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O desaparecimento do que está extinto: a caça às focas-monge-do-caribe e as práticas de acervos museológicos

Resumo

A foca-monge-do-caribe (Monachus tropicalis), a única espécie de focas nativa da América Central, foi declarada extinta em 2008, tendo o último registro de avistamento confirmado em 1952. Historicamente, essa espécie ocupou vastas áreas do golfo do México. Este artigo discute a história da ciência ocidental sobre a foca-monge, desde o primeiro registro de seu avistamento por um colonizador ocidental, em 1492, até a coleção científica nos anos 1800 e 1900, como uma história de desaparecimento da espécie. As práticas museológicas de coleta e exposição de focas-monge-do-caribe contribuíram diretamente para tal desaparecimento, e aqui são sugeridas maneiras de escrever uma nova história concedendo à foca-monge-do-caribe a possibilidade de recusa ao desaparecimento.

história ambiental; extinção; museus; história natural; animais

Abstract

The Caribbean monk seal (Monachus tropicalis), the only seal species native to Central America, was declared extinct in 2008, with the last confirmed sighting in 1952. This species historically had a broad range throughout the gulf of Mexico. This article discusses the history of Western science on the monk seal, from its first recorded sighting by a Western colonizer in 1492 to scientific collection in the 1800s and 1900s, as a history of the erasure of this species. Museum practices of collecting and displaying Caribbean monk seals have directly contributed to this erasure, and ways of writing a new history by giving the Caribbean monk seal the capacity to refuse erasure are suggested.

environmental history; extinction; museums; natural history; animals

A foca-monge-do-caribe (Monachus tropicalis), a única espécie de focas nativa do golfo do México, foi declarada extinta pela União Internacional para a Conservação da Natureza em 1994 e pela US National Ocean and Atmospheric Administration (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA) em 2008, com o último avistamento confirmado em 1952. Sua perda representou a segunda extinção de um mamífero marinho na era moderna – o primeiro foi a vaca-marinha-de-steller, ou dugongo-de-steller, do norte do Pacífico, extinta em 1768.

A foca-monge-do-caribe, também conhecida como foca jamaicana ou West Indies seal (foca das Índias Ocidentais), em fontes históricas no idioma inglês, e foca monje del Caribe, em espanhol, integra a família de focas conhecida como focas-monge (gênero Monachus), das quais constam uma espécie no Mediterrâneo e outra no Havaí.1 1 Scheel et al. (2014) realizaram um estudo genético das focas-monge e concluíram que as focas-monge do Novo Mundo (Caribe e ilhas havaianas) deveriam ser classificadas em um gênero distinto da foca-monge do Mediterrâneo. Denominaram o gênero de Neomonachus (significando novo + Monachus), contrapondo-o à Monachus do Mediterrâneo. Essa alteração ainda não foi amplamente assimilada. Ao que tudo indica, esteve amplamente distribuída na região das Índias Ocidentais, embora, suspeita-se, nunca particularmente abundante (Baisre, 2013BAISRE, Julio A. Shifting baselines and the extinction of the Caribbean Monk Seal. Conservation Biology, v.27, n.5, p.927-935, 2013.). Uma fonte em 1878 observou que era possível, inclusive, encontrar uma pequena quantidade de focas-monge no extremo norte, chegando até o cabo da Flórida; porém as maiores quantidades estavam nas pequenas ilhas entre Cuba e Yucatán e nas Bahamas (Allen, 1880ALLEN, Joel Asaph. History of North American Pinnipeds. Washington: Government Printing Office, 1880., p.721-22). Há anotações de “Seal Kays” (“Kays das Focas”) em mapas da Jamaica a partir de 1774, indicando a presença das focas-monge (p.722). Presume-se que a foca-monge-do-caribe tenha ocupado áreas vastíssimas de todo o golfo do México (Timm, Salazar, Peterson, 1997; Adam, Garcia, 2003).

Apesar da ampla área de ocupação da foca-monge-do-caribe e de seu último avistamento ter ocorrido somente há 70 anos, poucas pessoas a conhecem. Ao contrário do pombo-passageiro norte-americano e do tigre-da-tasmânia, ambos representações onipresentes icônicas de extinção, tanto históricas quanto contemporâneas, a foca-monge-do-caribe nunca se tornou icônica. Embora restos mortais de focas-monge sejam mantidos em museus de história natural nas Américas e na Europa, ficam escondidos em salas ocultas e reservas técnicas com histórias silenciadas.

Cada extinção é “um esgotamento distinto de formas de vida, uma perda singular e um conjunto de mudanças e desafios que exigem uma atenção localizada e particularizada” (Van Dooren, 2014VAN DOOREN, Thom. Flight ways: life and loss at the edge of extinction. New York: Columbia University Press, 2014., p.7).2 2 Nessa e nas demais citações de textos publicados em outros idiomas, a tradução é livre. As extinções rompem relações em um dado momento (Rose, Van Dooren, Chrulew, 2017), embora o encontro cultural prolongue-se para além do encontro histórico fisicamente violento que ensejou o fim da espécie (De Vos, 2017DE VOS, Rick. Provocations from the field: extinction, encountering and the exigencies of forgetting. Animal Studies Journal, v.6, n.1, p.1-11, 2017.). Em outras palavras, mesmo depois que um determinado tipo de animal ou planta deixa de viver biologicamente, ele pode perdurar por meio de contato e histórias, ou pode ser relegado ao esquecimento. Ursula Heise (2016HEISE, Ursula. Imagining extinction: the cultural meaning of endangered species. Chicago: University of Chicago Press, 2016., p.5) afirma que extinção e perda de biodiversidade são questões da imaginação – “daquilo que valorizamos e quais histórias contamos, e apenas de maneira secundária são questões de ciência”. As narrativas de extinção dependem dos contextos culturais e científicos enraizados no tempo e no espaço (Sepkoski, 2020SEPKOSKI, David. Catastrophic thinking: extinction and the value of diversity from Darwin to the Anthropocene. Chicago: University of Chicago Press, 2020.; Mitchell, 2020MITCHELL, Audra. Revitalizing laws, (re)-making treaties, dismantling violence: indigenous resurgence against ‘the sixth mass extinction.’ Social and Cultural Geography, v.21, n.7, p.909-924, 2020.). Este artigo refuta a normalização da extinção violenta, apresentando uma narrativa de extinção que expõe as estruturas que provocaram o fim da foca-monge-do-caribe e concedendo a esse animal a capacidade de recusar o desaparecimento (Theriault, Mitchell, 2020MITCHELL, Audra. Revitalizing laws, (re)-making treaties, dismantling violence: indigenous resurgence against ‘the sixth mass extinction.’ Social and Cultural Geography, v.21, n.7, p.909-924, 2020.). A história da extinção da foca-monge-do-caribe é contada pela montagem de remanescentes não a fim de desenredar as relações, mas, em vez disso, enxergar as relações como um todo desorganizado e emaranhado do qual a foca permanece como participante ativa.

Este texto discute a história da escrita científica e das práticas museológicas ocidentais ligadas à foca-monge-do-caribe, desde o primeiro registro de seu avistamento por um colonizador ocidental, em 1492, até as escritas científicas sobre o tema ao final do século XIX e início do XX, partindo-se do pressuposto da contribuição delas próprias para o desaparecimento da espécie. Desaparecimento, nesse caso, é mais do que a mera perda de vida biológica (extinção), mas também o fracasso em relatar a história daquela vida. Esse desaparecimento ocorreu apesar e por meio de práticas de coleta e exibição da espécie em museus, zoológicos e aquários. Os restos existentes da foca-monge-do-caribe (texto, imagem e material) foram quase em sua totalidade produzidos e, hoje, estão presentes em um contexto museal. Conforme comentário do historiador de museus Samuel Alberti (2005ALBERTI, Samuel J.M.M. Objects and the museum. Isis, v.96, n.4, p.559-571, 2005., p.561), o museu é “um receptáculo do conjunto de relações expresso por meio de cada um dos milhares de espécimes em exibição e em acervo”. Cada espécime individual de Monachus tropicalis em coleções museológicas está ali por meio de um conjunto de relações, porém essas relações são quase sempre ocultadas.

Os museus são locais particularmente importantes para contar histórias de extinções e como as espécies perdidas são lembradas. Eles não se restringem a armazenar os últimos restos mortais da extinção, também servem como “locais de lembrança” que constroem narrativas sobre as espécies perdidas (Jørgensen, 2019JØRGENSEN, Dolly. Recovering lost species in the Modern Age: histories of longing and belonging. Cambridge, MA: MIT Press, 2019., p.123). Este artigo, portanto, propõe-se a coletar as fontes sobre a foca-monge-do-caribe em coleções museológicas, incluindo todas as gravuras e fotografias históricas conhecidas dos animais vivos e mortos até o ponto de extinção da espécie, com o intuito de tornar visíveis suas relações com o museu e combater o desaparecimento.

A exploração ocidental e o início do interesse científico pela foca-monge-do-caribe

As primeiras menções às focas no Caribe constam de relatos europeus de 1494, quando integrantes da segunda expedição de Colombo mataram oito focas deitadas sobre a ilha rochosa de Alta Velda (King, 1956KING, Judith. The Monk Seals (Genus Monachus). Bulletin of the British Museum (Natural History), v.3, n.5, p.204-256, 1956., p.215). Foram os primeiros mamíferos de grande porte encontrados em terra por europeus no Novo Mundo. Outros textos de 1600 e 1700 incluem passagens semelhantes com focas e caça às focas realizada por europeus nas ilhas caribenhas. Por exemplo, 14 focas foram mortas pelos homens de Ponce de Leon nas ilhas Dry Tortugas, na Flórida, em 1513. Em 1524, um navio da expedição encabeçada por Hernando Cortés naufragou ao norte de Veracruz, e três sobreviventes resistiram em uma pequena enseada “onde havia muitas focas que apareciam à noite para dormir na areia” (Timm, Salazar, Peterson, 1997, p.550). Os homens comeram carne de foca para sobreviver por cerca de dois meses até o resgate.

A partir da colonização ocidental das ilhas caribenhas, as focas da região passaram a ser sistematicamente caçadas para obtenção de óleo. Em 1705, o capitão William Dampier (1705DAMPIER, William. Voyages and descriptions, v.2. In three parts… London: [printed for James Knapton], 1705., p.26-27) escreveu que as focas se expunham ao sol em duas ou três ilhas de Alacranes onde eram caçadas: “Os espanhóis vêm aqui com frequência para obter o óleo da gordura delas; por esse motivo, o local passou a ser visitado por ingleses vindos da Jamaica, em particular o capitão Long: o qual, na qualidade de comandante de uma pequena embarcação, vinha aqui com o propósito de obter o óleo de foca”. Em um texto publicado em 1707, o famoso médico e naturalista inglês sir Hans Sloane (1707SLOANE, Hans. A voyage to the Islands Madera, Barbados, Nieves, S. Christophers and Jamaica…, v.1. London: B.M., 1707., p.78) observava que “as ilhas Bahamas estão repletas de focas, às vezes os pescadores chegam a capturar cem em uma noite. eles as derretiam para extrair o óleo para as luminárias dessas ilhas”. Mark Catesby (1731CATESBY, Mark. The natural history of Carolina, Florida and the Bahama islands: containing the figures of birds, beasts, fishes, serpents, insects, and plants, v.1. London: [printed by author], 1731., p.38), que publicou a primeira história natural completa das colônias meridionais norte-americanas, escreveu que nas ilhas Bimini, entre a Flórida e as Bahamas, “abundavam focas: aqui os baamenses as matam, portando os utensílios e recipientes apropriados para fervê-las e armazenar o óleo extraído desses animais”. Outro relato do século XVIII dava conta de que uma extensa orla no lado ocidental da península de Yucatán “é abundante em focas e com as gorduras desses animais os espanhóis pagam [i.e. forram] o fundo dos seus navios em Havana” (Roberts, 1763ROBERTS, William. An account of the first discovery, and natural history of Florida. London: T. Jefferys, 1763., p.19). O comércio de produtos provenientes de focas foi duradouro. Em 1853, a Royal Society of Arts de Londres solicitou amostras de produtos naturais de origem animal da Jamaica para sua coleção de produtos brutos, e a lista incluía pele de foca e óleo de foca (Solly, 1856SOLLY, Edward. Untitled letter. In: Transactions of the Jamaica Society of Arts, from Dec. 1854 to Dec. 1855, Inclusive, v.1. Kingston, Jamaica: R.J. De Cordova, 1856. p.5.). Ao que tudo indica, houve continuidade nesse uso: as focas eram costumeiramente mortas para extração de óleo ao sul de Cuba por caçadores de tartarugas, saqueadores de naufrágios e baleeiros, segundo um relatório de 1878 (Allen, 1880ALLEN, Joel Asaph. History of North American Pinnipeds. Washington: Government Printing Office, 1880.). O relato de um marinheiro de uma embarcação de coleta de guano que, em 1856, havia visitado as ilhas ocupadas pelas focas observou que uma das ilhas estava repleta de esqueletos e peles animais, levando-o a concluir que “alguém deve ter feito muitos negócios com esse material, pois que fizemos uma enorme fogueira com, talvez, uma centena de barris desses restos” (Ward, H.L., 1887, p.263).

Embora naturalistas como Sloane houvessem pelo menos escutado sobre a existência de focas habitando as ilhas caribenhas nos anos 1700, uma descrição zoológica do animal só viria a ser publicada em 1849. Isso levou o naturalista Henry A. Ward (1887WARD, Henry A. The West Indian Seal (Monachus tropicalis). Nature, v.35, n.904, p.392, 1887., p.392) a comentar quase quatro décadas depois: “É um fato de peculiar interesse que o primeiro grande mamífero descoberto na América seja, por estranhos infortúnios do acervo de história natural, justamente o último a ficar satisfatoriamente conhecido pela ciência”. John Edward Gray, curador de zoologia do British Museum de 1840 a 1874, publicou um artigo sobre alguns espécimes de focas do museu em 1849 que incluía a descrição inédita da foca-monge-do-caribe e reportava duas novas espécies de focas.3 3 O fato de Gray ter abordado duas focas diferentes na mesma publicação em 1849 provocou muita confusão acerca da sinonímia das espécies. Conforme observado por Scheel et al. (2014), Cystophora antillarum deve ser considerado sinônimo de Cystophora cristataI (a foca-encapuzada), não sinônimo de foca-monge. Primeiro afirmava que o museu havia adquirido recentemente a pele e o crânio de uma jovem foca das Índias Ocidentais. Ele identificou o espécime com o mesmo gênero da foca-de-crista do Hemisfério Norte, porém alegava que era distinta das focas do mar do Norte, baseando-se na posição do dente e no formato do crânio. Sugeriu denominar a espécie Cystophora antillarum e, posteriormente, atribuiu a essa foca o nome comum de “foca-de-crista da Índia Ocidental” em seu detalhado catálogo de mamíferos (Gray, 1850GRAY, John Edward. Catalogue of the specimens of Mammalia in the collection of the British Museum, Part II: seals. London: [British Museum] Trustees, 1850., p.38). As focas-de-crista do Atlântico Norte (Cystophora cristata) são, por vezes, encontradas no mar do Caribe, mas não foram aceitas como espécie distinta na literatura científica de nomenclaturas (Allen, 1880ALLEN, Joel Asaph. History of North American Pinnipeds. Washington: Government Printing Office, 1880., p.718-720). A foca descrita por Gray, portanto, deve agora ser considerada Cystophora cristata.

A segunda nova espécie detalhada por Gray (1849GRAY, John Edward. On the variation in the teeth of the crested seal, Cystophora Cristata, and on a new species of the genus from the West Indies. Proceedings of the Zoological Society of London, n.17, p.91-93, 1849., p.93) se baseou em uma “pele imperfeita” sem ossos, pertencente a uma foca da Jamaica, que havia sido doada ao museu pelo naturalista Philip Henry Gosse. A partir de outros registros históricos, podemos unir as peças que compõem a história desse espécime. Esse animal foi levado de uma pequena ilha chamada Seal Key, parte do Pedro Shoals, ao sul da Jamaica; Pedro Shoals foi uma importante colônia de criação de peixes e aves marinhas explorada para a coleta de ovos (Jamaica…, 1856, p.28-29). Gosse (1851)GOSSE, Philip Henry. A naturalist’s sojourn in Jamaica. London: Longman, Brown, Green, and Longmans, 1851. escreveu sobre o Pedro Shoals e o conjunto de focas lá encontrado usando informações fornecidas a ele por Richard Hill, líder político jamaicano negro atuante nas sociedades de história natural e reforma social desde os anos 1840 (Cundall, 1920CUNDALL, Frank. Richard Hill. The Journal of Negro History, v.5, n.1, p.37-44, 1920.), e o jamaicano George Wilkie. Gosse reproduziu a descrição de Hill referente a tamanho, características e comportamento da “foca de Pedro” com base em observações de um jovem adulto vivo em cativeiro que morreu após quatro meses. Após a morte do animal, Hill notou que a foca continuava “surpreendentemente gorda” mesmo estando sem comer e “rendeu 15 litros de óleo” (citado em Gosse, 1851, p.309). Wilkie havia visitado o Pedro Shoals em 1846, e constatou as dificuldades de chegar até lá: Seal Key era remota e apresentava árduas condições de desembarque. Mesmo assim, a comitiva de Wilkie logrou matar um enorme elefante-marinho, além de um filhote medindo cerca de 1,2m de comprimento (Gosse, 1851GOSSE, Philip Henry. A naturalist’s sojourn in Jamaica. London: Longman, Brown, Green, and Longmans, 1851., p.312). Wilkie enviou a pele de um de seus espécimes para Gosse, que então a cedeu ao British Museum (p.314).

Embora Gray tenha identificado esse espécime em sua primeira publicação como uma foca-barbuda (conhecida na época como Phoca barbata), em uma publicação de 1850 ele a identificou como uma nova espécie, que chamou de foca da Jamaica (Phoca tropicalis) (Gray, 1850GRAY, John Edward. Catalogue of the specimens of Mammalia in the collection of the British Museum, Part II: seals. London: [British Museum] Trustees, 1850.). Em 1864, mudou de ideia quanto à inserção da foca na família da foca-barbuda e, como opção, tentou incluir a espécie entre as focas-monge, renomeando-a Monachus tropicalis (Gray, 1864GRAY, John Edward. Notes on seal (Phocidæ), including the description of a new seal (Halicyon richardii) from the west coast of North America. The Annals and Magazine of Natural History, v.14, p.304-311, 1864.). Ele havia decidido que a foca deveria estar relacionada à foca-monge do Mediterrâneo (Monachus albiventer). A decisão se tornou definitiva em 1866, quando Gray publicou um catálogo dos espécimes de focas e baleias mantidos pelo museu. Em seu catálogo, ele descreve a foca da Jamaica (Monachus tropicalis) como uma foca de coloração marrom-acinzentada com pelagem extremamente curta e bigodes curtos e grossos, baseando-se no único espécime mantido pelo museu (Gray, 1866GRAY, John Edward. Catalogue of seals and whales in the British Museum. London: [British Museum] Trustees, 1866.). Monachus tropicalis é o nome adotado pela maioria dos cientistas atualmente para designar a espécie.

O ato de descoberta da foca-monge-do-caribe é uma história de violência lenta (Nixon, 2013NIXON, Rob. Slow violence and the environmentalism of the poor. Cambridge, MA: Harvard University Press, 2013.) e desaparecimento. Desde o primeiro encontro ocidental de que se tem registro com esses animais eles foram caçados como presas. As focas se tornaram um recurso, e seus corpos mortos, fontes de pele e óleo. Durante esse processo, elas começaram a desaparecer do seu meio ambiente. Muitas centenas de anos após esse primeiro encontro, os animais passaram a ser consumidos não só pela carne ou pelo óleo, mas também como curiosidades da ciência.

O desejo de preencher acervos museológicos

Durante 34 anos após a publicação da descrição de Gray, a ciência teve conhecimento da Monachus tropicalis somente por meio do único espécime do British Museum. Essa “pele imperfeita” da Jamaica foi, posteriormente, empalhada (Gray, 1874GRAY, John Edward. Hand-list of seals, morses, sea-lions and sea-bears in the British Museum. London: British Museum, 1874., p.11). O “animal empalhado” doado por Gosse em 1847, classificado como Phoca tropicalis e tombado no acervo com o número NHMUK 1847.2.2.2, é o espécime holótipo da Monachus tropicalis, o que significa que se trata do indivíduo particular usado como referência para designar todos os espécimes a essa espécie (King, 1956KING, Judith. The Monk Seals (Genus Monachus). Bulletin of the British Museum (Natural History), v.3, n.5, p.204-256, 1956.). O espécime estava em exibição no British Museum, em Bloomsbury, e, em seguida, foi realocado para um novo museu de história natural em South Kensington, em 1881.4 4 Essa informação foi fornecida à autora em correspondência pessoal com Richard Sabin, curador-chefe do Natural History Museum. Segundo um relatório de 1887, os espécimes empalhados tanto da Monachus tropicalis como da Cystophora cristata ficavam em exibição na Ala dos Mamíferos do British Museum, ou seja, com visibilidade pública por alguns anos (Allen, 1890ALLEN, Joel Asaph. The West Indian Seal (Monachus tropicalis Gray). Bulletin of the American Museum of Natural History, v.2 (1887-1890), p.1-34, 1890.).

Um segundo espécime de foca-monge-do-caribe foi finalmente adquirido por um museu em outubro de 1883. O professor Felipe Poey y Aloy, de Havana, Cuba, doou ao Smithsonian um espécime montado contendo o crânio e os ossos das pernas (NMNH 13950). Poey era o mais renomado naturalista de Cuba, e o nome da sociedade de história natural do país o homenageia (Mestre, 1915MESTRE, A. Homenaje a Poey: datos biograficos. Memorias de la Sociedad Cubana de Historia Natural Felipe Poey, v.1, p.3-8, 1915.). A foca foi capturada na baía de Havana, e sua pele montada foi exibida em Havana no verão de 1883 (True, Lucas, 1885, p.331). O Smithsonian ficou imensamente orgulhoso por receber esse exemplar, por se tratar do “único existente de que se tem notícia em qualquer acervo científico, à exceção do British Museum” (True, 1885TRUE, Frederick W. Department of Mammals. In: Annual report of the Board of Regents of the Smithsonian Institution showing the operations, expenditures, and condition of the institution for the year 1883. Washington: Smithsonian Institution, 1885. p.208-220., p.218). Ao contrário do espécime do British Museum, que era apenas uma pele imperfeita, esse objeto incluía o crânio, que era “particularmente interessante por proporcionar atributos segundo os quais o gênero foi determinado” (True, 1885TRUE, Frederick W. Department of Mammals. In: Annual report of the Board of Regents of the Smithsonian Institution showing the operations, expenditures, and condition of the institution for the year 1883. Washington: Smithsonian Institution, 1885. p.208-220., p.218). Frederick True e F.A. Lucas, especialistas do Departamento de Mamíferos do Smithsonian, forneceram medidas e descreveram detalhadamente o crânio e a coloração da pele em um artigo sobre o espécime, ilustrado com três gravuras magistrais do crânio (Figura 1). Foram as primeiras ilustrações científicas publicadas da Monachus tropicalis.

Figura 1
: Primeiras ilustrações científicas da anatomia de uma foca-monge-do-caribe: três desenhos de crânio realizados a partir do espécime de Poey do acervo do Smithsonian (True, Lucas, 1885, plates I-III)

Em 1884, o escritor e artista Henry Elliott, do Museu de História Natural do Smithsonian, publicou um artigo na Science com uma ilustração da Monachus tropicalis que havia utilizado como modelo o espécime preparado e montado de Poey. Trata-se da primeira ilustração da espécie de que se tem notícia (Figura 2). Uma fotografia do espécime de Poey foi reproduzida em 1889 (Figura 3). Embora reconhecesse que a foca-monge fosse “absolutamente rara”, Elliott (1884ELLIOTT, Henry W. The Monk-seal of the West Indies, Monachus Tropicalis Gray. Science, v.3, n.72, p.752-753, 1884., p.753) deixou explícito em seu artigo para a Science que esperava que o desenho “estimulasse a atenção de alguém entre os proprietários de muitas das embarcações de frutas e esponjas que agora cruzam as águas das Índias Ocidentais que, ao detectar a presença de outro espécime, podem resguardá-lo, e encaminhar o raro e valioso troféu para aqueles que o apreciariam e o preservariam”. Mais tarde, Elliott se engajaria fortemente na preservação das focas, particularmente no Pacífico Norte.

Figura 2
: Primeiro registro de ilustração de corpo inteiro de uma foca-monge-do-caribe; realizada a partir do espécime de Poey do acervo do Smithsonian (Elliot, 1884, p.753)

Figura 3
: Fotografia do espécime de foca-monge-do-caribe de Poey do acervo do Smithsonian (Lucas, 1891LUCAS, Frederic A. Animals recently extinct or threatened with extermination, as represented in the collections of the US National Museum. In: Annual report of the Board of Regents of the Smithsonian Institution showing the operations, expenditures, and condition of the institution for the year 1889. Report of the National Museum. Washington: Government Printing Office, 1891. p.609-649., plate XCV)

O apelo para proteger os espécimes foi assimilado por Henry A. Ward, que era proprietário do Ward’s Natural Science Establishment, o principal fornecedor de espécimes de história natural para museus e universidades do mundo ao final dos anos 1800 (Kohlstedt, 1980KOHLSTEDT, Sally Gregory. Henry A. Ward: the merchant naturalist and American museum development. Journal of the Society for the Bibliography of Natural History (now Archives of Natural History), v.9, n.4, p.647-661, 1980.).5 5 Há um projeto de documentação em andamento sobre o Ward’s Natural Science Establishment denominado Searching for Ward’s, disponível em: https://wardproject.org. Ele coletou informações sobre a presença de focas-monge na região caribenha e encontrou evidências de focas no golfo do México nas três pequenas ilhas conhecidas como Los Triangulos (The Triangles), próximas à península de Yucatán (Ward, H.A., 1887). Essas ilhas minúsculas localizadas a cerca de 160km do litoral de Campeche e 70km ao norte das Arcas Keys são atóis de corais planos com praias arenosas, perfeitas para focas.

No período de 1 a 4 de dezembro de 1886, Henry L. Ward, filho de Henry A. Ward, trabalhou em parceria com o naturalista Fernando Ferrari Pérez, que dirigia a Seção de História Natural da Expedição Exploradora e Geográfica (Comisión Geográfico-Exploradora) mexicana, para coletar focas-monge nas ilhas Triangle. Seu grupo trouxe “cerca de 20 espécimes – esqueletos e peles de todas as idades, desde a fase de aleitamento até o macho adulto totalmente desenvolvido, com dois metros de comprimento” (Ward, H.A., 1887, p.392). A coleta desses espécimes foi brutal, porque as focas iam até as Triangle para parir. Henry L. Ward (1887WARD, Henry A. The West Indian Seal (Monachus tropicalis). Nature, v.35, n.904, p.392, 1887., p.259) descreveu o massacre:

Evidentemente, aquela era a época de parição das focas, pois, ao desembarcarmos na ilha oriental, matamos uma fêmea com um feto que estava prestes a nascer e, em um pequeno lago salgado interno, encontramos uma fêmea deitada de lado amamentando o filhote. Ela deu tão pouca atenção à nossa aproximação quanto os outros habitantes do bando em circunstâncias semelhantes. Em seguida, outras quatro fêmeas foram mortas com fetos quase totalmente desenvolvidos. Houve uma ocasião em que um feto, removido imediatamente após matarem a mãe, chutou e se contorceu por um ou dois minutos de uma maneira tão vívida que indicava que o parto teria ocorrido a qualquer momento caso a fêmea não houvesse sido abatida.

A indiferença à morte de ambas as fêmeas e do filhote é bastante impactante para os leitores modernos, porém só na década de 1880 os estados dos EUA começaram a regularizar a caça com regulamentações de captura (bag limits) e comissões esportivas, quase sempre em resposta ao ímpeto de caçadores desportivos que desejavam assegurar futuras possibilidades viáveis de caça (Dunlap, 1988DUNLAP, Thomas R. Sport hunting and conservation, 1880-1920. Environmental Review, v.12, n.1, p.51-60, 1988.). A facilidade com que os grupos de caçadores obtinham as focas era atribuída por Ward à “inatividade tropical” das focas (segundo descrições, elas “olhavam para nós languidamente, mudando de posição de modo meio desajeitado e, em seguida, cochilando em agitado sono”), “indecisão” e “ausência de perspicácia intelectual” (Ward, H.L., 1887, p.261-262). Outra maneira de interpretar o comportamento das focas é que, como espécie, haviam sido pouco expostas à experiência de caça e, portanto, não possuíam mecanismos de defesa significativos. A ocupação de uma ilha plana, pequena e isolada também significava que não havia outro lugar de refúgio para as focas. O encontro entre as focas mães, ou prestes a se tornarem mães, e seus filhotes com os grupos de caçadores ressalta o quanto era desigual a natureza do encontro.

O êxito de Ward na aquisição de focas-monge-do-caribe resultou em diversos novos espécimes museológicos disponíveis para compra. A Monachus tropicalis havia sido listada no catálogo de mamíferos da América Central do Natural Science Establishment de Ward, de julho de 1883, disponível para fornecimento ao American Museum of Natural History (AMNH), em Nova York, embora a empresa obviamente ainda não tivesse os espécimes em mãos. Uma anotação feita à mão referente à oferta em uma cópia da Rochester University indica o preço de $170, fazendo desse o item mais caro do catálogo (Ward’s Natural…, 1883). O AMNH de fato adicionou um grupo de espécimes ósseos da foca-monge-do-caribe (AMNH MO-10421, MS-11988, MS-11989, MS-11990, M-15896) ao seu cadastro em dezembro de 1886, todos constando como obtidos no recife Triangle de Yucatán e fornecidos por Henry A. Ward.

As focas-monge-do-caribe coletadas pela expedição Ward/Ferrari Pérez também chegaram até outros museus nas Américas. Henry A. Ward foi citado como fornecedor das Monachus tropicalis do Harvard Museum of Comparative Zoology, provenientes do golfo de Campeche, em 1887: duas peles montadas (MCZ Mamm-6520; Mamm-6579) e um esqueleto (MCZ BOM-7264). Em dezembro de 1886, o Smithsonian adquiriu de Ward duas peles montadas (NMNH 18431 e 18432; ver também True, 1891TRUE, Frederick W. Report on the Department of Mammals in the US National Museum, 1889. In: Annual report of the Board of Regents of the Smithsonian Institution showing the operations, expenditures, and condition of the institution for the year 1889. Report of the National Museum. Washington, DC: Government Printing Office, 1891. p.349-355.), um esqueleto montado (NMNH A22543), e um conjunto pele/crânio (NMNH A18431). O registro contábil do esqueleto montado indica um custo de $85,00, significativamente inferior ao preço do catálogo de Ward orçado para o AMNH. O Museu de La Plata, na Argentina, também adquiriu um crânio de foca-monge (MLP 1503) fornecido por Ward em 1886 (Daneri, De Santis, 2002). Henry A. Ward visitou o museu argentino em outubro de 1887, portanto é possível que tenha levado o crânio do animal consigo na ocasião (Ward, H.A., 1890-1891).

Algumas focas-monge-do-caribe coletadas pela expedição de 1886 no golfo do México também foram compradas por instituições europeias: um crânio e uma pele de um adulto macho coletados em 1886 (NHMUK 1889.11.5.1) e um crânio e um esqueleto de um adulto fêmea (NHMUK 1887.8.5.1) das ilhas Triangle foram adquiridos pelo British Museum. A Comisión Geográfico-Exploradora constou como coletora da primeira, e Henry L. Ward como coletor da segunda; ambas, obviamente, tiveram origem na mesma expedição em dezembro de 1886. Um crânio e um esqueleto adultos (UMZC K.7801) foram doados para o Museu de Zoologia da Universidade de Cambridge por Frederick DuCane Godman, especialista em zoologia da América Central. O esqueleto foi articulado e exibido como parte da Stewart Collection de crânios e chifres em 1889 (Shipley, 1913SHIPLEY, Arthur Everett. “J.” A memoir of John Willis Clark. London: Smith, Elder, 1913., p.288-89). O museu de história natural da Holanda, Naturalis, também adquiriu um adulto macho montado da expedição de Ward (RMNH.MAM.63794).

Em relato por escrito em 1887, Allen assinalava que o “Museu Nacional, da Cidade do México” possuía “duas pequenas peles” que foram obtidas nas Triangle cerca de cinco anos antes. No catálogo da coleção de mamíferos do Museo Nacional publicado em 1895, há uma listagem da Monachus tropicalis coletada nas ilhas Triangle (Herrera, 1895HERRERA, Alfonso L. Catálogo de la Colección de Mamíferos del Museo Nacional. Ciudad de México: Museo Nacional, 1895., p.19), confirmando a existência de pelo menos um espécime na Cidade do México. Talvez tenha vindo por intermédio de Ferrari Pérez, da mesma expedição descrita por Ward em 1886. A Colección Nacional de Mamiferos lista uma Monachus tropicalis em seu acervo (CNMA-24563), que aparentemente é esse espécime, uma vez que as observações no respectivo cadastro do catálogo assinalam a origem de “Cayo Triangulo”, em Campeche (Cervantes, Vargas-Cuenca, Hortelano-Moncada, 2016, p.7). Um livro de 1917 sobre os mamíferos de Yucatán publicado pelo Departamento de Talleres Gráficos de la Secretaría de Fomento foi ilustrado com a fotografia de um espécime macho montado (Figura 4) – a localização não está identificada, porém presume-se que esteja na coleção mexicana.

Figura 4
: Fotografia de uma foca-monge-do-caribe macho montada; local desconhecido (Gaumer, 1917GAUMER, George F. Monografia de los mamiferos de Yucatan. Ciudad de México: Departamento de Talleres Gráficos de la Secretaría de Fomento, 1917., plate XLIII)

Os espécimes de Ward proporcionaram uma imensidão de conhecimentos sobre a espécie, até então conhecida por meio de dois indivíduos apenas. Joel Asaph Allen (1887)ALLEN, Joel Asaph. The West Indian Seal. Science, v.ns-9, n.206, p.35, 1887., que era curador de mamíferos e pássaros no American Museum of Natural History, conseguiu descrever pela primeira vez a variabilidade na cor e no tamanho da espécie, assim como as alterações no corpo que ocorriam com a idade. Ilustrações científicas de focas-monge-do-caribe no acervo do AMNH, entre elas a reconstrução de um grupo familiar baseado em descrições do espécime e de comportamento, foram incluídas em um artigo escrito em 1887 e publicado em 1890 pelo museu (Figura 5). Uma fotografia de um espécime montado de foca-monge-do-caribe macho coletado por Ward em 1886, presente no acervo do AMNH, foi publicada em 1924 (Figura 6). Ao que tudo indica, havia intenção de exibir o espécime no Salão da Vida Marinha, em construção na época (Lucas, 1924LUCAS, Frederic A. The seal collection. Natural History, v.24, n.5, p.589-593, 1924.), porém ele não consta de guias de exposições subsequentes. Uma fotografia de um dos espécimes montados coletados por Ward foi reproduzida em seu artigo de 1887 no periódico The American Naturalist, embora não se saiba qual de seus espécimes museológicos está retratado (Figura 7).

Figura 5
: Reconstrução de um grupo familiar de focas-monge-do-caribe (Allen, 1890ALLEN, Joel Asaph. The West Indian Seal (Monachus tropicalis Gray). Bulletin of the American Museum of Natural History, v.2 (1887-1890), p.1-34, 1890., plate I)

Figura 6
: Fotografia de um espécime montado de foca-monge-do-caribe macho no acervo do American Museum of Natural History (Lucas, 1924LUCAS, Frederic A. The seal collection. Natural History, v.24, n.5, p.589-593, 1924., p.592)

Figura 7
: Fotografia de um espécime montado de foca-monge-do-caribe coletado por Henry L. Ward nas ilhas Triangle, México (Ward, H.L., 1887, plate XII)

A coleta da foca-monge-do-caribe estava ligada à curiosidade científica e a um desejo de compreender o mundo natural no século XIX. No mesmo ano em que a expedição Ward/Ferrari Pérez levou as focas-monge para os museus, o Smithsonian financiou expedições para a coleta do bisão-americano, pois se tratava de um animal extremamente raro (Shell, 2004SHELL, Hanna Rose. Skin deep: taxidermy, embodiment, and extinction. In: Levinton, Alan. The past, present and future of natural history: Proceedings of the California Academy of Sciences. San Francisco: California Academy of Sciences, 2004. p.88-112.). Como no caso da foca-monge, a crescente escassez do bisão apenas contribuiu para que se tornasse ainda mais cobiçado para os acervos de história natural. Em sua análise sobre William T. Hornaday, líder da expedição, Hanna Rose Shell (2004SHELL, Hanna Rose. Skin deep: taxidermy, embodiment, and extinction. In: Levinton, Alan. The past, present and future of natural history: Proceedings of the California Academy of Sciences. San Francisco: California Academy of Sciences, 2004. p.88-112., p.95) concluiu que ele “assimilou a ideia de que ele próprio, em nome do National Museum, deveria matar alguns dos bisões remanescentes a fim de salvar, ou em outras palavras, materializar, a memória do animal em forma corpórea”. Hornaday (1894HORNADAY, William T. Taxidermy and zoological collecting. New York: Charles Scribner’s Sons, 1894., p.1) temia que, “quando os criadores de museus mundo afora despertarem para a necessidade de garantir bons espécimes de tudo isto [referindo-se a uma lista que incluía a foca-monge], talvez seja tarde demais para os encontrar”; portanto ele conclamou expedições de coleta imediatas. O mesmo valia para Elliot, Ward e Ferrari Pérez: na visão deles, suas ações serviam para preservar a memória das focas-monge, e não para provocar seu desaparecimento, embora tenha sido exatamente isso o que aconteceu.

Melhor vivo ou morto?

Captura, manutenção e exposição das focas-monge-do-caribe vivas eram tarefas muito mais desafiadoras do que trazer os cadáveres. O grupo de Ward levou uma foca jovem (aparentemente lactente); mantiveram-na em cativeiro em Campeche, no México, durante cerca de uma semana, até ela falecer por inanição. Outra pequena foca fora capturada por um grupo de caçadores ao final de novembro, e há indícios de que tenha tido uma sobrevida ligeiramente maior (Ward, H.L., 1887, p.262-263). Essas tentativas amadoras de manter as focas não tardaram a ser substituídas por esforços profissionais.

As primeiras focas-monge-do-caribe vivas exibidas em acervos zoológicos surgiram em 1897, depois que uma expedição para as Triangle encontrou cerca de trinta animais e capturou alguns espécimes vivos (New York…, 1901). Os zoológicos conseguiram adquirir essas focas-monge por meio da E.E. Saunders and Co., uma empresa de pesca marítima na Flórida (Mann, 1930MANN, William M. Wild animals in and out of the zoo. Washington, DC: Smithsonian Institution Series, 1930., p.124). A Zoological Society of Philadelphia adquiriu dois indivíduos jovens em maio de 1897 e um terceiro em setembro; infelizmente, foram “induzidos a ingerir alimentos com dificuldade e em pequena quantidade, e viveram por pouco tempo” (Zoological…, 1898, p.9). Dois de seus esqueletos desarticulados foram doados à Academy of Natural Science of Philadelphia (Academy…, 1898, p.558). O National Zoological Park, em Washington DC, também obteve uma Monachus tropicalis macho e outra fêmea que haviam sido capturadas em 11 de maio de 1897; registros documentais demonstram que estavam no zoológico em 30 de junho de 1897, onde provavelmente morreram pouco tempo depois (Anonymous, 1897ANONYMOUS. Scientific notes and news. Science, v.5, n.127, p.873, 1897.; Baker, 1898BAKER, Frank. Report of the Superintendent of the Park. In: Annual report of the Board of Regents of the Smithsonian Institution showing the operations, expenditures, and conditions of the Institution to July, 1897. Washington: Government Printing Office, 1898. p.56-65., p.60). Ao final de julho de 1897, os corpos dessas duas focas foram levados ao acervo do Smithsonian (USNM 83711, 83712, A49607 e A49608). Todos esses exemplares viveram pouquíssimo, o que demonstra a falta de cuidados adequados a eles.

O New York Aquarium foi um pouco mais bem sucedido na manutenção dos animais vivos. A instituição foi fundada em 1896 pela prefeitura de Nova York, e passou a integrar a New York Zoological Society em 1902. Duas focas-monge capturadas na expedição de Saunders de 1897 às Triangle estavam no New York Aquarium; uma delas sobreviveu por cinco anos e meio, de 1897 a 1903, enquanto a outra viveu por apenas dois anos (New York…, 1901; Townsend, 1904TOWNSEND, Charles H. Notes on certain Pinnipeds, with data respecting their present commercial importance. In: Ninth annual report of the New York Zoological Society. New York: Office of the Society, 1904. p.105-116., 1906TOWNSEND, Charles H. Capture of the West Indian Seal (Monachus tropicalis) at Key West, Florida. Science, v.ns23, n.589, p.583, 1906.). A equipe do aquário admitiu que, “considerando as condições em que as focas precisavam ser mantidas no Aquarium e o espaço limitado que poderia ser concedido a animais tão ativos, o espécime viveu o tanto que se esperava” (New York…, 1901, p.83). Anos mais tarde, o aquário voltou a ter focas-monge: um adulto e três indivíduos de um ano de idade chegaram em 14 de junho de 1909, embora um dos jovens tenha morrido um dia após a chegada (Townsend, 1909TOWNSEND, Charles H. The West Indian Seal at the aquarium. Science, v.ns30, n.763, p.212, 1909.). Quando outro indivíduo jovem desse grupo morreu em abril de 1911, o corpo foi doado para o museu de Harvard pelo American Museum of Natural History (MCZ 8605). Duas imagens do adulto, de uma jovem fêmea e de um jovem macho, foram publicadas em 1910 no Bulletin of the Zoological Society of New York, com o seguinte comentário da Society: “Representam, até onde se sabe, os únicos exemplares vivos do animal” (New York…,1910, p.644; Figura 8). A mesma imagem do adulto foi reimpressa no álbum ilustrado do aquário Inmates of the Aquarium (New York…, 1916, p.16).

Figura 8
: Fotografia das últimas focas do Caribe vivas mantidas no New York Aquarium (New York…, 1910, p.644-645)

Apesar da alegação da Zoological Society de ter as únicas fotografias de focas-monge vivas, na verdade, havia algumas fotografias de focas-monge-do-caribe selvagens feitas durante uma caçada para acervo museológico em 1900. Edward Alphonso Goldman e Edward William Nelson, do United States Fish and Wildlife Service, conduziram uma expedição às ilhas Triangle no período de 18 a 23 de junho de 1900 para reunir “espécimes da rara foca tropical Monachus tropicalis”, e “fomos muito bem sucedidos na busca desses animais” (Goldman, 1951GOLDMAN, Edward Alfonso. Biological investigations in México. Washington: Smithsonian Institution, 1951., p.102). Tratava-se de uma missão científica definida com o objetivo de trazer quantidades significativas de espécimes de focas-monge-do-caribe para o acervo do Smithsonian National Museum of Natural History. As anotações de campo feitas por Nelson na expedição sobreviveram e foram transcritas por Adam e Garcia (2003)ADAM, Peter; GARCIA, Gabriela G. New information on the natural history, distribution, and skull size of the extinct (?) West Indian Monk Seal, Monachus tropicalis. Marine Mammal Science, v.19, n.2, p.297-317, 2003.. Um livro de fotografias do acervo do Smithsonian (Smithsonian Institution Archives, RU 007364, Box 36, Folder 01-02) inclui sete imagens feitas durante a caça da foca-monge-do-caribe como parte da documentação da expedição. As fotografias desbotaram, mas é possível ver focas deitadas em águas rasas na praia no espaço intermediário entre areia e pedras, e um grupo de focas nadando/vadeando com a cabeça acima da superfície da água (Figura 9). Nelson escreveu que, ao matar as focas em um grupo em terra firme, “as sobreviventes ficavam se debatendo até a água em total pânico, por algum tempo nadando para frente e para trás próximo à beira-mar, elevando a cabeça para fora da água e nos observando com curiosidade enquanto esfolávamos suas companheiras” (citado em Adam, Garcia, 2003, p.302). As fotografias das focas nadando parecem documentar esse comportamento. Uma das imagens mostra um grupo de quatro caçadores arrastando uma foca (morta) dos bancos de areia. Aos moldes de Ward, Nelson descreveu as focas deitadas “em letárgico sono”, como “criaturas absolutamente inofensivas”, comportando-se com “displicência indolente” e “estupidez” (citado em Adam, Garcia, 2003, p.300-302). Esses traços de personalidade atribuídos aos animais possivelmente serviram como justificativa para o grupo pôr em prática suas táticas de caça.

Figura 9
: Fotografias em álbum de Edward William Nelson mostrando focas-monge-do-caribe nas ilhas Triangle durante uma caçada, junho de 1900. Montagem em álbum documentando a expedição (reprodução autorizada pelo Smithsonian Institution Archives)

Nelson observou que as focas eram “muito menos numerosas do que o relatado por homens no Campeche que haviam visitado as Triangle visando matá-las para obtenção de óleo nos últimos anos” (citado em Adam, Garcia, 2003, p.300). Durante a expedição, ele avistou cerca de 75 focas, praticamente metade das quais foi morta pelo grupo. Ele compreendia as implicações de uma possível extinção, observando que “caso os caçadores de focas voltem a visitar as ilhas, talvez todas as sobreviventes sejam mortas” (p.300), mas isso não o impediu de continuar a missão.

Foram enviados para o acervo do Smithsonian 35 crânios e peles de focas-monge mortas na expedição Goldman/Nelson. Alguns estavam montados, e outros, preparados apenas como restos de peles e ossos para estudo. Ao todo, o Smithsonian NMNH abriga a maior coleção de Monachus tropicalis: 44 espécimes, sendo a maioria advinda da expedição Goldman/Nelson (Scheel et al., 2014SCHEEL, Dirk-Martin et al. Biogeography and taxonomy of extinct and endangered monk seals illuminated by ancient DNA and skull morphology. ZooKeys, v.409, p.1-33, 2014.).

A despeito de terem ocorrido algumas tentativas de colocar focas-monge-do-caribe vivas para exibição ao público, elas sempre foram efêmeras. Mortas, tinham seus corpos unidos aos de suas compatriotas coletadas durante expedições como as de Goldman/Nelson em 1900. Enquanto vidas eram apagadas e desapareciam de zoológicos e aquários, uma morte eterna dentro do museu oferecia a possibilidade de manter viva a sua memória.

O fim da foca-monge-do-caribe

Segundo o cientista George F. Gaumer (1917GAUMER, George F. Monografia de los mamiferos de Yucatan. Ciudad de México: Departamento de Talleres Gráficos de la Secretaría de Fomento, 1917., p.245), que se especializou na biologia de Yucatán e escreveu um relatório em espanhol sobre os mamíferos de Yucatán, alguns pescadores capturaram cerca de duzentas focas-monge nas ilhas Triangle em janeiro de 1911, deixando “pouquíssimas vivas”. Não parece que esses animais tenham se tornado espécimes de museu. A carnificina levou Gaumer a concluir que a espécie provavelmente já estivesse extinta quando ele escrevia, em 1917.

Contudo, há dois espécimes em museus cuja datação é posterior a 1917. A California Academy of Sciences possui um espécime ósseo (CAS MAM 4978) retirado das ilhas Triangle em 26 de novembro de 1923, e há um crânio e restos de esqueleto de uma Monachus tropicalis no acervo de mamíferos do Field Museum em Chicago, EUA, cuja data de coleta é 18 de agosto de 1951. O espécime do Field Museum foi coletado por L.P. Woods, que era curador do Departamento de Peixes, e a localização atribuída é “Campeche Banks, East Triangle Key”. Woods havia coletado espécimes como parte de um cruzeiro de exploração do US Fish and Wildlife Service no golfo do México. Ossos de focas-monge-do-caribe (não indivíduos vivos) foram descobertos nos recifes de Campeche Bank, quando sua embarcação foi obrigada a buscar abrigo de uma tempestade (Woods, Feb. 1953).

Os registros de avistamento de focas-monge-do-caribe escassearam e espaçaram após as observações de Gaumer: a pesquisa de King (1956KING, Judith. The Monk Seals (Genus Monachus). Bulletin of the British Museum (Natural History), v.3, n.5, p.204-256, 1956., p.216) sobre os registros da foca-monge da época ressalta que algumas haviam sido mantidas em cativeiro, e outras mortas, na primeira metade da década de 1900, além de haver pouquíssimos avistamentos de indivíduos. Apesar desses poucos registros positivos, King concluiu que “possivelmente ainda vivem alguns remanescentes da espécie” (p.218). Devido ao problema de provar a extinção – apenas o fato de as pessoas não avistarem uma espécie onde a procuraram não significa, de forma definitiva, que ela não viva em nenhuma outra parte –, os cientistas mantiveram a esperança de que ainda houvesse indivíduos vivos (para esse argumento sobre extinção, ver Jørgensen, 2017JØRGENSEN, Dolly. Presence of absence, absence of presence, and extinction narratives. In: Head, Lesley et al. (ed.). Nature, temporality and environmental management. Abingdon: Routledge, 2017. p.45-58.).

Em março de 1973, Karl Kenyon, especialista em mamíferos marinhos da US Fish and Wildlife, realizou uma exaustiva busca aérea na região das focas-monge e não encontrou nenhum sinal do animal. Com base na constante presença humana na figura dos pescadores na região e na ausência de avistamentos, ele concluiu que a espécie estava extinta desde o início da década de 1950 (Kenyon, 1977KENYON, Karl. Caribbean Monk Seal extinct. Journal of Mammalogy, v.58, n.1, p.97-98, 1977.). Entretanto, essa avaliação tardou a ser oficializada, e a esperança de encontrar focas perdurou. A espécie entrou na lista de ameaçadas em 1979, de acordo com a US Endangered Species Act (Marine…, 1986). Na revisão quinquenal dessa lista, em 1985, o National Marine Fisheries Service (NMFS) concluiu que a espécie estava extinta e recomendou que fosse retirada da lista de ameaçadas. Entretanto, o Marine Mammal Commission’s Working Group on Endangered Species concluiu que,“embora as perspectivas de continuidade de existência da espécie sejam ínfimas, resta uma vaga esperança de que alguns animais ainda sobrevivam” (Marine…, 1986, p.99). Eles ainda desejavam mais investigações de avistamentos não confirmados de uma foca entre o final de 1984 e o início de 1985 perto do Haiti, e patrocinaram C.A. Woods, do Florida State Museum, para entrevistar pescadores e outros moradores em 1985 (p.16). O relatório de Woods, entregue em 1986, identificou um avistamento verossímil de uma foca, embora o tipo de foca (ou leão-marinho) não pudesse ser determinado (Marine…, 1987, p.113). Fundamentada nesses dados, em 12 de fevereiro de 1986 a Comissão escreveu para o NMFS e recomendou que não se modificasse o status de ameaçada da foca; o NMFS concordou, decidindo manter a espécie na lista de ameaçadas e fazer uma nova avaliação de status dali a cinco anos (Marine…, 1987).

A International Union for the Conservation of Nature (IUCN) havia avaliado a foca-monge-do-caribe como “muito rara” em 1965, em seguida, como “ameaçada” em 1982, e depois “extinta?” em 1986, ainda que o NMFS a tenha classificado como ameaçada. O ponto de interrogação foi finalmente removido em 1994, incluindo a espécie definitivamente na lista de extintas (Lowry, 2015LOWRY, Lloyd. Neomonachus tropicalis. The IUCN Red List of Threatened Species: e.T13655A45228171, 2015. Available at: https://www.iucnredlist.org/species/13655/45228171. Access on: 14 Sep. 2021.
https://www.iucnredlist.org/species/1365...
). Contudo, o NMFS continuou encontrando evidências de avistamentos de focas, inclusive durante entrevistas com pescadores ao norte do Haiti e na Jamaica em 1997 (Boyd, Stanfeld, 1998). Esses avistamentos não foram cientificamente confirmados, e, finalmente, em março de 2008, o NMFS declarou que a Monachus tropicalis estava extinta, sendo retirada da lista de espécies ameaçadas dos EUA (NMFS, Mar. 2008; United…, 28 Oct. 2008). A perda da foca-monge-do-caribe era absoluta.

O desaparecimento de uma espécie?

Embora a coleta de exemplares de uma espécie não seja a única causa de extinção e deva ser analisada dentro de um contexto mais amplo de caça e importunação, os colecionadores naturalistas, sejam eles particulares ou museus, não são inocentes nas histórias de extinção, como defendeu Gísli Pálsson (2020)PÁLSSON, Gíslí. Fuglinn sem gat ekki flogið. Reykjavík: Mál og menning, 2020. no caso do arau-gigante. Os cientistas naturalistas insistiram na adição das focas-monge-do-caribe aos seus acervos como objetos de estudo. Sabia-se que se tratava de uma espécie rara e, até então, pouco estudada. Embora não haja dúvidas de que ter corpos de indivíduos nos acervos de história natural seja essencial para especificar o status taxonômico da espécie (Gutiérrez, Pine, 2017) – e os remanescentes das focas-monge-do-caribe coletados há mais de cem anos ainda sejam usados para estudos taxonômicos e genômicos modernos (Scheel et al., 2014SCHEEL, Dirk-Martin et al. Biogeography and taxonomy of extinct and endangered monk seals illuminated by ancient DNA and skull morphology. ZooKeys, v.409, p.1-33, 2014.), além de ser úteis para mapear alterações nos números das espécies ao longo do tempo (Shaffer, Fisher, Davidon, 1998) –, é preciso questionar se valeu a pena pagar esse preço. A pressa para coletar espécimes em grandes quantidades por parte das expedições Ward/Ferrari Pérez e Goldman/Nelson, com espaçamento de 14 anos entre uma e outra, deve ter causado prejuízos ao número total de um animal já escasso. Essas ações viriam a impactar significativamente a geração seguinte de focas, sobretudo porque os colecionadores não poupavam as fêmeas prenhas ou os filhotes. A coleta de espécimes de uma espécie pouco numerosa amplia o risco de extinção (Minteer et al., 2014MINTEER, Ben A. et al. Avoiding (re)extinction. Science, v.344, n.6181, p.260-261, 2014.). Mesmo nos casos de espécies abundantes, é necessário que os colecionadores assimilem a ética ao infligir a morte, ainda que em nome de uma “boa” causa (Haberman, 2015HABERMAN, Karen L. On the significance of small dead things. Journal of Natural History Education and Experience, v.9, p.8-12, 2015.). As práticas museológicas que apoiaram o abate em massa das focas-monge-do-caribe ajudaram a confirmar o desaparecimento desse animal da natureza.

O reconhecimento da extinção não humana como algo plausível está historicamente localizado na modernidade (Barrow, 2009BARROW, Mark. Nature’s ghosts: confronting extinction from the age of Jefferson to the Age of Ecology. Chicago: University of Chicago Press, 2009.; Jones, 2014JONES, Ryan Tucker. Empire of extinction: Russians and the North Pacific’s strange beasts of the sea, 1741-1867. Oxford: University of Oxford Press, 2014.) e precisa ser considerado um produto da era do Antropoceno. À medida que os efeitos humanos sobre os processos em larga escala na Terra passaram a ser reconhecidos pelo conceito de Antropoceno, uma das futuras funções de museus especializados em natureza é “tornar-se recursos que esclareçam o significado e as implicações do Antropoceno” (Koster, Dorfman, Nyambe, 2018, p.30). Como os museus e as galerias têm uma “relação multifacetada com espaço e tempo”, constituem-se em locais ideais para a criação de narrativas do Antropoceno que sejam a um só tempo planetárias e locais (Möllers, 2015MÖLLERS, Nina. Museums and the Anthropocene: reconfiguring time, space, and human experience. In: Möllers, Nina; Schwägerl, Christian; Trischler, Helmuth (ed.). Welcome to the Anthropocene: the earth in our hands. Munich: Deutsches Museum, 2015. p.108-112.).

As narrativas sobre extinção fazem parte dessa história do Antropoceno. A extinção em massa de nossa época representa mais do que morte e perdas irreversíveis – é também forjada na produção, gestão e monetização de certas formas de vida, privilegiando algumas espécies icônicas em detrimento de outras “desprezadas” (Mitchell, 2016MITCHELL, Audra. Beyond biodiversity and species: problematizing extinction. Theory, Culture, Society, v.33, n.5, p.23-42, 2016.). A pesquisadora de estudos hispânicos Lizabeth Paravisini-Gebert (2014PARAVISINI-GEBERT, Lizabeth. Extinctions: chronicles of vanishing fauna in the colonial and postcolonial Caribbean. In: Garrard, Greg (ed.). The Oxford handbook of ecocriticism. Oxford: Oxford University Press, 2014. p.341-358., p.353) ressaltou que a extinção da foca-monge-do-caribe, bem como de outras espécies, como o porco crioulo haitiano, são “exemplos de trauma ambiental que permanecem como lendas admonitórias do quanto a má gestão do meio ambiente arruinou as sociedades caribenhas”. O fato de um museu dedicar espaço às histórias sobre a extinção de espécies que são entrelaçadas com as do próprio museu representa um avanço na direção da justiça multiespécies (Guasco, 4 Aug. 2021). As histórias de extinção nos museus que imprimem um olhar pós-humanista (O’Key, 2021O’KEY, Dominic. Why look at taxidermy animals? Exhibiting, curating and mourning the Sixth Mass Extinction Event. International Journal of Heritage Studies, v.27, n.6, p.635-653, 2021.) têm o potencial de sensibilização sobre as conexões entre humanos e não humanos, e confrontam cumplicidades históricas em termos de extinção. Os museus precisam assumir os enormes desafios ambientais que surgiram com sua cumplicidade.

Poderíamos nos consolar com o fato de que pelo menos a foca-monge-do-caribe sobrevive parcialmente por meio de seus corpos, que continuam a viver em estado inanimado nos museus como provedores de conhecimento. Mas esse consolo é fugaz, considerando-se as tristes condições de muitos desses últimos vestígios de extinção. O banco de dados do Harvard MCZ apresenta uma amostra das condições de duas das focas-monge-do-caribe coletadas em 1886. Uma observação de novembro de 2010 indica que a condição da pele montada 6520 é “boa, mas frágil. Membro posterior esquerdo se soltou, foi etiquetado e armazenado em um invólucro de tecido” (MCZBASE, 2010). Em uma anotação de 2018, a outra pele montada do acervo de Harvard “foi encontrada no piso B4 do Prédio Noroeste sem numeração. Por eliminação, estipulou-se que esse espécime deva ser o MCZ 6520 ou o MCZ 6579. Devido às condições de cada montagem descrita no banco de dados (ver MCZ 6520 para as condições das nadadeiras), determinou-se que se trata do espécime MCZ 6579” (MCZBASE, 2018). Esses corpos centenários estão se esfacelando, sem etiquetagem, abandonados no chão. Sobre essas vidas cessadas, perpetua-se a violência à qual seus corpos foram submetidos.

O Harvard Natural History Museum é, no entanto, o único museu que teve, recentemente, uma foca-monge-do-caribe em exibição pública, segundo pude apurar. Um guia do museu de 1936 lembrava que a foca-monge-do-caribe, “quase, senão completamente, extinta” em exposição na Ala de América do Sul, era “muito rara em acervos” (Harvard MCZ…, 1936, p.42). Um espécime (deveria ser o MCZ 6579, pois possuía nadadeiras) esteve, até por volta de 2017, exposto em uma vitrina com macacos do Novo Mundo. Embora muitos espécimes de focas-monge-do-caribe fossem preparações taxidérmicas que receberam enchimentos e foram montadas para exposição, todas exceto especificamente essa foram armazenadas em depósitos. Ainda que isso possa significar que os corpos insubstituíveis demoram mais a se deteriorar na ausência de luz e oscilações de temperatura, isso também significa que eles são mantidos longe da visão do público que poderia estar vendo e escutando a sua história. A foca-monge-do-caribe não ficou apenas longe dos olhos, mas também longe da mente. Os museus fracassaram em contar a história desse animal.

Embora existam imagens históricas da foca-monge-do-caribe, elas nunca foram reunidas em um só local. Este é o primeiro artigo a fazê-lo e espera-se que isso, somado a uma história dos espécimes museológicos, seja um avanço para um novo futuro para a história da foca-monge-do-caribe. Hannah Stark (2018STARK, Hannah. The cultural politics of mourning in the era of mass extinction: Thylacine specimen P762. Australian Humanities Review, v.63, p.65-79, 2018., p.75) afirmou que a cultura visual de espécimes extintos, como um filhote de tigre-da-tasmânia examinado por ela, “é extremamente importante, uma vez que o acesso que temos a eles é, muitas vezes, por esse meio… As representações visuais, portanto, têm uma função significativa em como essas espécies são lembradas”. Talvez reunindo as imagens de focas-monge criadas quando esses animais ainda nadavam em águas oceânicas, uma nova memória possa começar a se formar na qual a foca seja uma participante ativa.

Essas imagens reforçam que o modo como vemos as focas-monge-do-caribe é mediado pela comunicação científica. Todas as imagens históricas disponíveis são encontradas em contextos científicos: os desenhos e as fotografias dos espécimes empalhados ilustram artigos de periódicos científicos, as fotos de expedições serviam de documentação científica da viagem e as fotografias das focas do aquário eram publicadas em uma revista científica popular. A ciência e o conhecimento científico são os veículos de difusão do conhecimento sobre a Monachus tropicalis. Contudo, esse prisma científico não é neutro – na verdade, está envolvido na morte e, enfim, na extinção do objeto que pretende apreciar.

A maioria das imagens é profundamente dependente da preparação taxidérmica: são fotos ou ilustrações feitas com base nos espécimes empalhados. Como afirmou Rachel Poliquin (2008)POLIQUIN, Rachel. The matter and meaning of museum taxidermy. Museum and Society, v.6, n.2, p.123-134, 2008., a taxidermia não pode ser vista como natural e nem compreendida como peles mudas. As imagens da foca-monge aqui reunidas podem ser lidas à maneira proposta por Poliquin para a taxidermia de uma maneira geral: de forma descritiva, biográfica, admonitória e empírica. A leitura descritiva das imagens é aquela que se concentra na materialidade biológica da foca-monge-do-caribe. Observando as fotografias de montagens taxidérmicas, temos uma ideia de conformação corporal, pele e postura do animal; analisando as fotografias das expedições, vemos comportamentos biológicos de reprodução e fuga do perigo. A leitura biológica é centrada no movimento da imagem (e o espécime que ela contém) ao longo do tempo, por meio das mãos de colecionadores, instituições e publicações. Cada foca-monge-do-caribe remanescente possui uma trajetória individual e histórica com locais e datas; não são apenas representantes de uma espécie, mas indivíduos com uma história de vida. A leitura admonitória destina a atenção à destruição e à violência da extinção. As desagradáveis manchas na pele em uma montagem taxidérmica (Figura 6) ou um cadáver animal sendo arrastado (Figura 9) lembram ao expectador a fragmentação dos corpos em exposição. A narrativa empírica converge para o encontro com o animal. Essas imagens nos proporcionam uma ideia dos encontros anteriores, a corporificação da aura dos mortos, mesmo que hoje não tenhamos a possibilidade de encontrar uma foca-monge-do-caribe de verdade, a menos que tenhamos a sorte de visitar o museu de Harvard ou algum depósito nos bastidores onde esses espécimes são mantidos.

Ao contar a história da foca-monge-do-caribe, este artigo tenta contestar o seu desaparecimento e apelar para que se renove a atenção sobre o papel dos museus em sua perda. A memória da Monachus tropicalis merece ser reescrita nesses museus de história natural que mantêm os restos dessa espécie, pois sua vida e sua extinção estão ligadas aos museus de história natural e suas práticas.

AGRADECIMENTOS

Esta pesquisa foi financiada pelo Research Council of Norway como parte do projeto “Beyond Dodos and Dinosaurs: Displaying Extinction and Recovery in Museums” (projeto n.283523). Agradecimentos à arquivista Heidi Stover pela assistência na localização das fotografias de Nelson nos Smithsonian Archives.

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NOTAS

  • 1
    Scheel et al. (2014)SCHEEL, Dirk-Martin et al. Biogeography and taxonomy of extinct and endangered monk seals illuminated by ancient DNA and skull morphology. ZooKeys, v.409, p.1-33, 2014. realizaram um estudo genético das focas-monge e concluíram que as focas-monge do Novo Mundo (Caribe e ilhas havaianas) deveriam ser classificadas em um gênero distinto da foca-monge do Mediterrâneo. Denominaram o gênero de Neomonachus (significando novo + Monachus), contrapondo-o à Monachus do Mediterrâneo. Essa alteração ainda não foi amplamente assimilada.
  • 2
    Nessa e nas demais citações de textos publicados em outros idiomas, a tradução é livre.
  • 3
    O fato de Gray ter abordado duas focas diferentes na mesma publicação em 1849 provocou muita confusão acerca da sinonímia das espécies. Conforme observado por Scheel et al. (2014)SCHEEL, Dirk-Martin et al. Biogeography and taxonomy of extinct and endangered monk seals illuminated by ancient DNA and skull morphology. ZooKeys, v.409, p.1-33, 2014., Cystophora antillarum deve ser considerado sinônimo de Cystophora cristataI (a foca-encapuzada), não sinônimo de foca-monge.
  • 4
    Essa informação foi fornecida à autora em correspondência pessoal com Richard Sabin, curador-chefe do Natural History Museum.
  • 5
    Há um projeto de documentação em andamento sobre o Ward’s Natural Science Establishment denominado Searching for Ward’s, disponível em: https://wardproject.org.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Fev 2022
  • Data do Fascículo
    Dez 2021

Histórico

  • Recebido
    31 Jan 2021
  • Aceito
    14 Jun 2021
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