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Afinal, o que é qualidade em educação? Questionamentos necessários

Ao considerar qualidade em educação de forma multidimensional, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), em 1999, ressaltou que a expressão abarca as funções e atividades existentes na universidade: ensino, pesquisa, programas acadêmicos e fomento à ciência; de forma geral, o ambiente acadêmico. Este conceito, diante das novas tecnologias de comunicação e informação e da ascensão do ensino virtual, assumiu uma dinamicidade que necessita de adaptações contínuas, para um mundo de constantes transformações e experimentações na sociedade, sejam elas de ordem social, sejam elas de ordem econômica.

Nesses termos, o conceito de qualidade, ao ser enunciado de variadas formas, acaba por abarcar tanto estruturas quanto processos e resultados educacionais. Segundo as ponderações de Demo (2001)DEMO, P. Educação e qualidade. 6. ed. São Paulo: Papirus, 2001., qualidade é uma expressão convergente para a ideia daquilo que é preocupação e comprometimento com a qualificação do sujeito. Segundo o autor, a qualidade pode ser vista em duas distinções: a formal e a política. A primeira, referente à “[...] habilidade de manejar meios, instrumentos, técnicas, formas, procedimentos”, já a política relaciona-se à participação do indivíduo aos fins, valores e conteúdo. O sociólogo ressalta, no entanto, que estas distinções não podem ser vistas separadamente, mas como faces do mesmo todo, pois envolvem “[...] a competência do sujeito em termos de se fazer e de fazer história, diante dos fins históricos da sociedade humana” (DEMO, 2001DEMO, P. Educação e qualidade. 6. ed. São Paulo: Papirus, 2001., p. 15).

Para que essa qualidade ocorra em sua dimensão formal e política, no entanto, é essencial o papel docente, que se manifesta, nas palavras de Royero (2002)ROYERO, J. Contexto mundial sobre la evaluación en las instituciones de educación superior. Revista Iberoamericana de Educación [Revista en línea], Madrid, 2002., no desenvolvimento do processo formativo dos alunos, no empenho docente e discente nas atividades acadêmicas propostas. O autor reforça também que “[...] é relevante o caráter transformativo das demandas sociais por envolver as decisões políticas, uma vez que o Estado participa da gestão educacional, da dimensão micro que engloba a trajetória institucional e o processo pedagógico dos professores” (ROYERO, 2002ROYERO, J. Contexto mundial sobre la evaluación en las instituciones de educación superior. Revista Iberoamericana de Educación [Revista en línea], Madrid, 2002., p. 2).

O pensamento de Royero (2002)ROYERO, J. Contexto mundial sobre la evaluación en las instituciones de educación superior. Revista Iberoamericana de Educación [Revista en línea], Madrid, 2002. nos conduz então a refletir que uma educação de qualidade pode significar tanto o domínio eficaz de conteúdos previstos nos planos curriculares como também a promoção da criticidade e o fortalecimento do compromisso na transformação da realidade social, diante das pesquisas relacionadas ao ambiente acadêmico, por meio de pesquisas científicas.

Imbernón (2004)IMBERNÓN, F. Formação do professor e qualidade do ensino. In: IMBERNÓN, F. Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e a incerteza. São Paulo: Cortez, 2004. amplia, no entanto, esta discussão, ao relacionar a qualidade na seara educacional à consciência do estudante e de sua percepção no processo de construção do conhecimento. Para o autor, a qualidade não se refere exclusivamente ao conteúdo, e sim à interatividade do processo, à dinâmica das atividades, ao estilo docente e ao material que utiliza.

Em tempos de cibercultura, de novos ambientes comunicacional e cultural que estamos vivendo no século XXI, e de forma efetiva em tempos de pandemia, as palavras de Silva nos conduz a “[...] espaço de sociabilidade, de organização, de informação, de conhecimento e de educação” (SILVA, 2010SILVA, M. Educar na cibercultura: desafios à formação de professores para a docência online. Revista Digital de Tecnologias Cognitivas, São Paulo, n. 3, p. 36-51, jan./jun. 2010., p. 37). Reforça o autor que esta imersão na cibercultura tem exigido dos docentes um aprendizado prévio a fim de que se possa promover a chamada inclusão digital. Esta tem sido realizada a partir das seguintes exigências: consciência da nossa transição docente da mídia clássica à on-line; clareza quanto ao uso do hipertexto, típico da tecnologia digital e da interatividade docente-discente como necessidade básica comunicacional; e, principalmente, potencialização da comunicação e aprendizagem no uso das diferentes interfaces possibilitadas pela Internet.

A revista Interações, ao longo de 21 anos, vem contribuindo com o desenvolvimento científico e com a visibilidade dos artigos publicados, procurando sempre refletir sobre as temáticas relacionadas às linhas de pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Local (PPGDL) − Mestrado e Doutorado. A dimensão cultural e comunicacional, construída no contexto de relações existenciais dos indivíduos entre si e com o território vivido, como referência de base na construção, manutenção e reconstrução dos territórios, assim como os fundamentos teórico-metodológicos de desenvolvimento local em contextos de territorialidades, constituídos em ambientes de vida e ambientes de trabalho, com especial atenção às comunidades tradicionais e ao micro e pequeno empreendimento.

A potencialidade das publicações se reflete, portanto, na diversidade das abordagens em cada volume publicado; neste volume 3 de 2021, algumas interfaces temáticas emergem na publicação dos 21 artigos: com relação à linha 1 do PPGDL, ambientes universitários, tecnologias comunicacionais e educacionais, cultura e atividades culturais; com relação à linha 2: gestão pública, desenvolvimento local, governanças, ecossistemas, empreendedorismo, redes intersetoriais, saúde e alimentos.

  • 1) Networks in the context of digital culture: technologies, coordinators, university teachers and students;

  • 2) Entre razões e emoções da evasão universitária, o contexto importa? Uma análise das instituições comunitárias catarinenses;

  • 3) Avaliação do potencial de recuperação de edificações ao fim da vida útil: caso de uma instituição federal de ensino superior;

  • 4) A utilização dos meios de comunicação como fator de inclusão social;

  • 5) O conceito de cultura na intersecção de debates interdisciplinares: estudo de caso − a Aldeia Tapuia em Rubiataba, GO;

  • 6) História, Sociabilidades e Ressignificações: dimensões do cartucho de doces do Sul de Minas (MG, Brasil);

  • 7) O cerceamento da atividade cultural por meio da legislação ambiental em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, no ano de 2018;

  • 8) A identidade de assistente social e atuação profissional em região de fronteira;

  • 9) A comunicação pública como instrumento de desenvolvimento, democracia e construção de cidadania: análise das práticas de transparência e acesso à informação no Município de São Luís, MA;

  • 10) Transparência como limitação à corrupção e estímulo ao desenvolvimento local no estado de Mato Grosso;

  • 11) Governança hídrica: um estudo de caso em Tangará da Serra, MT, após o desabastecimento de 2016;

  • 12) Valoração de serviços ecossistêmicos em uma bacia de abastecimento na Rota de Integração Latino-Americana;

  • 13) Tratamento de resíduos sólidos no município de Bonito, Mato Grosso do Sul, Brasil, correlacionado com dados externos;

  • 14) Pagamento por Serviços Ambientais de Recursos Hídricos na Região Centro-Oeste do Brasil: uma abordagem crítica da perspectiva coaseana;

  • 15) Redes interorganizacionais nas Comunidades que Sustentam a Agricultura no Distrito Federal;

  • 16) Lacunas de conhecimento e cooperação: análise de uma rede social em um instituto de tecnologia da região do ABC Paulista;

  • 17) Aspectos do empreendedorismo imigrante brasileiro em Toronto;

  • 18) Municipio Inteligente por un Desarrollo Local Sostenible desde la Gestión del Conocimiento;

  • 19) A trajetória de um grupo de trabalho interinstitucional para a promoção da equidade em saúde na gestão municipal;

  • 20) Análise da socialização organizacional dos servidores da Universidade Federal do Piauí;

  • 21) Sociobiodiversidade e alimentação escolar: uma experiência no Litoral Norte do Rio Grande do Sul.

O alinhamento da diversidade temática das abordagens nos 21 artigos publicados neste volume 3/2021 tem uma relação direta com o Desenvolvimento Local e com as linhas de pesquisa do nosso Programa de Mestrado e Doutorado. O nosso agradecimento especial para a nossa equipe editorial, que, nestes tempos de pandemia, de perdas irreparáveis, de trabalho remoto, não tem medido esforços para a publicação dos números da Interações. O nosso agradecimento também especial aos nossos avaliadores do Comitê Editorial e aos nossos avaliadores ad hoc pelo pronto atendimento e pela qualidade de suas avaliações.

Arlinda Cantero Dorsa

Editora-chefe da Interações

REFERÊNCIAS

  • DEMO, P. Educação e qualidade 6. ed. São Paulo: Papirus, 2001.
  • IMBERNÓN, F. Formação do professor e qualidade do ensino. In: IMBERNÓN, F. Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e a incerteza. São Paulo: Cortez, 2004.
  • UNESCO. Tendências da educação superior para o século XXI. In: CONFERÊNCIA MUNDIAL SOBRE O ENSINO SUPERIOR, 5 a 9 de outubro de 1998, Paris. Anais [...] Brasília: UNESCO/CRUB, 1999.
  • ROYERO, J. Contexto mundial sobre la evaluación en las instituciones de educación superior. Revista Iberoamericana de Educación [Revista en línea], Madrid, 2002.
  • SILVA, M. Educar na cibercultura: desafios à formação de professores para a docência online. Revista Digital de Tecnologias Cognitivas, São Paulo, n. 3, p. 36-51, jan./jun. 2010.
  • SILVA, M. Sala de aula interativa 4. ed. Rio de Janeiro: Quartet, 2006.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Dez 2021
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2021
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