VOLEIBOL ESCOLAR: CARACTERIZAÇÃO DAS ESCOLAS/MUNICÍPIOS PARTICIPANTES DOS JOGOS ESCOLARES DE SANTA CATARINA

RESUMO

O ambiente escolar tem contribuído no processo de desenvolvimento esportivo, especialmente pela oferta diversificada de atividades nas aulas de Educação Física e em projetos extracurriculares voltados às modalidades esportivas. O trabalho realizado com as equipes escolares de voleibol no estado de Santa Catarina tem sido altamente reconhecido ao longo dos anos, porém há poucas evidências sobre as escolas que têm contribuído na formação de jogadores de voleibol no cenário catarinense. Assim, o objetivo do estudo foi caracterizar as escolas participantes dos Jogos Escolares de Santa Catarina (JESC) de voleibol. Realizou-se a análise documental dos boletins dos JESC disponibilizados pela Fundação Catarinense de Esporte (FESPORTE). As evidências revelaram que os estabelecimentos de ensino com maiores participações e conquistas, em ambas as categorias investigadas, são escolas de educação básica da rede estadual, seguidas pelas instituições de ensino da rede privada e, em menor número, por escolas municipais. Enquanto na categoria feminina as escolas estão localizadas em sua grande maioria nas regiões Leste-Norte e Sul, na categoria masculina concentram-se na região Centro-oeste, especialmente em cidades de pequeno e médio porte, com elevado Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

Palavras-chave:
Eventos esportivos; Desempenho esportivo; Esportes coletivos; Esportes de rede

ABSTRACT

The school environment has contributed to the sports development process, especially due to the diversified offer of activities in Physical Education classes and extracurricular projects focused on sports. The work done with school volleyball teams in the state of Santa Catarina has been highly recognized over the years, but there is little evidence about schools that have contributed to the training of volleyball players in the Santa Catarina scenario. Thus, this study aimed to characterize the schools participating in the Jogos Escolares de Santa Catarina (JESC, Santa Catarina School Games) of volleyball. The documentary analysis of the JESC bulletins provided by the Fundação Catarinense de Esporte (FESPORTE, Santa Catarina Sports Foundation) was carried out. The evidence revealed that the educational establishments with the highest participation and achievements in both categories investigated were basic education schools of the state school system, followed by private educational institutions and, to a lesser extent, municipal schools. While in the women's group, the schools were mostly located in the East-North and South regions, in the men's group, they were concentrated in the Midwest region, especially in small and medium-sized cities with high Human Development Indices (HDIs).

Keywords:
Sports event; Sport performance; Team sports; Net sports

Introdução

O esporte compreende um dos principais fenômenos culturais da sociedade contemporânea, difundindo valores, modos de conduta e poder político, agregando grandeza de mercado e reunindo pessoas com distintos valores e intenções nos mais diversos locais¹. Diante da sua complexidade e das possibilidades de transformações e interpretações contínuas dos contextos nos quais se faz presente, o esporte tem assumido novos sentidos ao longo dos anos e é considerado um fenômeno integrador no âmbito social de alto alcance global^{1), (2}. Assim, o poder de mobilização do esporte envolve participantes e espectadores de distintas idades, sobretudo quando se manifesta em eventos públicos³.

Dentre os vários possíveis contextos de prática, o ambiente escolar tem sido importante para a vivência desse fenômeno esportivo, tanto no que diz respeito às aulas de Educação Física quanto nas equipes de treinamento extracurricular ⁽¹. Porém, pouco se tem estudado sobre as características de escolas que se destacam na promoção do esporte escolar, o que se torna importante na medida em que consiste em um relevante contexto de desenvolvimento esportivo.

Os primeiros contatos mais direcionados às modalidades esportivas ocorrem frequentemente no ambiente escolar. Ele possui uma grande representatividade, sendo a competição um dos conteúdos desenvolvidos, porque ambos fazem parte de um fenômeno sociocultural, onde um sem o outro perderia a essência que os caracteriza⁴. Contudo, a forma de ensinar esporte necessita considerar sua dimensão educativa, social, cultural e humana, onde a mediação do professor é determinante, para que os valores do esporte de rendimento não se sobressaiam aos valores educacionais⁵. Nesse sentido, o processo de ensinar o esporte deve considerar o seu caráter multidimensional e ocorrer de forma gratificante, respeitando o interesse e a individualidade de cada estudante⁶.

Considerado uma modalidade esportiva de rede divisória ou parede de rebote, o voleibol diferencia-se da maioria dos esportes coletivos pela impossibilidade de reter a bola, ou seja, somente pode ser jogado rebatendo⁷. O condicionalismo das ações evidencia a importância das ações técnico-táticas no contexto do jogo, principalmente determinada pela dependência entre os contatos coletivos para a conquista do ponto. Exceto o saque, as próximas ações são sequenciais e dependem das anteriores, exigindo a cooperação e a colaboração dos colegas de equipe⁸. Para aprimorar essas ações técnico-táticas, o voleibol escolar é uma das possibilidades da prática esportiva sistematizada, com o intuito de aperfeiçoar as competências esportivas e, consequentemente, fomentar a participação em competições escolares.

A análise da produção científica brasileira acerca das competições esportivas na perspectiva do esporte educacional revela um número incipiente de investigações sobre o tema⁵, porém vem aumentando nos últimos anos. No que se refere aos jogos escolares, alguns estudos têm sido desenvolvidos nos estados da Bahia⁹, com o objetivo de investigar a inclusão de modalidades inovadoras, no Paraná¹⁰, para analisar a participação de estudantes nos jogos escolares e discutir a sua efetividade enquanto política pública, no Mato Grosso¹¹, para verificar os efeitos da participação no esporte extracurricular na percepção de autoeficácia de jovens, no Mato Grosso do Sul¹², para identificar os aspectos pedagógicos abordados durante os jogos escolares e sua relação com o esporte escolar e no Rio Grande do Sul¹³, para investigar a relação dos jogos escolares com a Educação Física escolar. Porém, no estado de Santa Catarina, o esporte escolar ainda carece de maior entendimento. Assim, há a necessidade de ampliar os estudos, na tentativa de possibilitar novos olhares acerca da relação das competições esportivas com a Pedagogia do Esporte, bem como fomentar que as competições esportivas realizadas dentro da escola contemplem os elementos fundamentais da competição pedagógica, da colaboração e dos valores sociais¹⁴, bem como conter tarefas individuais, cooperativas e competitivas⁴.

Na busca pelo aumento da visibilidade do esporte escolar, os Jogos Estudantis Brasileiros foram criados pelo Ministério da Educação no final da década de 1960, estimulando a integração entre os jovens em idade escolar e a busca de novos talentos¹⁵. Especificamente no estado de Santa Catarina, os jogos escolares foram criados no ano de 1973 pela Secretaria de Estado da Educação e do Desporto com a finalidade de colocar em prática as ações desenvolvidas nas aulas de Educação Física¹⁶. Atualmente, os Jogos Escolares de Santa Catarina (JESC) mobilizam anualmente mais de 250 mil estudantes catarinenses, tendo como principais objetivos fomentar a prática esportiva nas instituições de ensino, promover o intercâmbio esportivo, dar continuidade ao processo pedagógico vivenciado nas escolas e nas aulas de Educação Física, bem como situar a escola também como um centro esportivo e cultural de lazer, corresponsável pela formação completa do cidadão e da sociedade¹⁷. Os JESC estão organizados em duas categorias (12 a 14 anos e 15 a 17 anos) e são desenvolvidos em cinco etapas (escolar, municipal, microrregional, regional e estadual), cujas escolas campeãs da etapa estadual se credenciam para representar Santa Catarina nos Jogos Escolares Brasileiros (JEBs) e nos Jogos da Juventude.

O estado de Santa Catarina tem alcançado resultados expressivos, ao longo dos anos, em competições nacionais e internacionais de voleibol escolar. No naipe masculino destacam-se as conquistas da Escola Municipal Erwin Prade no Campeonato Brasileiro Escolar (2009, 2010, 2011, 2017 e 2018) e nos Jogos Escolares Sul-Americanos (2010, 2011, 2019), bem como da Escola Barão do Rio Branco nos Jogos Escolares da Juventude de 2019. No naipe feminino, a Escola de Educação Básica Francisco Mazolla obteve a medalha de bronze no Campeonato Mundial Escolar de 2010 e campeã dos Jogos Escolares da Juventude em 2014, a Escola de Educação Básica Rodrigues Alves foi campeã dos Jogos Escolares da Juventude nas edições de 2012 e 2017, a Escola de Educação Básica Sara Castelhano Kleinkauf, nas edições de 2014 e 2016 e mais recentemente o Colégio Evangélico Jaraguá na edição de 2019. Ressalta-se ainda as frequentes convocações de atletas catarinenses para as seleções brasileiras de base, onde dos 102 atletas convocados para as seleções de voleibol de 2016, 11 eram do estado de Santa Catarina¹⁸.

Diante do papel relevante das escolas na formação de jogadores e da ausência de evidências sobre as escolas que têm contribuído na formação de jogadores de voleibol no cenário catarinense, este estudo teve como objetivo caracterizar as escolas participantes dos Jogos Escolares de Santa Catarina (JESC) de voleibol.

Métodos

A investigação caracteriza-se como um estudo quantitativo, de caráter descritivo exploratório, realizado a partir da análise de documentos, contemporâneos ou retrospectivos, que procura descrever e/ou comparar fatos sociais, estabelecendo suas características e tendências^{19), (20}. Os documentos analisados compreenderam os boletins de acesso público dos JESC disponíveis no site da Fundação Catarinense de Esporte (FESPORTE)²¹, complementados pelos dados do Censo Brasileiro²² disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Censo Escolar de Santa Catarina²³ viabilizados pela Secretaria do Estado da Educação.

O Censo da Educação Básica de Santa Catarina²³ revela que o estado possui 2.035 estabelecimentos de ensino que contemplam os anos finais do ensino fundamental, sendo 903 escolas da rede estadual, 827 escolas da rede municipal, 304 escolas da rede privada e 1 instituto federal. Há 392.182 estudantes matriculados nos anos finais do ensino fundamental, nomeadamente 179.478 (45,76%) estudantes na rede estadual, 165.813 (42,28%) estudantes na rede municipal, 46.563 (11,87%) estudantes na rede privada e somente 328 (0,08%). estudantes na esfera federal. No ensino médio, há 994 estabelecimentos de ensino, especificamente 728 escolas da rede estadual, 234 escolas da rede privada e 32 institutos federais. Dos 242.876 estudantes matriculados, 199.920 (82,31%) estudantes são da rede estadual, 30.460 (12,54%) estudantes da rede privada e 12.031 (4,95%) estudantes da esfera federal. Embora o estado de Santa Catarina possua a sexta maior quantidade de municípios (n=295) dentre as unidades federativas, as cidades são pequenas, sendo que 268 (88,1%) municípios possuem até 50.000 mil habitantes, 15 (5,1%) municípios entre 50.001 e 100.000 mil habitantes, 11 (3,7%) municípios entre 100.001 e 500.000 mil e somente 1 (0,3%) município acima dos 500.001²².

O contexto investigativo compreendeu somente as escolas participantes das etapas estaduais dos JESC na modalidade de voleibol.

Até o ano de 2016, as etapas estaduais eram compostas por 5 equipes, nomeadamente as equipes campeãs de cada regional e o representante do município-sede. A partir de 2017, as etapas estaduais passaram a ser compostas por dezesseis equipes. Além do primeiro, segundo e terceiro classificados da edição realizada no ano anterior, participam da etapa o representante do município sede e os três primeiros colocados de cada regional. A escola campeã da etapa estadual se credencia para representar o estado de Santa Catarina nos Jogos Escolares Brasileiros (categoria 12 a 14 anos) e nos Jogos da Juventude (categoria 15 a 17 anos). Além disso, ambas as competições nacionais credenciam as escolas campeãs para disputa dos Jogos Escolares Sul-Americanos e Jogos Escolares Mundiais.

A coleta de dados foi realizada após disponibilização dos boletins pela FESPORTE, compreendendo os períodos de 2008-2019 para categoria 12 a 14 anos e de 2011-2019 para categoria 15 a 17 anos. Os JESC não foram realizados nos anos de 2020 e 2021 em virtude das restrições causadas pela Pandemia do COVID-19. A recolha e tabulação dos dados foram realizadas de março a julho de 2022, de forma independente por dois pesquisadores, a fim de garantir a confiabilidade e exatidão dos dados.

Na caracterização das escolas participantes das etapas estaduais dos JESC entre 2008-2019 foram consideradas as variáveis: ano das edições dos JESC (2008-2019); naipe (feminino e masculino); categorias (12-14 anos e 15-17 anos); número de participações e medalhas (1-2; 3-4; 5-6; 7-8; 9 ou mais); natureza administrativa (pública estadual, pública municipal, pública federal e privada); região geográfica (Oeste, Centro-Oeste, Sul e Leste-Norte), municípios, escolas e IDH. As informações extraídas foram inseridas em uma planilha do Microsoft Excel e analisadas por meio de estatística descritiva (frequência absoluta).

Resultados

Na última edição dos JESC realizada em 2019 participaram 145.864 estudantes na categoria 12 a 14 anos, oriundos de 1.281 escolas de ensino fundamental, e 113.013 estudantes na categoria 15 a 17 anos, pertencentes a 1.213 escolas de ensino médio. O ano de 2019 foi identificado como aquele com maior número de estudantes inscritos nos JESC (258.887 estudantes), compreendendo a participação de 37,2% de estudantes matriculados no ensino fundamental e 46,5% de estudantes matriculados no ensino médio no estado de Santa Catarina.

Nas edições dos JESC de 2008-2019 (Quadro 1), observa-se a maior participação das escolas da rede estadual nas etapas estaduais da modalidade de voleibol nas categorias 12 a 14 anos e 15 a 17 anos. A partir do ano de 2017, o quantitativo de escolas que disputam as etapas estaduais aumentou de 5 para 32, sendo observada a participação destacada das escolas da rede estadual de ensino em ambas as categorias.

Quadro 1:
Número de escolas participantes das etapas estaduais da modalidade de voleibol no período de 2008-2019 considerando a rede de ensino

A localização geográfica das escolas com maiores participações e conquistas de medalhas na categoria 12 a 14 anos feminina (Figura 1a) demonstra determinado equilíbrio nas participações entre as regionais, porém a maior concentração da quantidade de medalhas nas regionais Leste-Norte e Sul. Distribuição similar de participações e medalhas é observada na categoria de 15 a 17 anos (Figura 1b), com a maior concentração de medalhas na regional Leste-Norte.

Figura 1
Localização geográfica das escolas com maiores participações e medalhas no voleibol feminino

Os municípios da regional Centro-Oeste possuem a maior concentração das escolas medalhistas na categoria 12 a 14 anos masculina, embora a distribuição de participações das regionais na etapa estadual seja mais equilibrada (Figura 2a). Na categoria 15 a 17 anos masculina (Figura 2b), a participação também é equilibrada, mas a maior concentração dos municípios medalhistas encontra-se nas regionais Centro-Oeste e Sul.

Figura 2
Localização geográfica das escolas com maiores participações e medalhas no voleibol masculino

Dentre as 47 escolas dos municípios que conquistaram pelo menos uma medalha em ambas as categorias (Quadros 2 e 3), 19 (40,4%) escolas estão localizadas em cidades pequenas (até 50.000 habitantes), 26 (55,3%) escolas em cidades de médio porte (50.001 e 500.000 habitantes) e uma escola numa grande cidade (acima de 500.001 habitantes). Ao considerar o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos municípios, de acordo com os critérios do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento²⁴, observa-se que 29 (61,7%) escolas são de municípios com IDH alto (0,700 - 0,799) e 17 (36,2%) escolas de municípios com IDH muito alto (0,800 - 1,000).

Quadro 2
Regionais, municípios e escolas das equipes femininas medalhistas em etapas estaduais de voleibol nos JESC de 2008-2019 das categorias 12 a 14 anos e 15 a 17 anos

Quadro 3
Regionais, municípios e escolas das equipes masculinas medalhistas em etapas estaduais de voleibol nos JESC de 2008-2019 das categorias 12 a 14 anos e 15 a 17 anos

No período de 2008-2019, 31 escolas conquistaram pelo menos uma medalha em etapas estaduais na categoria 12 a 14 anos (naipe masculino e feminino), sendo 16 (51,6%) escolas da rede estadual, 11 (35,5%) da rede privada e 4 (12,9%) da rede municipal. Entretanto, ao considerar o total de medalhas distribuídas no período, observa-se que 38 (52,8%) medalhas são de escolas da rede estadual, 20 (27,8%) medalhas da rede privada e 11 (19,4%) medalhas da rede municipal. Enquanto que as escolas estaduais Sara Castelhano Kleinkauf de Guaraciaba, Francisco Mazzola de Nova Trento e Rodrigues Alves de Saudades se destacam nesta categoria no naipe feminino por concentrarem 20 (66,7%) medalhas das 36 disputadas, a Escola Municipal Erwin Prade fez a diferença no naipe masculino com 11 medalhas, sendo 9 (75,0%) de ouro das 12 disputadas.

Na categoria 15 a 17 anos, 24 escolas conquistaram pelo menos uma medalha em etapas estaduais no naipe masculino e feminino, sendo 12 (50,0%) escolas da rede estadual e 12 (50,0%) da rede privada. Das 51 medalhas distribuídas no período de 2011-2019, 32 (62,7%) medalhas são das escolas da rede estadual e 19 (37,3%) medalhas da rede privada. Observa-se a maior concentração de medalhas no naipe masculino nas escolas estaduais de educação básica Valdete Inês Piazera Zindars de Jaraguá do Sul e Anísio Vicente de Freitas de Santo Amaro da Imperatriz, bem como no naipe feminino na Escola Estadual de Educação Básica Francisco Mazzola de Nova Trento e a Escola Técnica do Vale do Itajaí de Blumenau.

Um aspecto a destacar no naipe feminino é que escolas pertencentes aos municípios de Guaraciaba, Saudades, Joaçaba, Jaraguá do Sul e Nova Trento têm participado de edições dos JESC e conquistado medalhas em ambas as categorias com os mesmos estabelecimentos de ensino. Além disso, escolas distintas dos municípios de Blumenau e Brusque também conquistaram medalhas nas categorias 12 a 14 anos e 15 a 17 anos.

Discussão

Considerando o objetivo do estudo de caracterizar as escolas participantes dos JESC de voleibol, os resultados encontrados demonstraram que os estabelecimentos de ensino participantes são, majoritariamente, escolas de educação básica da rede estadual de ensino, situadas nas regionais Leste-Norte e Sul na categoria feminina e Centro-Oeste na categoria masculina. Esses dados trazem importantes informações sobre a participação das escolas e municípios do estado de Santa Catarina no sentido de fomentar e desenvolver o voleibol escolar, concentrando-se em regiões específicas, dependendo do naipe.

Dentre os estabelecimentos de ensino que conquistaram pelo menos uma medalha nas etapas estaduais da categoria 12 a 14 anos, as escolas de educação básica da rede estadual apresentaram um maior percentual, seguidas pelas instituições de ensino da rede privada e pelas escolas municipais. Já na categoria 15 a 17 anos estes números apresentam percentuais iguais, onde 50% dos estabelecimentos de ensino são de educação básica da rede estadual e 50% são instituições de ensino da rede privada. Os dados revelam que alguns estabelecimentos de ensino privados conquistaram um bom quantitativo de medalhas ao classificarem suas equipes para etapas estaduais. Salienta-se que as condições de ensino entre escolas privadas e públicas são distintas, levando em consideração a estrutura e condição financeira de ambas as realidades. Além disso, as particularidades físicas e sociais dos locais onde a prática esportiva acontece interferem nas conexões oportunizadas, sendo vistos como potenciais ambientes de formação esportiva²⁶.

Ao investigarem as condições das práticas esportivas escolares nas redes de ensino estadual, privada e municipal do município de Santos, Luguetti et al.²⁷ identificaram que as condições de uso e de manutenção das escolas públicas são piores do que as descritas nas escolas privadas, bem como as escolas privadas apresentaram algumas características específicas, como professores-treinadores ex-atletas da modalidade. No estudo sobre as escolas campeãs dos Jogos Escolares do Paraná, Costa et al.¹⁰ concluíram que as escolas do setor privado eram a grande maioria, as quais possuem renome no estado e estão localizadas na região central, apontando o fator financeiro preponderante para a conquista de bons resultados.

Na realidade de Santa Catarina, a distribuição de medalhas na modalidade de voleibol nos JESC contrasta com os dados de outros estados ao indicarem as maiores concentrações de medalhas nas instituições de ensino da educação básica estadual, com exceção de um estabelecimento de ensino da rede municipal de ensino na categoria 12 a 14 anos. Em alguns estabelecimentos de ensino, a prática esportiva pode acontecer como conteúdo curricular durante as aulas de Educação Física, bem como pode estar associada à iniciação esportiva, que é o caso das equipes escolares, onde o estudante se insere por escolha própria nas atividades de treinamento.

Investigações sobre a trajetória esportiva e contextos de prática de atletas brasileiros de voleibol^{25), (28), (29} revelam que os atletas experimentaram, inicialmente, um período de diversificação, com vivências esportivas variadas. Na busca pela especialização esportiva, há uma diminuição da diversificação das atividades e aumento das atividades específicas de uma modalidade esportiva nos estágios subsequentes de especialização e investimento, com foco no treinamento dessa modalidade. Nesse contexto, a escola representa a possibilidade de inserção no voleibol nesses dois momentos, em que proporciona uma diversificada vivência em atividades físicas e esportivas nas aulas de Educação Física, mas também a possibilidade de aperfeiçoamento nas atividades e treinos extracurriculares.

Carbinatto et al.³⁰ apontam um crescimento das atividades extracurriculares nas escolas, salientando a importância de crianças e jovens estarem inseridos o maior tempo possível em um ambiente que favoreça valores educacionais e de cidadania. Ao analisarem os contextos de prática esportiva de atletas de elite do voleibol brasileiro, Collet et al.²⁵ destacaram a escola como um importante local de prática nos anos de diversificação esportiva, especialmente pela oferta de atividades no contraturno escolar, com o intuito do aperfeiçoamento esportivo e da possibilidade de participação em competições escolares. Contudo, os autores revelaram que predomina a prática em clubes esportivos, principalmente entre as atletas do sexo feminino, justificada pelas características da modalidade, relacionadas a uma estrutura específica para o seu desenvolvimento.

Um aspecto a salientar é a participação nos JESC de atletas de clubes esportivos vinculados aos municípios, principalmente nas escolas que têm conquistado grande quantitativo de medalhas ao longo dos anos investigados. De acordo com a Federação Catarinense de Voleibol³¹, o estado de Santa Catarina possui 46 clubes em atividade, sendo que 27 dos 34 municípios medalhistas nos JESC possuem clubes esportivos de Voleibol. O binômio escola-município ou escola-clube tem importante contribuição no processo de formação de atletas brasileiros, sendo o professor de Educação Física um dos principais coautores nessa transição do estágio inicial para o estágio de aperfeiçoamento³². Na investigação sobre as finalidades de um clube esportivo de basquetebol em Santa Catarina, Folle, Nascimento e Souza³³ identificaram a importância de órgãos públicos em cidades pequenas que possibilitam a prática sistematizada de diferentes modalidades esportivas, principalmente na iniciação esportiva.

Os dados analisados no contexto dos JESC revelam o aumento do número de escolas participantes ao longo do período analisado, sendo observado o maior pico de participação nos JESC no ano de 2019¹⁷. As alterações realizadas pela FESPORTE nos JESC a partir do ano de 2017, nomeadamente a expansão do número de escolas classificadas para a etapa estadual, possibilitou a ampliação na oferta de vagas para disputa na referida etapa bem como o aumento no número de jogos disputados pelas escolas. Turpin¹⁴ destaca a importância de as competições escolares utilizarem critérios pedagógicos, como por exemplo, aumentar o número de partidas para possibilitar aos participantes momentos de vitórias e não vitórias.

Os esportes coletivos são considerados modalidades de especialização tardia por conta das características de desenvolvimento de crianças e jovens³⁴, o que justifica o início das competições esportivas entre 12 e 14 anos, período em que os jovens se encontram mais bem preparados para lidar com as cargas físicas e emocionais que o ambiente de competição envolve³⁵. Nesta direção, alterações estruturais relacionadas ao jogo de voleibol nos JESC, como altura da rede e número de sets disputados corroboram os pressupostos da competição esportiva na lógica da Pedagogia do Esporte, embora seja necessária uma investigação mais minuciosa em relação ao formato da competição. Nos jogos escolares do Mato Grosso do Sul¹², há uma preocupação em agregar o maior número possível de participantes, bem como a realização de adaptações de regras, com o intuito de proporcionar uma maior acessibilidade dos estudantes que ainda não se encontram contemplados nessas competições. Ao analisarem a organização de competições em federações esportivas de diferentes modalidades no Paraná, Milistetd et al.³⁴ constataram que o voleibol foi uma das modalidades que apresentou maior número de alterações estruturais e funcionais em relação as dimensões da quadra, bola e altura de rede.

Quando considerada a localização geográfica, enquanto as regionais Leste-Norte e Sul apresentam a maior quantidade de municípios que conquistaram alguma medalha no naipe feminino, no naipe masculino os municípios concentram-se na regional Centro-oeste, cujos diferentes estabelecimentos de ensino estão localizados em sua grande maioria em cidades de médio porte, seguidas por cidades pequenas. A atual classificação das cidades no Brasil, de acordo com Maté, Michelete e Santiago³⁶, cria um quadro urbano onde a grande maioria dos municípios brasileiros é considerada de pequeno porte, visto que 69,15% têm população inferior a 20.000 habitantes, índice que alcança 88,55% quando são incluídos os municípios com menos de 50.000 habitantes. As cidades com menos de 15.000 mil habitantes acumulam grande quantitativo de medalhas na modalidade de voleibol nos JESC, sobretudo as escolas de educação básica da rede estadual com resultados expressivos em ambas as categorias no naipe feminino.

As evidências sobre a localização geográfica parecem acompanhar o desenvolvimento e a ocupação das distintas regiões e municípios no estado de Santa Catarina. No caso específico do município de Brusque, a institucionalização do esporte foi afetada especialmente pela colonização de imigrantes alemães³⁷, que trouxeram a cultura da organização da prática esportiva em clubes/sociedades e que auxiliaram na criação de eventos esportivos, como é o caso dos Jogos Abertos de Santa Catarina (JASC) em 1960. A maioria dos municípios, cujos estabelecimentos de ensino despontam nas conquistas de medalhas, possui IDH alto e muito alto, revelando elevado padrão de vida nos respectivos municípios, especialmente de expectativa de vida ao nascer, educação e paridade do poder de compra²⁴. Ao investigarem sobre o assunto, Costa, Cardoso e Garganta³⁸ concluíram que a maioria dos jogadores profissionais de futebol que nasceram em cidades com até 200.000 mil habitantes e IDH acima de 0,73 apresentaram condições mais favoráveis para ascensão ao alto nível.

Outro aspecto importante é que o tamanho da cidade onde os atletas obtêm suas experiências formativas pode afetar como serão expostos ao esporte³⁹, pois as crianças que vivem em cidades pequenas têm acesso às instalações que as introduzem aos esportes de maneira distinta das crianças oriundas de cidades de médio e grande porte. Embora retratem a realidade canadense, os autores esclarecem que as crianças que vivem em cidades com maior densidade demográfica possuem um potencial maior em termos de recursos, podendo praticar seu esporte em um ambiente estruturado e participar de ligas locais, ampliando também as oportunidades de participação no esporte com crianças da mesma faixa etária, tamanho e nível de habilidade.

As cidades pequenas podem proporcionar um ambiente natural mais seguro para que crianças e jovens se movimentem mais livremente, sem a supervisão de adultos, providenciando uma grande quantidade de horas de prática e maior possibilidade de permanência nas equipes da cidade⁴⁰. Assim, cidades catarinenses consideradas de pequeno porte e com IDH elevado vêm se destacando no cenário do voleibol escolar, principalmente naquelas em que parecem apresentar maior cultura esportiva na modalidade.

Conclusão

O esporte desenvolvido no ambiente escolar tem assumido diferentes sentidos e significados, proporcionando a oportunidade de participação em competições esportivas entre turmas no próprio ambiente escolar, do mesmo município, de cidades vizinhas e de distintas regiões do estado e país.

As evidências encontradas no estudo permitiram concluir que os estabelecimentos de ensino participantes na modalidade de voleibol dos JESC são majoritariamente escolas de educação básica da rede estadual de ensino, seguidas por instituições privadas de ensino e, em menor proporção, por estabelecimentos da rede pública municipal. Os estabelecimentos escolares que aparecem com maior número de medalhas são os pertencentes à rede pública estadual de ensino, localizados em pequenos municípios das regiões Leste-Norte, Sul e Centro-Oeste com alto IDH.

No que diz respeito ao quantitativo de medalhas, destaca-se a elevada concentração de medalhas de um grupo seleto de escolas de educação básica na categoria feminina e um estabelecimento de ensino municipal na categoria masculina. Estes estabelecimentos de ensino encontram-se localizados em cidades de pequeno porte, com IDH alto e muito alto e contam com a presença de clubes/associações esportivas nos municípios. Assim, seria importante investigar a existência e a natureza dos incentivos e parcerias entre escolas e clubes/associações esportivas, bem como caracterizar a cultura local dos estabelecimentos de ensino e dos seus municípios que parecem investir apenas em determinado naipe. Destaca-se o baixo número de estabelecimentos de ensino da rede municipal que consegue classificação para as etapas estaduais, trazendo luz à necessidade de um olhar mais atento e maior incentivo das prefeituras ao esporte escolar.

As investigações futuras também necessitam aprofundar os pressupostos pedagógicos que norteiam as competições esportivas dos JESC, no sentido de evidenciar as contribuições ao desenvolvimento esportivo de crianças e jovens. Além de analisar a percepção de professores-treinadores sobre os JESC, recomenda-se investigar os conhecimentos necessários para atuarem em equipes de voleibol escolar nas distintas redes de ensino e os contextos de aprendizagem profissional mais valorizados.

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Editado por

Editor: José Luiz Lopes Vieira.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  29 Maio 2023
• Data do Fascículo
  2023

Histórico

• Recebido
  20 Out 2022
• Revisado
  21 Jan 2023
• Aceito
  22 Jan 2023