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Costuras para adiar o fim do mundo: reflexões com base na obra A vida não é útil, de Aílton Krenak

Seams to postpone the end of the world: reflections on the work A vida não é útil, by Aílton Krenak

Costuras para postergar el fin del mundo: reflexiones basadas en la obra A vida não é útil, de Aílton Krenak

Resumo

O texto pretende apresentar o pensamento de Aílton Krenak com base em sua obra A vida não é útil e fazê-la dialogar com reflexões interdisciplinares contemporâneas, em formas de costuras sustentadas em uma epistemologia crítica e que apontem tessituras e formas outras de habitar, para além da armadilha neoliberal, em busca de ideias que adiem o fim do mundo. O autor chega à conclusão de que seu povo está no meio do desastre e que não faria sentido deixar de viver a experiência, ao mesmo tempo que, de maneira corajosa e existencialista, nos exulta à reflexão trazendo a alegoria de um deserto, o qual ele nos incentiva, sem pestanejar, a atravessar.

Palavras-chave:
Aílton Krenak; neoliberalismo; progresso

Abstract

The text intended to present the thoughts of Aílton Krenak on his work “A vida não é útil” and make it dialogue with contemporary interdisciplinary reflections, in forms of seams supported by a critical epistemology and that point out textures and other ways of inhabiting, beyond the neoliberal trap, in search of ideas that postpone the end of the world. The author comes to the conclusion that his people are in the midst of disaster and that it would make no sense to stop living the experience. At the same time, in a courageous and existentialist way, he will exult us to reflection, by bringing the allegory of a desert, which he encourages us, without hesitation, to cross.

Keywords:
Aílton Krenak; neoliberalism; progress

Resumen

El texto pretende presentar el pensamiento de Aílton Krenak basado en su obra “A vida não é útil” y hacerlo dialogar con reflexiones interdisciplinarias contemporáneas, en formas de costuras sustentadas en una epistemología crítica y que apuntan texturas y otras formas de habitar, más allá la trampa neoliberal, en busca de ideas que posterguen el fin del mundo. El autor llega a la conclusión de que su pueblo está en medio de un desastre y que no tendría sentido dejar de vivir la experiencia. Al mismo tiempo, de manera valiente y existencialista, exultará en la reflexión, trayendo la alegoría de un desierto, que nos anima, sin pestañear, a atravesar.

Palabras clave:
Aílton Krenak; neoliberalismo; progreso

INTRODUÇÃO

A obra em questão, A vida não é útil, de Aílton Krenak, nascido em 1953, na região do Vale do Rio Doce, pensador e ativista indígena contemporâneo, consiste em uma compilação de cinco textos elaborados pelo autor para diferentes ocasiões no espaço-tempo.

O primeiro capítulo, “Não se come dinheiro”, é fruto de um texto elaborado com base em uma live do autor com Leandro Demori para o The Intercept Brasil, em 8 de abril de 2020, e do evento Plante Rio, na Fundição Progresso, em 2018, além de contar com ideias advindas de entrevista a Amanda Massuela e Bruno Weis intitulada “O tradutor do pensamento mágico”, à revista Cult, em novembro de 2019.

O segundo capítulo, “Sonhos para adiar o fim do mundo”, segue a mesma trilha do primeiro e se constitui de distintos momentos e intervenções de Krenak. É elaborado de live no Festival Na Janela, da Companhia das Letras, conjuntamente com Sidarta Ribeiro, em 24 de maio de 2020, além de pensamentos de entrevista concedida a Amanda Massuela e Bruno Weis intitulada “O tradutor do pensamento mágico”, à revista Cult, em novembro de 2019.

O terceiro capítulo, “A máquina de fazer coisas”, nasceu de live Conversa Selvagem, com Marcelo Gleiser, em 17 de abril de 2020, além de contar com construções de entrevista a Fernanda Santana “Vida sustentável é vaidade pessoal”, a Correio, em 25 de janeiro de 2020, e com inspirações de live de Emicida com Aílton Krenak para o canal GNT na Semana do Meio Ambiente, dia 5 de junho de 2020, mais live com Jornalistas Livres, em 9 de junho de 2020.

O quarto capítulo ou texto, “O amanhã não está à venda”, é elaborado de três entrevistas concedidas em abril de 2020: “O modo de funcionamento da humanidade entrou em crise”, para Bertha Maakaroun, Estado de Minas, 3 de abril de 2020; “Voltar ao normal seria como se converter ao negacionismo e aceitar que a Terra é plana”, de O Globo, em 6 de abril de 2020; e “Não sou um pregador do apocalipse. Contra essa pandemia é preciso ter cuidado e depois coragem”, concedida a Christiana Martins, Expresso, Lisboa, em 7 de abril de 2020.

Por fim, o capítulo que empresta nome ao livro, “A vida não é útil”, se deu de conversa “Como adiar o fim do mundo” para o portal O Lugar, em 18 de março de 2020, além de live com os Jornalistas Livres, em 9 de junho de 2020, e de entrevista “Vida sustentável é vaidade pessoal, diz Aílton Krenak”, para Fernanda Santana, Correio, em 25 de janeiro de 2020.

Krenak, nos cinco capítulos da obra, tece uma costura geograficamente local, porém com experienciações globais. Quer dizer, chama a atenção aos problemas que assolam o entorno em que vive, seu espaço vivido, e ao mesmo tempo conversa de forma multidisciplinar com diversas questões filosóficas, ambientais, históricas, econômicas, a serviço de uma crítica à ideia de progresso e de arrogância do humano, em face de sua crença de personagem principal a atuar na Terra.

As construções deram-se todas no contexto de pandemia vivido a partir de março de 2020. Essa informação envolve grande parte das reflexões contidas no livro, no entanto não significa que as ideias de Krenak se encontram sitiadas por esse período excepcional, uma vez que apreendemos que a excepcionalidade, denunciada por autores como Giorgio Agamben (2004)AGAMBEN, Giorgio (2004). Estado de exceção. Tradução: Iraci D. Poleti. São Paulo: Boitempo., Michael Löwy e Walter Benjamin (2005)LÖWY, Michael; BENJAMIN, Walter (2005). Aviso de incêndio: uma leitura das teses “Sobre o conceito de história”. Tradução: Wanda Nogueira Caldeira Brant. São Paulo: Boitempo. e Carlos Drummond de Andrade (2009)ANDRADE, Carlos Drummond de (2009). A rosa do povo. 42° ed. Rio de Janeiro: Record., já se impõe como prática corriqueira e condição mesma de grande parte da população brasileira e mundial.

Na primeira costura — preferimos chamar os capítulos assim, pois parece nos dar uma sensação mais próxima das ideias de Krenak, uma vez que nesse momento do livro encontramos uma crítica mordaz aos horizontes criados pelo pensamento moderno, que desde o Iluminismo e com todo o ideário neoliberal que nos assola como única ratio possível, uma alusão plausível ao que nos permite reconhecer Pierre Dardot e Christian Laval, em seu A nova razão do mundo (2013), intui um único modo de vida sustentado pelas noções vazias de progresso —, o primeiro artesanato1 1 Palavra escolhida em alusão à crítica do progresso em Walter Benjamin (2012). dá-se como forma de mostrar a intencionalidade arrogante, a mesmidade, dos homens e das mulheres racionais a habitar o planeta. O vírus, para Krenak, impõe-se como um questionamento que o organismo vivo da Terra coloca aos animais humanos, oposto pela frase “Respirem agora, quero ver” (Krenak, 2020KRENAK, Aílton (2020). A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras., p. 10-11). Assim, a noção de um progresso acaba por ser desbancada como via possível, uma vez que o vírus, enuncia o autor, mostra o outro lado dessa questão, ou seja, a fragilidade humana.

Remetendo-nos à fala ancestral de seus povos, Krenak (2020KRENAK, Aílton (2020). A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras., p. 13) cita: “Quando o último peixe estiver nas águas e a última árvore for removida da terra, só então o homem perceberá que ele não é capaz de comer seu dinheiro”. Essa citação, que guarda o nome dessa costura inicial, evidencia o modus extrativista e predatório que a humanidade racional e ilustrada convencionou chamar de normal, quer dizer, uma separação filosófica e existencial do animal humano da Terra, como se houvesse uma cisão à moda positivista de construir a vida e o pensamento. Se não se come dinheiro, ao mesmo tempo não se respira dinheiro, não se encanta com dinheiro e, ao fim, não seríamos assim tão autossuficientes por produzirmos tanto. Em um paradoxo limite, essa corrida seria, como nos ensina o autor, uma corrida insana para a morte.

Essa fala vem acentuada quando o autor relata “esta(r)mos viciados em modernidade” (Krenak, 2020KRENAK, Aílton (2020). A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras., p. 17), o que constitui uma miragem de poder, uma fantasia, na qual imergimos e de lá parece que não sairemos vivos. Essa modernização e os artifícios criados pelo animal humano para sustentar a noção de progresso acabam por desconectá-lo da terra e, por consequência direta, por desconectá-lo de si. Por isso, o autor convida-nos a pararmos de olhar ao redor à procura de culpados e indica que o caminho talvez esteja em

despertar nosso poder interior e parar de ficar caçando um culpado ao nosso redor: uma corporação, um governo […] em diferentes lugares, tem gente lutando para este planeta ter uma chance, por meio da agroecologia, permacultura. Essa micropolítica está se disseminando e vai ocupar o lugar da desilusão com a macropolítica. Os agentes da micropolítica são pessoas plantando horta no quintal de casa, abrindo calçadas para deixar brotar seja lá o que for. […] Penso muito na música “Refazenda”, do Gilberto Gil, naqueles versos que dizem: “Abacateiro / acataremos teu ato / nós também somos do mato / como o pato e o leão (Krenak, 2020KRENAK, Aílton (2020). A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras., p. 22-23).

Há aqui menção ao ideário proclamado pelos estudos das epistemologias do Sul, com amparo em Boaventura de Sousa Santos e Maria Paula Menses (2010)SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula (orgs.) (2010). Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez., entre outros, para um pensamento global e uma ação local. Isso também vem indicado pelas reflexões de Emicida (Amarelo – É Tudo Pra Ontem, 2020AMARELO – É TUDO PRA ONTEM. Fred Ouro Preto. Netflix, 2020. 89 min. Disponível em: https://www.netflix.com/br/title/81306298. Acesso em: 10 maio 2022.
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) quando nos ensina sobre os poderes que o cuidado com a horta em casa pode produzir. Tem-se, portanto, uma aposta decolonial, poderíamos dizer, que vem sendo semeada pela costura de Aílton Krenak.

O autor propõe uma importante reflexão, nesse sentido, no capítulo intitulado “O país sobre um cemitério”, da obra O banquete dos deuses, do filósofo, historiador, psicólogo, educador e também indígena Daniel Munduruku:

O Brasil é um país imenso, rico, com uma diversidade social maravilhosa, com culturas que o enriquecem e o tornam um dos melhores países do mundo para se viver. Com democracia social, racial e religiosa, procura a estabilização e a globalização, em uma tentativa de erradicar a pobreza e com um governo preocupado em fortalecer a democracia etc. Tudo isso nos é repetido à exaustão pelo governo e pelos meios de comunicação que acreditam que o caminho do Brasil é o desenvolvimento, criando uma imagem de que tudo está bem, uniforme, linear e com possibilidade de solução. Corrupção, violência, compra de votos e privatizações são consequências da modernização e, aos poucos, tudo entrará nos eixos e o país será brindado com a entrada no Primeiro Mundo, em que todos serão felizes consumindo McDonald's e CocaCola (Krenak apud Munduruku, 2015MUNDURUKU, Daniel (2015). O banquete dos deuses. São Paulo: Global. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/184293. Acesso em: 17 nov. 2022.
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).

Escrevemos este texto no mesmo dia em que se inaugurou um monumento em frente à Bolsa de Valores em São Paulo (SP), um touro, que quer se assemelhar ao que existe em Wall Street, Nova York, Estados Unidos. Nada mais simbólico, pois, além da imensa falta de apuro estético, essa obra mostra como a racionalidade neoliberal com que dialoga Krenak não apenas se desvencilhou da interconexão com a terra, mas também da própria realidade do país — milhões de pessoas não possuem trabalho nem sequer alimentos à mesa. É essa mesma desconexão que Krenak denuncia quando critica a imensa campanha de naturalização do consumo e destruição por meio do slogan publicitário “O agro é tech, o agro é pop, o agro é tudo”2 2 Frase utilizada em propaganda comercial da Rede Globo de Televisão. , que faz referência a um país com diversidade na produção de alimentos. Nessa mesma linha, o autor chama a atenção para o “mau gosto” que seria chamar a região onde vive de Quadrilátero Ferrífero. Ou seja, o sintoma do progresso quase sempre vem com uma boa dose de nonsense estético: o boi que vive em um quadrilátero de ferro, preso, portanto. Vaticina o autor: “O que ele quer dizer? Que estamos ferrados” (Krenak, 2020KRENAK, Aílton (2020). A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras., p. 27).

A linguagem mostra a dificuldade da questão, pois, como nos ensina Drummond (1978)ANDRADE, Carlos Drummond de (1978). Antologia Poética. 12. ed. Rio de Janeiro: José Olympio. em seu poema “Confidência do Itabirano”, “90% de ferro nas calçadas, 80% de ferro nas almas”. Ora, Krenak diz que “estamos ferrados”, presos ao ferro que é levado pelas locomotivas “nervosas” que o autor escuta do outro lado do rio em estado de coma, provocado pelo crime do consórcio “BHP-Samarco-Vale”. Por fim, convoca o mesmo Drummond para dizer que ele seria um dos paraquedas coloridos, uma tentativa de “parar de nos desenvolver e começar a nos envolver”, tudo isso a direcionar uma visão que supere o antropocentrismo em busca de um novo modus para viver o termo vida, pois “vida é transcendência, está para além do dicionário, não tem uma definição” (Krenak, 2020KRENAK, Aílton (2020). A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras., p. 29).

A segunda costura, “Sonhos para adiar o fim do mundo”, pode ser vista como uma colcha daquelas de que nos valemos para não sentirmos frio, um acalento da cama que podemos habitar para que sonhemos. Krenak inicia o capítulo colocando em questão a quase sempre inquestionável palavra humanidade. Apreende-a sob uma pista lançada por Sidarta Ribeiro quando nos ensina que as cenas nas pinturas rupestres talvez possam estar não apenas a nos contar uma história acerca da cotidianidade daqueles povos, mas sim a nos mostrar também seus sonhos. Por essa picada no pensamento, Krenak desloca a ordem do saber, quase sempre alérgica a posturas não fundadas na razão colonial, e traz para dentro da cena de construção da narrativa aquilo que se chama sonho.

Há aqui uma desconstrução, na melhor acepção da estratégia criada por Jacques Derrida (2001)DERRIDA, Jacques. Posições. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva. Belo Horizonte: Autêntica, 2001., uma vez que, ante a primazia da vigília, Krenak opõe o sonho, e, por aí, uma invenção, feito as travessias propostas por Guimarães Rosa (1994a)ROSA, João Guimarães (1994a). A terceira margem do rio. Rio de Janeiro: Nova Aguilar. (Ficção completa, 2.), começa a nascer.

O sonho dito por Krenak seria uma espécie de instituição dentro da qual se admitem sonhadores e, nesse mesmo sentido, nos dá algumas ideias interessantes acerca do debate decolonial. Ora, sabemos, segundo esse mesmo autor, na obra Ideias para adiar o fim do mundo (Krenak, 2019KRENAK, Aílton (2019). Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras.), que há no Brasil mais de três centenas de línguas sendo praticadas. Assim, a decolonialidade talvez passe por uma hospitalidade, uma desconstrução da noção limitada de território como determinado pelo Estado nação e, ainda, permite-nos por abaixo a ideologia da uniformização, tão necessária para a dominação, territorial, física e/ou simbólica. O sonhador, então, prepara-se para a vida despertar do sonho, levando para ela toda a carga de profundidade experienciada nos sonhos.

Há nessa costura relação com outra cosmovisão que não desperdiça as experiências, sobretudo as que não podem ser catalogadas pela régua do pensamento ilustrado e eurocêntrico. Nessa caminhada Aílton Krenak traz para a questão do sonho a dimensão do afeto, tantas vezes e quase sempre rebaixada na cultura filosófica eurocentrada. Aqui, ele afirma que o “sonho é um lugar de veiculação de afetos” (Krenak, 2020KRENAK, Aílton (2020). A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras., p. 37), e nesse sentido um sonho afeta o mundo transformando-o, abrindo brechas para que o que se convenciona chamar real possa ali se colocar, mas agora, já outro, desconstruído pela transa com o afeto sonho.

Experiências e sonhos também figuram numa perspectiva integrativa em O banquete dos deuses, de Daniel Munduruku (2015)MUNDURUKU, Daniel (2015). O banquete dos deuses. São Paulo: Global. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/184293. Acesso em: 17 nov. 2022.
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, que há muitos anos se dedica à tarefa de resgatar a cultura de seu povo e de outros povos indígenas no Brasil, além de, na condição de educador, trilhar o caminho da desconstrução do discurso colonial eurocêntrico, que discrimina o índio, reforça o preconceito e contribui para visões negativas do indígena no discurso da escola, nos livros didáticos. Para Munduruku (2015)MUNDURUKU, Daniel (2015). O banquete dos deuses. São Paulo: Global. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/184293. Acesso em: 17 nov. 2022.
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, os sonhos são um reflexo das experiências adquiridas ao longo da história de vida. Para além de uma conceituação, mais numa perspectiva desse “acalento de cama”, à qual nos referimos há pouco, os sonhos são uma forma de “alimentarmos nossa crença num futuro melhor”, de mostrar o caminho que devemos seguir e, também, de mantê-lo aceso.

Outra coisa importante a ser lembrada: não se deve ignorar os sonhos. […] Sonhar é a libertação de nosso espírito, é um exercício de liberdade. Os sonhos moram na gente, assim como os valores. Eles são a expressão das nossas potencialidades. Algumas vezes estão entalados dentro da gente, precisando apenas de alguém que os faça sair. Precisam de alguém com sabedoria suficiente para não serem sacrificados sem poder deixar a sua mensagem (Munduruku, 2015MUNDURUKU, Daniel (2015). O banquete dos deuses. São Paulo: Global. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/184293. Acesso em: 17 nov. 2022.
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).

Há nessa costura oposição ao modelo cindido de construir o pensamento que fora trazido pelo ideário colonial. Nele separamos tudo. Desde Descartes, cindimos para conhecer, e é por demais evidente o problema que a destruição de algo para conhecê-lo carrega. As linguagens do pensamento e do modo de vida colonial se pautam na morte, enquanto Krenak oferta, em sua cosmovisão, a união, a não separação, que intui a diversidade:

Quando o sonho termina de ser contado, quem o escuta já pode pegar suas ferramentas e sair para as atividades do dia: o pescador por ir pescar, o caçador por ir caçar e quem não tem nada a fazer pode se recolher. Não há nenhum véu que o separa do cotidiano e o sonho emerge com maravilhosa clareza (Krenak, 2020KRENAK, Aílton (2020). A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras., p. 38).

Portanto, Krenak efetiva aqui a desconstrução que dissemos, ora, opondo ao mundo da vigília uma continuidade do mundo dos sonhos, e também o inverso; põe em xeque os binômios que dominam o imaginário filosófico ocidental, desde a caverna platônica, passando pela negação do corpo até a hierarquia entre conhecimentos científicos e saberes de povos originários. Ainda, fica claro que essa construção com base nos sonhos deixa criar prioridades e esquecimentos, ou seja, as primazias do homem ante a mulher, do animal humano ante o não humano, do nacional ante o estrangeiro. Todas as categorias sustentadoras do fazer colonial acabam sendo deixadas de lado em uma cosmovisão que desloca a noção de centro que o humano quis sempre inventar para si.

Essa não separabilidade ainda é alimentada quando o autor fala que seus povos andam em constelação, dando a noção de que há um movimento muito sutil de visão espacial e histórica, pois, se de um lado o pensamento e o humano colonial têm na consciência de si, na invenção do indivíduo, um dos seus valores mais queridos — veja-se a defesa liberal pela propriedade privada, pela autonomia e pela liberdade individual —, de outro o povo de Krenak é enunciado como um povo que não anda só, que, não cindindo o tempo do sonho nem o tempo da vigília, se permite comunicar de forma imensamente mais profunda e fraterna — intenções que os humanos coloniais perseguem há tanto tempo.

Essa reflexão sobre a não cisão, sobre uma forma ontológica de se relacionar com o sonho, é verticalizada adiante, quando Krenak opõe uma crítica importante ao antropocentrismo, que é eurocêntrico e falocêntrico:

Os Krenak desconfiam desse destino humano, por isso a gente se filia a rio, à pedra, às plantas e a outros seres com quem temos afinidade. É importante saber com quem podemos nos associar, em uma perspectiva existencial mesmo, em vez de ficarmos convencidos de que estamos com a bola toda […]. É mais ou menos o seguinte: se acreditarmos que quem apita nesse organismo que é a Terra são os tais humanos, acabamos incorrendo no grave erro de achar que existe uma qualidade humana especial. Ora, se essa qualidade existisse, nós não estaríamos hoje discutindo a indiferença de algumas pessoas em relação à morte e à destruição da base da vida no planeta. Destruir a floresta, o rio, destruir as paisagens, assim como ignorar a morte das pessoas, mostra que não há parâmetro de qualidade nenhum na humanidade, que isso não passa de uma construção histórica não confirmada pela realidade (Krenak, 2020KRENAK, Aílton (2020). A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras., p. 42-43).

Ao fim dessa costura, Krenak aponta outra vez para a cosmovisão com base na qual escreve, bem como mostra que ontologicamente vivem todos eles em comunhão com os demais seres vivos da Terra. Isso lhe permite trazer a ideia de que, se não deixarmos esse modo de vida para trás, provavelmente após o período da pandemia, muito pouco ou quase nada restará alterado — parece que lhe servia toda a razão. Assim, diz-nos que a travessia pela pandemia poderia ser interessante se acaso nos dispuséssemos dos penduricalhos que utilizamos até aqui.

De algum jeito, resta clara a necessidade de mudança de racionalidade a governar os sentidos, e aqui aparece o ponto que culmina em toda essa colcha que quer ser cobertor para ninar sonhos: a compreensão dessa mudança é trazida pelo autor de um olhar para o território-corpo, entendido em uma relação inseparável do mundo, seja ele da natura, seja da cultura. Quer dizer, todos os caminhos de composição do território levam ao corpo, do trabalhador espoliado, do morador da floresta destruída, da mulher violentada, da pessoa sem-teto.

A reflexão que encerra esta costura traz a fala de que alguns povos entendem que os corpos estão inter-relacionados com qualquer organismo vivo, com o planeta, e que, assim como há os ciclos da Terra, há os ciclos do e no corpo. Por essa indissociação, eles têm o hábito de, quando necessário, suspender o céu para amainar a pressão, e esse ritual dá-se em forma de danças e cantos. Ou seja, aquilo que o saber colonial quis relegar ao esquecimento, ao pecado, à danação, para o povo Krenak significa comunhão e potência de vida:

Quando fazemos o taru ande, esse ritual, é a comunhão com a teia da vida que nos dá potência. Suspender o céu é ampliar os horizontes de todos, não só dos humanos. Trata-se de uma memória, uma herança cultural do tempo em que nossos ancestrais estavam tão harmonizados com o ritmo da natureza que só precisavam trabalhar algumas horas do dia para proverem tudo que era preciso para viver. Em todo o resto do tempo você podia cantar, dançar, sonhar: o cotidiano era uma extensão do sonho. E as relações e os contratos tecidos no mundo dos sonhos, continuavam tendo sentido depois de acordar (Krenak, 2020KRENAK, Aílton (2020). A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras., p. 46-47).

Como o autor nos mostra, há como hipótese de sua cosmovisão a inseparabilidade entre o mundo tangível e o intangível, o que significa a desconstrução dos binômios que sustentam o pensamento colonial e que foram os sustentáculos da marcha colonial e do progresso sem memória e sem experiência. Desconstruir essas cisões talvez seja o ensinamento dessa costura, que tece ideias em diálogo com sonhos para adiar o fim do mundo.

A terceira costura do livro é intitulada “A máquina de fazer coisas”. Por esse título, ficamos tencionados a dizer acerca de Drummond, tantas vezes referenciado por Krenak, uma até como um “paraquedas colorido”, para meditarmos conjuntamente com o poeta do mundo, como foi chamado por José Miguel Wisnik (2018)WISNIK, José Miguel (2018). Maquinação do mundo: Drummond e a mineração. São Paulo: Companhia das Letras., um poeta que fez confluir por meio da sua poesia uma cidade como o centro do mundo, Itabira (MG).

Do mesmo modo, Krenak inicia a costura falando das distintas narrativas indígenas e de como elas não distinguem os seres vivos da natureza em face dos animais humanos. Essa cosmologia é uma tônica desde as outras costuras e permite-nos reconhecer as metáforas usadas pelos povos originários quando, por exemplo, ao dizerem de um povo que se mantém de pé, estão a falar com e a partir das árvores, das florestas. O referencial é, portanto, absolutamente diferente daquele utilizado pelos povos coloniais.

Essa mudança de perspectiva, aliás constantemente alertada nas demais costuras desta obra, recai sobre a questão pandêmica, quando o autor mostra que as pessoas — pelo menos as que puderam — se mantiveram em casa, aceitaram essa mudança em sua perspectiva existencial e com base nisso pergunta o porquê de não alterarmos o modo de vida capitalista predatório e de consumo. Afirma o autor que esse seria um valor transcendente, tão óbvio como a conclusão da canção de Caetano Veloso (1977)CAETANO EMMANUEL VIANA TELES VELOSO. Um índio. Álbum: Bicho. Polygram/Philips, 1977. 2m55s. “Um índio”.

Com essa pergunta, Krenak critica a noção arrogante do animal humano e mostra filosoficamente a concepção de uso e de técnica como utensílios para moldar o espaço, a água, o vento, a terra. Foi o que fez com que houvesse essa cisão tão prejudicial ao organismo vivo Terra. O autor ainda informa acerca da ideia de que as tradições que compartilha não compreendem poderes sobrenaturais. Ao contrário, elas entendem todos os poderes como naturais, ou seja, poderes que se constituem mutuamente como coabitação no tempo e no espaço.

Essa relação ontológica existencial faz participar, portanto, o mundo dos animais humanos ante o mundo da natureza, mas não em uma relação de distanciamento ou distinção, menos ainda de hierarquia, lembrando Davi Kopenawa e Bruce Albert (2015)KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce (2015). A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras. 729 p.. Chama a atenção para a relação de parentesco entre um animal humano e o sol. Esse trânsito, de fato, torna-se intensamente distante do ideário colonial e pouco inspirado que domina a busca pelo progresso, tendo a natureza como utensílio e não como vida pulsante.

Ainda sobre a situação de pandemia, Krenak diz que podemos estar a viver uma espécie de ajuste de contas:

Eu não percebo esse momento que estamos vivendo como uma situação-limite, acho que o que estamos passando é uma espécie de ajuste de foco no qual temos a oportunidade de decidir se queremos ou não apertar o botão da nossa autoextinção, mas todo o resto da Terra vai continuar existindo (Krenak, 2020KRENAK, Aílton (2020). A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras., p. 58).

Em diálogo franco contra a questão capitalista e a ratio neoliberal, Krenak diz-nos que o sistema capitalista, como sabido, inventa desejos e, por isso mesmo, cria vícios. Nesse sentido, a cada nova invenção as pessoas se sentem carentes dela, sentem que necessitam daquele novo utensílio, e nessa via o autor fala algo parecido com a outra costura — lá ele dizia que estamos viciados em modernidade. Aqui, ele fala de um vício pelo novo, quer dizer, aquilo que já fora denunciado por Benjamin (2012)BENJAMIN, Walter (2012). Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução de Sérgio Paulo Rouanet. 8. ed. São Paulo: Brasiliense. v. 1. no que tange à experiência, e a memória vem à tona na fala de Krenak.

Por essa irrealidade, que para autores como Byung-Chul Han (2021)HAN, Byung-Chul (2021). Sociedade paliativa: a dor hoje. Petrópolis: Vozes. se converte em uma algofobia, uma angústia generalizada diante da dor, na sociedade contemporânea do consumo e da felicidade a todo custo há uma fobia ante o outro, pois é ele quem nos traz a dor, quem nos traz o vírus, quem nos traz a morte, mas também a vida e o amor e o abraço. Assim, envolvidos nesse fora do tempo do consumo feliz, parece que há uma tentativa de driblar a vida pela ciência, retirar da vida toda a fricção e viver em um eterno estado inerte em que tudo é prazer — esse mundo não existe, e a conta chega.

Essa questão é clara, pois, se estamos em um momento em que há fobia por qualquer incômodo ou dor, a questão apenas se acentua quando colocamos isso em perspectiva de relação com a natureza e com os demais organismos vivos. Krenak diz, então, que há uma falsificação da vida quando queremos viver blindados quanto à possibilidade de morrer. Ora, seria essa a última trincheira a ser vencida até nos tornarmos mônadas em nossas células virtuais?

A costura mantém-se com uma crítica à questão da globalização, atestando com números que talvez haja uma globalização para uma parcela de pessoas envolvida com as grandes corporações multinacionais e que esse efeito não se aplica à imensa maioria dos habitantes da Terra. Nesse sentido, Krenak convoca o geógrafo Milton Santos, que em seus estudos acerca do território mostra que essa questão precisa ser apreciada com maior apuro como terreno, e não como especulação teórico-econômica. No entanto, mais que isso, tanto Santos quanto Krenak dialogam com uma frase lapidar que já fora atribuída a Slavoj Zizek. Conseguimos imaginar até o fim do mundo, mas não conseguimos imaginar um mundo além do capitalismo, e essa frase simboliza bem o que Krenak traz com Milton Santos:

Para muita gente, na epistemologia ocidental, a ideia de outro mundo é apenas um outro mundo capitalista consertado: você pega este mundo, leva para a oficina, troca o chassi, o para-brisa, arruma o eixo e bota para rodar mais uma vez. Um mundo velho e canalha fantasiado de novo. Definitivamente, eu não estou a fim de contribuir para pagar esta conta: para mim, não vale o conserto (Krenak, 2020KRENAK, Aílton (2020). A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras., p. 68).

O que há ao fim dessa costura é uma convocação que nos faz Krenak ao dizer mais uma vez da relação ontológica do animal humano com seu território, a Terra, e que a memória dos povos que cultuam essa relação é que poderia ser uma hipótese de salvação, no sentido de que há, portanto, saída, mas que isso estaria ligado a uma necessária mudança de perspectiva no que se refere àquilo que se entende por vida, ou seja, “ou você ouve a voz de todos os outros seres que habitam o planeta junto com você, ou faz guerra contra a vida na Terra” (Krenak, 2020KRENAK, Aílton (2020). A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras., p. 73).

A quarta costura chega com o nome “O amanhã não está à venda”. Krenak inicia-a dizendo que por causa do momento pandêmico interrompeu viagens e compromissos e se voltou para o solo onde vive sua família, o médio Rio Doce, em uma reserva de 4 mil hectares. O número da escala territorial é trazido como forma de evidenciar a injustiça dos processos históricos de luta por demarcação de terras comuns aos povos originários no Brasil.

Permanece a narrativa com uma questão territorial. Krenak fala de seu confinamento no momento pandêmico em face dos milhões que vivem confinados em apartamentos nas grandes metrópoles. Impossível não perceber uma relação muito fina entre a ausência de ar causada pelo vírus e o sufocamento das micromoradias a que se submete grande parte dos animais humanos, e, pelo avesso, permite-nos reconhecer a questão da propriedade privada, que baliza e norteia o pensamento jurídico e político do país. Esse pensamento mostra-se cruel, pois a especulação imobiliária contribui para o número de pessoas em situação de rua. Ao mesmo tempo que não estão emparedados dentro dos apartamentos, estão sufocados pela imensidão de indignidade que assola aquelas e aqueles que não têm um teto. O teto de Krenak possibilita-o plantar árvores confinado. O confinamento citadino necessita derrubar árvores para se aquecer, para se esconder, para se proteger. Paradoxo imenso.

Essa costura é uma intensa leitura com base na percepção de espaço e lugar, como nos permite reconhecer o geógrafo Yi-Fu Tuan (1983)TUAN, Yi-Fu (1983). Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: Difel.. Quando Krenak fala de seu lugar, mostra-nos que há ali mais que um uso, uma habitação. A relação com a natureza é uma relação ontológica na qual sem ela, sem esse lugar, se perde a identidade, se perde sua condição de possibilidade de existência. Tuan (1983)TUAN, Yi-Fu (1983). Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: Difel., ao falar de espaço e lugar, atribui àquele uma noção de abertura, de liberdade, e até de medo. De outro lado, o lugar é tomado como algo que nos acalenta, com o qual nos identificamos no sentido de afetos, símbolos e guarida.

Assim, quando lemos Krenak nos dizer de seu confinamento, parece, se não erramos, que a cosmologia do autor traz um nó para o pensamento mais ocidentalizado. Ora, se de um lado o lugar é aconchego e o espaço é abertura, em Krenak vemos que essa distinção pouco se aplica. O espaço/a natureza é seu lugar. Assim, as dicotomias coloniais do pensamento vão sendo desconstruídas em sua narrativa, que é costura, e o inverso também ocorre.

Diz da dor que os povos originários sempre sentiram pelo encurtamento de seus territórios, mas ao mesmo tempo mostra que agora assiste a uma espécie de surto dos povos coloniais. À medida que o vírus avança, a chamada humanidade vai sendo colocada em questão. A questão não pode mais ser disfarçada, uma vez que o vírus atua como um luminol, que expõe as entranhas de uma forma de viver que separa cidadãos de subcidadãos, humanidades de sub-humanidades, de modo naturalizado.

A forma de vida não seria assim apenas insustentável do ponto de vista da relação com a natureza, mas também em face das relações entre humanos. Como de resto, é insolúvel uma separação absoluta entre natureza e cultura. Ao criar hierarquias, acaba por relegar ao relento, às periferias, aos guetos, às ruas, aos espaços sem lugar toda a sorte de vidas que comporiam uma espécie de humanos indesejáveis: uma necropolítica alimentada pelo ideal das democracias capitalistas e liberais. Krenak mostra como o vírus põe a nu também a arrogância dos animais humanos em face das demais vidas que coabitam a Terra:

E temos agora esse vírus, um organismo do planeta, respondendo a esse pensamento doentio dos humanos com um ataque à forma de vida insustentável que adotamos por livre escolha, essa fantástica liberdade que todos adoram reivindicar, mas ninguém se pergunta qual o seu preço […]. Esse vírus está discriminando a humanidade. Basta olhar em volta. O melão-de-são-caetano continua a crescer aqui do lado de casa. A natureza segue. O vírus não mata pássaros, ursos, nenhum outro ser, apenas humanos. Quem está em pânico são os povos humanos e seu mundo artificial, seu modo de funcionamento que entrou em crise […]. Temos que abandonar o antropocentrismo; há muita vida além da gente, não fazemos falta na biodiversidade (Krenak, 2020KRENAK, Aílton (2020). A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras., p. 80-81).

A essa advertência, Krenak traz mais uma reflexão territorial. Ora, quando nos fala de uma abstração civilizatória, construída artificialmente e que deixa de fora a experiência e a singularidade das diversas formas de existência, essa construção, muito afeita ao pensamento moderno e colonial, carrega em si algumas pistas interessantes, que se situam desde uma crítica à globalização até a ideia tão propalada atualmente de desterritorialização como regra da sociedade contemporânea, em rede, virtual, irreal(?)!

Para esse momento, poderíamos pensar como tanto a globalização como a desterritorialização são faces da mesma moeda cunhada pela razão neoliberal. Se de um lado o apelo à globalização nos remete a um mundo sem fronteiras e, portanto, sem identidades, por outro a desterritorialização se mostraria natural, como se fosse uma consequência também natural do desenvolvimento, do progresso. Nesse ponto, Krenak encontra-se mais uma vez com Benjamin, mas também com geógrafos brasileiros, como Milton Santos e Rogério Haesbaert:

Esse pacote chamado de humanidade vai sendo descolado de maneira absoluta desse organismo que é a Terra, vivendo numa abstração civilizatória que suprime a diversidade, nega a pluralidade das formas de vida, de existência e de hábitos. Os únicos núcleos que ainda consideram que precisam se manter agarrados nesta Terra são aqueles que ficaram meio esquecidos pelas bordas do planeta, nas margens dos rios, nas beiras dos oceanos, na África, na Ásia ou na América Latina. Esta é a sub-humanidade: caiçaras, índios, quilombolas, aborígenes. Existe, então, uma humanidade que integra um clube seleto que não aceita novos sócios. E uma camada mais rústica e orgânica, uma sub-humanidade, que fica agarrada na Terra. Eu não me sinto parte dessa humanidade. Eu me sinto excluído dela (Krenak, 2020KRENAK, Aílton (2020). A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras., p. 82-83).

Essa costura mostra como a construção logocêntrica necessita de uma desconstrução. Por isso mesmo, Krenak propõe uma inversão no logos que tudo quer dizer, apropriar-se e lançar para o futuro. Ou seja, em vez do palavrório frenético da bolsa de valores, talvez o recolhimento seja também seguido por um convite à escuta, essa forma de se relacionar tão esquecida pelo pensamento colonial.

Krenak fala-nos que esse momento pode ser algo mesmo advindo da mãe terra, que nos convida a silenciar e nos recolhermos para uma necessária reflexão, porém mais alargada e talvez não apenas utilitarista. Assim, mostra que a economia, por exemplo, não passa de uma invenção humana e, portanto, não pode ser mais importante que seu criador. Nessa sorte de ideias, quando o governo brasileiro declara que a economia não pode parar e que pessoas vão morrer, Krenak irrita-se ao referir-se a “governos burros” que acham que a economia não pode parar em detrimento da pandemia. Ou seja, ele mostra que a inversão proposta não é apenas urgente, mas também uma questão de opção pela vida ou pela morte.

Quem está apenas adiando compromissos, como se tudo fosse voltar ao normal, está vivendo no passado. O futuro é aqui e agora, pode não haver o ano que vem […]. Não podemos voltar àquele ritmo, ligar todos os carros, todas as máquinas ao mesmo tempo. Seria como se converter ao negacionismo, aceitar que a Terra é plana e que devemos seguir nos devorando. Aí, sim, teremos provado que a humanidade é uma mentira (Krenak, 2020KRENAK, Aílton (2020). A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras., p. 90-91).

A quinta costura chama-se “A vida não é útil”, e nela Krenak adianta pelo título o tom de sua construção, uma crítica à maneira utilitarista com que se conduzem as decisões, desaguando naquilo que chamou de “erosão da vida”. Essa indicação parece-nos dialogar diretamente com aquilo que se percebe enquanto uma captura da subjetividade levada a cabo pela racionalidade neoliberal ensinada desde Pierre Dardot e Christian Laval (2013)DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian (2013). A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Boitempo. em A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal, ou seja, o imperativo do progresso assola não apenas as hipóteses de construção de realidades outras, bem como lança uma determinação no modus vivendi que em um só ato destrói quaisquer memórias que não dialoguem com o progresso e, por isso mesmo, impedem uma postura outra. Algo como já dito pelo autor em entrevista ao programa Roda Viva quando anunciou “o futuro é ancestral”, evidenciando a antítese daquilo que se naturaliza como única via de acesso ao mundo.

Nós estamos, devagarzinho, desaparecendo com os mundos que nossos ancestrais cultivaram sem todo esse aparato que hoje consideramos indispensável […]. Hoje quem fala em ancestralidade é um místico, um pajé, uma mãe de santo, porque as “pessoas de bem” saíram de um MBA em algum lugar e não vão ficar falando esse tipo de coisa (Krenak, 2020KRENAK, Aílton (2020). A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras., p. 98).

Ou seja, o apagamento da memória, de outros modos de viver, colabora para a narrativa unidimensional que vem sendo criticada por Krenak. A interrupção do fluxo de vida, ou, em melhores palavras, a sua substituição por um fluxo automatizado, recai diretamente na construção das subjetividades, e é isso que o autor nos mostra quando diz:

O modo de vida ocidental formatou o mundo como uma mercadoria e replica isso de maneira tão naturalizada que uma criança que cresce dentro dessa lógica vive isso como se fosse uma experiência total. As informações que ela recebe de como se constituir como pessoa e atuar na sociedade já seguem um roteiro predefinido: vai ser engenheira, arquiteta, médica, um sujeito habilitado para operar no mundo, para fazer guerra; tudo já está configurado (Krenak, 2020KRENAK, Aílton (2020). A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras., p. 101).

A questão da não utilidade da vida passaria, portanto, por uma revitalização dos laços com a dimensão ancestral e com a memória, hipótese que o autor levanta quando pergunta, aliás, em sentido parecido com os já citados Christian Laval e Pierre Dardot (2017)LAVAL, Christian; DARDOT, Pierre (2017). Comum ensaio sobre a revolução no século XXI. São Paulo: Boitempo. em livro intitulado Comum ensaio sobre a revolução no século XXI:

Trata-se de uma provocação acerca do egoísmo: eu não vou me salvar sozinho de nada, estamos todos enrascados. E, quando eu percebo que sozinho não faço a diferença, me abro para outras perspectivas. É dessa afetação pelos outros que pode sair uma outra compreensão sobre a vida na Terra. Se você ainda vive a cultura de um povo que não perdeu a memória de fazer parte da natureza, você é herdeiro disso, não precisa resgatá-la, mas se você passou por essa experiência urbana intensa, de virar um consumidor do planeta, a dificuldade de fazer o caminho de volta deve ser muito maior (Krenak, 2020KRENAK, Aílton (2020). A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras., p. 104).

A questão da consciência da vida é importante nessa sorte de reflexões de Krenak quando ele fala de seu povo e da natural vontade de permanecerem em seu território, o que nos conduz a uma reflexão acerca de alguns problemas que assolam o tempo neoliberal: a questão das desterritorializações, tão comum ao postulado do progresso e que exsurge como única saída no fazer neoliberal, como nos adverte Slavoj Žižek (1999)ŽIŽEK, Slavoj (1999). Um mapa da ideologia. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto., em clara menção ao furto da subjetividade, apontado por Krenak, sobre conseguir pensar o fim do mundo, mas não o fim do capitalismo. Nesses termos, torna-se incômoda a decisão de um povo, ultrajado pela lama que cobriu o leito do watu, de se manter em seu território, em sentido oposto ao que preceituaria a cartilha do desenvolvimento, que a tudo quer levar adiante, a memória, o afeto, o apego, transformados em produtos perecíveis incapazes de produzir sentido.

O ensinamento de Krenak acompanha as leituras e os sentimentos acerca do território visto de uma perspectiva decolonial, que significa algo mais além do que a circunscrição jurídico-política de uma porção de terra na qual se exerce o poder. Para essa matriz existencial, o território é algo que se coloca como condição material e imaterial de vida, não havendo apenas uma luta pelo uso e pela fruição. Pelo contrário, a questão que enreda essa leitura, que nos parece ser a mesma trazida por Krenak, não separa a condição material do território de sua condição imaterial.

Interessante como filosoficamente o pensamento do Norte global se fiou em uma separação e hierarquização, seja de alma, seja de corpo, seja material, seja imaterial, porém o que não pode deixar de ser evidenciado é que as denúncias de Krenak acerca das cisões eurocêntricas sempre se prestaram a construir uma forma de vida que privilegiasse determinadas existências em detrimento de outras. Todos os binômios, também desde sempre denunciados pela filosofia da desconstrução de um Jacques Derrida (2001)DERRIDA, Jacques. Posições. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva. Belo Horizonte: Autêntica, 2001., estiveram a serviço de uma imposição: homem × mulher, branco × negro, nacional × estrangeiro.

Nesse sentido, a fala de Krenak alia-se, por exemplo, à dos povos mapuche, que têm no território uma espécie de continuum de si, do corpo, formando uma espécie de corpo-território, incindível ontologicamente — esse aceno decolonial prescreve outro modo de viver e experiencia o mundo, bastante distante do clamor por desterritorialização que o pensamento neoliberal quer impor como natural e único.

Os Krenak não aceitaram ser retirados, quisemos ficar no lugar do flagelo […]. É uma questão que incomoda, mas é preciso estar nessa condição para poder produzir uma resposta em plena consciência. Consciência do corpo, da mente, consciência de ser o que se é e escolher ir além da experiência da sobrevivência (Krenak, 2020KRENAK, Aílton (2020). A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras., p. 114).

Para além da sobrevivência, que, como nos ensina o autor, é a maneira como o pensamento ocidental acaba por se impor, ora, como nos adverte Félix Guattari (1990)GUATTARI, Félix (1990). As três ecologias. Campinas: Papirus. em seu As três ecologias, as imensas zonas de miséria e fome parecem ser parte constituinte do sistema de estímulo do “capitalismo mundial integrado”, e, nessa mesma direção, Krenak diz que esses lugares de miséria e violência foram criados pela forma de vida adotada. Esse reclame vem ornado pelo autor com uma saída que aduz à necessária crítica que faz Theodor W. Adorno (1995)ADORNO, Theodor Wiesegrund (1995). Palavras e sinais: modelos críticos 2. Petrópolis: Vozes. em seu texto “Tempo livre”, no sentido de uma ausência de experiência constituída, de duração no tempo, uma vez que o modelo de existir neoliberal coloca tudo em perspectiva de tempo produtivo. Tempo a ser, portanto, consumido, e não é outro o reclame de Krenak:

Nós estamos aqui para fruir a vida, e quanto mais consciência despertarmos sobre a existência, mais intensamente a experimentamos […]. O pensamento vazio dos brancos não consegue conviver com a ideia de viver à toa no mundo, acham que o trabalho é a razão da existência. Eles escravizaram tanto os outros que agora precisam escravizar a si mesmos. Não podem parar e experimentar a vida como um dom e o mundo como um lugar maravilhoso. O mundo possível que a gente pode compartilhar não tem que ser um inferno, pode ser bom. Eles ficam horrorizados com isso, e dizem que somos preguiçosos, que não quisemos nos civilizar. Como se “civilizar-se” fosse um destino (Krenak, 2020KRENAK, Aílton (2020). A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras., p. 113).

Ao fim da costura, Krenak faz uma importante rasura no próprio coração do saber colonial quando, ironicamente, diz acerca da relação de seu povo com a Terra. Ora, diriam os brancos que os indígenas seriam poéticos ao verbalizarem que “a Terra é nossa mãe”, e com isso o autor deixa claro que temos uma via ontológica de relação com a Terra e com o território, abraçada pelos povos indígenas. Nesse rumo, é interessante perceber que um autor da filosofia como Martin Heidegger (2002)HEIDEGGER, Martin (2002). …poeticamente o homem habita… In: HEIDEGGER, Martin. Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes. p. 165-182. tenha um texto intitulado “Poeticamente o homem habita”, no qual dialoga com o poeta Hölderlin e ao fim conclui por dizer que apenas vivemos sem poesia e temos essa percepção, pois nosso Ser é poético. Logo, parece-nos que a relação ontológica que Krenak estabelece com a Terra enuncia a poesia, que, de forma insossa, leem os brancos acerca da relação de seu povo com a Terra. Ou seja, como se fosse possível não habitá-la poeticamente. Todo o esquecimento do Ser e toda a técnica como nova metafísica poderiam aqui ser lidos com base no que nos ensina Krenak.

No entanto, para além do ensinamento acerca do ser do humano, que é ser da Terra, Krenak finaliza seu texto dizendo que seu povo está no meio do desastre e que não faria sentido deixar de viver a experiência. Ao mesmo tempo, de maneira corajosa e existencialista, exulta à reflexão trazendo a alegoria de um deserto a que chegamos. Por acaso, devemos parar ou continuar? Krenak é imperativo: “O atravesse”!

Assim finda a nossa costura de A vida não é útil, não sem antes lembrar que um Guimarães Rosa (1994b)ROSA, João Guimarães (1994b). Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar. 2 v. v. 2. (Série Brasileira, João Guimarães Rosa Ficção.), sabedor de veredas, já dizia que além dos desertos também a vida pede coragem.

  • 1
    Palavra escolhida em alusão à crítica do progresso em Walter Benjamin (2012)BENJAMIN, Walter (2012). Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução de Sérgio Paulo Rouanet. 8. ed. São Paulo: Brasiliense. v. 1..
  • 2
    Frase utilizada em propaganda comercial da Rede Globo de Televisão.
  • ERRATA

    https://doi.org/10.1590/2316-40186702erratum
    No artigo “Costuras para adiar o fim do mundo: reflexões com base na obra A vida não é útil, de Aílton Krenak.”, com número de DOI 10.1590/2316-40186702, publicado no periódico Estud. Lit. Bras. Contemp., n. 67, e6702, 2022, na página 1, seção:
    Onde se lia:
    SEÇÃO TEMÁTICA
    Leia-se:
    UTOPIA E IMAGINAÇÃO UTÓPICA

REFERÊNCIAS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Jan 2023
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    17 Jun 2022
  • Aceito
    27 Nov 2022
Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea, Programa de Pós-Graduação em Literatura da Universidade de Brasília (UnB) Programa de Pós-Graduação em Literatura, Departamento de Teoria Literária e Literaturas, Universidade de Brasília , ICC Sul, Ala B, Sobreloja, sala B1-8, Campus Universitário Darcy Ribeiro , CEP 70910-900 – Brasília/DF – Brasil, Tel.: 55 61 3107-7213 - Brasília - DF - Brazil
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