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Danos de Solenopsis saevissima F Smith (Hymenoptera: Formicidae) em Paricá, Schizolobium amazonicum

Occurrence of Solenopsis saevissima F Smith (Hymenoptera: Formicidae) Damaging Schizolobium amazonicum

Resumos

São descritas pela primeira vez injúrias causadas por Solenopsis saevissima F Smith em árvores de paricá, Schizolobium amazonicum, em Dom Eliseu, PA. Essa formiga ataca folhas e o fuste, onde são abertos orifícios e galerias, até a região apical da planta. Brotos terminais e novas brotações também são atacados e destruídos, prejudicando a formação de um tronco retilíneo e uniforme para comercialização. Ninhos arborícolas construídos pelas formigas foram observados em algumas plantas.

Entomologia florestal; formiga de fogo; reflorestamento


Injuries by Solenopsis saevissima F Smith in paricá (Schizolobium amazonicum) trees are described for the first time in Dom Eliseu County, Pará State, Brazil. This ant damages leaves and the shaft where holes and galleries are opened up to the plant shoot. Terminal and new shoots are attacked and destroyed, harming the development of upright and uniform trunks for commercialization. Arboreal nests constructed by this ant were also observed in some plants.

Forest entomology; fire ant; reforestation


SCIENTIFIC NOTE

Danos de Solenopsis saevissima F Smith (Hymenoptera: Formicidae) em Paricá, Schizolobium amazonicum1 1 Parte do projeto de parceria entre a Embrapa Amazônia Oriental e Carbon Positive Gerenciamento de Projetos Brasil Ltda

Occurrence of Solenopsis saevissima F Smith (Hymenoptera: Formicidae) Damaging Schizolobium amazonicum

Alexandre M LunzI; Ana Y HaradaII; Tanice da S AguiarI; Andreza S CardosoI

ILab. de Entomologia, Embrapa Amazônia Oriental, Tv. Dr. Enéas Pinheiro, s/nº, Marco, Belém, PA, 66095-000; amehl@cpatu.embrapa.br

IICoordenação de Pesquisas em Zoologia, Setor de Invertebrados, Museu Paraense Emílio Goeldi, Av. Perimetral, 1901-1907, Terra Firme, Belém, PA, 66040-170; ahara@museu-goeldi.br

RESUMO

São descritas pela primeira vez injúrias causadas por Solenopsis saevissima F Smith em árvores de paricá, Schizolobium amazonicum, em Dom Eliseu, PA. Essa formiga ataca folhas e o fuste, onde são abertos orifícios e galerias, até a região apical da planta. Brotos terminais e novas brotações também são atacados e destruídos, prejudicando a formação de um tronco retilíneo e uniforme para comercialização. Ninhos arborícolas construídos pelas formigas foram observados em algumas plantas.

Palavras-chave: Entomologia florestal, formiga de fogo, reflorestamento

ABSTRACT

Injuries by Solenopsis saevissima F Smith in paricá (Schizolobium amazonicum) trees are described for the first time in Dom Eliseu County, Pará State, Brazil. This ant damages leaves and the shaft where holes and galleries are opened up to the plant shoot. Terminal and new shoots are attacked and destroyed, harming the development of upright and uniform trunks for commercialization. Arboreal nests constructed by this ant were also observed in some plants.

Key words: Forest entomology, fire ant, reforestation

O paricá, Schizolobium amazonicum (Leguminosae, Caesalpinioideae), é uma árvore nativa das matas primárias e secundárias de terra firme e várzeas altas do ecossistema amazônico, podendo chegar a 40 m de altura e 100 cm de diâmetro (Ducke 1949, Rizzini 1971). Possui grande aceitação na indústria de compensados pela produção de excelentes lâminas para o mercado externo (Galeão et al 2005), sendo seu cultivo bastante difundido no Pará, onde cerca de 40% das empresas reflorestadoras possuem plantios (Galeão 2000).

O aumento da área plantada com cultivos comerciais dessa espécie no Sudeste do Pará, principalmente nos municípios de Dom Eliseu, Ulianópolis e Paragominas, proporcionou o surgimento de novas interações insetos-planta, algumas causadoras de sérios prejuízos à cultura, em plantios, em média, com mais de três anos: as ocorrências frequentes de cigarras da espécie Quesada gigas Olivier (Hemiptera: Cicadidae), atacando o sistema radicular de plantas adultas (Zanuncio et al 2004), e de um complexo de lagartas desfolhadoras ainda não identifi cadas (Galeão et al 2005), são os casos mais comuns nessas regiões produtoras.

Prospecções mensais de maio de 2006 a abril de 2007 por insetos-praga mostraram, em plantios experimentais no município de Dom Eliseu, um novo tipo de injúria em plantas jovens de paricá, com até um ano de idade, causado por Solenopsis saevissima F Smith, conhecida na região como 'formiga de fogo' ou 'lava-pés'. Seiscentos e sessenta plantas de paricá foram avaliadas mensalmente quanto ao desenvolvimento das associações inseto-planta observadas. O material foi identificado pela Dra. Ana Yoshi Harada do Museu Paraense Emílio Goeldi e encontra-se depositado na coleção entomológica dessa instituição. O objetivo deste trabalho foi descrever as injúrias causadas por S. saevissima em plantas jovens de paricá em reflorestamentos no Sudeste do Pará.

A princípio, as injúrias limitaram-se à raspagem do pecíolo das folhas da planta (Fig 1A) que, por possuir desrama natural nos primeiros anos de desenvolvimento, não sofreu inflouência em seu desenvolvimento. Entretanto, as formigas abriam orifícios e galerias nas cicatrizes de abscisão foliar logo após a desrama (Fig 1B), de onde se estenderam, nos meses seguintes, por toda a planta, com aberturas de orifícios pelo fuste e bases dos pecíolos das folhas, que ficavam com serragem amarelada ao redor (Fig 1C). As folhas, quando atacadas, tornavam-se intumescidas na região do orifício e apresentavam aspecto enegrecido e necrosado (Fig 1D). Na região apical da planta, as injúrias foram mais severas. O ponteiro foi inteiramente destruído (Fig 1E) e a planta emitiu brotações secundárias, que também foram atacadas (Fig 1F), causando deformação e tortuosidade do fuste, tornando-se inviável para posterior comercialização.


 






A sequência de injúrias esteve fortemente relacionada aos fatores climáticos característicos da região, pois no período seco (junho a novembro) as injúrias relacionadas à incidência de formigas em paricá foram mais superficiais, enquanto no período chuvoso (dezembro a maio) passaram a ser frequentes, especialmente na região apical da planta, e prejudiciais à cultura. A quantidade de plantas de paricá atacadas por S. saevissima variou de 27%, no período seco, a 60%, no período chuvoso. A emissão de novas brotações e o crescimento mais acelerado do paricá nesse último período pode ter proporcionado maior quantidade de áreas suscetíveis da planta e, consequentemente, maior número de injúrias.

Em algumas plantas atacadas, as formigas construíram pequenos ninhos arborícolas, facilmente perceptíveis. Os primeiros ninhos observados partiam do solo a até aproximadamente 30 cm de altura do fuste (Fig 2A). Posteriormente, foram observados ninhos sem ligação direta com o solo, na altura dos primeiros ramos da árvore (Fig 2B). No período seco, quando do início das observações, não foram verificados tais ninhos nas plantas atacadas. Contudo, das plantas atacadas no período chuvoso, 12% apresentavam ninhos ativos de S. saevissima, das quais onze plantas possuíam ninhos sem ligação direta com o solo. Tais sinais são indicativos da intensidade da associação inseto-planta, uma vez que os ninhos dessa espécie de formiga são normalmente encontrados na superfície do solo. A condição homogênea dos plantios de paricá e sua proximidade à floresta nativa, que é a região de ocorrência natural das formigas, podem ter facilitado o fortalecimento da associação.


Solenopsis saevissima é originária da América do Sul e encontra-se distribuída das Ilhas Gálapagos até o Chile; ocorre em todo Brasil, sendo muito abundante na Bacia Amazônia, oeste da Cordilheira dos Andes até a Província de Buenos Aires, Argentina (Trager 1991). Geralmente, essa formiga constrói ninhos em áreas abertas formando montículos de terra solta na superfície do solo denominados "murunduns". Na Bacia Amazônia, tais estruturas são formadas, principalmente, ao longo das margens dos rios de água branca e em áreas abertas com predominância de gramíneas, encontrando-se S. saevissima em áreas urbanizadas, onde causa sérios problemas às populações dos municípios de Envira, Eurunepé e Airão, no Amazonas (Williams 1995). No Sul e Sudeste do Brasil é uma das espécies mais frequentes em áreas urbanizadas (Delabie et al 1995, Eduardo & Loeck 1999). Também causa problemas econômicos em áreas silviculturais pela sua agressividade característica na defesa das colônias (Mackay & Vinson 1990).

Os primeiros anos de desenvolvimento do paricá devem ser os mais isentos possíveis de problemas fitossanitários por constituírem o período de formação do fuste retilíneo e comercialmente aproveitável. Portanto, com base nessa nova associação inseto-planta, conclui-se que, a despeito de poucas plantas terem sido atacadas, a adaptação da formiga S. saevissima à cultura do paricá mostra-se cada vez mais crescente no Sudeste do Pará, demandando pesquisas adicionais para esclarecimento das possíveis razões químicas e/ou fisiológicas da intensidade dessa interação, além de orientar para proposição de futuras recomendações adequadas para o controle do inseto.

Agradecimentos

Aos assistentes, Reginaldo Nascimento de Medeiros, Domingos de Jesus Araújo e Francisco Gomes da Silva Frota, pelo apoio nas atividades de campo e laboratório na EmbrapaAmazônia Oriental. À Carbon Positive Gerenciamento de Projetos Brasil Ltda., pelo financiamento das ações de pesquisa pertinentes à prospecção de insetos-praga.

Received 10/IX/07. Accepted 06/II/08.

Edited by Jorge Braz Torres - UFRPE

  • Delabie J H C, Nascimento I C, Pacheco P, Casimiro A B (1995) Community structure of house-infesting ants (Hymenoptera: Formicidae) in southern Bahia, Brazil. Fla Entomol 78: 264-267.
  • Ducke A (1949) Notas sobre a floora neotrópica II: As leguminosas da Amazônia brasileira. Bol Técn 18, 2 ed, Belém, IAN, 248p.
  • Galeão R R (2000) Diagnóstico dos projetos de plantação florestal no estado do Pará. Dissertação de Mestrado. Belém, Faculdade de Ciências Agrárias do Pará, 72p.
  • Galeão R R, Marques L C T, Yared J A G, Ferreira C A P (2005) Paricá (Schizolobium amazonicum Huber): espécie florestal de uso múltiplo com alto potencial para reflo orestamento na Amazônia brasileira. Rev Ciênc Agrár 44: 157-162.
  • MacKay W P, Vinson S B (1990) Control of the red imported fire ant Solenopsis invicta in electrical equipment, 614-619. In Van der Meer R K, Jaffe K, Cedeno A (eds), Applied myrmecology: a world perspective. Boulder, Westview Press, 741p.
  • Rizzini C T (1971) Árvores e madeiras úteis do Brasil. São Paulo, EDUSP, 294p.
  • Trager J C (1991) A revision of the fi re ants, Solenopsis geminata Group (Hymenoptera: Formicidae: Myrmicinae). J New York Entomol S 99: 141-198.
  • Williams D F (1995) Controlling fire ants in the Amazon. Greensboro, Crop Protection News, 6p.
  • Zanuncio J C, Pereira F F, Zanuncio T V, Martinelli N M, Pinon T B M, Guimarães E M (2004) Occurrence of Quesada gigas on Schizolobium amazonicum trees in Maranhão and Pará States, Brazil. Pesq Agrop Bras 39: 943-945.
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    Parte do projeto de parceria entre a Embrapa Amazônia Oriental e Carbon Positive Gerenciamento de Projetos Brasil Ltda
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      25 Maio 2009
    • Data do Fascículo
      Abr 2009

    Histórico

    • Aceito
      06 Fev 2008
    • Recebido
      10 Set 2007
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