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Pseudoaneurisma roto de artéria ileocólica: relato de caso

Resumo

Os aneurismas de artérias viscerais (AAVs) e pseudoaneurismas de artérias viscerais (PAAVs) são condições raras e potencialmente letais quando rotos. Em geral, são encontrados incidentalmente na tomografia computadorizada de pacientes assintomáticos. Embora a cirurgia aberta convencional seja considerada atualmente o tratamento padrão ouro, a abordagem endovascular vem ganhando relevo por ser considerada um procedimento minimamente invasivo e com riscos cirúrgicos menores. Destaca-se, nessa abordagem, o uso de embolização por molas (coils) em AAVs e PAAVs saculares e implante de stent modulador de fluxo como alternativa de tratamento para aneurismas fusiformes. Apresentamos o caso de uma paciente de 51 anos com queixa de dor abdominal aguda, taquicardia e hipotensão, com evidência de sangramento abdominal em angiotomografia e diagnóstico de pseudoaneurisma de artéria ileocólica (AIC) roto. Ela foi submetida a tratamento endovascular precoce de embolização da AIC com sucesso, e houve melhora do quadro clínico.

Palavras-chave:
procedimento endovascular; falso aneurisma; artéria mesentérica superior

Abstract

Visceral artery aneurysms (VAAs) and visceral artery pseudoaneurysms (VAPAs) are rare conditions and are potentially lethal when they rupture. They are usually found as incidental findings on computed tomography (CT) scans of asymptomatic patients. Although conventional open surgery is currently considered the gold standard treatment, the endovascular approach has gained prominence as a minimally invasive procedure with lower surgical risk. In this approach, use of coil embolization in saccular VAAs and VAPAs and implantation of flow-modulating stents constitute alternative treatments for fusiform aneurysms. We present the case of a 51-year-old female patient complaining of acute abdominal pain, tachycardia, and hypotension, with evidence of abdominal bleeding on CT angiography, who was diagnosed with a ruptured ileocolic artery (ICA) pseudoaneurysm. She underwent early endovascular treatment for ICA embolization, which was successful and achieved clinical improvement.

Keywords:
endovascular procedure; pseudoaneurysm; superior mesenteric artery

INTRODUÇÃO

Os aneurismas de artérias viscerais (AAVs) e pseudoaneurismas de artérias viscerais (PAAVs) são raros, com incidência entre 0,01 e 0,2%11 Chiesa R, Astore D, Guzzo G, et al. Visceral artery aneurysms. Ann Vasc Surg. 2005;19(1):42-8. http://dx.doi.org/10.1007/s10016-004-0150-2. PMid:15714366.
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. Com o avanço de técnicas em exames de imagem como a angiotomografia computadorizada (angioTC) de abdômen e o ultrassom Doppler (USD)22 Moraes D Fo, Trevisan FB, Silvestre JMS, et al. Vascular ultrasonography for follow-up of endovascular repair of abdominal aorta aneurysms. J Vasc Bras. 2014;13(3):168-74. http://dx.doi.org/10.1590/jvb.2014.019.
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,33 Azevedo FC, Zerati AE, Blasbalg R, Wolosker N, Puech-Leão P. Comparison of ultrasonography, computed tomography, and magnetic resonance imaging with intraoperative measurements in the evaluation of abdominal aortic aneurysms. Clinics (São Paulo). 2005;60(1):21-8. http://dx.doi.org/10.1590/S1807-59322005000100006. PMid:15838577.
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para detecção de doenças intra-abdominais, juntamente com maior manipulação das vias biliares, a taxa de prevalência e o achado incidental dos aneurismas têm aumentado. Os AAVs são causados principalmente por hipertensão, aterosclerose, displasia e doenças do colágeno, enquanto os PAAVs estão associados a traumas, lesões iatrogênicas, inflamação ou infecções44 Sueyoshi E, Sakamoto I, Nakashima K, Minami K, Hayashi K. Visceral and peripheral arterial pseudoaneurysms. AJR Am J Roentgenol. 2005;185(3):741-9. http://dx.doi.org/10.2214/ajr.185.3.01850741. PMid:16120928.
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. A artéria esplênica é a mais comumente afetada por aneurismas e pseudoaneurismas, seguida pela artéria hepática, tronco celíaco e artéria mesentérica inferior55 Pulli R, Dorigo W, Troisi N, Pratesi G, Innocenti AA, Pratesi C. Surgical treatment of visceral artery aneurysms: a 25-year experience. J Vasc Surg. 2008;48(2):334-42. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2008.03.043. PMid:18644480.
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Os PAAVs ocorrem mais frequentemente nas artérias gastroduodenal e mesentérica superior (AMS) se comparados a aneurismas verdadeiros, e os pseudoaneurismas rotos dessa artéria estão associados à taxa de mortalidade de 37%66 Jesinger RA, Thoreson AA, Lamba R. Abdominal and pelvic aneurysms and pseudoaneurysms: imaging review with clinical, radiologic, and treatment correlation. Radiographics. 2013;33(3):E71-96. http://dx.doi.org/10.1148/rg.333115036. PMid:23674782.
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Os aneurismas e pseudoaneurismas das artérias ileocólicas (AIC) são incomuns e geralmente assintomáticos, mas, quando sintomáticos, estão associados a sinais de rotura, tais como dor abdominal, sangramento intestinal baixo e hemorragia intra-abdominal ou sinais de choque hipovolêmico77 Roche-Nagle G, O’Donnell D, O’Hanrahan T. Visceral artery aneurysms: a symptomatic aneurysm of the ileocolic artery. Vascular. 2007;15(3):162-6. http://dx.doi.org/10.2310/6670.2007.00020. PMid:17573023.
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. A cirurgia convencional é considerada padrão ouro no tratamento, porém o tratamento endovascular (TE) vem se destacando, principalmente na abordagem de pacientes com alto risco cirúrgico88 De Rosa A, Gomez D, Pollock JG, et al. The radiological management of pseudoaneurysms complicating pancreatitis. JOP. 2012;13(6):660-6. PMid:23183395.,99 Taboada CR, Alonso JG, Cortés RP, Pelayo LV, Hernández PV, Sánchez FS. Dual endovascular repair (coils and stent) of a true aneurysm of the gastroduodenal artery. J Vasc Bras. 2020;19:e20190123. http://dx.doi.org/10.1590/1677-5449.190123. PMid:34178066.
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.

Apresentamos o caso de uma paciente diagnosticada com PAAV de AIC roto submetida a TE com sucesso. Ressaltamos a importância do conhecimento dessa condição, que, embora rara e potencialmente fatal, pode apresentar um desfecho favorável se diagnosticada e tratada precocemente.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da nossa instituição (CAAE: 50239621.8.0000.5415, número do parecer consubstanciado: 4.919.534).

Descrição do caso

Paciente do sexo feminino de 51 anos admitida em pronto atendimento com dor abdominal de forte intensidade em região superior há 2 dias e piora com o passar das horas, sem melhoria com uso de analgésicos. Na admissão, apresentava regular estado geral, palidez cutânea-mucosa, pele fria, pressão arterial de 125 x 59 mmHg, frequência cardíaca de 116 bpm, frequência respiratória de 17 ipm e temperatura corporal de 36,1º. No exame físico, o abdômen mostrava-se plano, com dor leve à palpação profunda na região superior, ausência de massa e/ou dor à descompressão. Foi solicitada angioTC abdominal, evidenciando-se volumoso hematoma intraperitoneal no mesentério na região do mesogastro de aproximadamente 800 cm3 e presença de líquido livre na cavidade abdominal em volume moderado. A AMS encontrava-se pérvia, e observou-se uma dilatação fusiforme em AIC com irregularidade de contornos e extravasamento de contraste ao longo do seu trajeto à direita (Figura 1A e 1B). A paciente negava doenças prévias e uso de medicamentos contínuos. Referiu ter sido submetida à colecistectomia videolaparoscópica há vários anos.

Figura 1
Angiotomografia de abdômen evidenciando: (A) artéria mesentérica superior apresentando dilatação fusiforme em artéria ileocólica com irregularidade de contornos e extravasamento de contraste; (B) volumoso hematoma intraperitoneal no mesentério e presença de líquido livre na cavidade abdominal.

Posteriormente, a paciente foi encaminhada ao setor de hemodinâmica, sendo realizada arteriografia por técnica de Seldinger com passagem de válvula hemostática 5Fr Performa®️ (Merit Medical Systems, Inc., Utah, EUA) e posicionamento de cateter Cobra Performa®️ (Merit Medical Systems, Inc., Utah, EUA), com injeção de contraste que identificou dilatação e extravasamento de contraste em AIC (Figura 2A e 2B). Foi também realizado cateterismo seletivo da AIC com microcateter Progreat (Terumo Corporation, Tóquio, Japão), e optou-se por embolização dessa artéria com liberação de micromolas Axium Prime™️ (Medtronic, Dublin, Irlanda) de 2,5 x 6 cm em região final da dilatação e de micromolas Axium™️ (Medtronic, Dublin, Irlanda) de 2,5 x 8 cm com selamento de outflow, seguido por liberação de molas de embolização Nester® (Cook Medical Inc., Indiana, EUA) em área de extravasamento de contraste (5 molas 14 x 20 mm e 2 molas 14 x 18 mm), com selamento de inflow (Figura 3). Após o procedimento, a paciente apresentou melhora da dor e estabilidade hemodinâmica e recebeu alta hospitalar no 3° dia do pós-operatório (PO). No retorno de 3 meses, a paciente apresentava-se assintomática, e foi realizada angioTC controle, não sendo observados extravasamentos ou hematoma retroperitoneal (Figura 4A e 4B).

Figura 2
Angiografia de artérias abdominais mostrando: (A) pseudoaneurisma fusiforme em porção média da artéria ileocólica (seta preta); (B) extravasamento de contraste indicando rotura (seta vermelha).
Figura 3
Angiografia de controle após embolização da artéria ileocólica com micromolas evidenciando selamento do outflow e inflow e ausência de extravasamento (seta preta).
Figura 4
Angiotomografia controle após 3 meses do procedimento: (A) evidenciando as micromolas localizadas na artéria ileocólica e ausência de extravasamento; (B) imagem total do abdômen sem hematoma retroperitoneal.

Discussão

Os AAVs e PAAVs são manifestações raras, com incidência entre 0,1 e 2%11 Chiesa R, Astore D, Guzzo G, et al. Visceral artery aneurysms. Ann Vasc Surg. 2005;19(1):42-8. http://dx.doi.org/10.1007/s10016-004-0150-2. PMid:15714366.
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, mas, apesar da baixa incidência, apresentam taxa de ruptura alta (25%) com morbimortalidade significante (70%)55 Pulli R, Dorigo W, Troisi N, Pratesi G, Innocenti AA, Pratesi C. Surgical treatment of visceral artery aneurysms: a 25-year experience. J Vasc Surg. 2008;48(2):334-42. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2008.03.043. PMid:18644480.
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,1010 Shawky MS, Tan J, French R. Gastroduodenal Artery aneurysm: a case report and concise review of literature. Ann Vasc Dis. 2015;8(4):331-3. http://dx.doi.org/10.3400/avd.cr.15-00086. PMid:26730262.
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. São causados por uma variedade de etiologias, e o diagnóstico inicial inclui USD e tomografia computadorizada (TC) com sensibilidade de 50% e 67%, respectivamente. A angiografia é o padrão ouro, pois permite a localização mais específica da lesão e confirmação do fluxo colateral, podendo ser usada para tratamento1111 Saran M, Biswas S. A rare case of jejunal pseudoaneurysm presenting as acute small bowel obstruction after blunt trauma: discussion, management dilemmas, and a review of relevant literature. Cureus. 2019;11(9):e5655. http://dx.doi.org/10.7759/cureus.5655. PMid:31700756.
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. Os PAAVs de AMS são mais frequentemente causados por inflamação devido à pancreatite ou outras etiologias, além de poderem ser causados por traumas de origem iatrogênica66 Jesinger RA, Thoreson AA, Lamba R. Abdominal and pelvic aneurysms and pseudoaneurysms: imaging review with clinical, radiologic, and treatment correlation. Radiographics. 2013;33(3):E71-96. http://dx.doi.org/10.1148/rg.333115036. PMid:23674782.
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, desde cirurgia ou angiografia até acidentes ou traumas penetrantes1111 Saran M, Biswas S. A rare case of jejunal pseudoaneurysm presenting as acute small bowel obstruction after blunt trauma: discussion, management dilemmas, and a review of relevant literature. Cureus. 2019;11(9):e5655. http://dx.doi.org/10.7759/cureus.5655. PMid:31700756.
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. A maior manipulação do trato biliar com técnicas percutâneas endoscópicas e implantes de cateter para quimioembolização intravascular resultaram em aumento da incidência de degeneração pseudoaneurismal de vasos viscerais, além de trauma arterial após tratamento laparoscópico de doenças intra e retroperitoneais1212 Tulsyan N, Kashyap VS, Greenberg RK, et al. The endovascular management of visceral artery aneurysms and pseudoaneurysms. J Vasc Surg. 2007;45(2):276-83, discussion 283. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2006.10.049. PMid:17264002.
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Com a disseminação das técnicas de imagem, como angioTC e angiorressonância magnética, houve um aumento no diagnóstico de AAVs e PAAVs e, muitas vezes, são achados incidentais em exames realizados para outras doenças abdominais1010 Shawky MS, Tan J, French R. Gastroduodenal Artery aneurysm: a case report and concise review of literature. Ann Vasc Dis. 2015;8(4):331-3. http://dx.doi.org/10.3400/avd.cr.15-00086. PMid:26730262.
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. A apresentação clínica dessas lesões é frequentemente vaga, e não há sinais claros alertando sobre a iminência de ruptura. Recomendam-se diagnóstico e manejo rápido em qualquer suspeita de PAAV em função de sua alta taxa de ruptura e hemorragia1111 Saran M, Biswas S. A rare case of jejunal pseudoaneurysm presenting as acute small bowel obstruction after blunt trauma: discussion, management dilemmas, and a review of relevant literature. Cureus. 2019;11(9):e5655. http://dx.doi.org/10.7759/cureus.5655. PMid:31700756.
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. Pitton et al.1313 Pitton MB, Dappa E, Jungmann F, et al. Visceral artery aneurysms: Incidence, management, and outcome analysis in a tertiary care center over one decade. Eur Radiol. 2015;25(7):2004-14. http://dx.doi.org/10.1007/s00330-015-3599-1. PMid:25693662.
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constataram que PAAVs são mais propensos à ruptura que aneurismas verdadeiros (76,3% vs. 3,1%, respectivamente).

Houve, então, a necessidade de classificação para se decidir qual procedimento realizar: cirúrgico (aberto ou embolização por cateter) ou seguimento conservador1414 Ikeda O, Tamura Y, Nakasone Y, Iryou Y, Yamashita Y. Nonoperative management of unruptured visceral artery aneurysms: treatment by transcatheter coil embolization. J Vasc Surg. 2008;47(6):1212-9. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2008.01.032. PMid:18440188.
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. A técnica aberta convencional que inclui ressecção com revascularização, ligadura ou ressecção final do órgão (em geral, esplenectomia) ainda permanece como padrão ouro de tratamento88 De Rosa A, Gomez D, Pollock JG, et al. The radiological management of pseudoaneurysms complicating pancreatitis. JOP. 2012;13(6):660-6. PMid:23183395.,1515 Santos FS, Sousa KMDS, de Castro TAC, et al. Endovascular treatment of pseudoaneurysms secondary to chronic pancreatitis: reports of two cases. J Vasc Bras. 2018;17(1):71-5. http://dx.doi.org/10.1590/1677-5449.012517. PMid:29930685.
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. No entanto, pode, muitas vezes, interromper o fluxo sanguíneo da artéria principal e resultar em um quadro de isquemia intestinal em diferentes escalas1414 Ikeda O, Tamura Y, Nakasone Y, Iryou Y, Yamashita Y. Nonoperative management of unruptured visceral artery aneurysms: treatment by transcatheter coil embolization. J Vasc Surg. 2008;47(6):1212-9. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2008.01.032. PMid:18440188.
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.

Tulsyan et al.1212 Tulsyan N, Kashyap VS, Greenberg RK, et al. The endovascular management of visceral artery aneurysms and pseudoaneurysms. J Vasc Surg. 2007;45(2):276-83, discussion 283. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2006.10.049. PMid:17264002.
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demonstraram que a cirurgia convencional em locais de difícil acesso, com dificuldades técnicas e comorbidades associadas que não possibilitam a reconstrução vascular e em pacientes admitidos em situações críticas (sangramento agudo e rotura), pode potencializar a morbimortalidade. Eles evidenciaram taxa de sucesso de 96% na embolização endovascular com molas1212 Tulsyan N, Kashyap VS, Greenberg RK, et al. The endovascular management of visceral artery aneurysms and pseudoaneurysms. J Vasc Surg. 2007;45(2):276-83, discussion 283. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2006.10.049. PMid:17264002.
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Diante de algumas limitações na cirurgia aberta, o procedimento endovascular, por ser minimamente invasivo, tornou-se uma alternativa para pacientes que apresentavam maiores riscos cirúrgicos88 De Rosa A, Gomez D, Pollock JG, et al. The radiological management of pseudoaneurysms complicating pancreatitis. JOP. 2012;13(6):660-6. PMid:23183395.,99 Taboada CR, Alonso JG, Cortés RP, Pelayo LV, Hernández PV, Sánchez FS. Dual endovascular repair (coils and stent) of a true aneurysm of the gastroduodenal artery. J Vasc Bras. 2020;19:e20190123. http://dx.doi.org/10.1590/1677-5449.190123. PMid:34178066.
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,1616 Cely C, Stollman NH. Lupus abdominal crisis owing to rupture of an ileocolic aneurysm with successful angiographic treatment. J Clin Gastroenterol. 2001;32(4):347-50. http://dx.doi.org/10.1097/00004836-200104000-00015. PMid:11276282.
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. No caso de pacientes hemodinamicamente estáveis, o TE permanece a primeira opção para sangramento arterial conhecido e é considerado seguro e efetivo para tratar PAAVs. Uma vantagem para esse tipo de abordagem é permitir a individualização do tratamento para afecções diferentes, o que torna o método mais preciso e reduz as morbidades no PO. As complicações incluem ruptura do próprio saco, isquemia distal do saco pseudoaneurismático e possível fluxo arterial para o pseudoaneurisma após demorada reconstrução do fluxo (síndrome pós-embolização)1111 Saran M, Biswas S. A rare case of jejunal pseudoaneurysm presenting as acute small bowel obstruction after blunt trauma: discussion, management dilemmas, and a review of relevant literature. Cureus. 2019;11(9):e5655. http://dx.doi.org/10.7759/cureus.5655. PMid:31700756.
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.

Uma variedade de materiais que promovem a oclusão da artéria está disponível, como molas, cola, plugues destacáveis, trombina, gelfoam, balões destacáveis e embolização de copolímero1111 Saran M, Biswas S. A rare case of jejunal pseudoaneurysm presenting as acute small bowel obstruction after blunt trauma: discussion, management dilemmas, and a review of relevant literature. Cureus. 2019;11(9):e5655. http://dx.doi.org/10.7759/cureus.5655. PMid:31700756.
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,1717 Gabelmann A, Görich J, Merkle EM. Endovascular treatment of visceral artery aneurysms. J Endovasc Ther. 2002;9(1):38-47. http://dx.doi.org/10.1177/152660280200900108. PMid:11958324.
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,1818 Saad NE, Saad WE, Davies MG, Waldman DL, Fultz PJ, Rubens DJ. Pseudoaneurysms and the role of minimally invasive techniques in their management. Radiographics. 2005;25(Suppl 1):S173-89. http://dx.doi.org/10.1148/rg.25si055503. PMid:16227490.
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. Uma das principais técnicas de TE é a embolização por molas em aneurismas e PAAVs saculares sem interrupção do fluxo da artéria principal1414 Ikeda O, Tamura Y, Nakasone Y, Iryou Y, Yamashita Y. Nonoperative management of unruptured visceral artery aneurysms: treatment by transcatheter coil embolization. J Vasc Surg. 2008;47(6):1212-9. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2008.01.032. PMid:18440188.
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. O implante de stent modulador de fluxo também é uma alternativa de tratamento para aneurismas fusiformes com diâmetros largos e pequena tortuosidade1414 Ikeda O, Tamura Y, Nakasone Y, Iryou Y, Yamashita Y. Nonoperative management of unruptured visceral artery aneurysms: treatment by transcatheter coil embolization. J Vasc Surg. 2008;47(6):1212-9. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2008.01.032. PMid:18440188.
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. Quando o anel aneurismático é estreito, uma opção é a embolização por molas guiadas por cateter, sendo destacáveis ou não. Entre os tipos de molas, ressaltam-se as mais recentes, que são destacáveis e constituídas de platina, um material mais maleável com forma helicoidal1818 Saad NE, Saad WE, Davies MG, Waldman DL, Fultz PJ, Rubens DJ. Pseudoaneurysms and the role of minimally invasive techniques in their management. Radiographics. 2005;25(Suppl 1):S173-89. http://dx.doi.org/10.1148/rg.25si055503. PMid:16227490.
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No caso descrito aqui, depois da realização de angiografia e cateterização seletiva da AIC, foi feita embolização dessa artéria com micromolas para selamento do saco aneurismático e, na sequência, liberação de molas de embolização Nester®️ (Cook Medical Inc., Indiana, EUA) de platina e fibras de dácron de liberação controlada na área de extravasamento de contraste. A angiografia de controle evidenciou ausência de extravasamento de contraste e preservação de demais artérias da arcada intestinal e da AMS. A escolha pelo uso das molas descritas ocorreu em razão da compatibilidade que elas proporcionam dentro do saco pseudoaneurismático, evitando, assim, uma possível recanalização do PAAV1818 Saad NE, Saad WE, Davies MG, Waldman DL, Fultz PJ, Rubens DJ. Pseudoaneurysms and the role of minimally invasive techniques in their management. Radiographics. 2005;25(Suppl 1):S173-89. http://dx.doi.org/10.1148/rg.25si055503. PMid:16227490.
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. O tratamento endovascular nesse caso se mostrou satisfatório e seguro, com a resolução dos sintomas da paciente e alta precoce no 3º do PO.

CONCLUSÃO

O caso descrito revela a importância do reconhecimento e abordagem precoce de PAAVs com TE e utilização de molas, com redução da morbimortalidade de pacientes com abdômen agudo hemorrágico de artérias viscerais. Embora seja uma condição rara, situações semelhantes à apresentada acarretam alta letalidade em função da rotura, sendo relevante a disseminação da técnica e aprofundamento de estudos acerca do tema. Acompanhamentos a longo prazo com maior número de pacientes serão necessários para elucidar o papel final da terapia endoluminal no tratamento dos aneurismas e pseudoaneurismas viscerais.

  • Como citar: Sant’Anna CV, Kuhl FG, Leite AM, et al. Pseudoaneurisma roto de artéria ileocólica: relato de caso. J Vasc Bras. 2021;20:e20210163. https://doi.org/10.1590/1677-5449.210163
  • Fonte de financiamento: Nenhuma.
  • O estudo foi realizado no Hospital de Base pela Instituição Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), São José do Rio Preto, SP, Brasil.

REFERÊNCIAS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Jan 2022
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    23 Ago 2021
  • Aceito
    10 Nov 2021
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