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Paciente com síndrome de Morning Glory

Paciente de 6 anos trazida para atendimento oftalmológico por desvio ocular (esotropia) somente em olho direito há 3 anos. Melhor acuidade visual corrigida de vultos no olho direito e 20/20 no esquerdo. Pelo método de Krimsky, apresentava esotropia de 15 dioptrias prismáticas em olho direito. Não havia alterações na biomicroscopia de ambos olhos e a fundoscopia apresentava-se normal no olho esquerdo. No olho direito, observou-se disco óptico de tamanho aumentado, recoberto por tecido glial, vasos da retina retificados e com distribuição radial. Para confirmar o diagnóstico, realizamos ecografia, que demonstrou defeito na esclera posterior típico da síndrome de Morning Glory, que consiste em aumento da escavação do disco óptico e da retina peripapilar (Figuras 1 e 2).

Figura 1
Nervo óptico no fundo de olho

Figura 2
Ultrassonografia confirmando o diagnóstico

A síndrome de Morning Glory é uma rara anomalia congênita esporádica, normalmente unilateral.( 1Kindler P. Morning glory syndrome: unusual congenital optic disk anomaly. Am J Ophthtalmol. 1970;69(3):376-84. , 2Kanski JJ. Malformações de desenvolvimento e anomalias. In: Kanski JJ. Oftalmologia clínica. 6a ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2008. p. 84-6. ) Os casos bilaterais são ainda mais raros e podem ser hereditários.( 2Kanski JJ. Malformações de desenvolvimento e anomalias. In: Kanski JJ. Oftalmologia clínica. 6a ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2008. p. 84-6. ) Descrita por Kindler, em 1970, que lhe deu esse nome devido à semelhança com uma flor denominada Morning Glory. Caracteriza-se por um disco óptico de tamanho aumentado com bordas mal definidas e envoltas por anel pigmentado, escavação profunda, presença de tecido glial ocupando o disco óptico e disposição radial da vascularização retiniana.( 3Trabouisi El. Morning glory disc anomaly or optic disc coloboma. Arch Ophthtalmol. 1994;112(2):153. ) Há aumento do risco de descolamento seroso de retina e, nos primeiros meses/anos de vida, pode ser causa de leucocória.

Essa síndrome pode se associar a estrabismo, catarata, nistagmo, coloboma de cristalino e drusa de nervo óptico,( 4Hodgkins P, Lees M, Lawson J, Reardon W, Leitch J, Thorogood P, et al. Optic disc anomalles and frontonasal dysplasia. Br J Ophthtalmol. 1998;82(3):290-3. , 5Shami M, Mc Cartney D, Benedict W, Barnes C. Spontaneus retinal reattachment in a patient with persistent hyperplastic primary vitreous and an optic nerve coloboma. Am J Ophthtalmol. 1992;114(6):769-71. ) assim como anomalias do sistema nervoso central, endócrinas, renais e respiratórias. É rara em negros e duas vezes mais comum em mulheres, sem um padrão familiar de malformações associado.( 6Stefko ST, Campochiaro P, Wang P, Li Y, Zhu D, Trabouisi El. Dominant inheritance of optic pits. Am J Ophthalmol. 1997;124(1):112-3. ) A acuidade visual nem sempre é alterada, podendo estar normal ou comprometida de forma variável. Podem surgir complicações, como descolamento seroso de retina (30% dos casos) e, mais raramente, neovascularização de coroide. Raramente se associa à neurofibromatose tipo 2.( 3Trabouisi El. Morning glory disc anomaly or optic disc coloboma. Arch Ophthtalmol. 1994;112(2):153. )

O coloboma de disco óptico, que é um diagnóstico diferencial, manifesta-se como uma escavação, normalmente na parte inferior, sem a presença do tecido glial típica da síndrome de Morning Glory.( 7Pollock S. The morning glory disc anomaly:contractile movement, classification and embryogenesis. Doc Ophthtalmol. 1987;65(4):439-60. Review. )

REFERENCES

  • 1
    Kindler P. Morning glory syndrome: unusual congenital optic disk anomaly. Am J Ophthtalmol. 1970;69(3):376-84.
  • 2
    Kanski JJ. Malformações de desenvolvimento e anomalias. In: Kanski JJ. Oftalmologia clínica. 6a ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2008. p. 84-6.
  • 3
    Trabouisi El. Morning glory disc anomaly or optic disc coloboma. Arch Ophthtalmol. 1994;112(2):153.
  • 4
    Hodgkins P, Lees M, Lawson J, Reardon W, Leitch J, Thorogood P, et al. Optic disc anomalles and frontonasal dysplasia. Br J Ophthtalmol. 1998;82(3):290-3.
  • 5
    Shami M, Mc Cartney D, Benedict W, Barnes C. Spontaneus retinal reattachment in a patient with persistent hyperplastic primary vitreous and an optic nerve coloboma. Am J Ophthtalmol. 1992;114(6):769-71.
  • 6
    Stefko ST, Campochiaro P, Wang P, Li Y, Zhu D, Trabouisi El. Dominant inheritance of optic pits. Am J Ophthalmol. 1997;124(1):112-3.
  • 7
    Pollock S. The morning glory disc anomaly:contractile movement, classification and embryogenesis. Doc Ophthtalmol. 1987;65(4):439-60. Review.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Mar 2015
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2015

Histórico

  • Recebido
    3 Jul 2013
  • Aceito
    2 Dez 2013
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