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História dos animais: uma entrevista com a professora Harriet Ritvo

Resumo

Na década de 1980 começou a surgir um novo campo nos estudos históricos, a história dos animais, ou, mais especificamente, a história das relações entre os seres humanos e os animais. Harriet Ritvo – eminente historiadora norte-americana e professora emérita do Massachusetts Institute of Technology – é pioneira nessa área. Sua carreira tem sido dedicada à pesquisa, à escrita, ao ensino e à apresentação de palestras sobre o assunto. Nesta entrevista, Ritvo fala sobre aspectos de sua trajetória acadêmica e também sobre importantes questões da história dos animais, tais como as interações dessa área com outros campos nos quais ela também atua: história ambiental, história da ciência e história da tecnologia.

Harriet Ritvo (1946; história dos animais; história ambiental; história da ciência e da tecnologia; Massachusetts Institute of Technology (MIT

Abstract

It was in the 1980s that a new field in historical studies began to emerge, the animal history, or more specifically the history of human-animal relations. Harriet Ritvo – an eminent American historian and Emeritus Professor at Massachusetts Institute of Technology – is a pioneer in this field. Her career has been dedicated, among other activities, to researching, writing, teaching and lecturing on the subject. In this interview, Professor Ritvo talks about aspects of her academic trajectory, as well as important features of animal history, such as interactions between this area and other fields in which she also works: environmental history, the history of science and the history of technology.

Harriet Ritvo (1946; animal history; environmental history; history of science and technology; Massachusetts Institute of Technology (MIT

A história dos animais, ou, mais especificamente, a história das relações entre os seres humanos e os animais, é atualmente um importante e profícuo campo dos estudos históricos. Esse campo, que começou a emergir na década de 1980, não pode ser pensado, discutido, ensinado ou pesquisado sem que se inclua o nome da eminente historiadora Harriet Ritvo, professora emérita de história, cátedra Arthur J. Conner, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (Massachusetts Institute of Technology, MIT). A professora Ritvo é uma autoridade internacionalmente reconhecida no assunto e pioneira nesse campo de pesquisa.

Figura 1
Professora Harriet Ritvo (Foto: Cortesia de Harriet Ritvo)

Inicialmente interessada em literatura inglesa, história e biologia, a professora Harriet Ritvo completou seus estudos de graduação e pós-graduação na Harvard University, incluindo um período, durante sua formação, no Girton College, Cambridge University.

Começou sua carreira docente como professora bolsista de história e literatura e de inglês na Harvard University; e também como professora assistente de inglês na University of Massachusetts, Boston. Em 1979, ingressou no MIT como professora assistente. Entre 1980 e 1995, trabalhou inicialmente como professora adjunta e, depois, como professora titular. Desde 1995, é professora de história na cátedra Arthur J. Conner, no MIT. Atua como docente associada no Centro para Estudos Europeus (Center for European Studies) e no Centro para História e Economia (Center for History and Economics), Harvard University, desde 2008 e 2010 respectivamente. Em 2017, paralelamente ao trabalho no MIT, tornou-se professora associada do Departamento de História da Ciência (History of Science Department) da mesma universidade.

Ao longo da sua profícua carreira, Harriet Ritvo tem atuado como docente, pesquisadora, palestrante e escritora nos campos da história dos animais, história da história natural, história britânica e história ambiental. Em 2020, recebeu o prêmio de Distinção Acadêmica (Distinguished Scholar Award) oferecido pela Sociedade Americana de História Ambiental (American Society for Environmental History).

No MIT, ministra, entre outros, os cursos “Pessoas e outros animais” (People and other animals) e “Natureza, meio ambiente e império” (Nature, environment, and empire). Ocupou importantes postos administrativos no MIT, como os de diretora associada da Escola de Humanidades e Ciências Sociais (School of Humanities and Social Sciences) e chefe do Corpo Docente de História (History Faculty). Além disso, foi presidente da Sociedade Americana para História Ambiental (American Society for Environmental History) (2009-2011), e, desde 2006, integra o Conselho de Curadores do Centro Nacional de Humanidades (Board of Trustees of the National Humanities Center).

A par do seu trabalho no MIT, tem atuado como pesquisadora e professora visitante em importantes universidades e centros de pesquisa nos Estados Unidos, no Reino Unido, na Alemanha e na Austrália. Também participou de dezenas de conferências e seminários em prestigiosas instituições em todo o mundo.

Sua produção acadêmica é extensa e muito importante. Em 1991, com Jonathan Arac,1 1 Jonathan Arac ocupa a cátedra Professor Andrew W. Mellon de inglês na University of Pittsburgh e diretor fundador do Humanities Center na mesma universidade. Harriet Ritvo organizou o livro The macropolitics of nineteenth-century literature: nationalism, exoticism, imperialism (Arac, Ritvo, 1991). Alguns anos depois, para a Johns Hopkins University Press, editou The variation of animals and plants under domestication, de Charles Darwin (1998)DARWIN, Charles. Edited by Harriet Ritvo. The variation of animals and plants under domestication. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1998.. Na área da história ambiental, teve artigos publicados em renomadas revistas científicas e, em 2009, publicou o livro The dawn of green: Manchester, Thirlmere, and modern environmentalism (Ritvo, 2009RITVO, Harriet. The dawn of green: Manchester, Thirlmere, and modern environmentalism. Chicago: The University of Chicago Press, 2009.).

Harriet Ritvo é autora de mais de 150 trabalhos acadêmicos, incluindo livros, artigos, verbetes de enciclopédias, capítulos de livros e resenhas de livros, e uma parte expressiva dessas publicações tem como foco a história das relações entre humanos e animais. Um de seus ensaios mais recentes se intitula “The domestic stain, or maintaining standards” (Ritvo, 2017). Em 2018, contribuiu com o compêndio Critical terms for animal studies, organizado por Lori Gruen (2018)GRUEN, Lori (ed.). Critical terms for animal studies. Chicago: The University of Chicago Press, 2018., discutindo o conceito de “espécie” (Ritvo, 2018RITVO, Harriet. Species. In: Gruen, Lori (ed.) Critical terms for animal studies. Chicago: The University of Chicago Press, 2018. p.383-394.).

Alguns de seus artigos foram reunidos e publicados no livro Noble cows and hybrid zebras: essays on animals and history (Ritvo, 2010RITVO, Harriet. Noble cows and hybrid zebras: essays on animals and history. Charlottesville: University of Virginia Press, 2010.). Em 1997, de uma perspectiva em que aborda a história dos animais e a história da ciência, publicou um sofisticado estudo intitulado The platypus and the mermaid and other figments of the classifying imagination (Ritvo, 1997RITVO, Harriet. The platypus and the mermaid and other figments of the classifying imagination. Cambridge: Harvard University Press, 1997.).

No final da década de 1980, Harriet Ritvo publicou seu primeiro livro, The animal estate: the English and other creatures in the Victorian Age (Ritvo, 1987RITVO, Harriet. The animal estate: the English and other creatures in the Victorian Age. Cambridge: Harvard University Press, 1987.). Nesta entrevista, ela fala sobre esse livro premiado e outras publicações, revela aspectos interessantes da sua carreira acadêmica e destaca importantes questões na história dos animais. Ao ler seus escritos, podemos pensar sobre as interações entre essa área e três outras, com as quais ela também trabalha: história ambiental, história da ciência e história da tecnologia. Somos muito gratos à professora Harriet Ritvo por aceitar nosso convite para colaborar com este número especial sobre a história dos animais.

Professora Ritvo, a senhora fez graduação e pós-graduação na Harvard University. Poderia nos dizer algo sobre sua formação acadêmica? Quando e por que a senhora decidiu estudar a história das relações entre humanos e animais?

Na verdade, nunca estudei formalmente a história das relações entre humanos e animais, por vários motivos. Um deles foi que terminei a graduação e a pós-graduação antes de essa área ter sido reconhecida como um tema acadêmico, e a institucionalização da área em cursos e programas na universidade veio ainda mais tarde. Além disso, quando eu era estudante, minha área de concentração foi literatura inglesa, embora eu também estivesse interessada em história e biologia. Minha tese teve como foco o papel do meio rural nos romances do século XIX. Comecei a escrever como historiadora somente após ingressar no MIT como docente.

Como pioneira no campo da história das relações entre humanos e animais, quais foram os desafios que enfrentou no início? Como o mundo acadêmico via esse tema quando a senhora começou a sua pesquisa?

Quando comecei a trabalhar nessa área, para muitas pessoas no mundo acadêmico, os animais não pareciam ser temas adequados para uma pesquisa histórica séria. Em uma das primeiras palestras para as quais fui convidada a falar sobre o trabalho que depois se tornaria The animal estate (Ritvo, 1987RITVO, Harriet. The animal estate: the English and other creatures in the Victorian Age. Cambridge: Harvard University Press, 1987.) – no Departamento de Humanidades de uma das universidades da Ivy League –, minha exposição foi apresentada com a seguinte afirmativa: “Muitas coisas estranhas têm surgido ultimamente na área de humanidades, mas essa é a mais estranha de todas”. Por sorte, Keith Thomas (1971)THOMAS, Keith. Religion and the decline of magic: studies in popular beliefs in sixteenth- and seventeenth-century England. London: Weidenfeld and Nicolson, 1971; New York: Scribner, 1971., um eminente historiador britânico que havia escrito uma obra magistral sobre religião no início da Idade Moderna (um tópico impecavelmente sério), publicou, em 1983, o livro Man and the natural world, que trata do tema de plantas e animais no mesmo período (Thomas, 1983THOMAS, Keith. Man and the natural world: changing attitudes in England, 1500-1800. London: Allen Lane, 1983.). Assim, gradualmente, o ceticismo sobre o assunto diminuiu, mas eu não afirmaria que tenha desaparecido por completo até hoje.

Embora naquela época não houvesse, infelizmente, oportunidade para o tipo de intercâmbio entre historiadores das relações entre humanos e animais que são rotineiros na atualidade, essa ausência teve um benefício imprevisível. O interesse em tópicos similares estava emergindo em outros campos, e, assim, conferências e oficinas propiciavam o encontro de uma variedade de estudiosos, incluindo antropólogos físicos, veterinários, sociólogos e zoólogos, além de alguns humanistas. Tais intercâmbios se tornaram menos frequentes à medida que surgiu uma massa crítica de estudiosos no âmbito de disciplinas individuais.

A senhora iniciou a carreira de docente em 1971 como professora bolsista na Harvard University e, desde 1979, trabalha no MIT. Pode contar algo sobre essas experiências e, especialmente, sobre ser historiadora e professora de história em um instituto de tecnologia como o MIT?

Estudantes de graduação em Harvard e no MIT são, ao mesmo tempo, muito parecidos e muito diferentes. De uma perspectiva de professora, a semelhança mais notável é que são muito inteligentes e (em sua maioria) muito disciplinados. Suas orientações intelectuais são diferentes – os alunos do MIT tendem a ser mais matemáticos, e os de Harvard tendem a ser mais verbais, embora a sobreposição seja muito maior do que os estereótipos possam sugerir. Também há diferenças no modo como lidam com as aulas. Na primeira aula que dei no MIT, fiquei surpresa quando vários alunos levantaram a mão para perguntar o significado de uma palavra que eu havia acabado de usar. Em dez anos como estudante de graduação e pós-graduação em Harvard, eu nunca ouvi um estudante admitir a necessidade daquele tipo de informação; talvez os alunos do MIT tenham uma abordagem mais pragmática da experiência na sala de aula.

A preponderância das disciplinas de ciência e engenharia no MIT o torna um ambiente acadêmico incomum para historiadores, mas há apoio e estímulo. Embora os estudantes de graduação usualmente não entrem no MIT com a intenção de cursar humanidades, alguns acabam por escolher história ou música ou literatura como área de concentração, seja como complementação à formação em uma disciplina de ciência ou engenharia, seja por terem, tardiamente, mudado de ideia sobre o foco acadêmico desejado. Além disso, o MIT requer de todos os alunos de graduação que escolham cerca de 25% das suas matérias dentre uma ampla gama de disciplinas de humanidades, artes e ciências sociais, o que sinaliza a importância dada pela universidade ao estudo desses temas.

Grande parte da minha docência no MIT tem sido no programa de pós-graduação denominado pela sigla HASTS (História, Antropologia, e Ciência, Tecnologia e Sociedade, na sigla em inglês), que matricula quatro ou cinco excelentes alunos por ano. Trabalhar com esses alunos tem sido extremamente gratificante. A característica especial do programa é a abrangência interdisciplinar, mas sua estrutura é semelhante a programas equivalentes em outras universidades. Por exemplo, há fortes conexões com o Departamento de História da Ciência da Harvard University, com fácil intercâmbio entre as instituições.

Poderia nos falar sobre seus cursos “Pessoas e outros animais” e “Natureza, ambiente e império”? Quais são os objetivos e os tópicos abordados em cada um deles? Qual é o perfil dos estudantes inscritos nesses cursos?

O curso “Pessoas e outros animais” estuda os modos como os humanos têm interagido com seus parentes animais mais próximos (ou seja, outros vertebrados). Cada unidade foca um tipo específico de interação, incluindo tópicos como caça, domesticação, consumo de carne, zoonoses, experimentos, animais de estimação e exposição em zoológico (o curso é interdisciplinar, listado tanto na antropologia como na história). Além das atividades comuns na sala de aula, cada aluno escreve um relatório sobre uma visita a uma instituição relacionada a animais; a escolha varia de açougues a consultórios veterinários, zoológicos etc. Em grupo, visitamos coleções históricas sobre animais (tanto a exposição ao público quanto a reserva técnica) no Museum of Comparative Zoology da Harvard University.

As turmas são formadas por alunos da graduação e da pós-graduação. Todos os estudantes que se inscrevem nesse curso costumam ter um interesse prévio por animais, e quase todos compartilharam a experiência de ter um animal doméstico em casa. Mas eles podem divergir enormemente com relação a muitas questões filosóficas levantadas pela classe. Sempre houve ao menos alguns vegetarianos e alguns cujas pesquisas envolviam animais vivos. Um ano, na turma havia um ativista do Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais (People for the Ethical Treatment of Animals) e um criador de animais, que tiveram muitos desentendimentos (mas, felizmente, civilizados).2 2 O material das aulas pode ser visualizado e baixado do site do MIT OpenCourseWare. Disponível em: https://ocw.mit.edu/courses/history/21h-380j-people-and-other-animals-fall-2013/. Acesso em: 10 set. 2021.

“Natureza, ambiente e império” é um seminário mais convencional de pós-graduação em história. Com enfoque no século XIX, analisa o relacionamento entre o estudo da história natural, na Europa e no mundo em geral, e expedições e explorações do mundo natural. As leituras incluem fontes primárias, como The voyage of the Beagle, de Charles Darwin (2001)DARWIN, Charles. The voyage of the Beagle. New York: Modern Library, 2001. e Journals, do capitão James Cook (2000)COOK, James. The journals of Captain Cook. New York: Penguin, 2000., além de estudos recentes sobre tópicos que incluem a transferência global de plantas e animais e as interações com povos indígenas. Esse curso também inclui uma visita de campo – ao Peabody Museum of Archaeology and Ethnology de Harvard, para ver parte do material coletado pela Expedição Lewis e Clark, de 1803-1806, que explorou o vasto território adquirido pelos Estados Unidos por meio da “compra da Louisiana”. Os alunos desse curso são originários do programa HASTS, além de outros programas de pós-graduação do MIT e outras universidades da região de Boston.3 3 O material das aulas pode ser visualizado e baixado do site do MIT OpenCourseWare. Disponível em: https://ocw.mit.edu/courses/history/21h-968j-nature-environment-and-empire-spring-2010/. Acesso em: 10 set. 2021.

A senhora tem sido orientadora de pesquisadores e pesquisadoras em história das relações entre humanos e animais. Poderia falar sobre algumas das questões que têm sido pesquisadas nesses estudos? Seus ex-alunos continuam trabalhando nessa área?

Entre os alunos que orientei, vários tiveram suas teses resultantes de pesquisas sobre animais publicadas, como por exemplo: Etienne Benson (2010)BENSON, Etienne. Wired wilderness: technologies of tracking and the making of modern wildlife. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2010., Wired wilderness: technologies of tracking and the making of modern wildlife; Laurel Braitman (2015)BRAITMAN, Laurel. Animal madness: inside their minds. New York: Simon and Schuster, 2015., Animal madness: inside their minds; e Rebecca Woods (2017)WOODS, Rebecca J.H. The herds shot round the world: native breeds and the British Empire, c. 1800-1900. Chapel Hill: The University of North Carolina Press, 2017.The herds shot round the world: native breeds and the British Empire. Várias outras pesquisas estão em andamento, incluindo o trabalho sobre tubarões, de Michaela Thompson; sobre dinossauros, de Alison Laurence; e o de Shira Shmuely, sobre a aplicação da legislação britânica inicial referente à experimentação com animais. A maior parte dos meus ex-alunos, incluindo aqueles de cujas comissões de tese participei, e também meus orientandos, continuaram a trabalhar nas áreas que exploraram inicialmente na pós-graduação.

A senhora tem trabalhado em conselhos editoriais e atuado como editora de coleções para importantes revistas e editores, como Johns Hopkins University Press, Journal of the History of Biology, Journal of International Wildlife Law and Policy, International Review of Environmental History, Society and Animals, Anthrozoös etc. Poderia descrever essa experiência? Qual é a importância dessas publicações para o estudo da história das relações entre humanos e animais?

Como você disse, tenho participado de conselhos editoriais de várias publicações acadêmicas. De modo geral, os membros de conselhos editoriais não são solicitados a fazer muita coisa. Entre as revistas que me solicitam um papel mais ativo no incentivo e na avaliação de submissões na área de história dos animais estão Journal of the History of Biology, Environmental History e Archives of Natural History (publicação da Society for the History of Natural History). Nenhuma dessas publicações se dedica exclusivamente à história dos animais, mas isso torna mais importante o fato de que publiquem trabalhos nessa área, para torná-los disponíveis aos estudiosos com interesses afins.

Sou editora de uma coleção chamada “Animais, história, cultura” (Animals, history, culture), publicada pela Johns Hopkins University Press. As publicações mais recentes tratam da raiva em Nova York no século XIX (Wang, 2019WANG, Jessica. Mad dogs and other New Yorkers: rabies, medicine, and society in an American metropolis, 1840-1920. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2019.) e criação de cães de pedigree na Grã-Bretanha do século XIX (Worboys, Strange, Pemberton, 2018); livros sobre gado nos Estados Unidos e cavalos nas trincheiras durante a Primeira Guerra Mundial estão em fase de produção.

Também sou coeditora, junto com o professor Mart Stewart, da Western Washington University, de outra coleção, “Fluxos, migrações e trocas” (Flows, migrations, and exchanges), publicada pela University of North Carolina Press. Embora seu foco seja história ambiental de modo geral, a coleção inclui livros com temas como ornitólogos na Marinha Britânica (Greer, 2020GREER, Kirsten. Red coats and wild birds: how military ornithologists and migrant birds shaped Empire. Chapel Hill: The University of North Carolina Press, 2020.), sociedades de aclimatização na Austrália (Minard, 2019MINARD, Pete. All things harmless, useful, and ornamental: environmental transformation through species acclimatization, from Colonial Australia to the world. Chapel Hill: The University of North Carolina Press, 2019.) e gado importado no Havaí (Fischer, 2017FISCHER, John Ryan. Cattle colonialism: an environmental history of the conquest of California and Hawai’i. Chapel Hill: The University of North Carolina Press, 2017.).

A senhora publicou artigos, ensaios e resenhas; além disso, escreveu três livros importantes sobre a história das relações entre humanos e animais: The animal estate: the English and other creatures in the Victorian Age (Ritvo, 1987RITVO, Harriet. The animal estate: the English and other creatures in the Victorian Age. Cambridge: Harvard University Press, 1987.), The platypus and the mermaid and other figments of the classifying imagination (Ritvo, 1997RITVO, Harriet. The platypus and the mermaid and other figments of the classifying imagination. Cambridge: Harvard University Press, 1997.), e Noble cows and hybrid zebras: essays on animals and history (Ritvo, 2010RITVO, Harriet. Noble cows and hybrid zebras: essays on animals and history. Charlottesville: University of Virginia Press, 2010.). A senhora poderia tecer comentários sobre esses trabalhos? Seu primeiro livro, The animal estate, foi publicado pela Harvard University Press em 1987. Três anos mais tarde, foi publicado também pela Penguim Books (Ritvo, 1990RITVO, Harriet. The animal estate: the English and other creatures in the Victorian Age. London: Penguin Books, 1990.), e, em 2001, foi traduzido para japonês (Ritvo, 2001RITVO, Harriet. Kaikyū to shitenodōbutsu: vikutoriajidai no eikokujin to doōbutsutachi. Tōkyō: Kokubunsha, 2001.). Também recebeu prêmios e tem sido amplamente citado por outros pesquisadores. Como vê a trajetória desse livro?

Quando escrevi The animal estate, entendia os animais na Grã-Bretanha do século XIX como um tema apropriado para uma monografia histórica, não como pilar de um novo campo de estudo. Como havia poucos colegas fazendo esse tipo de trabalho, conforme já mencionei, eu tinha consciência de que o tema era incomum. E, provavelmente, a ausência de trabalhos afins me estimulou a estudar uma variedade de interações de humanos e animais, incluindo escritos sobre história natural, criação de animais, cuidado de animais de estimação, zoonoses, proteção dos animais e caça, o que deu ao livro uma abrangência muito maior do que a maioria das monografias. O assunto ganhou o interesse de leitores em geral, numa dimensão bastante incomum (de todo modo, mais do que qualquer um dos meus outros trabalhos) – ele foi resenhado em vários jornais e revistas, assim como em periódicos acadêmicos. Deu ensejo a conversas interessantes com os pares e, com certeza, estou satisfeita que continue a ser útil para colegas no campo amplo e vigoroso que agora se formou em torno desse livro.

The platypus and the mermaid teve um foco mais específico, e seu tema tem uma conexão mais próxima com a história da ciência. Explora a taxonomia construída no sentido mais amplo possível para abarcar diversos sistemas de classificação de animais, desde a classificação e nomenclatura zoológica formal, até a apropriação dessa classificação por criadores de animais domesticados, hibridismo e a monstruosidade, a comestibilidade. As pessoas que trabalhavam com animais em currais e menageries, ou com seus restos em abatedouros e museus, entendiam seus relacionamentos diferentemente dos cientistas que produziam sistemas zoológicos. Como esses entendimentos não eram mutuamente consistentes, eles baseavam-se em definições conflitantes de especialidades e reconhecimentos de autoridade, um tópico que parece inesperadamente atual no contexto dos debates sobre a pandemia em curso.

Figura 2
Capa do livro The animal estate: the English and other creatures in the Victorian Age (Ritvo, 1987RITVO, Harriet. The animal estate: the English and other creatures in the Victorian Age. Cambridge: Harvard University Press, 1987.)

Continuei a explorar tópicos da história das relações entre humanos e animais em contribuições para periódicos científicos e volumes de compilação de ensaios. Tendo em vista a dificuldade de localizar esses textos avulsos, fiquei satisfeita com a oportunidade de reuni-los no livro Noble cows and hybrid zebras: essays on animals and history. Ele contém textos escritos ao longo de várias décadas, alguns são extensões de tópicos mencionados em meus dois primeiros livros, alguns apontam para o projeto do livro no qual estou trabalhando atualmente sobre selvagismo e domesticação, e alguns, como um artigo sobre encefalopatia espongiforme bovina (o mal da vaca louca), são respostas às notícias.

A senhora também tem estudos importantes sobre história ambiental. Nessa área, tem publicado inúmeros artigos e ensaios, ministrado cursos e participado de eventos acadêmicos e científicos. Em 2009, a senhora publicou The dawn of green: Manchester, Thirlmere, and modern environmentalism (Ritvo, 2009RITVO, Harriet. The dawn of green: Manchester, Thirlmere, and modern environmentalism. Chicago: The University of Chicago Press, 2009.). O livro descreve a história da conversão de um lago em um reservatório para a cidade de Manchester no século XIX e os conflitos em torno dessa transformação. Pode nos falar sobre esse livro e seu trabalho com história ambiental? Qual é a proximidade entre as pesquisas sobre história ambiental e história das relações entre humanos e animais? De que modo esses campos de estudo impactam a atividade do historiador e a compreensão da própria história como disciplina?

Embora eu não tenha percebido isso quando comecei a pesquisar a história das relações entre humanos e animais, os animais são um importante componente da história ambiental. É possível que, naquele momento, os historiadores ambientais também não percebessem. Claro que o escopo da história ambiental é potencialmente enorme, porque o meio ambiente se encontra em toda parte fora de nós, e até dentro de nós, se considerarmos nossos microbiomas e nossas ingestões. Atualmente, está entre as disciplinas históricas com mais vitalidade. Para colocar de um modo bastante geral, na década de 1980 a tendência da história ambiental era tratar de questões de regulamentação ambiental, pensamento ambiental e perspectivas de larga escala da paisagem, implícitas em palavras como fronteira, áreas naturais, natureza; na sequência, passou a haver cada vez mais estudos sobre os componentes dessas paisagens, que incluem plantas, solo, rochas e atmosfera, assim como o crescente reconhecimento de que as cidades são espaços tão promissores para a história ambiental quanto as florestas e os campos.

O livro The dawn of green foi resultado indireto dessa compreensão ampliada. Há mais de 20 anos, o chefe do meu departamento no MIT me pediu para desenvolver um estudo de história ambiental na graduação. Ser professora daquela matéria me fez entender que meu trabalho era parte daquele campo de estudo. Ao preparar o programa do curso anualmente, percebi que não havia muitos registros interessantes sobre os conflitos ambientais fora dos Estados Unidos antes do século XX, então decidi eu mesma escrever sobre isso. O episódio que escolhi saltou aos meus olhos quando comecei a procurar. Thirlmere foi o primeiro dos lagos de Lake District a ser represado e convertido em reservatório. Na segunda metade do século XIX, Lake District era bem conhecido como um local de peregrinação para os amantes da natureza do período do romantismo, e, por isso, a proposta de transformação (que foi radical – o nível da água subiu tanto que os impressionantes penhascos ao redor ficaram completamente submersos) provocou indignação nacional e internacional. O debate em torno dessa questão e os resultados que dele emergiram foram precursores do formato de debates semelhantes em muitos lugares e momentos, até o presente.

Existem interesses e preocupações comuns em pesquisas sobre a história das relações entre humanos e animais, a história da ciência e a história da tecnologia. Pode nos dizer algo sobre a importância e os desafios desse diálogo? De que modo as transformações científicas e tecnológicas mudaram o relacionamento entre humanos e outros animais?

Como no caso do relacionamento entre a história dos animais e a história ambiental, existe bastante sobreposição entre a história dos animais e a história da ciência. Obviamente, os animais constituem a maior parte da ciência da biologia (e de sua precursora, a história natural). Zoólogos e etólogos os têm estudado como organismos inteiros, sejam vivos (em seu habitat natural ou em cativeiro), sejam mortos (na mesa de dissecação ou em gavetas de museus). Os animais também têm funcionado como ferramentas experimentais para biólogos e cientistas cognitivos, e essa função tornou-se mais proeminente à medida que a ciência se tornou cada vez mais molecular. Em reconhecimento a essa tendência, atualmente muitas universidades têm dois departamentos de biologia; em Harvard, um é chamado Departamento de Biologia Molecular e Celular (Department of Molecular and Cellular Biology), e o outro, Departamento de Biologia Organísmica e Evolutiva (Department of Organismic and Evolutionary Biology). Claro que os pesquisadores também necessitam de animais vivos. Embora os primeiros sujeitos experimentais não tivessem sido criados especialmente para essa finalidade, de modo crescente os roedores, os peixes-zebra e outros sujeitos experimentais que povoam os laboratórios têm passado por processos de bioengenharia com o uso de tecnologias de ponta. E, embora não fossem usadas como ferramentas no mesmo sentido, as raças de animais de criação, estimação e trabalho que foram selecionadas e “melhoradas” ao longo dos últimos séculos também são produtos de tecnologia. Os animais também foram muito afetados por desenvolvimentos tecnológicos nos quais não estavam diretamente envolvidos, tais como a introdução do motor de combustão interna, que eliminou a necessidade da maior parte dos animais de tração. Apesar dessa importante sobreposição de tópicos, as abordagens de historiadores ambientais podem divergir das abordagens dos historiadores da ciência e da tecnologia. É difícil generalizar sobre essa divergência (e muitos historiadores ambientais, inclusive eu, também são historiadores da ciência ou da tecnologia), mas com frequência está relacionada à intensidade da atenção dedicada à ciência ou à tecnologia propriamente.

Nas últimas décadas, tem havido um aumento significativo do número de programas de estudos sobre animais e grupos de estudos sobre animais. Como a senhora avalia isso? Acredita que iniciativas como essas têm contribuído substancialmente para o avanço da pesquisa sobre a história das relações entre humanos e animais?

A crescente institucionalização dos estudos sobre animais segue o padrão estabelecido por outros campos emergentes. Além de cursos e programas de graduação oferecidos por muitas universidades e faculdades, hoje em dia há sociedades, revistas, coleções editoriais, oficinas e conferências (atualmente virtuais, é claro). O campo dos estudos sobre animais abrange trabalhos em uma gama de disciplinas, que teoricamente incluem a história dos animais, mas cujo centro de gravidade está mais próximo dos estudos literários e culturais e da filosofia. Por exemplo, um compêndio recente, muito útil, Critical terms for animal studies (organizado por Lori Gruen, 2018GRUEN, Lori (ed.). Critical terms for animal studies. Chicago: The University of Chicago Press, 2018.), inclui contribuições de mais de trinta autores. Os filósofos constituem o maior grupo, seguidos de especialistas em estudos literários e culturais, cientistas, antropólogos, cientistas políticos, professores de direito, e apenas uma historiadora (eu). Historiadores são igualmente pouco representados nos programas das conferências trienais Minding Animals, que atrai acadêmicos, profissionais e ativistas do mundo todo. Além disso, os estudos sobre animais têm políticas mais claramente definidas do que a história dos animais. Mas a sobreposição é muito significativa, mesmo que incompleta, e muitos historiadores das relações entre humanos e animais têm se beneficiado da ampla variedade de trabalhos dos estudos sobre animais.

Como a senhora avalia a área da história das relações entre humanos e animais atualmente? Na sua análise, quais regiões do mundo têm maior carência de pesquisa nesse tópico? A senhora teria algum comentário com relação à América Latina?

A história das relações entre humanos e animais (ou história dos animais – tenho usado essas expressões alternadamente por uma questão de eufonia, apesar de não terem exatamente o mesmo significado) é um campo extremamente vigoroso. Inclui trabalhos de quase todas as subdisciplinas da história, da história econômica à história militar, até a história cultural. Sua abrangência geográfica também é ampla, estendendo-se a todos os continentes povoados. Minha impressão é de que, proporcionalmente, tem havido menos estudos com foco na América Latina do que em outros continentes, mas talvez essa impressão reflita o fato de que eu não leio espanhol nem português.

Na sua opinião, de que modo os estudos sobre a história das relações entre humanos e animais podem contribuir para a discussão dos problemas atuais, como a extinção de espécies, pandemias, destruição das florestas e mudanças climáticas?

Para cada um desses grandes problemas atuais mencionados, a história dos animais apresenta preocupantes exemplos do passado, que poderiam servir tanto de alerta quanto de orientação para respostas alternativas. Infelizmente, a história também mostra que tais alertas raramente são observados. Afinal, as causas da extinção do dodô no século XVII eram bem conhecidas na época, mas esse conhecimento não salvou as muitas criaturas que desapareceram no seu rastro. Por certo, isso também se aplica às lições que poderiam ser aprendidas com outras disciplinas históricas; por exemplo, o trabalho de historiadores da medicina sobre epidemias anteriores, incluindo gripe, cólera e peste bubônica, não parece ter tido muita influência nas respostas oficiais à atual pandemia.

A senhora poderia comentar sobre sua pesquisa atual e seus projetos em história das relações entre humanos e animais?

Atualmente estou trabalhando em um livro sobre selvagismo e domesticação, para falar de modo bem geral. Provisoriamente intitulado The edges of wild, esse livro tem como foco os animais que não se encaixam facilmente em nenhuma dessas categorias e sobre o que está em jogo, para humanos e para outros animais, situá-los em uma delas. Embora a compreensão sobre selvagismo e domesticação tenha se alterado ao longo do tempo, a ideia de que são paralelos persistiu ao longo dessas mudanças. Porém, o paralelo entre, por exemplo, espécies selvagens e raças domesticadas está longe de ser completa, como demonstra uma análise do uso feito por Darwin (1859)DARWIN, Charles. On the origin of species by means of natural selection, or the preservation of favoured races in the struggle for life. London: John Murray, 1859., em A origem das espécies, da seleção artificial como análoga à seleção natural. Além disso, como o impacto humano sobre o meio ambiente se tornou crescentemente dominante, a ressonância recíproca dessas categorias se intensificou: o animal selvagem se torna mais atraente à medida que se torna menos disponível. E, como a valência de selvagismo foi alterada, as apostas em torno de sua definição aumentaram, com implicações para empreendimentos variados, tais como criação de animais e conservação ambiental.

REFERENCES

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NOTAS

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Fev 2022
  • Data do Fascículo
    Dez 2021

Histórico

  • Recebido
    27 Fev 2021
  • Aceito
    21 Maio 2021
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