóricos e empíricos não alcançam todos os partidários antipetistas, o que requer estudos específicos para abordar como esses partidários articulam e justificam os sentimentos intrapartidários e interpartidários. De forma que sugerimos que mais estudos sejam realizados com o foco nos partidários, os quais representam a parcela mais engajada na política (Muirhead; Rosenblum, 2020Muirhead, R.; Rosenblum, N. L. “The political theory of parties and partisanship: Catching up”. Annual Review of Political Science, vol. 23, p. 95-110, 2020.) e também com aqueles eleitores que tendem a apresentar vieses informacionais e de desinformação em massa (ver Flynn; Nyhan; Reifler, 2017).

A concepção de menor dos males é derivada do conceito de compensação. Nenhuma escolha é intrinsicamente boa, porém ela é compensada pela escolha do menos rejeitado. Esse cenário leva indivíduos a ver as opções políticas por uma perspectiva maniqueísta da realidade política (Dinas, 2014Dinas, E. “Does choice bring loyalty? Electoral participation and the development of party identification”. American Journal of Political Science, vol. 58, nº 2, p.449-465, 2014.). A consequência é um ambiente político inflamado e com divisões aprofundadas, o que dificulta os acordos e compromissos multipartidários. O Brasil é um território fértil para diversas expressões de partidarismo, com ou sem construção de identidade partidária. O partidário brasileiro modal se tornou mais ambivalente em relação aos atalhos cognitivos e ao próprio partido político nos últimos anos. Portanto, estudos da evolução do partidarismo e da ambivalência política são necessários para a construção de estratégias para a diminuição da hostilidade e da polarização política predominantes no cenário político nacional.

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  • 1
    Primeira versão apresentada no 6º Workshop de Comportamento Político, 2021.
  • 4
    O termo “sentimentos” foi utilizado como uma avaliação afetiva a partir de respostas a termômetros de sentimentos (Bankert et al., 2017Bankert, A.; Huddy, L.; Rosema, M. “Measuring partisanship as a social identity in multi-party systems”. Political Behavior, vol. 39, nº 1, p. 103-132, 2017.). Portanto, tanto as avaliações como os sentimentos foram utilizados de forma intercambiável.
  • 5
    Pouco mais de um terço dos eleitores se identificam com algum partido em um sistema político altamente fragmentado como o brasileiro (Zucco; Power, 2020). Em 2018, o percentual de indivíduos que declararam ter algum partido que os representasse somou 27% (ver Apêndice A Apêndice A: Distribuição dos partidários e médias intrapartidárias no Brasil Tabela 1A : Frequência de partidários por eleição (%) Ano Partidários 2002 37.95 2006 27.30 2010 39.20 2014 25.41 2018 27.61 Fonte: Elaboração dos autores com dados do Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB) de 2002 a 2018. Tabela 2A : Frequência de partidários nos partidos tradicionais por eleição (%) Ano PT/PSDB/PMDB 2002 78.2 2010 83.7 2014 72.6 2018 43.8 Fonte: Elaboração dos autores com dados do Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB) de 2002 a 2018. Tabela 3A : Médias dos sentimentos intrapartidários Ano Médias 2002 8.490752 2006 7.871595 2010 8.562314 2014 8.110924 2018 8.517172 Fonte: Elaboração dos autores com dados do Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB) de 2002 a 2018. , Tabela 1A).
  • 6
    O PT transformou em partidarismo organizações sociais de base presentes na sociedade civil, como sindicatos e movimentos sociais (Samuels; Zucco, 2018Samuels, D. J.; Zucco, C. Partisans, antipartisans, and nonpartisans: voting behavior in Brazil. New York: Cambridge University Press, 2018., p. 19-20).
  • 7
    Os não-petistas não necessariamente são antipetistas. O antipetismo é caracterizado pela rejeição ao PT (i.e., afetivo), explicado fundamentalmente por sentimentos anticorrupção (Ribeiro et al., 2016Ribeiro, E.; Carreirão, Y.; Borba, J. “Sentimentos partidários e antipetismo: condicionantes e covariantes”. Opinião Pública, vol. 22, nº 2, p. 603-637, 2016.), avaliações da economia durante administração petista (Paiva et al., 2016) e filiação a denominações religiosas (Araújo, 2022Araújo, V. “Pentecostalismo e antipetismo nas eleições presidenciais brasileiras”. Latin American Research Review, vol. 57, nº 3, p. 517-535, 2022.). Os não-petistas, ao contrário, têm alguma aproximação cognitiva e positiva com um partido brasileiro, exceto o PT, explicada por outras razões como estratégia de recrutamento partidário (Samuels; Zucco, 2015Samuels, D. J.; Zucco, C. “Crafting mass partisanship at the grass roots”. British Journal of Political Science, vol. 45, nº 4, p. 755-775, 2015.). Apesar de cada vez mais alinhados na atualidade, a rejeição ao PT não é condição necessária, e nem suficiente, para a definição dos partidários não-petistas.
  • 8
    O Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB) é um survey nacional pós-eleitoral de cunho acadêmico, realizado pelo CESOP/UNICAMP desde 2002. A pesquisa ESEB 2002 foi realizada no período de 31 de outubro a 28 de dezembro de 2002, com um total de 2.513 entrevistas. A pesquisa ESEB 2006 foi feita com uma amostra representativa nacional, de 17 a 27 de dezembro 2006, com 1.000 respondentes. A pesquisa ESEB 2010 foi aplicada em amostra nacional de 2.000 entrevistas pessoais domiciliares de 4 a 20 de novembro de 2010. A pesquisa ESEB 2014 foi realizada com eleitores com 16 anos ou mais, a partir de uma amostra nacional representativa. Foram realizadas 3.136 entrevistas no total, de 01 a 19 de novembro de 2014. A pesquisa ESEB 2018 foi aplicada em amostra nacional de 2.506 entrevistas face a face e domiciliares de 10 a 24 de novembro de 2018.
  • 9
    A questão no ESEB incluía a seguinte pergunta: “Qual o partido que melhor representa a maneira como o(a) sr(a) pensa?”. Na onda de 2014, porém, não há essa mesma pergunta. Ao contrário, os participantes respondiam à pergunta com o termo “gostar”. A mudança de termo, porém, pode implicar estímulos distintos (ver Bankert, Huddy; Rosema, 2017; Baker; Rennó, 2019Baker, A.; Rennó, L. “Nonpartisans as false negatives: the mismeasurement of party identification in public opinion surveys”. The Journal of Politics, vol. 81, nº 3, p. 906-922, 2019.). Para amenizar esse problema, primeiro utilizamos a pergunta sobre a existência de algum partido que se aproxime da maneira de pensar. Em caso de negativa, o respondente foi classificado como não partidário. Em contrapartida, no caso de existir algum partido, classificamos a partido do partido de que o participante mais gosta. De toda a maneira, os resultados de 2014 devem ser analisados com cautela.
  • 10
    O artigo utiliza termômetros em sua forma contínua. Em outros trabalhos, autores utilizam classificações e tipologias para classificar respostas ao longo da escala (i.e., Borges; Vidigal, 2018Borges, A.; Vidigal, R. “Do lulismo ao antipetismo? Polarização, partidarismo e voto nas eleições presidenciais brasileiras”. Opinião Pública, vol. 24, nº 1, p. 53-89, 2018.). A escala contínua apresenta três vantagens: (i) a análise não requer a definição de pontos que levam a perda de informação de parte da variação (Winter; Berinsky, 1999Winter, N.; Berinsky, A. J. “What’s your temperature? Thermometer ratings and political analysis”. In: Annual Meeting of the American Political Science Association, Atlanta, GA. 1999.); (ii) a comparação entre termômetros evita problemas como dificuldade dos respondentes em interpretar os pontos das escalas individualmente (ver Iyengar et al., 2012Iyengar, S.; Sood, G.; Lelkes, Y. “Affect, not ideology: a social identity perspective on polarization. Public Opinion Quarterly, vol. 76, nº 3, p. 405-431, 2012.); e (iii) a comparação desses resultados com os demais estudos pode ajudar na validação do uso discreto dos termômetros afetivos.
  • 11
    O coeficiente de variação das avaliações afetivas pode ser uma evidência de que, antes mesmo da falência da marca partidária, a falta de coesão entre os membros partidários nas avaliações indique discordância e inconsistências entre os partidários e o comportamento das elites.
  • 12
    Albertson e Gadarian (2015)Albertson, B.; Gadarian, S. K. Anxious politics: Democratic citizenship in a threatening world. Cambridge University Press, 2015., por exemplo, afirmam que o ambiente político e informacional pode estimular o aumento de emoções de ansiedade, o que, por sua vez, tende a reduzir os vieses motivacionais partidários (ver Redlawsk et al., 2010Redlawsk, D. P.; Civettini, Andrew J.W.; Emmerson, M. “The affective tipping point: Do motivated reasoners ever “get it”?”. Political Psychology, vol. 31, nº 4, p. 563-593, 2010.).
  • 13
    Os coeficientes de variação permitem a comparação de diferentes ondas sem efeito da unidade de medida. Para o teste estatístico entre os coeficientes de cada onda, utilizamos o Modified Signed-likelihood ratio test (SLRT), teste que compara a igualdade dos valores dos coeficientes de variação em diferentes amostras (Krishnamoorthy; Lee, 2014Krishnamoorthy, K.; Lee, M. “Improved tests for the equality of normal coefficients of variation”. Computational Statistics, vol. 29, nº 1, p. 215-232, 2014.). Essa versão modificada do teste, que é baseada bootstrapping, é vantajosa para a comparação de coeficientes de variação até em amostras pequenas e diminui a chance de falso negativo (erro Tipo I).
  • 14
    PT, PMDB e PSDB ganharam destaque na política partidária brasileira nas eleições presidenciais pós-redemocratização. Até 2018, PT e PSDB protagonizaram as disputas para a presidência, com o PMDB de principal coadjuvante. Segundo Veiga (2007)Veiga, L. F. “Os partidos brasileiros na perspectiva dos eleitores: mudanças e continuidades na identificação partidária e na avaliação das principais legendas após 2002”. Opinião Pública, vol. 13, nº 2, p. 340-365, 2007., essas experiências de destaques no âmbito federal impactam na consolidação de uma identificação partidária. Esses partidos juntos acumulam entre 72% e 88% do eleitorado partidário até 2014. A Tabela 2A (Apêndice A Apêndice A: Distribuição dos partidários e médias intrapartidárias no Brasil Tabela 1A : Frequência de partidários por eleição (%) Ano Partidários 2002 37.95 2006 27.30 2010 39.20 2014 25.41 2018 27.61 Fonte: Elaboração dos autores com dados do Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB) de 2002 a 2018. Tabela 2A : Frequência de partidários nos partidos tradicionais por eleição (%) Ano PT/PSDB/PMDB 2002 78.2 2010 83.7 2014 72.6 2018 43.8 Fonte: Elaboração dos autores com dados do Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB) de 2002 a 2018. Tabela 3A : Médias dos sentimentos intrapartidários Ano Médias 2002 8.490752 2006 7.871595 2010 8.562314 2014 8.110924 2018 8.517172 Fonte: Elaboração dos autores com dados do Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB) de 2002 a 2018. ) apresenta o percentual de partidários, em cada ano, dos três partidos tradicionais (ver Baker et al., 2016Baker, A., et al. “The dynamics of partisan identification when party brands change: the case of the Workers Party in Brazil”. The Journal of Politics, vol. 78, nº 1, p. 197-213, 2016.).
  • 15
    Em 2017, o partido mudou de nome para MDB, nome histórico do partido, em busca de minimizar o desgaste político após escândalos em 2014 (Duque; Smith, 2019Duque, D.; Smith, A. E. “The Establishment Upside Down: A Year of Change in Brazil”. Revista de Ciência Política, vol. 39, nº 2, 2019.).
  • 16
    Os demais partidos são um grupo construído pelo PDT, PFL/DEM e PTB. Esses partidos apresentam termômetros de avaliação desde 2002. Após 2006, adicionamos o PSOL à categoria devido à crescente influência da legenda no campo da esquerda brasileira. Em 2018, incluímos o PSL, partido que dobrou o número de partidários em relação ao último ano da série histórica (N = 173).
  • 17
    A Tabela 1 apresenta somente os valores dos sentimentos e a identidade partidária. Os resultados completos estão no Apêndice C Apêndice C: Regressão sobre avaliação interpartidária e controles Tabela 1C : Modelo de regressão para sentimentos interpartidários com variáveis de controle Sentimento Interpartidário 2002 2006 2010 2014 2018 Constante 3.926*** (1.404) 2.341 (2.897) 4.637*** (1.730) 3.214*** (1.227) 3.826*** (1.142) Intrapartidário 0.087 (0.370) 0.541 (0.786) 0.129 (0.444) 0.533* (0.284) 0.385 (0.274) Intrapartidário2 -0.013 (0.027) -0.036 (0.053) -0.018 (0.030) -0.037* (0.022) -0.045** (0.021) Não-petistas 0.554 (0.393) 0.055 (0.472) 0.434 (0.327) -0.487 (0.338) -1.733*** (0.330) Ideologia 0.138*** (0.048) 0.047 (0.068) 0.005 (0.042) 0.026 (0.050) 0.069 (0.042) Idade -0.022* (0.011) -0.022 (0.015) -0.014 (0.010) -0.015 (0.011) -0.006 (0.011) Educação -0.001 (0.076) -0.235** (0.117) -0.162** (0.072) -0.225*** (0.083) -0.219*** (0.075) Observação 324 172 413 375 314 R2 0.056 0.032 0.024 0.041 0.149 R2 Ajustado 0.038 -0.004 0.009 0.026 0.132 Erro-padrão Residual 2.938 (df = 317) 2.793 (df = 165) 2.866 (df = 406) 3.101 (df = 368) 2.481 (df = 307) Estatística F 3.117*** (df = 6; 317) 0.895 (df = 6; 165) 1.643 (df = 6; 406) 2.636** (df = 6; 368) 8.950*** (df = 6; 307) Nota:*p<0.1; **p<0.05; ***p<0.01 Fonte: Elaboração dos autores com dados do ESEB (2002-2018) e modelos multivariados. , Tabela 1C.

Apêndice A: Distribuição dos partidários e médias intrapartidárias no Brasil

Tabela 1A
: Frequência de partidários por eleição (%)

Tabela 2A
: Frequência de partidários nos partidos tradicionais por eleição (%)

Tabela 3A
: Médias dos sentimentos intrapartidários

Apêndice B: Testes Bivariados por grupos partidários

Tabela 1B
: Modelo de regressão bivariado para apenas eleitores petistas
Tabela 2B
: Modelo de regressão bivariado para apenas eleitores não-petistas

Apêndice C: Regressão sobre avaliação interpartidária e controles

Tabela 1C
: Modelo de regressão para sentimentos interpartidários com variáveis de controle

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Fev 2024
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2023

Histórico

  • Recebido
    29 Nov 2021
  • Aceito
    23 Ago 2023
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