DIMENSÕES DA MIGRAÇÃO ESPORTIVA: APORTES PARA UM MODELO REFLEXIVO

DIMENSIONS OF SPORT MIGRATION: CONTRIBUTIONS FOR A REFLECTIVE MODEL

DIMENSIONES DE LA MIGRACIÓN DEPORTIVA: APORTES A UN MODELO REFLEXIVO

Resumo

As migrações globais no esporte são comuns na contemporaneidade e junto com o aumento dos fluxos migratórios também evidenciou o aumento das pesquisas relacionadas à temática. Diferentes abordagens, teorias e tipologias foram desenvolvidas nas últimas décadas buscando analisar questões especificas da migração. O presente artigo argumenta a necessidade de analisar o processo migratório em uma agenda que considere múltiplos fatores influenciadores para a decisão de migrar. Diante disso, apresenta uma discussão teórica que é base para o desenvolvimento de um modelo analítico da migração esportiva a partir da compreensão de quatro dimensões: cultural, política, econômica e pessoal.

Palavras-chave
Migração; Esporte; Modelo analítico; Globalização

Abstract

Global migrations in sports are common nowadays, and along with the increase in migratory flows, it also evidenced the increase in research related to the subject. Different approaches, theories, and typologies have been developed in recent decades seeking to analyze specific migration issues. This paper argues the need to analyze the migration process in an agenda that considers multiple factors that influence the decision to migrate. Therefore, it presents a theoretical discussion that forms the basis for the development of an analytical model of sports migration, understanding four dimensions, cultural, political, economic, and personal.

Keywords
Migration; Sport; Analytical model; Globalization

Resumen

Las migraciones globales en el deporte son comunes en la actualidad y junto con el aumento de los flujos migratorios, también se evidenció el aumento de las investigaciones relacionadas con el tema. En las últimas décadas se han desarrollado diferentes enfoques, teorías y tipologías que buscan analizar cuestiones específicas de la migración. Este trabajo argumenta la necesidad de analizar el proceso migratorio en una agenda que considere múltiples factores que influyen en la decisión de migrar. Por lo tanto, presenta una discusión teórica que es la base para el desarrollo de un modelo analítico de la migración deportiva desde la comprensión de cuatro dimensiones, la cultural, política, económica y personal.

Palabras clave
Migración; Deporte; Modelo analítico; Globalización

1 INTRODUÇÃO¹

As pesquisas sobre migração esportiva têm seu início na década de 1980 (MAGUIRE, 2013). No entanto, Carter (2013) afirma que os estudos sobre a temática se encontravam em estágio muito próximo ao inicial e indicando a necessidade de qualificação das pesquisas. Na mesma linha de posicionamento, Magee e Sugden (2002) e Maguire (2004) apontam não só para a necessidade de melhora dos recursos investigativos para subsidiar levantamentos empíricos em escala comparada, mas também para a importância de aprofundar teoricamente esse debate, tendo em vista seu caráter global e multifacetado. O presente artigo se insere nessa segunda perspectiva.

Compete sublinhar que o domínio de estudos da migração esportiva se insere particularmente, mas não exclusivamente, no contexto da Sociologia do Esporte, haja vista a quantidade de materiais que exploratoriamente encontramos em uma série de periódicos de língua inglesa e portuguesa que constroem epistemologicamente o objeto a partir das premissas desse campo investigativo (ROJO; RIBEIRO; STAREPRAVO, 2021). De qualquer modo, cabe ressalvar em diálogo com Maguire (2014, 2016) que os estudos do fenômeno da migração esportiva mesmo que fundamentados pelo aporte da Sociologia, abrangem contribuições de várias disciplinas das Ciências Humanas e Sociais, a exemplo da História, da Ciência Política, da Geografia Social, da Antropologia, da Psicologia Social e da Economia.

Para Nolasco (2017), as pesquisas produzidas no âmbito dos estudos da migração esportiva seguem algumas linhas teóricas centrais, sendo elas (1) a abordagem geográfica da migração, (2) a abordagem figuracional e (3) abordagem do sistema mundo. Por seu turno, Maguire e Bale (1994) sugerem, além da abordagem figuracional adotada pelos autores, uma série de outras teorias que têm sido apropriadas para analisar o fenômeno. São elas: teoria do sistema mundo, teoria da modernização, teoria do imperialismo e neoimperialismo e a teoria da dependência. Vale ressaltar que a partir de cada abordagem surgem os quadros conceituais utilizados nas análises.

De acordo com Carter (2013), os modelos mais evidenciados sobre a migração de mão de obra do esporte são o da Globalização, do “Network” e o Modelo de Local, este último sugerido pelo próprio autor. Pesquisadores que abordam a temática pela ótica globalista, entendem os processos de globalização sob o ângulo da “internacionalização”, ou seja, da migração internacional de pessoas (LOVE; KIM, 2011). Há ainda aqueles que abordam a globalização de um ponto de vista estritamente econômico. Para essa vertente, o esporte se transformou em um produto mercantilizado, uma esfera na qual atletas são vendidos e comprados, principalmente pelos países da Europa e Estados Unidos, que pagam melhores salários e permitem melhores padrões de vida (LEE, 2010).

Adicionalmente, há que se destacar também que grande parte dos estudos sobre migração esportiva estão voltados em analisar os efeitos e impactos da migração desses indivíduos, tanto na comunidade doadora, como na receptora. Pouca atenção, no entanto, tem sido dada à agência desses atletas que migram e ao desvelamento das razões que os movem nesse processo no campo esportivo. Conforme pontuaram Bourdieu e Wacquant (2000), antes de se caracterizar como imigrante, o agente se trata de um emigrante, sendo essa dimensão relacional extremamente importante para as pesquisas de migração, sejam elas referentes ao esporte ou não. Em outras palavras, a interpretação assumida aqui nesse manuscrito é a de que uma abordagem relacional do fenômeno, deve partir não do impacto gerado, mas sim de como esses indivíduos migraram e das razões subjacentes.

Nessa mesma esteira, observa-se ainda estudos que buscaram analisar politicas relacionadas à migração esportiva, padrões geográficos de movimento, motivação para migrar e tipologias de migrações, formas de recrutamento e também consolidação de networks. No entanto, assim como ocorre no campo da migração geral, esses modelos e quadros conceituais, pouco ou nada dialogam entre si (BRETTELL; HOLLIFIELD, 2014), além de que incidem exclusivamente sobre questões estruturais ou individuais (KING, 2012, O’REILLY, 2013), não privilegiando a interação entre agente e estrutura na construção do objeto e, portanto, nas análises da migração esportiva.

O presente texto tem por objetivo propor um modelo de análise da migração esportiva que busque contemplar mais de um dos quadros conceituais já propostos, bem como romper com análises reduzidas ora à estrutura, ora à agência. Nesse exercício, dialogamos com estudos da área que já se lançaram nesse desafio e buscamos apresentar desde a perspectiva teórica de Giddens às dimensões institucionais que pautam a migração esportiva na modernidade tardia. O texto que segue está organizado em duas seções. Na primeira delas oferecemos algumas conceituações sobre a construção de um modelo analítico da migração esportiva, em diálogo com a literatura especializada. Já na segunda, procuramos evidenciar o eixo central da proposta de análise que são as dimensões da migração esportiva e suas fundamentações.

2 PROPOSTA DE ANÁLISE DA MIGRAÇÃO ESPORTIVA

Um primeiro passo está em compreender o que é um modelo analítico. De acordo com Johnson (1997) um modelo é uma representação que nos ajuda a pensar com mais clareza sobre alguma coisa. Já nas palavras de Fourez (1995) são todas as representações que damos ao mundo. Em relação aos estudos sociológicos são empregados diferentes tipos de modelos, dentre os quais, aqueles cujo o conjunto de pressupostos básicos sobre a vida social e seu funcionamento servem como principais diretrizes para o pensamento e pesquisa (JOHNSON, 1997).

Em complementariedade, Salgado (2009) ao refletir sobre o uso de modelos nas pesquisas sociológicas afirma que é uma forma padrão de entender o mundo que foi formalizada pela ciência. Em síntese, os modelos são ferramentas que auxiliam o pesquisador na medida em que oferecem uma redução da complexidade do mundo, no presente caso, do social, para assim, torná-lo observável.

Outro ponto importante para compreender a construção de um modelo é em relação a sua fundamentação teórica. De acordo com Salgado (2009), todo modelo é derivado, ou é uma função derivada, de alguma teoria. Em outras palavras, os seus pressupostos dialogam necessariamente com alguma teoria científica, saiba-se disso ou não.

Nesse ínterim, é salutar apontar que o presente modelo parte das ideias apresentadas pelo sociólogo inglês Anthony Giddens. A compreensão da teoria da estruturação proposta pelo autor, alinhada a uma apropriação inventiva da mesma para pensar a Educação Física e o esporte (SOUZA, 2021), remete a uma análise relacional entre níveis micro e macro, entre as pressões estruturais e a ação dos indivíduos. Nesse sentido, os conceitos de globalização (GIDDENS, 2008), monitoramento reflexivo (GIDDENS, 1978), migração (GIDDENS, 2008), entre outros, respaldam a tentativa de oferecer um modelo das dimensões da migração esportiva no presente texto.

Cumpre salientar que a proposta em tela busca ser aplicada a cenários específicos da migração esportiva. Além disso, há que se ressaltar que suas experimentações são advindas de fontes de dados distintas e mensuráveis, a serem detalhadas posteriormente e que permitem fornecer um olhar ampliado para o fenômeno da migração esportiva, tendo como foco o processo migratório.

O modelo analítico da migração esportiva aqui idealizado, parte de uma análise em três momentos: a) compreende-se a necessidade de analisar o conhecimento já produzido a respeito da temática; b) delimita-se o contexto social em que o indivíduo migrante está inserido; c) por fim, propõe-se uma análise dos elementos que influenciam e moldam o processo de migração.

2.1 CONHECIMENTO CIENTÍFICO COMO PONTO DE PARTIDA

O ponto de partida da proposta analítica é se utilizar dos conhecimentos científicos historicamente produzidos sobre a respectiva temática. Essa apropriação é baseada na leitura de que conhecendo os antecedentes da produção do conhecimento especializado, colabora-se para um possível entendimento, sob diferentes perspectivas, das questões referentes ao fenômeno social (SOUZA; MARCHI JR, 2010).

Esse posicionamento se vale da compreensão de que a produção acadêmica é de certa forma legitimada pelos seus corpos de especialistas, por meio de um complexo sistema de produção e divulgação do conhecimento científico (SOUZA; MARCHI JR, 2010). Nesse sentido, sugere-se a utilização da produção acadêmica para analisar diversas questões referentes à determinada temática, nesse caso a migração esportiva.

Tais questões podem ser visualizadas tanto na análise sociológica do fazer científico (SOUZA; MARCHI JR, 2011), identificando os indivíduos, ou seja, os atores que produzem o conhecimento específico de determinado espaço social e os objetos de pesquisas mais valorizados por esses pesquisadores, quanto na compreensão das hierarquias e legitimações desse conhecimento (SOUZA; MARCHI JR, 2010). Por outro lado, esse esforço de análise, pode contribuir para um diagnóstico apriorístico do fenômeno social em investigação, ou seja, os dados de estudos anteriores podem revelar padrões e contextos em um universo ampliado da ocorrência do fenômeno.

Sobre o processo de eleição de ferramentas teóricas para realizar análises científicas, Souza e Marchi Jr (2010, p. 296), ressaltam que o mesmo não pode “ser confundido com aquela etapa integrante de todo trabalho acadêmico e que consiste em apresentar uma revisão de literatura”. No entanto, mesmo essa revisão de literatura não sendo o objetivo final, consiste em instrumento para se apropriar dos dados e informações para realizar as análises anteriormente mencionadas.

Sendo assim, sugere-se utilizar as ferramentas oriundas de uma revisão de literatura sistematizada. Esse tipo de revisão consegue, por meio de seus métodos, localizar e selecionar os estudos existentes sobre determinado tema. Ademais, permite realizar a avaliação das contribuições, analisando e sintetizando os dados, para relatar as evidências de maneira a permitir conclusões razoavelmente claras (DENYER; TRANFIELD, 2009). Finalmente, esses estudos espraiam achados tanto de maneira qualitativa, informando verbalmente as correlações empírico-teóricas, quanto de maneira quantitativa, informando em seus resultados as combinações numéricas e estatísticas (MCKIBBON, 2006).

2.2 O CONTEXTO MICROSSOCIAL E SUAS IMPLICAÇÕES

O segundo momento de análise da proposta de pesquisa se dá em relação à delimitação do contexto social no qual a pessoa migrante está envolvida. Isso se dá pelo entendimento de que os estudos dos esportes devem ser também estudos das sociedades, somente assim conseguirão suficientemente oferecer o entendimento rigoroso dos significados, funções e papéis do fenômeno social (SOUZA; STAREPRAVO; MARCHI JR, 2014).

Nesse intento, sugere-se, ao investigar o contexto social da pessoa migrante, compreender o seu perfil, localizá-lo dentro do cenário da modalidade na qual está inserida, ou seja, se o seu desempenho é do alto nível esportivo ou é um indivíduo que busca o esporte pela participação². Ainda a respeito do contexto social, vale observar as condições propostas para a permanência desses atletas em seu destino, entre outros aspectos da vida cotidiana que sejam passiveis de representar uma realidade social vivida.

Metodologicamente, para adquirir tais informações e dados, sugere-se utilizar diversos instrumentos de pesquisas. O primeiro deles é uma metodologia observacional (SPARKES; SMITH, 2014), analisando as condições que a pessoa migrante está vivendo em seu local de destino pelas próprias lentes do pesquisador. Já o segundo instrumento, refere-se à pesquisa documental (GIL, 2008), em que o pesquisador se apropria de documentos como reportagens, fotografias, relatórios de desempenhos, entre outras fontes. Por fim, sugere-se também a utilização de entrevistas (SPARKES; SMITH, 2014), procurando entrevistar tanto os atletas quanto os treinadores ou agentes responsáveis por eles.

2.3 DIMENSÕES INSTITUCIONAIS DA MIGRAÇÃO ESPORTIVA – CONVERSAÇÕES COM GIDDENS

Por fim, a parte central do modelo analítico da migração esportiva é a ideia da análise dos fatores que influenciam e moldam os fluxos migratórios. Para isso, desenvolveu-se um modelo de análise a partir de quatro dimensões.

De acordo com Giddens (2008), os padrões de migração global podem ser vistos como um reflexo da mudança rápida dos laços econômicos, políticos e culturais entre países. O processo de migração é algo complexo e multifacetado, além de que são sistemas gerados pelas interações de processos de macro e microníveis. Para o autor, os fatores de nível macro são casos como a situação política na área, as leis e regulamentos que controlam a imigração e a emigração, ou as mudanças na economia internacional. Já os fatores de nível micro são os que dizem respeito aos recursos, conhecimentos e formas de pensar das próprias populações migrantes (GIDDENS, 2008).

Com isso, serão apropriadas as dinâmicas apontadas por Giddens (1991) em suas proposições de leitura a partir das dimensões (a exemplo: dimensões institucionais da modernidade, dimensões da globalização, dimensões do realismo utópico). Adiante, as dimensões da migração esportiva possuem algumas compreensões a serem observadas. Primeiro, entende-se que de alguma forma as migrações ocorridas no campo esportivo são ou foram afetadas por todas as quatro dimensões propostas. Segundo, as dimensões não são categorias fechadas no sentido de não haver relação entre elas, ou seja, em certa medida, há inter-relações entre as dimensões da migração esportiva. Por fim, entende-se que a combinação das dimensões é um fator responsável pela existência e expansão da migração esportiva. Para além disso, são moldadoras do processo migratório, estabelecendo padrões específicos de movimento migratório em cada modalidade.

Ademais, contribuições anteriormente mencionadas e algumas questões apontadas por Maguire (1994; 1996; 2008) foram adotadas como ponto de apoio para a elaboração do presente construto. O autor apresenta que, os questionamentos que podem direcionar um projeto de pesquisa sobre a migração esportiva envolvem questões políticas, geográficas ou de padrões de fluxos migratórios, fatores que influenciam a decisão de migrar, as redes de colaboração, motivos ou comportamento do migrante, entre outros.

Nesse sentido, apresenta-se como modelo analítico da migração esportiva, uma proposta que consiste em quatro dimensões, as quais acredita-se estarem relacionadas ao fenômeno. São elas a dimensão política, dimensão econômica, dimensão cultural e a dimensão pessoal. A rigor desse construto, entende-se que as mesmas podem exercer uma análise qualificada do fenômeno da migração dentro do esporte, observando e inter-relacionando questões de níveis macro e micro estruturais, bem como permitem analisar as forças estruturais que regem o funcionamento do processo migratório e também as atuações dos indivíduos nas escolhas e constituição do fenômeno no esporte.

Nas palavras de Giddens (2008, p. 262), os apoiantes da abordagem em termos dos sistemas de migração salientam que nenhum fator, por si só, pode explicar o processo de migração. Pelo contrário, cada movimento migratório particular, como o existente [...] é o produto de uma interação entre processos de nível micro e macro. Diante desse quadro, apresenta-se na figura dimensões consideradas para a compreensão do processo migratório que ocorre no esporte.

Figura 1
Dimensões da migração esportiva.

A primeira dimensão a se analisar nas pesquisas sobre a migração esportiva é a dimensão cultural. Esta, por sua vez, não é somente posta no sentido de compreender o porquê do processo migratório, mas porque o processo migratório se consolida de tal maneira. Nesse sentido, aplicando ao esporte, compreende-se que a cultura de um certo território pode influenciar nos contornos/padrões nos quais a migração se consolida.

O quadro conceitual apropriado para a leitura dessa dimensão foi desenvolvido por Willian Crossan, que o utilizou em sua tese de doutorado, ao analisar o uso de imigrantes no basquetebol de uma liga na República Checa (CROSSAN, 2013). A proposta do autor foi elaborada a partir do que denominou níveis de categorização, sendo um total de quatro.

O primeiro nível é a tipologia do atleta imigrante. Para essa proposição o autor se baseia nas tipologias da migração desenvolvidas por Maguire (1996) e Magee e Sugden (2002), versando sobre a motivação do atleta para migrar (CROSSAN, 2013). Para o autor, as categorias apontadas pelos seus antecessores são o ponto de partida de sua proposta, pois como mencionado aproxima-se de uma ideia de motivos para a pessoa migrar.

A classificação dos países dentro do que se chama sistema mundial é apresentada pelo autor enquanto segundo nível da proposta. A classificação apresentada por Crossan (2013) é uma categorização já utilizada nos estudos da migração esportiva. Maguire e Pearton (2000), analisaram a posição dos países dentro de um mundo globalizado, utilizando as categorias de núcleo ou centro, semiperiferia e periferia. Essas categorizações são feitas com base em condições políticas, culturais e econômicas (CROSSAN, 2013).

Segundo o autor, a classificação dos países é importante, no entanto, identificar em cada caso a prioridade da modalidade esportiva para quem está recebendo e quem envia os atletas é necessário, e isso se constitui enquanto terceiro nível de categorização (CROSSAN, 2013). Segundo o autor, duas categorias são apresentadas, se o esporte é o primário, ou seja, de grande prestígio para a população local, ou não-primário/secundário, que não possui apelo relevante para a população.

O último nível de categorização apresentado por Crossan (2013) é em relação à resposta do país ao processo de globalização. Ou seja, para o autor, os países receptores de atletas migrantes apresentam níveis de aceitação ou rejeição a esses atletas e também à cultura que se materializa nas formas de jogar e de modelo de espetáculo.

A partir dos níveis apresentados, Crossan (2013) propõe uma matriz em que se deve identificar os países que recebem e enviam atletas, a sua posição dentro do mundo globalizado, bem como se o esporte é tido como primário ou secundário na cultura dos países. Para o autor, a matriz - quando em diálogo com as pesquisas já realizadas e dados empíricos - consegue, dentro de suas limitações, fornecer padrões de movimentos dentro da migração esportiva (CROSSAN, 2013). Alguns dos padrões exemplificados pelo autor são: países com rico acervo de talentos esportivos exportam seus atletas para lugares com menor concentração de bons atletas; importação de países com alta concentração de riquezas econômicas de atletas de países com situações econômicas mais vulneráveis; atletas de esporte primário de países centrais deslocando-se para países periféricos; entre outros.

A partir dessas considerações, recuperando as proposições de Crossan (2008), acredita-se que as noções classificatórias das modalidades esportivas dentro das localidades envolvidas no processo de migração podem contribuir para o entendimento dos padrões migratórios estabelecidos. Assim, a identificação da popularidade, ou predominância da modalidade dentro da cultura local, e classificação dessas como primárias ou secundárias, podem contribuir para o entendimento do processo migratório.

Para analisar a dimensão cultural, sugere-se o uso de alguns tipos de fontes de pesquisas, sendo elas pesquisa documental, bibliográfica e, também, o uso de entrevistas. Na pesquisa documental, pode-se utilizar reportagens, relatórios de registros de atletas, rankings de atletas e países. Na pesquisa bibliográfica, apropriar-se da literatura que versa sobre a predominância esportiva nacionais. E por fim, existe a entrevista com os atletas migrantes, que são capazes de expor suas percepções sobre o esporte em suas origens³.

A segunda dimensão a ser analisada é a política. Nas palavras de Giddens (2008), as questões políticas, aqui tratadas como componentes da migração esportiva, referem-se ao nível macro. O surgimento dessas questões ocorre em períodos de grandes deslocamentos forçados por conta de guerras e outras circunstâncias. Devido a isso, inicia-se as formulações e implementações das primeiras leis sobre as migrações da era moderna (HELD et al, 1999).

Essas condições político-regulatórias não são circunscritas às migrações de um mercado de trabalho tradicional e a um contexto social mais amplo. O espaço social específico do esporte também vivencia algumas dessas imposições de regras, que limitam ou abrem as fronteiras dos Estados/nação para o deslocamento dessa mão de obra especializada. Para Maguire (2011, p. 1044 – tradução nossa), “a migração esportiva está ligada a uma economia política complexa, ela própria inserida em uma série de lutas pelo poder que caracterizam o sistema esportivo global”.

Nesse sentido, de uma econômica política complexa, considera-se os aspectos levantados por Maguire e Stead (1996). Os autores apontam que para analisar as regulações – as regras de qualificação, entrada e registro – do sistema esportivo global, ou seja, que envolve o processo de migração e transferência de mão de obra do esporte, é necessário observar dois aspectos. “Um aspecto envolve a liberdade de contrato do funcionário e questões de patrimônio relacionadas. O segundo aspecto centra-se no empregador, onde os objetivos, práticas e critérios financeiros da administração são fundamentais” (MAGUIRE; STEAD, 1996, p. 3 – tradução nossa).

Ao analisar o contexto referente ao críquete inglês, Maguire e Stead (1996) expõem que não é simples o processo de investigação dessas questões. Nesses cenários os autores elencam alguns elementos que, segundo eles, estruturam os regulamentos dos migrantes.

1. Quotas: ou seja, o número de jogadores estrangeiros permitidos em um esquadrão do condado ou no campo de jogo durante um jogo específico.

2. Qualificações de nascimento e residência: ou seja, os requisitos para nascer, ter vínculos ancestrais ou viver por um período definido no país de trabalho.

3. Qualidade e status: ou seja, restrições nacionais / da União Europeia em relação às categorias de migrantes permitiram autorizações de trabalho.

4. Duração dos contratos: ou seja, os períodos contratuais mínimos para jogadores estrangeiros registrados.

5. Isenções especiais: ou seja, o uso de discrição em casos especiais, por exemplo, circunstâncias atenuantes sobre qualificações residenciais (MAGUIRE; STEAD, 1996, p. 3 – tradução nossa).

Observa-se que existem diversos elementos em relação aos pontos de regulamentação da atuação estrangeira em uma modalidade esportiva. No entanto, posteriormente, Maguire (2011) expõe que as análises das políticas relacionadas ao movimento migratório de pessoas envolvidas no esporte envolvem questões de política externa. Ademais, segundo o autor, os mecanismos contemplados na formulação e implementação dessas ações são mutáveis, podendo ter variações do tipo uma “política real” ou uma abordagem “ética”. De maneira sintética, a “política real” clássica, como apontada pelo autor, são as ações que, de alguma forma, buscam melhor posicionar o Estado-nação dentro do sistema esportivo global, até mesmo em detrimento de outras. Já a baseada na “ética”, são políticas/ações que visam buscar o desenvolvimento social pelo esporte, a exemplo do autor, as ações desenvolvidas pela ONU em relação ao desenvolvimento dos países.

Diante disso, considera-se relevante investigar as regulamentações e leis vigentes em relação ao trabalho do esportista migrante, tanto a nível de Estado-nação quanto de instituições responsáveis pelas modalidades esportivas. Para isso, sugere-se apoiar-se em pesquisas documentais, que se configuram em fontes no formato de leis e decretos formulados pelos Estados-nação. Também pode apropriar-se de regulamentos e normativas oriundas de instituições não governamentais que regem as modalidades esportivas. Colaborando com o entendimento do funcionamento da dimensão política, é salutar utilizar-se de entrevistas no sentido de compreender os trâmites realizados pelos envolvidos no processo migratório.

A próxima dimensão é a econômica, que também se encontra no nível das macrorrelações. Giddens (2008) apresenta que ela pode se estabelecer de duas formas. A primeira delas, enquanto necessidade de mão de obra por parte do local de origem, e a segunda, como impossibilidade econômica do local de origem de fornecer melhores salários aos indivíduos que optam por migrar.

Giddens (1991), partindo de uma perspectiva da globalização, constata que um aspecto do fenômeno é a ideia de “empurra e puxa”. Na mesma linhagem, o autor aponta que as teorias precursoras sobre a migração também centravam suas análises nos fatores “push and pull” (GIDDENS, 2008). Em síntese os fatores push, ou seja, o empurrar são as dinâmicas internas de um país que forçam as pessoas a emigrar, podendo essas ser “a guerra, a fome, a opressão política ou a pressão demográfica” (GIDDENS, 2008, p. 261). Já os fatores “pull”, ou seja, os que puxam, são as atrações dos países de destino, sendo eles “mercados de trabalho prósperos, melhores condições gerais de vida ou menor densidade populacional” (GIDDENS, 2008, p. 262).

Compreende-se que críticas foram realizadas ao modelo em razão de suas explicações simplistas (GIDDENS, 2008). No entanto, como já apresentado, o presente modelo analítico busca compreender o processo de migração esportiva a partir de quadro dimensões, propondo assim uma melhor compreensão de um fenômeno complexo. Nesse sentido, acredita-se que para apoiar o olhar da dimensão econômica, o modelo pode ser de grande relevância.

Não é de intento dessa proposta analisá-lo por completo a partir dos fatores empurra e puxa, mas sim, a partir da compreensão de que, na dimensão econômica possa haver desequilíbrios entre as localidades, e que isso seja um fator influenciador para que o atleta decida migrar. Os fatores que empurram os migrantes de sua origem são “aquelas situações da vida que dão uma razão para estar insatisfeito com a própria localidade” (DORIGO; TOBLER, 1983, p. 1). Já os que atraem “são aqueles atributos de lugares distantes que os tornam atraentes” (DORIGO; TOBLER, 1983, p. 1).

Uma aproximação feita com os fatores de empurra e puxa, e a teoria do sistema mundial, é feita por Chepyator-Thomson e Ariyo (2016). De acordo com as autoras, a referida teoria classifica o sistema esportivo como

A produção e aos relacionamentos dos atletas que são desenvolvidos em conexão com vários sistemas esportivos em países além da residência domiciliar dos atletas. [...] No atual sistema esportivo global, existe o núcleo, a semiperiferia e a periferia, onde o núcleo possui recursos abundantes, sendo que a semiperiferia e a periferia dependem da produção de mão-de-obra esportiva qualificada para alimentar gerações de capital social e econômico para o consumo do centro. Os migrantes esportivos da periferia mudam para o núcleo principalmente devido a fatores econômicos

(CHEPYATOR-THOMSON; ARIYO, 2016, p. 1827 – tradução nossa).

A teoria do sistema mundial foi desenvolvida por Wallerstein (1974), e de acordo com Giddens (1991), traz muitas contribuições para compreender, tanto teórica quando empiricamente, a globalização. A teoria do sistema mundial é baseada fortemente em critérios econômicos, o que se torna uma limitação para análises mais amplas (GIDDENS, 1991). No entanto, assim como para Giddens (1991) a economia capitalista mundial, ou sistema de Estado-nação, é uma das dimensões da globalização, no presente intento, pode ser sim aplicada como uma lente para olhar para a dimensão econômica aqui proposta⁴.

Diante disso, considera-se, a partir da proposição de uma dimensão econômica, analisar a diferença entre os potenciais ganhos salariais correntes no local de origem e destino do atleta migrante, bem como, a realidade macroeconômica dos locais envolvidos nos fluxos migratórios. Ou seja, dados internacionais de análises das condições socioeconômicas às quais os atletas estão submetidos.

Para tal intento, a análise se sustenta em uma pesquisa documental, na qual serão realizadas comparações entre indicadores sociais de ambos os países envolvidos no processo migratório. Os documentos analisados dialogam com o recurso das entrevistas, utilizando-se dos depoimentos realizados pelos atletas e técnico sobre salários, condições sociais e de trabalho.

Por dimensão pessoal compreende-se as relações microssociais do indivíduo migrante. Nesse cenário, o modelo analítico da migração esportiva aqui proposto se baseia em dois momentos de análises. Primeiro, o foco das análises é voltado para o recrutamento de atletas e as relações sociais que os indivíduos migrantes estabelecem nesse processo. Em um segundo período, existem as análises das motivações e racionalidades do esportista na decisão de migrar.

Referente às análises das relações sociais dos migrantes dentro do processo migratório, é considerado que as redes de relacionamento da pessoa migrante podem ser formais ou informais, e são investigadas para compreender como e em que medida a network influenciou no recrutamento e na decisão do atleta em migrar (ELLIOTT; GUSTERUD, 2016; ELLIOTT; MAGUIRE, 2008a).

Para refletir sobre o processo de migração dentro do esporte, dois aspectos são necessários, como eles são recrutados e se há alguma ajuda nesse processo de recrutamento. Nesse sentido, alguns autores trazem os dois elementos muito próximos (ELLIOTT; MAGUIRE, 2008a, 2008b; POLLI; BESSON, 2011). Ou seja, a consolidação de uma rede faz parte do processo de recrutamento, bem como o processo de recrutamento envolve uma rede de contatos.

Frente ao exposto, será abordado o recrutamento e, posteriormente, sobre as consolidações da network. O primeiro trabalho a versar sobre os mecanismos ou formas de recrutar atletas foi desenvolvido por Bale (1991), onde o autor analisa o processo de recrutamento de atletas para as universidades americanas.

Posteriormente ao estudo realizado por Bale, outras investigações se dedicaram a analisar o processo de recrutamento de atletas, sendo analisado se é benéfico ou não para os diversos atores e instituições envolvidas no processo (MAGUIRE; FALCOUS, 2011). Maguire e Falcous (2011) sugerem que seja realizada análise cuidadosa das estratégias de recrutamento, afirmando que esse processo molda características significativas das migrações.

Para Poli e Besson (2011), o recrutamento pode ocorrer por influência de fatores como dependência ou proximidade cultural com antigas colônias, e também podem se diversificar os fatores, o que reflete a integração funcional dos espaços, que ocorre no contexto da globalização. Elliott e Maguire (2008a, 2008b) apontam para um elemento facilitador desses mecanismos recrutamento, a network da migração esportiva.

Giddens (2008) expõe que as redes informais e os canais de apoio existentes no destino do migrante, bem como as redes de contatos que permanecem em seu local de origem - a exemplo da família e dos amigos - são elementos presentes no processo migratório. No entanto, na literatura acadêmica sobre a migração esportiva, existe um olhar distinto para o termo. De um lado, há autores que trabalham pela perspectiva de rede a partir da Teoria do Network (CARTER, 2013). Por outro lado, dentro do esporte, o olhar voltado para os estudos das redes é fortemente baseado na teoria figuracional de Norbert Elias (ELLIOTT; MAGUIRE, 2008a, 2008b; ELLIOTT; GUSTERUD, 2016; FRY; BLOYCE, 2017).

Para o presente modelo analítico, não é o objetivo estabelecer discussões sobre possíveis e melhores frentes teóricas para analisar o fenômeno. Nesse sentido, compreende-se que o entendimento do funcionamento da rede diz respeito a entender como e em qual medida as relações interpessoais da pessoa que optou por migrar, ajudaram-na a tomar essa decisão.

Frente ao exposto, a literatura apresenta que as redes utilizadas para o processo decisório tanto no recrutamento, quanto na decisão de migrar, podem ser de dois tipos, formais e informais (ELLIOTT; GUSTERUD, 2016; ELLIOTT; MAGUIRE, 2008a). De forma sintética, pode-se colocar as redes formais como agentes regulamentados, relações entre clubes, federações, entre outras. Já as redes informais são compostas por amigos, familiares, atletas, ex-atletas, ou seja, uma rede de interação que é considerada no processo migratório.

Uma segunda frente na dimensão pessoal refere-se à capacidade de tomada de decisão do indivíduo em migrar. Compreende-se que, por mais que as forças sistêmicas trabalhem para empurrar ou puxar o indivíduo a se deslocar de sua inércia geográfica, a capacidade de calcular os riscos, ganhos e perdas com o processo de migração é algo que parte do indivíduo enquanto ser social. Para além disso, os atletas migrantes também estabelecem ambições e prerrogativas com suas carreiras atléticas, partindo então para uma motivação pessoal em migrar, sendo que essas podem ser das mais variadas.

De acordo com Giddens (1978), o ator social é dotado de poder, sendo esse poder também entendido em nível microssocial, e podendo ser analisado até mesmo pelas suas escolhas sociais.

Pois a noção de ação humana implica logicamente a de poder, entendida como capacidade transformadora: “ação” só existe quando um agente tem a capacidade de intervir, ou se abstém de intervir, em uma série de eventos para poder influenciar seu curso

(GIDDENS, 1978, p. 256).

Para o autor, os seres humanos se mantêm conectados às bases que integra, sendo essa conexão chamada de monitoração reflexiva da ação (GIDDENS, 1991). O monitoramento reflexivo de conduta tem relação com a intencionalidade do ator (GIDDENS, 1978). Nesse sentido, para Giddens, os atores sociais são capazes de se basear em seus acervos de conhecimento, os mesmos usados na própria produção e reprodução de sua ação.

Os estudos sobre a motivação para migrar de pessoas envolvidas com o esporte, são em grande parte analisados a partir das premissas da tipologia da migração esportiva desenvolvida por Maguire (1996), e posteriormente adaptada e incrementada por Magee e Sugden (2002). Corroborando a ideia de que a abordagem é passível de ser desenvolvida a partir de outros estudos, observa-se que Yoshio e Horne (2004) propuseram uma nova categoria, chamada de provador, ao analisar o futebol japonês. Já Botelho e Agergaad (2011) indicaram a classificação de trabalho por amor, ao estudarem o futebol feminino.

Agergaad e Botelho (2011) reconhecem as contribuições das tipologias do migrante esportivo, no entanto, revela duas limitações. A primeira por ser amplamente utilizada no futebol masculino e não ser evidenciada sua capacidade de generalização, segundo as várias sobreposições de categorias, definições e conceitos (AGERGAAD; BOTELHO, 2011). Nesse estudo, as autoras propõem não tipificar o perfil do migrante, mas categorizar os possíveis motivos de migrar. São eles: ganhos econômicos, assentamentos, experiência cultural, ambições e experiências no esporte. Além dos pontos elencados pelas autoras, considera-se também que partindo da tipologia dificulta o aparecimento de outros fatores motivacionais que podem influenciar na decisão de migrar do indivíduo.

Para o presente modelo analítico, considera-se que as contribuições das tipologias e categorias posteriormente adicionadas são muito importantes para compreender o processo migratório. No entanto, não se restringe em realizar tais classificações dos atletas a partir das categorias previamente postas pela literatura.

Esse posicionamento se dá diante da necessidade de se permitir uma amplitude de análise a partir dos dados e informações gerados pelas fontes. Nesse sentido, acredita-se que as entrevistas sejam o instrumento de pesquisa que se constitui como mais pertinente para analisar os aspectos referentes à dimensão pessoal. Tal convicção se dá pelo entendimento de que os esportistas migrantes são dotados de certa racionalidade, calculando e tensionando suas motivações e processos necessários para o deslocamento entre países (GIDDENS, 1978).

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta de modelo analítico da migração esportiva, busca avanços para qualificar as discussões sobre o tema, uma vez que se propõe a agregar em suas análises um conjunto de informações compiladas por múltiplas fontes e tipos de pesquisa. Adiante, objetiva atender às necessidades identificadas pela literatura para agregar diferentes olhares para analisar o fenômeno, diminuindo assim dicotomias e visões limitadas, como observado em King (2012) e O’Reilly (2013). Ademais, de acordo com Santos et al (2010) as teorias sobre migração possuem pouca conexão entre elas.

Diante disso, nosso intento não é negar a capacidade analítica dos quadros teóricos apresentados anteriormente, mas, pautados na utilização de alguns desses pressupostos, elaborar uma lente capaz de observar o processo migratório de forma abrangente. Desde já reconhecendo as limitações desse esforço, pois nenhuma teoria por si só é capaz de abarcar todos os aspectos da migração, uma vez que o fenômeno é complexo e multifacetado.

Finalizando, sugere-se o seu teste e aplicação em diferentes cenários que ocorram o fenômeno da migração no esporte. Entende-se que para verificar a aplicabilidade do modelo é necessário o exercício de leitura da migração esportiva em países e modalidades diferentes, atentando às possíveis adaptações, agregações e formulações de novas ideias que contribuam para uma melhor leitura do fenômeno da migração esportiva.

• 1
  Este artigo é um desdobramento da tese: ROJO, Jeferson Roberto. Migração esportiva: um olhar para os corredores de rua africanos no Brasil. 2020. 269f. Tese (Doutorado em Educação Física) – Centro de Ciências da Saúde. Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2020.
• 2
  Vale lembrar que além da figura de atletas, outros atores sociais podem permear a migração esportiva (ROJO; MARQUES; STAREPRAVO, 2022).
• 3
  As fontes indicadas podem ser utilizadas em conjunto com a utilização de pesquisas etnográficas, importantes ferramentas para a pesquisa social e a compreensão de culturas de grupos específicos (SPARK; SMITH, 2014), caso haja interesse, tempo adequado de imersão e identificação epistemológica.
• 4
  Vale ressaltar que mesmo que a Teoria do Sistema Mundial seja pautada em análises macroeconômicas, o mesmo tipo de classificação hierárquica pode ser realizado para identificar as potências esportivas, não excluindo outras possibilidades de análise, tampouco correspondendo necessariamente aos mesmos atores sociais.

• FINANCIAMENTO

  O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

• COMO REFERENCIAR

  ROJO, Jeferson Roberto; SOUZA, Juliano de; STAREPRAVO, Fernando Augusto. Dimensões da migração esportiva: aportes para um modelo reflexivo. Movimento, v. 29, p. e29059, jan./dez. 2023. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.129350

REFERÊNCIAS

• AGERGAARD, Sine; BOTELHO, Vera. Female football migration: motivational factors for early migratory processes. In: MAGUIRE, Joseph; FALCOUS, Mark (ed.). Sport and migration London: Routledge, 2011. p. 157-172.
• BALE, John. The brawn drain: Foreign student-athletes in American universities. Champaign: University of Illinois Press, 1991.
• BOTELHO, Vera L.; AGERGAARD, Sine. Moving for the love of the game? International migration of female footballers into Scandinavian countries. Soccer & Society, v. 12, n. 6, p. 806-819, 2011. DOI: https://doi.org/10.1080/14660970.2011.609681
  » https://doi.org/10.1080/14660970.2011.609681
• BOURDIEU, Pierre; WACQUANT, Loïc. The organic ethnologist of Algerian migration. Ethnography, v. 1, n. 2, p. 173-182, 2000. DOI: https://doi.org/10.1177/14661380022230723
  » https://doi.org/10.1177/14661380022230723
• BRETTELL, Caroline B.; HOLLIFIELD, James F. (ed.). Migration theory: talking across disciplines. London: Routledge, 2014.
• CARTER, Thomas F. Re-placing sport migrants: moving beyond the institutional structures informing international sport migration. International Review for the Sociology of Sport, v. 48, n. 1, p. 66-82, 2013. DOI: https://doi.org/10.1177/1012690211429211
  » https://doi.org/10.1177/1012690211429211
• CHEPYATOR-THOMSON, Jepkorir Rose; ARIYO, Emma Sande. Out of Eastern Africa: an examination of sport labour migration in the post-independence era. The International Journal of the History of Sport, v. 33, n. 15, p. 1826-1846, 2016. DOI: https://doi.org/10.1080/09523367.2017.1315941
  » https://doi.org/10.1080/09523367.2017.1315941
• CROSSAN, William. A preliminary categorization of sporting immigrants. In: INTERNATIONAL STUDENT CONFERENCE: SCIENCE IN MOTION—MOVEMENT IN SCIENCE. Proceedings… Prague, Czech Republic: Charles University, 2008. p. 14-19.
• CROSSAN, Willian. Sporting immigrants and their effect on sport growth and popularity in a culture: a case study in Czech basketball. 2013. 174 f. Tese (Doutorado) - Faculty of Physical Education and Sport, Charles University, Prague, 2013.
• DENYER, David; TRANFIELD, David. Producing a systematic review. In: BUCHANAN, David; BRYMAN, Alan (ed.). The Sage handbook of organizational research methods Thousand Oaks: Sage Publications, 2009. p. 671–689.
• DORIGO, Guido; TOBLER, Waldo. Push-pull migration laws. Annals of the Association of American Geographers, v. 73, n. 1, p. 1-17, 1983. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1467-8306.1983.tb01392.x
  » https://doi.org/10.1111/j.1467-8306.1983.tb01392.x
• ELLIOTT, Richard; GUSTERUD, Erik. Finding the back of the net: Networks and migrant recruitment in Norwegian football. International Review for the Sociology of Sport, v. 53, n. 1, p. 69 - 83, 2016. DOI: https://doi.org/10.1177/1012690216640526
  » https://doi.org/10.1177/1012690216640526
• ELLIOTT, Richard; MAGUIRE, Joseph. “Getting Caught in the Net” Examining the Recruitment of Canadian Players in British Professional Ice Hockey. Journal of Sport and Social Issues, v. 32, n. 2, p. 158-176, 2008b. DOI: https://doi.org/10.1177/0193723507313927
  » https://doi.org/10.1177/0193723507313927
• ELLIOTT, Richard; MAGUIRE, Joseph. Thinking outside of the box: exploring a conceptual synthesis for research in the area of athletic labor migration. Sociology of Sport Journal, v. 25, n. 4, p. 482-497, 2008a. DOI: https://doi.org/10.1123/ssj.25.4.482
  » https://doi.org/10.1123/ssj.25.4.482
• FOUREZ, Gérard. A construção das ciências São Paulo: Unesp, 1995.
• FRY, John; BLOYCE, Daniel. ‘Friends as enemies’: a sociological analysis of the relationship among touring professional golfers. International Review for the Sociology of Sport, v. 52, n. 3, p. 336-360, 2017. DOI: https://doi.org/10.1177/1012690215597659
  » https://doi.org/10.1177/1012690215597659
• GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade São Paulo: Unesp, 1991.
• GIDDENS, Anthony. Central problems in social theory: action, structure, and contradiction in social analysis. Berkeley: University of California Press, 1978.
• GIDDENS, Anthony. Sociología Madrid: Alianza editorial, 2008.
• GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
• HELD, David et al Global transformations: Politics, economics and culture. In: PIERSON, Chris; TORMEY, Simon (ed). Politics at the edge London: Palgrave Macmillan, 1999. p. 14-28.
• JOHNSON, Allan. Dicionário de sociologia: guia prático da linguagem sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.
• KING, Russell. Theories and typologies of migration: an overview and a primer. Malmö: Malmö Institute for Studies of Migration, Diversity and Welfare (MIM), 2012.
• LEE, Seungbum. Global outsourcing: a different approach to an understanding of sport labour migration. Global Business Review, v. 11, n. 2, p. 153-165, 2010. DOI: https://doi.org/10.1177/097215091001100203
  » https://doi.org/10.1177/097215091001100203
• LOVE, Adam; KIM, Seungmo. Sport labor migration and collegiate sport in the United States: a typology of migrant athletes. Journal of Issues in Intercollegiate Athletics, v. 4, n. 9. p. 90-104, 2011. Disponível em: http://csri-jiia.org/old/documents/publications/research_articles/2011/JIIA_2011_4_6_90_114_Labor_Migration.pdf Acesso em: 31 out. 2023.
  » http://csri-jiia.org/old/documents/publications/research_articles/2011/JIIA_2011_4_6_90_114_Labor_Migration.pdf
• MAGEE, Jonathan; SUGDEN, John. “The world at their feet” professional football and international labor migration. Journal of sport and social issues, v. 26, n. 4, p. 421-437, 2002. DOI: https://doi.org/10.1177/0193732502238257
  » https://doi.org/10.1177/0193732502238257
• MAGUIRE, Joseph. Blade runners: Canadian migrants, ice hockey, and the global sports process. Journal of Sport and Social Issues, v. 20, n. 3, p. 335-360, 1996. DOI: https://doi.org/10.1177/019372396020003007
  » https://doi.org/10.1177/019372396020003007
• MAGUIRE, Joseph. Preliminary observations on globalisation and the migration of sport labour. The Sociological Review, v. 42, n. 3, p. 452-480, 1994. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1467-954X.1994.tb00097.x
  » https://doi.org/10.1111/j.1467-954X.1994.tb00097.x
• MAGUIRE, Joseph. ‘Real politic’ or ‘ethically based’: Sport, globalization, migration and nation-state policies. Sport in Society, v. 11, n. 4, p. 443-458, 2008. DOI: https://doi.org/10.1080/17430430802019375
  » https://doi.org/10.1080/17430430802019375
• MAGUIRE, Joseph. ‘Real politic’ or ‘ethically based’: sport, globalization, migration and nation-state policies. Sport in Society, v. 14, n. 7-8, p. 1040-1055, 2011. DOI: https://doi.org/10.1080/17430437.2011.603557
  » https://doi.org/10.1080/17430437.2011.603557
• MAGUIRE, Joseph. Social Sciences in sport Champaign: Human Kinetics, 2014.
• MAGUIRE, Joseph. Sociologia do esporte. In: HAAG, Herbert; KESKINEN, Kari; TALBOT, Margaret (ed.). Diretório da ciência desportiva 6. ed. Juiz de Fora: NGIME/UFJF, 2016. p. 115-122.
• MAGUIRE, Joseph. Sport and migration Iowa: Blackwell Publishing, 2013.
• MAGUIRE, Joseph. Sport labor migration research revisited. Journal of sport and social issues, v. 28, n. 4, p. 477-482, 2004. DOI: https://doi.org/10.1177/0193723504269914
  » https://doi.org/10.1177/0193723504269914
• MAGUIRE, Joseph; BALE, John. Introduction: sports labour migration in the global arena. In: BASE, John; MAGUIRE, Joseph (ed.). The global sports arena: athletic talent migration in an interdependent world. London: Frank Cass, 1994. p. 1-21.
• MAGUIRE, Joseph; FALCOUS, Mark (ed.). Sport and migration: Borders, boundaries and crossings. London: Routledge, 2011.
• MAGUIRE, Joseph; PEARTON, Robert. Global sport and the migration patterns of France ‘98 World Cup finals players: some preliminary observations. Soccer & Society, v. 1, n. 1, p. 175-189, 2000. DOI: https://doi.org/10.1080/14660970008721257
  » https://doi.org/10.1080/14660970008721257
• MAGUIRE, Joseph; STEAD, David. Far pavilions?: cricket migrants, foreign sojourns and contested identities. International Review for the Sociology of Sport, v. 31, n. 1, p. 1-23, 1996. DOI: https://doi.org/10.1177/101269029603100101
  » https://doi.org/10.1177/101269029603100101
• MCKIBBON, Ann. Systematic reviews and librarians. Library trends, v. 55, n. 1, p. 202-215, 2006. DOI: https://doi.org/10.1353/lib.2006.0049
  » https://doi.org/10.1353/lib.2006.0049
• NOLASCO, Carlos. Migrações internacionais: conceitos, tipologia e teorias. Oficina do CES, v. 434, p. 1-29, 2017. Disponível em: https://ces.uc.pt/publicacoes/oficina/ficheiros/14615_Oficina_434.pdf Acesso em: 31 out. 2023.
  » https://ces.uc.pt/publicacoes/oficina/ficheiros/14615_Oficina_434.pdf
• O’REILLY, Karen. International migration and social theory. In: The encyclopedia of global human migration Hoboken: Wiley, 2013. DOI: https://doi.org/10.1002/9781444351071.wbeghm307
  » https://doi.org/10.1002/9781444351071.wbeghm307
• POLI, Raffaele; BESSON, Roger. From the South to Europe: a comparative analysis of African and Latin American football migration. In: MAGUIRE, Joseph; FALCOUS, Mark (ed.). Sport and migration: Borders, boundaries and crossings. London: Routledge, 2011. p. 15-30.
• ROJO, Jeferson Roberto; MARQUES, Renato Francisco Rodrigues; STAREPRAVO, Fernando Augusto. A systematic review of research on sport migration. Migration and Diversity, v. 1, n. 1, p. 58-74, 2022. DOI: https://doi.org/10.33182/md.v1i1.2847
  » https://doi.org/10.33182/md.v1i1.2847
• ROJO, Jeferson Roberto; RIBEIRO, Carlos Henrique de Vasconcellos; STAREPRAVO, Fernando Augusto. The process of formation and development of an academic field: the example of sport migration. International Sports Studies, v. 43, n. 2, p. 52-67, 2021. DOI: https://doi.org/10.30819/iss.43-2.05
  » https://doi.org/10.30819/iss.43-2.05
• SALGADO, Mauricio. Construyendo explicaciones: el uso de modelos en la sociología. Persona y sociedad, v. 23, n. 3, p. 29-60, 2009.
• SANTOS, Mauro Augusto dos et al Migração: uma revisão sobre algumas das principais teorias. Belo Horizonte: UFMG/Cedeplar, 2010.
• SOUZA, Juliano de. Do homo movens ao homo academicus: rumo a uma teoria reflexiva da Educação Física. São Paulo: Liber Ars, 2021.
• SOUZA, Juliano de; MARCHI JÚNIOR, Wanderley. Por uma sociologia da produção científica no campo acadêmico da Educação Física no Brasil. Motriz: Revista de Educação Física, v. 17, n. 2, p. 349-360, 2011. DOI: https://doi.org/10.5016/1980-6574.2011v17n2p349
  » https://doi.org/10.5016/1980-6574.2011v17n2p349
• SOUZA, Juliano de; MARCHI JÚNIOR, Wanderley. Por uma sociologia reflexiva do esporte: considerações teórico-metodológicas a partir da obra de Pierre Bourdieu. Movimento, v. 16, n. 1, p. 293-315, 2010. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.10496
  » https://doi.org/10.22456/1982-8918.10496
• SOUZA, Juliano de; STAREPRAVO, Fernando Augusto; MARCHI JUNIOR, Wanderley. A sociologia configuracional de Norbert Elias-potencialidades e contribuições para o estudo do esporte. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 36, n. 2, p. 429-445, 2014. DOI: https://doi.org/10.1590/S0101-32892014000200011
  » https://doi.org/10.1590/S0101-32892014000200011
• SPARKES, Andrew C.; SMITH, Brett. Qualitative research methods in sport, exercise and health: from process to product. London: Routledge, 2014.
• WALLERSTEIN, Immanuel. The modern world-system 1. Berkeley : University of California Press, 1974. (Studies in Social Discontinuity). Disponivel em: https://dl1.cuni.cz/pluginfile.php/495082/mod_resource/content/1/Wallerstein-Modern%20World-System%20I.pdf Acesso em: 2 nov. 2023.
  » https://dl1.cuni.cz/pluginfile.php/495082/mod_resource/content/1/Wallerstein-Modern%20World-System%20I.pdf
• YOSHIO, Takahashi; HORNE, John. Japanese football players and the sport talent migration business. In: MANZENREITER, Wolfram; HORNE, John. Football Goes East London: Routledge, 2004. p. 85-102.

Editado por

RESPONSABILIDADE EDITORIAL

Alex Branco Fraga *, Elisandro Schultz Wittizorecki *, Mauro Myskiw *, Raquel da Silveira *

*Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Porto Alegre, RS, Brasil.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  05 Abr 2024
• Data do Fascículo
  2023

Histórico

• Recebido
  03 Mar 2023
• Aceito
  31 Out 2023
• Publicado
  15 Dez 2023