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O exercício de agachamento recruta músculos do tronco tanto quanto exercícios localizados

Resumo

Introdução

No contexto do treinamento resistido, que engloba tanto o fortalecimento quanto a reabilitação, a incorporação de exercícios de alcance global demanda uma intensa ativação dos grupos musculares do tronco, os quais desempenham um papel primordial na estabilização corporal. O agachamento, notório por sua complexidade e eficácia na ativação dos estabilizadores durante a execução, suscita uma questão central: se o agachamento recruta de forma mais acentuada a musculatura do tronco comparativamente a exercícios localizados, tais como flexões e extensões do tronco.

Objetivo

Identificar o grau de ativação dos músculos do tronco durante o agachamento e confrontá-lo com exercícios localizados para a musculatura do tronco: lombar e abdominal.

Métodos

Através da aplicação da eletromiografia de superfície, avaliou-se a ativação dos músculos iliocostal, multífido, oblíquo interno, oblíquo externo e reto abdominal. A amostra englobou 16 voluntários de ambos os gêneros, fisicamente ativos. Empregou-se um teste t de medidas repetidas (α < 0,05) como método de análise.

Resultados

Os músculos iliocostal, multífido e oblíquo interno manifestaram níveis semelhantes de ativação tanto no agachamento quanto em seus respectivos exercícios isolados, enquanto os músculos reto abdominal e oblíquo externo apresentaram maior atividade durante a flexão do tronco.

Conclusão

É possível inferir que o agachamento se configura como um exercício eficaz para o treinamento do iliocostal, multífido e oblíquo interno, enquanto os exercícios localizados se revelam mais indicados para o fortalecimento do oblíquo externo e dos músculos reto abdominais. Tais conclusões podem contribuir para a otimização do planejamento de sessões de exercícios, mediante a substituição de exercícios isolados de tronco pelo agachamento.

Abdominal; Eletromiografia; Vértebras lombares

Abstract

Introduction

In the context of resistance training, which encompasses both strengthening and rehabilitation, the incorporation of global range exercises demands intense activation of the trunk muscle groups, which play a primary role in body stabilization. The squat, notorious for its complexity and effectiveness in activating stabilizers during execution, raises a central question: whether this exercise recruits the muscles more significantly compared to localized exercises, such as push-ups and trunk exten-sions.

Objective

To identify the degree of activation of the trunk muscles during squats and compare it with localized exercises for the trunk muscles: lumbar and abdominal.

Methods

Using surface electromyography, the activation of the iliocostalis, multifidus, internal oblique, external oblique and rectus abdominis muscles was evaluated. The sample included 16 physically active volunteers of both sexes. A repeated measures t-test (α < 0.05) was used as an analysis method.

Results

The iliocostalis, multifidus and internal oblique muscles showed similar levels of activation both in the squat and in their respective isolated exercises, while the rectus abdominis and external oblique muscles showed greater activity during trunk flexion.

Conclusion

It is possible to infer that squats are an effective exercise for training the iliocostalis, multifidus and internal oblique muscles, while localized exercises are more suitable for strengthening the external oblique and rectus abdominis muscles. Such conclusion can contribute to optimizing the planning of exercise sessions by replacing isolated trunk exercises with squats.

Abdominal; Electromyography; Lumbar spine

Introdução

O agachamento é amplamente reconhecido por sua complexidade de execução e pela alta exigência de controle corporal que demanda durante o seu de-sempenho.11. Boeckh-Behrens WU, Buskies W. Fitness-Krafttraining: Die besten Übungen und Methoden für Sport und Gesundheit. Hamburgo: Rowohlt Taschenbuch; 2000. 480 p. Além disso, é considerado um exercício altamente eficaz para o desenvolvimento da força nos membros inferiores.22. Escamilla RF. Knee biomechanics of the dynamic squat exercise. Med Sci Sports Exerc. 2001;33(1):127-41. DOI https://doi.org/10.1097/00005768-200101000-00020
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Este exercício é classificado como global, uma vez que engaja músculos tanto dos membros inferiores quanto do tronco em sua realização. A versatilidade do agachamento é evidenciada por suas variadas versões, as quais são amplamente praticadas nas academias.33. Hides JA, Stokes MJ, Saide M, Jull GA, Cooper DH. Evidence of lumbar multifidus muscle wasting ipsilateral to symptoms in patients with acute/subacute low back pain. Spine (Phila Pa 1976). 1994;19(2):165-72. DOI https://doi.org/10.1097/00007632-199401001-00009
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Seu estudo estende-se à sua aplicação em superfícies instáveis,44. Marchetti PH, Calheiros Neto RB, Charro MA. Biomecânica Aplicada: Uma abordagem para o treinamento de força. São Paulo: Phorte; 2007. bem como à utilização de acessórios como a barra de segurança55. Maior AS, Marmelo L, Marques-Neto S. Perfil do EMG em relação a duas angulações distintas durante a contração voluntária isométrica máxima no exercício de agachamento. Motricidade. 2011;7(2):77-84. Full text link http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1646-107X2011000200009
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e a barra guiada,66. Mancini M, Brown AF, Novaes JS, Ribeiro MS, Panza PS, Santos LR, et al. Comparação do exercício agachamento nas superfícies estável e instável sobre a eletromiografia e percepção subjetiva de esforço. Cons Saude. 2019;18(2):165-73. DOI https://doi.org/10.5585/conssaude.v18n2.10564
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a fim de compreender o impacto de diferentes abordagens no sistema neuromuscular. Ademais, o agacha-mento é uma opção atrativa devido à sua capacidade de recrutar simultaneamente músculos dos membros inferiores e do tronco, o que otimiza o tempo de treina-mento. É plausível que o agachamento possa suprir a necessidade de treinamento das musculaturas que normalmente são alvo de exercícios isolados para o tronco. Entretanto persiste a necessidade de investigar minuciosamente a dinâmica das musculaturas do tronco durante a realização do agachamento.

A utilização de diferentes barras para sua execução, como a barra de segurança e a barra reta tradicional, não causa alterações importantes na ativação muscular de membros inferiores e de tronco.55. Maior AS, Marmelo L, Marques-Neto S. Perfil do EMG em relação a duas angulações distintas durante a contração voluntária isométrica máxima no exercício de agachamento. Motricidade. 2011;7(2):77-84. Full text link http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1646-107X2011000200009
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A utilização de superfícies instáveis (como o bosu ou discos de equilíbrio) durante o agachamento, a fim de aumentar a instabilidade, pode não afetar o recrutamento da musculatura estabilizadora do tronco ou de membros inferiores.77. Marchetti PH, Gomes WA, Luz Jr DA, Giampaoli B, Amorim MA, Bastos HL, et al. Aspectos neuromecânicos no agachamento. Rev CPAQV. 2013;5(2). Full text link https://tinyurl.com/4sp52se4
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,88. Martins LRGM, Marques NR, Ruzene JRS, Morita AK, Navega MT. Atividade eletromiográfica e cocontração dos músculos do tronco durante exercícios realizados com haste oscilatória: uma análise do efeito de diferentes posturas. Fisioter Pesq. 2015;22(2):119-25. DOI https://doi.org/10.590/1809-2950/12976422022015
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Durante o agachamento na máquina Smith Machine, com joelhos fletidos a 70º ou 90º, os múscu-los de membros inferiores apresentam o mesmo recrutamento.44. Marchetti PH, Calheiros Neto RB, Charro MA. Biomecânica Aplicada: Uma abordagem para o treinamento de força. São Paulo: Phorte; 2007. Além do recrutamento de músculos do membro inferior e tronco serem objeto de estudo durante o agachamento, exercícios específicos para a região do tronco também têm sido estudados. Rita et al.99. Rita CB, Soares DP, Oliveira LG, Tartaruga LAP, Loss JF. Comparação eletromiográfica entre quatro exercícios abdomi-nais de flexão de tronco. Congresso Brasileiro de Biomecânica; 18-22 jun 2005; João Pessoa, PB. São Paulo: Sociedade Brasi-leira de Biomecânica; 2005.relatam que abdominais convencionais ou com a utilização de equipamento não apresentaram diferenças nas atividades eletromiográficas dos músculos reto abdominal e oblíquo externo. Segundo Martins et al.,88. Martins LRGM, Marques NR, Ruzene JRS, Morita AK, Navega MT. Atividade eletromiográfica e cocontração dos músculos do tronco durante exercícios realizados com haste oscilatória: uma análise do efeito de diferentes posturas. Fisioter Pesq. 2015;22(2):119-25. DOI https://doi.org/10.590/1809-2950/12976422022015
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existe inclusive interação entre a postura e o recrutamento da musculatura do tronco durante exercícios abdominais, onde a alteração do posicionamento da pelve é capaz de alterar o recrutamento de músculos como o ilíaco e o oblíquo interno.

Diante das indagações anteriormente delineadas, emerge uma inquietação na literatura pertinente à relação entre o recrutamento dos músculos posturais no contexto do agachamento e dos exercícios direcionados à musculatura do tronco. Nesse contexto, torna-se notório e relevante o empreendimento de investigações voltadas à compreensão detalhada do recrutamento muscular inerente tanto à execução do agachamento quanto à realização de exercícios visando a mesma musculatura do tronco. Essa empreitada visa preencher uma lacuna de entendimento, oferecendo perspicácia científica para informar recomendações embasadas em evidências no que tange a escolha de exercícios. À luz dessa justificativa, o presente estudo abraça o objetivo de comparar os níveis de atividade muscular nos músculos do tronco no contexto da execução do exercício de agachamento e em exercícios isolados de flexão e extensão do tronco.

Métodos

Participou deste estudo um grupo de 16 voluntários, com idades compreendidas entre 18 e 32 anos,caracterizados por serem praticantes ativos de treina-mento resistido, realizando sessões com frequência mínima de duas vezes semanais. O presente protocolo de pesquisa recebeu a aprovação do Comitê de Ética da Universidade de Caxias do Sul (CAAE 47719221. 6.0000.5341). Não verificou-se histórico cirúrgico nos membros inferiores ou na coluna dos participantes. A análise da atividade eletromiográfica abrangeu mús-culos específicos, a saber: oblíquo interno (OI), oblíquo externo (OE), reto abdominal (RA), multífidos (MU) e iliocostais (IC). O posicionamento dos eletrodos, em con-figuração bipolar, e os procedimentos de preparação da pele aderiram às diretrizes propostas pelo SENIAM.1010. SENIAM, Surface ElectroMyoGraphy for the Non-Invasive Assessment of Muscles. 2023 [cited 2023 Oct 10]. Available from: http://www.seniam.org/
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Referentemente aos músculos abdominais, o estudo de Queiroz et al.1111. Queiroz BC, Cagliari MF, Amorim CF, Sacco IC. Muscle activation during four Pilates core stability exercises in quadru-ped position. Arch Phys Med Rehabil. 2010;91(1):86-92. DOI https://doi.org/10.1016/j.apmr.2009.09.016
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foi adotado como ponto de referência para a adequada colocação dos eletrodos.

Para a condução do procedimento de coleta de dados, procedeu-se, inicialmente, a um breve aquecimento de natureza geral. Posteriormente, os partici-pantes foram orientados a executar os exercícios de agachamento, flexão de tronco e extensão de tronco sem carga, visando a familiarização com os movimentos e a preparação específica das musculaturas em questão. Uma vez concluída essa fase, determinou-se a carga a ser adotada para a realização do exercício de agachamen-to por cada voluntário, tendo como parâmetro a carga que permitisse a realização precisa de 10 repetições máximas (10 RM). Constatou-se que o ponto de inter-rupção se dava quando o voluntário apresentava notá-veis alterações no posicionamento pélvico, lombar ou torácico durante a execução do exercício, ou quando não era mais possível realizar repetições. Durante todo o processo de determinação da carga, dois avaliadores se posicionavam ao lado do voluntário, fornecendo incentivos verbais e monitorando a execução das re-petições, em consonância com o intuito de assegurar a segurança do procedimento. Subsequente à etapa anterior, procedeu-se à avaliação das contrações isométricas voluntárias máximas (CVM) dos músculos de interesse. As orientações para essa avaliação foram pauta-das nas recomendações propostas pelo SENIAM1010. SENIAM, Surface ElectroMyoGraphy for the Non-Invasive Assessment of Muscles. 2023 [cited 2023 Oct 10]. Available from: http://www.seniam.org/
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e no direcionamento de Queiroz et al.1111. Queiroz BC, Cagliari MF, Amorim CF, Sacco IC. Muscle activation during four Pilates core stability exercises in quadru-ped position. Arch Phys Med Rehabil. 2010;91(1):86-92. DOI https://doi.org/10.1016/j.apmr.2009.09.016
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A sequência de procedimentos foi instaurada me-diante a realização, em ordem aleatória, dos exercícios de agachamento, flexão de tronco e extensão de tronco. O exercício de flexão de tronco se efetivou com o indivíduo deitado sobre uma maca, com os joelhos flexionados, retendo anilhas nas mãos que se encontravam em extensão completa à frente e sobre o peito. Nesse contexto, empregou-se uma carga correspondente a 50% do valor utilizado no exercício de agachamento. Por sua vez, o exercício de extensão lombar foi implementado com o indivíduo em decúbito ventral sobre a maca, permitindo que o tronco se projetasse para fora da maca. Para sustentar tal posição, uma das extremidades do corpo permanecia fixada à maca por intermédio da intervenção de um dos avaliadores.

Durante a execução do exercício de agachamento e de extensão de tronco, um marcador reflexivo foi devidamente acomodado sobre a vértebra C7, enquan-to no exercício de flexão de tronco o marcador foi alocado sobre a anilha. Este marcador desempenhou a função de possibilitar a determinação das repetições, demarcando o início e término de cada movimento. Para tanto, a coleta dos dados relativos à sua posição tridimensional foi realizada mediante a utilização do sistema de cinemetria Vicon (EUA). No que concerne a sincronização, o sinal eletromiográfico foi capturado em simultaneidade com a cinemetria por meio do sistema Telemyo 2400R G2 (Noraxon, EUA), a uma taxa de amos-tragem equivalente a 1500 Hz. Com o propósito de delinear as fases do movimento, utilizaram-se os picos de posição vertical junto aos pontos mais elevado e mais baixo. O protocolo compreendeu a realização de 10 repetições para cada exercício, sendo que apenas 8 repetições foram submetidas à análise, com as primeiras e últimas repetições excluídas do escopo de avaliação.

Para a análise dos dados eletromiográficos foram aplicados os filtros passa-banda Ideal (5 Hz a 500 Hz) e Butterworth (20 a 450 Hz, 4ª ordem) em todos os sinais eletromiográficos (exercício e CVM); calculou-se, então, o valor root mean square (RMS) de cada uma das repetições. O valor de RMS foi normalizado pela CVM.

A CVM foi processada com janelamento de 1 se-gundo, onde o pico de ativação da CVM foi computado. A normalização do sinal foi feita a partir dos valores da CVM. Realizou-se o teste estatístico teste T de medidas repetidas, com alfa adotado menor ou igual a 0,05. O software utilizado para análise foi o SPSS 17.0.

Resultados e discussão

As diferenças significativas entre as ativações dos músculos no exercício de agachamento e nos exercícios isolados foram percebidas no RA e no OI. Os demais músculos apresentaram uma pequena variação na ati-vação quando comparados aos exercícios localizados, no entanto sem diferenças significativas. Os resultados obtidos durante a coleta de dados estão expressos na Figura 1.

Figura 1
Gráfico de resultados da atividade eletromio-gráfica, durante os exercícios de agachamento (colunas cinzas) e durante os exercícios específicos de flexão e extensão de tronco (colunas pretas).

O agachamento se distingue como um exercício de elevada complexidade, demandando proficiência no controle corporal para uma execução precisa e apro-priada. Essa complexidade decorre da necessidade de recrutamento preciso de musculaturas voltadas à estabilização do movimento do tronco.99. Rita CB, Soares DP, Oliveira LG, Tartaruga LAP, Loss JF. Comparação eletromiográfica entre quatro exercícios abdomi-nais de flexão de tronco. Congresso Brasileiro de Biomecânica; 18-22 jun 2005; João Pessoa, PB. São Paulo: Sociedade Brasi-leira de Biomecânica; 2005.,1212. O'Sullivan PB, Twomey L, Allison GT. Altered abdominal muscle recruitment in patients with chronic back pain following a specific exercise intervention. J Orthop Sports Phys Ther. 1998;27(2):114-24. DOI https://doi.org/10.2519/jospt.1998.27.2.114
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Nesse contexto, o propósito central do presente estudo foi elucidar o grau de ativação dos músculos do tronco durante a realização do exercício de agachamento, além de efetuar uma análise comparativa dessa ativação em relação a exercícios isolados direcionados para essa região muscular.

A ativação do OI foi de 20,4 ± 13% (média ± desvio padrão) da CVM durante o agachamento e de 23,8 ± 7,4% da CVM durante a realização da flexão de tronco, o que mostrou relativa efetividade do exercício de agachamento para recrutar o OI, onde sua ativação é funda-mental para aumentar a estabilidade da coluna lombar.12 O agachamento mostrou-se eficiente também para os músculos posteriores, onde MU apresentou valores de 33,3 ± 8,8% da CVM para o agachamento e de 34,6 ± 12,5% para o exercício isolado de extensão de tronco. Os músculos que apresentaram diferenças foram: RA, que ativou 5,2 ± 4,5% da CVM durante o agachamento e 23,4 ± 12,8% no exercício isolado; e OE, com 8,9 ± 4,7% da CVM no agachamento e 37,6 ± 14,2% no exercício isolado. Essa diferença mostra que estes dois músculos parecem ser mais utilizados nesta situação de flexão do tronco em comparação ao agachamento, concordando com achados de estudos anteriores,1313. Vahdat I, Rostami M, Ghomsheh FT, Khorramymehr S, Tanbakoosaz A. The effects of task execution variables on the musculature activation strategy of the lower trunk during squat lifting. Int J Ind Ergon. 2016;55:77-85. DOI https://doi.org/10.1016/j.ergon.2016.07.007
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ao contrário do que ocorreu para MU, OI e IC, que foram tão ativados durante o agachamento quanto nos exercícios mais específicos.

De acordo com as conclusões extraídas deste estudo, observa-se que os músculos OE e RA, os quais desempenham papéis proeminentes como agonistas no contexto da flexão de tronco, apresentam uma contribuição limitada enquanto estabilizadores durante a execução do exercício de agachamento. Uma característica unificadora entre todos os músculos investigados no âmbito deste estudo é o seu recrutamento isométrico durante a realização do exercício de agachamento, justificado pelo seu papel dominante no suporte à execução dos membros inferiores. Essa propensão ao recrutamento limitado pode ser atribuída à ênfase dada à atividade dos membros inferiores no exercício em questão. Por outro lado, o OI emerge como uma entidade de destaque no contexto da estabilização durante o exercício de agachamento. Sua considerável ativação neste contexto se associa ao seu relevante engajamento ao longo do movimento, adicionalmente à sua proximidade com a musculatura transverso do abdômen, região pivotal para a manutenção da integridade da coluna vertebral.1414. Vantrease WC, Townsend JR, Sapp PA, Henry RN, Johnson KD. Maximal strength, muscle activation, and bar velocity comparisons between squatting with a traditional or safety squat bar. J Strength Cond Res. 2021;35(Suppl 1):S1-5. DOI https://doi.org/10.1519/jsc.0000000000003541
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A compreensão mais precisa desse mecanismo, no entanto, permanece como um ponto de interesse, uma vez que a amplificação da instabilidade nem sempre se correlaciona com incremento na ativação muscular.55. Maior AS, Marmelo L, Marques-Neto S. Perfil do EMG em relação a duas angulações distintas durante a contração voluntária isométrica máxima no exercício de agachamento. Motricidade. 2011;7(2):77-84. Full text link http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1646-107X2011000200009
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Através de uma investigação eletromiográfica, Hodges e Richardson5 estabeleceram que o músculo transverso abdominal é o primeiro a ser acionado du-rante movimentos dos membros inferiores e superiores, denotando sua posição fundamental na estabilização segmentar. A constatação desse estudo converge com os resultados aqui obtidos, reforçando a importância do músculo transverso abdominal como um componente crucial na manutenção da estabilidade, alinhando-se, assim, com os achados do presente estudo.

Boeckh-Behrens et al.11. Boeckh-Behrens WU, Buskies W. Fitness-Krafttraining: Die besten Übungen und Methoden für Sport und Gesundheit. Hamburgo: Rowohlt Taschenbuch; 2000. 480 p. conduziram um estudo em-pregando a eletromiografia com o objetivo de avaliar uma variedade de exercícios, visando discernir quais apresentariam a melhor eficácia para o fortalecimento da musculatura do tronco. Os resultados desse estudo indicaram que o agachamento ocupou a segunda posição entre os exercícios com o mais alto grau de recrutamento dos músculos estabilizadores do tronco. Notada-mente, os músculos com maior protagonismo na função de estabilização do tronco foram MU, transverso do abdômen e OI.33. Hides JA, Stokes MJ, Saide M, Jull GA, Cooper DH. Evidence of lumbar multifidus muscle wasting ipsilateral to symptoms in patients with acute/subacute low back pain. Spine (Phila Pa 1976). 1994;19(2):165-72. DOI https://doi.org/10.1097/00007632-199401001-00009
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,1212. O'Sullivan PB, Twomey L, Allison GT. Altered abdominal muscle recruitment in patients with chronic back pain following a specific exercise intervention. J Orthop Sports Phys Ther. 1998;27(2):114-24. DOI https://doi.org/10.2519/jospt.1998.27.2.114
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,1313. Vahdat I, Rostami M, Ghomsheh FT, Khorramymehr S, Tanbakoosaz A. The effects of task execution variables on the musculature activation strategy of the lower trunk during squat lifting. Int J Ind Ergon. 2016;55:77-85. DOI https://doi.org/10.1016/j.ergon.2016.07.007
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Os resultados obtidos no âmbito deste estudo ostentam significativas implicações práticas, uma vez que o agachamento pode ser enquadrado não apenas como um exercício de destaque no fortalecimento dos músculos MU, OI e IC, mas também como uma ferra-menta eficaz para essa finalidade. Adicionalmente, o agachamento emerge como uma alternativa que propi-cia a otimização do tempo de treinamento, uma vez que a sua implementação pode levar à redução do volume de exercícios direcionados aos mencionados grupos musculares (MU, OI e IC). Essa abordagem ganha ainda mais relevância considerando-se a crescente ênfase concedida à estabilização e segurança da coluna verte-bral no âmbito do treinamento físico. No contexto atual,a integridade da coluna vertebral tem se erigido como uma área de primordial preocupação para os profissio-nais do setor, consolidando-se como um aspecto crucial durante a condução de qualquer forma de exercício.1616. Panjabi MM. Clinical spinal instability and low back pain. J Electromyogr Kinesiol. 2003;13(4):371-9. DOI https://doi.org/10.1016/s1050-6411(03)00044-0
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A constatação de que determinados indivíduos não manifestam predisposição para a realização de exercícios direcionados aos músculos abdominais e lombares, seja em virtude de restrições físicas, razões médicas ou até mesmo por falta de interesse, reforça a pertinência de ponderar tal fato na seleção do exercício de agachamento para aprimorar a força dos músculos MU, IC e OI. Nesse contexto, o agachamento se deli-neia como uma alternativa promissora, considerando a potencialidade de recrutamento muscular e a possi-bilidade de contornar eventuais limitações individuais.

Para a continuidade das investigações, sugere-se a exploração de outros exercícios, caracterizados também por sua complexidade e demanda considerável de controle postural. Essa abordagem pode revelar-se produ-tiva para identificar alternativas igualmente eficazes no treinamento dos estabilizadores da coluna vertebral, constituindo um tópico relevante para estudos futuros.

Conclusão

Este estudo proporcionou insights significativos no que se refere à eficácia do exercício de agachamento no recrutamento das musculaturas essenciais para a estabilização do tronco e proteção da coluna vertebral. Os resultados robustos e consistentes indicam que o agachamento se equipara, em termos de eficácia, aos exercícios isolados direcionados para os músculos MU, IC e OI. A confirmação de que o agachamento desempenha um papel fundamental no fortalecimento desses grupos musculares tem implicações práticas consideráveis para o campo do treinamento resistido e reabilitação. A possibilidade de obter benefícios similares aos proporcionados por exercícios isolados sugere que o agachamento pode ser adotado como um componente integral e eficaz em programas de treinamento voltados para a estabilização do tronco e segurança da coluna vertebral.

Os resultados ressaltam a importância de abordagens diversificadas e fundamentadas na pesquisa para o desenvolvimento de estratégias de treinamento mais eficazes. A contínua investigação nesse âmbito, explorando diferentes variações e contextos de apli-cação do agachamento, pode contribuir para otimizar a prescrição de exercícios e aprimorar a abordagem terapêutica no âmbito clínico e esportivo.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Jan 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    14 Jun 2023
  • Revisado
    29 Ago 2023
  • Aceito
    30 Out 2023
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