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O funcionamento semântico-enunciativo de sumir/desaparecer e cortar no pb

The semantic-enunciative functioning of sumir [vanish]/desaparecer [disappear], and cortar [cut] in bp

RESUMO

Este trabalho apresenta a análise semântico-enunciativa dos lexemas verbais cortar, sumir e desaparecer no português brasileiro (PB), por meio do referencial teórico-metodológico da Teoria das Operações Enunciativas (note-se TOE4 4 Utilizamos a denominação Teoria das Operações Enunciativas (TOE) porque corresponde ao início de nossa trajetória acadêmica. Cabe apontar, no entanto, que outros trabalhos sustentados neste mesmo referencial teórico-metodológico utilizam a terminologia Teoria das Operações Predicativas e Enunciativas (TOPE). ) de Antoine Culioli, inscrito na área da Linguística da Enunciação e cujo fundamento analítico e metodológico é a elaboração de glosas. Como resultado, após a coleta e a análise de inúmeros enunciados provenientes de fontes lexicográficas e da internet, pudemos descrever a identidade semântica de cada lexema verbal, identidade esta capaz de explicar, de um lado, a singularidade própria de dois verbos vistos em muitos contextos linguísticos como sinônimos (sumir e desaparecer) e de outro, esta mesma identidade semântica como capaz de explicitar como os sentidos ditos “conotativos” são igualmente construções semânticas permitidas pela lógica da interação entre um lexema verbal, como cortar, e as outras unidades do enunciado.

Palavras-chave:
Linguística da Enunciação; português brasileiro; lexemas verbais

ABSTRACT

This paper presents the semantic-enunciative analysis of the verbal lexemes cortar [cut], sumir [vanish], and desaparecer [disappear] in Brazilian Portuguese (BP). To that end, it applies the framework of the Theory of Enunciative Operations by Antoine Culioli, in the field of Enunciation Linguistics, whose analytical and methodological foundation is the elaboration of glosses. The collection and analysis of countless examples, both from dictionaries and the internet, allowed for the description of the semantic identity of each verbal lexeme. Such description explains the constitutive singularity of two verbs that are seen in many linguistic contexts as synonyms (sumir [vanish], and desaparecer [disappear]) and reveals how the senses known as “connotative” are also semantic constructions derived from the logic of the interaction between a verbal lexeme, such as cortar [cut], and the other units of the sentence.

Keywords:
Linguistics of Enunciation; Brazilian Portuguese; verbal lexemes

1. Introdução: O processo de construção do sentido dos lexemas verbais

A Teoria das Operações Enunciativas (TOE) se insere no campo da Linguística da Enunciação, tendo como premissa a inexistência de sentidos intrínsecos ou atribuídos às unidades linguísticas fora da língua em funcionamento. O sentido, seguindo nessa perspectiva, se constrói pela interação dialética entre as unidades linguísticas e seu contexto, o qual é ao mesmo tempo determinado pelo funcionamento5 5 Note-se que entendemos funcionamento sob a perspectiva da TOE, que preconiza o funcionamento de um lexema verbal como não passível de categorização a priori; não utilizamos o conceito tal qual, por exemplo, a gramática funcionalista, que atrela o funcionamento de um verbo a categorias prototípicas, visto que este se constrói pela interação de diversos fatores, conforme é possível observar nas análises constantes deste trabalho. enunciativo da unidade linguística e por ela determinado, ou melhor, “o contexto não constitui um conjunto de dados externos a uma sequência, sendo a própria forma da sequência a responsável por determinar as condições de sua constituição em um enunciado contextualizado” (Franckel, 2011Franckel, J-J. (2011). Da interpretação à glosa: por uma metodologia da reformulação. In S. De Vogüé, J-J. FRANCKEL, & D. Paillard (Ed.). Linguagem e Enunciação: representação, referenciação e regulação (pp. p.103-130). Contexto., p.109).

Neste artigo, procuramos demonstrar que a identidade semântica de uma unidade pode ser descrita a partir da observação e análise dos contextos enunciativos em que se faz presente, os quais são responsáveis por sua estabilização semântica. Tal estabilização do sentido ocorre no seio dos diversos enunciados nos quais o pesquisador visualiza o entrelaçamento da interação dos termos linguísticos que culmina na construção do sentido de uma mensagem verbal (oral ou escrita).

Trata-se de uma construção, pois como a identidade semântica dos itens lexicais é de caráter abstrato e relacional, não podemos afirmar que o sentido de uma determinada palavra seria uma definição aleatória do dicionário sem a sua inserção em um contexto verbal. Portanto, o objetivo deste trabalho é o de apresentarmos as identidades semânticas de sumir/desaparecer e cortar6 6 As análises descritas neste artigo são resultado das pesquisas de mestrado de Alvarenga (2017) e Garcia (2014), às quais remetemos a leitura, para maior compreensão dos corpora e das discussões teórico-metodológicas constantes dessas dissertações. com as suas respectivas análises.

Na perspectiva enunciativa da TOE, a variação de sentidos das unidades integra a natureza própria das línguas naturais e não se limita às acepções pré-estabelecidas em dicionários. Certamente não contestamos ou refutamos o valor de tais fontes lexicográficas, visto que nos dão elementos para recompor o que está na base do modo de funcionamento das unidades lexicais; ponderamos, contudo, parafraseando Franckel (2011Franckel, J-J. (2011). Da interpretação à glosa: por uma metodologia da reformulação. In S. De Vogüé, J-J. FRANCKEL, & D. Paillard (Ed.). Linguagem e Enunciação: representação, referenciação e regulação (pp. p.103-130). Contexto.), que o êxito empírico das fontes lexicográficas em garantir certa compreensão do sentido de uma unidade linguística advém da “contaminação contextual”, que ocorre por conta de se aplicar à referida unidade o sentido proveniente da “interpretação da sequência particular na qual ela se encontra inserida” (Franckel, 2011Franckel, J-J. (2011). Da interpretação à glosa: por uma metodologia da reformulação. In S. De Vogüé, J-J. FRANCKEL, & D. Paillard (Ed.). Linguagem e Enunciação: representação, referenciação e regulação (pp. p.103-130). Contexto., p.104).

Os sentidos das unidades lexicais apresentados pelos dicionários são meramente locais e provisórios, e os falantes tendem, por percepção intuitiva, a interpretar um dado sentido como inerente porque este “só é acessível mediante à materialidade fônica ou gráfica das expressões” (Tamba, 2006Tamba, I. (2006). A semântica. Parábola Editorial., p.51).

A tradição gramatical associa a variedade de usos de uma unidade linguística a variações de um sentido primeiro, ou literal, dessa unidade, de onde surgem classificações como as figuras de linguagem. Lima (2013Lima, V. S. (2013). A prática da reformulação de enunciados como fundamento para o trabalho com a significação nas aulas de Língua Portuguesa. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de São Paulo.) destaca a concepção tradicional de que alguns empregos da unidade linguística aflorem de fatores externos à língua, de onde resulta a canônica dicotomia entre sentido literal e sentido conotativo:

Com a ideia de significado literal, fica implícita a visão de que há um sentido primeiro para cada unidade lexical, estando o sentido final relacionado às outras possibilidades de significação, que emergem de acordo com o contexto situacional, intimamente associado aos elementos culturais de uma comunidade falante (Lima, 2013Lima, V. S. (2013). A prática da reformulação de enunciados como fundamento para o trabalho com a significação nas aulas de Língua Portuguesa. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de São Paulo., p. 69).

À luz da TOE, esse paradigma se subverte, haja vista não adotarmos a premissa de haver um sentido a priori nem concebermos a variação como a extensão de um núcleo sêmico desencadeada por fatores fora da língua (Romero-Lopes, 2000Romero-Lopes, M. C. (2000). Processos enunciativos de variação semântica e Identidade lexical: a polissemia redimensionada. Estudo dos verbos jouer e changer. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.). Sendo assim, “ao refutarmos qualquer tipo de conteúdo inerente, postulamos uma unidade linguística cujo âmago é de natureza variável e definido pelo papel específico que desempenha nas interações das quais participa” (Romero, 2010Romero, M. (2010). Um possível diálogo entre a Teoria das Operações Enunciativas e a Aquisição: identidade semântica e produtividade discursiva. Alfa, 2(54), 475-503., p.480-481).

Neste referencial teórico, interessa demonstrar o potencial significante das unidades da língua, o que se realiza por meio das análises dos movimentos enunciativos revelados a partir dos contextos que são convocados a integrar. Desta forma, a variação semântica não será abordada em termos de sinônimo/antônimo ou conotação/denotação, pois entendemos que a variação é constitutiva dos elementos que compõem o sistema linguístico. Tais questões serão aprofundadas na seção de análise dos lexemas sumir/ desaparecer e cortar, em que demonstramos que o modo como as unidades constroem significação está para além de classificações como sinonímia ou +sentido literal.

2. Metodologia de coleta de corpus e de análise

Em nosso procedimento de coleta de corpus, iniciamos pela busca de exemplos em fontes lexicográficas, dado que estes nos oferecem um reflexo dos empregos das unidades sob análise a partir de um certo recorte temporal. Para o lexema verbal cortar, foram Aulete digitalLacerda, C. A. (Ed.) Aulete digital. Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa. Lexikon Digital Ltda. Disponível em: Disponível em: http://aulete.uol.com.br/site.php?mdl=aulete_digital&op=download . (Acesso em 10 jan. 2012).
http://aulete.uol.com.br/site.php?mdl=au...
, Borba (2002Borba, F. S. (2002). Dicionário de Usos do Português do Brasil. Ática.), Holanda (1986Ferreira, A. B. H. (1986). Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 2. ed. Nova Fronteira.), Houaiss & Villar (2009Houaiss, A., & Villar, M. S. (2001/2009). Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa. Objetiva (CD-ROM).); para sumir7 7 Somente em sumir também foi utilizada a fonte lexicográfica de Azevedo (2010). e desaparecer, as fontes foram Ferreira (2010Ferreira, A. B. H. (2010). Dicionário Aurélio da língua portuguesa. (Coord.) M. B. Ferreira, & M. dos Anjos. 5. ed. Positivo.), Borba (1991Borba, F. S. (1991). Dicionário gramatical de verbos do português contemporâneo do Brasil. Fundação Editora da UNESP.) e Houaiss & Villar (2001/2009Houaiss, A., & Villar, M. S. (2001/2009). Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa. Objetiva (CD-ROM). 8 8 O dicionário Houaiss (2009) foi utilizado na planilha de DESAPARECER. ).

Para verificarmos se os exemplos coletados aparecem nas produções do cotidiano dos falantes, além do nosso interesse em analisarmos os dados da língua em uso, o passo seguinte foi a pesquisa detalhada de exemplos com tais lexemas verbais na web, a partir de buscas no Google. Como resultado, a planilha de cortar possui 120 enunciados, sumir apresenta 180 e desaparecer, 208, sendo os exemplos da web pertencentes à modalidade escrita e em variados gêneros discursivos.

A escolha pelos verbos cortar, sumir e desaparecer se deve, primeiramente, ao fato de ampliarmos o alcance das pesquisas9 9 Estes estudos foram/são conduzidos por integrantes do Grupo de Pesquisa Gramática operatória e ensino de línguas: sistematização do funcionamento verbal e do Grupo de Pesquisa Léxico e Enunciação: variações de sentido em contexto, coordenado por nossa orientadora, Prof.ª Dr.ª Márcia Cristina Romero Lopes. em andamento e, em segundo lugar, por conta das suas construções enunciativas serem parte do uso cotidiano dos falantes.

A metodologia analítica adotada para este estudo é denominada glosa, que consiste em uma atividade metalinguística de representação que visa fazer emergir os rastros das operações cognitivas que permeiam o processo de construção dos enunciados, os quais se dão a ver por meio dos diferentes empregos das unidades no seio do próprio sistema e nas relações que estabelecem com outras unidades para a produção enunciativa. Como já antecipado, para a TOE, o sentido das palavras só pode ser apreendido através do material verbal que lhes dá corpo. O acesso a esse sentido só será possível por meio da análise das próprias unidades linguísticas, daí nossa metodologia analítica se basear na atividade de reformulação. Esta que consiste em verificar, minuciosamente, o papel que cada termo assumirá quando enunciado com o verbo em análise, a fim de identificar os processos enunciativos operados na construção de sentido de uma dada unidade linguística.

Dessa forma, a unidade mínima do nosso trabalho analítico sempre corresponderá a uma sequência, unidade que assume um valor em potencial na sua interação com o contexto verbal. Assim, no caso de ela sumiu, temos o exemplo de uma sequência, posto que o seu sentido ainda não se encontra estabilizado e carece de outros elementos que tragam a luz a natureza do “sumir” evocado.

Com o objetivo de iniciarmos a nossa busca pela identidade semântica de sumir, precisamos analisar a interação entre este verbo e tudo o que o pronome ela pode recuperar como referência. A partir dessa instabilidade própria à sequência, podemos buscar diferentes e específicos contextos que nos ajudam a compreender e delinear suas características enunciativas:

  • (1a) A grana sumiu.

  • (1b) A assinatura sumiu.

  • (1c) A calvície sumiu.

Em (1a), ela refere-se ao termo a grana (dinheiro). A interação entre o verbo sumir e a grana nos permite recuperar a existência do dinheiro em um determinado local (por exemplo, uma bolsa), para, posteriormente, averiguarmos que este não se encontra mais no local de origem. Notamos que o termo a grana precisa de um termo localizador que nos permita ver a sua ausência.

Já em (1b), ela refere-se ao termo a assinatura. Neste caso, o pronome ela é apreendido por sumir como um elemento constituído de tinta, o qual precisa também de um localizador (o papel, por exemplo). Diferentemente do exemplo (1a), esse localizador não permite apenas a visualização da passagem da presença à ausência da assinatura, pois o papel, aqui, se torna essencial para a atualização da assinatura, constituindo-se como uma superfície que lhe confere corpo.

Em (1c), ela refere-se ao termo a calvície. Este exemplo evidencia grande diferença de sentido com relação à (1a) e (1b) que nos trazem uma efetiva passagem da presença à ausência de um elemento, posto que vemos aqui uma pseudoausência da calvície, uma vez que esta utiliza a peruca para se esconder. Percebe-se que a sequência é:

[...] a unidade mínima para a qual a possibilidade de elaborar uma glosa é possível. Mas, ao mesmo tempo, uma sequência apenas se torna interpretável a partir do momento em que a relacionamos a um contexto, ou a uma situação, ou seja, a partir do momento em que ela adquire o estatuto de um enunciado ou se integra a um enunciado. Do mesmo modo que uma unidade só se investe de um valor no âmbito de sua interação com um cotexto - no âmbito, portanto do que chamamos uma sequência - uma sequência somente é interpretável relativamente ao contexto, isto é, a um enunciado contextualizado (Franckel, 2011Franckel, J-J. (2011). Da interpretação à glosa: por uma metodologia da reformulação. In S. De Vogüé, J-J. FRANCKEL, & D. Paillard (Ed.). Linguagem e Enunciação: representação, referenciação e regulação (pp. p.103-130). Contexto., p. 108).

Ao partirmos do princípio de que uma sequência só pode ser interpretável quando estiver inserida em um contexto, faz-se necessário elucidarmos que este, na TOE, jamais será aleatório, posto que:

[...] o contexto ou situação não é exterior ao enunciado, mas é gerado pelo próprio enunciado. Nessa perspectiva, o contexto não constitui um conjunto de dados externos a uma sequência, sendo a própria forma da sequência a responsável por determinar as condições de sua constituição em um enunciado contextualizado (Franckel, 2011Franckel, J-J. (2011). Da interpretação à glosa: por uma metodologia da reformulação. In S. De Vogüé, J-J. FRANCKEL, & D. Paillard (Ed.). Linguagem e Enunciação: representação, referenciação e regulação (pp. p.103-130). Contexto., p. 109).

Após o trabalho desenvolvido com as glosas, formalizamos o movimento semântico-enunciativo que é descrito por meio do conceito de forma esquemática (FE), o qual não se refere a um conteúdo semântico pronto, pois que

[...] as caracterizações em termos de forma esquemática não dizem: descrevem; elas procuram fazer compreender o movimento que se encontra por trás das “palavras”, dos ditos, a dinâmica que os faz funcionar. A forma esquemática mostra que o processo de identificação das unidades linguísticas se faz no movimento, nos jogos, e não por meio de conteúdos: ela é “anti-conteudismo” (Romero-Lopes, 2000Romero-Lopes, M. C. (2000). Processos enunciativos de variação semântica e Identidade lexical: a polissemia redimensionada. Estudo dos verbos jouer e changer. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo., p. 96).

Por fim, como a FE revela o movimento enunciativo da unidade linguística, sua singularidade constitutiva, pudemos expor como verbos considerados tão próximos semanticamente (como sumir e desaparecer) se diferenciam. Além disso, a FE nos mostra igualmente como esse movimento semântico único é ordenado10 10 Vimos anteriormente como a interação entre a sequência e o contexto não pode ser qualquer. e regular.

3. O funcionamento semântico-enunciativo de sumir e desaparecer

Houaiss (2009Houaiss, A., & Villar, M. S. (2001/2009). Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa. Objetiva (CD-ROM).) elenca as seguintes definições para sumir: desaparecer, destruir; aniquilar; enfraquecer(-se) até acabar; apagar(-se), consumir(-se), extinguir(-se), submergir, afundar, esconder(-se), ocultar(-se) etc. Com relação a desaparecer, temos as seguintes acepções: deixar de estar visível, sumir, esconder(-se), afastar(-se), retirar(-se), extraviar(-se), perder(-se), dissipar(-se), extinguir(-se), tornar-se extinto, morrer etc.

Percebemos que sumir e desaparecer são facilmente tidos como sinônimos, uma vez que sumir se mostra intercambiável em relação a desaparecer e vice-versa, por diversas vezes11 11 Apenas optamos por não colocar no trabalho todas as vezes que sumir aparece na definição de desaparecer e vice-versa, para evitar a repetição no corpo do texto. . No entanto, se ambos são sinônimos, como justificar a existência de dois verbos que supostamente apresentam exatamente o mesmo sentido? Como a sinonímia explicaria, afinal, casos em que desaparecer não é substituível por sumir sem que haja uma mudança semântica significativa12 12 Veremos mais detalhadamente no resultado das análises entre sumir e desaparecer dois casos em que ocorre essa mudança semântica significativa. ? Como exemplo de um caso em que tais lexemas verbais não se mostram intercambiáveis, remetemos aos enunciados de pessoas desaparecidas ao invés de *pessoas sumidas; e à brincadeira infantil sumiu/achou ao invés de *desapareceu/achou, na qual vemos a criança escondida sob a mão do adulto ou sob um paninho.

Discordando do conceito hegemônico da sinonímia, nosso objetivo é demonstrar, através das análises dos lexemas verbais sumir e desaparecer13 13 Remetemos a Alvarenga (2017) para a análise na íntegra de sumir e desaparecer. Esta análise de sumir e desaparecer foi tema da comunicação Reflections on unaccusativity under an enunciative perspective, na 4ª Conferência Anual de Linguística da University of Georgia (EUA). , como estes se aproximam e igualmente se distanciam no que diz respeito à construção do sentido no interior dos enunciados. Como primeiro par de exemplo, temos:

  • (1a) Cansado, sumiu-se para os seus aposentos.

  • (1b) Quando voltou de viagem [...]diz ter percebido que o bilhete desapareceu.

Em (1a), com sumir, temos uma representação na qual o termo o homem (não especificado, porém facilmente recuperado de modo genérico no enunciado) evoca um dado indivíduo que possui uma matéria que lhe é própria, uma realidade material individual enquanto um corpo que antes se localizava em um dado lugar. Dessa forma, seus aposentos indica que ele não se encontra mais em um cômodo específico de uma casa, sendo um localizador distinto dos aposentos para os quais ele caminha.

Já em (1b), constrói-se um cenário enunciativo no qual o termo o bilhete é apreendido como um papel que contém impresso um determinado número que também possui uma materialidade que lhe é característica. Porém, essa realidade individual não é compreendida do ponto de vista de algo que não mais se localiza em determinado local, e sim como algo passível de percepção e que, na sua interação com desaparecer, deixa de ser perceptível por um sujeito observador.

Esse par de enunciados exemplifica uma aproximação semântica em que esses lexemas verbais seriam facilmente intercambiáveis, pois os termos com os quais eles interagem apresentam uma realidade material individual, uma certa corporeidade. Consideremos, agora, os enunciados:

  • (2a) Com a lavagem a mancha sumiu-se.

  • (2b) Nem por isso desapareceu a admiração pela figura do Conselheiro [...].

Em (2a), o termo a mancha tende a evocar uma representação em que este é visto como um sinal que uma dada substância deixa em um outro material - um tecido, por exemplo - e que, ao mesmo tempo, este termo não pode existir sem o tecido que lhe dá corpo. Dessa maneira, vemos que o termo o tecido, além de ser um localizador, é essencial para atualizar a essência de a mancha ao dar-lhe forma.

Em (2b), o termo a admiração será delimitado por desaparecer como um sentimento de aprovação com relação a aquilo que se considera bom ou bonito e que precisa necessariamente de outro termo para se manifestar. Nesse caso, este termo precisa de um indivíduo, pois a admiração irá ser expressa e deixar de ser perceptível por meio dos seus comportamentos.

Esse par de enunciados revela a aproximação semântica entre os dois lexemas verbais em questão, uma vez que os termos apreendidos por eles precisam de outro termo que lhes dê forma, seja para a sua atualização, seja para a sua manifestação. Porém, podemos também perceber que, assim como no primeiro par de enunciados, há uma diferenciação na lógica daquilo que não se encontra mais localizável e daquilo que não se encontra mais perceptível. Observemos este último par de enunciados:

  • (3a) [...] o meia atacante simplesmente não compareceu [...], sumiu. E com ele, sumiu o time mineiro.

  • (3b) A intenção é [...] recompor a bacia com espécies nativas, porque o barramento prejudicou a migração desses peixes e muitas espécies desapareceram [...].

Em (3a), sumir conduz à representação do termo o time mineiro como um grupo de atletas de um determinado esporte e as suas jogadas. Vemos aqui um cenário enunciativo no qual o time mineiro habilidoso se oculta por meio das suas jogadas ruins, deixando de mostrar a sua habilidade característica.

Já em (3b), a representação de muitas espécies evoca um conjunto de seres vivos que participam de um mesmo grupo por conterem características semelhantes; sua interação com o verbo desaparecer diz que não há mais rastro dessas espécies, o que nos leva à concluir que um dia tais espécies podiam ser percebidas em determinado local e agora estão extintas, por conta da ausência dos seus vestígios.

Vimos, com os dois primeiros pares de enunciados, como a aproximação semântica entre sumir e desaparecer foi elaborada. Este último par de enunciados é essencial para percebermos o distanciamento semântico aqui existente, o que faz com que sumir se aproxime semanticamente de esconder em (3a) e desaparecer de extinguir-se, deixar de existir em (3b). Tal diferenciação semântica se torna ainda mais notória ao confrontarmos o enunciado (3a) com o verbo desaparecer:

  • (3a’14 14 Apenas fizemos uma pequena modificação sintática neste exemplo, pois, ao isolarmos o verbo e o seu principal argumento do seu contexto linguístico mais amplo, notamos que este exemplo seria dificilmente enunciável com o verbo no início da oração. ) O time mineiro sumiu.

  • (3c) O time mineiro desapareceu.

Como já mencionado acima, em uma cena enunciativa de um jogo de futebol, o time mineiro, no que diz respeito a sua habilidade, acaba por não jogar como deveria. Assim, vemos em (3a’) que as jogadas antes presentes no jogo, aquelas que mostravam a habilidade dos jogadores, não fazem parte da partida em questão, há somente espaço para jogadas ruins, através das quais podemos recuperar a presença das jogadas boas antes observadas.

Se empregássemos desaparecer em interação com o time mineiro, como em (3b), a representação seria a de não haver indícios que permitam aos integrantes do time serem perceptíveis por alguém, uma vez que com sumir temos todos os integrantes diante dos nossos olhos obtendo um péssimo desempenho. Ou seja, é sobre os integrantes em si, sobre a sua existência que o desaparecimento incide.

Para ilustrarmos melhor esse funcionamento de desaparecer, trazemos a seguinte manchete: “O novo time da Chapecoense, montado para ocupar o lugar da equipe que desapareceu na tragédia de novembro do ano passado, começou bem na sua principal competição da temporada15 15 Notícia disponível em: http://www.rondoniaovivo.com/noticia/libertadores-chapecoense-obtem-vitoriahistorica-na-venezuela/174689 (acesso em 14-03-2017). ”. Nela, o verbo desaparecer está relacionado à própria extinção da equipe, em função da tragédia ocorrida. Observemos, por fim, o enunciado:

  • (4) Chegou bem pertinho do reflexo e esticou todos os músculos do rosto. Sumiu a ruga. Ligou o chuveiro e deixou o vapor desfocar sua imagem.

Em (4), o termo ruga evoca as pregas que se formam na pele ao frazirmos certas partes do rosto, como a testa, a sobrancelha ou os lábios. Neste enunciado, sumir diz que a ruga se torna ausente, deixando de se localizar no rosto, por conta de um movimento voluntário exercido pelo sujeito, ao esticar todos seus os músculos. Porém, havendo qualquer expressão facial, as rugas se farão presentes novamente.

Ao utilizarmos desaparecer com o termo a ruga, a cena enunciativa será outra, pois este verbo delimita o termo a ruga de uma maneira que ela não poderá mais existir. Daí podermos recuperar contextos em que, por exemplo, foram utilizados procedimentos clínicos como a aplicação de botox ou a cirurgia plástica para obtermos o resultado do desaparecimento de rugas e linhas de expressão.

Organização da variação semântica de sumir e desaparecer e Forma Esquemática

Anteriormente, expusemos uma análise preliminar entre sumir e desaparecer por meio de três pares de enunciados (1a/b, 2a/b e 3a/b), sendo essa escolha não aleatória. Mostraremos, mais especificamente, como cada lexema verbal contrói três contextualizações diversas, quando em interação com as outras unidades linguísticas de um enunciado, o que resultou na nossa escolha por apenas três enunciados acima com sumir (1a, 2a e 3a) e três com desaparecer (1b, 2b e 3b).

Vale atentarmos ao fato de que, mesmo nos casos dos enunciados em que sumir e desaparecer são facilmente intercambiáveis, por conta da maneira como apreendem e são apreendidos pelos outros termos com os quais interagem, explicitamos igualmente a diferenciação na lógica daquilo que não se encontra mais localizável em sumir e daquilo que não se encontra mais perceptível em desaparecer.

Assim, veremos como são mobilizados os parâmetros de termo a ser localizado e sítio localizador, para sumir, e os parâmetros de termo perceptível e sujeito observador, para desaparecer. Mostraremos também que cada lexema verbal apresenta três grupos de funcionamento, cada qual com um caráter restritivo, posto que pode abarcar um conjunto de valores ilimitados que correspondem apenas a um contexto determinado no qual os enunciados se aproximam uns dos outros, ao estar relacionados à “mesma ocorrência interpretativa” (Romero, 2006Romero, M. (2006). Estudo semântico do pretérito perfeito: variações interpretativas e regularidade de funcionamento. In L. Rezende, & M. Onofre (Eds.). Linguagem e Línguas Naturais - Diversidade Experiencial e Linguística (pp. 23-39). Pedro & João Editores., p. 31).

Sumir, no grupo (1), constrói uma cena enunciativa de presença-ausência ao convocar os parâmetros de termo (sítio) localizador e de um termo a ser localizado. A seguir, selecionamos dois enunciados cujos termos detentores de uma “realidade material16 16 Este conceito, apresentado por Romero & Trauzzola (2016), indica que há termos que possuem uma materialidade que independe da sua localização. ”- assim como observado no enunciado (1a) Cansado, sumiu-se para os seus aposentos - deixam de ser localizados por um termo (sítio) localizador que nos permite dar conta dessa passagem da presença à ausência:

  • O mágico sumiu o ovo.

  • As provisões que tínhamos já sumiram(-se).

Neste primeiro grupo, notamos que o termo o ovo refere-se a um alimento e que o termo as provisões é apreendido como uma reserva de alimento. Ambos os termos possuem uma materialidade que lhes é característica, que pode ser descrita em termos de realidade individual antes localizada em um lugar determinado. Assim, se antes aquilo que localizava o ovo ou as provisões (como por exemplo, uma cartola e uma dispensa, consecutivamente) não o fazem mais.

No grupo (2), sumir vai convocar termos que, contrariamente aos do grupo 1, não possuem uma realidade material desvencilhada do localizador. Logo, o termo localizador não permite apenas a visualização da passagem da presença à ausência dos termos antes localizáveis, uma vez que o termo localizador neste grupo também é aquele que dá corpo à essência desses termos de natureza circunstancial. Esse funcionamento se observa nos dois enunciados abaixo, além de também ser verificado no enunciado (2a) Com a lavagem a mancha sumiu-se:

  • A assinatura sumiu.

  • A dor de cabeça sumiu no mesmo instante.

No primeiro enunciado, vemos que o termo a assinatura, na sua interação com sumir, é apreendido como um corpo constituído de tinta e, no segundo, o termo a dor de cabeça se refere a uma sensação física, provocada por uma preocupação, por exemplo. Nos dois casos, os termos precisam de um sítio localizador (um papel para a assinatura e uma cabeça para a dor) que lhes dará forma e corpo, posto que uma assinatura precisa de uma superfície para ser concebida como tal e que a dor somente pode ser experienciada em alguma parte do corpo.

O grupo (3) traz uma grande diferenciação semântica dos dois primeiros grupos, quanto à passagem da presença à ausência de um termo que deixa de ser localizável. Neste último grupo, sumir instaura uma representação semântica que se aproxima de esconder, como uma pseudoausência, algo que pode ser verificado nos enunciados a seguir, assim como em (3a) [...] o meia atacante simplesmente não compareceu [...], sumiu. E com ele, sumiu o time mineiro.

  • Por isso se apequenaram, sumiu o espírito comunitário, o egoísmo inflou.

  • Não foi só o Mario que sumiu... A diversão também sumiu! É difícil jogar esse joguinho por muito tempo.

No primeiro enunciado, o termo o espírito comunitário é apreendido como a intenção em se ajudar uma comunidade, no segundo, o termo a diversão é compreendido como aquilo que nos dá prazer. Vemos como um outro sentimento se apodera dos indivíduos, agora o espírito comunitário é enconberto pelo egoísmo, da mesma maneira em que vemos que a diversão antes presente nos jogos do passado cede lugar aos jogos tediosos atuais, que dizem que a diversão não mais se verifica.

Observemos os grupos de funcionamento de desaparecer que apresentarão os parâmetros de um termo perceptível por um sujeito observador. No grupo (1), os termos convocados pelo verbo possuem uma realidade material individual passível de percepção e que deixarão de ser perceptíveis por um sujeito observador. Deste grupo fazem parte os enunciados abaixo, além do exemplo (1b) Quando voltou de viagem [...]diz ter percebido que o bilhete desapareceu.

  • [...] a bibliotecária faz uma espantosa revelação: os livros desapareceram!

  • Assim que perceber que a carteira desapareceu, dirija-se a uma delegacia de polícia e registre o boletim de ocorrência (BO).

Ao utilizarmos o mesmo procedimento das análises anteriores, vemos que o termo os livros evoca objetos a serem lidos, e o termo a carteira (de trabalho) é aprendido como um documento oficial que registra o histórico de trabalho de alguém. Os termos apresentados possuem uma materialidade que lhes é própria e que também é passível de percepção, deixando de ser perceptível por um sujeito observador.

Já no grupo (2), os termos aqui convocados se relacionam a manifestações circunstanciais de algo cuja existência só pode ser percebida por meio de outro elemento que permite manifestá-lo. Assim, vemos que há sintomas, traços, manifestações de algo em um determinado elemento que permite verificarmos que esse algo existe. O exemplo (2b) Nem por isso desapareceu a admiração pela figura do Conselheiro faz parte deste grupo, assim como os enunciados abaixo:

  • Julguei observar que a repulsa havia desaparecido de sua face.

  • A febre desapareceu. A febre que vinha sei lá de onde e que andava a atormentar nos últimos dias, assim como apareceu também desapareceu [...].

No primeiro enunciado, o termo a repulsa é compreendido como um sentimento de aversão relacionado a alguém ou a algo, e no segundo, o termo a febre é apreendido como uma elevação da temperatura corporal para além dos limites normais. Ambos termos se manifestam por meio de um outro, de um indivíduo cuja face exprime a repulsa, atualizando-a, assim como pelo corpo que se encontra febril.

Para concluirmos essa reflexão, vemos que o grupo (3) é constituído por termos que não deixam mais rastros - há a ausência do elemento a ser percebido - para dizer que antes havia algo perceptível. Portanto, o sentido de inexistência acaba por marcar este grupo, sendo o exemplo (3b) A intenção é [...] recompor a bacia com espécies nativas, porque o barramento prejudicou a migração desses peixes e muitas espécies desapareceram [...], juntamente com os exemplos abaixo, parte deste último grupo de funcionamento.

  • Boom! Nós todos desaparecemos. E agora, o que aconteceria com a Terra? [...]

  • Desapareceu o agente da CIA que denunciou esquema de espionagem americano.

No primeiro enunciado, o termo todos remete aos habitantes do planeta terra, e no segundo, o termo o agente evoca alguém cuja função é a de espionagem. No primeiro exemplo, vemos uma situação hipotética da inexistência da espécie humana na Terra após uma explosão, i.e, não há mais os nossos rastros; e, no segundo caso, devido ao alto grau de periculosidade dessa profissão, podemos dizer que o agente morreu, que ele não existe mais.

Enfatizamos quão interessante é esse último enunciado, pois, além da interpretação acima mencionada, própria do grupo (3), outra possível interpretação seria a de que o agente apenas não pode ser percebido e, ao não estar no campo de visão de um sujeito observador, temos um funcionamento próprio do grupo (1). Salientamos que esse enunciado apresenta uma mobilidade apenas entre os grupos (1) e (3), não podendo fazer parte do grupo (2), posto que o agente possui uma realidade material individual, não necessitando de nenhum outro elemento para tornar-se perceptível (algo próprio do grupo 2).

Por meio da análise dessa variação de sentido específica, pudemos visualizar o mecanimos de funcionamento desses verbos, posto que é através deste desdobramento do sentido evidenciado pelos grupos de funcionamento que podemos descrever a sua singularidade constitutiva, formalizada pelo conceito de forma esquemática (FE). Em outras palavras:

[...] a busca por invariantes parte da variação, desenvolvida ao máximo, e nela permanece. Uma vez desenvolvida essa variação, para darmos conta dos detalhes, reconstituímos a figura que essa variação desenha. O paradoxo é que os invariantes se mostram, finalmente, como o que varia ou, de preferência, como aquilo do qual a variação é constitutiva, o que é destinado a variar, ou ainda, o que constitui essa variação, a organiza, a ordena, e portanto, a restringe (De Vogüé, 2006De Vogüé, S. (2006). Invariance culiolienne. In D. Ducard, & C. Normand, (Ed.) Antoine Culioli, Un homme dans le langage: originalité, diversité,ouverture (pp. 302-331). Ophrys., p. 311-312).

Nosso trabalho analítico nos permitiu propor as seguintes FE para o funcionamento semântico-enunciativo de sumir e desaparecer:

SUMIR exprime que um dado elemento, antes localizado em relação a um sítio, deixa de sê-lo, o que institui a passagem da presença deste elemento à sua ausência;

DESAPARECER exprime que um dado elemento, antes perceptível por um sujeito observador, deixa de sê-lo.

Observemos, agora, o verbo cortar em movimento. Partindo dos pressupostos da TOE, que preveem que a variabilidade subjacente aos lexemas verbais possui uma regularidade que lhe é peculiar e intransferível, o que acaba por não sustentar o conceito de sinonímia, veremos, em nossa análise de cortar, que o sentido dito “conotativo” tampouco se sustenta.

4. O funcionamento semântico-enunciativo de cortar

Conforme vimos, os dicionários são ferramentas muito importantes para fornecer pistas sobre o modo de funcionamento de uma unidade, lembrando que o que se apresenta como sentido, na listagem de seus variados usos, nestes, corresponde ao final do processo de sua construção, estando nossa análise no sentido oposto. Retomando a “ilusão da ‘contaminação contextual” (Franckel, 2011Franckel, J-J. (2011). Da interpretação à glosa: por uma metodologia da reformulação. In S. De Vogüé, J-J. FRANCKEL, & D. Paillard (Ed.). Linguagem e Enunciação: representação, referenciação e regulação (pp. p.103-130). Contexto., p.104) apontada no início, as fontes lexicográficas consultadas elencam como sinônimos de cortar lexemas verbais que não se sustentaram como tais ao efetuarmos as substituições características dos nossos procedimentos de reformulação.

Constatamos que lexemas tradicionalmente listados como sinônimos (dividir, ferir-se, aparar, derrubar, reduzir, pôr fim, interromper, talhar, eliminar, atravessar, rasgar) se aproximaram ou se distanciaram semanticamente de cortar, de acordo com as sequências enunciativas em que estavam inseridas e dependendo das interações nelas estabelecidas, evidenciando a importância das substituições de unidades lexicais e do confronto entre as sequências, isso porque somente “no exame das diferenças que se manifestam nesse vaivém que se pode delinear uma aproximação de seu sentido” (Franckel, 2011Franckel, J-J. (2011). Da interpretação à glosa: por uma metodologia da reformulação. In S. De Vogüé, J-J. FRANCKEL, & D. Paillard (Ed.). Linguagem e Enunciação: representação, referenciação e regulação (pp. p.103-130). Contexto., p. 106, grifo do autor).

Nos procedimentos de glosa, notamos que alguns dos lexemas comumente apontados como sinônimos de cortar se aproximavam de um determinado modo de seu funcionamento e não de outro, podendo até mesmo se distanciar muito de sua identidade semântica, indicando que cada lexema faz proliferar de modo único os variados sentidos que se constroem a partir de uma invariância que lhe é própria e que não cabe a nenhum outro lexema.

Tradicionalmente, sempre que um sentido se afasta do concebido como sentido primeiro de uma unidade linguística, o conceito de conotação é convocado. A premissa de um sentido básico (literal, denotativo) que defina uma palavra independentemente de seu contexto é não somente legitimada pelos dicionários como pelas gramáticas descritivas ou prescritivas, o que acaba por conferir aos sentidos que escapam a isso a caracterização de figurado, informal, conotativo, por vezes vistos como corruptelas do sentido considerado usual.

Procuramos demonstrar que o conceito de conotação não se sustenta como uma alteração de sentido, possuindo, o literal e o conotativo, o mesmo estatuto (Romero, Vóvio, 2011Romero, M., & Vóvio, C. (2011). Da criatividade do falar do jovem às práticas pedagógicas criadoras. Interacções, 17, 72-95. https://repositorio.ipsantarem.pt/bitstream/10400.15/504/2/Q5_Romero%26Vovio.pdf (Acesso 04 de semp
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). Quando se diz Corta essa de querer me impressionar, por exemplo, o contexto evocado remete a um movimento por meio do qual, em uma sequência de atitudes tomadas para impressionar alguém, representadas por um comportamento que obedece a uma organicidade, é pedido que se interrompa o fluxo, que se cesse seu curso. Visto sob a ótica da invariância17 17 O conceito de invariância está relacionado às regularidades de funcionamento que possibilitam descrever a identidade semântica de uma unidade lexical ou, em outras palavras, sua forma esquemática. enunciativa, esse enunciado em nada fica devendo a outros, bem como é possível compreender a explicação semântica dada intuitivamente pelos falantes, que comumente associam a expressão Corta essa! a Para com isso!

Assim, os valores semânticos dos enunciados se constroem sob as mesmas regularidades que os valores considerados menos idiomáticos. Como movimento enunciativo característico de cortar18 18 Remetemos a Garcia (2014) para a análise na íntegra de cortar. , verificamos que esse verbo parece desestabilizar, de diferentes modos, uma relação entre elementos que poderiam ser apresentados de modo contínuo. Vejamos de que modo cortar, ao mesmo tempo em que evoca tais representações, as desestabiliza.

Embora não possamos demarcar a identidade semântica de todos os termos que interagem com cortar, os outros termos tampouco têm sentidos prévios, sendo estes estabilizados no entrelaçar intralinguístico entre sequência e contexto (Alvarenga, 2017Alvarenga, C. D. M. (2017). Reflexões sobre a inacusatividade sob a ótica da Teoria das Operações Enunciativas. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de São Paulo. http://repositorio.unifesp.br/handle/11600/50884 (Acesso 04 de setembro, 2023).
http://repositorio.unifesp.br/handle/116...
).

Organização da variação semântica de cortar e Forma Esquemática

Um significado pouco comum do verbo cortar, apresentado pelos dicionários, é secar, em enunciados como O rio cortou. Embora recusemos a premissa de um significado intrínseco às unidades, o valor semântico registrado fornece importante pista para o que possa ser invariante em um de seus modos de funcionamento. Como o fluxo de um rio, há enunciados que apresentam um continuum que se (des)constrói a partir da interação de cortar com outras unidades linguísticas. A mesma invariância parece acompanhar os movimentos de cortar neste enunciado:

  • (1) Foi tanto o calor, que o rio cortou.

Cortar incide sobre o termo rio como o próprio curso das águas, o curso em si. Cortado o fluxo, i.e., sua essência, o rio se debilita, mina, daí o valor de secar, que se constrói nesse movimento enunciativo. Tomemos, agora, o enunciado:

  • (2) Marta corta palavra de Suplicy no Senado.

Neste caso, o termo palavra é apreendido como cadeia de fala, fluxo verbal. Cortar evoca um cenário em que palavra se manifesta instanciada circunstancialmente no espaço-tempo como fluxo verbal, sobre o qual ele incide, cessando-o. Para demonstrar como os lexemas podem se aproximar ou se afastar semanticamente, de acordo com os termos a eles relacionados, observaremos este par de exemplos:

  • (2a) Ela cortou a palavra.

  • (2b) Ela quebrou a palavra.

A sequência (2a) evoca mais de uma possibilidade de interpretação, que se verifica em sequências estabilizadas como (2a ‘b) Ela cortou a palavra de seu interlocutor e (2 a ‘c) Ela cortou a palavra no final da linha do caderno. Como contextos possíveis de estabilização para (2b), temos (2b’a) Ela quebrou a palavra dada e (2b ‘b) Ela quebrou a palavra com CSS19 19 CSS (Cascading Style Sheet, folha de estilo em cascata) é um mecanismo específico de web designing, que permite controlar o layout de uma página web. .

O termo palavra, em (2a ‘b), é apreendido como fala, discurso, enquanto em (2 a ‘c) e (2b ‘b) palavra é apreendido enquanto a unidade linguística em si, cuja totalidade é constituída pelas partes menores - as sílabas, sendo a integração entre todo (a palavra) e parte (suas sílabas) rompida pela incidência de cortar e quebrar, respectivamente. Em (2b), o termo palavra é apreendido como um contrato verbal, o qual remete a uma noção de um acordo entre partes a ser invalidado pela incidência do verbo quebrar20 20 Acerca dos modos de funcionamento e forma esquemática de quebrar, remetemos à leitura de ROMERO (2010). .

Os enunciados (2a ‘c) e (2 b ‘b) evidenciaram uma aproximação semântica entre cortar e quebrar não previstas nas fontes lexicográficas, reforçando que “a sinonímia entre unidades de uma mesma língua, ou a tradução de uma unidade por uma (ou várias) outras(s) entre línguas diferentes [...] só é possível em um meio muito particular [sendo que] outro ambiente invalidaria essa aproximação” (FRANCKEL, 2011Franckel, J-J. (2011). Da interpretação à glosa: por uma metodologia da reformulação. In S. De Vogüé, J-J. FRANCKEL, & D. Paillard (Ed.). Linguagem e Enunciação: representação, referenciação e regulação (pp. p.103-130). Contexto., p.105-106).

A identidade semântica de cortar é mobilizada sob três óticas distintas, vinculadas à maneira como a linearidade que diz o funcionamento verbal é convocada e, ao mesmo tempo, pelo verbo delimitada. Verificam-se, então, três grupos21 21 Outros enunciados e respectivas análises completas e aprofundadas, em cada grupo de funcionamento de cortar, constam de Garcia (2014). de funcionamento, relacionados ao modo como são construídos os valores referenciais em cada um deles.

No grupo (1), <divisão>, cortar remete a uma unidade contínua que pode ser entendida como constitutiva dos termos convocados para seu funcionamento. Tais termos são, portanto, apreendidos a partir da continuidade que podem vir a representar, sobre a qual cortar enuncia uma divisão, permanecendo, em cada parte restante, a linearidade própria ao modo como o termo foi apreendido pelo verbo.

Nos termos por ele convocados, o verbo evoca um contexto de relação todo-parte, como o pedaço de tecido (que pode constituir novo todo, num vestido, por exemplo), ou os pedaços de cabelo cortado (que podem constituir uma peruca). Essa representação pode ser notada em:

  • O estilista cortou e costurou o tecido.

  • O ator (Edson Celulari) [...] cortou o cabelo em um salão de beleza...

No grupo 2 - <cessação de curso>, os termos são apreendidos por cortar numa dada continuidade ou sequenciação ancorada no espaço-tempo, caso, por exemplo, em que rio é apreendido como seu curso, luz, como o fluxo da corrente elétrica, palavra, como fluxo verbal; ao incidir sobre essa continuidade de natureza espaço-temporal, cortar provoca sua interrupção, cessando sua existência. São exemplos desse grupo:

  • Foi tanto o calor, que o rio cortou.

  • Cortou a luz do cortiço pra expulsar os inquilinos.

  • Marta corta palavra de Suplicy no Senado.

No grupo 3 - <desvinculação>, a ideia de unidade contínua é evocada por meio de um vínculo entre os termos convocados por cortar que não existe fora de sua incidência, de modo que cada um deles tem uma singularidade própria, como o menino que empinava uma pipa que foi cortada (menino e pipa não guardam vínculos fora do fato de empinar), ou duas pessoas cujos laços afetivos foram cortados, sendo que, fora deles, não há nada que as una.

Como exemplos desse grupo, apresentamos:

  • O menino cortou pipa do colega.

  • Os dois não cortaram os laços abruptamente.

  • A hora que eu vi o bebê, me cortou o coração.

Nesse grupo, os termos convocados pelo verbo, que se encontram vinculados (por meio de uma ação, como empinar, ou uma relação, como uma amizade), só o são nesse contexto específico.

Destacamos o último enunciado do grupo 3: A hora que eu vi o bebê, me cortou o coração. Cortar faz com que coração seja interpretado a partir do fluxo sanguíneo que é posto em circulação por esse músculo, ao mesmo tempo em que mobiliza o substantivo enquanto o conjunto de emoções que ele representa. Cortado o fluxo dessas emoções, se desestabiliza uma continuidade que estava em curso. A sequência me cortou o coração se estabiliza com A hora em que eu vi o bebê, com o verbo colocando em jogo o equilíbrio e o caos que comporiam um conjunto de emoções.

O fato de cortar, na interação com o termo coração, não o apreender, nesse enunciado, como um órgão no qual se fez uma incisão, em nada abala o conceito de invariância que apresentamos. Não há aqui o binômio denotação/conotação, e sim um sentido estabilizado num enunciado cujos elementos determinam tal configuração.

Em nossas análises, nota-se que a proliferação de sentidos é regulada por um fio condutor (a FE de cortar), que abre espaço para esses três movimentos distintos, permeados por um ponto de convergência: a ruptura de uma dada continuidade. Considerando isso, propomos a seguinte FE para esse lexema verbal:

CORTAR invoca elementos contínuos que inicialmente formam uma unidade (que faz um) para expressar a descontinuidade do que é apreendido como contínuo (para expressar que o contínuo é descontinuado) 22 22 “CORTAR convoque des éléments continus qui forment au départ une unité (qui font l’un) pour exprimer la discontinuité de ce qui est appréhendé comme continu (pour exprimer que l’un continu est discontinué)” (p. 298). A continuidade dos estudos enunciativos, coordenados pela profª. Drª.Márcia Cristina Romero Lopes, resultou nessa atualização da FE de CORTAR; acerca disso, remetemos à leitura de Romero (2018). [tradução nossa].

5. Considerações Finais

Percebemos, através do confronto entre enunciados envolvendo sumir/desaparecer e cortar, regularidades de funcionamento desses lexemas verbais, bem como demonstramos como eles determinam semanticamente os elementos linguísticos com os quais interagem, levando esses verbos a manifestar suas propriedades enunciativas intrínsecas. As análises evidenciam que os sentidos observados são provisórios, construídos na interação entre os termos dos enunciados e os respectivos contextos evocados das cenas enunciativas, nunca emanado exclusivamente dos lexemas verbais.

As manipulações dos enunciados possibilitaram descortinar o funcionamento enunciativo e a invariância que regula as variações dos lexemas verbais apresentados, formalizados por sua FE, e demonstraram que a invariância existente na construção do sentido permite-nos afirmar que todo movimento de sinonímia é uma tradução, haja vista ser sempre uma tentativa de aproximação de sentido. Assim, “embora reconheçamos que duas unidades lexicais possam ser próximas semanticamente, isso não significa que seu modo de funcionamento seja o mesmo” (Romero Lopes, 2000Romero-Lopes, M. C. (2000). Processos enunciativos de variação semântica e Identidade lexical: a polissemia redimensionada. Estudo dos verbos jouer e changer. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo., p.231).

Analogamente, a dicotomia denotativo-conotativo perde sua razão de ser, pois não há, para as unidades linguísticas, um sentido primeiro e outros dele decorrentes, mas sim uma regularidade peculiar que sustenta seu modo de funcionamento, independentemente de a construção ser considerada “culta”; “‘literal’ e ‘figurado’ nada mais são do que classificações de um sentido que é sempre circunstancial, dependente do meio textual no qual a unidade se insere” (Romero, Vóvio, 2011Romero, M., & Vóvio, C. (2011). Da criatividade do falar do jovem às práticas pedagógicas criadoras. Interacções, 17, 72-95. https://repositorio.ipsantarem.pt/bitstream/10400.15/504/2/Q5_Romero%26Vovio.pdf (Acesso 04 de semp
https://repositorio.ipsantarem.pt/bitstr...
, p. 92).

Nossa análise permitiu, ao buscar identificar a origem do processo que constrói os sentidos e sistematizar os processos de proliferação desses, compreender a natureza relacional da identidade semântica e mostrar que as significações comumente atribuídas aos verbos não lhe pertencem isoladamente, sendo frutos nunca definitivos dos mecanismos de regulação próprios da atividade de linguagem.

Agradecimentos

Deixamos um agradecimento especial à nossa professora Márcia Cristina Romero Lopes (UNIFESP), que sempre nos motivou com a sua mescla de entusiasmo e rigor, e aos professores Sarah de Vogüé (Universidade de Paris - Nanterre - Paris X) e Jean-Jacques Franckel (Universidade de Paris - Diderot - Paris VII), pela sua disponibilidade em ministrar cursos, seja de modo presencial, seja online. Igualmente, agradecemos a todos os membros do grupo de estudos da TOE, que sempre nos auxiliam nas nossas reflexões: Thatiana Ribeiro Viela, Elizabeth Gonçalves Lima Rocha, Suzana Rosa de Almeida, Juliana Perez Kiihl e Leonam Ricardo Alcantara Francisconi.

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  • Tamba, I. (2006). A semântica. Parábola Editorial.
  • 4
    Utilizamos a denominação Teoria das Operações Enunciativas (TOE) porque corresponde ao início de nossa trajetória acadêmica. Cabe apontar, no entanto, que outros trabalhos sustentados neste mesmo referencial teórico-metodológico utilizam a terminologia Teoria das Operações Predicativas e Enunciativas (TOPE).
  • 5
    Note-se que entendemos funcionamento sob a perspectiva da TOE, que preconiza o funcionamento de um lexema verbal como não passível de categorização a priori; não utilizamos o conceito tal qual, por exemplo, a gramática funcionalista, que atrela o funcionamento de um verbo a categorias prototípicas, visto que este se constrói pela interação de diversos fatores, conforme é possível observar nas análises constantes deste trabalho.
  • 6
    As análises descritas neste artigo são resultado das pesquisas de mestrado de Alvarenga (2017Alvarenga, C. D. M. (2017). Reflexões sobre a inacusatividade sob a ótica da Teoria das Operações Enunciativas. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de São Paulo. http://repositorio.unifesp.br/handle/11600/50884 (Acesso 04 de setembro, 2023).
    http://repositorio.unifesp.br/handle/116...
    ) e Garcia (2014Garcia, S. A. (2014). Questões de sintaxe sob a ótica enunciativa: contribuições para um ensino reflexivo da categoria verbal. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de São Paulo. http://repositorio.unifesp.br/handle/11600/47191 (Acesso 04 de setembro, 2023).
    http://repositorio.unifesp.br/handle/116...
    ), às quais remetemos a leitura, para maior compreensão dos corpora e das discussões teórico-metodológicas constantes dessas dissertações.
  • 7
    Somente em sumir também foi utilizada a fonte lexicográfica de Azevedo (2010Azevedo, F. F. S. (2010). Dicionário analógico da língua portuguesa: ideias afins/thesaurus. 2ed. atual e revista. Lexikon.).
  • 8
    O dicionário Houaiss (2009Houaiss, A., & Villar, M. S. (2001/2009). Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa. Objetiva (CD-ROM).) foi utilizado na planilha de DESAPARECER.
  • 9
    Estes estudos foram/são conduzidos por integrantes do Grupo de Pesquisa Gramática operatória e ensino de línguas: sistematização do funcionamento verbal e do Grupo de Pesquisa Léxico e Enunciação: variações de sentido em contextoAlvarenga, C. D. M. (2015). Léxico e enunciação: variações de sentido em contexto. Relatório científico final FAPESP, Universidade Federal de São Paulo., coordenado por nossa orientadora, Prof.ª Dr.ª Márcia Cristina Romero Lopes.
  • 10
    Vimos anteriormente como a interação entre a sequência e o contexto não pode ser qualquer.
  • 11
    Apenas optamos por não colocar no trabalho todas as vezes que sumir aparece na definição de desaparecer e vice-versa, para evitar a repetição no corpo do texto.
  • 12
    Veremos mais detalhadamente no resultado das análises entre sumir e desaparecer dois casos em que ocorre essa mudança semântica significativa.
  • 13
    Remetemos a Alvarenga (2017Alvarenga, C. D. M. (2017). Reflexões sobre a inacusatividade sob a ótica da Teoria das Operações Enunciativas. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de São Paulo. http://repositorio.unifesp.br/handle/11600/50884 (Acesso 04 de setembro, 2023).
    http://repositorio.unifesp.br/handle/116...
    ) para a análise na íntegra de sumir e desaparecer. Esta análise de sumir e desaparecer foi tema da comunicação Reflections on unaccusativity under an enunciative perspective, na 4ª Conferência Anual de Linguística da University of Georgia (EUA).
  • 14
    Apenas fizemos uma pequena modificação sintática neste exemplo, pois, ao isolarmos o verbo e o seu principal argumento do seu contexto linguístico mais amplo, notamos que este exemplo seria dificilmente enunciável com o verbo no início da oração.
  • 15
  • 16
    Este conceito, apresentado por Romero & Trauzzola (2016Romero, M., & Trauzzola, V. (2016). Consumir et comer en portugais brésilien: contribution à létude du préfixe CO. Faits de Langues, 48, 79-92. https://doi.org/10.1163/19589514-048-01-900000007
    https://doi.org/10.1163/19589514-048-01-...
    ), indica que há termos que possuem uma materialidade que independe da sua localização.
  • 17
    O conceito de invariância está relacionado às regularidades de funcionamento que possibilitam descrever a identidade semântica de uma unidade lexical ou, em outras palavras, sua forma esquemática.
  • 18
    Remetemos a Garcia (2014Garcia, S. A. (2014). Questões de sintaxe sob a ótica enunciativa: contribuições para um ensino reflexivo da categoria verbal. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de São Paulo. http://repositorio.unifesp.br/handle/11600/47191 (Acesso 04 de setembro, 2023).
    http://repositorio.unifesp.br/handle/116...
    ) para a análise na íntegra de cortar.
  • 19
    CSS (Cascading Style Sheet, folha de estilo em cascata) é um mecanismo específico de web designing, que permite controlar o layout de uma página web.
  • 20
    Acerca dos modos de funcionamento e forma esquemática de quebrar, remetemos à leitura de ROMERO (2010Romero, M. (2010). Um possível diálogo entre a Teoria das Operações Enunciativas e a Aquisição: identidade semântica e produtividade discursiva. Alfa, 2(54), 475-503.).
  • 21
    Outros enunciados e respectivas análises completas e aprofundadas, em cada grupo de funcionamento de cortar, constam de Garcia (2014Garcia, S. A. (2014). Questões de sintaxe sob a ótica enunciativa: contribuições para um ensino reflexivo da categoria verbal. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de São Paulo. http://repositorio.unifesp.br/handle/11600/47191 (Acesso 04 de setembro, 2023).
    http://repositorio.unifesp.br/handle/116...
    ).
  • 22
    “CORTAR convoque des éléments continus qui forment au départ une unité (qui font l’un) pour exprimer la discontinuité de ce qui est appréhendé comme continu (pour exprimer que l’un continu est discontinué)” (p. 298). A continuidade dos estudos enunciativos, coordenados pela profª. Drª.Márcia Cristina Romero Lopes, resultou nessa atualização da FE de CORTAR; acerca disso, remetemos à leitura de Romero (2018Romero, M. (2018). À propos des modes de signifiance: le littéral et le figuré revus par le jeu notionnel. In S. Bédouret-Larraburu, & C. Copy (Ed.) L’épilinguistique sous le voile littéraire: Antonine Culioli et la TO (P) E (pp. 289-318). PUPPA.).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Out 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    17 Out 2021
  • Aceito
    31 Ago 2023
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