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História, sociabilidades e ressignificações: dimensões do cartucho de doces do Sul de Minas (MG, Brasil)1 1 Agradecimentos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), pelo apoio a esta pesquisa.

History, sociabilities and resignifications: dimensions of the candy cartridge from Sul de Minas (MG, Brazil)

Historia, sociabilidades y resignificaciones: dimensiones del cartucho de dulces del Sur de Minas (MG, Brasil)

Resumo:

Este trabalho é resultado de reflexões acerca dos entrelaçamentos dos temas “cultura e desenvolvimento” na perspectiva de pequenos municípios e/ou comunidades locais. Mais especificamente, circunscreve à compreensão dos elementos socioculturais presentes nas múltiplas dimensões – históricas, de socialização, de produção – do cartucho de doces do Sul de Minas, que dão sentido e significado às pessoas e comunidades nas quais essa prática está inserida. Desta perspectiva, o objetivo da pesquisa foi contar a história do cartucho de doces do Sul de Minas a partir dos elementos culturais que se relacionam com o desenvolvimento local. A coleta de dados foi realizada em quatro vertentes: levantamento de produções científicas nas bases de dados; levantamento na web de registros que mencionassem a presença do cartucho; conversas dialogais com mulheres que possuíam relações históricas e pessoais com o cartucho de doces; observações de campo em festas da região e oficina de produção de cartucho. Elegeu-se a estratégia de confronto entre o universo empírico e as leituras teóricas, evidenciando os relatos presentes no material coletado para formular os argumentos teóricos aplicáveis à realidade estudada. Os caminhos percorridos em busca de conhecer o cartucho de doces levaram à identificação das categorias (i) história e estética, (ii) relações de sociabilidade e identidade e (iii) ressignificações para a sua preservação, as quais foram contadas utilizando da abordagem ensaística.

Palavras-chave:
cartucho; cultura; desenvolvimento local; saberes tradicionais; Sul de Minas

Abstract:

This work is the result of reflections on the intertwining of “culture and development” themes from the perspective of small municipalities and/or local communities. More specifically, it is limited to understanding the socio-cultural elements present in the multiple dimensions – historical, socialization, production – of the candy cartridge from the South of Minas Gerais State, which give reason and meaning to the people and communities in which this practice is inserted. From this perspective, the objective of this research was to tell the story of the candy cartridge from South of Minas Gerais State from the cultural elements that relate to local development. The data collection was carried out in four ways: a survey of scientific productions in the databases; survey on the web of records that mentioned the presence of the cartridge; conversations with women who had historical and personal relationships with the candy cartridge; field observations at parties in the region and the cartridge production workshop. The strategy of confrontation between the empirical universe and the theoretical readings was chosen, evidencing the reports present in the material collected to formulate the theoretical arguments applicable to the studied reality. The paths traveled in search of knowing the candy cartridge led to the identification of the categories (i) history and aesthetics, (ii) relationships of sociability and identity, and (iii) resignifications for its preservation, which were told using the essay approach.

Keywords:
cartridge; culture; local development; traditional knowledge; Minas’s South

Resumen:

Este trabajo es el resultado de reflexiones sobre el entretejido de los temas “cultura y desarrollo” desde la perspectiva de pequeños municipios y/o comunidades locales. Más específicamente, circunscribe la comprensión de los elementos socioculturales presentes en las múltiples dimensiones (histórica, socialización, producción) del cartucho de dulces del Sur de Minas, que dan sentido a las personas y comunidades en las que se inserta esta práctica. Desde esta perspectiva, el objetivo de la investigación fue contar la historia del cartucho de dulces del Sur de Minas Gerais a partir de los elementos culturales relacionados con el desarrollo local. La recolección de datos se realizó de cuatro maneras: encuesta de producciones científicas en las bases de datos; encuesta en la web de registros que mencionan la presencia del cartucho; conversaciones dialógicas con mujeres que tuvieron relaciones históricas y personales con el cartón de dulces; observaciones de campo en fiestas en la región y taller de producción de cartuchos. Se eligió la estrategia de confrontación entre el universo empírico y las lecturas teóricas, evidenciando los informes presentes en el material recogido para formular los argumentos teóricos aplicables a la realidad estudiada. Los caminos tomados en busca del conocimiento del cartón de dulces condujeron a la identificación de las categorías (i) historia y estética, (ii) relaciones de sociabilidad e identidad y (iii) resignificaciones para su preservación, que se contaron utilizando el enfoque ensayístico.

Palabras clave:
cartucho; cultura; desarrollo local; conocimiento tradicional; Sur de Minas

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho é resultado de reflexões acerca dos entrelaçamentos entre os temas “cultura e desenvolvimento” na perspectiva de pequenos municípios e/ou comunidades locais. Mais especificamente, circunscreve à compreensão dos elementos socioculturais presentes nas múltiplas dimensões – históricas, de socialização, de produção – do cartucho de doces do Sul de Minas, que dão sentido e significado às pessoas e comunidades nas quais essa prática está inserida.

O cartucho de doces, ou simplesmente cartucho, é uma arte feita de cartolina, na forma de cone, enfeitado externamente com papel de seda ou crepom recortados na forma de tiras, ou franzidos ou dobrados, que formam alças ou franjas, recheado com quitandas mineiras, presentes em municípios do Sul de Minas e alguns paulistas, próximos da divisa (BOLOGNINI, 2010BOLOGNINI, Dalva Soares. O ponto do doce. São Paulo: Biblioteca 24 horas, 2010.).

Esta arte foi objeto de desejo de adultos e crianças no passado recente, mas vem perdendo seu protagonismo, outrora evidente nas festas religiosas mineiras. Diante disso, ressalta-se a importância de investigações científicas com vistas a evitar os riscos de desaparecimento de saberes seculares.

A problematização parte das concepções de cultura popular, aqui tratada não como menor, mas traduzida como resultado de processos dinâmicos do social e das lutas por valorização dos saberes e dos fazeres do local, das manifestações caracterizadas como marginais ou empobrecidas. Para Ayala (2015a)AYALA, Maria Ignez Novais. Cultura popular e temporalidade. In: AYALA, Maria Ignez Novais; AYALA, Marcos (Org.). Metodologia para as pesquisas em culturas populares: uma experiência vivenciada. [S.l.]: Editora Edson Soares Martins, 2015a. p. 51-65., a cultura popular é regida por um fundamento da necessidade, em que solidariedade, auxílio mútuo, vida comunitária são significativos para a existência de suas múltiplas manifestações. A autora esclarece que a cultura popular se diferencia da cultura dominante, esta última regida prioritariamente pelo mercado e pela subordinação daqueles que vêm de outra experiência cultural e social à lógica mercadológica.

Ampara-se, ainda, nos princípios do desenvolvimento local, do pressuposto de que outras formas de desenvolvimento podem trazer elementos importantes para se pensar na contramão dos processos produtivos globais (DOWBOR, 2010DOWBOR, Ladislau. Desenvolvimento Local e apropriação dos processos econômicos. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, n. 51, p. 99-112, set./mar. 2010.), sendo estes processos promotores de padronizações socioculturais, econômicas e políticas, desencadeadas pelos países centrais e impostas aos países periféricos.

O contexto da pesquisa – o Sul de Minas – parte da concepção de território, pautada nas sugestões de Haesbaert (2004)HAESBAERT, Rogério. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multi- territorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004., Lefebvre (1974)LEFEBVRE, Henri. La production de l’espace. Paris: Anthropos, 1974. e Santos (1994)SANTOS, Milton. Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico–informacional. São Paulo: Editora Hucitec, 1994. como sendo um espaço que congrega elementos de descrição política, econômica e sociocultural, bem como supera a ideia de unidade político-administrativa.

Diante do exposto, o problema que norteou esta pesquisa desenhou-se na seguinte pergunta: quais elementos culturais presentes no cartucho de doces do Sul de Minas se relacionam com as dimensões do desenvolvimento local?

O emergir das “coisas de minas” e suas dimensões do local privilegiam as evidências das relações socioculturais, não como uma totalidade regional de progresso e pujança industrial-tecnológica, mas, essencialmente, pelas particularidades multidimensionais da cultura inscritas no território que os une e os unifica por intermédio das semelhanças identitárias, trocas, valores, padrões culturais, relações interpessoais, que demonstram o quanto de ruralidade, tradições e laços comunitários lhes são inerentes e, sem ponderações, encontram-se abafados pela busca do progresso e desenvolvimento econômico nos moldes vigentes.

Desta perspectiva, o objetivo da pesquisa foi o de contar a história do cartucho de doces do Sul de Minas enfatizando os elementos culturais que se relacionam com o desenvolvimento local. Sobressaem as histórias pessoais, locais, de sentido e significados atribuídos, dos saberes e fazeres contidos neste objeto, com as devidas repercussões no contexto onde existem. As práticas populares existem, resistem, significam e se ressignificam, transcendendo a lógica do mercado, privilegiando a manutenção do conhecimento enquanto produção imaterial.

O texto foi organizado em cinco frentes que se entrecruzam e convergem para a localização do objeto de estudo e alcance do objetivo pretendido: (1) Introdução; (2) Percurso metodológico; (3) Cultura e Desenvolvimento: questões teóricas; (4) Os elementos culturais do cartucho de doces em suas múltiplas dimensões; (5) Considerações finais.

2 PERCURSO METODOLÓGICO

Este trabalho se circunscreve a uma investigação de abordagem qualitativa, que permite identificar significados e sentidos atribuídos pelas pessoas aos diversos fenômenos de seu ambiente natural (DENZIN; LINCOLN, 2000DENZIN, Norman K.; LINCOLN, Yvonna. S. Handbook of qualitative research. London: Sage, 2000.), no campo da antropologia, tendo como objeto e sujeitos do estudo, o cartucho e as cartucheiras.

Quanto aos procedimentos, esta pesquisa se classifica como mista, envolvendo pesquisa bibliográfica, documental e pesquisa de campo, em quatro vertentes: (i) levantamento de produções científicas nas bases de dados; (ii) levantamento na web de registros que mencionassem a presença do cartucho; (iii) conversas dialogais com quatro mulheres que possuíam relações históricas e pessoais com o cartucho de doces; (iv) observações de campo em três festas da região e uma oficina de produção de cartucho.

O primeiro passo para dar andamento à investigação pretendida foi o levantamento de produções científicas sobre o objeto de estudo. Foram realizadas buscas nas bases Web of Science, SciELO Brasil e Periódicos CAPES, utilizando o termo “cartucho” no título e os termos “cultura” e “desenvolvimento” no campo tópico, resumo ou assunto, tanto em português quanto em inglês. As buscas foram realizadas em julho de 2016 e nenhum resultado foi encontrado.

Partiu-se para um levantamento de possíveis registros disponíveis na web, utilizando o buscador do Google, com o intuito de encontrar menções sobre o cartucho que nos ajudassem a contar a sua história. Foram encontradas quinze páginas que trouxeram informações sobre confecção de cartuchos, festas com presença de cartuchos e lembranças passadas sobre o cartucho.

Deste material, utilizou-se de quatro documentos que ajudaram nesta compreensão: (i) o livro “O ponto do doce”, da autora Dalva Bolognini (2010)BOLOGNINI, Dalva Soares. O ponto do doce. São Paulo: Biblioteca 24 horas, 2010.; (ii) o texto “A magia dos Cartuchos de Festa”, de Ana Benedicta de Siqueira, publicado na página Pirangussu4 4 A página foi retirada do ar após a submissão desse artigo. O documento foi hospedado na página do grupo de pesquisa. Para acesso ver Siqueira (2007). em 12 de junho de 2007; (iii) o texto “Baú da Vilma – cartucho”, de Marco Antonio dos Santos Reis, publicado na página do jornal O Lince, n. 43, janeiro/fevereiro de 2012; (iv) a matéria “Cidade mantém tradição dos cartuchos de doces”, de Vanderléa Lemes, publicada no jornal Primeira Página, em novembro de 2004, disponível na página da Universidade do Vale do Sapucaí (UNIVÁS).

Os sujeitos da pesquisa foram quatro mulheres que possuíam história familiar e afetiva com o cartucho, com as quais foram realizadas conversas dialogais. Para preservar o anonimato, os nomes mencionados no texto são fictícios. Segue uma breve caracterização delas, o momento do encontro e o local: uma filha de cartucheira, de aproximadamente 50 anos e que estava tentando resgatar esses saberes, em Pedralva, em julho de 2016, a qual chamamos de Aparecida; uma cartucheira do município de Cristina, de aproximadamente 45 anos, que, além de cartucheira, possuía lembranças de infância sobre o cartucho, em julho e setembro de 2016, a qual nomeamos Conceição; em Pouso Alegre, uma filha de cartucheira (já falecida) de São João da Mata, em agosto de 2016, a qual denominados de Fátima; com uma portuguesa residente no Brasil que tinha conhecimento do cartucho nas cidades mais rurais de Portugal, em dezembro de 2016, designada como Maria.

A seleção das respondentes se deu por aproximação e conveniência: facilidade de acesso e disponibilidade em contribuir e compartilhar suas histórias. O consentimento para a utilização das conversas como dado de pesquisa foi feito verbalmente, sem a formalização da autorização, dado que esse tipo de burocracia provocou desconfiança e estranhamento em tentativas anteriores de diálogo com outras cartucheiras.

Também foram realizadas observações de campo. Primeiramente, a observação da oficina de resgaste de produção de cartucho, realizada na Associação de Artesãos de Pedralva, em julho de 2016. Posteriormente, em festas tradicionais da região, mais precisamente, Festa de São Benedito, em Itajubá, em outubro de 2016; Festa do Pé-de-Moleque, realizada em Piranguinho, em junho de 2017; Festa de São José, realizada em São José do Alegre, em julho de 2018.

Para a sistematização dos dados, três critérios foram utilizados: não desprezar a sensibilidade das cartucheiras no exercício do fazer cartucho de doce; registrar as valorações materiais e imateriais atribuídas; estabelecer as correlações de importância auferida ao artefato nas festas religiosas no Sul de Minas Gerais.

O lugar de partida e a orientação da pesquisa e observações são de natureza antropológica. No entanto assume-se o caráter interdisciplinar na leitura do material teórico-empírico por intermédio de diálogos com a Sociologia, Geografia e História para buscar entendimentos que apreendam as dimensões socioculturais do cartucho de doces, sem perder de horizonte os “imperativos” que contextualizam o tema na contemporaneidade.

A Antropologia, além dos instrumentos de pesquisa, possibilitou a configuração das dimensões socioculturais atreladas ao objeto. A Sociologia, com base nas sugestões de Bourdieu (2006)BOURDIEU, Pierre. A produção da crença: contribuição para uma economia dos bens simbólicos. 3. ed. Porto Alegre: Zouk, 2006., aponta as tensões presentes nas disputas e relações de forças no campo da economia dos bens simbólicos. A Geografia favorece leituras sobre o território nomeado Sul de Minas, tomando o cartucho como elementos de partida. A História do presente, ancorada nos posicionamentos de Nora (1993)NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Tradução de Yara Aun Khoury. Projeto História, São Paulo, v. 10, p. 7-28, jul./dez. 1993., permite-nos a identificação de que o artefato estudado “ocupa” lugar de relevância nas recordações das pessoas envolvidas, as quais entrelaçam com as dinâmicas das festas, da cidade e da região.

Nas conversas, buscou-se conhecer as experiências sobre o saber-fazer do cartucho, tentando capturar as situações vivenciadas no passado e no presente, no sentido de relembrar-registrar experiências vividas em tempos e contextos históricos distintos. Os diálogos e as observações foram registrados a posteriori, mas imediatamente após as conversas/observações, em caderno de campo.

Utilizou-se dos relatos, tendo como referência as histórias contadas e, em alguns casos, foram realizados registros fotográficos com a pretensão de ilustrar a relação cartucheira-artefato e que contribuíram para demonstrar a dimensão estética do cartucho e as relações de sociabilidade na sua produção.

Pelos trajetos indicados, apostou-se na estratégia de confronto entre o universo empírico coletado e as referências teóricas, em que se evidenciaram os relatos das pessoas entrevistadas para formulação de argumentos aplicáveis à realidade estudada. Dentro dessas escolhas, a apresentação dos resultados utilizou de abordagem com caráter ensaístico, seguindo as sugestões metodológicas de Ayala (2015b)AYALA, Maria Ignez Novais. Algumas reflexões sobre formação de pesquisadores, documentação e procedimentos metodológicos. In: AYALA, Maria Ignez Novais; AYALA, Marcos (Org.). Metodologia para as pesquisas em culturas populares: uma experiência vivenciada. [S.l]: Editora Edson Soares Martins, 2015b. p. 25-37., que compreende o “ensaio” como um procedimento metodológico adequado para os estudos de culturas orais. Da posição de Ayala (2015b, p. 27)AYALA, Maria Ignez Novais. Algumas reflexões sobre formação de pesquisadores, documentação e procedimentos metodológicos. In: AYALA, Maria Ignez Novais; AYALA, Marcos (Org.). Metodologia para as pesquisas em culturas populares: uma experiência vivenciada. [S.l]: Editora Edson Soares Martins, 2015b. p. 25-37.:

A abordagem ensaística permite trazer modos de definição cultural diferentes dos costumeiramente utilizados pela cultura escrita, possibilita trazer fecunda exemplificação de outras formas de temporalidade alicerçada em bases comunitárias, pondo-as em diálogo, expondo tensões, conflitos e alegria.

Pautados nos encaminhamentos mencionados, capturar os diálogos, as imagens, os significados e os elementos que circulam o cartucho de doces presentes nas festas do Sul de Minas Gerais impõe a reconstituição de fragmentos, mosaicos partidos, para entender as particularidades e as dimensões do singular, sem perder de horizonte os diferentes contextos socioeconômicos e socioculturais. Os resultados apresentados foram amparados nas fontes apresentadas anteriormente e não pretende generalizar conclusões. Trata-se de um esforço de contar uma história − entre as muitas possíveis histórias – do cartucho de doces do Sul de Minas.

3 CULTURA E DESENVOLVIMENTO: QUESTÕES TEÓRICAS

Da perspectiva teórica que orienta esta discussão, faz-se um diálogo entre cultura e desenvolvimento, sem distanciamentos sobre a temática do território, visto que, por si, estabelecem relações íntimas que incorporam elementos comuns para juntar e agregar espaços, pessoas, valores, crenças, estilos, gostos, identificações, pertenças.

Em Ayala (2015a)AYALA, Maria Ignez Novais. Cultura popular e temporalidade. In: AYALA, Maria Ignez Novais; AYALA, Marcos (Org.). Metodologia para as pesquisas em culturas populares: uma experiência vivenciada. [S.l.]: Editora Edson Soares Martins, 2015a. p. 51-65., a tensão cultura popular versus cultura dominante permite dar equidade às “coisas simples” da cultura. Permite, ainda, dar à cultura o “aval” para a alavancagem de outra plataforma de desenvolvimento, mais especificamente, da perspectiva do local. Em outros termos: o que se entende por cultura, desenvolvimento e a maneira em que esses entendimentos se correlacionam com as apropriações da temática do território passam a ser oportunos para constituição de uma alternativa.

Esta prospecção contraria as proposições de desenvolvimento pautadas no crescimento econômico e progresso, dispensando práticas culturais tidas como “inferiores” ou “atrasadas”, premissa vigente da qual a ordem sociocultural moderna se afilia. Imaginar o desenvolvimento fora dessa lógica ou da relação capital versus trabalho demanda decodificar as (re)significações, (re)(des)classificações e (re)negociações dentro do universo polifônico das demandas pelos usos sociais da cultura, sentido apresentado por Bourdieu (2006)BOURDIEU, Pierre. A produção da crença: contribuição para uma economia dos bens simbólicos. 3. ed. Porto Alegre: Zouk, 2006., como sendo um campo simbólico de relações de poder e forças em disputa.

O desenvolvimento disputa também a cultura enquanto recurso de produção de bens, serviços e valores, o que não propõe distâncias dos atributos às idealizações do “progresso econômico”. Na contramão, o desenvolvimento local, a área do “circuito inferior” da economia – termo cunhado por Dowbor (2010, p. 101)DOWBOR, Ladislau. Desenvolvimento Local e apropriação dos processos econômicos. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, n. 51, p. 99-112, set./mar. 2010. a partir das abstrações sobre espaço e território de Santos (1994)SANTOS, Milton. Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico–informacional. São Paulo: Editora Hucitec, 1994. – descreve as possibilidades de mais facetas do desenvolvimento.

A interligação cultura e desenvolvimento com o território ganha força ao traduzirmos cultura como sendo um: (i) “[...] circuito que envolve ordem-desordem-interação-organização composto por códigos, padrões-modelo, modalidades de existência, saberes” (CARVALHO, 2013CARVALHO, Edgard de Assis. Cultura e complexidade: um trajeto antropológico. In: PIMENTA, Carlos Alberto Máximo; MELLO, Adilson da Silva (Org.). Encruzilhadas da cultura: desenvolvimento, tecnologias e sociedade. São Paulo: Cabral Editora; Livraria Universitária, 2013. p. 49-69., p. 49); (ii) desenvolvimento local para fomentar processos dinâmicos de valorização de atividades que incorporem a participação nas decisões de interesse de todos, a solidariedade, a cooperação e as trocas (DOWBOR, 2010DOWBOR, Ladislau. Desenvolvimento Local e apropriação dos processos econômicos. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, n. 51, p. 99-112, set./mar. 2010.); (iii) território enquanto espaço que transcende “funcionalidades político-administrativas” (HAESBAERT, 2004HAESBAERT, Rogério. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multi- territorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.), crivado de questões simbólicas, material, imaterial, históricas, subjetivas, afetivas, sentimentos, os quais constituem um conjunto de relações, laços, pertenças, sociabilidades (LEFEBVRE, 1974LEFEBVRE, Henri. La production de l’espace. Paris: Anthropos, 1974.), bem como de resistências e espaços políticos (SANTOS, 1994SANTOS, Milton. Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico–informacional. São Paulo: Editora Hucitec, 1994.).

O cartucho de doces, dentro do território denominado Sul de Minas, tem a força de conexão entre pessoas, lugares, afetos, resistências, que convergem elementos culturais em suas múltiplas dimensões: histórica, estética, de sociabilidade e identitária. Esses elementos, em sua dinâmica, tanto estimulam ressignificações do artefato para a sua preservação quanto podem estabelecer “elos” para o desenvolvimento local.

Partindo das percepções de estética, de sociabilidade e de identidade que envolvem o cartucho de doces, do ponto de vista de uma agenda político-econômica alternativa, a cultura reúne requisitos para a elaboração de programas que possam incorporar demandas, tensões e interesses do desenvolvimento local. Dentro desses espaços-territórios, a cultura permite ainda trazer à centralidade das ações e das práticas desses programas as demandas das comunidades rurais e tradicionais, dos saberes e fazeres populares, das urgências de preservação do ecossistema e das culturas materiais e imateriais e das desigualdades socioeconômicas.

A cultura tem força para atuar como “facilitador” de um desenvolvimento que impulsione as coisas do local, processo que requer clareza sobre qual concepção de desenvolvimento será privilegiada. Essa concepção norteará os caminhos para efetivar as interconexões entre cultura e desenvolvimento dentro do território, no sentido de promover e promulgar valores, emancipações, autonomias, experiências, solidariedades, tradições, traduções, sobrevivências, produção simbólica e de subjetividades.

4 OS ELEMENTOS CULTURAIS DO CARTUCHO DE DOCES EM SUAS MÚLTIPLAS DIMENSÕES

A análise de manifestações culturais ajuda a compreender a vivência em sociedade (COLLING; WEBER, 2020COLLING, Sandra Maria Costa dos Passos; WEBER, Roswithia. Preparativos e festividades do casamento de descendentes de imigrantes alemães na metade do século XX, no Rio Grande do Sul. Interações, Campo Grande, v. 21, n. 2, p. 331-46, 2020.). A discussão sobre o cartucho de doces e suas conexões socioculturais coloca em questão o saber e o fazer contidos no artefato, as sociabilidades presentes nessa manifestação e as práticas populares que permanecem e privilegiam a manutenção do conhecimento, os quais transcendem a lógica do mercado.

A produção do cartucho é expressão de vida, tem valor imaterial, significados e simbolismos que constituem histórias − particulares e coletivas − materializadas na forma da arte dessa embalagem. Sua forma e estética podem ser apreciadas na Figura 1.

Figura 1
Cartucho de doce/festa de Piranguinho

Os caminhos percorridos em busca de conhecer o cartucho de doces levaram à identificação de três categorias: (i) história e estética; (ii) relações de sociabilidade e identidade; (iii) ressigificações para a sua preservação; as quais serão apresentadas na próxima seção.

4.1 A história e a estética do cartucho de doces

O cartucho de doces é ainda muito presente no Sul de Minas e há suspeitas de sua relação com as festas juninas de Portugal, informação relatada por Aparecida, em Pedralva, e confirmada por Maria, estudante portuguesa residente no Brasil. Quando perguntado à Maria se ela conhecia o cartucho, apresentando a imagem da Figura 1, ela contou que “Esses cartuchos também existem em Portugal e são geralmente confeccionados nas festas populares que existem nas cidades mais rurais do país”. Foram encontrados indícios da relação do cartucho com Portugal apontados por Bolognini (2010, p. 65)BOLOGNINI, Dalva Soares. O ponto do doce. São Paulo: Biblioteca 24 horas, 2010., ao afirmar que

[...] a arte do recorte de papel [é] herança dos conventos portugueses, popularizada a partir do século XVII, quando esses foram fechados e as religiosas voltaram às suas cidades de origem e transmitiram seu conhecimento às mulheres da família ou da comunidade.

Maria relatou que o uso desse tipo de material e o recorte presente no cartucho são também utilizados na decoração de festas tradicionais em Portugal, que ocorrem anualmente nas aldeias ou ainda em festas de santos populares, como São João e São Pedro, que ocorrem nas ruas de Lisboa e do Porto.

Ao descrever a elaboração do cartucho de doces, Bolognini apresenta elementos relevantes que ajudam a revelar essa história, tais como o componente estético e o leilão como espaço de legitimação. A autora afirma que

Esse cone de cartolina, enfeitado por cortes em tiras ou franzidos ou dobrados, em papel de seda ou crepom, que formam alças ou franjas é literalmente recheado das quitandas mineiras, composição de delicados biscoitos, quase sempre de polvilho, que nas festas de praça são leiloados, alcançando altos lances pela sua beleza estética e significado cultural regional. Com o mesmo trabalho em papel são feitas caixas de cartolina nos mais variados formatos: redondas, ovais, quadradas. (BOLOGNINI, 2010BOLOGNINI, Dalva Soares. O ponto do doce. São Paulo: Biblioteca 24 horas, 2010., p. 66-7).

O elemento visual se apoia nos conceitos de cultura de bens materiais, da compreensão de que objetos retratam padrões estéticos e técnicas/tecnologias das sociedades. O elemento estético representa um universo semântico e simbólico que um determinado artefato deve expressar (MAZZA; IPIRANGA; FREITAS, 2007MAZZA, Adriana Carla Avelino; IPIRANGA, Ana Sílvia Rocha; FREITAS, Ana Augusta Ferreira de. O design, a arte e o artesanato deslocando o centro. Cadernos EBAPE.BR, São Paulo, v. 5, n. 4, p. 1-11, dez. 2007.). O apelo estético do cartucho e o desejo que ele provoca foi relatado tanto no poema de Reis (2012)REIS, Marco Antonio dos Santos. Baú da Vilma: cartucho. Jornal O Lince, Aparecida, n. 43, jan./fev. 2012. Disponível em: http://www.jornalolince.com.br/2012/fev/pages/grafias-marco-reis.php. Acesso em: 01 jul. 2016.
http://www.jornalolince.com.br/2012/fev/...
quanto no texto de Siqueira (2007)SIQUEIRA, Ana Benedicta. A magia dos cartuchos de festas. Portal Piranguçu, Piranguçu, 12 jun. 2007. Disponível em: https://url.gratis/Q4cHDE. Acesso em: 1º jul. 2016.
https://url.gratis/Q4cHDE...
.

Desfile de frangos assados, de vinhos, de bolos, de leitões. Aqui e acolá, meu sonho: um cartucho de balas e doces, envolvido em tiras franjadas e coloridas de papel crepom (REIS, 2012REIS, Marco Antonio dos Santos. Baú da Vilma: cartucho. Jornal O Lince, Aparecida, n. 43, jan./fev. 2012. Disponível em: http://www.jornalolince.com.br/2012/fev/pages/grafias-marco-reis.php. Acesso em: 01 jul. 2016.
http://www.jornalolince.com.br/2012/fev/...
).

Em seus coloridos, plissados, franjas, laços, flores, babados e brocados escondiam uma magia que atraiam crianças, jovens e adultos de todas as idades. [...]. Nos casarões onde senhoras se reuniam para enfeitá-los e os colocavam aos pares nos varais estendidos nos quartos e varandas, não raro, crianças enfeitiçadas pela beleza dos cartuchos, incendiavam o objeto dos seus desejos quando os admiravam sob a luz da lamparina no silêncio da noite (SIQUEIRA, 2007SIQUEIRA, Ana Benedicta. A magia dos cartuchos de festas. Portal Piranguçu, Piranguçu, 12 jun. 2007. Disponível em: https://url.gratis/Q4cHDE. Acesso em: 1º jul. 2016.
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).

Conceição relembra que, quando criança, ia com os irmãos para as festas que ocorriam na cidade de Cristina, sempre desejando ganhar um cartucho nos leilões. Sua mãe, não tendo condições para adquiri-los, fazia-os em casa e presenteava as crianças durante a festa. Disse que ela e os irmãos sabiam da “mentira”, mas que não se importavam, pois queriam mesmo eram os doces do cartucho.

A reportagem de Lemes (2004)LEMES, Vanderléa. Cidade mantém tradição dos cartuchos de doces. Primeira Página, Pouso Alegre, nov. 2004. Disponível em http://mentorweb.univas.edu.br/univas/primeirapagina/novembro_2004/6_novembro_2004.pdf. Acesso em: 7 ago. 2016.
http://mentorweb.univas.edu.br/univas/pr...
aborda também o elemento estético do cartucho. Para a Festa de São Sebastião da Bela Vista, em 2004, foram encomendados 400 cartuchos, que não foram suficientes para atender à demanda. A reportagem afirma que os cartuchos são um dos principais atrativos das festas típicas, tanto para crianças quanto para adultos, e menciona a fala de um morador do município que afirma que, sem as embalagens de cartucho, “[...] a festa perde o encanto”, pois “[...] eles dão um colorido que é muito típico das festas da nossa região”.

4.2 As relações de sociabilidade e identidade em torno do cartucho

Da perspectiva das sociabilidades tecidas em torno do cartucho, destacam-se dois momentos: produção e exibição. A produção ocorre nos bastidores, e a exibição, durante as festas, quase sempre vinculadas aos santos católicos e organizadas pela paróquia, com o apoio dos festeiros e da comunidade local.

Os festeiros são responsáveis por angariar fundos para a realização da festa, podendo ser tanto o recurso monetário direto, ou seja, contribuições em dinheiro, quanto a doação de prendas – que são chamadas de esmolas – ou, ainda, a realização de rifas. Em algumas festas, conforme relatos de Aparecida, Conceição e Fátima, os cartuchos são encomendados pelos festeiros. Fátima contou que sua mãe era a cartucheira mais famosa de São João da Mata e que era frequentemente procurada pelos festeiros para a produção dos cartuchos, fato que fazia com que sua mãe se sentisse prestigiada e inserida na comunidade.

Conceição – que, além de cartucheira, produz também os doces que recheiam os cartuchos – relatou que adora se reunir para fazer os cartuchos, momento em que as mulheres conversam, trocam experiências, aprendem e ensinam, não somente sobre os cartuchos, mas compartilham outros aspectos da vida.

Lemes (2004)LEMES, Vanderléa. Cidade mantém tradição dos cartuchos de doces. Primeira Página, Pouso Alegre, nov. 2004. Disponível em http://mentorweb.univas.edu.br/univas/primeirapagina/novembro_2004/6_novembro_2004.pdf. Acesso em: 7 ago. 2016.
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menciona a história de Natividade, moradora de São Sebastião da Bela Vista, que conta que começou a produzir o cartucho por curiosidade, observando as outras artesãs trabalhando. Essa afirmação reforça o modo de transmissão desse saber – aprende-se e repassa-se pela experiência, em um complexo sistema de troca de saberes, no qual se pode usar todos os sentidos. A transmissão dos modos de fazer tradicionais não segue os métodos costumeiros da cultura escrita.

No processo de transmissão, de ensinar e aprender, os laços de solidariedade vão se fortalecendo. Se pensados como uma representação identitária de um modo de vida, em resistência aos processos mundiais de homogeneização da cultura (HALL, 2006HALL, Stuart. Identidades culturais na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro: Editora DP&A, 2006.), os cartuchos podem ser caracterizados, da perspectiva das interações coletivas, como novas dinâmicas socioeconômicas locais de estabelecimento das relações de “quem sou eu”, no sentido das dimensões individuais, e de “quem somos nós”, se pensado no caráter grupal da atividade.

De acordo com a descrição apresentada por Lemes (2004)LEMES, Vanderléa. Cidade mantém tradição dos cartuchos de doces. Primeira Página, Pouso Alegre, nov. 2004. Disponível em http://mentorweb.univas.edu.br/univas/primeirapagina/novembro_2004/6_novembro_2004.pdf. Acesso em: 7 ago. 2016.
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, a descrição da história de Natividade apresenta a lucidez sobre a desvalorização pela sociedade, do trabalho realizado para a produção do cartucho. Mesmo sem o devido reconhecimento, Natividade gosta de confeccionar os cartuchos e sente falta de não ter mais encomendas para entregar. Este relato se assemelha ao relato da história da mãe de Fátima, quando relatou que a produção de cartuchos dava sentido à vida dela e que, próximo ao acontecimento das festas, a casa ficava cheia de cartuchos, pendurados nos varais ou cobrindo as camas, e nada era mais importante do que entregar a encomenda. Sua mãe só parou de fazer os cartuchos quando a idade já não permitia, mas continuou enfeitando o andor do menino Jesus – com técnica semelhante à dos recortados do cartucho – até o fim de sua vida.

Nesse sentido, o cartucho de doces expressa o saber-fazer das cartucheiras e os modos de vida local. De ressonância com as festas religiosas, os seus processos de produção se configuram em trocas de experiências, convívio e manutenção dos vínculos de amizade entre os membros daquela comunidade.

As investigações realizadas permitiram identificar que a produção dos cartuchos é um trabalho predominantemente feito por mulheres. Seja nos documentos, seja nas entrevistas e histórias contadas, a menção sobre a produção dos cartuchos é feita aludindo às mulheres. Siqueira (2007)SIQUEIRA, Ana Benedicta. A magia dos cartuchos de festas. Portal Piranguçu, Piranguçu, 12 jun. 2007. Disponível em: https://url.gratis/Q4cHDE. Acesso em: 1º jul. 2016.
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também relata em seu texto, quando diz que “[...] os cartuchos eram embalagens decorativas para os doces caseiros, usados pelas nossas avós e bisavós” produzidos “[...] nos casarões onde senhoras se reuniam para enfeitá-los”, referências sempre femininas – avós, bisavós, senhoras.

Nesse sentido, é fundamental apoiar a participação e o trabalho de mulheres, oferecendo assistência técnica, elaborando políticas públicas e projetos que auxiliem na desmistificação do trabalho feminino, valorizando e reconhecendo o papel das mulheres para o desenvolvimento local (SCHNEIDER et al., 2020SCHNEIDER, Clair Odete; GODOY, Cristiane Maria Tonetto; WEDIG, Josiane Carine; VARGAS, Thiago de Oliveira. Mulheres rurais e o protagonismo no desenvolvimento rural: um estudo no município de Vitorino, Paraná. Interações, Campo Grande, v. 21, n. 2, p. 245-58, 2020.).

Esse saber que se transforma no cartucho é exibido nas festas, mais especificamente, nos leilões e, em tempos mais recentes, nos bingos. O leilão é o lugar de legitimação do cartucho, momento em que ele é exibido, disputado e se torna o objeto de desejo, tanto pela beleza externa quanto pelos doces que ele carrega. Reis (2012)REIS, Marco Antonio dos Santos. Baú da Vilma: cartucho. Jornal O Lince, Aparecida, n. 43, jan./fev. 2012. Disponível em: http://www.jornalolince.com.br/2012/fev/pages/grafias-marco-reis.php. Acesso em: 01 jul. 2016.
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narra o leilão no trecho seguinte:

Esquinas depois, havia festa. Fogos, poeira, procissão. Horas depois, depois das rezas, o que eu mais queria. O leilão. “Quatro cruzeiros!”, gritou um poltrão que tinha muito mais dobrões. “Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três!”. Lá se foi o meu cartucho. Menos uma ilusão.

O texto de Siqueira (2007)SIQUEIRA, Ana Benedicta. A magia dos cartuchos de festas. Portal Piranguçu, Piranguçu, 12 jun. 2007. Disponível em: https://url.gratis/Q4cHDE. Acesso em: 1º jul. 2016.
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também faz menção ao leilão, conforme enxerto subsequente:

Nos leilões [os cartuchos] eram arrematados pelos pais, avós, padrinhos ou namorados, para oferecê-los a seus filhos, netos, afilhados ou namoradas que o seguravam sempre junto ao peito como que acariciando um sonho realizado.

Conceição mencionou que os cartuchos deveriam ser ganhos e pendurados em algum lugar visível dentro de casa, até o ano seguinte, quando um novo cartucho era ganho e substituído. Na Festa de São José, em São José do Alegre, em 2018, observou-se uma ganhadora do bingo. Ela podia escolher entre duas prendas, um frango assado ou um cartucho, e escolheu o cartucho, comentando com o seu parceiro de mesa que então ela poderia trocar o cartucho recebido no ano anterior, confirmando o ritual mencionado por Conceição.

As lembranças sobre o cartucho foram misturando afetos, festas, sensações, trocas, religiosidades, sociabilidades e identificações objeto-lugar e objeto-pertencimento. Fátima lembrou de sua mãe fazendo cartuchos quando ainda viviam na zona rural:

Desde que me entendo por gente, lembro da mãe e tias fazendo cartuchos para a Festa de Santa Cruz. As mulheres se reuniam para fazer os doces e outros alimentos servidos na festa. Uma dava a farinha, outro oferecia a rapadura, um terceiro cedia o leite. Todo mundo dava um pouquinho e recebia em troca o encontro com os amigos e a família.

A identidade pode ser considerada como manifesto intencional e estabelece um caráter conjuntural pela simples vantagem das alianças que podem ser fortalecidas com a intenção de constituir identificações aos lugares, às pessoas e aos contextos.

A configuração posta suscita diálogos com os conceitos no campo da identidade de liquidez na modernidade, de autoidentidade móvel ou mutável e de descentramento, mutação e movimento, elementos presentes na contemporaneidade, propostos por Bauman (2005)BAUMAN, Zygmunt. Identidade. Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar, 2005. e Hall (2006)HALL, Stuart. Identidades culturais na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro: Editora DP&A, 2006., respectivamente, com base nas expressões de identidade capturadas nas práticas do cartucho de doces, as quais caracterizam uma posição aglutinadora desses grupos.

4.3 As ressignificações do cartucho para a sua preservação

Em Pedralva, Aparecida contou que os cartuchos eram presenças indispensáveis na Festa de São Sebastião que acontecia em janeiro, mas que haviam desaparecido da festividade. Ela sabia da existência de outras cartucheiras vivas, moradoras de comunidades rurais do município, e mencionou sua vontade de ir até elas para conhecer as histórias sobre o cartucho. Nesta linha, informou que a associação de artesãos e artesãs estava fazendo uma oficina na tentativa de recuperar esse conhecimento e trazer o cartucho para as festas do município, ressignificando o artefato com temáticas que agradassem às crianças, como personagens infantis.

A Figura 2 apresenta a dinâmica do trabalho coletivo da ARTEPE no processo de manter o saber e o fazer do cartucho de doce, por meio de oficinas e atividades práticas que precedem os períodos de festividades religiosas. A oficina de cartuchos pode indicar um aspecto da ressignificação no processo de produção desse artefato, no sentido de retomar o saber e o encontro para a produção dos cartuchos.

Figura 2
Oficina de cartucho Associação dos Artesãos de Pedralva (ARTEPE)

A identidade se apresenta plural em seus vários sentidos e aplicabilidades, supondo na atualidade determinada provisoriedade. Entretanto, dentro do saber-fazer das cartucheiras, esse movimento impõe uma representação de valores e significados que se deslocam da lógica do consumo. Por outro lado, entrecruza-se por outras rotas de intencionalidades (geração de renda, valorização das tradições rurais, produção associada ao turismo, revitalização das festas religiosas etc.) que convergem emaranhadas de sentidos, os quais expressam caminhos e intersecções entre o “eu sou”, de “onde vim” e “quem somos”.

As cartucheiras buscam a manutenção desse saber-fazer, mas, dentro das relações constituídas, entendem, conscientes ou não, a existência de exigências internas e externas atribuídas ao artefato no plano dos “condicionamentos” estéticos e de consumo. Nesse sentido, personagens infantis, como a Elsa, da Disney, foram utilizados na decoração dos cartuchos. Se no passado sua beleza atraía os frequentadores das festas, agora precisa trazer elementos da cultura de massa para que desperte interesse das crianças por ele.

As identidades do sujeito pós-moderno são mais provisórias, formadas e transformadas continuamente (HALL, 2006HALL, Stuart. Identidades culturais na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro: Editora DP&A, 2006.). O processo de globalização fez com que eventos ocorridos em um determinado lugar impactassem pessoas situadas em lugares distantes, e a vida social passou a ser mediada por estilos e imagens do mercado global (HALL, 2006HALL, Stuart. Identidades culturais na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro: Editora DP&A, 2006.). Nesse sentido, os cartuchos decorados com personagens da Disney se apresentam como uma adaptação-resistência, um desafio às cartucheiras diante das mudanças nos conceitos de sujeito e identidade. O desafio implicado pelos deslocamentos de ordem representativa traz consigo outras definições de padrões simbólicos e modos de proceder, mas traz consigo também as possibilidades de manutenção do artefato.

Quanto mais expostas às influências externas – aos estilos e imagens apresentados pelo mercado global –, mais difícil manter as identidades vinculadas aos lugares, sua história e suas tradições (HALL, 2006HALL, Stuart. Identidades culturais na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro: Editora DP&A, 2006.). Entretanto, há uma mudança na compreensão sobre o local, não mais enraizado, mas atuando no interior da lógica da globalização, produzindo novas identificações locais (HALL, 2006HALL, Stuart. Identidades culturais na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro: Editora DP&A, 2006.). Essa tensão entre o global e o local é que provoca a transformação das identidades, fazendo surgir identidades híbridas (HALL, 2006HALL, Stuart. Identidades culturais na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro: Editora DP&A, 2006.).

Da perspectiva de Hall (2006)HALL, Stuart. Identidades culturais na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro: Editora DP&A, 2006., a globalização provoca deslocamentos no interior das identidades culturais locais, que vão se reorganizando em função desses encontros e desencontros, para que outras formas de compreensão dos sujeitos, objetos e da cultura se estabeleçam. A estratégia de ressignificação do cartucho por meio da inserção de elementos externos é resultado dessa tensão entre a cultura local e as influências exógenas, com vistas à sua manutenção.

Outra estratégia de ressignificação foi observada na festa de São Benedito, promovida pela paróquia de São Benedito, no bairro Varginha, em Itajubá. Em visita à festa em outubro de 2016, foram encontrados diversos cartuchos compondo cestas de produtos oferecidos como prenda no bingo do evento. O bingo também pode ser entendido como uma ressignificação do leilão.

Se, por um lado, as cartucheiras permanecem no resistir do saber e do fazer da prática do cartucho de doces, carregando um conjunto de dimensões socioculturais dispostos na realidade local, por outro lado, criam táticas de permanência diante dos “condicionantes” das sociedades tecnológicas e informacionais de nosso tempo. Vivo na forma de arte e estética, o artefato é meio para promoção da união do indivíduo com o todo (FISCHER, 1983FISCHER, Ernst. A necessidade da arte. 9. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.), visto que propicia a capacidade para a associação e contribui para aglutinar expressões coletivas, de caráter regional e princípios geradores de identidade.

Na XII Festa do Maior Pé-de-Moleque do Mundo5 5 Evento realizado para celebrar o pé-de-moleque, patrimônio cultural imaterial do estado de Minas Gerais a partir da Lei n. 18.057, de 1º de abril de 2009. Em 2017, o doce foi medido e auditado, alcançando o título de maior pé-de-moleque do Brasil, com 22 metros. O título “maior pé-de-moleque do mundo” foi dado simbolicamente ao doce e à festa. , realizada em junho de 2017, em Piranguinho, foi possível observar alguns cartuchos à venda, na garagem de uma moradora da cidade. Os cartuchos eram produzidos por ela mesma e estavam expostos em varais, no alto da garagem, e vendidos a R$ 20,00 (vinte reais), conforme Figura 3.

Figura 3
Cartuchos expostos para venda na festa de Piranguinho

O cartucho pode ser uma fonte de geração de renda para mulheres e para famílias, seja de forma mais permanente, seja em períodos de festas. A venda dos cartuchos, em substituição ao leilão ou ao bingo, é uma ressignificação deste artefato. Ele perde mais uma vez o seu lugar de notoriedade e passa a disputar a atenção com outros objetos de consumo.

Para além das questões de geração de renda, a técnica do saber e do fazer descrito pelas cartucheiras¸ na prática, demonstra que a forma, o material e os tipos de corte para confecção do artefato eram os mesmos relatados nos registros formais e informais encontrados nas pesquisas prévias: papel de seda ou crepons coloridos e cortes e recortes diversificados.

Do ponto de vista da renda, o valor recebido pela produção do cartucho se diferencia no tempo e lugar. A matéria de Lemes (2004)LEMES, Vanderléa. Cidade mantém tradição dos cartuchos de doces. Primeira Página, Pouso Alegre, nov. 2004. Disponível em http://mentorweb.univas.edu.br/univas/primeirapagina/novembro_2004/6_novembro_2004.pdf. Acesso em: 7 ago. 2016.
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, feita em São Sebastião da Bela Vista, informava que a confecção do cartucho custava em torno de R$ 1,50 (um real e cinquenta centavos), naquele ano, enquanto era leiloado por lances que chegavam a R$ 30,00 (trinta reais) ou mais. Nesta mesma fonte, constava a informação de que a cartucheira recebia pela confecção do cartucho, mas não dependia da renda advinda deste trabalho, pois eram feitos pedidos apenas nos períodos de festas, encomendas que vinham de cidades vizinhas como São Gonçalo do Sapucaí, Careaçu e Silvianópolis.

Conceição, cartucheira de Cristina, além de ajudar na produção dos cartuchos, é também a responsável pela produção dos doces para recheá-los. Ela informou que os cartuchos não são pagos, mas ela recebe pela produção dos doces. A condição é semelhante ao relato de Fátima, que contou que o material necessário era fornecido pela igreja e por festeiros à sua mãe. Entretanto, a decoração do andor do menino Jesus ela fazia com seus próprios recursos e não aceitava receber por isso, pois fazia por devoção.

Em São José do Alegre, a Festa de São José se tornou um grande evento em torno do cartucho. Entre as muitas prendas que são disputadas no bingo, temos o cartucho (convencional) e o cartuchão. O município conseguiu o reconhecimento do artefato como de interesse cultural para o estado de Minas Gerais, publicado em 20 de dezembro de 2019 (MINAS GERAIS, 2019MINAS GERAIS (Estado). Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Reconhece como de relevante interesse cultural do Estado o cartucho de doce confeccionado no Município de São José do Alegre. Belo Horizonte, MG, 2019.).

Há uma demanda pelo desenvolvimento e fortalecimento de uma identidade nacional a partir dos objetos que manufaturamos, como possibilidade de valorizar nossa cultura, potencializando o valor da história de nosso povo, do povo brasileiro presente nesses artefatos (MAZZA; IPIRANGA; FREITAS, 2007MAZZA, Adriana Carla Avelino; IPIRANGA, Ana Sílvia Rocha; FREITAS, Ana Augusta Ferreira de. O design, a arte e o artesanato deslocando o centro. Cadernos EBAPE.BR, São Paulo, v. 5, n. 4, p. 1-11, dez. 2007.).

Implicados no empenho da confecção do cartucho, assomam-se processos simbólicos que demonstram permanências e transformações ocorridas nos espaços de circulação do artefato. Na fala das cartucheiras, acrescenta-se o lamento de não existirem tantos cartuchos como no passado, mas não foi raro ouvir falar deles nos lugares que visitamos, especialmente nos pequenos municípios do Sul de Minas Gerais.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS DE UMA HISTÓRIA QUE NÃO TERMINOU

Por se tratar de pesquisa qualitativa, esta pesquisa não pretende generalizar conclusões. A história contada é parte de uma história do cartucho de doces do Sul de Minas a partir das aproximações entre o levantamento bibliográfico e as conversas indicadas no texto. Essa aproximação indicou que os cartuchos de doces do Sul de Minas trazem consigo, além das questões da sociabilidade, um processo de fortalecimento da identidade e das identificações com o local.

Os relatos mostraram que o processo de produção é um momento coletivo prazeroso, em que essas mulheres conversam e trocam experiências de vida. É também um momento de valorização delas e de seus saberes, quando o convite para a produção indica o reconhecimento da comunidade local sobre a qualidade de seu trabalho.

Para garantir a sua manutenção, as cartucheiras traçam novas estratégias, como a realização de oficinas ou a adaptação do artefato. Esta perspectiva evidenciou a persistência das cartucheiras no resguardo do saber e do fazer do cartucho e possibilitou enfatizar alguns elementos culturais que se relacionem com o desenvolvimento local – revelando significados e significações do artefato, para além do alcance das histórias e das experiências individuais e coletivas a ele vinculadas.

Não foram encontrados registros nas bases de dados investigadas sobre a presença do cartucho de doces em outras festas para além de Minas Gerais, à exceção de algumas cidades de São Paulo que fazem divisa com o Sul de Minas (Aparecida e São João da Boa Vista, por exemplo). Há indícios de que a origem do cartucho de doces seja portuguesa, nas festas religiosas rurais, mas a comprovação e correlações merecem estudos futuros.

No convívio com as cartucheiras, as histórias, lembranças, relatos e “causos” em torno do cartucho de doces foram sendo apresentados. Nos diálogos – cartucheiras, suas filhas e netas – tinham prazer em contar suas experiências com o artefato e manifestar os esforços para manter vivo o saber-fazer das cartucheiras e do cartucho, tanto para evitar o apagamento cultural dessas práticas, pautadas na oralidade, quanto nas adaptações na estética e performance do objeto para atrair crianças e jovens.

Desses esforços, destaca-se a valorização dos materiais e da forma de fazer o cartucho: o cone, o papel de seda ou crepom, o papel celofane no interior, os plissados e as tentativas de recuperação desse saber. No que se refere à exposição e venda, os esforços também são relacionados com o processo de ressignificação do lugar: de símbolo central nas festas, objeto de cobiça, posiciona-se como complemento em cestas de bingo, produto comercializado em barraca ou objeto de decoração.

Em resposta à pergunta e objetivo formulados, esta pesquisa trouxe subsídios, no campo das políticas culturais, para o fortalecimento de relações coletivas e solidárias que possam estabelecer a noção de pertencimento e de reconhecimento, as quais consolidem identidades e permitam o surgimento de potenciais projetos para geração de renda ou de atrativos, da perspectiva do desenvolvimento local.

Ressalta-se que, diferentemente do cartucho ou cone de amêndoas ou amendoim presentes em festas de outras regiões de Minas Gerais e do Brasil, os cartuchos de doces das festas do Sul de Minas parecem ser produção feminina, o que abre outras frentes de investigações sobre emancipação, autonomia econômica, sociabilidades e tecnologias, em duas frentes de preocupações: (a) economia feminina e (b) pequenos municípios do interior do país.

Como limite desta pesquisa, destaca-se o baixo número de cartucheiras com as quais foi possível estabelecer diálogo. Espera-se que esta primeira “contação” abra caminhos para acessar outras e novas histórias com diferentes mulheres cartucheiras do Sul de Minas.

Para finalizar essa história que não terminou, o levantamento indicou que essas cartucheiras são detentoras e guardiãs desse saber e garantiram a permanência, adaptação e valorização dessa prática. Essa prática de mulheres é um exemplo de experiência concreta da cultura local/regional, que, quando investigada mais a fundo, pode contribuir para caracterizar o Sul de Minas como um território.

  • 1
    Agradecimentos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), pelo apoio a esta pesquisa.
  • 4
    A página foi retirada do ar após a submissão desse artigo. O documento foi hospedado na página do grupo de pesquisa. Para acesso ver Siqueira (2007)SIQUEIRA, Ana Benedicta. A magia dos cartuchos de festas. Portal Piranguçu, Piranguçu, 12 jun. 2007. Disponível em: https://url.gratis/Q4cHDE. Acesso em: 1º jul. 2016.
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  • 5
    Evento realizado para celebrar o pé-de-moleque, patrimônio cultural imaterial do estado de Minas Gerais a partir da Lei n. 18.057, de 1º de abril de 2009. Em 2017, o doce foi medido e auditado, alcançando o título de maior pé-de-moleque do Brasil, com 22 metros. O título “maior pé-de-moleque do mundo” foi dado simbolicamente ao doce e à festa.

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  • AYALA, Maria Ignez Novais. Algumas reflexões sobre formação de pesquisadores, documentação e procedimentos metodológicos. In: AYALA, Maria Ignez Novais; AYALA, Marcos (Org.). Metodologia para as pesquisas em culturas populares: uma experiência vivenciada. [S.l]: Editora Edson Soares Martins, 2015b. p. 25-37.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Dez 2021
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2021

Histórico

  • Recebido
    22 Jan 2020
  • Revisado
    17 Jul 2020
  • Aceito
    04 Set 2020
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