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Purificar e destruir no filme ‘22 de julho’: O olhar de Jacques Sémelin Resenha (review) do filme 22 de julho, de Paul Greengrass

22 de julho. Direção de. Greengrass, Paul. Produção:. Netflix, EUA, Noruega, Islândia: 2018. (143 min)

Em 22 de julho de 2011, o norueguês Anders Behring Breivik matou 77 pessoas. Oito delas em Oslo, capital de seu país natal, onde explodiu um carro-bomba próximo a um edifício governamental em uma tentativa de matar o primeiro-ministro Jens Stoltenberg, do Partido Trabalhista Norueguês (Arbeiderpartiet [AP]), que representava a esquerda política. Poucas horas mais tarde, fuzilou mais 69 pessoas, em sua maioria jovens participantes de um acampamento de verão promovido pelo mesmo partido na ilha Utoya, a 40 km da capital. Breivik fazia parte de uma organização avessa ao multiculturalismo que culpava a esquerda - e o Partido Trabalhista em especial - pela invasão árabe na Noruega após o estabelecimento de uma política de tolerância aos imigrantes, medida que gerou uma série de reações de cunho nacionalista a partir de 2005.

Em 2018, uma versão do massacre foi lançada em um filme produzido pela Netflix: 22 de julho, dirigido pelo cineasta britânico Paul Greengrass. Trata-se de uma adaptação do livro One of Us, de Åsne Seierstad, publicado em 2013 na Noruega e baseado em registros policiais, depoimentos do próprio Breivik e entrevistas com sobreviventes da tragédia e famílias e amigos das vítimas fatais.

No início de seu livro Purificar e destruir (2009), o historiador e cientista político francês Jacques Sémelin se pergunta: “Como seres humanos podem se transformar, assim, em carrascos de seus semelhantes?” (p. 29). Ao final da obra, a resposta não é conclusiva, mas a partir da análise dos massacres humanos da época moderna - o genocídio armênio no início do século XX, o Shoah judaico na Segunda Guerra Mundial, o assassinato em massa cambojano na década de 1970, as limpezas étnicas da ex-Iugoslávia na década de 1990 e o massacre da população tutsi de Ruanda em 1994 -, o autor aponta um elemento comum a esses crimes cometidos por alguns indivíduos sobre grupos humanos que designam como inimigos: os atos de “purificação” - entendendo o termo “purificar” como o processo de estigmatizar o inimigo antes mesmo de matá-lo; ações essas que se mostram recorrentes em tempos de crise:

O massacre vem de uma operação do espírito: uma maneira de se ver o “Outro”, de estigmatizá-lo, de rebaixá-lo e anulá-lo, antes mesmo de matá-lo, de fato. A maturação desse processo mental, sempre complexo, leva, em geral, algum tempo. Mas pode também ganhar acelerações surpreendentes, especialmente quando a guerra está presente (SÉMELIN, 2009SÉMELIN, Jacques. Purificar e destruir. Rio de Janeiro: Difel, 2009., p. 29).

Esta resenha pretende analisar, a partir da reconstituição do massacre da Noruega de 2011 no filme 22 de julho (2018) e do olhar de Sémelin em Purificar e destruir (2009SÉMELIN, Jacques. Purificar e destruir. Rio de Janeiro: Difel, 2009.), o que moveu Anders Behring Breivik a cometer o atentado, e como a estrutura narrativa do filme de Paul Greengrass constrói uma metáfora que defende a resistência de um povo ao crescimento de posturas anti-imigração que levam a massacres como esse.

O longa-metragem tem início no dia anterior aos ataques e vai alternando cenas do atirador preparando explosivos e dirigindo até Oslo com imagens da chegada dos jovens a Utoya. Um dos adolescentes é Viljar Hanssen, sobrevivente real do massacre, interpretado por Jonas Strand Gravli, que desembarca na ilha com o irmão mais novo, Torje (Isak Bakli Aglen). A cena subsequente mostra a preparação do discurso que o primeiro-ministro Jens Stoltenberg (Ola G. Furuseth) faria em Utoya no dia seguinte, enfatizando a importância dos acampamentos do Partido Trabalhista em seu ativismo; ele insiste que sua fala não deveria deixar de lado a discussão sobre o alto índice de desemprego entre os jovens noruegueses.

O episódio expõe um problema que estava se intensificando na Noruega à época do massacre: o declínio do número de postos de trabalho, que havia se acentuado a partir da crise financeira de 2008, consequência da queda nos preços do petróleo - o que comprometeu decisivamente a economia do país, maior produtor de petróleo da Europa Ocidental -, e também por causa do uso crescente de mecanismos de automação e robótica, que afetou os trabalhadores menos qualificados, especialmente os mais jovens.

Apesar de não apontar uma razão única para justificar os massacres, Sémelin (2009SÉMELIN, Jacques. Purificar e destruir. Rio de Janeiro: Difel, 2009.) assinala que todos os países onde eles aconteceram passavam por fortes crises econômicas, e, assim, seus habitantes, especialmente os mais pobres, começaram a ver o futuro com incerteza. De acordo com o autor, o que sempre entra em colapso nessas ocasiões, mais do que a economia, é a “alma do povo”. Trata-se de um “traumatismo coletivo”, termo com que Sémelin define o estresse intenso dos indivíduos de uma comunidade ou nação cuja identidade “parece profundamente alterada pela crise ou pelas crises que a assaltam” (Ibid., p. 37).

Nesse processo, as referências fundamentais de um país - tradição, cultura, família e religião - acabam sendo desestabilizadas, e o medo do futuro é transformado por alguns em uma chance para o ataque aos autodenominados inimigos. Para Breivik, o atirador norueguês, a presença estrangeira (em especial a islâmica) entre a população europeia era vista como uma ameaça à cultura do continente, mesmo que não houvesse evidências reais que sinalizassem algum tipo de ameaça por parte dos imigrantes. De acordo com Hall (2001HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.), é comum que as migrações expressem a fragmentação das identidades culturais, por isso as tentativas de afirmação identitária costumam aumentar nos países que recebem estrangeiros.

Como esclarece Sémelin (2009SÉMELIN, Jacques. Purificar e destruir. Rio de Janeiro: Difel, 2009., p. 38), essa lógica que permite ir da angústia ao ódio se materializa no desejo de destruir aquilo ou aquele que é a causa do medo, mesmo quando se trata de um inimigo imaginário. Por isso, nos casos de massacre é comum que, para enfrentar uma situação percebida como ameaçadora e caótica, mas ainda imaginária, a resposta se apoie em outro imaginário, “que reestrutura o anterior, sobre novas bases”: a criação de um inimigo comum.

O primeiro ponto dessa retórica imaginária consiste em transformar a angústia coletiva, que mais ou menos se propagou na população, em um sentimento de medo intenso, com relação a um inimigo, do qual eles vão expor toda a periculosidade. (...) O que se tenta é, de certa forma, “coagular” essa angústia sobre “inimigo”, ao qual se dá uma “figura” concreta e do qual se denuncia a malignidade, no interior mesmo da sociedade (Idem).

A cena do filme 22 de julho em que o atirador é preso mostra essa transfiguração do medo em um rosto inimigo: perguntado sobre os motivos que o levaram a cometer o crime, Breivik afirma que seu ato era uma manifestação do que chamou de “nova cruzada” do século XXI - “Queremos o Islã fora da Europa”. Em entrevistas reais à época do massacre, o atirador reiterava essa ideia: repetia que o extermínio dos muçulmanos acabaria com os problemas pelos quais passava a Noruega, que, desse modo, poderia renascer para o futuro. De acordo com Sémelin, assim é construído um processo identitário de renascimento: “concentrar o foco sobre ‘um inimigo a destruir’ é procurar se reconstruir à custa desse ‘Outro’ perigoso” (Ibid., p. 53).

O filme traz outra cena que exemplifica esse medo imaginário: no segundo dia do julgamento de Breivik, a jovem muçulmana Lara, que estava no acampamento de Utoya com sua irmã Bano, assassinada no massacre, dá seu depoimento. Lara demonstra não entender por que o fato de ela e sua irmã serem muçulmanas era tão perigoso para o atirador:

Éramos refugiados fugindo de uma guerra. Demorou muito para me sentir em casa na Noruega. E algumas pessoas ainda suspeitavam de nós, ficavam irritados por estarmos aqui. Minha irmã, Bano, me ajudou muito. Me dizia que a Noruega era ótima. Aqui, podíamos ter segurança e liberdade e esperança. Era isso exatamente que sentia em volta da fogueira de Utoya na noite anterior. Mas, no dia seguinte, quando fomos atacados e minha irmã foi morta, perdi tudo isso. Eu fui lançada num mundo de dor e medo e muita raiva. (...) E eu não consigo entender por que razão alguém queria nos matar. Não entendo o que posso ter de tão assustador (22 DE JULHO, 2018).

Porém, o medo do inimigo não se resume ao Outro externo, como explica Sémelin (2009SÉMELIN, Jacques. Purificar e destruir. Rio de Janeiro: Difel, 2009.), mas também ao Outro interno, aquele que vive na mesma comunidade, mas que não pensa como o carrasco. Na batalha pela imposição de uma identidade nacional, o inimigo maior não é tanto o Outro que se rejeita, mas os próprios conterrâneos que se mostram refratários à marginalização do Outro: “o inimigo, então, é primeiramente uma parte do ‘nós’ que sustenta posições políticas diversas” (Ibid., p. 58), portanto, uma parte de nós diferente de nós.

Nesse processo imaginário de criação de um Outro interno, Breivik culpou o Partido Trabalhista norueguês pela destruição do país ao defender políticas de acolhimento de imigrantes e refugiados. Assim, os jovens membros do Partido Trabalhista que acampavam em Utoya - em sua maioria nativos - eram também inimigos, e por isso deveriam ser igualmente eliminados.

Voltando ao filme, em um dos encontros de Breivik com seu advogado, Geir Lippestad (Jon Oigarden), este diz ao atirador que, apesar de ser sua obrigação pegar o caso, condenava o ataque a Utoya: “Eles são inocentes, crianças”; ao que o atirador responde: “Eles eram traidores”. O advogado rebate: “Meus filhos já estiveram em Utoya. Sou um membro ativo do Partido Trabalhista. Isto faz de mim um traidor?”. A palavra “traidor”, utilizada várias vezes nessa cena, remete à noção do “nós diferente” já colocada anteriormente. Esse indivíduo ou grupo “diferente” dentro do “nós” é comumente visto como um traidor da identidade da nação. É assim, de acordo com Sémelin (Ibid., p. 60), que pode nascer a violência, oriunda da “relação conflituosa entre dois gêmeos, quando um acaba declarando que o outro é um ‘traidor’ da identidade comum”.

O confronto entre as ideias de Breivik e as dos jovens participantes do Partido Trabalhista norueguês percorre todo o filme, em uma construção audiovisual que contrapõe os movimentos e ideias do protagonista Viljar às do atirador, tecendo, assim, uma metáfora entre o que os grupos de esquerda e os de extrema-direita defendiam sobre os rumos da Noruega na época.

Logo em seu início, 22 de julho explicita essa ideia, na cena em que Mónica, uma das organizadoras do acampamento do Partido Trabalhista, explica a dinâmica de um exercício chamado “se eu fosse primeiro-ministro”: os jovens deveriam simular o que fariam no futuro se tivessem a chance de se tornar o chefe do governo de seu país. O primeiro a falar é Viljar. Em uma faixa atrás do púlpito onde discursa se pode ver a inscrição “Por todos, não por poucos”.

O jovem defende a política migratória norueguesa: “Em Svalbord, de onde eu venho, todos são bem-vindos, independentemente de sua nacionalidade. Lá temos noruegueses, russos, chineses, croatas, todos vivendo e trabalhando juntos. Nos esforçamos para integrar a todos”. Indagado sobre como o exemplo de uma cidade de dois mil habitantes pode ser transposto à toda a Europa, Viljar responde: “Esse é o fundamento, é isso que importa. E se eu fosse primeiro-ministro defenderia essa ideia”.

A mesma ideia percorre a sequência de imagens que complementa a cena do discurso de Viljar: Breivik envia a todos os seus contatos de e-mail um documento que intitula “Declaração de Independência da Europa”. Na caixa de texto ele digita: “Este é o meu presente para todos os europeus”. Nesse manifesto real, de 1500 páginas, enviado poucos minutos antes dos atentados, o atirador repudiava os ideais marxistas e a multiculturalização da Europa, e apelava para o sentimento de identidade que, segundo ele, uniria as comunidades nativas como um antídoto à decadência e à corrupção trazidas pela miscigenação. Recorria, portanto, às representações de um passado puro, de identidade estável, e, portanto, seguro.

Nas cenas seguintes o filme reforça esse posicionamento de Breivik, quando mostra a explosão em Oslo e a chegada do atirador a Utoya. No refeitório do acampamento ele se identifica: “Vocês vão morrer hoje. Marxistas, liberais, membros da elite” e dispara em todos. Ao sair do local, Breivik reinicia o massacre, perseguindo os jovens que se esconderam na mata. Viljar e Torje estão entre eles. Viljar é alvejado nos braços, na perna e na cabeça, perdendo a consciência. Seu irmão consegue fugir.

Em seguida, 22 de julho concentra-se nas consequências do atentado na política do país e na vida dos sobreviventes e de suas famílias. Seguindo a mesma construção narrativa da parte inicial, nesse segmento do filme as imagens dos procedimentos médicos que tentam salvar a vida de Viljar se alternam às falas de Breivik sobre sua “missão”, em mais uma tentativa de contrapor a solidez ideológica do país frente às ideias dos grupos de extrema direita que cresciam na Noruega.

Outra sequência que reforça a ideia de resistência é aquela em que o primeiro-ministro Jens Stoltenberg faz um comunicado à imprensa, logo após ser informado do número de vítimas do atentado. Em paralelo, criando uma metáfora da dor e do medo por que passava o país, vemos imagens de Viljar em seu leito no hospital, entubado e ainda inconsciente, cercado por seus pais e seu irmão, assustados e temerosos, perpassadas pelo áudio do pronunciamento do premiê:

Estamos todos chocados. Foi um ataque contra nosso governo e contra nossas crianças. Estamos longe de entender o porquê, mas o que está claro é que nossa nação foi atacada por alguém que queria mudanças. Para ele, nossa democracia estava se tornando uma ditadura. Via a decadência de nossa humanidade. Não podemos render-nos ao terror. Devemos lutar, mas não mudar. Devemos fortalecer nossos valores e lutar contra o terror dentro das regras da lei, não com o cano de uma arma (22 DE JULHO, 2018).

Em uma cena mais adiante, Lippestad procura a mãe de Breivik para tentar conseguir algum dado que ajude em sua defesa, como possíveis problemas psiquiátricos ou familiares, mas ela não lhe dá subsídios. Ao final da conversa, quando o advogado já está saindo, ela lhe pergunta: “Ele tem um pouco de razão, não tem? Do jeito que o país está... Não é mais como era antes”. Para Sémelin (2009SÉMELIN, Jacques. Purificar e destruir. Rio de Janeiro: Difel, 2009., p. 46), sentimentos como o medo demonstrado pela mãe de Breivik não são uma invenção dos “futuros carrascos”. São ideias silenciosas que já estariam presentes na comunidade há tempos, e, por isso, tornam-se ainda mais perigosas por alimentarem-se do real - no caso da Noruega, a angústia já instalada pelo desemprego crescente - para “deformar o estado de realidade daqueles que ele designa como vítimas para torná-los realmente assustadores” (Idem).

Sémelin chama essa angústia de “cimento comum”, isto é, uma ideologia, um discurso que se propaga pela comunidade e se mostra coerente e verossímil, pois é construído com base em algo real. Para o autor, a ideologia “sedimenta” as representações imaginárias, por isso os discursos em que se cruzam mitos e realidades podem iniciar um massacre, pois é neles que se constrói o “Outro maligno”.

Regressando ao filme, entre cenas que mostram os preparativos do julgamento de Breivik, vemos imagens da recuperação de Viljar, que começa a andar e a enxergar novamente, apesar dos pedaços de projéteis alojados em sua cabeça que podem matá-lo a qualquer momento. Essa estrutura narrativa contrapõe a força da nação norueguesa ao perigo de destruição da democracia, vislumbrado pelo crescimento dos partidos da direita radical no país.

Em seu segmento final, o filme mostra o julgamento de Breivik. O atirador consegue uma licença para fazer seu depoimento no tribunal no primeiro dia dos trabalhos:

É democrático que uma nação não seja consultada sobre ela se tornar multicultural? Forçar sua população a tornar-se uma minoria em sua própria capital? Nas próximas décadas muitos se darão conta e pegarão em armas, exatamente como eu fiz. Quando é impossível fazer uma revolução pacífica, a revolução violenta é a única opção. Requeiro ser inocentado porque agi em defesa do meu país (22 DE JULHO, 2018).

Na sequência vemos Viljar já de pé, mas se apoiando em uma bengala, entrando em uma quadra esportiva para sua primeira sessão de fisioterapia. Ao chegar ao meio da quadra, o jovem larga a bengala e pensa: “Tenho oito semanas. Quero andar sem ajuda. Sem muletas, sem cambalear, sem falta de ar”. Nas imagens seguintes vemos Viljar caminhando com muito esforço em uma estrada, em meio a montanhas cobertas de neve, decidido a enfrentar Breivik no terceiro dia de depoimentos no tribunal. A câmera baixa1 1 Câmera baixa (ou contra-plongée) é o ângulo em que a câmera fica posicionada, abaixo da linha dos olhos dos personagens em cena. Tem como efeito aumentar a altura e enfatizar a superioridade dos elementos que compõem a imagem. dá a sensação de grandeza de seu ideal.

A partir daqui, a iluminação trabalhada no filme vai se tornando mais clara à medida que se aproxima a data do depoimento do jovem. No início da recuperação, as cenas eram muito escuras, simbolizando o medo que assolava a população.

Na sequência de imagens que cobrem o terceiro dia do julgamento, o filme mostra o depoimento de Viljar. Ele inicia contando como Breivik tentou matá-lo, e depois, no trecho destacado abaixo, quando o jovem se dirige diretamente ao atirador, deixa claro como todos devem resistir ao medo e não ceder à tentação do ódio:

Quando atirou neles e me deixou sozinho na praia, eu não sabia se eu iria viver ou morrer. Estou preso àquele lugar desde então. Mas agora percebi que tenho uma escolha. Porque ainda tenho família, amigos e lembranças, sonhos, esperança, amor. Ele não, ele está totalmente sozinho e vai apodrecer na prisão, enquanto eu.... Eu sobrevivi. E eu escolho viver (22 DE JULHO, 2018).

O término do filme mostra a despedida entre Lippestad e Breivik, já na prisão de segurança máxima de Ila, a oeste de Oslo. O atirador diz que “faria tudo de novo, se pudesse”, ao que o advogado contesta: “Você não venceu, Anders. Você fracassou”. Breivik retruca: “Outros terminarão o que comecei”, e Lippestad responde: “E vamos derrotá-los. Meus filhos e os filhos deles. Eles os vencerão”. Então Breivik diz: “Vocês nem podem nos ver”.

Essa cena final, como toda a construção audiovisual de 22 de julho, ao mesmo tempo que mostra a resistência do povo norueguês a partir das palavras do advogado, expõe também, pela última frase do atirador, que a xenofobia e a intolerância aos imigrantes é um mal que se esconde nas sombras e escapa à compreensão e ao controle de todos os países, sinalizando que o mundo deve lutar pela democracia e pelo convívio pacífico. É o que defende Sémelin (2009SÉMELIN, Jacques. Purificar e destruir. Rio de Janeiro: Difel, 2009.): “preconceitos negativos são a causa dos nossos sofrimentos (...). Precisamos absolutamente nos livrar deles” (p. 35).

Referências

  • 22 de julho. Direção de Paul Greengrass. Produção: Netflix (EUA, Noruega, Islândia), 2018 (143 min).
  • HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.
  • SÉMELIN, Jacques. Purificar e destruir. Rio de Janeiro: Difel, 2009.
  • 1
    Câmera baixa (ou contra-plongée) é o ângulo em que a câmera fica posicionada, abaixo da linha dos olhos dos personagens em cena. Tem como efeito aumentar a altura e enfatizar a superioridade dos elementos que compõem a imagem.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Jun 2021
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2021

Histórico

  • Recebido
    05 Jul 2019
  • Aceito
    10 Set 2019
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