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Escrevendo a história do conhecimento no Brasil

Resumo

O artigo examina contribuições recentes para a história do conhecimento no Brasil, principalmente relacionada à história das ciências. Lança sugestões para o futuro desenvolvimento do campo, destacando diferentes espaços ou locais de conhecimento (colégios e universidades, museus, arquivos, jardins botânicos, observatórios, jornais, fundações, entre outros) que proliferaram particularmente nos últimos duzentos anos.

ciência; universidades; museus; Brasil; história do conhecimento

Abstract

This article surveys recent contributions to the history of knowledge in Brazil, mainly concerned with the history of the sciences, and makes some suggestions about the future development of the field, focussing on the different spaces or sites of knowledge (colleges and universities, museums, archives, botanical gardens, observatories, newspapers, foundations and so on) that have proliferated in the last 200 years in particular.

science; universities; museums; Brazil; history of knowledge

Em 2015, o secretário de Ciência e Tecnologia do Brasil descreveu a Semana Nacional dedicada todos os anos a esses temas como um “marco da história do conhecimento brasileiro”.1 1 Citação extraída de <http://snct.mctic.gov.br/semanact/opencms/index.html>. O secretário, sem dúvida, mostrou-se atualizado ao se referir à história do conhecimento, tópico de crescente interesse em países como EUA, Alemanha, França, Grã-Bretanha, entre outros, ampliando-se para além da história da ciência (disciplina introduzida ao mundo acadêmico há cerca de um século), e também da história intelectual. Poderíamos falar inclusive em uma recente “virada cognitiva” na história da escrita histórica, assim como na história da psicologia ou de estudos literários (Ty, 2010TY, Michelle. On the cognitive turn in literary studies. Qui Parle, v.19, n.1, p.205-219. 2010.).

A história do conhecimento difere da história da “ciência” (conceito ocidental do século XIX) por incluir mais tipos de conhecimento, entre eles habilidades práticas (“knowhow” ou “conhecimento implícito”). Difere da história intelectual pela ênfase na história das instituições comprometidas com pesquisa e ensino (Burke, 2007BURKE, Peter. La historia intelectual en la era del giro cultural. Prismas: revista de historia intelectual, n.11, p.159-164. 2007.).2 2 Uma versão ampliada pode ser encontrada em Burke (2011).

Em que medida o Brasil participou dessa tendência, ou movimento? Foi publicada uma quantidade considerável de estudos significativos analisando os diferentes aspectos desse extenso tema, sendo os historiadores da ciência mais uma vez os pioneiros.3 3 Peço desculpas se a contribuição de alguém passou despercebida. No entanto, não há, pelo menos até onde sei, nenhuma tentativa de reunir todos esses estudos, a fim de desvendar as conexões entre os avanços em diferentes domínios. Portanto, talvez fosse útil retomar a famosa e ambiciosa questão proposta em 1845 por Carl Friedrich Philipp von Martius: “Como se deve escrever a história do Brasil?” (Martius, 1845MARTIUS, Carl Friedrich Philipp von. Como se deve escrever a história do Brasil. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, v.6, n.24, p.381-403. 1845.). Com um pouco mais de modéstia, poderíamos perguntar, como se deve escrever a história do conhecimento no Brasil?

Ao mesmo tempo que impossível, trata-se de uma tarefa que vale a pena tentar cumprir. É impossível dadas a diversidade de conhecimentos e a necessidade de ter acesso aos cérebros de cada brasileiro ou, pelo menos, a amostras de cada tipo de brasileiro, morto ou vivo. Vale a pena tentar cumpri-la porque o conhecimento é parte essencial de todo tipo de história, seja ela política, econômica e social, bem como intelectual ou cultural. Tentar cumpri-la também é válido, ainda que projetos semelhantes tenham sido experimentados em outros locais, porque a história do conhecimento é necessariamente diferente em cada parte do mundo. Até mesmo em estudos do Brasil, seria no mínimo prudente optar pela forma plural, “histórias” dos “conhecimentos” em vez da singular. Existe, ou pelo menos deveria existir, uma ecologia (incluindo uma ecologia histórica) de conhecimentos, uma vez que diferentes conhecimentos se desenvolvem em e dependem de diferentes nichos em diferentes ambientes (Rosenberg, 1979ROSENBERG, Charles E. Towards an ecology of knowledge. In: Oleson, Alexandra; Voss, John (Ed.) The organization of knowledge in modern America, 1860-1920. Baltimore: Johns Hopkins University Press p.440-455. 1979.).4 4 A afirmação está ficando cada vez mais comum em diferentes contextos, do feminismo à administração.

Este artigo apresenta o esboço de um livro que não estou escrevendo e, na verdade, não sei o suficiente para escrevê-lo, embora eu adorasse ler um estudo sobre esse tópico. Ele oferece uma espécie de dissertação bibliográfica acompanhada de algumas reflexões sobre as diferentes maneiras em que a história do conhecimento poderia ser escrita no caso do Brasil, do período colonial até o momento. No texto a seguir, expresso-me na primeira pessoa do plural, supondo que alguns acadêmicos em breve se interessarão, se é que já não estão interessados, por essa iniciativa coletiva, optando por nela ingressar individualmente, em equipes ou em grupos informais.

Para começar, façamos a pergunta inevitável. O que é conhecimento? Seria útil fazer uma distinção entre informação (que é relativamente “crua”) e “conhecimento” (que foi processado ou “cozido” no sentido de ter sido avaliado, classificado, e assim por diante) (Burke, 2000BURKE, Peter Introduction. In: Burke, Peter. A social history of knowledge from Gutenberg to Diderot. Cambridge: Polity Press, p. 9-24. 2000. [Edição brasileira: Uma história social do conhecimento. Rio de Janeiro: Zahar. 2003.]). Por outro lado, para os historiadores, assim como para os sociólogos ou antropólogos, não há utilidade em fazer distinção entre conhecimento e crença. Também tenho minhas dúvidas se seria produtivo na prática fazer distinção entre “saber”, termo por vezes empregado em contextos históricos, e “conhecimento” (Horta, Petter, 2002HORTA, José Nunes; PETTER, Margarida. História do saber lexical brasileiro. São Paulo: Humanitas. 2002.; Schneider, 2013SCHNEIDER, João Ricardo. Breve história do conhecimento. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=W4Z-s6yIIKk>. Acesso em: 26 fev. 2018. 2013.
https://www.youtube.com/watch?v=W4Z-s6yI...
).

O cenário hoje

O que já foi feito até agora? Muito se publicou nos últimos trinta ou quarenta anos sobre a história da ciência no Brasil, incluindo grandes volumes produzidos coletivamente, sobretudo por acadêmicos brasileiros, mas incorporando algumas contribuições estrangeiras também (Ferri, Motoyama, 1979-1980FERRI, Maria Guimarães; MOTOYAMA, Shozo (Ed.). História das ciências no Brasil. 3 v. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. 1979-1980.; Dantes, 2001aDANTES, Maria Amélia (Ed.). Espaços de ciência no Brasil, 1800-1930. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz. 2001a.; Motoyama et al., 2004MOTOYAMA, Shozo et al. Prelúdio para uma história: ciência e tecnologia no Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. 2004.).5 5 Para um manual crítico do que já foi publicado, ver Kropf e Hochman (2011). As publicações se concentram na história da medicina, sem dúvida porque os avanços brasileiros são particularmente notáveis nesse campo, sobretudo a partir de Oswaldo Cruz (Stepan, 1976STEPAN, Nancy. Beginnings of Brazilian science: Oswaldo Cruz, medical research and policy, 1890-1920. New York: Science History Publications. 1976.; Benchimol, 1999BENCHIMOL, Jaime Larry. Dos micróbios aos mosquitos: febre amarela e revolução pasteuriana no Brasil. Rio de Janeiro:. Editora Fiocruz. 1999.; Peard, 1999PEARD, Julyan. Race, place and medicine: the idea of the tropics in 19th century Brazilian medicine. Durham: Duke University Press. 1999.). Como sugerem seus títulos, muitos desses estudos tratam da história das instituições, assim como da história das ideias (Carvalho, 1978CARVALHO, José Murilo de. A Escola de Minas de Ouro Preto. Rio de Janeiro: Companhia Editora Nacional. 1978.; Dantes, 1980DANTES, Maria Amélia. Institutos de pesquisa científica no Brasil. In: Ferri, Mário Guimarães; Motoyama, Shozo. História das ciências no Brasil. v. 2. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. 1980.; Schartzman, 1991SCHWARTZMAN, Simon. A space for science: the development of the scientific community in Brazil. University Park PA: Pennsylvania State University Press. 1991.; Benchimol, Teixeira, 1993BENCHIMOL, Jaime Larry; TEIXEIRA, Luiz A. Cobras, largartos e outros bichos: uma história comparada dos institutos Oswaldo Cruz e Butantan. Rio de Janeiro: Editora UFRJ. 1993.; Lopes, 1997LOPES, Maria Margaret. O Brasil descobre a pesquisa científica: os museus e as ciências naturais no século XIX. São Paulo: Editora Hucitec. 1997.; Figueirôa, 1997FIGUEIRÔA, Silvia Fernanda de Mendonça. As ciências geológicas no Brasil: uma história social e institucional, 1875-1934. São Paulo: Editora Hucitec. 1997.; Dantes, 2001bDANTES, Maria Amélia. Introdução: uma história institucional das ciências no Brasil. In: Dantes, Maria Amélia (Org.). Espaços da ciência no Brasil, 1800-1930. p.13-22. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz. 2001b.; Sá, 2006SÁ, Dominichi Miranda de. A ciência como profissão: médicos, bacharéis e cientistas no Brasil, 1895-1935. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz. 2006.). A maioria está relacionada aos séculos XIX e XX. Há um número relativamente pequeno de publicações sobre a história da ciência no período colonial.6 6 Exceção feita, por exemplo, a Prestes (2000). Cf. Motoyama (2004).

A história das ciências sociais no Brasil está defasada em relação à história das ciências naturais. Algumas publicações dizem respeito à história da sociologia, ciência política, antropologia, geografia e à história propriamente dita (Fernandes, 1958FERNANDES, Florestan. A etnologia e a sociologia no Brasil. São Paulo: Editora Anhambi. 1958.; Miceli, 1989MICELI, Sérgio (Ed.). História das ciências sociais no Brasil. São Paulo: Vértice. 1989.; Forjaz, 1997FORJAZ, Maria Cecília Spina. A emergência da ciência política acadêmica no Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v.12, n.35, s.p. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0102-69091997000300007>. Acesso em: 26 fev. 2018. 1997.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-69091997...
; Salzano, 2009SALZANO, Francisco M. A antropologia no Brasil: é a interdisciplinariadade possível? Amazônica, v.1, n.1, s.p. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.18542/amazonica.v1i1.133>. Acesso em: 28 fev. 2018. 2009.
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; Guimarães, 1994GUIMARÃES, Lúcia Maria P. Debaixo da imediata proteção imperial: Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838-1889). Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia. São Paulo. 1994..7 7 Para uma abordagem mais tradicional da historiografia, ver Rodrigues (1979). Como era de esperar, considerando o elevado status desse tipo social, foram publicados diversos estudos sobre intelectuais brasileiros, um deles estendendo-se a sete volumes (Martins, 1977-1979MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira. 7 v. São Paulo: Editora Cultrix. 1977-1979.; Miceli, 2001MICELI, Sérgio. Intelectuais à brasileira. São Paulo: Companhia das Letras. 2001.; Souza, 2008SOUZA, Laura de Mello e. Brasil: literatura y “intelectuales” en el periodo colonial. In: Myers, Jorge (Ed.). La ciudad letrada: historia de las intelectuales en América Latina. Buenos Aires: Katz. 2008.). Existe uma tradição de livros sobre a história do livro, aliada a algumas publicações recentes sobre a história do jornalismo (Sodré, 1966SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. São Paulo: Civilização Brasileira. 1966.; Hallewell, 1982HALLEWELL, Laurence. Books in Brazil. Metuchen: The Scarecrow Press. 1982.; Deaecto, 2011DEAECTO, Marisa Midori. O Império dos livros. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. 2011.; Ribeiro, 2000RIBEIRO, Lavina Madeira. Imprensa e espaço público, 1808-1964. Rio de Janeiro: E-papers. 2000.; Romancini, Lago, 2007ROMANCINI, Richard; LAGO, Cláudia. História do Jornalismo no Brasil. Florianópolis: Editora Insular. 2007.; Molina, 2015MOLINA, Matías M. História dos jornais no Brasil, v.1: 1500-1840. São Paulo: Companhia das Letras. 2015.). Há ainda algumas dezenas de estudos sobre a história do rádio e da televisão, porém, salvo raras exceções, esses estudos dedicam atenção relativamente pequena ao uso da mídia como disseminadora de informação ou conhecimento (Ortriwano, 1985ORTRIWANO, Gisela S. A informação no rádio. São Paulo: Summus Editorial. 1985.).

Importante citar aqui duas imensas lacunas: estudos sobre o conhecimento indígena e, em menor escala, estudos sobre as universidades. Os conhecimentos indígenas têm atraído cada vez mais a atenção de antropólogos, além de geógrafos e economistas, porém não de historiadores (Voeks, 2007VOEKS, Robert A. Are women reservoirs of traditional plant knowledge? Gender, ethnobotany and globalization in Northeast Brazil. Singapore Journal of Tropical Geography, v.28, n.1, P.7-20. 2007.; Cunha, 2006CUNHA, Manuela Carneiro da. “Culture” and Culture: traditional knowledge and intellectual rights. Chicago IL: Prickly Paradigm Press. 2006., 2012CUNHA, Manuela Carneiro da. Savoirs autochtones: quelle nature, quels apports? Paris: Collège de France. 2012.; Castro, 2012CASTRO, Eduardo Viveiros de. Cosmological perspectivism in Amazonia and elsewhere. Manchester: HAU Journal of Ethnographic Theory. 2012.). No entanto, esses conhecimentos possuem uma história, ainda que muito difícil de ser reconstruída, sobretudo nos anos anteriores a 1900. Por outro lado, as mudanças no passado recente são bastante claras. Embora a Convenção sobre Diversidade Biológica, sediada no Rio de Janeiro em 1992, tenha reconhecido a importância dos conhecimentos indígenas e sugerido medidas voltadas para sua proteção, em artigo publicado 15 anos mais tarde, um pesquisador trabalhando no Nordeste do Brasil observou uma “crise no conhecimento de etnobotânica”, na verdade, sua possível extinção, pois membros mais jovens das comunidades tradicionais estavam perdendo o interesse no assunto (Voeks, 2007VOEKS, Robert A. Are women reservoirs of traditional plant knowledge? Gender, ethnobotany and globalization in Northeast Brazil. Singapore Journal of Tropical Geography, v.28, n.1, P.7-20. 2007.).

Em comparação com a situação em muitas outras partes do mundo, há poucos estudos publicados sobre as universidades brasileiras, mesmo levando-se em consideração o fato de a universidade ter chegado relativamente tarde no cenário intelectual brasileiro. Diversos estudos importantes sobre a ciência brasileira acabam na década de 1930, exatamente quando foram fundadas a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade do Distrito Federal (UDF) (Dantes, 2001aDANTES, Maria Amélia (Ed.). Espaços de ciência no Brasil, 1800-1930. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz. 2001a.; Ferri, Motoyama, 1979-1980FERRI, Maria Guimarães; MOTOYAMA, Shozo (Ed.). História das ciências no Brasil. 3 v. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. 1979-1980.; Figueirôa, 1997FIGUEIRÔA, Silvia Fernanda de Mendonça. As ciências geológicas no Brasil: uma história social e institucional, 1875-1934. São Paulo: Editora Hucitec. 1997.; Sá, 2006SÁ, Dominichi Miranda de. A ciência como profissão: médicos, bacharéis e cientistas no Brasil, 1895-1935. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz. 2006.). As universidades brasileiras, com proliferação relativamente recente (mais de quinhentas no setor público e mais de duas mil no setor privado), ainda aguardam seu historiador. Analisando o que foi publicado nesse campo, observamos um considerável contraste entre a pequena porção de artigos sobre a história comparativa das universidades brasileiras e o estudo de sete volumes de um único grupo de professores de uma delas (Veiga, 1980-1997VEIGA, Glaúcio. História das ideias da Faculdade de Direito no Recife. 7 v. Recife: Editora Universitária Universidade Federal de Pernambuco. 1980-1997.; Lefebvre, 1990LEFEBVRE, Jean-Paul. Les professeurs français des missions universitaires au Brésil (1934-1944), Cahiers du Brésil Contemporain, n.12. Disponível em: <http://www.revues.msh-paris.fr/vernumpub/8-J.P%20Lefebvre.pdf>. Acesso em 26 fev. 2018. 1990.
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; Fávero, 2006FÁVERO, Maria de Lourdes de Albuquerque. A Universidade no Brasil: das origens à reforma universitária de 1968. Educar, n.28, p.17-36. 2006.; Abdounur, Mattos, 2012ABDOUNUR, Oscar; MATTOS, Adriana Cesar de. The introduction of the European university system to Brazil. In: Renn, Jürgen (Ed.). The globalization of knowledge in history. Berlin: Routledge. 2012.).

A necessidade de conectar as micro- e macroabordagens à produção e disseminação do conhecimento acadêmico reproduz em miniatura o problema geral das conexões reais e potenciais entre os conhecimentos, um problema normalmente ignorado pelos especialistas, com o qual apenas os generalistas podem lidar com alguma esperança de êxito. Como avançar a partir daqui? Como nosso fragmentado conhecimento dos conhecimentos pode ser compilado? Para conseguir uma visão clara da história dos conhecimentos brasileiros a partir de diferentes perspectivas, necessitamos de mais estudos sobre o período colonial, as humanidades e as tradições indígenas. Acima de tudo, precisamos de tentativas de sínteses.

O futuro imediato

Se a tentativa é a de analisar o conhecimento brasileiro como um todo, dois conceitos aplicados com crescente frequência nos últimos anos podem ser úteis. O primeiro diz respeito à “ordem de conhecimento” no sentido de um sistema ou rede, conectando diferentes conhecimentos, indivíduos, grupos e instituições. O segundo é o conceito de “cultura de conhecimento” remetendo-nos ao fato de que o conhecimento adquirido por indivíduos é moldado pela cultura em que eles crescem, algo dolorosamente constatado por exilados quando começam a viver e trabalhar em um novo ambiente.8 8 Sobre ordens de conhecimento, ver Burke (2016, p, p.25-28); sobre culturas de conhecimento, ver o projeto dirigido por Howard Hotson, <www.culturesofknowledge.org/>; sobre exilados, ver Burke (2017).

Como de costume, esses conceitos suscitam problemas e também os solucionam. O mais óbvio é, provavelmente, o menos difícil de lidar: “ordem” e “sistema” são, ou aparentam ser, estáticos, ao passo que os conhecimentos estão em constante fluxo. Contudo, os historiadores estão acostumados a lidar com esse problema, escrevendo sobre o “sistema feudal” e, ainda assim, reconhecendo mudanças nas relações entre senhores e vassalos ao longo dos séculos. O problema das fronteiras intelectuais – onde uma ordem ou cultura de conhecimento termina e a outra começa – requer mais debate.

Em primeiro lugar, o conceito de uma única ordem ou cultura de conhecimento no Brasil talvez seja sistemático demais, privilegiando conexões e encontros e negligenciando lacunas e “desencontros” entre os conhecimentos locais; por exemplo, os conhecimentos indígenas, obviamente, foram e são segregados por idioma e espaço. Talvez fosse sábio distinguir a ordem de conhecimento dominante da subordinada, submissa ou subalterna, porém seria sem dúvida um erro tratar até mesmo a ordem dominante como monolítica. A esfera acadêmica é apenas parte da ordem dominante e, dentro dela, há pouca comunicação entre as “duas culturas” das humanidades e das ciências naturais, abismo esse já observado há mais de meio século, no caso da Grã-Bretanha, por C.P. Snow (2001)SNOW, C. P. The two cultures. Cambridge: Cambridge University Press. 2001., físico-químico que virou romancista. Dos tempos de Snow até hoje, a especialização avançou muito mais e não se pode supor que um tipo de cientista natural, como um físico, conheça as atividades de outro tipo, por exemplo, um zoólogo.

Em segundo lugar, enfrentamos o problema oposto. A ordem dominante no Brasil não era e não é independente. No período colonial, essa ordem era dividida (desigualmente) com Portugal, uma vez que o Brasil não possuía imprensa nem universidade próprias. Desde então, observam-se duas tendências opostas. Uma é a nacionalização do conhecimento, no Brasil assim como em tantos outros países que se tornaram independentes no século XIX, processo ilustrado pela fundação dos arquivos nacionais, pela renomeação e reconstrução da biblioteca real como Biblioteca Nacional do Brasil e do museu real como Museu Nacional, pela fundação do Museu Histórico Nacional, pela publicação da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, e assim por diante.9 9 Sobre a nacionalização do conhecimento, ver Burke (2012, p, p.192-197), e Schwarcz, Dantas (2008). É possível mesmo falar em “nacionalização da natureza”: o Museu Paulista, por exemplo, expõe vasos contendo água dos principais rios do Brasil.

A tendência oposta, coexistente com a primeira, como é praxe em se tratando de tendências opostas, é a da “desnacionalização” do conhecimento brasileiro, sua incorporação em uma ordem maior ou diversas ordens diferentes (latino-americana, por exemplo, ocidental e global). Essa tendência foi muitas vezes descrita e analisada em termos de dependência intelectual (descrita mais grosseiramente pelos brasileiros como “macaqueação”), uma dependência, em um primeiro momento, das ordens de conhecimento dominantes em França, Grã-Bretanha, Alemanha e EUA, e, atualmente, de uma espécie de ordem global.

Impossível não pensar, obviamente, na importância de acadêmicos expatriados para a vida intelectual brasileira, por exemplo, não apenas de Martius, mas também dos zoólogos alemães Johann Baptist von Spix e Hermann von Ihering, os naturalistas suíços Louis Agassi e Émil Goeldi, o fisiologista francês Louis Couty, o botânico sueco Albert Löfgren, o geólogo norte-americano John Casper Branner, o crítico austríaco Otto Carpeaux, entre outros, sem contar a mission française coletiva para as universidades brasileiras na década de 1930, quando professores como Fernand Braudel e Claude Lévi-Strauss, ambos ex-docentes da USP, davam aulas em francês (Lefebvre, 1990LEFEBVRE, Jean-Paul. Les professeurs français des missions universitaires au Brésil (1934-1944), Cahiers du Brésil Contemporain, n.12. Disponível em: <http://www.revues.msh-paris.fr/vernumpub/8-J.P%20Lefebvre.pdf>. Acesso em 26 fev. 2018. 1990.
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). Hoje, poderíamos pensar na enorme quantidade de livros estrangeiros, tanto traduzidos como em idioma original, nas seções acadêmicas das livrarias ou no número de brasileiros estudando no exterior, ou nos créditos extras concedidos aos professores que publicam seus artigos em periódicos em idioma estrangeiro.

No entanto, seria certamente um erro explicar a dependência intelectual apenas pela demanda local pelo estrangeiro, ainda que ela tenha sido de extrema importância para a história brasileira. Os estrangeiros investiram dinheiro e esforços para implantar seus conhecimentos no Brasil. Por exemplo, a Fundação Ford exerceu papel fundamental na formação da disciplina de ciências políticas no Brasil, que ficou conhecida como “um tipo de imperialismo cultural erudito” (Forjaz, 1997FORJAZ, Maria Cecília Spina. A emergência da ciência política acadêmica no Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v.12, n.35, s.p. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0102-69091997000300007>. Acesso em: 26 fev. 2018. 1997.
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). Como no caso da história econômica do Brasil, valeria pensar em termos de centros e periferias: “centros de cálculo” inovadores de um lado e conhecimentos provincianos mais tradicionais de outro. Na história geral da ciência, o argumento foi fundamentado de maneira incisiva, crua e controversa por George Basalla (1967)BASALLA, George. The spread of Western science. Science, v.156, n.3775, p.611-622. 1967., que escreveu sobre a exportação do que ele chamou de “matérias-primas” do conhecimento da periferia para o centro, onde eram processadas (ou, como já mencionei, “cozidas”) e então reexportadas.10 10 Cf. a crítica de Chambers (1993), e Basalla (1967). Sobre Brasil, ver Kropf e Hochman (2011). O modelo de Basalla obviamente necessita de refinamento para que passe a levar em consideração as descobertas de cientistas e acadêmicos na periferia, descobertas pelas quais nem sempre receberam o devido crédito, e suas adaptações criativas das ideias provenientes do centro. Seria útil também fazer uma distinção entre periferias “objetivas” e “subjetivas”. Em muitos países, intelectuais sofrem de algo denominado pelos australianos “acanhamento cultural”, um sentimento de inferioridade em relação aos colegas que tiveram a sorte de trabalhar em Paris, Harvard ou Cambridge.

No Brasil, os centros e periferias intelectuais também existiram e continuam existindo. Uma das formas de colocar a ideia de ordem de conhecimento em prática é mapear os diferentes locais de conhecimento ou, como Christian Jacob (2007)JACOB, Christian (Ed.). Lieux de savoir. Paris: Albin Michel. 2007. descreve em sua frase que ficou famosa, lieux de savoir (cf. Jacob, 2014JACOB, Christian. Qu’est ce qu’un lieu de savoir. Marseille: OpenEdition Press. 2014.). Os volumes massivos de Jacob seguem o modelo do projeto ainda mais gigantesco de Pierre Nora lieux de mémoire. O trabalho de Nora foi imitado em diversos países, mas o de Jacob não, embora alguns geógrafos anglófonos de fato abordem o conhecimento dessa forma (Livingstone, 2003LIVINGSTONE, David. Putting science in its place: geographies of scientific knowledge. Chicago: University of Chicago Press. 2003.; Finnegan, Wright, 2015FINNEGAN, Diarmid A.; WRIGHT, Jonathan J. (Ed.). Spaces of global knowledge: exhibition, encounter and exchange in an age of empire. Farnham: Ashgate. 2015.). A produção de um volume coletivo sobre a história dos “locais de conhecimento” no Brasil seria um passo fundamental em direção a uma síntese.

Um volume como esse necessitaria de um mapa ou, mais precisamente, de uma série de mapas de conhecimentos no Brasil. Esses mapas poderiam combinar geografia e cronologia, ressaltando o surgimento e proliferação de diferentes espaços como livrarias, museus, academias, universidades, fundações como o CNPq e assim por diante, sem esquecer os locais temporários. Os locais temporários incluem exposições, como a Exposição de História do Brasil realizada no Rio de Janeiro em 1881 ou as bienais do livro em São Paulo, iniciadas em 1970, além de congressos, como o Congresso Afro-Brasileiro sediado em Recife em 1934 ou aqueles organizados pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs) desde 1976 (Barbuy, 2011BARBUY, Heloísa. Cultura de exposições em São Paulo. In: Lopes, Maria Margaret; Heizer, Alda (Ed.). Colecionismos, práticos de campo e representações. Campina Grande: EDUEPB. p.255-266. 2011.). Como um modesto ponto de partida, o apêndice deste artigo apresenta uma cronologia resumida e incompleta de importantes “locais de conhecimento” desde os primeiros colégios jesuítas, fundados na década de 1550, até o século XXI.

Esses mapas podem revelar as principais mudanças geoculturais, como a ascensão e a decadência do Nordeste (Salvador, Olinda e Recife), seguidas pela ascensão e decadência do Rio de Janeiro como o principal local de todos, seguidas pela ascensão de São Paulo a partir dos anos 1890. A cronologia provoca uma dúvida: São Paulo ainda é dominante? Ou será que o conhecimento está se dissociando do local, no Brasil como em todos os outros lugares? A cronologia, no modo como está, incompleta, também sugere uma grande mudança de poucos lugares de conhecimento para muitos, uma proliferação conduzida pelo aumento no número de alunos, à medida que a população aumenta e o ensino superior passa a alcançar proporção maior de jovens.

Uma sugestão final, retomando Martius, é que a história dos conhecimentos no Brasil colonial possa ser escrita em termos da interação entre o que ele chamou de “as três raças” e que poderíamos descrever como “três culturas”. Gilberto Freyre foi, obviamente, um pioneiro nesse campo, pois seus estudos do que denominou “interpenetração” de culturas abriram espaço para os conhecimentos, entre eles o conhecimento culinário dos cozinheiros afro-brasileiros. Se uma história dos encontros entre os conhecimentos de indígenas e brasileiros falantes de português vier a ser escrita, um tema central dessa história certamente será a hibridização.

O recente conflito acerca da propriedade intelectual na medicina tradicional, envolvendo os Krahó (grupo do estado do Tocantins) e pesquisadores da Unifesp, constitui-se como um exemplo claro desse processo. De um lado, bioprospectores desejando lançar mão do conhecimento indígena, e, de outro, um povo indígena trabalhando com advogados e antropólogos para reivindicar uma compensação pela disseminação desse conhecimento. Houve uma colisão entre dois mundos intelectuais, duas cosmologias, porém eles parecem ser comensuráveis – pelo menos provou-se ser possível traduzir do idioma de um mundo para o de outro. Esse caso também levanta a incômoda dúvida: propriedade intelectual de quem? Dos pajés? De todos os Krahó? Ou a dos vizinhos desse povo também? (Kleba, 2008KLEBA, John B. Pajés, etnofarmácia e direitos tortuosos: o caso Krahó-Unifesp. Trabalho apresentado no 7. ESOCITE.BR. Brasília. Disponível em: <www.necso.ufrj.br/esocite2008/trabalhos/35972.doc>. Acesso em 27 fev. 2018. 2008.
www.necso.ufrj.br/esocite2008/trabalhos/...
, 2009KLEBA, John B. A socio-legal inquiry into the protection of disseminated traditional knowledge: learning from Brazilian cases. In: Kamau, Evanson C.; Winter, Gerd (Ed.) Genetic resources, traditional knowledge and the law. London: Earthscan. p.119-142. 2009.; Cunha, 2006CUNHA, Manuela Carneiro da. “Culture” and Culture: traditional knowledge and intellectual rights. Chicago IL: Prickly Paradigm Press. 2006.).

De maneira mais geral, a história dos conhecimentos no Brasil poderia ser estudada e escrita em termos da interação entre aquilo que os diferentes grupos de imigrantes (italianos, japoneses, “turcos” etc.) trouxeram consigo e aquilo que já se encontrava no local quando lá chegaram ou, ainda mais genericamente, em termos de colisões, hibridizações e interpenetrações de diferentes culturas de conhecimento.

APÊNDICE – ALGUNS LOCAIS DE CONHECIMENTO NO BRASIL, 1552-2005

1552 Colégio Jesuíta, Salvador

1556 Colégio Jesuíta, Piratininga

1567 Colégio Jesuíta, Rio de Janeiro

1570s Colégio Jesuíta, Olinda

1675 Colégio Jesuíta, Recife

1792 Real Academia de Artilharia, Rio de Janeiro

1808 Impressão Régia, Rio de Janeiro

1808 Jardim Botânico, Rio de Janeiro

1808 Academia Real da Marinha, Rio de Janeiro

1808 Escola de Cirurgia, Salvador

1809 Academia Médico-Cirúrgica, Rio de Janeiro

1810 Biblioteca Real, Rio de Janeiro (atual Biblioteca Nacional do Brasil)

1811 Academia Real Militar, Rio de Janeiro

1818 Museu Real, Rio de Janeiro (posteriormente Museu Nacional)

1825 Diário de Pernambuco, Recife

1827 Jornal do Commercio, Rio de Janeiro

1827 Observatório Nacional, Rio de Janeiro

1827 Faculdades de Direito, Olinda e São Paulo

1832 Faculdades de Medicina, Salvador e Rio de Janeiro

1827 Colégio D. Pedro II, Rio de Janeiro

1838 Arquivo Público do Império, Rio de Janeiro

1838 Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro

1839 Escola de Farmácia, Ouro Preto

1844 Livrarias Garnier abriram uma filial no Rio de Janeiro

1866 Museu de História Natural, Belém (atual Museu Paraense Emilio Goeldi)

1874 Escola Politécnica, Rio de Janeiro

1875 Estado de S.Paulo, São Paulo

1876 Escola de Minas, Ouro Preto

1881 Exposição de História do Brasil, Rio de Janeiro

1887 Instituto Agronômico, Campinas

1894 Escola Politécnica, São Paulo

1895 Museu Paulista, São Paulo

1896 Escola de Engenharia, Porto Alegre

1896 Faculdade Mackenzie, São Paulo

1897 Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro

1899 Escola de Farmácia, São Paulo

1899 Instituto de Pesquisas Tecnológicas, São Paulo

1900 Instituto Soroterápico Federal, Rio de Janeiro (atual Fundação Oswaldo Cruz)

1901 Escola de Agricultura, São Paulo

1901 Instituto Butantan, São Paulo

1902 Escola Prática do Comércio, São Paulo

1909 Expedição Rondon para a Amazônia

1912 Roquette Pinto viveu com os Nambikwara

1912 Universidade do Paraná

1914 Faculdade de Medicina, São Paulo

1916 Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro

1920 Universidade do Rio de Janeiro (posteriormente Universidade Federal do Rio de Janeiro)

1922 Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro

1925 Biblioteca Municipal, São Paulo (atual Biblioteca Mário de Andrade)

1927 Universidade de Minas Gerais

1927 Instituto Biológico, São Paulo

1928 O Cruzeiro

1929 Museu do Estado de Pernambuco, Recife

1930 Museu da Inconfidência, Ouro Preto

1931 Livraria José Olympio inaugurada em São Paulo

1933 Escola Livre de Sociologia e Política, São Paulo

1934 Museu de Etnografia, São Paulo

1934 Universidade de São Paulo

1934 Mission française

1934 Livraria José Olympio transferida para o Rio de Janeiro

1934 Congresso Afro-Brasileiro, Recife

1935-1937 Universidade do Distrito Federal, Rio de Janeiro

1936-1960 Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira

1937 Sociedade de Etnologia e Folclore

1940 Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio de Janeiro)

1940 Museu Imperial, Petrópolis

1944 Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro

1944 Hospital das Clínicas, São Paulo

1946 Universidade da Bahia, Salvador

1946 Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-São Paulo)

1947 Livraria Cultura, São Paulo

1950 Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José

1951 Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), atual Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

1951 Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)

1962 Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp)

1962 Universidade de Brasília

1966 Universidade de Campinas (Unicamp)

1969 Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), São Paulo

1969 Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj)

1970 1ª Bienal Internacional do Livro, São Paulo

1976 Universidade Estadual Paulista (Unesp)

1976 Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisas em Ciências Sociais (Anpocs)

1982 Museu Afro-Brasileiro, Salvador

1983 Sociedade Brasileira de História da Ciência

1986 Revista Brasileira de Ciências Sociais

1988 1º Colóquio Brasileiro de História e Teoria do Conhecimento Geológico, Campinas

1992 Convenção sobre Diversidade Biológica, Rio de Janeiro

2001 Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento, São Paulo

2004 1ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia

2005 Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, USP

AGRADECIMENTOS

Este artigo aprofunda alguns temas apresentados na conferência “Sites of invention: Latin America and the global history of historical and anthropological knowledge” (“Locais de invenção: América Latina e a história global do conhecimento histórico e antropológico”), Institute of Latin American Studies, University of London, 9 de junho de 2016. Meus agradecimentos aos participantes por suas perguntas e seus comentários.

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NOTAS

  • 1
  • 2
    Uma versão ampliada pode ser encontrada em Burke (2011)BURKE, Peter. The cultural history of intellectual practices: an overview. In: Fernández Sebastián, Javier (Ed.). Political concepts and time. Santander: Cantabria University Press. p.103-127. 2011..
  • 3
    Peço desculpas se a contribuição de alguém passou despercebida.
  • 4
    A afirmação está ficando cada vez mais comum em diferentes contextos, do feminismo à administração.
  • 5
    Para um manual crítico do que já foi publicado, ver Kropf e Hochman (2011)KROPF, Simone; HOCHMAN, Gilberto. From the beginnings: debates on the history of science in Brazil. Hispanic American Historical Review. v.91, n.3, p.391-408. 2011..
  • 6
    Exceção feita, por exemplo, a Prestes (2000)PRESTES, Maria Elice B. Investigação da natureza no Brasil Colônia. São Paulo: Annablume. 2000.. Cf. Motoyama (2004)MOTOYAMA, Shozo. Período colonial: o Cruzeiro do Sul na terra do pau-brasil. In: Motoyama, Shozo (Org.). Prelúdio para uma história: ciência e tecnologia no Brasil. São Paulo: Edusp; Fapesp. p.59-117. 2004..
  • 7
    Para uma abordagem mais tradicional da historiografia, ver Rodrigues (1979)RODRIGUES, José Honório. História da história do Brasil: a historiografia colonial. São Paulo: Companhia Editora Nacional. 1979..
  • 8
    Sobre ordens de conhecimento, ver Burke (2016, pBURKE, Peter. What is the history of knowledge? Cambridge: Polity Press. p.25-28. 2016. [Edição brasileira: O que é história do conhecimento? São Paulo: Unesp. 2015.], p.25-28); sobre culturas de conhecimento, ver o projeto dirigido por Howard Hotson, <www.culturesofknowledge.org/>; sobre exilados, ver Burke (2017)BURKE, Peter. Exiles and expatriates in the history of knowledge, 1500-2000. Lebanon NH: Brandeis University Press. 2017. [Edição brasileira: Perdas e ganhos: exilados e expatriados na história do conhecimento na Europa e nas Américas, 1500-2000. São Paulo: Unesp. 2017.].
  • 9
    Sobre a nacionalização do conhecimento, ver Burke (2012, pBURKE, Peter. A social history of knowledge from the Encyclopédie to Wikipedia. Cambridge: Polity Press. 2012. [Edição brasileira: Uma história social do conhecimento, II. Rio de Janeiro: Zahar. 2012.], p.192-197), e Schwarcz, Dantas (2008)SCHWARCZ, Lilia; DANTAS, Regina. O Museu do Imperador: quando colecionar é representar a nação. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n.46, p.123-164. 2008..
  • 10
    Cf. a crítica de Chambers (1993)CHAMBERS, David W. Locality and science: myths of centre and periphery. In: Lafuente, Antonio et al. (Ed.) Mundialización de la ciencia y cultura nacional. Madrid: Doce Calles. p.605-618. 1993., e Basalla (1967)BASALLA, George. The spread of Western science. Science, v.156, n.3775, p.611-622. 1967.. Sobre Brasil, ver Kropf e Hochman (2011)KROPF, Simone; HOCHMAN, Gilberto. From the beginnings: debates on the history of science in Brazil. Hispanic American Historical Review. v.91, n.3, p.391-408. 2011..

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2018

Histórico

  • Recebido
    10 Out 2017
  • Aceito
    4 Dez 2017
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