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Nossa capa

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Cirurgião Negro Colocando Ventosas. Aquarela, 1826. Jean Baptiste Debret

Jean Baptiste Debret passou 15 anos de sua vida no Brasil. Aqui chegou em 1816 como artista integrante de uma missão francesa chefiada por Joachim Lebreton, cujo objetivo era a criação da Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro.

Durante todo o período em que esteve em terras brasileiras, sua relação com a vida da família real foi sempre muito próxima. Debret foi o primeiro pintor de D. Pedro I e retratou importantes personagens da vida imperial de então, além de ter produzido aquarelas, gravuras e litogravuras com a reprodução dos principais acontecimentos da história do Brasil no início do século 19.

Jean Baptiste Debret revelou-se sempre um pintor bastante afeito às questões sociais brasileiras, documentando-as, no entanto, sem direcionamento ideológico. Produziu gravuras sobre o cerimonial da corte e também sobre a vida cotidiana da cidade, com seus negros – fossem homens livres ou não – e senhores. Esse é certamente um dos aspectos mais destacados da obra de Debret, exposta nas aquarelas alusivas ao trabalho dos escravos e à vida urbana do início do século 19, com seus hábitos, costumes e tradições.

Na obra que ilustra nossa capa e abre uma nova série no JBPML, intitulada O Cirurgião Negro Colocando Ventosas, Debret retrata uma cena bastante comum no Rio de Janeiro dos idos de 1800: em vários bairros, negros livres desenvolviam a função de curandeiros, aqui chamados pelo pintor de cirurgiões africanos.

Segundo historiadores, o número reduzido de médicos foi sempre uma das características importantes das áreas onde a América Portuguesa fez-se forte. Essa lacuna foi naturalmente ocupada por rezadeiras e curandeiros, entre os quais incluíam-se vários negros libertos. Durante 26 anos do século 18, apenas 14 estudantes nascidos no Brasil cursaram Medicina, e em Montpellier, na França.

Na aquarela que apresentamos, o cirurgião negro pratica a sangria. De acordo com as tradições religiosas centro-africanas, o ser humano se constituiria numa resultante de quatro elementos, que em sintonia tornavam possível a vida. Eram o corpo e o sangue, sendo este um fluido que carregava a alma, e o duplo, ou seja, a sombra do corpo, e o espírito. Para os africanos, se as enfermidades eram provocadas pelos maus espíritos, a sangria oferecia a possibilidade de expulsão das doenças. As consultas eram sempre gratuitas, mas os medicamentos ou a sangria eram obtidos mediante pagamento.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Abr 2005
  • Data do Fascículo
    Fev 2005
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