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Verbos de transferência do tipo locatum: propriedades e aspecto lexical

Transfer verbs of locatum type: properties and lexical aspect

RESUMO

Esta pesquisa objetivou investigar verbos de transferência do português brasileiro do tipo premiar/patrocinar. Partindo de uma abordagem teórico-metodológica de Interface Sintaxe-Semântica Lexical, analisamos 29 verbos e verificamos que estes compartilham propriedades sintático-semânticas gramaticalmente relevantes, a saber: semanticamente, denotam eventos de transferência, o objeto transferido/tema é lexicalizado na raiz e acarretam um meio; sintaticamente, selecionam dois argumentos, apresentam a possibilidade de inserção de um SP especificador do tema e licenciam o meio da transferência na posição de sujeito e em adjunção. Com base nessas propriedades, propomos a existência de uma classe de verbos de transferência do tipo locatum e indicamos a representação de sua estrutura argumental em papéis temáticos e em decomposição de predicados. Além disso, apontamos um fenômeno interessante que ocorre com esses verbos em relação à sua telicidade e que parece dividi-los em duas classes aspectuais distintas. Entretanto, mostramos que todos os verbos da classe podem ser classificados como accomplishments, já que acarretam lexicalmente uma mudança e denotam eventos formados por dois subeventos distintos e incrementalmente relacionados.

Palavras-chave:
classe de verbos; transferência do tipo locatum; aspecto lexical; telicidade

ABSTRACT

The objective of this study is to investigate transfer verbs of Brazilian Portuguese such as premiar (‘reward’) and patrocinar (‘sponsor’). Twenty-nine verbs were analyzed from a Syntax-Lexical Semantics Interface approach. The analysis showed that they share some grammatically relevant properties. Semantically, they denote events of transfer, in which the transferred object/the theme is lexicalized in the root, entailing a means. Syntactically, they select two arguments and they accept the insertion of a PP (which specify the theme). Also, the means of the transfer can occur either in the subject position or as an adjunct. Based on these properties, the existence of a transfer verb class of locatum type was proposed, and an argument structure representation in terms of thematic roles and predicate decomposition was indicated. Interestingly, regarding their telicity, they seem to split into two different aspectual classes. However, it was shown that all verbs of this class are classified as accomplishments, as they lexically entail a change and denote events composed of two distinct subevents incrementally related.

Keywords:
verb class; transfer of locatum type; lexical aspect; telicity

1. Introdução

Neste artigo, fazemos a análise de uma classe de verbos do português brasileiro (doravante PB) denominada “classe de verbos de transferência do tipo locatum”, que agrupa verbos que expressam eventos de transferência de um dado objeto contido no sentido do próprio verbo. Esse objeto, entendido de maneira ampla (incluindo igualmente conceitos concretos e abstratos), é lexicalizado na raiz semântica3 3 Utilizamos os termos raiz semântica ou raiz fazendo referência ao componente de sentido idiossincrático de cada verbo, conforme Cançado e Amaral (2016). do verbo. Alguns exemplos são indicados abaixo:

(1) O Comitê Olímpico premiou o jogador de futebol. (transferência de um prêmio)

(2) A mãe presenteou o menino. (transferência de um presente)

(3) A empresa patrocinou o atleta. (transferência de um patrocínio)

(4) A seguradora indenizou o cliente. (transferência de uma indenização)

Os verbos de transferência do tipo locatum, representado por verbos como premiar e patrocinar, recebem esse nome devido às similaridades verificadas com os verbos originalmente denominados “de locatum” por Clark e Clark (1979)Clark, E. V., & Clark, H. H. (1979, December). When nouns surface as verbs. Language, 55(4), 787-811. http://dx.doi.org/10.2307/412745
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(e.g. amanteigar, emplacar, selar etc.) e posteriormente investigados por diversos autores (Cançado & Godoy, 2012Cançado, M., & Godoy, L. (2012). Representação lexical de classes verbais do PB. Alfa, 56(1), 109-135. https://periodicos.fclar.unesp.br/alfa/article/view/4 (acessado 26 de outubro, 2023).
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; Cançado et al., 2017Cançado, M., Godoy, L., & Amaral, L. (2017). Catálogo de verbos do Português Brasileiro: classificação verbal segundo a decomposição de predicados (2 ed.). Amazon.; Hale & Keyser, 2002Hale, K., & Keyser, S. J. (2002). Prolegomenon to a theory of argument structure. MIT Press.; Harley, 2005Harley, H. (2005). How Do Verbs Get Their Names. In N. Erteschik-Shir, & T. Rapoport (Eds.), The Syntax of Aspect: Deriving Thematic and Aspectual Interpretation (pp. 42-64). Oxford University Press., entre outros). O nome “de locatum”, dado em oposição aos verbos de location (e.g. engarrafar), leva em consideração que a terminação -um remete ao caso acusativo em latim. De acordo com Clark e Clark (1979)Clark, E. V., & Clark, H. H. (1979, December). When nouns surface as verbs. Language, 55(4), 787-811. http://dx.doi.org/10.2307/412745
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, verbos de locatum são aqueles cujos nomes cognatos recebem caso acusativo (ou objetivo) em sentenças que descrevem a localização de uma coisa em relação a outra, isto é, entre o objeto semanticamente incorporado e o complemento sentencial (e.g. Se Maria amanteigou a fatia de pão, a fatia de pão (passou a) ter/possuir manteiga em/sobre si).

De outro modo, Hale e Keyser (2002)Hale, K., & Keyser, S. J. (2002). Prolegomenon to a theory of argument structure. MIT Press. afirmam que a relação estabelecida entre os verbos de locatum e o objeto cognato não é de localização, mas sim de posse. Assim, uma paráfrase apropriada para uma sentença com o verbo de locatum selar como ela selou o cavalo seria ela equipou o cavalo com uma sela ou ainda ela fez com que o cavalo passasse a estar “com sela”4 4 Do original: she saddled the horse, possivelmente parafraseado como she fitted the horse with a saddle ou she brought it about that the horse came to be “with saddle”. , (ver Hale & Keyser, 2002Hale, K., & Keyser, S. J. (2002). Prolegomenon to a theory of argument structure. MIT Press., p. 19) em que a preposição com é correspondente ao sentido de posse. Essa posição é a mesma adotada por Cançado e Godoy (2012Cançado, M., & Godoy, L. (2012). Representação lexical de classes verbais do PB. Alfa, 56(1), 109-135. https://periodicos.fclar.unesp.br/alfa/article/view/4 (acessado 26 de outubro, 2023).
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, 2013)Cançado, M., & Godoy, L. (2013). Predicate Decomposition, and Linking Syntax and Semantics: A Brazilian Portuguese Analysis. Linguistik Online, 59(2), 43-66. https://doi.org/10.13092/lo.59.1142
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e Cançado et al. (2017)Cançado, M., Godoy, L., & Amaral, L. (2017). Catálogo de verbos do Português Brasileiro: classificação verbal segundo a decomposição de predicados (2 ed.). Amazon.. Neste artigo, não nos aprofundaremos nas discussões acerca dos verbos de locatum, mas assumiremos visão semelhante à de Hale e Keyser (2002)Hale, K., & Keyser, S. J. (2002). Prolegomenon to a theory of argument structure. MIT Press. e autores subsequentes. Ou seja, de que verbos de locatum expressam eventos de mudança de posse.

Tanto nos verbos de locatum como nos verbos de transferência do tipo locatum, as raízes semânticas dos verbos estão associadas a um nome cognato que passa por algum tipo de mudança em relação ao complemento sentencial do verbo. Por exemplo, em Maria amanteigou a fatia de pão, temos que a manteiga (nome cognato/raiz semântica do verbo amanteigar) passa a ficar na posse do pão (complemento sentencial do verbo) e em o Comitê Olímpico premiou o jogador de futebol, um prêmio (nome cognato/raiz semântica do verbo premiar) é transferido ao jogador de futebol (complemento sentencial do verbo).

Tendo em vista semelhanças como essa, Cançado e Godoy (2012)Cançado, M., & Godoy, L. (2012). Representação lexical de classes verbais do PB. Alfa, 56(1), 109-135. https://periodicos.fclar.unesp.br/alfa/article/view/4 (acessado 26 de outubro, 2023).
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afirmam que verbos de locatum (e.g. amanteigar) e verbos de transferência do tipo locatum (e.g. premiar/patrocinar) compõem uma mesma classe de verbos de mudança de posse. Já em uma proposta posterior, Cançado e Godoy (2013)Cançado, M., & Godoy, L. (2013). Predicate Decomposition, and Linking Syntax and Semantics: A Brazilian Portuguese Analysis. Linguistik Online, 59(2), 43-66. https://doi.org/10.13092/lo.59.1142
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- e também em Cançado et al. (2017)Cançado, M., Godoy, L., & Amaral, L. (2017). Catálogo de verbos do Português Brasileiro: classificação verbal segundo a decomposição de predicados (2 ed.). Amazon. - as autoras incluem somente verbos de locatum na classe de mudança de posse. Além disso, propõem que o acarretamento característico desses verbos é Y ficou com R, em que Y representa o complemento do verbo e R o objeto denotado pela raiz. A sentença contraditória em (5) ilustra essa relação de acarretamento para o verbo de locatum amanteigar:

(5) ⊥ Maria amanteigou a fatia de pão, mas a fatia de pão não ficou com manteiga.

A contradição da sentença em (5) indica que, assim como propõem as autoras supracitadas, um verbo de mudança de posse/de locatum acarreta como resultado final que o seu complemento sentencial passa a ficar com algo, sendo o “algo” especificado pela raiz semântica do verbo (e.g. manteiga). Isto é, se Maria amanteigou a fatia de pão, então a fatia de pão passou a ficar com manteiga. Nesse sentido, uma primeira evidência de que os verbos de transferência do tipo locatum constituem uma classe distinta reside no fato de que o mesmo acarretamento não se sustenta com esses verbos. Tal contraste pode ser evidenciado a partir de (6) que, ao contrário de (5), não é uma sentença contraditória:

(6) O Comitê Olímpico premiou o jogador de futebol, mas o jogador de futebol não ficou com o prêmio.

Quer dizer, verbos de transferência do tipo locatum não codificam que há uma mudança de posse obrigatória do objeto denotado pela raiz, mas somente que o objeto em questão se desloca em direção ao participante denotado pelo complemento oracional do verbo. Além dessa diferença, que é uma primeira evidência de que estamos de fato tratando de verbos com características distintas, na próxima seção demonstramos que os verbos de transferência do tipo locatum apresentam uma série de propriedades sintático-semânticas que lhes são particulares.

Assim, analisando tais verbos (e.g. premiar/presentear/patrocinar/indenizar) dentro da abordagem de Interface Sintaxe-Semântica Lexical e partindo do princípio de que classes de verbos são constituídas por grupos de verbos que compartilham das mesmas propriedades semânticas relevantes para a gramática (Cançado et al., 2017Cançado, M., Godoy, L., & Amaral, L. (2017). Catálogo de verbos do Português Brasileiro: classificação verbal segundo a decomposição de predicados (2 ed.). Amazon.; Levin, 1993Levin, B. (1993). English Verb Classes and Alternations: A Preliminary Investigation. The Chicago University Press., 2010Levin, B. (2010). What is the best grain-size for defining verb classes? Conference on Word Classes: Nature, Typology, Computational Representations, Second TRIPLE International Conference, Università Rome Tre, Rome, March 24-26.), propomos neste artigo a existência uma classe específica composta por 29 verbos de transferência do tipo locatum. O nome “locatum” foi mantido devido às semelhanças observadas entre as classes, levando em consideração principalmente o fato de que em ambas é o nome cognato (e.g. manteiga, prêmio, patrocínio etc.), denotado pela raiz semântica do verbo, que sofre algum tipo de mudança em relação ao objeto sentencial.

Essa classe proposta não é encontrada na literatura sobre os verbos do PB e tampouco na literatura em geral. Há estudos como os de Cook (1974)Cook, W. A. (1974). Case grammar and generative semantics. In R. J. O’brien (Ed.), Languages and linguistics: working papers (No. 8, pp. 1-27). Georgetown University Press., por exemplo, que indicam verbos do tipo bribe (subornar) como pertencentes a um grupo de “verbos benefactivos de ação denominais”, que seriam a contraparte denominal de verbos “benefactivos de agentivos/ de ação” como give (dar). No entanto, o autor não aborda as propriedades específicas desses verbos e somente indica o verbo bribe (subornar) como representativo do grupo. Há ainda o trabalho de Cançado e Godoy (2012)Cançado, M., & Godoy, L. (2012). Representação lexical de classes verbais do PB. Alfa, 56(1), 109-135. https://periodicos.fclar.unesp.br/alfa/article/view/4 (acessado 26 de outubro, 2023).
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, mas ao contrário do que propomos, as autoras agrupam os verbos de transferência do tipo locatum e os de locatum em somente uma classe de verbos de mudança de posse.

Outro ponto importante que abordamos neste artigo diz respeito a diferenças observadas no aspecto lexical da classe em relação à telicidade. Mais especificamente, constatamos que, ao passo que verbos cujas raízes estão atreladas a conceitos inerentemente delimitados (e.g. prêmio/premiar) apresentam um comportamento tipicamente télico de accomplishment, verbos do tipo patrocinar, caracterizados por raízes homogêneas e cumulativas (e.g. patrocínio), exibem um comportamento preferencialmente atélico5 5 O fenômeno é também verificado entre os verbos de locatum. Segundo Harley (2005), há um contraste entre verbos como amanteigar (preferencialmente atélicos) e selar (tipicamente télicos). . Mesmo tendo essa característica diferente em relação à telicidade, sustentamos que todos eles ainda podem ser classificados como verbos de accomplishment e, portanto, constituem uma única classe verbal.

Para explicar esse fenômeno aspectual, assumimos uma representação de estrutura argumental baseada em predicados primitivos, que especifica também a estrutura eventiva dos verbos (Cançado & Amaral, 2016Cançado, M., & Amaral, L. (2016). Introdução à Semântica Lexical: papéis temáticos, aspecto lexical e decomposição de predicados. Editora Vozes.; Cançado et al., 2017Cançado, M., Godoy, L., & Amaral, L. (2017). Catálogo de verbos do Português Brasileiro: classificação verbal segundo a decomposição de predicados (2 ed.). Amazon.; Cançado & Godoy, 2012Cançado, M., & Godoy, L. (2012). Representação lexical de classes verbais do PB. Alfa, 56(1), 109-135. https://periodicos.fclar.unesp.br/alfa/article/view/4 (acessado 26 de outubro, 2023).
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; Levin & Rappaport Hovav, 2005Levin, B., & Rappaport Hovav, M. (2005). Argument Realization. Cambridge University Press.). Ainda, adotamos uma análise de telicidade a partir da noção de incrementalidade (Dowty, 1991Dowty, D. R. (1991, September). Thematic proto-roles and argument selection. Language, 67(3), 547-619. https://doi.org/10.1353/lan.1991.0021
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; Harley, 2005Harley, H. (2005). How Do Verbs Get Their Names. In N. Erteschik-Shir, & T. Rapoport (Eds.), The Syntax of Aspect: Deriving Thematic and Aspectual Interpretation (pp. 42-64). Oxford University Press.; Hay et al., 1999Hay, J., Kennedy, C., & Levin, B. (1999). Scalar Structure Undelies Telicity in “Degree Achievements”. In T. Mathews, & D. Strolovich (Eds.), SALT IX (pp. 127-144). CLC Publications.; Rothstein, 2004Rothstein, S. (2004). Structuring Events. Blackwell Publishing.; entre outros).

Este artigo está organizado da seguinte maneira. Na segunda seção, fazemos a análise das propriedades sintáticas e semânticas específicas da classe, mostrando que esses verbos realmente constituem uma classe verbal distinta. Na terceira seção, com base nessas evidências, propomos uma estrutura argumental por predicados primitivos e mostramos o distinto comportamento aspectual desses verbos, fazendo uma ampla discussão sobre a noção de telicidade envolvida no fenômeno. Na quarta seção, apresentaremos nossas considerações finais.

2. Os verbos de transferência do tipo locatum

Como apresentado na introdução, a classe de verbos de transferência do tipo locatum é caracterizada por agrupar verbos que denotam eventos de transferência e lexicalizam o objeto transferido na raiz semântica do verbo. A raiz semântica do verbo premiar, por exemplo, está constituída pelo sentido de prêmio, nome do qual o verbo é derivado6 6 As análises aqui apresentadas não se restringem a critérios de natureza morfológica, mas principalmente semântica. O conceito denotado pela raiz pode tanto estar associado a um nome que deriva o verbo (e.g. prêmio, bênção) quanto a um nome derivado do verbo (e.g. financiamento, indenização etc.). . Já em patrocinar, temos uma raiz semântica constituída pelo conceito de ‘patrocínio’. Neste artigo, para fins de exemplificação, utilizaremos os verbos premiar e patrocinar como representativos da classe. As propriedades indicadas, contudo, são comuns a todos os verbos da classe, não se restringindo somente a premiar e patrocinar.

Uma primeira evidência de que o sentido de transferência é compartilhado pelos verbos da classe é dada pelas relações de paráfrase indicadas nos exemplos em (7) e em (8) a seguir. Tal afirmação é feita com base em autores como Pinker (1989)Pinker, S. (1989). Learnability and Cognition: The Acquisition of Argument Structure. MIT Press. e Parsons (1990)Parsons, T. (1990). Events in the Semantics of English: A Study in Subatomic Semantics. MIT Press., que afirmam que as paráfrases podem ser utilizadas como uma maneira de se identificar o conteúdo semântico comum entre grupos de verbos. Vejamos:

(7) (a) O Comitê Olímpico premiou o jogador de futebol.

(b) O Comitê Olímpico deu um prêmio para o jogador de futebol.

(8) (a) A empresa patrocinou o atleta.

(b) A empresa deu um patrocínio para o atleta.

Nas sentenças acima, temos eventos de transferência em que um ser animado realiza a transferência de algo para alguém. Nos exemplos em (a), somente o desencadeador da transferência e o participante a que se destina o objeto se manifestam na sentença em posições argumentais. O objeto movido, por sua vez, está contido no sentido do verbo. Para evidenciar que esse tipo de verbo realmente denota a transferência de um objeto implícito, mostramos em (b) as paráfrases das sentenças em (a) que realçam, de forma explícita, a existência de três participantes no evento. Nessas paráfrases, esses participantes aparecem como argumentos dos verbos: o Comitê Olímpico/a empresa, um prêmio/um patrocínio e o jogador de futebol/o atleta, respectivamente.

Outra evidência de que o sentido do objeto transferido é parte integrante da semântica do verbo está no comportamento observado em certos tipos de adjunção, assim como demonstra Jackendoff (1990)Jackendoff, R. (1990). Semantic Structures. MIT Press.. O autor indica que a redundância entre o conteúdo semântico do verbo e uma informação inserida em adjunção pode resultar em sentenças inaceitáveis. É o que observamos em (9(a)) e (10(a)), em que os adjuntos com um prêmio e com um patrocínio são redundantes em relação aos conceitos (i.e. ‘prêmio’; ‘patrocínio’) determinados pelas raízes semânticas dos verbos. De outro modo, se há algum tipo de especificação do objeto (e uma nova informação é acrescentada pela adjunção), a inaceitabilidade não se sustenta, tal como verificado em (9(b)) e (10(b)):

(9) (a) ???O Comitê Olímpico premiou o jogador de futebol com um prêmio.

(b) O Comitê Olímpico premiou o jogador de futebol com um prêmio de melhor atleta.

(10) (a) ???A empresa patrocinou o atleta com um patrocínio.

(b) A empresa patrocinou o atleta com um patrocínio milionário.

A ocorrência mais comum é a de sintagmas preposicionais (SPs) contendo o nome cognato do verbo, como com um prêmio de melhor atleta em (9(b)) ou com um patrocínio milionário em (10(b)). No entanto, é possível também que o tema seja especificado sem necessariamente explicitar o nome cognato, como no exemplo (11). Ainda assim, percebemos que com um troféu é apenas uma forma de especificação do prêmio transferido no evento:

(11) O Comitê Olímpico premiou o jogador de futebol com um troféu.

A partir das evidências acima, argumentamos que verbos de transferência do tipo locatum expressam eventos de transferência em que o objeto transferido está semanticamente incorporado ao verbo. Ainda, como já demonstramos, esses verbos são biargumentais, selecionando como argumentos somente o participante responsável por desencadear o evento de transferência e o participante em direção ao qual ocorre a transferência do objeto. Em nossa análise dos dados, constatamos que o primeiro argumento (o participante desencadeador) sempre denota um ser animado que realiza algum tipo de ação com controle e de forma intencional. Essa é exatamente a definição dada por Cançado (2008, p. 111)Cançado, M. (2008). Manual de Semântica: Noções Básicas e Exercícios (2 ed.). Editora UFMG. para o papel temático de agente: “o desencadeador de alguma ação, capaz de agir com controle”. Portanto, temos uma associação inicial entre a sintaxe e a semântica dos verbos dessa classe: o primeiro argumento dos verbos, o que está em posição de sujeito, recebe o papel temático de agente.

Conforme Jackendoff (1972)Jackendoff, R. (1972). Semantic Interpretation in Generative Grammar. MIT Press., a fim de confirmar a atribuição do papel temático de agente ao argumento em posição de sujeito, podem ser aplicados testes de agentividade com as expressões deliberadamente e com a intenção de. Esse tipo de teste reflete as propriedades de animacidade e volição que são típicas de um agente. Vejamos:

(12) O Comitê Olímpico premiou o jogador de futebol com a intenção de homenageá-lo.

(13) O empresário patrocinou o atleta com a intenção de garantir a sua participação nas Olimpíadas.

Também de acordo com os dados analisados, temos que o segundo argumento dos verbos da classe está sistematicamente associado a um lugar ou a alguém em direção ao qual ocorre a transferência. Tendo em vista essa descrição, podemos caracterizar esse argumento como um alvo, segundo a definição apresentada por Cançado (2008, p. 112)Cançado, M. (2008). Manual de Semântica: Noções Básicas e Exercícios (2 ed.). Editora UFMG.: alvo é “a entidade para algo onde se move, tanto no sentido literal, como no sentido metafórico”. Entidade, no caso, inclui tanto lugares e objetos inanimados quanto participantes animados. Há verbos como premiar, por exemplo, que somente permitem a inserção de uma entidade animada na posição de objeto direto, sendo que lugares só são permitidos quando metonimicamente entendidos como uma instituição relacionada (cf. Levin & Rappaport Hovav, 2011Levin, B., & Rappaport Hovav, M. (2011). Conceptual Categories and Linguistic Categories VI: A Crosslinguistic Verb-sensitive Approach to Dative Verbs. LSA Linguistic Institute: Course LING 7800-009.)7 7 Observação semelhante é feita por Levin e Rappaport Hovav (2011) para verbos do tipo dar. :

(14) O Comitê Olímpico premiou o estádio de futebol (por sua excelente administração/pelas práticas sustentáveis).

Por outro lado, há verbos de transferência do tipo locatum como abençoar que são compatíveis tanto com seres animados (15), como com lugares e objetos inanimados (sem as mesmas restrições indicadas para premiar) (16):

(15) O padre abençoou o menino.

(16) O padre abençoou o estádio de futebol/a hóstia.

Assim, temos evidências sintáticas e semânticas de que a classe proposta agrupa verbos que compartilham uma mesma semântica de transferência, em que um agente é responsável por fazer com que um objeto (especificado de maneira idiossincrática pela raiz de cada verbo) seja transferido a um alvo. Com essas informações, podemos atribuir a seguinte estrutura argumental específica da classe, em termos de papéis temáticos:

(17) Classe de transferência tipo locatum: {Agente, Alvo}

Como podemos observar, o objeto transferido, que poderia ser classificado como um tema - “a entidade deslocada por uma ação” (Cançado, 2008, p. 111)Cançado, M. (2008). Manual de Semântica: Noções Básicas e Exercícios (2 ed.). Editora UFMG. - não é representado na estrutura argumental, já que esse participante não é um argumento selecionado pelo verbo, mas sim parte constitutiva de seu sentido.

Além disso, apontamos uma última evidência da relação entre a sintaxe e a semântica dos verbos da classe: todos os verbos analisados acarretam lexicalmente8 8 Diferentemente do acarretamento semântico, propriedade estabelecida entre sentenças, a noção de acarretamento lexical somente leva em consideração as propriedades inferidas pelo sentido do verbo, mas não as inferências sobre o evento, como lugar, tempo etc. (Dowty, 1991, como citado em Cançado e Amaral, 2016, p. 86). um meio pelo qual a ação se dá. Em outras palavras, verbos de transferência do tipo locatum denotam eventos que obrigatoriamente apresentam um meio de realização (mesmo que nem sempre explicitado na sintaxe). Segundo Croft (1991)Croft, W. (1991). Syntactic Categories and Grammatical Relations: The Cognitive Organization of Information. The University of Chicago Press., o meio é um evento, realizado por um agente, a partir do qual o evento denotado pelo verbo ocorre. Interessantemente, o sintagma que denota esse meio pode ocorrer em posição de adjunção (porque se trata de um acarretamento do verbo e não de um argumento) e também na posição de sujeito da sentença, especificando a ação do agente:

(18) (a) O Comitê Olímpico premiou o jogador de futebol por meio de uma cerimônia.

(b) Uma cerimônia (do Comitê Olímpico) premiou o jogador de futebol.

(19) (a) A empresa patrocinou o atleta por meio de depósitos semestrais.

(b) Depósitos semestrais (da empresa) patrocinaram o atleta.

Nos exemplos em (18) e em (19) acima, temos que o agente realiza um evento a partir do qual um prêmio ou um patrocínio são transferidos ao alvo. Nas sentenças em (a), o meio é explicitado pelos SPs por meio de uma cerimônia ou por meio de depósitos semestrais. Já nos exemplos em (b), o meio é realizado pelos sujeitos uma cerimônia ou depósitos semestrais, sendo compatível com adjuntos adnominais que especificam o agente (do Comitê Olímpico e da empresa, respectivamente).

Finalmente, é importante realçar que os verbos de transferência do tipo locatum exibem uma particularidade interessante em relação ao aspecto lexical. Espera-se que verbos de uma mesma classe apresentem o mesmo aspecto lexical (Cançado & Amaral, 2016)Cançado, M., & Amaral, L. (2016). Introdução à Semântica Lexical: papéis temáticos, aspecto lexical e decomposição de predicados. Editora Vozes.. Entretanto, com base nos principais testes de aspectos disponíveis na literatura, observamos que estão agrupados na classe tanto verbos com comportamento tipicamente télico (de accomplishment), quanto verbos com comportamento preferencialmente atélico (de atividade). A princípio, essa diferença poderia ser um problema para a nossa análise. Apesar disso, mostraremos na seção 3.1 como fenômenos como esse podem ser explicados - baseando-nos em autores como Dowty (1991)Dowty, D. R. (1991, September). Thematic proto-roles and argument selection. Language, 67(3), 547-619. https://doi.org/10.1353/lan.1991.0021
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, Hay et al. (1999)Hay, J., Kennedy, C., & Levin, B. (1999). Scalar Structure Undelies Telicity in “Degree Achievements”. In T. Mathews, & D. Strolovich (Eds.), SALT IX (pp. 127-144). CLC Publications., Rothstein, (2004)Rothstein, S. (2004). Structuring Events. Blackwell Publishing. e Harley (2005)Harley, H. (2005). How Do Verbs Get Their Names. In N. Erteschik-Shir, & T. Rapoport (Eds.), The Syntax of Aspect: Deriving Thematic and Aspectual Interpretation (pp. 42-64). Oxford University Press. - sem que invalidemos a nossa proposta de classificação verbal.

Concluindo, com base no exposto acima e partindo do princípio de que propriedades semânticas gramaticalmente relevantes podem ser utilizadas para delinear classes verbais (Cançado et al., 2017Cançado, M., Godoy, L., & Amaral, L. (2017). Catálogo de verbos do Português Brasileiro: classificação verbal segundo a decomposição de predicados (2 ed.). Amazon.; Levin, 1993Levin, B. (1993). English Verb Classes and Alternations: A Preliminary Investigation. The Chicago University Press.; 2010Levin, B. (2010). What is the best grain-size for defining verb classes? Conference on Word Classes: Nature, Typology, Computational Representations, Second TRIPLE International Conference, Università Rome Tre, Rome, March 24-26.), propomos então a existência de uma classe de verbos de transferência do tipo locatum. Semanticamente, os verbos da classe assemelham-se uma vez que (a) denotam eventos de transferência, (b) o objeto transferido (tema) é lexicalizado na raiz, (c) apresentam uma estrutura argumental do tipo v: {Agente, Alvo} e (d) acarretam um meio. De maneira correlacionada, esses verbos caracterizam-se sintaticamente pela (a) seleção de dois argumentos, ocorrendo tipicamente em estruturas [SN1 V SN2], (b) possibilidade de inserção de um SP adjunto especificador do tema eventivo e (c) licenciam o meio da transferência na posição de sujeito e em adjunção.

Fazem parte dessa classe um total de 29 verbos, listados a seguir: abençoar, absolver, alforriar, amaldiçoar, anistiar, autuar, bonificar, condecorar, condenar, credenciar, diplomar, financiar, fomentar, gratificar, indenizar, indultar, laurear, multar, patrocinar, premiar, presentear, recompensar, reembolsar, remunerar, ressarcir, sentenciar, subornar, subsidiar, subvencionar. 9 9 A metodologia de pesquisa empregada segue os procedimentos metodológicos descritos em Cançado et al. (2017). No dicionário de Borba (1990), selecionamos verbos transitivos diretos que expressavam eventos de transferência e eram compatíveis com a paráfrase dar Y para N. Em seguida, os dados coletados foram analisados de acordo com o seu comportamento sintático-semântico.

3. Decomposição de predicados e aspecto lexical

Assim como apontamos, o aspecto lexical dos verbos apresentados poderia ser um problema para nossa análise se nos basearmos nos testes de aspectos mais recorrentes disponíveis na literatura (Comrie, 1976Comrie, B. (1976). Aspect: an introduction to the study of verbal aspect and related problems. Cambridge University Press.; Dowty, 1979Dowty, D. R. (1979). Word Meaning and Montague Grammar: the semantic of verbs and times in generative semantics in Montague’s PTQ. Reidel Publishing Company.; Morgan, 1969Morgan, J. L. (1969). On Arguing About Semantics. Paper in Linguistics, 1, 49-70.; Smith, 1997Smith, C. S. (1997). The Parameter of Aspect (2 ed.). Kluwer Academic Publishers.; Vendler, 1957Vendler, Z. (1957, April). Verbs and Times. The Philosophical Review 66(2), 143-160. https://doi.org/10.2307/2182371
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; entre outros), embora essa constatação seja apenas aparente. Fazem parte da classe tanto verbos com comportamento tipicamente télico (de accomplishment), quanto verbos com comportamento preferencialmente atélico (de atividade). Para entendermos melhor o comportamento aspectual dessa classe verbal, um caminho a ser seguido é a análise da estrutura eventiva dos verbos, uma vez que o aspecto lexical de um verbo está relacionado diretamente à estruturação do evento por ele denotado.

Entretanto, somente a proposta de estrutura argumental da classe por papéis temáticos não traz a estruturação dos tipos de evento. Nessa linha, Cançado et al. (2017)Cançado, M., Godoy, L., & Amaral, L. (2017). Catálogo de verbos do Português Brasileiro: classificação verbal segundo a decomposição de predicados (2 ed.). Amazon. propõem adotar a metalinguagem da decomposição de predicados primitivos para analisar estruturas argumentais de verbos. Segundo as autoras, a escolha por esse tipo de abordagem, além de levar em conta o nível de formalização da linguagem e de sistematização das análises, se deve também ao fato de que a partir dela é possível derivar informações sobre a estrutura dos eventos dos verbos e, consequentemente, sobre o aspecto lexical. Logo, uma vez que esse tipo de estrutura pode elucidar o comportamento aspectual da classe investigada, lançamos mão de uma proposta de representação da estrutura argumental da classe em termos de decomposição em predicados primitivos.

De maneira resumida, a linguagem de decomposição em predicados primitivos está organizada da seguinte maneira (conforme Cançado & Amaral (2016)Cançado, M., & Amaral, L. (2016). Introdução à Semântica Lexical: papéis temáticos, aspecto lexical e decomposição de predicados. Editora Vozes.): predicados primitivos são elementos semânticos primitivos (não decomponíveis) que precisam ter o seu sentido saturado. Em combinação com os argumentos, os predicados primitivos formam estruturas denominadas constituintes semânticos, indicados entre colchetes. Podem figurar como argumentos dos predicados primitivos as variáveis, outros constituintes semânticos e também raízes. Estas, grafadas em itálicos e entre colchetes angulados, representam o componente semântico individual/idiossincrático de cada verbo e estão relacionadas a alguma categoria ontológica específica (e.g. STATE, EVENT, THING etc.). Feitas as devidas observações, e com base nas propriedades elencadas na seção 2 deste mesmo artigo, apresentamos a seguinte estrutura em (20) para a representação da classe:

(20) v: [[X ACT EVENT] CAUSE [BECOME [<THING> TOWARD Y]]]

Retomamos: os verbos de transferência do tipo locatum denotam eventos em que uma entidade age, realizando um (sub)evento, e essa ação tem como consequência um segundo (sub)evento, de mudança (de lugar), associado à transferência de um dado objeto no mundo, cujo sentido é lexicalizado na raiz. De acordo com a definição de Goldberg (2010)Goldberg, A. E. (2010). Verbs, Constructions and Semantic Frames. In M. Rappaport Hovav, E. Doron, & I. Sichel (Eds.), Lexical Semantics, Syntax and Event Structure (pp. 39-58). Oxford Scholarship Online. http://dx.doi.org/10.1093/acprof:oso/9780199544325.003.0003
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, dois eventos e1 e e2 são subeventos de um mesmo evento E denotado por um dado verbo desde que e1 não esteja completamente dentro da extensão temporal de e2. Ainda, e1 causa e2 se (e somente se) é suficiente para levar a e2. É nesse sentido, portanto, que propomos que a estrutura eventiva da classe é caracterizada por dois subeventos dispostos em uma relação de causação.

Na estrutura em (20), essa relação (de causação) é representada pelo predicado primitivo de dois lugares CAUSE, que toma os constituintes semânticos [X ACT EVENT] e [BECOME [<THING> TOWARD Y]] como argumentos. O primeiro subevento, a ação do agente, é representado pelo constituinte [X ACT EVENT] e o segundo, associado ao resultado consequente do primeiro (uma transferência), é representado pelo constituinte [BECOME [<THING> TOWARD Y]]. No primeiro subevento, temos a ação de um agente (representado pela variável X) mediada por um evento (um meio), conforme indicado pelo modificador EVENT, subscrito ao predicado primitivo ACT. Já no segundo subevento, o predicado primitivo BECOME, tomando o constituinte [<THING> TOWARD Y] como argumento, representa o sentido de mudança. Como demonstrado, trata-se de uma mudança de direção sofrida pelo objeto denotado pela raiz. Assim, a função semântica TOWARD toma a raiz <THING> e a variável Y como argumentos, indicando a mudança de trajetória do objeto denotado por <THING>, que passa a estar “em direção a Y”. De posse da estrutura indicada em (20), passamos, então, para a análise do aspecto lexical dos verbos de transferência do tipo locatum.

3.1. O aspecto lexical dos verbos de transferência do tipo locatum

O aspecto lexical é o esquema temporal segundo o qual um evento está organizado (Vendler, 1957)Vendler, Z. (1957, April). Verbs and Times. The Philosophical Review 66(2), 143-160. https://doi.org/10.2307/2182371
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e, conforme autores como Smith (1997)Smith, C. S. (1997). The Parameter of Aspect (2 ed.). Kluwer Academic Publishers., é marcado lexicalmente no sentido dos verbos. Tradicionalmente, assume-se que quatro classes principais - estados, atividades, accomplishments e achievements - são diferenciadas com base em três propriedades principais: dinamicidade, telicidade e duratividade (Comrie, 1976Comrie, B. (1976). Aspect: an introduction to the study of verbal aspect and related problems. Cambridge University Press.; Dowty, 1979Dowty, D. R. (1979). Word Meaning and Montague Grammar: the semantic of verbs and times in generative semantics in Montague’s PTQ. Reidel Publishing Company.; Smith, 1997Smith, C. S. (1997). The Parameter of Aspect (2 ed.). Kluwer Academic Publishers.; Vendler, 1957Vendler, Z. (1957, April). Verbs and Times. The Philosophical Review 66(2), 143-160. https://doi.org/10.2307/2182371
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; entre outros). Mais especificamente, verbos de atividade e verbos de accomplishment, ambos dinâmicos e durativos, diferenciam-se pela telicidade. Esta diz respeito ao alcance de um ponto final determinado, que é obrigatório no caso dos verbos de accomplishment (télicos), mas não aos verbos de atividade (atélicos).

Além disso, verbos de accomplishment distinguem-se de todos os demais pela bieventividade (Dowty, 1979Dowty, D. R. (1979). Word Meaning and Montague Grammar: the semantic of verbs and times in generative semantics in Montague’s PTQ. Reidel Publishing Company.; Morgan, 1969Morgan, J. L. (1969). On Arguing About Semantics. Paper in Linguistics, 1, 49-70.). Quer dizer, eventos denotados por verbos de accomplishment se compõem por dois subeventos distintos (uma ação e um resultado consequente). Na classe de transferência do tipo locatum10 10 A ambiguidade de escopo com o advérbio quase (Dowty, 1979; Morgan, 1969) não é um bom teste para a identificação da bieventividade na classe investigada, dadas as particularidades (em relação à telicidade) verificadas. , a bieventividade pode ser representada a partir da estrutura de predicados complexa, exemplificada em (20). Nessa estrutura, temos um (sub)evento realizado pelo agente ([X ACT EVENT]) que causa (relação causal expressa pelo predicado CAUSE) um segundo subevento de transferência/mudança de trajetória ([BECOME [<THING> TOWARD Y]]). Ou seja, existem dois subeventos relacionados causalmente.

Uma evidência sintático-semântica da bieventividade característica dessa classe está relacionada à propriedade de acarretamento de um meio - um evento realizado pelo agente a partir do qual o evento denotado pelo verbo ocorre (conforme Croft (1991)Croft, W. (1991). Syntactic Categories and Grammatical Relations: The Cognitive Organization of Information. The University of Chicago Press.). A existência desse meio, que pode ser indicado nas sentenças tanto em forma de adjunção como na posição de sujeito, é uma forte evidência de que há um agente realizando uma ação/evento que pode ser temporalmente diferenciado do evento de transferência especificado pelo verbo. Em (21) e (22), retomamos as sentenças (18) e (19) a fim de ilustrar essa propriedade:

(21) (a) O Comitê Olímpico premiou o jogador de futebol por meio de uma cerimônia

(b) Uma cerimônia (do Comitê Olímpico) premiou o jogador de futebol.

(22) (a) A empresa patrocinou o atleta por meio de depósitos semestrais.

(b) Depósitos semestrais (da empresa) patrocinaram o atleta.

Nos exemplos acima, temos dois subeventos distintos. O primeiro é um evento que é realizado pelo agente e está associado ao meio de realização da ação: uma cerimônia (21) ou depósitos semestrais (22). O segundo, por sua vez, é consequência do primeiro e está associado à transferência de um dado objeto: um prêmio (21) ou um patrocínio (22).

Por outro lado, em relação à telicidade, esses verbos apresentam um comportamento peculiar. Vejamos a aplicação do teste do “paradoxo do imperfectivo” (Comrie, 1976Comrie, B. (1976). Aspect: an introduction to the study of verbal aspect and related problems. Cambridge University Press.; Dowty, 1979Dowty, D. R. (1979). Word Meaning and Montague Grammar: the semantic of verbs and times in generative semantics in Montague’s PTQ. Reidel Publishing Company.; Smith, 1997Smith, C. S. (1997). The Parameter of Aspect (2 ed.). Kluwer Academic Publishers.; Vendler, 1957Vendler, Z. (1957, April). Verbs and Times. The Philosophical Review 66(2), 143-160. https://doi.org/10.2307/2182371
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; entre outros) com o verbo de transferência do tipo locatum premiar, em (23). Esse teste, que possibilita a identificação da (a)telicidade, é comumente utilizado para a caracterização de atividades e consiste no acarretamento da forma verbal marcada no aspecto gramatical perfectivo a partir de sua contraparte imperfectiva contínua (normalmente associada à forma progressiva do verbo).

Em (23(a)), temos a realização do aspecto gramatical imperfectivo pela perífrase estar + gerúndio (e.g. estava premiando). Já em (23(b)), o aspecto gramatical perfectivo é realizado pela forma verbal no pretérito perfeito (e.g. premiou):

(23) (a) O Comitê Olímpico estava premiando o jogador de futebol.

(b) O Comitê Olímpico premiou o jogador de futebol.

Observamos que a sentença em (a) não acarreta (b), o que demonstra que o verbo premiar, assim como esperado, não passa no teste do paradoxo do imperfectivo (não apresenta um comportamento de atividade). Note que, nas sentenças acima, tomamos o cuidado de manter o objeto sentencial no singular e com referência contável. Tal medida leva em consideração o fato de que verbos de accomplishment, quando combinados com objetos pluralizados, dão origem a um aspecto lexical derivado de atividade. Esse é um comportamento típico dessa classe aspectual e bastante discutido na literatura por autores como Tenny (1987)Tenny, C. (1994). Aspectual Roles and the Syntax-Semantic Interface. Kluwer Academic Publishers. e Verkuyl (1989)) (como citado em Cançado e Amaral (2016)Cançado, M., & Amaral, L. (2016). Introdução à Semântica Lexical: papéis temáticos, aspecto lexical e decomposição de predicados. Editora Vozes. e também Harley (2005)Harley, H. (2005). How Do Verbs Get Their Names. In N. Erteschik-Shir, & T. Rapoport (Eds.), The Syntax of Aspect: Deriving Thematic and Aspectual Interpretation (pp. 42-64). Oxford University Press.).

De outro modo, é bastante curioso que na mesma classe sejam encontrados verbos como patrocinar. Tais verbos, apesar da estrutura bieventiva característica dos accomplishments, apresentam comportamento predominantemente atélico, mesmo em sentenças com objetos no singular e com referência contável. Nas sentenças exemplificadas abaixo, temos o acarretamento de (24(a)) em direção a (24(b)), mantendo-se o complemento singular o atleta:

(24) (a) A empresa estava patrocinando o atleta.

(b) A empresa patrocinou o atleta.

Portanto, o teste do paradoxo do imperfectivo, quando aplicado a verbos como patrocinar (e.g. financiar, indenizar, remunerar etc.), sugere um comportamento que é característico de verbos de atividade, e não de verbos de accomplishment. Resultados como esse, em um primeiro momento, são um problema para a proposta de classificação verbal arquitetada neste estudo, uma vez que o aspecto lexical está diretamente relacionado à estrutura eventiva dos verbos e, portanto, é esperado que verbos agrupados em uma mesma classe apresentem um mesmo tipo de aspecto lexical (Cançado & Amaral, 2016)Cançado, M., & Amaral, L. (2016). Introdução à Semântica Lexical: papéis temáticos, aspecto lexical e decomposição de predicados. Editora Vozes..

Para explicar esse fenômeno, adotaremos uma análise sobre verbos de accomplishment baseada nas noções de bieventividade, incrementalidade e mudança, guiada principalmente pelos estudos de Rothstein (2004)Rothstein, S. (2004). Structuring Events. Blackwell Publishing. e Harley (2005)Harley, H. (2005). How Do Verbs Get Their Names. In N. Erteschik-Shir, & T. Rapoport (Eds.), The Syntax of Aspect: Deriving Thematic and Aspectual Interpretation (pp. 42-64). Oxford University Press.. Neste ponto, é necessário fazer uma breve apresentação do conceito de “tema incremental” (nos termos de Dowty, 1991Dowty, D. R. (1991, September). Thematic proto-roles and argument selection. Language, 67(3), 547-619. https://doi.org/10.1353/lan.1991.0021
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), bastante explorado no estudos sobre incrementalidade (Dowty, 1991Dowty, D. R. (1991, September). Thematic proto-roles and argument selection. Language, 67(3), 547-619. https://doi.org/10.1353/lan.1991.0021
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; Harley, 2005Harley, H. (2005). How Do Verbs Get Their Names. In N. Erteschik-Shir, & T. Rapoport (Eds.), The Syntax of Aspect: Deriving Thematic and Aspectual Interpretation (pp. 42-64). Oxford University Press.; Hay et al., 1999Hay, J., Kennedy, C., & Levin, B. (1999). Scalar Structure Undelies Telicity in “Degree Achievements”. In T. Mathews, & D. Strolovich (Eds.), SALT IX (pp. 127-144). CLC Publications.; Kennedy & Levin, 2008Kennedy, C., & Levin, B. (2008). The adjectival core of degree achievements. In L. McNally, & C. Kennedy (Eds.), Adjectives and Adverbs: Syntax, Semantics and Discourse (pp. 156-182). Oxford University Press.; Krifka, 1998Krifka, M. (1998). The Origins of Telicity. In S. Rothstein (Eds.), Events and Grammar (pp. 1 - 31). Kluwer Academic Publishers.; Rothstein, 2004Rothstein, S. (2004). Structuring Events. Blackwell Publishing.; Tenny, 1994Tenny, C. (1994). Aspectual Roles and the Syntax-Semantic Interface. Kluwer Academic Publishers.; entre outros).

Um tema incremental, segundo Dowty (1991)Dowty, D. R. (1991, September). Thematic proto-roles and argument selection. Language, 67(3), 547-619. https://doi.org/10.1353/lan.1991.0021
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, é um elemento que tem a sua relação estrutural parte-todo mapeada de maneira similar na estrutura temporal do evento. Desse modo, a progressão temporal eventiva depende da estrutura constitutiva do tema incremental e, por consequência, um tema incremental com limites bem definidos determina um ponto final (télico) para o evento. A proposta original de Dowty (1991)Dowty, D. R. (1991, September). Thematic proto-roles and argument selection. Language, 67(3), 547-619. https://doi.org/10.1353/lan.1991.0021
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trata de predicados como beber cerveja ou beber um copo de cerveja, em que a telicidade do evento é determinada pela delimitação ou não do complemento verbal (e.g. cerveja (massivo) ou um copo de cerveja (quantificado)).

Assumindo a noção de incrementalidade, Rothstein (2004)Rothstein, S. (2004). Structuring Events. Blackwell Publishing. afirma que eventos de accomplishment compõem-se de dois subeventos incrementalmente relacionados: um subevento de atividade e um subevento de mudança. Nessa perspectiva, o subevento de mudança é caracterizado como um processo incremental, uma vez que “acompanha” progressivamente o primeiro subevento à medida que este se desenvolve. Assim, eventos de accomplishment podem ser definidos como eventos que lexicalmente determinam uma mudança e que têm o seu ponto final (télico) pré-determinado pela conclusão da mudança em questão. Sem nos adentrarmos muito na proposta da autora, assumiremos a ideia de que verbos de accomplishment denotam eventos que possuem uma estrutura bieventiva em que um subevento de mudança se comporta como tema incremental.

Nessa mesma linha, Harley (2005)Harley, H. (2005). How Do Verbs Get Their Names. In N. Erteschik-Shir, & T. Rapoport (Eds.), The Syntax of Aspect: Deriving Thematic and Aspectual Interpretation (pp. 42-64). Oxford University Press., conforme Hale & Keyser (2002)Hale, K., & Keyser, S. J. (2002). Prolegomenon to a theory of argument structure. MIT Press., parte de uma abordagem sintático-lexical e demonstra que a relação incremental é estabelecida entre o evento e uma posição de base na estrutura subjacente dos verbos (mais especificamente, a posição de complemento de v em um sintagma vP). Ao analisar diferentes classes de verbos de accomplishment, tais como os verbos de mudança de estado e os verbos de locatum, a autora indica que a estrutura eventiva desses verbos é caracterizada por duas eventualidades: um subevento de causa e um subevento de mudança (associado ao estado resultante), sendo que a posição incremental de base é ocupada por um constituinte associado ao subevento de mudança.

Em suma, temos que tanto Rothstein (2004)Rothstein, S. (2004). Structuring Events. Blackwell Publishing. quanto Harley (2005)Harley, H. (2005). How Do Verbs Get Their Names. In N. Erteschik-Shir, & T. Rapoport (Eds.), The Syntax of Aspect: Deriving Thematic and Aspectual Interpretation (pp. 42-64). Oxford University Press., ao analisarem verbos de accomplishment, adotam o conceito de incrementalidade em um nível distinto do proposto originalmente por Dowty (1991)Dowty, D. R. (1991, September). Thematic proto-roles and argument selection. Language, 67(3), 547-619. https://doi.org/10.1353/lan.1991.0021
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e associado à própria estrutura constitutiva do evento (i.e. o subevento de mudança). Logo podemos concluir que, na perspectiva de ambas as autoras, verbos de accomplishment denotam eventos complexos (bieventivos), formados por dois subeventos distintos, nos quais a telicidade é originada como resultado de uma mudança lexicalmente acarretada pelo verbo. A relação estabelecida entre ambos os subeventos é de natureza incremental, podendo o subevento de mudança ser caracterizado como um “tema incremental” (nos termos de Dowty (1991)Dowty, D. R. (1991, September). Thematic proto-roles and argument selection. Language, 67(3), 547-619. https://doi.org/10.1353/lan.1991.0021
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).

Em outros termos, isso quer dizer que a telicidade é uma propriedade pré-determinada por verbos de accomplishment, na medida em que estes acarretam lexicalmente uma mudança. No entanto, o ponto final (télico) do evento só poderá ser identificado nas sentenças se o tema incremental (o subevento de mudança) também possuir limites bem definidos. Nessa mesma linha, Harley (2005)Harley, H. (2005). How Do Verbs Get Their Names. In N. Erteschik-Shir, & T. Rapoport (Eds.), The Syntax of Aspect: Deriving Thematic and Aspectual Interpretation (pp. 42-64). Oxford University Press. demonstra que, sendo o subevento de mudança o verdadeiro tema incremental em verbos de accomplishment, quaisquer componentes que o integrem terão uma influência, ainda que indireta, no aspecto lexical do verbo (mais especificamente, na telicidade).

Valendo-nos então da proposta de que o subevento de mudança constitui o tema incremental de um evento de accomplishment (Harley, 2005Harley, H. (2005). How Do Verbs Get Their Names. In N. Erteschik-Shir, & T. Rapoport (Eds.), The Syntax of Aspect: Deriving Thematic and Aspectual Interpretation (pp. 42-64). Oxford University Press.; Rothstein, 2004Rothstein, S. (2004). Structuring Events. Blackwell Publishing.) e da constatação de Harley (2005)Harley, H. (2005). How Do Verbs Get Their Names. In N. Erteschik-Shir, & T. Rapoport (Eds.), The Syntax of Aspect: Deriving Thematic and Aspectual Interpretation (pp. 42-64). Oxford University Press. de que componentes internos a esse subevento exercem influência sobre o aspecto lexical, podemos explicar o comportamento aparentemente incomum de verbos como patrocinar (e.g. financiar, indenizar, remunerar etc.) a partir da representação da estrutura de eventos da classe indicada em (20). Vejamos as estruturas em decomposição de predicados primitivos para os verbos premiar e patrocinar, respectivamente:

(25) premiar: [[X ACT EVENT] CAUSE [BECOME [<PRÊMIO> TOWARD Y]]]

(26) patrocinar: [[X ACT EVENT] CAUSE [BECOME [<PATROCÍNIO> TOWARD Y]]]

Nas estruturas indicadas em (25) e em (26), reproduzidas acima, percebemos que o subevento de mudança inclui tanto o componente semântico da raiz (<PRÊMIO> ou <PATROCÍNIO >) como a variável Y, que representa o participante denotado pelo complemento sentencial do verbo. Isso quer dizer que, para os verbos da classe de transferência do tipo locatum, a atelicidade pode ser derivada nas sentenças como consequência de dois fatores principais11 11 Ver Harley (2005) para análise similar em estruturas sintático-lexicais com os verbos de locatum. . Conforme já pontuamos, o primeiro fator está relacionado a complementos verbais massivos ou pluralizados, assim como ilustrado abaixo nos exemplos em (27):

(27) (a) O Comitê Olímpico estava premiando jogadores de futebol.

(b) O Comitê Olímpico premiou jogadores de futebol.

Seguindo Harley (2005)Harley, H. (2005). How Do Verbs Get Their Names. In N. Erteschik-Shir, & T. Rapoport (Eds.), The Syntax of Aspect: Deriving Thematic and Aspectual Interpretation (pp. 42-64). Oxford University Press., em (27) o acarretamento de (a) em direção a (b) indica uma atelicidade derivada da pluralização do complemento jogadores de futebol: mudando-se a quantidade de jogadores a quem o prêmio é atribuído para uma quantidade indefinida, todo o subevento de mudança (e, consequentemente, o evento como um todo) passa a ter uma interpretação indefinida em relação ao seu ponto de finalização/completude. Temos, portanto, uma interpretação atélica. Nesse sentido, a proposta de Harley (2005)Harley, H. (2005). How Do Verbs Get Their Names. In N. Erteschik-Shir, & T. Rapoport (Eds.), The Syntax of Aspect: Deriving Thematic and Aspectual Interpretation (pp. 42-64). Oxford University Press. 12 12 Observação nesse sentido é também feita por Rothstein (2004). verifica-se vantajosa também na medida em que é capaz de explicar o porquê de verbos de accomplishment apresentarem interpretação derivada de atividade quando combinados a complementos pluralizados ou massivos, comportamento já observado por outros autores.

O segundo fator, também apontado por Harley (2005)Harley, H. (2005). How Do Verbs Get Their Names. In N. Erteschik-Shir, & T. Rapoport (Eds.), The Syntax of Aspect: Deriving Thematic and Aspectual Interpretation (pp. 42-64). Oxford University Press., está relacionado a raízes inerentemente delimitadas e motiva a atelicidade predominantemente verificada entre os verbos do tipo patrocinar13 13 Outros verbos semelhantes à patrocinar que pertencem à classe: bonificar, financiar, fomentar, gratificar, indenizar, reembolsar, remunerar, ressarcir, subornar, subsidiar e subvencionar. . Interessantemente, a análise dos dados revelou que todos os verbos com comportamento aspectual semelhante ao de patrocinar distinguem-se por possuírem raízes semânticas necessariamente associadas a conceitos que determinam algum valor (inespecífico) de dinheiro (e.g. um financiamento, uma indenização, um patrocínio, uma remuneração etc.). Ou seja, são verbos que expressam “transferências de dinheiro” sem que haja uma quantificação do montante transferido. Neste ponto, cabe relembrar que as raízes semânticas estão associadas ao próprio afetado14 14 Segundo Cançado e Amaral (2016), um afetado é definido como um participante que passa por algum tipo de mudança, seja de estado, lugar ou de posse. pelo evento, objeto que passa por uma mudança de lugar (o tema).

Temos, portanto, verbos com raízes semânticas que somente especificam qualitativamente a natureza do objeto transferido (e.g. alguma quantia em dinheiro dada em forma de financiamento/indenização/patrocínio/remuneração etc.). Assim, esses conceitos denotados pelas raízes são caracterizados pelas propriedades de homogeneidade e cumulatividade. Ou seja, cada parcela de um(a) mesmo(a) financiamento/indenização/patrocínio/remuneração pode ser referida como financiamento/indenização/patrocínio/remuneração (propriedade de homogeneidade) e, de igual modo, a soma de duas parcelas/quantidades referidas como financiamento/indenização/patrocínio/remuneração também recai sobre a denotação de financiamento/indenização/patrocínio/remuneração (propriedade de cumulatividade; conforme a definição de Krifka (1998)Krifka, M. (1998). The Origins of Telicity. In S. Rothstein (Eds.), Events and Grammar (pp. 1 - 31). Kluwer Academic Publishers.). Ambas as propriedades levam à indelimitação de tais conceitos e, uma vez que estes últimos integram (pelas raízes) os subeventos de mudanças de seus respectivos verbos, fazem com que não seja possível identificar um ponto final (télico) para a mudança - e, consequentemente, tampouco para o evento denotado pelo verbo como um todo.

É diferente do que verificamos no exemplo do verbo premiar (e demais verbos da classe), em que a raiz semântica (e.g. ‘prêmio’) é determinada por um conceito inerentemente delimitado (Harley, 2005)Harley, H. (2005). How Do Verbs Get Their Names. In N. Erteschik-Shir, & T. Rapoport (Eds.), The Syntax of Aspect: Deriving Thematic and Aspectual Interpretation (pp. 42-64). Oxford University Press. ou naturalmente atômico (Rothstein, 2004Rothstein, S. (2004). Structuring Events. Blackwell Publishing., 2010Rothstein, S. (2010, August). Counting and the mass/count distinction. Journal of Semantics, 27(3), 343-397. https://doi.org/10.1093/jos/ffq007
https://doi.org/10.1093/jos/ffq007...
) e o que vale como “um indivíduo” (e.g. um prêmio) é definido a partir de nossos conhecimentos de mundo. Isto é, verbos como premiar distinguem-se por apresentarem raízes que contam com um critério quantitativo que lhes é próprio (e.g. uma unidade de prêmio).

Desse modo, o que diferencia verbos do tipo premiar e verbos do tipo patrocinar, em relação à telicidade, é essencialmente uma (in)delimitação inerente das raízes, e não a estrutura eventiva em si. Uma evidência que valida essa afirmação está no fato de que, para verbos do tipo patrocinar, a delimitação dos conceitos das raízes (quantia ou montante transferidos) tem como resultado a formação de sentenças télicas. Essa delimitação pode ser feita a partir de outros recursos linguísticos, tais como a adjunção de expressões linguísticas de valor do tipo em α valor. Os exemplos indicados a seguir foram adaptados da proposta com expressões linguísticas de medida apresentadas por Hay et al. (1999)Hay, J., Kennedy, C., & Levin, B. (1999). Scalar Structure Undelies Telicity in “Degree Achievements”. In T. Mathews, & D. Strolovich (Eds.), SALT IX (pp. 127-144). CLC Publications. na análise da classe de verbos de mudança de estado:

(28) (a) A empresa estava patrocinando o atleta em 500 mil reais.

(b) A empresa patrocinou o atleta em 500 mil reais.

Nas sentenças apresentadas em (28), a expressão linguística de valor em 500 mil reais determina um valor para o patrocínio transferido (i.e., um patrocínio de 500 mil reais). E como esperado, não há o acarretamento de (a) em direção a (b). Tal fato indica um comportamento télico típico de eventos de accomplishment. Essa constatação corrobora ainda mais a nossa análise de que todos os verbos analisados, tanto do tipo premiar quanto do tipo patrocinar, caracterizam-se aspectualmente como accomplishments e pertencem, portanto, à mesma classe verbal.

Retomando: verbos de transferência do tipo locatum são caracterizados por uma estrutura eventiva representada em decomposição de predicados como [[X ACT EVENT] CAUSE [BECOME [<THING> TOWARD Y]]]. Nessa estrutura, a raiz semântica (<THING>) e o complemento sentencial do verbo (representado pela variável Y) estão incluídos no subevento de mudança (representado por [BECOME [<THING> TOWARD Y]]). Assim sendo, verificamos que ambos os fatores - sejam (a) complementos verbais massivos ou pluralizados ou (b) raízes inerentemente indelimitadas - interferem no aspecto lexical na medida em que contribuem para a indeterminação da mudança especificada pelo subevento de mudança.

Neste ponto, é importante ressaltar o fato de que a atelicidade verificada nesses casos é uma atelicidade derivada, independentemente se originada pela pluralização (ou “massivização”) do complemento oracional do verbo ou por uma raiz indelimitada. Com isso, reiteramos a classificação dos verbos de transferência do tipo locatum como accomplishments, uma vez que todos denotam eventos complexos (bieventivos) em que um subevento de mudança desempenha o papel de “tema incremental”, sendo este último determinante para a manifestação (ou não) da telicidade.

4. Considerações finais

Neste artigo apresentamos uma classe nova de verbos do PB denominada classe de verbos de “transferência do tipo locatum”. Tais verbos, em semelhança aos já conhecidos verbos de locatum (e.g. amanteigar), lexicalizam em suas raízes semânticas o conceito de um objeto no mundo, que pode ser referenciado por um nome cognato do verbo (e.g. premiar/prêmio, presentear/presente, patrocinar/patrocínio, financiar//financiamento, etc.). Diferentemente dos verbos de locatum, porém, os verbos de transferência do tipo locatum não denotam eventos de mudança de posse do objeto cognato, mas sim de transferência. Partindo de uma abordagem de Interface Sintaxe-Semântica Lexical, demonstramos que esse grupo de verbos compartilha propriedades sintático-semânticas (gramaticalmente relevantes). Semanticamente, denotam eventos de transferência, o objeto transferido (tema) é lexicalizado na raiz e acarretam um meio. Sintaticamente, selecionam dois argumentos ([SN1 V SN2]), apresentam a possibilidade de inserção de um SP adjunto especificador do tema e licenciam o meio da transferência na posição de sujeito e em adjunção. Essas propriedades justificam a delimitação de uma classe à parte. Propusemos uma representação de estrutura argumental da classe, utilizando tanto uma estrutura por papéis temáticos - v: {Agente, Alvo} -, quanto uma estrutura por decomposição de predicados - v: [[X ACT EVENT] CAUSE [BECOME [<THING> TOWARD Y]]].

Além disso, mostramos que um fenômeno interessante ocorre com esses verbos em relação ao aspecto lexical. Tomando como ponto de partida os principais testes de aspecto lexical disponíveis na literatura, observamos que na classe encontram-se tanto verbos como premiar, com comportamento típico de accomplishment, mas também verbos como patrocinar, com um comportamento característico de verbos de atividade. No decorrer do estudo demonstramos, porém, que essa distinção é apenas aparente e que todos os verbos da classe podem ser classificados como accomplishments. Para tanto, adotamos uma definição de verbos de accomplishment baseada principalmente em Rothstein (2004)Rothstein, S. (2004). Structuring Events. Blackwell Publishing. e em Harley (2005)Harley, H. (2005). How Do Verbs Get Their Names. In N. Erteschik-Shir, & T. Rapoport (Eds.), The Syntax of Aspect: Deriving Thematic and Aspectual Interpretation (pp. 42-64). Oxford University Press., a saber: verbos de accomplishment acarretam lexicalmente uma mudança e denotam eventos formados por dois subeventos distintos e incrementalmente relacionados. Nesse contexto, a telicidade (propriedade definidora dos verbos de accomplishment e distintiva em relação aos verbos de atividade), embora pré-determinada (já que uma mudança é lexicalmente acarretada), depende da delimitação do subevento de mudança, que desempenha o papel de tema incremental.

Na mesma linha de Harley (2005)Harley, H. (2005). How Do Verbs Get Their Names. In N. Erteschik-Shir, & T. Rapoport (Eds.), The Syntax of Aspect: Deriving Thematic and Aspectual Interpretation (pp. 42-64). Oxford University Press., evidenciamos que o que diferencia verbos do tipo premiar de verbos do tipo patrocinar é uma (in)delimitação inerente de suas raízes. Uma vez que esses componentes semânticos integram o subevento de mudança, a indelimitação das raízes pode levar à atelicidade. Se por um lado verbos como premiar apresentam raízes que denotam objetos inerentemente individualizáveis (e.g. prêmio), por outro as raízes de verbos como patrocinar apenas definem qualitativamente a natureza do objeto envolvido na transferência (e.g. patrocínio), estando associadas à noção de algum valor em dinheiro, sem, no entanto, explicitar essa quantidade. Por fim, demonstramos que a telicidade em sentenças formadas com esse último grupo de verbos (do tipo de patrocinar) pode ser estabelecida a partir da delimitação do valor transferido a partir de outros recursos linguísticos, tais como adjunções específicas do tipo em α valor.

Agradecimentos

A autora Amanda Noronha Oliveira agradece ao auxílio financeiro da Capes (bolsa de mestrado) e a autora Márcia Cançado agradece ao CNPq (bolsa PQ).

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  • 3
    Utilizamos os termos raiz semântica ou raiz fazendo referência ao componente de sentido idiossincrático de cada verbo, conforme Cançado e Amaral (2016)Cançado, M., & Amaral, L. (2016). Introdução à Semântica Lexical: papéis temáticos, aspecto lexical e decomposição de predicados. Editora Vozes..
  • 4
    Do original: she saddled the horse, possivelmente parafraseado como she fitted the horse with a saddle ou she brought it about that the horse came to be “with saddle”.
  • 5
    O fenômeno é também verificado entre os verbos de locatum. Segundo Harley (2005)Harley, H. (2005). How Do Verbs Get Their Names. In N. Erteschik-Shir, & T. Rapoport (Eds.), The Syntax of Aspect: Deriving Thematic and Aspectual Interpretation (pp. 42-64). Oxford University Press., há um contraste entre verbos como amanteigar (preferencialmente atélicos) e selar (tipicamente télicos).
  • 6
    As análises aqui apresentadas não se restringem a critérios de natureza morfológica, mas principalmente semântica. O conceito denotado pela raiz pode tanto estar associado a um nome que deriva o verbo (e.g. prêmio, bênção) quanto a um nome derivado do verbo (e.g. financiamento, indenização etc.).
  • 7
    Observação semelhante é feita por Levin e Rappaport Hovav (2011)Levin, B., & Rappaport Hovav, M. (2011). Conceptual Categories and Linguistic Categories VI: A Crosslinguistic Verb-sensitive Approach to Dative Verbs. LSA Linguistic Institute: Course LING 7800-009. para verbos do tipo dar.
  • 8
    Diferentemente do acarretamento semântico, propriedade estabelecida entre sentenças, a noção de acarretamento lexical somente leva em consideração as propriedades inferidas pelo sentido do verbo, mas não as inferências sobre o evento, como lugar, tempo etc. (Dowty, 1991Dowty, D. R. (1991, September). Thematic proto-roles and argument selection. Language, 67(3), 547-619. https://doi.org/10.1353/lan.1991.0021
    https://doi.org/10.1353/lan.1991.0021...
    , como citado em Cançado e Amaral, 2016Cançado, M., & Amaral, L. (2016). Introdução à Semântica Lexical: papéis temáticos, aspecto lexical e decomposição de predicados. Editora Vozes., p. 86).
  • 9
    A metodologia de pesquisa empregada segue os procedimentos metodológicos descritos em Cançado et al. (2017)Cançado, M., Godoy, L., & Amaral, L. (2017). Catálogo de verbos do Português Brasileiro: classificação verbal segundo a decomposição de predicados (2 ed.). Amazon.. No dicionário de Borba (1990)Borba, F. (1990). Dicionário Gramatical de Verbos do Português Contemporâneo do Brasil. Editora Unesp., selecionamos verbos transitivos diretos que expressavam eventos de transferência e eram compatíveis com a paráfrase dar Y para N. Em seguida, os dados coletados foram analisados de acordo com o seu comportamento sintático-semântico.
  • 10
    A ambiguidade de escopo com o advérbio quase (Dowty, 1979Dowty, D. R. (1979). Word Meaning and Montague Grammar: the semantic of verbs and times in generative semantics in Montague’s PTQ. Reidel Publishing Company.; Morgan, 1969Morgan, J. L. (1969). On Arguing About Semantics. Paper in Linguistics, 1, 49-70.) não é um bom teste para a identificação da bieventividade na classe investigada, dadas as particularidades (em relação à telicidade) verificadas.
  • 11
    Ver Harley (2005)Harley, H. (2005). How Do Verbs Get Their Names. In N. Erteschik-Shir, & T. Rapoport (Eds.), The Syntax of Aspect: Deriving Thematic and Aspectual Interpretation (pp. 42-64). Oxford University Press. para análise similar em estruturas sintático-lexicais com os verbos de locatum.
  • 12
    Observação nesse sentido é também feita por Rothstein (2004)Rothstein, S. (2004). Structuring Events. Blackwell Publishing..
  • 13
    Outros verbos semelhantes à patrocinar que pertencem à classe: bonificar, financiar, fomentar, gratificar, indenizar, reembolsar, remunerar, ressarcir, subornar, subsidiar e subvencionar.
  • 14
    Segundo Cançado e Amaral (2016)Cançado, M., & Amaral, L. (2016). Introdução à Semântica Lexical: papéis temáticos, aspecto lexical e decomposição de predicados. Editora Vozes., um afetado é definido como um participante que passa por algum tipo de mudança, seja de estado, lugar ou de posse.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Dez 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    09 Fev 2021
  • Aceito
    25 Jul 2023
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