Acessibilidade / Reportar erro

As construções [que x o que] e [que x que nada] no português brasileiro

The Brazilian Portuguese constructions [que x o que] / [que x que nada]

RESUMO

Este artigo tem como meta investigar o uso e emergência das construções [que x o que] e [que x que nada] com base no aparato teórico da abordagem construcionista (Goldberg, 1995Goldberg, A. (1995). A construction grammar approach to argument structure. The University of Chicago Press. ; Croft & Cruise, 2004Croft, W., & Cruse, D. A. (2004). Cognitive linguistic. CUP. ; Traugott & Trousdale, 2013Traugott, E., & Trousdale, G. (2013). Construcionalization and Constructional Changes. Oxford University Press.). Tais construções, recorrentes na modalidade oral do português brasileiro em situações de diálogo, funcionam como mecanismo de discordância, incorporando a informação linguística a ser refutada (explícita ou não no evento comunicativo), operando no mesmo nível de expressões cristalizadas como as idiomáticas. Os dados analisados foram extraídos do corpus C-Oral Brasil, pesquisa na plataforma Google e Corpus do Português. Neste estudo, o foco reside em compreender as motivações de natureza formal e funcional do emprego dessas construções nas situações reais de uso da língua. Os resultados apontam complexidade na interpretação dessas expressões quanto ao pareamento forma-função, haja vista que a gradiência desse pareamento é relativamente abruta e resulta de processos polissêmicos.

Palavras-chave:
negação; construções; polissemia; corpus

ABSTRACT

The goal of this paper is to investigate the use and emergence of the constructions [que x o que] (what x the what) and [que x que nada] (what x that nothing) in Brazilian Portuguese, using the theoretical framework of the constructionist approach (Goldberg, 1995Goldberg, A. (1995). A construction grammar approach to argument structure. The University of Chicago Press. ; Croft & Cruise, 2004Croft, W., & Cruse, D. A. (2004). Cognitive linguistic. CUP. ; Traugott & Trousdale, 2013Traugott, E., & Trousdale, G. (2013). Construcionalization and Constructional Changes. Oxford University Press.). Such constructions, recurrent in the oral modality of the language in situations of dialogue, function as a mechanism of discordance, as they incorporate the linguistic information to be refuted (explicit or not in the communicative event) and operate at the same level of crystallized expressions, e.g., the idiomatic ones. The analyzed data were extracted from the corpora C-oral Brasil and Corpus do Português as well as from Google. In this study, the focus is to understand the formal and functional motivations of the use of these constructions in real situations of language use. The results show complexity in the interpretation of these expressions regarding the form-function pairing, given that the gradient of this pairing is relatively opaque and results from polysemic processes.

Keywords:
negation; constructions; polissemy; corpus

1. Introdução

O mecanismo de negação é tradicionalmente visto como um universal linguístico (Roncarati, 1996Roncarati, C. N. S. (1996). A negação no português falado. In A. T. Macedo, C. N. S. Roncarati & M. C. M. Mollica (Eds.), Variação e Discurso (pp. 96-111). Tempo Brasileiro.; Furtado da Cunha, 2001Furtado da Cunha, M. A. (2001). O modelo das motivações competidoras no domínio funcional da negação. Delta, 17(1), 1-30. https://doi.org/10.1590/S0102-44502001000100001.
https://doi.org/10.1590/S0102-4450200100...
). São vários os estudos sobre o português brasileiro que tratam do tema, com atenção especial para os tipos de negação que ocorrem no nível sentencial, a saber: a negação pré-verbal (Neg V), dupla negação (Neg V Neg) e a pós-verbal (V Neg) (Roncarati, 1997Roncarati, C. (1997). Ciclos aquisitivos da negação. In C. N. S. Roncarati & M. C. Mollica (Eds.), Variação e aquisição (pp. 100-121). Tempo Brasileiro.; Furtado da Cunha, 2001Furtado da Cunha, M. A. (2001). O modelo das motivações competidoras no domínio funcional da negação. Delta, 17(1), 1-30. https://doi.org/10.1590/S0102-44502001000100001.
https://doi.org/10.1590/S0102-4450200100...
; Soares, 2009Soares, V.R. (2009). A negação no contato entre dialetos [Dissertação de mestrado]. Universidade Federal do Rio de Janeiro. http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=165317. (Acessado 04 de julho, 2022).
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquis...
); e as formas reduzidas de negação como num, nu (Souza, 2007Souza, L.T. (2007). A gramaticalização do não no português brasileiro e a etapa do processo. Revista Domínios da Linguagem. Ano 1(2), 1-17. https://seer.ufu.br/index.php/dominiosdelinguagem/article/view/11439/6700. (Acessado 04 de julho, 2022).
https://seer.ufu.br/index.php/dominiosde...
). Poucos estudos tratam desse fenômeno no âmbito das expressões já cristalizadas ou idiomáticas. Uma das poucas análises é o estudo de Matsuoka e Guedes2 2 Disponível em: Análise das construções idiomáticas negativas enfáticas: uma visão cognitivista | Revista Gatilho (ufjf.br). Acessado em 15/11/2017. , que discutem o que denominam de construções idiomáticas negativas enfáticas. De acordo com as autoras, construções como nem que a vaca tussa e nem que chova canivete constituem mecanismo de negação no português brasileiro com notória fragilidade composicional, dado que o significado do todo não advém da soma do significado literal das partes. Muito embora essas construções se emparelhem sintaticamente às orações concessivas3 3 De acordo com as autoras, a subordinada concessiva desempenha um papel de enfatizar a negação da oração matriz, criando um efeito jocoso, uma situação inusitada: x não y nem que (mesmo que/ainda que) z aconteça. , seu significado não deriva do significado das partes, ou seja, tornaram-se expressões cristalizadas na língua em decorrência de produzirem um efeito pragmático-discursivo singular. As autoras defendem ainda que essas construções mantêm relação semântica com as concessivas, porém, discursivamente, elas não têm o compromisso de apresentar a concessão haja vista que a decisão do falante já foi tomada na oração matriz, ou seja, ainda que o ‘irreal/surreal’ aconteça (a vaca tossir), o falante não realizará a performance. Assim, construções como nem que a vaca tussa e nem que a galinha crie dentes operam mais como construções jocosas e enfáticas da negação presente na oração matriz. Tais construções não têm a função primeira de apresentar concessão devido ao fato de que o conteúdo semântico, se resgatado como o somatório do significado das partes, se refere a algo irreal ou bastante improvável. Por exemplo, em nem que a galinha crie dentes, não se apresenta de fato concessão, considerando que galinhas não possuem dentes dentro das possibilidades do mundo real. O que se pretende com esse tipo de construção é enfatizar um discurso anterior de negação a que se associam semanticamente. As construções idiomáticas negativas enfáticas constituem-se como herdeiras das concessivas, mas, pelo efeito da cristalização e idiomaticidade, assumem papel discursivo singular.

De maneira semelhante, as construções em foco neste artigo, [que x o que] e [que x que nada], aproximam-se das expressões idiomáticas negativas enfáticas acima discutidas, haja vista a perda de composicionalidade e a função semântica de valor negativo. Nas seções a seguir, almeja-se verificar as possíveis motivações formais e pragmático-discursivas do emprego dessas construções.

2. Linguística funcional e gramática de construções (GC)

Martelotta e Kenedy (2003Martelotta, M., & Kenedy, E. (2003). A visão funcionalista da linguagem no século XX. In M. A. F. da Cunha, M. R. de Oliveira & M. E. Martelotta (Eds.), Lingüística Funcional: teoria e prática (pp. 17-28). DP&A/FAPERJ. , p.11-12) explicam que a linguística do século XX foi fortemente marcada por três noções básicas: sistema, estrutura e função. A ciência da linguagem, no decorrer desse século, foi aos poucos ampliando seu olhar sobre o fenômeno linguístico, passando de uma visão estreita sobre o entendimento de sistema, ancorada em análises estruturais de elementos que o compõem e pautada em estudos estruturalistas baseados na linguística saussuriana, para a incorporação de conceitos essenciais à linguagem: a função. Para os funcionalistas, as pressões do discurso e das mais diversas situações comunicativas exercem influência direta na estrutura gramatical da linguagem.

O rótulo Linguística Funcional configura-se como um novo ramo dos estudos sobre a linguagem, momento em que se busca analisar a língua com informações das situações de uso, do contexto extralinguístico. Furtado da Cunha et al. (2015Furtado da Cunha, M. A, Oliveira, M.R., & Martelotta, M.E (Eds.). (2015). Linguística funcional: teoria e prática. 1 ed. Parábola Editorial. , p.21) afirmam que a abordagem funcionalista rompe com os estudos formalistas e estruturalistas precedentes e volta-se para a linguagem como um instrumento de comunicação em que diferentes níveis da gramática (sintaxe, semântica, pragmática) interagem de forma interdependente. Na perspectiva funcionalista, a estrutura da língua reflete, de alguma maneira, a estrutura da experiência. Esse core forma-função é tradição nos estudos funcionalistas e construcionistas, muito embora tenha sofrido reformulações.

Oliveira & Rosário (2015Oliveira, M. R., & Rosario, I. C. (2015). Linguística Centrada no Uso: teoria e método. 1ed. Lamparina, FAPERJ., p.22; 2016Oliveira, M.R., & Rosario, I.C. (2016). Funcionalismo e abordagem construcional da gramática. Alfa 60(2), 233-259. https://doi.org/10.1590/1981-5794-1608-1.
https://doi.org/10.1590/1981-5794-1608-1...
, p. 233-239), em consonância com Martelotta e Alonso (2012Martelotta, M.E., & Alonso, K.S. (2012). Funcionalismo, cognitivismo e a dinamicidade da língua. In E. R. Souza (Ed.), Funcionalismo linguístico: novas tendências teóricas. Contexto.), chama atenção para os rumos atuais da abordagem funcionalista, com enfoque na perspectiva da Linguística Funcional Centrada no Uso (LFCU), que incorpora análises envolvendo a conjugação de níveis estruturais, cognitivos e sócio-históricos. Nesse sentido, os estudos funcionalistas vêm fortalecendo laços com outras áreas do saber (como a GC) para, através dessas interfaces, produzir análises mais holísticas do pareamento forma-função (Goldberg, 1995Goldberg, A. (1995). A construction grammar approach to argument structure. The University of Chicago Press. ) analisado e da associação desse pareamento em redes (Croft & Cruise, 2004Croft, W., & Cruse, D. A. (2004). Cognitive linguistic. CUP. ). De acordo com esses autores, a estrutura simbólica da forma é constituída de propriedades dos níveis fonológico, morfológico e sintático e a do sentido/função, de propriedades para além do nível semântico, englobando também informações pragmáticas e discursivo-funcionais. Desse modo, a relação do pareamento forma-função, na abordagem atual da LFCU e da GC, é biunívoca e os micropassos de uma mudança podem não seguir uma trajetória unidirecional contínua.

Goldberg (1995Goldberg, A. (1995). A construction grammar approach to argument structure. The University of Chicago Press. ) sustenta que a unidade básica da gramática é a construção, definindo-a como pareamento de forma-função, incluindo morfemas, palavras e expressões idiomáticas. A autora afirma ainda que um determinado padrão linguístico é reconhecido como construção caso algum aspecto de sua forma ou função não seja estritamente derivado das partes que a compõem. Recentemente, Goldberg (2006)Goldberg, A. (2006). Constructions at work: the nature of generalization in language. Oxford University Press. apresenta um conceito mais amplo de construções, considerando que elas podem ser de qualquer tamanho, desde sentenças complexas a unidades atômicas. Traugott e Trousdale (2013Traugott, E., & Trousdale, G. (2013). Construcionalization and Constructional Changes. Oxford University Press., p.2) explicam que a GC estabelece uma relação estreita com os princípios gerais da linguística cognitiva. Para os autores, as abordagens construcionistas compartilham um acordo tácito em ver a gramática como um sistema holístico, em que nenhum nível é autônomo. A construção é, por natureza, um componente da gramática em que atuam conjuntamente informações semânticas, morfossintáticas, fonológicas e pragmáticas.

Ferrari (2011Ferrari, L. (2011). Gramática de Construções. In L. Ferrari (Ed.), Introdução à linguística cognitiva (pp. 129-146). Editora Contexto. , p.129) explica que a linguística cognitiva, em contraposição à abordagem formal da linguística, considera a relação léxico-sintaxe como um continuum que vai desde um item lexical a construções transitivas, de modo a formar unidades simbólicas compostas de um pareamento forma-função. A autora afirma ainda que o modelo de construções retoma a tese saussuriana da relação significante-significado para, num primeiro momento, explicar irregularidades na linguagem não previstas pelo modelo formal. Assim, construções complexas (expressões idiomáticas e sentenças) são entendidas como detentoras dos mesmos princípios semânticos e pragmáticos dos itens lexicais, a exemplo do par carteira de motorista e bater as botas, em que o significado da última expressão não advém das palavras que a compõem, mas de seu tratamento como uma unidade lexical na língua.

Dentre as expressões idiomáticas, Ferrari (2011Ferrari, L. (2011). Gramática de Construções. In L. Ferrari (Ed.), Introdução à linguística cognitiva (pp. 129-146). Editora Contexto. , p.121) diferencia dois tipos de construções que nomeia de substantivas e formais. As substantivas correspondem às construções compostas de estrutura sintática ‘fechada’, compostas de itens lexicais específicos como ‘viajar na maionese’, em contraposição às formais, consideradas abertas por permitirem preenchimentos por diferentes itens lexicais, como as construções investigadas neste artigo [que x que nada], em que x pode ser qualquer unidade categorial da gramática4 4 Justifico essa afirmação com base em minha intuição de falante nativo do português brasileiro. Não consegui imaginar uma unidade linguística que não possa preencher ‘x’ nessas construções. Infelizmente, ainda não há um corpus representativo da diversidade que ‘x’ pode apresentar. .

Cabe ainda ressaltar que a Gramática de Construções concebe o significado dos enunciados a partir de um conjunto esquemático de informações que participa da construção sintática da sentença e não apenas da matriz semântica do núcleo do predicado. Dentre os exemplos destacados por Ferrari (2011Ferrari, L. (2011). Gramática de Construções. In L. Ferrari (Ed.), Introdução à linguística cognitiva (pp. 129-146). Editora Contexto. , p. 137), pode-se contrapor (1) e (2) abaixo:

(1) O menino jogou a bola para o colega.

(2) Só gosta de cassino quem joga.

A diferença de transitividade entre (1) X CAUSAR Y A RECEBER Z (construção dativa) e (2) X AGIR (construção intransitiva) não se reduz à matriz semântica do verbo ‘jogar’, que é a mesma nas duas construções. Embora as palavras que compõem as sentenças sejam indispensáveis para a construção de seu significado, a significação completa capaz de atingir a diferença de transitividade entre uma e outra perpassa pelo reconhecimento dessas sentenças como unidades simbólicas e esquemáticas, como ocorre com as expressões idiomáticas.

Na abordagem construcional, as construções gramaticais, definidas como uma relação entre forma (incluindo informações lexicais, sintáticas e morfofonológicas) e função (incluindo informações semânticas e pragmáticas), possuem correspondências entre si, formando redes construcionais, baseadas em dois princípios (Goldberg, 1995Goldberg, A. (1995). A construction grammar approach to argument structure. The University of Chicago Press. ):

  1. Princípio da Motivação Maximizada - Se duas construções são sintaticamente relacionadas, tais construções podem ser motivadas semântica ou pragmaticamente.

  2. Princípio da Não-Sinonímia - Se duas construções são sintaticamente distintas, tais construções devem ser também distintas semântica ou pragmaticamente.

O princípio (ii) não será discutido neste texto, embora ambas as construções parecem ser sinônimas no corpus em análise, contrariando a impossibilidade de construções distintas apresentarem o mesmo significado na teoria da GC. O princípio da Motivação Maximizada, conforme Ferrari (2011Ferrari, L. (2011). Gramática de Construções. In L. Ferrari (Ed.), Introdução à linguística cognitiva (pp. 129-146). Editora Contexto. , p. 138-139), pode ocorrer por diferentes laços de herança, entre os quais os laços polissêmicos e metafóricos. As construções causais, por exemplo, podem gerar os pares de estruturas como se vê em (3), (4), (5) e (6) a seguir:

Sentido polissêmico:

Sentido Central:

(3) X CAUSA Y A MOVER Z - [X João] guardou [Y o tênis] [Z no armário].

Sentido de proibição:

(4) X PROIBE Y A MOVER Z

[X João] impediu [Y o colega] [Z de chutar a bola].

Em (3), o movimento é real e, em (4), é pretendido.

Sentido metafórico:

Expressão causal:

(5) X CAUSA Y A MOVER Z

[X O menino] chutou [Y a bola] [Z para o gol].

(6) X CAUSA Y A MOVER Z

[X O menino] doou [Y a bola] [Z para a escola].

Nos exemplos (5) e (6), a metaforização é percebida na relação de transferência física em (5) para transferência de posse em (6). Além desses links de herança que geram novas construções na língua, Goldberg (1995Goldberg, A. (1995). A construction grammar approach to argument structure. The University of Chicago Press. ) ressalta a herança por subpartes, que diz respeito à formação de construções novas com fragmentos da construção base, porém, totalmente independente desta. As construções aqui analisadas não apresentam total transparência quanto ao pareamento forma-função. Desse modo, busca-se analisar e compreender motivações formais e funcionais de sua emergência, de modo a verificar laços de herança por meio de processos polissêmicos.

3. Metodologia e amostra

Os dados que compõem a amostra desta pesquisa foram extraídos do projeto C-Oral Brasil5 5 C-oral Brasil é um corpus de referência do português brasileiro falado informal. (FALE/UFMG). http://www.c-oral-brasil.org/. Acessado em novembro/2021. , particularmente dos diálogos informais de falantes da região metropolitana de Belo Horizonte, e do Corpus do Português6 6 http://www.corpusdoportugues.org/. Acessado em novembro/2021. , seção de dados da web/dialetos e em buscas no google. O C-Oral Brasil é um corpus em constante atualização e composto de amostras tanto formais quanto informais da língua, com mais ou menos 300.000 palavras, que representam a diatopia mineira. Os trechos analisados nesta pesquisa são do acervo que compõe a amostra informal. São diálogos espontâneos de interações de falantes em contextos tanto públicos quanto familiares. Consideraram-se ainda as conversas, nomeadas de monólogos, que fazem parte de um conjunto de entrevistas em que o entrevistado desenvolve turnos mais longos em relação às interações mais espontâneas dos outros domínios.

Quanto ao Corpus do Português e dados do Google, priorizaram-se ocorrências da partícula ‘que’, cujos fragmentos poderiam, motivacionalmente, terem sido destacados para usos interjetivos, função primeira das construções em foco neste artigo. A amostra do Corpus do Português explorada corresponde ao corpus ‘Genre/Historical’, que compõe o corpus original da plataforma, constituído de 45 milhões de palavras. Os dados são de diferentes períodos, entre o século XIII e XX. Este último composto de diferentes gêneros textuais (fala, ficção, jornais e textos acadêmicos), com distribuição quantitativa balanceada entre os gêneros. A procura por exemplos típicos com a partícula ‘que’ foi feita através do sistema de buscas da própria plataforma e, dadas as inúmeras funções desse item, foram consideradas, de modo geral, aquelas que poderiam, de alguma forma, favorecer a emergência das construções investigadas.

Em relação à plataforma google, a partícula ‘que’ foi digitada no campo de busca da maneira como aparece nas construções em análise, sendo, no lugar do ‘x’, o sinal asterisco (*) para fins de levantar as ocorrências específicas das expressões. A partícula ‘que’ foi também analisada como feito no Corpus do Português de forma a verificar as construções sintáticas específicas que poderiam ter favorecido a emergência formal das construções.

Ressalta-se que, no dialeto mineiro, as construções [que x o que] e [que x que nada], embora pouco recorrentes no corpus, são comuns nas interações espontâneas com base em minha experiência como falante do dialeto. As situações comunicativas de discordância bem como de provocações são motivadoras dessas fórmulas linguísticas. No entanto, a disponibilidade de corpora de fala espontâneos com contextos específicos para a análise aqui empreendida é muito rara. O C-Oral Brasil, embora contenha uma amostra bastante significativa da fala espontânea em domínios públicos e privados, contém, nos diálogos da amostra, apenas uma ocorrência de cada. A baixa produtividade no corpus, de forma alguma, corresponde a uma realidade comunicativa de uso escasso das construções. Por se tratar de exemplares específicos e que ocorrem também em contextos de fala particulares, seria necessária a construção de uma amostra que, de fato, pudesse representar a produtividade das construções em contextos de negação e de provocações. A falta dessa amostra particular, no entanto, não invalida as conclusões deste trabalho, haja vista se tratar de fórmulas linguísticas cujo preenchimento do elemento ‘x’ é aberto para qualquer categoria gramatical, conforme já explicado na seção anterior em nota de pé de página.

Ainda a respeito da amostra C-Oral Brasil, faz-se necessário esclarecer alguns sinais utilizados para anotação de marcas prosódicas além de outros relativos a informações sobre os interlocutores. As letras iniciais, em maiúsculo, significam siglas que remetem aos nomes dos informantes. Os números em [ ] sinalizam o registro dos turnos de fala, auxiliando nas interpretações. As barras duplas (//) indicam pausa longa, em especial em fim de turno. O sinal $ indica final de turno. A barra simples (/) sinaliza pausa breve.

Sumarizando, busca-se analisar as ocorrências considerando tanto informações do cotexto7 7 A noção de cotexto foi proposta por Bar Hillel para dar conta da intervenção das unidades verbais que fixam a significação das outras formas linguísticas presentes num mesmo texto. Descrição extraída de http://edtl.fcsh.unl.pt/business-directory/5984/cotexto/. Acesso: 15/11/2017. quanto do contexto extralinguístico. Além da função discursiva desempenhada pelas expressões em eventos reais de fala, pretende-se compreender possíveis motivações formais para essas construções. A hipótese é a de que elas compõem constituintes fragmentados de construções sintáticas típicas e que se cristalizaram em situações discursivas particulares, em especial as de demarcação de efeitos interjetivos em contextos de discordância e provocação.

4. Plano funcional: motivações interjetivas?

As construções analisadas neste artigo são interpretadas com função interjetiva na conversação espontânea. Essa interpretação possui, em alguma medida, link de herança com o uso da partícula ‘que’ em construções interjetivas, que integra locuções com função de expressar os estados súbitos da alma, como: que dia lindo!, que susto!, que vista maravilhosa!, etc. Nesses usos, a partícula ‘que’ não possui função sintática e é empregada apenas para atribuir efeito exclamativo às construções, conforme se verifica em descrições das funções desse item:

Interjeição: para manifestar espanto, perplexidade, admiração, surpresa; expressão típica de frases construídas com o uso de interjeições.

Exemplo:

Quê! Tal medida é absurda!

Partícula de realce: não possui função sintática e é utilizada apenas para dar realce, portanto, pode ser retirada do enunciado sem que haja prejuízo para a compreensão dele.

Exemplo:

Que saudades que eu tenho dos nossos momentos juntos! (Site Brasil Escola)8 8 Funções sintáticas da palavra “que” - Brasil Escola (uol.com.br)

É importante ressaltar também que a partícula ‘que’ exerce várias outras funções e participa das construções de diversos constituintes sintáticos. Dentre as funções, temos:

  1. pronome relativo: o homem que caminha todos os dias na região.

  2. pronome interrogativo: que dia será o aniversário?

  3. substantivo: ela tem um quê de Monalisa.

  4. advérbio: que (quão) ingênuo eu sou!

  5. preposição: temos que (de) estudar bastante.

  6. conjunção de finalidade: vamos torcer que ela venha no natal.

  7. conjunção comparativa: melhor sentir calor que frio.

  8. conjunção concessiva: que seja bom o evento, eu não vou.

  9. conjunção consecutiva: estudou tanto que passou no vestibular.

  10. conjunção causal: ele nunca compra nada extra, que o dinheiro tem que ir para poupança.

  11. conjunção substantiva: parece que vai fazer sol.

  12. conjunção aditiva: elas pediam que pediam até que conseguiam.

Essa variedade de usos da partícula ‘que’ a torna altamente flexível e multifuncional, favorecendo a participação em construções como as que são analisadas neste artigo. Tomemos, inicialmente, dois usos típicos dessas construções em situações interacionais e espontâneas da língua em (7):

(7)

*EME: [20] manda aí //$

*FLA: [21] puxa mais <dois> //$

*GUS: [22] <como é que é> //$

*FLA: [23] mais duas arvorezinhas //$ [24] agora cê tem quatro //$

*LUD: [25] acho que talvez assim seja mais fácil //$

*FLA: [26] só pôr assim / o’ //$ [27] atravessadinho //$

*LUD: [28] que travessa o que / o’ //$

*EME: [29] agora vou me concentrar //$ [30] falou / parceiro //$

Em (7), todas as informantes são do sexo feminino e estudantes de graduação e pós-graduação. Trata-se de uma conversa espontânea na casa de uma das participantes. Elas são amigas e se reuniram para comemorar o aniversário de uma delas. A conversa foi gravada durante uma partida de truco em que as jogadoras conversam com outras participantes que estavam preparando um lanche. A construção apareceu na fala de LUD [25], em que ‘x’ é uma retomada de um item com função adverbial na fala anterior de FLA [26], no caso ‘atravessadinho’. Infere-se que FLA tenta ajudar a amiga a organizar o que parece ser um grupo de feijões usados para marcar os pontos da partida. LUD [28] recusa a sugestão, inserindo o item, com função adverbial, na construção [QUE X O QUE], porém, foneticamente modificado ou reduzido, resultando na construção [QUE Adv O QUE]. Vejamos agora outra ocorrência em (8):

(8)

*MAR: [348] <quatro a três> //$

*CEL: [349] <então beleza> //$

*CEL: [350] beleza / beleza //$

*JOS: [351] <pois é / ué> //$

*CAR: [352] <uai> / esse não / ué //$

*MAR: [353] <então vai> //$

*MAR: [354] <é> nossa / <ouviu / irmão> //$

*JOS: [355] <minha> //$

*JOS: [356] é minha //$

*MAR: [357] oh //$

*MAR: [358] <é minha> //$

*JOS: [359] <cê chuta> daquele jeito / é sua / <Marcelo> //$

*MAR: [360] <”eminha”> é filhote de ema //$

*CAR: [361] manda ele aqui que eu vou passar //$

*JOS: [362] então toma / uai //$

*CAR: [363] ô / Marcelo //$

*CAR: [364] crê vai me perdoar / bobo // $

*CAR: [365] mas eu nũ tô dando <bola pr’ ocê não> //$

*CEL: [366] <Nossa Senhora / xxx> //$

*JOS: [367] <para aí> //$

*CAR: [368] aê // $

*MAR: [369] de longe / de longe //$

*JOS: [370] ah / de longe //$

*MAR: [371] de [/1] claro que é de longe / <uai> //$

*JOS: [372] <quatro> //$

*MAR: [373] que quatro <que nada / irmão> //$

*JOS: [374] <quatro a quatro> //$

*MAR: [375] <nũ foi não / viu / xxx> //$

*JOS: [376] <pode ir / varão> // $

*CAR: [377] <foi> / Zé //$

*JOS: [378] <pode ir / varão> //$

*MAR: [379] de <longe nũ vale não> //$

Em (8), os informantes estão jogando uma partida de futebol. São seis amigos, um deles do sexo feminino, REN. Eles são de diferentes cidades de Minas: Juiz de Fora, Inhapim e Betim. Quem utilizou a construção é do sexo masculino, com nível de escolaridade básico e trabalha em departamento público ligado ao Programa Bolsa Família.

Pelo contexto, o jogo estava 4 x 3, quando CAR [361] pede para participar da cobrança de um lance. MAR [369] sinaliza que deve ser de longe e é questionado por JOS [370], que valida a jogada, marcando 4 gols para seu grupo. MAR [373] nega que o gol tenha sido válido, inserindo o item ‘quatro’, empregado por JOS [372] no turno anterior, na construção [QUE quatro QUE NADA], cuja formalização mais abstrata resulta em [QUE Num9 9 Num = número QUE NADA].

Nota-se que as duas construções apresentam elementos periféricos após o ‘x’. A primeira, a repetição do ‘que’ antecedido do artigo ‘o’ e a segunda, além do elemento ‘que’, o marcador de negação nada. Sobre este operador, Pinto (2010Pinto, C. (2010). Negação Metalinguística e Estruturas com nada no Português Europeu [Dissertação de Mestrado]. Universidade de Lisboa. https://www.clul.ulisboa.pt/sites/default/files/tese/Tese_Clara_Pinto-_versao_final.pdf. (Acessado 04 de julho, 2022).
https://www.clul.ulisboa.pt/sites/defaul...
, p. 7) argumenta que ‘nada’ exerce função de marcador de negação metalinguística em oposição à negação regular. De acordo com a autora, o operador nada não atua no nível da negação lógica dos conteúdos proposicionais, mas age apenas em termos de discordância. Por exemplo, no enunciado ‘João não tem dois carros’, a negação regular ou lógica implicada rejeita um valor que seja superior ou igual a dois (embora, a depender do contexto e incluindo as características prosódicas, seja possível implicar um valor maior que dois), diferentemente do que aconteceria em ‘João tem dois carros nada’, uma vez que, por ser metalinguístico, o marcador nada licencia a existência de um valor acima de dois pelo fato de esse operador cancelar a implicatura subjacente à negação lógica.

Não se sabe, em ampla escala, as unidades possíveis de serem incorporadas pelas construções em análise, uma vez que a intuição permite ocorrências diversas em qualquer nível da gramática da língua, inclusive a possibilidade de inserção de silêncio, caso o ato comunicativo force o falante a omitir uma informação prévia do discurso para efeitos de evitar a saliência de algo dito indevidamente por algum interlocutor. Por exemplo, um falante pode evitar o preenchimento de ‘x’ quando o item retomado se tratar de um palavrão, introduzindo em seu lugar uma pausa (que ... o que). A leitura metalinguística de Horn (1989Horn, L. R. (1989). A Natural History of Negation. CSLI Publications., p. 377) de que a negação metalinguística é um dispositivo para se opor a um enunciado anterior por qualquer motivo/fundamento10 10 (…) metalinguistic negation is a device for objecting to a previous utterance on any grounds. (tradução autoral) , no entanto, não deixa de ser coerente à análise dessas construções uma vez que elas atuam no nível da discordância de informações prévias, explícitas ou não, necessariamente compartilhadas pelos interlocutores. Reconhecidas as complexidades em torno da composição formal dessas construções, reside a pergunta se tais estruturas constituem laços com construções interrogativas e interjeições que atuam em eventos de discordância.

Hříbalová (2012Hříbalová, L. (2012). Emprego das interjeições em contos infantis em português [Dissertação de Mestrado]. Masarykova Univerzita V Brně. https://is.muni.cz/th/upmpw/Hribalova_-_versao_final.pdf. (Acessado 04 de julho, 2022)
https://is.muni.cz/th/upmpw/Hribalova_-_...
, p. 29) apresenta um quadro bastante complexo e amplo sobre a classificação dos fenômenos interjetivos, baseado nos estudos de Wierzbicka. Tal classificação separa as interjeições em emotivas (estados da alma: ai!, cruzes!, eca!), cognitivas (discordância, aprovação: que nada!, legal!), persuasivas (fáticas: psiu!, oi!) e volitivas (desejo: quem dera!, tomara!). A fronteira entre esses tipos de interjeições é pouco nítida, tendo em vista a incerteza quanto à ausência de estados emotivos nas consideradas ‘não-emotivas’. De todo modo, dentre as cognitivas, a autora cita a locução interjetiva “que nada!”, usada em contextos de discordância. Essa interjeição se coloca como propulsora de motivação da construção que x que nada. O expletivo ‘que’ é altamente recorrente em construções interjetivas: que maravilha!, que dia lindo!, que jogada!, etc. No Corpus do Português selecionado para análise, a busca pela expressão ‘que * !’, fórmula utilizada para busca de todas as ocorrências da partícula ‘que’ em contexto de exclamação/interjeição, retornou um total de 4.464 ocorrências, sendo a mais frequente a expressão ‘que diabo!’, conforme se vê na tela de resultados reproduzida na Figura 1:

Figura 1
Frequência da partícula ‘que’ no contexto ‘que * !’

Verifica-se que a partícula ‘que’ é altamente produtiva em expressões exclamativas. Em contextos de discordância, a reduplicação do ‘que’ inicial opera como estratégia para viabilizar a inserção na construção de informação prévia ou compartilhada pelos interlocutores de que o falante tem a intenção de discordar, como em (7) e (8) anteriormente discutidos.

Paralelamente, construções interrogativas iniciadas pela expressão ‘o que’ também são muito frequentes na língua. Normalmente, a expressão ocorre em interrogativas diretas quando o falante desconhece alguma coisa no plano interacional, em que a pergunta exige como resposta um esclarecimento: O que é cep? O que é interjeição? O que é satélite?, etc. Pode também ocorrer em questionamentos no plano subjetivo, empregada pelo informante em situações de estranhamento, quebra de expectativa e de autoquestionamento. Essa interpretação pode ser ilustrada considerando um contexto em que um aniversariante, ao chegar do trabalho, encontra sua casa cheia de amigos e familiares, que teriam preparado uma festa surpresa para ele. Nesse momento, ele exprime o estranhamento ou a quebra de expectativa proferindo: ‘o que é isso?!’. Nesse evento específico, o falante não requer resposta para algo que desconhece. É apenas a manifestação de surpresa. Uma outra situação poderia ser quando uma mãe chega em casa e a encontra toda bagunçada e suja, expressando seu descontentando com a expressão ‘o quê?! Que bagunça é essa?’. Tendo em vista a alta incidência de inserção de ‘que’ expletivo em construções interjetivas como já mencionado, o surgimento de ‘que x o que’ pode ser abstraído dessa noção, dado que a expressão, de caráter interjetivo, é usada pelo falante para discordar de informações prévias ditas ou compartilhadas pelos interlocutores em situações discursivas de estranhamento ou quebra de expectativa.

5. Opacidade: fragmentos oracionais cristalizados?

Uma busca no Corpus do Português, através da instrução que * o que e que * que nada, retornou uma frequência alta do emprego dessas expressões (vide Figura 2):

Figura 2
Frequência de ocorrência da expressão ‘que * o que’ no Corpus do Português

A expressão ‘que * o que’ apresentou uma frequência de 667 ocorrências, sendo o segmento sintático ‘que é o que’ a mais frequente, ocorrendo 156 vezes no corpus. Vejamos a ocorrência de seu par ‘que * que nada’ (vide Figura 3):

Figura 3
Frequência de ocorrência da expressão ‘que * que nada’ no Corpus do Português

A construção ‘que * que nada’ apresentou frequência bem menor em relação a seu par ‘que * o que’, com apenas 12 ocorrências, com frequência máxima de duas ou uma ocorrência cada. Alguns exemplos dessas construções serão apresentados mais adiante.

A mesma busca na plataforma google retornou uma quantidade absurda de ocorrências, acima de 100 milhões de ocorrências. Deve-se considerar que o google repete informações em vários sites e blogs e elenca resultados de quaisquer textos existentes no ambiente. Desse modo, a quantificação dos dados não se mostra relevante para aferir a produtividade do uso das expressões nesse contexto virtual. No entanto, foram recortados alguns exemplos para fins de mostrar alguns contextos sintáticos de ocorrência dessas construções em dados da plataforma. Dentre as ocorrências encontradas, destacam-se:

Corpus do Português

  • (9) Há os dias em que parece que nada faz sentido (...)

  • (10) Estou estava literalmente num período negro em que parece que nada dava certo (...)

  • (11) Tem dia que parece que nada na gente está bom (...)

  • (12) O que significa que nada vai mudar (...)

  • (13) Agora, para aqueles que acham que nada aconteceu (...)

  • (14) (...) onde você tem que fingir que nada houve (...)

  • (15) (...) apenas quer que compreendas que nada é tão sério (...)

Google

  • (16) (...) o censor da psique, que escolhe o que se torna consciente ou não dos conteúdos inconscientes (...)

  • (17) Pesquisas indicam que combinar o que queremos fazer com o que devemos fazer (...)

  • (18) que vida é muito curta e que devemos fazer o que nos deixa felizes (...)

  • (19) uma hierarquia de informações que coloca o que é importante para você (...)

  • (20) Disseram que vão entregar o que foi prometido (...)

  • (21) Não acho que eles realmente entendam o que é uma economia livre (...)

Tanto nos dados do Corpus do Português quanto do Google, observam-se construções sintáticas típicas no sentido de que são formadas por unidades fortemente composicionais nos termos de Traugott e Trousdale (2013Traugott, E., & Trousdale, G. (2013). Construcionalization and Constructional Changes. Oxford University Press., p.19) e Goldberg (1995Goldberg, A. (1995). A construction grammar approach to argument structure. The University of Chicago Press. ), para quem a composicionalidade é definida como uma operação em que o entendimento do significado de uma expressão decorre do significado de suas partes e da maneira como elas são combinadas sintaticamente.

Nos enunciados (9) a (15), encontramos a ocorrência de um padrão em que o ‘que’, que encabeça o fragmento em destaque, ou é pronome relativo ou conjunção integrante, um complementizador que introduz uma oração subordinada, e um outro que, pós-verbal, com a função específica de complementizador, seguido do marcador de negação nada que, por sua vez, opera em um elemento verbal que imediatamente o segue.

Já nos enunciados (16) a (21), o ‘que’ inicial também ou é pronome relativo e sujeito do verbo que o segue ou complementizador e o ‘que’ final necessariamente um pronome relativo e sujeito do verbo que o sucede imediatamente.

É interessante registrar que esses arranjos sintáticos são altamente frequentes na língua, em especial aqueles cujo complementizador ‘que’ encabeça o fragmento recortado. Em todos esses segmentos sintáticos, o que ocorre imediatamente antes do complementizador é um verbo, no caso: indicar, dizer, achar, querer, ter, etc. Não é difícil imaginar situações discursivas em que essas afirmações podem ser discordadas. Num evento em que um informante diz ‘Você tem que compreender que nada é fácil’, seu interlocutor, em desacordo, facilmente pode proferir ‘que tem o que’ ou ‘que tenho que nada’ a depender da ressonância ou eco do discurso precedente ou motivador do fragmento recortado. Nota-se aí a forte motivação do emprego de ‘que’ para a formação de locuções interjetivas, discutidas na seção anterior, haja vista que as construções possíveis de serem formadas apresentam força ilocutória exclamativa.

Bakhtin (2003Bakhtin, M. (2003). Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 4ª ed. Martins Fontes.) afirma que os enunciados não são autossuficientes, eles se refletem mutuamente. Todo enunciado é repleto de ecos e lembranças de outros enunciados a que estão vinculados. A repetição é um fenômeno comum na atividade comunicativa interacional como já atestado por Marcuschi (1992Marcuschi, L. A. (1992). A repetição na língua falada: formas, f unções. Recife. Tese (doutorado em Letras). Universidade Federal de Pernambuco.). Para o autor, a repetição é uma estratégia discursiva da modalidade oral altamente saliente na produção, condução e compreensão do texto dialogado e responsável por fortalecer a coesão interpessoal. Para Marcuschi (1992)Marcuschi, L. A. (1992). A repetição na língua falada: formas, f unções. Recife. Tese (doutorado em Letras). Universidade Federal de Pernambuco., na repetição, há a produção de segmentos discursivos idênticos ou semelhantes duas ou mais vezes no âmbito de um mesmo evento comunicativo.

Como se verifica e é tradição nos estudos funcionalistas sobre a emergência de novas formas na língua, existem fases e processos comunicativos imersos em contextos específicos que vão construindo eventos favorecedores de inserção de novas formas com funções particularmente voltadas para atender às necessidades do ato comunicativo. O fenômeno da gradiência contextual defendida por Heine (2002Heine, B. (2002). On the role of context in grammaticalization. In I. Wischer & G. Diewald (Eds.), New reflections on grammaticalization (pp. 83-101). John Benjamins. https://doi.org/10.1075/tsl.49.
https://doi.org/10.1075/tsl.49...
) e Diewald (2002Diewald, G. (2002). A model of relevant types of contexts in grammaticalization. In I. Wischer & G. Diewald (Eds.), New reflections on grammaticalization. John Benjamins. https://doi.org/10.1075/tsl.49.09die.
https://doi.org/10.1075/tsl.49.09die...
) mostra que, em muitos casos, verifica-se opacidade de interpretação entre as fases que culminaram na emergência de uma (nova) forma com sentido diverso da estrutura mais lexical nos casos de gramaticalização (Traugott, 2011Traugott, E. C. (2011). Grammaticalization and mechanisms of change. In B. Heine & H. Narrog (Eds.), The Oxford handbook of grammaticalization (pp.19-30). Oxford University Press. https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199586783.013.0002.
https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199...
). O que se verifica é que ao desgarrar o fragmento do componente gramatical típico do qual ele faz parte, considerando a repetição parcial do discurso prévio num contexto de discordância, abre-se caminho para que ele se cristalize de maneira autônoma e se incorpore ao acervo construcional do falante como recurso linguístico empregado em situações discursivas que exigem objeção metalinguística de informação prévia compartilhada pelos interlocutores. Essa noção pode ser assim esquematizada:

Nos esquemas, o fragmento desgarrado, em uma primeira fase, já assume a acepção de discordância, porém ocorre como um eco ou ressonância de uma fala precedente. Aos poucos, com o aumento da frequência de uso, esse fragmento tende a se cristalizar e ganhar autonomia, passando a incorporar o inventário linguístico do falante. Nessa fase, a construção deixa de aparecer no discurso como uma repetição e fica disponível para ser empregada em circunstâncias que envolvam discordância. Em enunciado como Ele pegou minha caneta, pode-se imaginar um interlocutor emitindo a seguinte resposta que pegou que nada. Nesse exemplo, verifica-se a confirmação da autonomia do fragmento, uma vez que o eco passa a ser apenas a informação incorporada (pegou) e não as partes fixas da construção. Não se pode deixar de lado, porém, que a motivação é de natureza expressiva e interjetiva, em que a partícula ‘que’ integra a construção.

6. Convergência do pareamento forma-função: um caso de polissemia?

Em consonância com o que foi discutido até então, defende-se que as construções [que x o que] e [que x que nada] podem ter emergido no discurso em situações dialógicas em que o interlocutor tinha intenção de discordar ou refutar informações ou afirmações prévias na situação discursiva. É essa a função atestada nos exemplos (7) e (8). A mesma acepção é confirmada em outros dados do Corpus do Português:

(22) -- Hei, cara, esse relógio é meu! -- Que seu que nada (...)

(23) Não vão fazer nada para ajudar o povo inocente? Que inocente que nada (...)

(24) Quantos mais precisarão morrer para pôr fim a essa santa inquisição de a grana? E eu fico me perguntando: o que farão com todas essas casas e apartamentos vazios? Imóveis fantasmas de um país em a bancarrota. Que economistas que nada! (...)

(25) Tava em a hora de ele perder, que dinheiro que nada, ele tava zuando o americano (...)

(26) Obrigadíssimo por a presença e carinho e que desculpas que nada (...)

Em todas as ocorrências, as construções em destaque refutam ou discordam de uma informação prévia (explícita, inferida ou compartilhada pelos interlocutores) na situação interacional. Cristalizadas e autônomas, essas construções passaram a ser empregadas como estratégia de negação ou discordância em que o elemento a ser negado é incorporado na construção, além de normalmente serem empregadas com saliência exclamativa. Falta, porém, explicitar as possíveis fases do processo cognitivo envolvido na convergência desse pareamento forma-função. Que explicação sintático-semântica justificaria o link de herança entre essas expressões cristalizadas, com seu efeito interjetivo, e fragmentos oracionais?

Uma explicação seria por via polissêmica. A diferença entre polissemia, metonímia e metáfora é discutida em diferentes perspectivas da semântica (Ferraz, 2013Ferraz, M. (2013). Polissemia, metonímia ou extensão de sentido: um estudo da metonímia em diferentes perspectivas da semântica. ReVEL, 11(20), 88-103. http://www.revel.inf.br/files/a794b85eb172b96b1604841b3e1ad81c.pdf. (Acesso 04 de julho, 2022).
http://www.revel.inf.br/files/a794b85eb1...
). Nos estudos linguísticos, a metonímia é entendida como um processo semântico de contiguidade de significados. Essa contiguidade pode se fazer tanto no nível lexical quanto cognitivo. No lexical, em um enunciado como ‘Minas Gerais votou no Zema’, a proximidade de sentidos entre lugar e população permite a substituição do nome Minas Gerais por eleitores. De acordo com Pustejovsky (1995Pustejovsky, J. (1995). The Generative Lexicon. MIT Press.), esse fenômeno pode ser entendido como polissemia, uma vez que o nome de um lugar qualquer permite o acionamento de dois sentidos: lugar e população. Polissemia e metonímia, na abordagem lexical, não possuem, assim, fronteiras nítidas. Na perspectiva da cognição, o significado não é um fenômeno puramente linguístico, pois transcende a relação biunívoca linguagem-mundo. A metonímia, nesse domínio de pensamento, advém de significações corpóreas do mundo, que engloba nossa maneira de pensar, agir e falar sobre as coisas (Lakoff & Johnson, 2002Lakoff, G., & Johnson, M. (2002). Metáforas da vida cotidiana. Educ.). A metonímia, nesse sentido, seria uma contiguidade de significados dentro de uma da estrutura conceitual (Taylor, 1989Taylor, J. R. (1989). Linguistic Categorization: Prototypes in Linguistic Theory. Clarendon Press.; Lima-Hernandes, 2021Lima-Hernandes, M.C. (2021). A relação entre mente e gramática: processos sociocognitivos de mudança: construções x-que no português brasileiro. FFLCH/USP. https://doi.org/10.11606/9786587621760.
https://doi.org/10.11606/9786587621760...
). Assim, diferentemente da polissemia, a definição de metonímia refere-se a uma troca de domínios conceituais dentro de um mesmo domínio matriz (Croft, 2000Croft, W. (2000). The role of domains in the interpretation of metaphors and metonymies. In B. Peeters (Ed.), The lexicon-encyclopedia interface (pp. 219-250). Elsevier.). Em enunciados como a) ‘o livro está na estante’ e b) ‘o livro é difícil de entender’, verifica-se um processo polissêmico de sentidos, haja vista que objeto físico (a) e conteúdo (b) são conceitos de um mesmo domínio matriz, no caso, livro, ou seja, o referente é o mesmo. Em relação a Minas Gerais, trata-se de referentes diferentes, ora lugar ora população. Assim, em relação ao livro, os conceitos simbolizados são diferentes, mas a entidade referida é a mesma. Quanto a Minas Gerais, os conceitos também são diferentes e as entidades referidas também.

Esse processo semântico de transferência de conceitos dentro de um mesmo domínio matriz mostra-se, do ponto de vista cognitivo, plausível para explicar a trajetória que culminou na cristalização das expressões aqui analisadas. Retomando duas ocorrências que compõem o fragmento sintático correspondente à [que x o que] e [que x que nada] de modo a pareá-los com construções interjetivas encabeçadas pelo elemento ‘que’, a transferência de símbolos conceituais pode ser considerada como um componente motivador da fixação dessas expressões como autônomas. Veja:

Fragmentos oracionais:

Locuções interjetivas encabeçadas pelo expletivo ‘que’:

Que absurdo!

Que honra!

Que maravilha!

Unidades Construcionais:

[que x o que!]

[que x que nada!]

Essa análise permite hipotetizar três diferentes estágios para a cristalização e autonomia das construções [que x o que] e [que x que nada]:

Estágio 1: As construções espelham o fragmento oracional em contexto de negação com efeito interjetivo:

a) Disseram que vão entregar o que foi prometido.

[que vão entregar o que!]

b) Onde você tem que fingir que nada houve.

[que fingir que nada!]

Estágio 2: As construções espelham PARCIALMENTE o fragmento oracional em contexto de negação com efeito interjetivo através da manutenção do complementizador ‘que’:

a) João disse que gosta muito de estudar.

[que gosta o que!] / [que gosta que nada!]

Estágio 3: Cristalização e independência das construções em relação ao fragmento oracional:

a) Maria anda muito preocupada com os estudos.

[que preocupada o que!] / [que preocupada que nada!]

Nos estágios 1 e 2, há a manutenção total ou parcial dos fragmentos oracionais, em especial da partícula ‘que’, introdutora de locuções interjetivas na língua. Já no terceiro estágio, há a perda total dos fragmentos oracionais que compõem as construções, o que revela a sua total autonomia de modo a incorporar apenas o elemento a ser negado.

Desse modo, por um processo polissêmico, que corresponde à transferência de símbolos conceituais referentes às funções desempenhadas pelo item ‘que’ (complementizador e que interjetivo), o fragmento recortado pelo falante, notadamente encabeçado pelo complementizador que, viabiliza uma reanálise dessa estrutura em comparação com as locuções interjetivas, também encabeçadas por essa partícula. Esse processo cognitivo de reanálise poderia, assim, ter operado e motivado a fixação e a autonomia da emergência dessas construções na língua. Bybee (2010Bybee, J. (2010). Language, usage and Cognition. Cambridge University Express. :145) afirma que ‘após algumas repetições de uma sequência de palavras na experiência, o cérebro configura uma representação (um exemplar) para essa sequência como um atalho’ (tradução autoral). Esse processo cognitivo vai ao encontro dos estágios aqui propostos, uma vez que a repetição dos fragmentos oracionais com intenção de negação e força expressiva de interjeição, associada a locuções interjetivas encabeçadas pelo ‘que’, resultou na emergência das construções como entidades autônomas na língua.

Nos dados aqui elencados e com base também na intuição de falante, a cristalização dessas expressões levou a uma disponibilidade irrestrita de elementos que podem ocorrer em ‘x’: adjetivos, substantivos, pronomes, numerais e advérbios. Parece não haver restrições quanto ao que pode ou não ser inserido nas construções, incluindo aí desde sentenças a elementos atômicos e, inclusive, como já mencionado, pausas e/ou silêncios. Com base nos dados arrolados neste estudo, a descrição dessas construções pode ser assim esquematizada:

FORMA

[QUE X (N,ADJ,PRON, Num, ADV...)) O QUE /QUE NADA]

FUNÇÃO

Expressões marcadoras de negação que operam em eventos comunicativos de discordância com efeito interjetivo.

7. Considerações finais

Muitas construções, recorrentes na modalidade oral da língua, embora já atestadas como autônomas, podem estabelecer estreitos laços com compostos gramaticais típicos ou ainda constituírem fragmentos destes, porém, com nova acepção ou função discursiva particular. As expressões [que x o que] e [que x que nada] são um exemplo da dinamicidade e complexidade envolvidas no processo comunicativo. Os efeitos e estratégias interjetivas, tão frequentes na atividade interacional da língua falada, revelam-se preciosos no entendimento de cristalização de determinados compostos que originam e incorporam novas construções no repertório linguístico do falante. Por outro lado, não se pode ignorar casos de opacidade no pareamento forma-função, em que fragmentos sintáticos altamente frequentes podem passar a exercer funções discursivas específicas em determinados contextos, cristalizando construções. Mesmo havendo certa opacidade na interpretação das formas mais lexicais quando comparadas com fragmentos sintáticos não-interjetivos, as construções em análise apresentam o elemento ‘que’, altamente frequente em locuções interjetivas, o que indica a possibilidade de um processo de reanálise para o pareamento forma-função dessas expressões. Por fim, registra-se que este estudo não abordou se, de fato, as construções analisadas constituem ou não pares de sinônimos. Pelos dados, não se observa funções pragmático-discursivas diferentes, porém outros estudos poderão confirmar se tal emparelhamento semântico procede e se a noção de opacidade no pareamento forma-função pode ser legítima em alguns contextos.

Referências

  • Bakhtin, M. (2003). Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 4ª ed. Martins Fontes.
  • Bybee, J. (2010). Language, usage and Cognition. Cambridge University Express.
  • Croft, W. (2000). The role of domains in the interpretation of metaphors and metonymies. In B. Peeters (Ed.), The lexicon-encyclopedia interface (pp. 219-250). Elsevier.
  • Croft, W., & Cruse, D. A. (2004). Cognitive linguistic. CUP.
  • Diewald, G. (2002). A model of relevant types of contexts in grammaticalization. In I. Wischer & G. Diewald (Eds.), New reflections on grammaticalization. John Benjamins. https://doi.org/10.1075/tsl.49.09die
    » https://doi.org/10.1075/tsl.49.09die
  • Ferrari, L. (2011). Gramática de Construções. In L. Ferrari (Ed.), Introdução à linguística cognitiva (pp. 129-146). Editora Contexto.
  • Ferraz, M. (2013). Polissemia, metonímia ou extensão de sentido: um estudo da metonímia em diferentes perspectivas da semântica. ReVEL, 11(20), 88-103. http://www.revel.inf.br/files/a794b85eb172b96b1604841b3e1ad81c.pdf (Acesso 04 de julho, 2022).
    » http://www.revel.inf.br/files/a794b85eb172b96b1604841b3e1ad81c.pdf
  • Furtado da Cunha, M. A. (2001). O modelo das motivações competidoras no domínio funcional da negação. Delta, 17(1), 1-30. https://doi.org/10.1590/S0102-44502001000100001
    » https://doi.org/10.1590/S0102-44502001000100001
  • Furtado da Cunha, M. A, Oliveira, M.R., & Martelotta, M.E (Eds.). (2015). Linguística funcional: teoria e prática. 1 ed. Parábola Editorial.
  • Goldberg, A. (1995). A construction grammar approach to argument structure. The University of Chicago Press.
  • Goldberg, A. (2006). Constructions at work: the nature of generalization in language. Oxford University Press.
  • Heine, B. (2002). On the role of context in grammaticalization. In I. Wischer & G. Diewald (Eds.), New reflections on grammaticalization (pp. 83-101). John Benjamins. https://doi.org/10.1075/tsl.49
    » https://doi.org/10.1075/tsl.49
  • Horn, L. R. (1989). A Natural History of Negation. CSLI Publications.
  • Hříbalová, L. (2012). Emprego das interjeições em contos infantis em português [Dissertação de Mestrado]. Masarykova Univerzita V Brně. https://is.muni.cz/th/upmpw/Hribalova_-_versao_final.pdf (Acessado 04 de julho, 2022)
    » https://is.muni.cz/th/upmpw/Hribalova_-_versao_final.pdf
  • Lakoff, G., & Johnson, M. (2002). Metáforas da vida cotidiana. Educ.
  • Lima-Hernandes, M.C. (2021). A relação entre mente e gramática: processos sociocognitivos de mudança: construções x-que no português brasileiro. FFLCH/USP. https://doi.org/10.11606/9786587621760
    » https://doi.org/10.11606/9786587621760
  • Martelotta, M., & Kenedy, E. (2003). A visão funcionalista da linguagem no século XX. In M. A. F. da Cunha, M. R. de Oliveira & M. E. Martelotta (Eds.), Lingüística Funcional: teoria e prática (pp. 17-28). DP&A/FAPERJ.
  • Martelotta, M.E., & Alonso, K.S. (2012). Funcionalismo, cognitivismo e a dinamicidade da língua. In E. R. Souza (Ed.), Funcionalismo linguístico: novas tendências teóricas. Contexto.
  • Marcuschi, L. A. (1992). A repetição na língua falada: formas, f unções. Recife. Tese (doutorado em Letras). Universidade Federal de Pernambuco.
  • Oliveira, M. R., & Rosario, I. C. (2015). Linguística Centrada no Uso: teoria e método. 1ed. Lamparina, FAPERJ.
  • Oliveira, M.R., & Rosario, I.C. (2016). Funcionalismo e abordagem construcional da gramática. Alfa 60(2), 233-259. https://doi.org/10.1590/1981-5794-1608-1
    » https://doi.org/10.1590/1981-5794-1608-1
  • Pinto, C. (2010). Negação Metalinguística e Estruturas com nada no Português Europeu [Dissertação de Mestrado]. Universidade de Lisboa. https://www.clul.ulisboa.pt/sites/default/files/tese/Tese_Clara_Pinto-_versao_final.pdf (Acessado 04 de julho, 2022).
    » https://www.clul.ulisboa.pt/sites/default/files/tese/Tese_Clara_Pinto-_versao_final.pdf
  • Pustejovsky, J. (1995). The Generative Lexicon. MIT Press.
  • Raso, T., Mello, H. R. de. (2012). C-ORAL-BRASIL I: corpus de referência do português brasileiro falado informal. Editora UFMG. https://www.c-oral-brasil.org/ (Acessado 04 de julho, 2022).
    » https://www.c-oral-brasil.org/
  • Roncarati, C. N. S. (1996). A negação no português falado. In A. T. Macedo, C. N. S. Roncarati & M. C. M. Mollica (Eds.), Variação e Discurso (pp. 96-111). Tempo Brasileiro.
  • Roncarati, C. (1997). Ciclos aquisitivos da negação. In C. N. S. Roncarati & M. C. Mollica (Eds.), Variação e aquisição (pp. 100-121). Tempo Brasileiro.
  • Soares, V.R. (2009). A negação no contato entre dialetos [Dissertação de mestrado]. Universidade Federal do Rio de Janeiro. http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=165317 (Acessado 04 de julho, 2022).
    » http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=165317
  • Souza, L.T. (2007). A gramaticalização do não no português brasileiro e a etapa do processo. Revista Domínios da Linguagem. Ano 1(2), 1-17. https://seer.ufu.br/index.php/dominiosdelinguagem/article/view/11439/6700 (Acessado 04 de julho, 2022).
    » https://seer.ufu.br/index.php/dominiosdelinguagem/article/view/11439/6700
  • Taylor, J. R. (1989). Linguistic Categorization: Prototypes in Linguistic Theory. Clarendon Press.
  • Traugott, E. C. (2011). Grammaticalization and mechanisms of change. In B. Heine & H. Narrog (Eds.), The Oxford handbook of grammaticalization (pp.19-30). Oxford University Press. https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199586783.013.0002
    » https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199586783.013.0002
  • Traugott, E., & Trousdale, G. (2013). Construcionalization and Constructional Changes. Oxford University Press.
  • 2
    Disponível em: Análise das construções idiomáticas negativas enfáticas: uma visão cognitivista | Revista Gatilho (ufjf.br). Acessado em 15/11/2017.
  • 3
    De acordo com as autoras, a subordinada concessiva desempenha um papel de enfatizar a negação da oração matriz, criando um efeito jocoso, uma situação inusitada: x não y nem que (mesmo que/ainda que) z aconteça.
  • 4
    Justifico essa afirmação com base em minha intuição de falante nativo do português brasileiro. Não consegui imaginar uma unidade linguística que não possa preencher ‘x’ nessas construções. Infelizmente, ainda não há um corpus representativo da diversidade que ‘x’ pode apresentar.
  • 5
    C-oral Brasil é um corpus de referência do português brasileiro falado informal. (FALE/UFMG). http://www.c-oral-brasil.org/. Acessado em novembro/2021.
  • 6
    http://www.corpusdoportugues.org/. Acessado em novembro/2021.
  • 7
    A noção de cotexto foi proposta por Bar Hillel para dar conta da intervenção das unidades verbais que fixam a significação das outras formas linguísticas presentes num mesmo texto. Descrição extraída de http://edtl.fcsh.unl.pt/business-directory/5984/cotexto/. Acesso: 15/11/2017.
  • 8
    Funções sintáticas da palavra “que” - Brasil Escola (uol.com.br)
  • 9
    Num = número
  • 10
    (…) metalinguistic negation is a device for objecting to a previous utterance on any grounds.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Out 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    17 Nov 2021
  • Aceito
    31 Jan 2022
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP PUC-SP - LAEL, Rua Monte Alegre 984, 4B-02, São Paulo, SP 05014-001, Brasil, Tel.: +55 11 3670-8374 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: delta@pucsp.br