Este artigo trata do racismo, de sua relação direta com o capitalismo neoliberal e dos desdobramentos dessa relação. Tendo como objetivo questionar a ideia de devenir-nègre, ou devir-negro, do mundo - pressuposto segundo o qual o neoliberalismo tende a transformar toda a população mundial subalterna em negra -, de Achille Mbembe. Este estudo se fundamenta em uma revisão bibliográfica acerca da categoria raça e do uso do racismo no colonialismo, do movimento Négritude e, finalmente, do racismo contemporâneo e do genocídio da população negra como projeto político e econômico. Três processos frutos de relações sociais envolvendo questões de raça e de classe são articulados, na análise: i) négrification: a transformação de originários(as) do continente africano em nègre no auge do sistema colonial-escravista; ii) négrification-subversiva: lutas ocorridas no pós-escravidão para positivar o termo nègre; iii) dénégrification: projeto político neoliberal racista que visa exterminar aqueles classificados como nègres. Essa articulação sustenta a ideia, contrariamente àquela de devir-negro, de que enquanto nègre for definido epidermicamente, embora sua condição possa atingir os não nègres, esses nunca serão vistos como tais, pois, para isso, os nègres, no sentido epidérmico, precisariam desaparecer.
Palavras-chave:
Négrification; négrification-subversiva; dénégrification; capitalismo-neoliberal; extermínio