Resumo
Ao resgatar o filósofo alemão do esquecimento, Stefan Zweig seria o principal responsável pela atual "voga Nietzsche". A edição brasileira de seu livro em 1931 e o artigo "L'actualité de Nietzsche", publicado anonimamente na França em 1933, atestariam o crescente interesse pelo autor de Zaratustra . A presença de Nietzsche na cena contemporânea, todavia, dever-se-ia não somente aos ensaios de outros estudiosos como Salomé (1893), Bertram (1918), Andler (1920) e Walz (1932), mas a um fenômeno particular: o próprio filósofo teria antevisto que seria compreendido "depois da próxima guerra".
Palavras-chave
Nietzsche; Zweig; recepção; guerra; atualidade
Abstract
In lifting the German philosopher from the oblivion, Stefan Zweig would be the main responsible for the current "Nietzsche vogue". The Brazilian edition of his book in 1931 and the article "L´actualité de Nietzsche", anonymously published in France in 1933, would testify the growing interest in the author of Zarathustra. The presence of Nietzsche in contemporary scene would be due not only to the essays from other scholars, such as Salomé (1893), Bertram (1918), Andler (1920) and Walz (1932), but also to a particular phenomenon: the very philosopher would have foreseen that he would be understood only after the next war".
Keywords
Nietzsche; Zweig; reception; war; currently
Foi Stefan Zweig quem repôs Nietzsche na moda, com o livro que publicou em 1931 sobre a vida e a obra do grande homem. Nietzsche, como tantos outros escritores e pensadores famosos, tinha sido recolhido à estante da história e da literatura para que outros personagens, mais modernos, fizessem o seu aparecimento. A reação modernista havia desencadeado uma luta tremenda contra os escritores do passado. E Nietzsche, como vários outros companheiros de celebridade, havia sofrido, um pouco, as consequências desse movimento. O gesto de Zweig foi já um gesto de coragem, indo buscar Nietzsche e gritando ao público que a toada modernista podia ser muito bela, mas que não se tivesse ilusão porque existiam de fato, no passado, grandes obras e grandes vidas em que a mocidade encontraria sempre o que aprender.
Depois do livro de Zweig veio a voga de Nietzsche, e ainda há pouco, um escritor francês escrevia, a propósito, um estudo a que intitulou "L'actualité de Nietzsche".
Essa "rentrée" se assinala expressivamente por dois modos. Não só pelo maior número de edições que vão tendo os trabalhos do autor de "Assim falou Zaratustra", nos vários idiomas em que têm sido traduzidos, como pelo vulto dos ensaios publicados sobre a sua vida.
Charles Andler lança o seu "Nietzsche, sa vie et sa pensée"; Georges Walz, "La vie de Frédéric Nietzsche d'après sa correspondance"; Ernest Bertram, "Nietzsche, essai de mythologie"; Lou Andréas Salomé, "Nietzsche".
São trabalhos de vários gêneros e de várias tendências. O de Charles Andler, por exemplo, tem seis volumes. Os autores são: Zweig, austríaco; Charles Andler, francês; Ernest Bertram, alemão. E a esses autores, homens, junta-se uma mulher: Lou Andréas-Salomé, que, por sinal, conheceu Nietzsche e recebeu a sua corte, não se tornando sua esposa porque a isso se recusou formalmente. Mas, por aí, vê-se bem como Nietzsche interessa não, apenas, a um povo, ou a uma literatura: a sua "atualidade" é generalizada a povos, raças, literaturas e até a sexos diferentes.
O autor de "L'actualité de Nietzsche" lembra a frase sua: "Compreender-me-ão melhor depois da próxima guerra europeia". Ele previa a guerra e previa a sua "volta" à cena das ideias contemporâneas. Ele via claro e longe, como verdadeiro gênio que era.
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Publicado no Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 6 de maio de 1933, p. 6.
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João José, colunista do jornal Correio da Manhã até o ano de 1936. Não foram encontrados dados biográficos e bibliográficos do autor.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
Jul-Sep 2016
