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Um novo gênero de Pachygastrinae (Diptera: Stratiomyidae) do Brasil

A new genus of Pachygastrinae (Diptera: Stratiomyidae) from Brazil

Resumos

Tijucameru gen. n. é proposto para Panacris maxima Kertész do Brasil. O novo gênero difere dos gêneros afins Panacris e Spyridopa nos seguintes caracteres: cabeça maior que a largura dos calos umerais, fronte achatada em perfil, flagelo da antena digitiforme, estreitado apicalmente, espinhos do escutelo muito longos, cerca de 1,4 vezes maiores que o comprimento do escutelo.

Tijucameru; Panacris; Spyridopa; Floresta da Tijuca; taxonomia


Tijucameru gen. n. is proposed for Panacris maxima Kertész from Brazil. The new genus differs from the allied genera Panacris and Spyridopa in the following characters: head wider than width of humeral callus, front flattenned in profile; antennal flagellum thumb-like narrowed apically, scutellar spines very long, 1.4 length of scutellum.

Tijucameru; Panacris; Spyridopa; Tijuca rain forest; taxonomy


SYSTEMATICS, MORPHOLOGY AND PHYSIOLOGY

Um novo gênero de Pachygastrinae (Diptera: Stratiomyidae) do Brasil

A new genus of Pachygastrinae (Diptera: Stratiomyidae) from Brazil

José R. Pujol-LuzI; Joana GalinkinII

IDepto. Zoologia, Instituto de Biologia, Universidade de Brasília, 70910-900, Brasília, DF, email: jrpujol@unb.br

IIPrograma de Pós-Graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Av. André Araújo 2936, Petrópolis, 69011-970, Manaus, AM, email: joana@inpa.gov.br

RESUMO

Tijucameru gen. n. é proposto para Panacris maxima Kertész do Brasil. O novo gênero difere dos gêneros afins Panacris e Spyridopa nos seguintes caracteres: cabeça maior que a largura dos calos umerais, fronte achatada em perfil, flagelo da antena digitiforme, estreitado apicalmente, espinhos do escutelo muito longos, cerca de 1,4 vezes maiores que o comprimento do escutelo.

Palavras-chave:Tijucameru, Panacris,Spyridopa, Floresta da Tijuca, taxonomia

ABSTRACT

Tijucameru gen. n. is proposed for Panacris maxima Kertész from Brazil. The new genus differs from the allied genera Panacris and Spyridopa in the following characters: head wider than width of humeral callus, front flattenned in profile; antennal flagellum thumb-like narrowed apically, scutellar spines very long, 1.4 length of scutellum.

Key words:Tijucameru, Panacris, Spyridopa, Tijuca rain forest, taxonomy

Gerstaecker (1857: 346) descreveu o gênero Panacris (monotípico para Panacris lucida Gerstaecker) baseado em um exemplar macho proveniente da Guiana e forneceu desenhos do habitus e da antena.

Kertész (1908: 364) descreveu quatro espécies e forneceu chave para a identificação das espécies conhecidas de Panacris (P. lucida, P. proxima, P. microdonta, P. maxima e P. pictipennis). P. maxima foi descrita de dois exemplares provenientes do Brasil, o macho do estado do Espírito Santo e a fêmea do estado de Santa Catarina, ambos depositados no Museu de História Natural da Hungria. Kertész (l. c.) caracterizou P. maxima pelo tamanho dos espinhos do escutelo - mais longos do que este; forneceu desenhos do escutelo e da cabeça da fêmea. Os tipos de Kertész foram destruídos em um incêndio no Museu Húngaro, em 1956 (László Papp, com. pes.).

Lindner (1949: 877) apresentou breve redescrição de P. maxima e comparou dois exemplares (1 macho e 1 fêmea) com P. nigribasis Lindner; todos os espécimes provenientes do estado de Santa Catarina. Posteriormente, Lindner (1964: 4) apresentou uma chave para a identificação dos gêneros de Pachygastrinae do Mundo e acrescentou uma nova espécie, P. breviseta, ao gênero.

James et al. (1980) apresentaram uma revisão dos Pachygastrinae da América Central e chave para a identificação dos 21 gêneros desta região. Em seus comentários sobre Panacris, chamaram atenção para os longos espinhos do escutelo de P. maxima e descreveram duas espécies - P. protrudens e P. funebris.

Pujol-Luz (2000) iniciou uma série de estudos sobre Panacris; examinou a espécie-tipo do gênero e sinonimizou P. proxima com P. lucida, apresentando pela primeira vez um estudo detalhado das estruturas componentes da terminália do macho.

Woodley (2001) sinonimizou o gênero monotípico Spyridopa Gerstaecker com Panacris e catalogou nove espécies neste último táxon (P. breviseta, P. funebris, P. lucida, P. maxima, P. microdonta, P. nigribasis, P. pictipennis, P. protrudens e P. tarsalis).

Pujol-Luz & Assis-Pujol (2002) deram continuidade ao estudo de Panacris e revalidaram o gênero Spyridopa, com base no exame do holótipo de S. tarsalis.

No presente trabalho, transfere-se P. maxima para o novo gênero Tijucameru, com base em um estudo comparativo da morfologia da terminália do macho, que difere particularmente de P. lucida e S. tarsalis pela forma do hipândrio. Este possui três processos espiniformes na extremidade distal; além disto, os gonóstilos são extremamente reduzidos.

Como o material-tipo de P. maxima Kertész está destruído, designamos como neótipo um espécime macho do Parque Sooretama, estado do Espírito Santo. O nome Tijucameru foi escolhido com base na maior série de espécimes examinados pelos autores (1 macho e 5 fêmeas), provenientes da Floresta da Tijuca, Reserva da Biosfera no estado do Rio de Janeiro.

Tijucameru gen. n. é descrito e comparado com os gêneros afins Panacris e Spyridopa; Tijucameru maximus (Kertész), comb. n. é redescrita e figurada com base em dois machos e sete fêmeas.

A terminologia adotada nas descrições foi adaptada de McAlpine et al. (1981) e Pujol-Luz (2000). As abreviaturas das instituições onde está depositado o material estudado são:

MNRJ - Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro

MZSP - Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, São Paulo

DZUP - Departamento de Zoologia, Universidade Federal do Paraná (Coleção de Entomologia Pe. Jesus Santiago Moure), Curitiba, Paraná

Tijucameru gen. n.

Espécie-Tipo. Panacris maxima Kertész (1908: 367)

Etimologia. De Tijuca: topônimo, Floresta da Tijuca (Reserva da Biosfera) + meru (mberu, tupi) = mosca. Nome arbitrariamente fixado como masculino.

Coloração geral preta-brilhante ou azul-metálica (Figs. 1-4). Cabeça esférica, grande, com largura máxima maior ou igual à largura entre os calos umerais respectivamente nos machos e nas fêmeas (Figs. 1 e 3). Machos holópticos e femeas dicópticas; olho composto com pilosidade esparsa; occipício pouco desenvolvido nos machos e bem desenvolvido nas fêmeas. Triângulo ocelar protuberante. Fronte e face suavemente convexas, providas de pilosidade prateada nas margens oculares. Antena com flagelo digitiforme, afilado na extremidade distal; arista longa. Disco do tórax preto ou azulado, com pilosidade preta, pequena e esparsa. Escutelo plano, preto, com densa pilosidade preta, com lados sub-paralelos em vista dorsal. Espinhos do escutelo 1,4 vez o comprimento do escutelo, fortemente inclinados para cima e fortemente divergentes, localizados lateralmente na margem posterior (Figs. 1-4). Halter amarelado (Figs. 2 e 4). Tarsômeros pretos ou castanho-escuros.


Discussão Taxonômica.Panacris tem a cabeça pequena em relação à largura entre os calos umerais nos dois sexos, circundada por pilosidade prateada; antena com flagelo globular; escutelo mais ou menos achatado e suavemente arredondado; espinhos do escutelo divergentes, mais curtos que o comprimento do escutelo; tarsômeros pretos ou castanho-escuros.

Spyridopa tem a cabeça grande em relação aos calos umerais nos dois sexos; fronte protuberante para baixo, glabra ou com pilosidade esparsa; flagelo digitiforme; escutelo giboso com lados sub-paralelos em vista dorsal; espinhos do escutelo divergentes, localizados na região mediana da margem posterior; tarsômeros amarelos ou castanho-claros.

Tijucameru maximus

(Kertész, 1908), comb. n.

Macho. Cabeça esférica, castanho-escura, largura máxima ultrapassando a extremidade dos calos umerais (Fig. 1). Triângulo ocelar preto, estreito e protuberante (Figs. 5-6). Olho composto holóptico (Fig. 5), com pilosidade curta e esparsa. Occipício castanho-claro pouco desenvolvido (Fig. 6). Fronte e face castanho-escuras, achatadas em vista frontal, suavemente convexas em vista lateral (Figs. 5-6), margeadas por estreita faixa de pilosidade prateada. Antena castanho-clara, escapo e pedicelo caliciforme; flagelo digitiforme, afilado na extremidade distal (Fig. 6), flagelômeros glabros; arista mais longa que o complexo antenal, preta ou castanho-escura, com pequenas cerdas esparsas na base.


Tórax preto-brilhante, com pilosidade curta e esparsa. Escutelo plano, preto-brilhante, com margens sub-paralelas; espinhos pretos com a metade distal castanho-escuros ou avermelhados, fortemente divergentes, localizados nos ângulos laterais do escutelo (Figs. 1, 2 e 13 ). Asas hialinas. Venação característica de Pachygastrinae (Figs. 1 e 3); br e bm definidas, r-m e cup presentes, célula dm grande, trapezoidal, localizada na região mediana da asa. Mácula castanho-escura limitada pelas células bm, br e dm e veias R1 e R2+3; A1 retilínea; M1 e M2 retilíneas, fortemente marcadas, alcançando a margem da asa (Figs. 1 e 3). Pernas pretas ou castanho-escuras; espinho da tíbia ausente.

Abdome globular, preto-brilhante ou azul metálico, bem mais curto que o tórax, coberto por camada esparsa de pêlos pretos (Figs. 1-2). Terminália: epândrio semicircular; tergito 10 com cerco digitiforme margeado por cerdas grandes e pequenas; gonocoxito de forma geral retangular; apódema do gonocoxito desenvolvido e arqueado na base (Figs. 9 e 11 ); gonóstilo claviforme, localizado no terço distal do gonocoxito, mais curto que a extremidade distal do hipândrio (Figs. 10-11 ), com um curto processo digitiforme na base e um grupo de cerdas pequenas e pretas na extremidade distal (Fig. 10 ); hipândrio largo e quadrangular, extremidade distal protuberante (Figs. 9-10 ), com três processos - dois laterais curtos e espiniformes e um mediano protuberante; edeago longo e largo, bífido, com os lobos surgindo no terço distal (Fig. 12 ), projetado além da extremidade distal do gonocoxito; bomba espermática localizada na base do edeago; parâmero não observado. Comprimento total: 13 mm, comprimento da asa: 11 mm.

Fêmea. Similar ao macho, diferindo nos seguintes aspectos: olhos compostos dicópticos (Fig. 7); occipício bem desenvolvido (Fig. 8), castanho claro ou amarelado; fronte com as margens intraoculares com faixas amarelas margeando os olhos, desde o triângulo ocelar até a face; face e gena com pilosidade prateada, exceto na região mediana, glabra; pernas castanho-escuras; cercos bissegmentados. Comprimento total: 7,5 a 13 mm, comprimento da asa: 8 a 11 mm.

Material-Tipo. O Neótipo macho está depositado no Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e está etiquetado da seguinte forma: Parque Sooretama, 2.XI.1964, Werner, Oliveira, Seabra leg., / DZUP / Neótipo / símbolo de marte.

Material Examinado. Dois machos e sete fêmeas: Brasil: Espírito Santo, Parque Sooretama, 2.XI.1964, Werner, Oliveira, Seabra leg., um macho (DZUP-Neótipo), Rio de Janeiro, Floresta da Tijuca, Cidade do Rio de Janeiro, III.1951, C.A.C.Seabra col., um macho (MNRJ-Parátipo); Serviço de Febre Amarela (MES, Bras.), XII. 1937, uma fêmea (MNRJ-Parátipo); Serviço de Febre Amarela (MES, Bras.), IX. 1938, duas fêmeas (MNRJ-Parátipos) e uma fêmea (MZSP-Parátipo), (James det. P. maxima); Itatiaia, Maromba, Barretto col., IX.1946, uma fêmea (MZSP-Parátipo); São Paulo, São Paulo (Cantareira, Chapadão), Barretto col., IX.1946, uma fêmea (MZSP-Parátipo); Santa Catarina, Bananal, Deliras, H. col., 1.X.1931, uma fêmea (MNRJ-Parátipo), (H.S. Lopes det., Acanthinomyia).

Registros de Distribuição. Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina

Agradecimentos

Aos colegas Dra. Márcia Souto Couri, Dr. Nelson Papavero e Dr. Claudio José Barros de Carvalho, pelo empréstimo do material examinado. Ao Dr. László Papp pelas informações a respeito dos tipos de Kertész. À Dra. Rosana Tidon, Dr. Antônio Sebben e Dr. Guarino R. Colli, pela permissão de utilizar o equipamento óptico e de computação para os desenhos e fotografias. Aos revisores anônimos pelas valiosas sugestões. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq — 300265/96-4) pela bolsa concedida (JRPL).

Literatura Citada

Received 03/03/03

Accepted 20/07/03

  • Gerstacker, A. 1857. Beitrag zur kenntniss exotischer stratiomyiden. Linnaea Entomol. 11: 261-350.
  • James, M.T., N.W McFadden. & N.E. Woodley. 1980. The Pachygastrinae (Diptera, Stratiomyidae) of Middle America. Melanderia 34: 1-36.
  • Kertész, K. 1908. Vorarbeiten zu einer monographie der Notacanthen. I-XI. Ann. Mus. Nat. Hungarici 6: 321-374.
  • Lindner, E. 1949. Neotropische stratiomyiden des Britischen Museums in London. Ann. Mag. Nat. Hist. 12: 782-891.
  • Lindner, E. 1964. Beitrag zur kenntnis der neotropichen Pachygasterinae (Stratiomyiidae, Dipt.). Stuttg. Beitr. Naturkunde 129: 1-22.
  • McAlpine, J.F., B.V. Peterson, G.E. Shewell, H.J. Teskey, J.R. Vockroth & D.M. Wood. 1981. Manual of neartic Diptera, vol. 1, Agriculture Canad. Publ., vi+ 674p.
  • Pujol-Luz, J.R.2000.Panacris proxima Kertész, 1908 new synonym of Panacris lucida Gerstacker, 1857 (Diptera, Stratiomyidae) with notes on the male terminalia. Studia Dipterologica 7: 155-159.
  • Pujol-Luz, J.R. & C.V Assis-Pujol. 2002. Revalidação do gênero Spyridopa Gerstaecker, 1857 (Diptera, Stratiomyidae). Bol. Mus. Nac., N. S., Zool. 491: 1-5.
  • Woodley, N.E. 2001. A world catalog of the Stratiomyidae (Insecta: Diptera). Myia 11: 1-473.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      27 Maio 2004
    • Data do Fascículo
      Fev 2004

    Histórico

    • Aceito
      20 Jul 2003
    • Recebido
      03 Mar 2003
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